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LAÇOS DE AMIZADE - CAPÍTULO 10

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CAPÍTULO 10
 
     
 
     

 

     
 

| CENA 01 | SÃO PAULO / EXT. / DIA.

MUSIC ON: (Senhor do tempo – Charlie Brown Jr)

CAM mostra flashes do céu no nascer de um novo dia na grande São Paulo. Corte de cena. Imagem panorâmica dos edifícios da metrópole. Corte rápido. Imagens do trânsito caótico. Corta para a fachada de um hospital.

| CENA 02 | HOSPITAL / QUARTO CELSO / INT. / DIA.

O rapaz está deitado na cama, sedado. Celina se encontra parada ali próxima à cama, olhando penalizada para o rapaz. Ao lado dela está Jaqueline, olhos vermelhos de chorar.

CELINA: ¿Eres la novia de él?

Jaqueline enxuga as lágrimas. Não entende muito bem a mexicana.

JAQUELINE: Noiva? Não, não. Não chegamos nem a namorar. Na verdade nem nos conhecíamos direito.

CELINA: (portunhol) Sí. Fue o que quis decir, namorados...

JAQUELINE: Não. A gente mal se conhecia. (pausa) ‘Cê’ deve tá estranhando minha reação, né.  (voz embargada) Não deu tempo de nada, sabe. Mas eu sinto como se eu já o conhecesse há bastante tempo. É muito louco!

CELINA: Compreendo perfectamente.

Faz-se um silêncio momentâneo. Jaqueline suspira e volta a se emocionar.

JAQUELINE (chora): Ele não merecia isso.

CELINA: Lo sé, chica. La vida a veces puede ser muy cruel. Celso es un muchacho maravilloso, pero tengo fé en la virgen de Guadalupe que él se quedará bien muy pronto [mas tenho fé na Virgem de Guadalupe que ele ficará bem logo].

Novo silêncio. Celina afaga o ombro de Jaqueline ese retira do quarto, deixando-a mais a vontade. Ela se aproxima ainda mais de Celso e o olha. Suas lágrimas escorrem pelo seu rosto e se desmancham no lençol verde que cobre Celso.

JAQUELINE: Parece estranho. Mas eu sinto como se você pudesse entender o que eu digo. Eu queria dizer que sinto muito por tudo isso. Se eu pudesse ter feito alguma coisa pra impedir, não mediria esforços. Não posso garantir que você tá me ouvindo, mas vou falar mesmo assim. Por favor, sai logo dessa. A gente tem um lindo sentimento pra compartilhar, Celso. Eu te amo.

Ela o abraça como pode na cama.

| CENA 03 | REPÚBLICA / SALA / INT. / DIA.

Os moradores fazem o maior fuzuê enquanto descem às escadas para o café da manhã. Todos, com exceção de Valeska, acabaram de acordar e ainda estão descabelados e desarrumados. Vanessa é a primeira que surge na sala vestida com um baby doll curtíssimo cor de rosa. Marcelo e Luciano vêm logo em seguida apoiando Cláudio com dificuldade. Cláudio e Luciano estão de calção e sem camisa, Marcelo com uma camiseta branca e samba-canção. Bruna e Fabiana são as últimas que aparecem, a primeira de pijama branco com listras azuis, a segunda trajando um baby doll de seda, vermelho.

Ao se depararem com algo de diferente no local, todos ‘se chocam’ com o que veem. CAM dá panorâmica do local onde vemos vários cartazes espalhados pelas paredes da sala da república. Neles estão escritas frases que deixam claro a profissão de Janaina revelando o segredo de Bruna. Um dos cartazes diz: “Bruna, projeto mal sucedido de piriguete”. Valeska está cinicamente sentada no sofá verde limão admirando seu feito. Ao perceber a presença de todos na sala, a loira se levanta e se vira em direção a eles.

VALESKA: (cínica) Bom dia, colegas. Surpresa, Bruninha!

MARCELO (bravo): Você pode explicar o que significa isso, Valeska?

