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CAPÍTULO 05 | ||
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CENA 01. CASA CARLA. QUARTO. INT.
NOITE.
Continuação do capítulo anterior. Carla fica a encarar a
foto de Diogo e Fernanda no site.
CARLA: - O Diogo não faria isso comigo.
Ele mesmo disse que não tinha nada.
Ela fecha o site, desliga o computador e se joga na
cama, pensativa. Pega o celular, faz uma ligação e põe o
aparelho no ouvido. Tempo na chamada sendo efetuada até
que
DIOGO (O.S): Oi, Carla.
CARLA (ao telefone): - Oi, meu amor. Tá
onde?
CORTA:
CENA 02. CARRO DIOGO. INT. NOITE.
Diogo ao volante, olha para o celular com a foto de
Carla na tela, chamada em execução. Rick está no banco
ao lado.
DIOGO: To na Rio Branco, com Rick.
Acabamos de fechar o bar. To dirigindo.
CARLA (O.S/insegura): Tá. Eu só quero
saber uma coisa. Promete que vai falar a verdade, tá?!
(T)Você me ama?
Diogo e Rick e se entreolham. Tempo neles.
CARLA (O.S/insegura): Diogo, você tá
aí? Alô?
DIOGO: Oi, to sim. É que tá meio
barulhento aqui. É claro que eu te amo, Carla. Que
pergunta é essa agora?
CARLA (O.S/insegura): Eu só estou
perguntando porque... Porque eu gosto de ouvir isso da
sua boca. Eu também te amo muito! Muito! Nunca duvida
disso, ok?
DIOGO: Eu sei. Mas preciso focar no
trânsito agora.
CARLA (O.S): Tá certo, vou deixar você
dirigir. Se cuida. Te amo!
E desliga.
RICK: Rapaz, tu corta um dobrado com
essa mulher hein? Tá ferrado, parceiro.
Em Diogo, olhos fixos no trânsito.
CENA 03. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.
TAKES rápidos da Cidade Maravilhosa.
Dia de sol. Corcovado, o Cristo Redentor. Turistas
passeiam por Copacabana, o mar. Pão de Açúcar, a região
da Urca.
CENA 04. CASA ARTHUR E NORMA. QUARTO.
INT. DIA.
Norma se arruma em frente à penteadeira. Arthur entra
no. Senta-se na cama. Do espelho, Norma vê o marido, que
a observa.
NORMA: - O que foi?
ARTHUR: - Eu é que te pergunto. Você
não fala comigo desde ontem. Parece até que eu fiz
alguma coisa.
NORMA: - E não fez?
ARTHUR: - Norma, o que eu fiz foi/
NORMA: - Foi o melhor para a sua filha?
O que você fez foi algo de extremo mau gosto, uma ofensa
a qualquer pessoa, Arthur. Ninguém merece ouvir o que
você disse. Pobre da moça.
ARTHUR: - A pobre moça levou sua filha
pro mau caminho.
NORMA: - A nossa filha está onde está
porque ela escolheu assim. Ninguém fez a cabeça dela. E
ela está feliz. É com isso que você deveria se importar.
Com a felicidade dela. E não com a sua, com o que os
seus amigos vão falar. (vira-se para Arthur). É isso que
te incomoda, não é?
ARTHUR (desconversa): - Está falando
bobagem, já.
NORMA: - Pare você de ficar pensando
bobagens com relação a nossa filha e tenta aceitar as
coisas como elas são. Para o bem de todos.
Norma sai do quarto. Arthur fica pensativo.
CENA 05. ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA
O&K. INT. DIA.
Fernanda está trabalhando em sua mesa, quando Laisla se
aproxima.
LAISLA (afobada): - Ai Nanda, eu não
estou conseguindo nem me concentrar no trabalho.
FERNANDA: - Mas por que, Laisla?
Aconteceu alguma coisa?
LAISLA: - Essa festa de amanhã não sai
da minha cabeça! (risos)
FERNANDA: - E eu pensando que era coisa
séria... (riso)
LAISLA: - E não é?! Olha há quanto
tempo a gente não tem uma festa aqui no escritório. Bom,
você é nova aqui ainda, mas já faz um bom tempo que nós
não temos uma diversão.
FERNANDA: - É, pelo o que eu vi também
o pessoal ficou bem empolgado.
LAISLA: - Nem me fala. Essa festa
precisa ser muito boa. Como diz uma amiga minha, tem que
render!
FERNANDA: - Como assim?
Laisla faz sinal com a cabeça. Fernanda vira-se para ver
o que é e enxerga Danilo, conversando com outros
colegas.
FERNANDA: - Hummm, entendi.
LAISLA: - Esse Danilo é um gato, hein?
Mas tem cara de safado!
FERNANDA: - Bom, a gente sempre
conversou pouco, mas ele me parece um cara legal sim.
LAISLA: - É, não custa tentar.
FERNANDA: - Só não vai com muita sede
ao pote né, afinal estaremos numa confraternização do
trabalho. Não seria bom gerar algum constrangimento que
fosse.
LAISLA: - Nossa Nanda, você pareceu o
Walter falando agora! Mas você tá certa. Vou voltar pra
minha mesa. Beijinhos.
Fernanda volta ao trabalho.
CENA 06. APTO OSVALDO. SALA DE ESTAR.
INT. DIA.
Regina conversa com Selma (50 anos, cabelos cacheados,
curtos, pele clara, postura firme).
REGINA: - Olha Selma, confesso que
fiquei surpresa com o convite. De verdade!
SELMA: - Eu sei que te peguei
desprevenida. (risos) Mas é que eu quero mudar algumas
coisas lá em casa e eu não posso pedir pra Nanda fazer.
Ela é ex-namorada do meu filho e trabalha num escritório
de arquitetura. Foi ela quem fez o projeto da minha
suíte, na última reforma.
REGINA: - Há tanto tempo que eu não
mexo em projetos, em plantas baixas. Acho que desde que
a Mariana estava na escola ainda, no primário!
SELMA: - Mas você sempre foi uma
arquiteta de mão cheia, Regina. Não custa nada tentar. E
é coisa pequena, lá no jardim. Nossos maridos tão
próximos, nós poderíamos marcar um almoço lá em casa,
num final de semana. Você aproveita pra conhecer o
espaço e ir criando na sua cabeça o que pode mudar.
REGINA (tentada): - Para, Selma! Está
me convencendo!
As duas riem. Mariana entra vindo do interior do apto.
Ela carrega sua bolsa e alguns livros nos braços.
MARIANA: - Tô saindo, mãe! (vê Selma)
Oi, Selma! Tudo bem?
SELMA: - Tudo ótimo, Mariana. Estou
aqui quase convencendo sua mãe a fazer um projeto de
arquitetura pra mim. Dá essa forcinha?
MARIANA: - Faz muito bem, Selma. Há
tempos que ela não trabalha mais nisso. E a dona Regina
anda precisando se ocupar com outras coisas que não
sejam fazer compras ou ir pra academia.
REGINA (tom): - Ai, filha!
MARIANA: - Eu tô saindo, porque não
posso chegar tarde na aula hoje.
REGINA: - É bom mesmo. Ontem já faltou
a aula. Vai precisar conciliar essa vida de modelo e
estudante por enquanto.
MARIANA: - Eu vou conseguir. Beijos!
SELMA: - Boa aula!
Mariana se retira.
SELMA: - Está uma linda moça.
REGINA: - É o meu tesouro.
SELMA: - Ela já namora?
REGINA: - Que eu saiba ainda não. Por
quê, Selma? Quer casar nossos filhos, é? (risos)
SELMA: - Eu faço muito gosto. Desde que
o Gabriel se separou da Nanda, ele não tem arranjado
ninguém. Meu filo anda tão estranho.
REGINA: - Mas por que eles se
separaram?
SELMA: - Ela pediu um tempo pra ele.
Mas depois terminou e começou a namorar outra.
REGINA (estranha): - Outra?
SELMA: - É. Uma mulher.
REGINA (chocada): - Como é que é?! Mas
gente, ela virou lésbica?! Ai que nojo! (faz careta)
SELMA: - Regina, não fale assim.
REGINA: - Desculpa, Selma, mas é
nojento. Imagina, você casada com o Humberto há mais de
30 anos e, de repente, ele começa a se envolver com
outro homem? Ah, me poupe, mas eu não tenho estômago pra
isso. Imaginar que o mesmo corpo que te aquecia também
era aquecido por outro cara peludo. Ou o que é pior,
dava calor para outro, ou outros, porque esse pessoal
GLS gosta de pregar a liberdade de amor e ficam com
quantas pessoas quiserem, sem pudor.
SELMA: - Bom, eu não vejo dessa forma,
mas você agora fez uma análise bem radical disso tudo.
REGINA: - Por favor, não me interprete
como preconceituosa. Eu apenas expus o que é de fato e
verdadeiro. Esse pessoal das minorias, gays, negros;
eles só querem viver escorados às custas do governo. A
verdade toda é essa. Não querem trabalhar, querem clamar
por direitos, mas os deveres? Esses, eles fazem questão
de esquecer. Eu não entendo esse mundo, juro pra você.
Selma encara a outra, um tanto constrangida.
CENA 07. PRAÇA MAUÁ. EXT. DIA.
MUSIC ON:
(Give me the beat – Nikki)
PLANO GERAL do lugar que está bastante movimentado.
Muitas pessoas transitando. CAM vai buscar Alex, deitado
em um dos vários bancos, com a cabeça sobre a mochila,
fazendo de travesseiro. Ele acorda com o sol forte em
seu rosto, coça os olhos. Senta-se no banco, vê a cidade
em plena agitação.
CORTA:
CENA 08. AVENIDA RIO BRANCO. EXT. DIA.
VISÃO PANORÂMICA da avenida. CAM vai buscar um carro em
meio ao fluxo médio. CORTA PARA o seu interior.
Illana dirige em velocidade constante, mais atenta à
música que agora toca no som do carro. Ela canta junto,
absorta.
CORTA:
CENA 09. AVENIDA RIO BRANCO. EXT. DIA.
Alex caminha, mochila nas costas, um tanto impressionado
com a movimentação das pessoas, os prédios da cidade.
Chega ao semáforo, fechado para pedestres.
CORTA:
CENA 10. CARRO ILLANA. INT. DIA.
Ela continua cantando e não percebe o sinal abrindo para
os pedestres. Uma grande quantidade de gente começa a
travessar. Alex entre as pessoas, vai ficando pra trás.
PLANO GERAL. Illana
freia o carro há poucos centímetros de Alex, que
arregala os olhos, assustado.
MUSIC OFF.
CENA 11. SUPERMERCADO COMPRE AKI. INT.
DIA.
Paula trabalha no caixa, termina de atender uma cliente.
PAULA (a cliente): - Muito obrigada e
volte sempre!
A cliente sai. Paula abre o caixa guardando umas notas
de dinheiro e logo volta o olhar pro próximo cliente:
Gabriel.
PAULA (encara): - Você?
Ele sorri, cínico.
CENA 12. CARRO ILLANA. INT. DIA.
CAM enquadra Alexa do ponto de vista de
Illana.
ILLANA (impressionada): - Que homem é
esse?!
Recuperado do baque, Alex vai saindo. Illana se apressa
em baixar o vidro do carro.
ILLANA (chama): - Ei, rapaz! Ei!
Espera!
Alex para na calçada.
ALEX: - Eu?
Illana se apressa em SAIR do carro,
deixa a porta aberta e vai atrás dele. Ela começa a
caminhar rodeando, mão no queixo, analisa-o.
ALEX: - Algum problema, senhora?
ILLANA: - Você é o tipo perfeito para o
que eu preciso.
ALEX (confuso): - Hã?
Os carros começam a buzinar. Sinal abriu.
ILLANA: - Vem comigo!
Ela tenta puxá-lo, ele se esquiva.
ALEX: - Ce ta maluca, eu nem te
conheço. Você quase me atropelou!
ILLANA (faz charme): - Um homenzarrão
feito você com medo de uma frágil donzela?!
Ele pensa um pouco. Os carros buzinam mais.
CENA 13. SUPERMERCADO COMPRE AKI. INT.
DIA.
Climão entre Paula e Gabriel.
GABRIEL: - É impressão minha ou você
não gostou de me ver?
PAULA: - Confesso que a visão não é das
melhores.