VALESKA: Com muito prazer, amore. Já que nossa ilustríssima “tutora” decidiu encobrir o passado (enfatiza) PODRE ‘dessazinha’ aí, eu me senti na obrigação de alertar meus companheiros de república com que tipo de gente nós estamos convivendo.

Bruna, sem dizer uma palavra, sobe de volta para o quarto, em prantos. Marcelo e Luciano soltam Cláudio que se apoia nas muletas. Fabiana se enfurece.

FABIANA: (irada) Sua cachorra, você vai ver...

Fabiana parte para cima de Valeska, mas é impedida por Luciano que a segura. Ela grita histérica.

FABIANA: Me solta, Luciano! Eu vou quebrar a cara dessa piranha! Me solta! Me solta!

VALESKA (sarcástica): Cala essa boca. Não ta vendo que a piranha aqui não sou eu?!

LUCIANO: Você não tinha o direito de fazer isso.

Marcelo se aproxima de Valeska que por um momento fica acuada.

MARCELO: (categórico) O que você ganha com isso além do meu desprezo? Acha que eu vou voltar ‘pra’ você depois de uma atitude mesquinha como essa? (ri nervoso) E você ainda se acha melhor que a Bruna... Tuas atitudes só provam o contrário, Valeska. Agora eu tenho a certeza de que eu fiz a escolha certa. É a (enfatiza) BRUNA que eu quero.

Ele sobe para o quarto. Luciano, ainda segurando Fabiana, segue Marcelo. Fabiana ainda tenta se soltar.

FABIANA: Isso não vai ficar assim.

Vanessa e Cláudio permanecem na sala.

CLÁUDIO: Pegou pesado com a novata hein, guria!

Valeska engole as palavras que ouviu de Marcelo goela abaixo e se recompõe.

VALEKSKA: Ninguém vai tomar café hoje não?

E caminha para a mesa. Vanessa e Claudio vão junto.

| CENA 04 | REPÚBLICA / QUARTO MAÇÃ / INT. / NOITE.

MUSIC ON: (Algo mudou – Liah)

Bruna entra no quarto, arrasada. Ela fecha a porta chorando muito e encosta-se a ela se deixando escorregar até o chão, inconsolável. Alguém bate na porta, Bruna não abre. As batidas tornam-se mais intensas. Ela se levanta e abre, é Marcelo. Sonoplastia baixa. Marcelo deixa a porta entreaberta e entra. Bruna se dirige ao centro do quarto.

BRUNA: Sai daqui, por favor.

MARCELO: Não deixa que ela consiga o que quer. A Valeska é uma inconsequente que se engana pensando que ganha alguma coisa causando o sofrimento dos outros. Você não pode ficar assim.

BRUNA: Ela fez com que todos soubessem o que eu sempre quis esconder.

Fabiana e Luciano aparecem e observam a cena, ao tempo que entram no local.

MARCELO: Não fica assim. Eu não consigo te ver triste.

FABIANA: (penalizada) É Bruna. Eu também não gosto de te ver desse jeito. Você não pode ligar ‘pra’ aquela ‘bruaca’ da Valeska. Ela é uma idiota. Não é possível que essa cretina pense que o Marcelo vai voltar pra ela depois de ter feito isso com você. Foi por pura maldade.

BRUNA: Vocês não entendem o que eu sinto. Que vergonha, meu Deus! E o pior é que é tudo verdade. Nada do que ela expôs ali é mentira, gente.  Minha mãe é a maior decepção da minha vida.

FABIANA: A única que devia sentir vergonha era ela por ter tido uma atitude tão vergonhosa como essa.

LUCIANO: A Fabi tá coberta de razão, Bruna. E sobre tua mãe, ela pode ter tido os motivos dela.

BRUNA: Por favor, gente. Eu preciso ficar sozinha.

Todos se retiram sem dizer mais uma palavra.

MUSIC OFF.

| CENA 05 | SÃO PAULO / RUA NO CENTRO / EXT. / DIA.

Janaína anda por uma calçada muito movimentada. Ela passa em frente ao escritório de Darlan. Ao passar pela porta principal do estabelecimento ele sai de dentro e os dois acabam se trombando.

JANAÍNA: Ai! Me desculpa. Eu tava distraída.

DARLAN: Como no dia em que eu quase te atropelei?

Janaina se recorda.

JANAÍNA: (surpresa) Nossa, é você! (pensa alto) Minha vida ultimamente tem sido repleta de coincidências. Estranho, não?!

DARLAN: Nunca se sabe o que a vida nos prepara. Eu, por exemplo, acho que isso não aconteceu por acaso. Não acredito em coincidências.

JANAÍNA: Não?

DARLAN: (decidido) Não. Só acho que precisamos parar de nos encontrar de forma tão truculenta.

JANAINA: Ou alguém vai acabar indo parar no hospital.

Eles riem.

DARLAN: Vamos aproveitar esta oportunidade única, Janaina?

JANAÍNA: Ainda lembra meu nome.

Ela dá um sorriso bobo.

DARLAN: Como poderia esquecer. Que tal um cafezinho?

JANAÍNA: Mas eu já tomei café.

DARLAN: Eu também.

Ela sorri novamente.

JANAÍNA: Então vamos.

DARLAN: Eu conheço um lugar ótimo. Não é muito a minha cara, mas eu adoro.

Mais sorrisos abobalhados.

| CENA 06 | REPÚBLICA / SALA-COZINHA / INT. / DIA.

Café da manhã. Na mesa estão apenas Valeska, Vanessa e Cláudio. O clima é tenso.

CLÁUDIO: Vanessa...

VANESSA: Hum...!

CLÁUDIO: Foi mal ter te tratado daquela maneira. Você só queria ajudar. Eu peguei pesado.

VANESSA: Isso é um pedido de desculpas?

CLÁUDIO: É.

VANESSA: Tanto faz. Eu que fui idiota o bastante ‘pra’ acreditar que alguém como você fosse querer algo sério com alguém.

Valeska, comendo um pedaço de pão.

VALESKA: É isso aí, garota.

CLÁUDIO: Também não precisa esculachar.

Silêncio. Ouve-se o barulho de porta batendo. Segundos depois Celina aparece, com um semblante nada amigável. Ela força o português.

CELINA: ¿Qué significan estos cartales (cartazes) espalhados por la casa?

CLÁUDIO: Advinha!

Celina lança um olhar mortal para Valeska. Corta rápido para a SALA

onde Celina e Valeska estão sentadas no sofá verde limão.

CELINA: ¿Qué te ocurrió cuando hicistes esto? [o que passou pela sua cabeça quando fez isso?]

VALESKA: Celina, eu não ‘tô’ com saco ‘pra’ aturar uma mexicana que fala pessimamente o português, ok?! Se quer explicação, se esforce mais. Entre num curso pra falar melhor nossa língua ou algo do tipo. Quando já estiver fluente, me procura, amore.

Valeska tenta fugir, mas Celina a segura, impaciente.

CELINA: No me hagas perder la paciencia contigo, chica!

VALESKA: (bufando) Eu já disse. Todo mundo precisa saber o tipo de gente que você põe ‘pra’ viver aqui dentro. Isso diz respeito a todos nós e sinceramente? Acho que você deveria ter nos comunicado antes.

CELINA: Sabes, usted tiene toda la razón.

VALESKA: Eu sei.

CELINA: Tengo que elegir muy bién quien voy a dejar quedarse a cá. [Você tem razão. Tenho que escolher muito bem quem vou deixar ficar aquí.]

VALESKA: Que bom que você concorda comigo.

Valeska sopra as unhas e fica-as admirando. Celina a interrompe.

CELINA: No puedo recebir en mi propia casa, personas tan prejuiciosas como tú. [Não posso receber em minha própria casa, pessoas tão preconceituosas como você.]

Valeska fita Celina.

VALESKA: Quê que é? Vai me expulsar?

CELINA: No es tan fácil, muchacha. Soy más espierta que piensas. Haré mejor. Aquí vas a aprender a como tratar la gente con el respecto que todos merecen. En esta república no hay lugar para los prejuicios. Voy a hacer lo que tus padres no lo hicieron: educarte! [Não é tão fácil, garota. Sou mais esperta do que você pensa. Farei melhor. Aquí você vai aprender como tratar as pessoas com o respeito que merecem. Nesta república não há lugar para preconceitos. Vou fazer o que teus país não fizeram: educar você!]