GABRIEL (debocha): - Ah, mas eu como
cliente exijo um tratamento mais cordial. Onde está o
sorriso no rosto que você tinha com a outra cliente?
PAULA (grossa): - Está na cara da sua
avó.
GABRIEL (irônico): - Vê lá como fala
comigo, atendente, ou eu posso reclamar com a gerência.
PAULA (impaciente): - O que você quer
aqui? Veio infernizar minha vida, meu trabalho, é isso?
GABRIEL: - Pois fique a senhorita
sabendo que eu entrei aqui por acaso.
PAULA: - Você quer mesmo que eu
acredite nisso?
GABRIEL: - Você acredita em tanta
bobagem, uma a mais ou menos, não faz diferença.
PAULA: - Do que você tá falando?
GABRIEL: - Do amor que você acha que a
Fernanda sente por você.
Paula derruba as compras de Gabriel no chão.
GABRIEL: - Cuidado, garota!
PAULA: - Você veio aqui para me
provocar, é isso?
GABRIEL: - Eu não perderia meu tempo.
Eu só vim dizer a verdade que você merece ouvir. A Nanda
nunca vai amar você. Ela só tá confusa quanto ao que
sente. Esse casinho aí de vocês não vai durar muito
tempo. E quando acabar essa brincadeira, eu estarei de
braços abertos, pronto para ter a Nanda de volta pra
mim. Vocês nunca serão felizes.
PAULA: - Vai embora daqui, Gabriel.
Sai!
Gabriel olha esnobe para Paula, que o encara. Ivete se
aproxima.
IVETE: - O que está acontecendo aqui,
Paula? Essas compras no chão.
PAULA: - Foi um pequeno acidente, mas o
cliente já está de saída.
IVETE: - E não vai levar nada?
GABRIEL: - Não, não vou não. Os preços
não são dos melhores... (saindo)
IVETE: - Paula, o que aconteceu?
GABRIEL (volta, a Ivete): - Vocês
precisam melhorar o atendimento aqui. Tem alguns
funcionários que não podem estar em contato direto com o
público.
Gabriel vai embora.
IVETE: - Paula, o que você fez para
esse rapaz?! Nunca recebemos reclamações de ninguém!
PAULA: - Cliente recalcado, Ivete. Pode
deixar que eu junto essas coisas aqui. Não se preocupe.
Ivete se afasta. Paula junta as compras do chão.
CENA 14. BAR. EXT. DIA.
Sentados em uma mesa de bar na calçada, Illana e Alex
conversam. Ele observa um cartão que ela lhe entregou.
ALEX (incrédulo): - Modelo?! Eu?
ILLANA: - Isso mesmo. Modelo. Fazer
passarela, fotos, tudo.
ALEX: - Desculpa, senhora, mas/
ILLANA: - Tem rugas no meu rosto? Minha
pele tem pelanca? Eu tenho idade pra ser sua mãe? Não.
Então pare de me chamar de senhora, ok?
Ele assente com a cabeça.
ALEX: - É que eu acho que a senhora,
quer dizer, que você está me confundindo. Eu sou
pedreiro, não sirvo pra isso não.
ILLANA: - Meu querido, deixa eu te
dizer uma coisa. É Alex seu nome ne?
ALEX: - Sim.
ILLANA: - Então, Alex. Você está
falando aqui, agora, com ninguém mais ninguém menos do
que Illana Marques, dona da agência de modelos
R3, uma das mais poderosas do país. Sou atualmente um
dos nomes mais requisitados na moda brasileira. Eu sei
do que eu estou falando. Você tem tudo para ser um
modelo de sucesso. Acredita em mim.
ALEX: - Mas eu não vim pra cá pra ser
modelo.
ILLANA: - Veio pra quê então? Dormir em
banco de praça, como você falou? Não cansa minha beleza,
Alex. Aceita essa oportunidade única que eu estou te
dando de começar então a sua vida aqui no Rio. Você vira
modelo, faz fotos, ensaios, passarela, ganha sua grana,
conhece gente legal, vai poder pagar um lugar pra morar,
enfim. Você não precisa ficar na ralação de pedreiro a
vida toda, meu filho, pense grande. Seu perfil é outro.
Não é para o trabalho braçal.
ALEX: - Não tenho nada contra ao
trabalho braçal. É um trabalho digno e honesto. E foi
com ele que meu pai me criou e que eu me formei.
ILLANA: - Lindo o discurso,
emocionante. Mas eu estou aqui mostrando outro caminho.
Você prefere vagar pelo Rio sem lugar ainda pra ficar e
ir atrás de emprego nessa área que tá lotada de gente?
Ou prefere aceitar minha proposta, ou se preferir, a
minha ajuda?
Alex se mostra pensativo.
ILLANA (impaciente): - Eu não tenho o
dia inteiro não, Alex.
ALEX: - Tudo bem, eu aceito.
MUSIC ON: (Give me
the beat – Nikki)
ILLANA (vibra/feliz): - Isso! Assim que
fala! Eu vou te levar pra conhecer a agência, as
pessoas, tudo. Mas antes, precisamos dá uma passadinha
no salão.
ALEX: - Salão?
ILLANA (impaciente): - Será que dá pra
você parar de me interromper com essas perguntas
monossilábicas? (calma) Você precisa de um banho (Alex
cheira as axilas) e um bom trato na aparência, que a
partir de hoje será seu ganha-pão.
ALEX: - Precisa mesmo disso tudo? Já to
começando a me arrepender.
ILLANA: - Você ainda não viu nada,
amor.
Ela o encara enigmática.
CENA 15. CASA BRUNO. SALA. INT. DIA.
Solano está lendo jornal na sala. Bruno e Vini entram
vindo do quarto.
VINI: - Então está tudo certo pra
balada amanhã?
BRUNO: - Claro, tudo confirmado.
VINI: - Acho bom mesmo. Não vai ficar
achando desculpinha pra ficar com a mina lá e deixar o
amigo aqui na mão. Vê se consegue pelo menos uma amiga
dela, uma prima, sei lá!
BRUNO: - Mas que cara folgado!
Solano acha graça.
VINI: - O senhor não acha, seu Solano?
SOLANO: - Você tem plena razão.
VINI: - Viu só? Até o seu avô concorda
comigo.
BRUNO: - Ele também concorda que você
precisa ir embora agora. Veja só, que legal!