VALESKA: (impaciente) Quer saber de uma coisa, Celina? Não faço ideia da maioria das coisas que você falou aí, mas não me importa. Não me arrependo do que fiz, e faria de novo. Essa garota roubou meu namorado!

CELINA: (rindo) Entonces esta es la razón de verdad por la cual aprontastes si?! Ya lo sabía!  [Então este é o real motivo pelo qual você aprontou, sim?! Já sabia!]. (séria) Marcelo no te ama, querida.

VALESKA: Mas eu gosto dele.

CELINA: Y cres que desmoralizando Bruna conseguirá su amor? [E você acredita que desmoralizando Bruna na frente de todos, conseguirá seu amor?]

Valeska bufa novamente.

VALESKA: Eu sei que não. Mas é que me deu um ódio quando ele me dispensou ‘pra’ ficar com ela, que decidi que tinha que fazer alguma coisa contra aquela ruralzinha de quinta. Vingança, já ouviu falar querida?

CELINA: Hay mucho que aprender en nesta vida, niña. Pero (mas) para empezar (começar), yo te doy un consejo: (forçando o Português) Jamás debemos agir por impulso. Bien, era eso que tenia para decir-te. No voy a llamar a tu padre porque sé que no vendrá [não vou chamar seu pai porque sei que ele não virá]. Te daré más una oportunidad, pero tendrá que hacer una coisa.

VALESKA: (impaciente) Que coisa?

Ela força o Português novamente.

CELINA: Pedir desculpas à Bruna na frente de todos.

VALESKA (histérica): Pedir desculpas?

CELINA: Es esto, o será expulsa de la Lazos de Amistad! [É isso, ou será expulsa da Laços de Amizade!]

Em Valeska, encurralada.

| CENA 07 | REPÚBLICA / QUARTO MORANGO / INT. / DIA.

Valeska entra bufando de raiva e batendo a porta com força. Vanessa sai do banheiro.

VANESSA: Já vi que a conversa com a Celina não foi nada boa, né?!

VALESKA: Foi péssima! Que ódio daquela magricela!

VANESSA: Da Celina?

VALESKA: Não. Da Bruna! Você acredita que a Celina vai me obrigar a pedir desculpas ‘pra’ ela na frente de todo mundo?

VANESSA: E você aceitou?

VALESKA: Que parte do “Ela me obrigou!” você ainda não entendeu? Ou era isso ou eu seria expulsa da república. E sair daqui eu não posso enquanto o Marcelo não voltar pra mim.

VANESSA: Olha. Analisando a gravidade dos fatos, eu diria que a decisão da Celina foi bem razoável. Você expôs a vida da mãe da garota, Val. Foi humilhante pra ela.

VALESKA: Vanessa. Grave é o fato de eu ter que me humilhar na frente de todo mundo ‘pra’ me desculpar com aquela songa monga. Mas isso não vai ficar assim. Primeiro o Marcelo me troca por ela, e agora isso? Ela não perde por esperar.

VANESSA: Você é má guria. Muito má!

Ambas riem.

VALESKA: Eu arrasei com ela não foi?!

VANESSA: Você abriu pra todo mundo o que ela mais queria esconder, da forma mais maquiavélica possível, diga-se de passagem. Eu não queria estar na pele dela.

Valeska dá gargalhadas.

| CENA 08 | PONTO DE ENCONTRO / INT. / DIA.

O ambiente está razoavelmente ocupado. Pessoas conversam enquanto comem alguma coisa, sentados às mesas. Em uma destas mesas estão Janaína e Darlan conversando empolgados.

JANAÍNA: Bem que você disse. Esse lugar não é muito a sua cara.

DARLAN: Ta me chamando de velho?

JANAÍNA: (desconcertada) Não. Claro que não. Me desculpe, eu não/

DARLAN: Não precisa se desculpar. Estou brincando. Mas eu gosto daqui mesmo, apesar do estilo jovial. Gosto de ver esses garotos se divertindo sem compromisso com qualquer tipo de responsabilidade, mesmo que alguns passem do limite, às vezes. O fato é que eu vejo neles o que eu não pude ser. ‘Me arrependo’ muito de não ter aproveitado minha juventude.

JANAÍNA: Ué, mas por quê não pôde aproveitar?

DARLAN: Meu pai sempre foi muito rígido comigo, sempre me tratou com rispidez. Ele nunca me deixou ser realmente feliz. Sair com amigos, fazer o que eu gostava. Tudo tinha que ser do jeito dele e desde muito cedo me encaminhou pros negócios.

JANAÍNA: Mas sem dúvidas ele fez a coisa certa. Com certeza ele tinha projetos ‘pra’ sua vida e tinha medo de que tudo desse errado por uma atitude impensada de adolescente.

DARLAN: De fato. Mas ainda assim, sinto falta de ter vivido com mais intensidade essa fase da minha vida.

Silêncio. Janaína toma um gole de café e percebe a inquietude de Darlan que observa todo o ambiente.

JANAÍNA: O que houve? ‘Tá’ procurando alguém?

Darlan a olha firme.

DARLAN: Tem outro motivo pelo qual frequento esse lugar.

JANAÍNA: Alguém em especial?

DARLAN: Meu filho. (surpresa em Janaína) Ele frequenta esse lugar com os colegas da faculdade. Geralmente fico pouco tempo pra ele não me ver. Mas ele não está aqui nesse momento.

JANAÍNA: Como ele se chama?

DARLAN: Marcelo. Não temos uma boa relação. Meu filho saiu de casa e foi morar numa república depois que a mãe morreu. Nunca me deu o endereço.

JANAÍNA: Você é viúvo?

DARLAN: Sim.

JANAÍNA: Mas por que ele foi embora?

DARLAN: Ele acha que sou culpado pela morte da minha mulher. (desabafa) Sabe Janaína, eu não era feliz no meu casamento. Não dava mais, eu e a Marli brigávamos constantemente. Ela me acusava de ter uma amante. Com o passar do tempo tudo foi ficando desgastado e ela adoeceu, acabou falecendo. Mas não acredito que tenha sido falta de amor, eu fiz tudo que estava ao meu alcance ‘pra’ salvar nosso casamento, por causa do Marcelo. Mesmo assim ele me acusa de tê-la matado.

JANAÍNA: Que drama. Parece até novela.

DARLAN: Eu acho que a vida nada mais é do que uma novela. Acontecem coisas tão inacreditáveis que chegamos a duvidar que seja realidade. Com você não é assim?

JANAÍNA: Você nem imagina o quanto.

Novamente o silêncio paira no ar.

DARLAN: A primeira vez que eu te vi eu gostei de você. Te achei uma mulher bonita, atraente, gostaria de te ver mais vezes.

JANAÍNA: (sorri/satisfeita.) Eu também. Como você mesmo disse. Acho que o destino está ao nosso favor. Se não, não tínhamos nos encontrado novamente.

Darlan reluta por um instante, mas levanta-se de sua cadeira e puxa a de Janaína facilitando sua saída. Frente a frente, ele a segura pela cintura aproximando-se ao máximo dela.

MUSIC ON: (Quase um segundo – Luiza Possi. Som ambiente)

Os corpos estão colados. Janaína se surpreende com a atitude de Darlan que a beija intensamente. Ela corresponde. Após o beijo, eles ficam a se olhar sem dizer nada. Os dois começam a dançar lentamente ao som da música. Corta para.

Balcão central do bar. Chad observa a cena. Ele cutuca Melissa, apressado.

CHAD: Mô... Olha lá!

Ela olha e

MELISSA (exagerada): Geeente. É o dr. Darlan?

CHAD: O próprio. Parece que finalmente arranjou companhia, sempre aparece tão só por aqui.

MELISSA: Nada como amor.

O casal se olha sorrindo e acaba por se beijar.

MUSIC OFF.

| CENA 09 | REPÚBLICA / SALA / INT. / DIA.