VINI: - Tudo bem, tudo bem, estou
saindo. Mas a gente se fala.
BRUNO: - Claro, fera. Falou!
VINI: - Falou! Até mais, seu Solano!
SOLANO: - Adeus, Vinícius!
Vini sai. Bruno vai indo para o quarto.
SOLANO: - Ei, Bruno.
BRUNO: - Fala vovô.
SOLANO: - Fala aqui para o seu avô. Que
história é essa de mina da balada? Está namorando é?
BRUNO: - Ih vô, parece até a mamãe
tentando descobrir as coisas. Mas eu vou falar, o senhor
é meu amigão. Eu conheci uma garota linda naquela
danceteria nova que abriu.
SOLANO: - É mesmo? Que legal meu filho!
BRUNO: - Ela é linda, inteligente...
Modelo, vô! De passarela, de fotos.
SOLANO: - Se deu bem, então?
BRUNO: - Tirei a sorte grande.
Isaura entra na sala.
ISAURA: - Tirou a sorte grande por quê?
Posso saber?
SOLANO: - Assuntos masculinos, Isaura.
ISAURA: - Ih, não gosto quando vocês
dois ficam de segredinhos por aí.
BRUNO: - Não é segredo não, mamãe. É
assunto confidencial.
ISAURA: - Assunto confidencial, sei...
Olha só, vou na feira, não demoro. (saindo)
Solano e Bruno acham graça.
CENA 16. CASA CARLA. SALA DE ESTAR.
INT. DIA.
Diogo e Carla estão sentados no sofá, conversando.
CARLA: - Bom que vocês fecharam novos
contratos. É bom ter uma publicidade eficiente para
divulgar a Joquer.
DIOGO: - Eu também gostei. Mas quem
ficou muito empolgado mesmo foi o Rick.
CARLA: - Também pudera né, Diogo? O
Rick está gostando de ver a coisa dar certo, ir pra
frente. Também deve ser o único empreendimento dele.
Coitado, ele ainda se deslumbra muito com isso. Veio lá
de baixo e se acha tanto.
DIOGO: - Não fale assim, Carla. Ele é
um rapaz esforçado e demonstrou muito interesse, muita
vontade nesse projeto todo. Quando conversamos sobre
valores então...!
CARLA: - Vai ver é como você disse, ele
está se esforçando para tudo dar certo.
Carla beija Diogo.
CARLA: - Quem era aquela moça?
DIOGO: - Que moça?
CARLA: - Aquela que você estava
conversando na danceteria, quando eu cheguei para buscar
você pro camarote.
DIOGO: - Não sei.
CARLA: - Pareciam tão a vontade vocês
dois.
DIOGO: - A gente mal se falou. Ela
tinha esbarrado em mim, eu estava com bebida na mão. Ela
pediu desculpas, só isso... Por que tantas perguntas?
CARLA: - Nada não, só pra saber.
DIOGO: - Ciúme é? (risos)
CARLA: - Eu tenho sim, você sabe. Eu me
esforço muito para cuidar de você e não deixar ninguém
chegar perto e te levar de mim. Assim como eu estou me
esforçando agora para que você dê um pouco mais de
atenção ao nosso casamento.
DIOGO: - Mas eu também me interesso
pelo nosso casamento.
CARLA: - Não parece, Diogo. Você nunca
fala nada, não toca no assunto, nem em data, nada!
Parece até que não quer se casar comigo (faz drama).
DIOGO: - Não é bem assim, meu amor. Eu
gosto de você, é claro que eu quero casar.
CARLA: - Mas...?
DIOGO: - Mas eu vou ser sincero. Eu
acho que está tudo muito rápido.
CARLA: - Rápido?! Diogo, eu amo você!
Nós estamos juntos há dois anos!
DIOGO: - Então! Eu ainda acho pouco
tempo. A gente tem tanta coisa pra curtir ainda, antes
de assumir um compromisso dess magnitude.
CARLA: - Por que está falando isso?
Está esperando dar um tempo pra ver se aparece alguma
coisa melhor na sua vida, é isso?
DIOGO (levanta-se): - Não é isso,
Carla. Assim também fica difícil conversar, com você se
fazendo de vítima toda hora!
CARLA: - Ai, desculpa, Diogo. Desculpa.
Acontece que eu tenho medo de perder você... Eu te amo
tanto!
DIOGO: - Você não vai me perder. Eu só
quero que as coisas aconteçam naturalmente, sem essa
pressão, entende?
CARLA: - Tudo bem. Eu vou entender.
DIOGO: - Agora eu preciso ir. Tenho que
resolver uns assuntos no banco ainda.
CARLA: - Obrigada pela companhia.
Os dois se beijam. Diogo vai embora. Carla fica sozinha
na sala.
CARLA: - As coisas vão acontecer
naturalmente, Diogo. Naturalmente do meu jeito. Você vai
ser meu antes do que imagina.
Na convicção dela.
CENA 17. ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA
O&K. INT. DIA.
Fernanda organiza suas coisas para ir embora. Walter
passa na mesa dela.
WALTER: - Então estamos combinados para
amanhã?
FERNANDA: - Com certeza.
WALTER: - O Brian vai adorar conhecer
você.
FERNANDA: - Não quero nem pensar muito
para não ficar nervosa!
WALTER: - Fica tranquila, vai dar tudo
certo. Até mais!
Ele sai. Laisla se aproxima de Fernanda.
LAISLA (curiosa): - Que tanto o Walter
conversa com você, hein? Foi ontem na sala dele, hoje...
Aliás, o que ele falou ontem? Você nem disse nada!
FERNANDA: - Ah, ontem era só sobre uns
projetos aqui do escritório, nada demais.
LAISLA: - E agora?
FERNANDA: - Sobre a festa de amanhã.
LAISLA: - Só isso?
FERNANDA: - Que tanto que você quer
saber, hein? Foi só isso sim, está satisfeita?
LAISLA: - Ok. Vou indo lá. Nos vemos
amanhã na festa?
FERNANDA: - Sim, sim.
Fernanda continua se arrumando. Laisla a observa.
FERNANDA: - Você não estava indo
embora?
LAISLA: - Vou esperar você. Te dou uma
carona.
FERNANDA: - Imagina, Laisla. Não
precisa/
LAISLA: - Ai amiga, deixa de ser boba.
Assim vamos conversando mais um pouco.
FERNANDA: - Pronto, terminei. Vamos
então.
As duas saem, conversando.
CENA 18. IMAGENS GERAIS RIO DE
JANEIRO. NOITE
MUSIC ON: (Vida real –
Engenheiros do Hawaii)
TAKES GERAIS do Rio de
Janeiro já noite. As luzes da cidade, dos prédios, dos
carros no trânsito.
CENA 19. APTO FERNANDA E PAULA. SALA.
INT. NOITE.
MUSIC FADE.
Fernanda está assistindo TV, quando Paula entra da rua,
trazendo umas sacolas de compras.
CENA 20. APTO FERNANDA E PAULA.
COZINHA. INT. NOITE.
As duas organizam as compras na dispensa.
FERNANDA: - E então, como foi o dia
hoje?
PAULA: - Cansativo, mas tudo bem. E o
seu?
FERNANDA: - Também, tudo normal.
PAULA: - Comprei seu iogurte.
FERNANDA: - Obrigada.
Fernanda abraça Paula, a beija no rosto, carinhosamente.
FERNANDA: - Você sabe que eu adoro esse
iogurte! Fazia tempo que eu não comia.
PAULA: - Aproveitei que estava na
promoção. Bom, agora eu vou tomar um banho, trocar essa
roupa. Estou cansada.
Paula vai saindo.
FERNANDA: - Paula.
Paula para na porta, vira-se.
FERNANDA: - Te amo.
Paula sorri, cansada. Sai. Fernanda continua na cozinha,
abre o iogurte e prova um pouco.
CENA 21. APTO FERNANDA E PAULA.
BANHEIRO. INT. NOITE.
Paula entra, tranca a porta. Para em frente ao espelho,
se olha. Lembra dos dizeres de Gabriel.
GABRIEL (O.S): - ...
Eu só vim dizer a verdade que você merece ouvir. A Nanda
nunca vai amar você.
Ela passa a mão pelo cabelo, fecha o olho. Quando abre,
chora. Lembra-se da declaração de Fernanda.
FERNANDA (O.S): -
Paula... Te amo.
Paula enxuga as lágrimas, tenta ficar forte.
CENA 22. CASA ELIANE. QUARTO TITO.
INT. NOITE.
Tito está sentado à escrivaninha, fazendo desenhos, em
frente a janela. De repente, ele observa uma
movimentação na janela do quarto de Bia. Tito
levanta-se, se aproxima de sua janela e fica a observar
a janela da vizinha. Apenas com as cortinas tampando a
visão, Tito vê Bia trocando de roupa. Ele tenta não ver,
desvia o olhar, mas não resiste. Eliane entra no quarto
assustando ele.
ELIANE: - O jantar está na mesa. O que
você está fazendo?
TITO (fechando sua cortina): - Nada
não.
ELIANE: - Estava olhando a vizinha pela
janela?
TITO: - Já disse que não estava fazendo
nada.
ELIANE: - Sei. Vem jantar. Tá na mesa.
Eliane sai. Tito fica pensativo.
CENA 23. SHOPPING CENTER. PRAÇA DE
ALIMENTAÇÃO. INT. NOITE.
Matheus e Roberta chegam por ali e observam o lugar
lotado de gente. Matheus está ansioso. Roberta tenta
acalmá-lo.
ROBERTA: - Calma, Matheus! O cara não
vai fugir!
MATHEUS: - Mas nós marcamos um horário
né? Se eu chego tarde, perco o bofe!
ROBERTA: - Mas a gente está no horário.
O problema agora é achar esse homem nessa multidão toda!
Os dois procuram, olhando para os lados. Matheus o
encontra.
MATHEUS: - Achei!
ROBERTA: - Aonde?
MATHEUS: - Lá!
E aponta. Roberta enxerga o homem. É um belo rapaz,
alto, corpo malhado, pele um pouco bronzeada.
ROBERTA: - Que desperdício esse homem
todo ser gay!
MATHEUS: - Eu também mereço coisa boa,
né, amiga?! Agora dá licença, que eu vou lá falar com o
meu príncipe!
ROBERTA: - Não vai nem agradecer?
MATHEUS: - Claro. (fecha os
olhos/puritano) Obrigado meu Deus pela ótima
oportunidade que estou tendo de conhecer um homem lindo!
Realmente, o Senhor é o cara!
ROBERTA: - Valeu.
Matheus sai empolgado, quase saltitando. Roberta revira
os olhos e vai embora. Matheus se aproxima da mesa onde
está o tal homem.
MATHEUS: - Oi. É você o Moreno 25 anos?
HOMEM: - Sou eu sim. Você deve ser o
Gato Malhado.
MATHEUS: - O próprio.
HOMEM: - Você é bonito mesmo.
MATHEUS: - Obrigado. Então, não vai me
convidar pra sentar?
HOMEM: - Claro, fica à vontade.
Matheus senta-se.
HOMEM: - Vai querer alguma coisa pra
beber? Um suco, uma água, uma cerveja?
MATHEUS: - Cerveja não, senão eu perco
o juízo aqui.
HOMEM: - É melhor perder o juízo quando
estivermos só nós dois, não é mesmo?
Coloca a mão na perna de Matheus, que revira os olhos,
tentando se conter.
MATHEUS (envergonhado): - É... E então,
qual é o seu nome?
ANDRÉ: - Me chamo André. E você?
MATHEUS: - Matheus.
ANDRÉ: - Lindo nome, Matheus.
MATHEUS: - Cê acha? As vezes eu fico
pensando sobre isso, sabe...
Matheus tagarela com o homem, fora do áudio.
CENA 24. AGÊNCIA R3. ESTÚDIO. INT.
NOITE.
Mariana faz um novo ensaio. Ela é clicada usando roupas
com temática primaveril. Enquanto o ensaio acontece,
Illana e Alex entram no local. Alex com outra aparência,
arrumado.
ILLANA: - Esse é um dos nossos
estúdios. E ali eles estão fazendo algumas fotos. Aquela
modelo ali é nova aqui também, a Mariana.
Alex fica a olhar Mariana, que se mantém focada na
câmera, quando de repente, seu olhar se cruza com o de
Alex. Os dois permanecem a se olhar até o fotógrafo
chamar a atenção de Mariana.