Todos os moradores da república estão reunidos no local prontos para irem a universidade. No centro, Bruna, Celina e Valeska, ambas de pé.

CELINA: Entoces, chica. Que tienes para decir a Bruna?

Valeska revira os olhos, hesitante. Celina lança-lhe um olhar. Valeska respira e incorpora uma personagem. Ela se aproxima de Bruna, quase empurrando Celina para trás, e segura-lhe as mãos, encarando-a. Sua voz é serena, mas forçada.

VALESKA: Bruninha, querida. Me perdoa por ter te exposto daquela maneira. Eu realmente não tinha esse direito. Se você optou por não nos contar sua origem obscura é porque não se sentia a vontade para tanto. Não sou ninguém para revelar um segredo de outra pessoa. Estou muito envergonhada com minha atitude. Se pudesse voltar atrás...

Ela suspira, como se realmente tivesse arrependida. Fabiana deixa escapar uma risada. Bruna não acredita naquilo. Todos os presentes começam a se entreolhar em cumplicidade.

VALEKSA: E então amiga. Você me desculpa?

Silêncio. Celina olha para Bruna que não quer responder.

CELINA: Y entoces Bruna?

BRUNA (seca): Tudo bem, Valeska. Tá desculpada, (irônica) amiga.

Valeska põe a mão no peito, compadecida.

VALEKSA: Estou tremendamente aliviada.

LUCIANO: E o Oscar de melhor atriz vai para/

Bruna o interrompe.

BRUNA: Galera, já tá na nossa hora né?!

MARCELO: É, partiu facul!

Eles começam a se movimentar com o furdunço de sempre.

| CENA 10 | CASA DE CARLOS / SALA / INT. / DIA.

Como de costume, Carlos está jogado de qualquer jeito no sofá, tomando uma cerveja. Janaína chega com um sorrisinho incriminador.

CARLOS: Aonde foi que tu se meteu?

JANAÍNA: E desde quando eu tenho que te dar satisfações?

CARLOS: Desde quando tu passou a prestar uns servicinhos ‘pra’ mim, esqueceu?! Agora desembucha logo.

JANAÍNA: Você fala como se eu tivesse tido alguma alternativa. Além disso, se acha meu dono. Eu não sou sua, Carlos. Eu não sou de ninguém.

Ele se levanta, aparentemente calmo. Aproxima-se da mulher, segurando seu queixo.

CARLOS: Errado Janinha doce prazer. Desde que tu pisou aqui dentro da minha casa, e eu comecei a te dar comida, um teto e muito carinho... (passa a mão na bunda dela) Tu passou a ser minha!

JANAÍNA: Você me obrigou a isso tudo, seu crápula.

Ela se afasta dele.

JANAINA: Mas eu não pretendo ficar nessa por muito tempo. Meus dias de escrava sexual estão contados. (provoca) E quer saber onde eu tava? Com um cara aí.

O deboche na face de Carlos transforma-se em ira.

CARLOS: Como é que é?

| CENA 11 | UNIVERSIDADE / CORREDOR DO SEGUNDO ANDAR / INT. / DIA.

Marcelo e Luciano caminham em meio aos outros estudantes.

LUCIANO: E aí? Tá gostando do curso?

MARCELO: ‘Se tô!’ Eu acho que eu nasci pra administração, cara.

LUCIANO: Isso é bom. Quando a gente tem um objetivo definido tudo fica mais fácil. Eu também ‘tô’ gostando de Educação Física. Na época do vestibular eu tava meio indeciso, sem saber o que fazer. Mas aí me decidi por isso e acho que fiz a escolha certa. Eu sempre tive aptidão.

MARCELO: Então tá tudo certo. Vou indo, até depois da aula.

LUCIANO: Espera.

MARCELO: Que foi?

LUCIANO: É que eu tenho que te falar uma coisa sobre a Bruna. Quer dizer, sobre a mãe dela.

MARCELO: Tem a ver com a palhaçada que a Valeska aprontou?

LUCIANO: Não exatamente. Bom, é que eu já sabia que a mãe da Bruna é uma profissional do sexo.

MARCELO: O quê?

Na surpresa de Marcelo.

 
     

 

     
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