FOTÓGRAFO: - Mari, foca aqui, aqui em
mim.
MARIANA: - Ah, claro. Desculpa.
Ela procura se concentrar no ensaio. Alex disfarça, mas
volta a ficar olhando para ela.
CENA 25. AGÊNCIA R3. EXT. NOITE.
Alex sentado no banco em frente ao prédio da Agência R3.
Ele observa as pessoas na rua, quando vê Mariana saindo.
Ele se pressa para se aproximar.
ALEX: - Oi!
MARIANA: - Oi!
ALEX: - Suas fotos ficaram muito
bonitas.
MARIANA: - É mesmo? Você já viu todas?
ALEX: - Na verdade eu não vi nada não.
Mas eu sei que ficaram bonitas. A modelo é linda, então
não tem como sair diferente.
Mariana ri, graciosa. Alex corresponde, um tanto sem
jeito.
ALEX: - E desculpa por tirar sua
concentração.
MARIANA: - Imagina, tá tudo bem.
Os dois ficam em silêncio, meio sem jeito diante do
outro.
ALEX: - Mariana seu nome, não é?
MARIANA: - É sim. E o seu?
ALEX: - Alex.
MARIANA: - Muito prazer, Alex. É
modelo?
ALEX: - Não. Quer dizer, sou. Bem, na
verdade mesmo, eu virei modelo hoje.
MARIANA: - Como assim? (risos)
ALEX: - A Illana quase me atropelou na
rua e, não sei se por remorso ou algo parecido, ela
resolveu me chamar para ser modelo. E eu aceitei. Vamos
ver o que vai dar.
Mariana ri.
ALEX: - O que foi? Eu disse alguma
coisa errada?
MARIANA: - Não, não. Você é engraçado,
tem um humor ao falar. Isso é bacana. Eu também comecei
recentemente aqui. E eu já tinha feito alguns comerciais
mas agora que eu estou encarando a carreira de modelo
mais a fundo mesmo.
ALEX: - Você leva jeito. Tem o rosto
bonito, um corpão... Quero dizer, eu não quis faltar com
o respeito, tá?! Pelo amor de Deus!
Mariana acha graça. Illana sai na porta do prédio,
avista Alex.
ILLANA: - Alex. Vamos!
MARIANA: - Vai lá que ela está te
chamando.
ALEX: - Tem papel e caneta aí?
Mariana pega na bolsa um papel e uma caneta e entrega
para Alex. Ele escreve e devolve para Mariana.
ALEX: - Meu telefone. Me liga, me manda
mensagem. Vamos conversar.
MARIANA: - Claro! Pode deixar.
Alex se aproxima, beija o rosto de Mariana. Os dois
ficam em contato rosto a rosto por um tempo, até que ele
se afasta. Os dois trocam olhares e Alex se afasta, indo
ao encontro de Illana. Mariana sorri, leva a mão ao
rosto, encantada e sai.
ILLANA: - Estava falando com a Mariana?
ALEX: - Estava sim.
ILLANA: - Vem comigo, vou te levar até
o apartamento que consegui pra você ficar. Não é grande
coisa não, mas você vai conseguir pagar com o que eu vou
te dar de salário para trabalhar aqui na agência.
Beleza?
ALEX: - Fechado!
CENA 26. GRUPO SIQUEIRA MAGALHÃES.
SALA DA PRESIDÊNCIA. INT. NOITE.
Num amplo espaço com vista para a Lagoa Rodrigo de
Freitas, Humberto e Osvaldo conversam, enquanto bebem
uísque. Os dois sentados em poltronas de frente para a
grande janela, que mostra a Lagoa.
OSVALDO: - Então você vai precisar de
mim novamente.
HUMBERTO: - Você tem os melhores
contatos, Osvaldo. Eu sei que se eu colocar o plano
certo na sua mão, você consegue tudo. Vou te dizer que
ainda estou treinando o Gabriel para assumir o meu
lugar. Mas não vejo nele ainda essa perspicácia, sabe?
OSVALDO: - Ele é jovem ainda, tem
tempo.
HUMBERTO: - Eu na idade dele estava
gerenciando as lojinhas do meu pai no subúrbio. E muito
a contragosto porque nunca gostei daquilo lá. Quando
consegui abrir um espaço aqui na zona sul, tudo mudou. E
hoje estamos aí, mudamos de ramo, mas a credibilidade
continua.
OSVALDO: - Mas, se há credibilidade,
por que precisa que eu faça o intermédio pra você
acertar essas futuras negociações?
HUMBERTO: - Porque esses empresários
novos não querem perder! Estão com medo de arriscar na
crise... Crise... Se bem que esse governo de merda
ferrou legal com a gente. Quase 8% de queda. Uma
lástima. E eu estou disposto a recuperar, mas preciso de
alguém que faça isso comigo.
OSVALDO: -
E quanto eu ganho nessa negociata toda aí?
HUMBERTO: - Trinta por cento.
OSVALDO: - Trinta?
HUMBERTO: - Osvaldo, é uma boa quantia.
Não seja ganancioso. É um preço muito justo.
Tempo em Osvaldo pensando.
OSVALDO: - Tudo bem. Eu aceito.
HUMBERTO: - Sabia que podia contar com
você. A propósito, você não soube nada mais daquele
acidente em São João da Barra?
OSVALDO (disfarça): - Não.
HUMBERTO: - Covardia. Motorista
atropelou e fugiu. Existem monstros em todos os lugares.
Nas escolas, nas rodovias...
OSVALDO: - Nos negócios...
Os dois riem.
OSVALDO: - Eu preciso ir. (levanta-se)
Prometi para Regina que iria jantar em casa. Não posso
demorar.
HUMBERTO: - Estamos acertados. Eu peço
para a minha secretária te mandar os detalhes do projeto
por e-mail. Você analisa e me dá seu parecer. Quanto
antes, melhor, pra gente não perder tempo e partir para
o ataque.
OSVALDO: - Certo. Boa noite, Humberto.
Humberto ergue a taça em cumprimento a Osvaldo, que se
retira. Humberto continua a observar a paisagem na rua,
à noite, contemplativo.
CENA 27. CASA ELIANE. COZINHA. INT.
NOITE.
Eliane e João sentados à mesa, jantando. Tito chega,
senta-se. Ele se serve. O silêncio toma conta da
refeição por um tempo.
ELIANE: - Você acredita João, que o
Tito tava de olho na vizinha aqui do lado?
TITO (tom): - Mãe, por favor!
JOÃO: - É mesmo é? Na franguinha?
TITO: - Não fala assim da Bia.
ELIANE: - Tava espiando ela na janela.
JOÃO: - Por que não chega logo na
menina, rapaz? Ficar perdendo tempo só olhando. Tem que
pegar de uma vez.
TITO: - Vocês querem parar com esse
assunto, por favor?
ELIANE (ignora): - Mas eu não sei se
ela daria uma boa mulher pro meu filho não. Na cama eu
não tenho como saber, mas no serviço de casa, acho que
não faz nada não. Sempre vejo ela sair cedo e chegar
tarde.
TITO (chocado): - Ela estuda e
trabalha.
JOÃO: - Essa história de menina nova
sair cedo e chegar tarde, sei bem qual é o tipo de
serviço que ela faz.
TITO (bravo): - Eu não vou admitir que
vocês falem assim dela, entenderam?
JOÃO: - Olha só, ficou nervosinho
rapaz? Relaxa aí, moleque. Fala direito comigo.
TITO: A Bia é uma menina decente. Ela
tá fazendo estágio numa empresa aí.
ELIANE: - E você, por que não faz o
mesmo que ela? Arruma alguma coisa?
TITO: - Mas é isso mesmo que eu vou
fazer. Arrumar um serviço pra ficar o dia inteiro fora
de casa, longe dessa droga de convivência.
Levanta-se da mesa e sai.
JOÃO (grita): - Tito, volta aqui! Tito!
ELIANE: - Deixa ele. Garoto revoltado
com a vida. É fase.
João e Eliane continuam o jantar.
CENA 28. SHOPPING CENTER. INT. NOITE.
Matheus e André caminham pelo shopping.
MATHEUS: - Você me disse que trabalha
numa multinacional. Faz o que lá?
ANDRÉ: - Trabalho na área
administrativa.
MATHEUS: - Deve ser bem puxada a
rotina, não é?
ANDRÉ: - Um pouco. Mas nada é pior do
que ficar o dia inteiro de terno e gravata. Por isso
carrego essa mochila aqui. Saí do serviço direto pra cá.
MATHEUS: - Você deve ficar lindo de
terno e gravata.
ANDRÉ (cochicha no ouvido): - Eu fico
muito melhor sem nada.
Matheus se derrete.
ANDRÉ: - Que tal a gente ir pra um
lugar ficar mais a vontade? Na sua casa, talvez.
MATHEUS: - Na minha casa?!
ANDRÉ: - É, que tal?
MATHEUS: - Sabe o que é, minha casa
está um pouco desajeitada.
ANDRÉ: - Eu não ligo.
MATHEUS: - Mas eu ligo. Quem sabe a
gente vai pra um motel, hein? Eu me sentiria melhor.
ANDRÉ: - Claro, vamos sim. Eu conheço
um que é ótimo e é aqui perto. Vamos?
MATHEUS: - Partiu!
Os dois saem.
CENA 29. APTO FERNANDA E PAULA.
QUARTO. INT. NOITE.
Fernanda e Paula estão deitadas na cama, assistindo a um
filme.
FERNANDA: - Lá no escritório ninguém
fala em outra coisa senão na festa de amanhã. Parece que
vai ser o maior acontecimento do ano.
PAULA: - Humm.
FERNANDA: - O que foi, Paula?
PAULA: - Nada não.
FERNANDA: - Ah, pode dizer. Eu te
conheço! Sei como você é.
PAULA: - Eu não queria ficar te
preocupando, Nanda, mas eu estou com receio.
FERNANDA: - Receio do quê?
PAULA: - De ir na festa.
FERNANDA: - Mas por quê, Paula?
PAULA: - Sei lá! Nós duas juntas assim,
no meio dos seus colegas de trabalho. Acho que isso pode
prejudicar você.
FERNANDA: - Paula, tira isso da cabeça!
Nós já aparecemos juntas em tantos outros lugares!
PAULA: - Mas não no seu emprego, com
seu chefe, seus colegas. Sabe como isso gera
preconceito. Não quero que você tenha problemas.
FERNANDA: - Não vai ter problema
nenhum. Aliás, só vai haver um problema. Se você não
for, eu vou ficar sozinha. E triste. Muito triste! (olha
nos olhos de Paula) Paula, nós somos um casal e um casal
vai junto à festas, sejam elas da empresa, da família,
onde for. E ninguém tem nada a ver com isso, entendeu?
PAULA: - Entendi, tudo bem. Eu vou
tirar isso da cabeça.
FERNANDA: - É bom mesmo. Agora vamos
focar no filme que está chegando a parte que eu mais
gosto!
CENA 30. MOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
Matheus e André entram. Matheus fica olhando o quarto,
enquanto André fecha a porta e já tira a camisa.
MATHEUS: - Decoração em vermelho. É pra
incentivar mesmo a tentação!
ANDRÉ: - Então vamos cair na onda.
André se aquece e parte pra cima de Matheus,
abraçando-o. Começa a beijar seu pescoço. Matheus tira a
camisa. Entre carícias e amassos, os dois vão se
despindo, até ficarem de cuecas. Matheus deita sobre a
cama.
ANDRÉ: - Eu tenho uma coisa aqui vai
deixar você doidinho.
MATHEUS (empolgado): - O que? O que?
ANDRÉ: - Fecha os olhos.
MATHEUS (de olhos fechados): - Ai, não
me deixa curioso não hein!
André retira da mochila uma máscara, um chicote, um par
de algemas e velas.
MATHEUS: - Posso abrir?
ANDRÉ (acendendo as velas): - Ainda
não.
MATHEUS: - Ai meu Deus, o que você está
fazendo aí, hein?
ANDRÉ: - Estou preparando a melhor
noite da sua vida!
MATHEUS: - Ui, que delícia!
André termina de acender as velas e as espalha pelo
quarto. Ele então bate com o chicote numa cadeira.
Matheus abre os olhos no susto.
MATHEUS (chocado): - Mas o que é isso?!
Um ritual satânico?!
ANDRÉ: - Relaxa gatinho, é só uma
brincadeirinha.
MATHEUS: - Minha mãe sempre me ensinou
a não brincar com fogo.
ANDRÉ: - O fogo ainda nem começou .
Bate o chicote novamente.
MATHEUS (tenso): - Ai, cuidado, André.
Tem certeza que a gente precisa usar esses brinquedinhos
aí?
ANDRÉ: - Claro. Atiça a relação.
MATHEUS: - Eu não estou sentindo nada.
ANDRÉ: - Qual é, Matheus? Parece que
não gostou da minha surpresa.
MATHEUS: - Gostei, eu gostei. Eu só
achei um pouco inusitada. Eu nunca fiz isso.
ANDRÉ: - Isso o quê? Masoquismo?
MATHEUS (sem graça): - Então... É isso
mesmo.
ANDRÉ: - Mas sempre tem a primeira vez.
André joga as algemas para Matheus.
MATHEUS: Prende aí na cama.
MATHEUS: - Eu?! Me prender aqui?!
ANDRÉ: - Isso! Eu vou te mostrar como o
masoquismo é uma delícia!
André se distrai tirando da mochila mais acessórios.
MATHEUS: - Eu pensei que você guardasse
na mochila sua roupa do serviço.
ANDRÉ: - Ah, eu esqueci de falar. Eu
não trabalho numa multinacional mais.
MATHEUS: - Como assim não trabalha?!
Você mentiu pra mim, é isso?
ANDRÉ: - Menti não, eu apenas omiti. Eu
trabalhava numa multinacional. Mas eu saí. E agora eu
sou gogoboy numa boate aqui do Rio. Mas eu adoro levar
uns tapinhas, sabe? E de bater também (bate o chicote)
MATHEUS (para si): - Ai meu Deus, onde
eu fui parar!
ANDRÉ: - Então gato, vai brincar comigo
ou não?
MATHEUS: - Vou, vou sim. Mas antes, eu
queria que você fizesse um favor pra mim.
ANDRÉ: - Eu faço o que o senhor quiser!
Agora eu sou seu escravo, mas depois, serei seu amo! Eu
vou adorar dar umas batidinhas nessa sua bundinha linda!
MATHEUS: - Ce gostou? To malhando.
ANDRÉ: - Delícia.
MATHEUS: - Mas então, meu escravo, você
prepara um banho quente pra mim ali no banheiro? Eu
quero estar bem relaxado pra nossa brincadeira.
ANDRÉ: - Como meu amo quiser!
André entra no banheiro. Matheus aproveita, pega suas
roupas e sai rapidamente do quarto.
CORTA:
CENA 31. MOTEL. CORREDOR. INT. NOITE.
Matheus anda apressado pelo corredor enquanto veste suas
roupas.
MATHEUS: - Menina esse boy é louco, não
to sabendo lidar! Preciso sair daqui o mais rápido
possível.
Matheus sai meio que fugido.
CENA 32. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.
MUSIC ON:
(Vida real –
Engenheiros do Hawaii)
TAKES gerais da cidade em intensa
movimentação noturna. Transição da noite para o dia.
Corcovado, o Cristo Redentor. As praias, a região de
Copacabana, mostra o mar. Pão de Açúcar, a Lapa, o
Leblon.
CENA 33. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. INT.
DIA.
MUSIC CONTINUED.
Ambiente típico do ramo com cenários e holofotes a
postos. Lisa posa para as fotos de Edu. Ela faz diversas
poses. Carla acompanha todo o ensaio. Edu bate várias
fotos, e Lisa faz poses bonitas.
CORTA:
CENA 34. ESTÚDIO FOTOGRÁFIO. SALA EDU.
INT. DIA.
MUSIC FADE.
Edu mostra as fotos de Lisa no computador, para ela e
Carla.
CARLA: - Lisa, ficaram lindas as fotos!
LISA: - Você achou mesmo, Carla?
CARLA: - Claro, estão ótimas!
EDU: - Você tem um perfil fotogênico
muito bom, Lisa. E isso é importantíssimo para uma
modelo.
LISA: - Ai gente, obrigada! Eu fico tão
feliz em saber que estou fazendo bem aquilo que eu
gosto.
CARLA: - Olha essa foto aqui! Ficou
linda!
EDU: - Eu gostei dessa aqui.
Os três seguem vendo as fotos.
CORTA:
CENA 35. SHOPPING CENTER. INT. DIA.
Carla e Lisa caminham pelo shopping meio às outras
pessoas.
LISA: - Obrigada mesmo Carla, por me
acompanhar hoje na sessão de fotos.
CARLA: - Não precisa agradecer não,
querida. Você sabe que eu fui com você porque depois eu
queria que você viesse comigo aqui pro shopping. Odeio
fazer compras sozinha! (risos)
As duas olham umas vitrines.
CORTA:
CENA 36. SHOPPING CENTER. PRAÇA DE
ALIMENTAÇÃO. INT. DIA.
Lisa e Carla conversam numa mesa.
LISA: - Sei sim. E aí, você tinha
comentado que conversou com o Diogo.
CARLA: - Você acredita que ele disse
que quer mais tempo?
LISA: - Como assim?
CARLA: - Disse que quer mais tempo pra
gente se curtir antes de casar.
LISA: - Ah, mas eu acho isso normal,
Carla.
CARLA: - Normal?! Isso não é normal!
Ele quer é voar as tranças por aí, badalar. O Diogo sabe
que depois que tiver com a aliança na mão, não vai ser
tão livre assim, casamento é compromisso. Mas ele que me
aguarde.
LISA: - O que você está pensando em
fazer?
CARLA: - Ele disse que acha que estamos
indo rápido demais com a história de casamento. Pode até
ser, mas tem uma coisa, da qual ele não vai conseguir
escapar. E que nesses cassos, o casamento é o melhor
remédio.
LISA (tom): - Ih... Quando você começa
com esses planos.
CARLA: - Eu não estou com plano nenhum.
LISA: - Tá sim que eu sei. Pode ir
falando. Mais cedo ou mais tarde eu vou ficar sabendo
mesmo. Fala aí, o que você está pensando?
CARLA: - Eu vou engravidar do Diogo.
Em Lisa, impactada com a notícia. CLOSE
final em Carla, convicta da decisão. |
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