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VOZ DE JOSH –
Anteriormente em New Stages...
O dia está
nublado e aparenta estar prestes a anoitecer. As pessoas andam
apressadas, em direção a suas casas, após um exaustivo dia de trabalho.
O trânsito está infernal. Muitos carros parados e buzinando. Entre a
multidão, vemos uma garota de cabelos castanhos claros andando com um
pequeno
papel em suas mãos, para onde olha continuamente. Subentendemos então
que
se trata de um endereço, pois ela também alterna os olhares em direção
às placas, a fim de se localizar onde está. A garota carrega uma grande
mochila em suas costas e está um pouco ofegante. Ela enxerga uma
cafeteria e resolve entrar nela. Corta rapidamente para:
CENA 02. LOS
ANGELES. CAFETERIA. INT. DIA. (Música cessa.)
A garota entra no
local lentamente encarando a enorme quantidade de pessoas que estão
ali. Elas fazem seus pedidos apressadamente e os funcionários se
desdobram para conseguir atendê-las. A jovem consegue alguns caminhos
vagos e chega até o balcão de atendimento. Uma funcionária com olheiras
bastante intensas vai até ela.
FUNCIONÁRIA – Olá. O que
deseja?
GAROTA – Oi. Eu nunca
estive em Los Angeles, então não conheço a cidade. Será que você
poderia me dizer se estou no caminho certo para chegar neste endereço?
(mostra o papel)
FUNCIONÁRIA – Menina, este é
o horário do fim de expediente e as pessoas estão apressadas querendo
fazer os seus pedidos. Tem como você fazer o seu e dar o fora daqui?
A funcionária
encara a garota. Close nela, assustada.
GAROTA – Ok. Eu só
quero um café.
A funcionária
segue até a cafeteira e prepara um café para a garota. Esta, por sua
vez, tira a mochila das costas e, com muito embaraço, tenta tirar o
dinheiro de dentro dela.
FUNCIONÁRIA – (trazendo o
café) Pronto. São dois dólares.
A garota
consegue, finalmente, recolher as moedas que estavam dentro de sua
mochila, mas na hora de entregá-las, acaba derrubando algumas no chão.
Rapidamente, ela se abaixa para pegar as moedas. Close na funcionária,
impaciente.
GAROTA –
(levantando-se) Aqui está...
E a garota coloca
algumas moedas no balcão.
FUNCIONÁRIA – Só isso?
GAROTA – É tudo que me
sobrou.
FUNCIONÁRIA – (olhando para
a garota) Tudo bem. Já percebi que você está encrencada, então vou
perdoar desta vez. (pega as moedas) Agora vá, porque eu preciso atender
o próximo.
GAROTA – (pega o café)
Obrigada. Se você quiser, eu posso trazer o resto do dinheiro depois.
Assim que eu conseguir chegar à casa do meu...
FUNCIONÁRIA – (interrompe)
Fique tranquila, menina, eu estou te oferecendo o café. (volta a dar as
moedas para ela) Tome, isso não vai fazer nenhuma diferença mesmo.
A garota sorri e
pega as moedas com a outra mão. Então sai do local, ainda em passos
lentos, e observando as pessoas calmamente, enquanto toma seu café.
CENA 03. LOS
ANGELES. RUA MOVIMENTADA. EXT. DIA.
A garota sai da
cafeteria e toma o seu caminho. Ela guarda as moedas no bolso do
moletom e volta a olhar para o papel. Como está distraída, acaba não
percebendo que uma mulher vem em sua direção. Ela tromba com a garota e
acaba derrubando o café que ela segurava. A mulher continua a andar,
sem se importar com o pequeno acidente. A garota olha para o copo de
café derrubado no chão e, em seguida, se vira para a mulher.
GAROTA – (gritando
inocentemente) Tudo bem... Não precisa se importar... Era só um café...
Eu nem paguei por ele mesmo.
A garota volta a
olhar para o copo de café e então continua a andar. As pessoas, que
também andam na calçada, se esbarram nela, trombam, empurram e nem
pedem licença ou desculpas. Close na garota, com um sorriso no rosto,
olhando para as pessoas sem nenhum ressentimento delas.
CENA 04. LOS
ANGELES. ANTIGA CASA DE KURT E SUZIE. FACHADA. EXT. DIA.
A câmera mostra a
antiga e luxuosa casa de Kurt e Suzie, mostrada nos episódios especiais
da primeira temporada, onde o casal vivia antes de se separar. A garota
chega ao local e fica encarando o portão.
GAROTA – (olha para o
papel) É aqui mesmo...
Então, ela
respira fundo e toca o interfone. Alguém a atende.
VOZ MASCULINA – Pronto?
GAROTA – Oi, boa tarde.
Eu me chamo Elizabeth e estou à procura de Kurt Jordan.
VOZ MASCULINA – O senhor Kurt
Jordan já não mora aqui há bastante tempo. Eu comprei esta casa quando
ele e a mulher se divorciaram.
ELIZABETH – (surpresa)
Você sabe se ele ainda está vivendo em Los Angeles?
VOZ MASCULINA – Sim, inclusive
eu tenho o endereço dele. Você quer?
ELIZABETH – Sim, eu
gostaria muito.
VOZ MASCULINA – Um momento, eu
vou pegar para você.
ELIZABETH – Obrigada.
A câmera se
afasta enquanto a menina aguarda, pacientemente, o dono da casa lhe
passar o novo endereço de Kurt.
CENA 05. LOS
ANGELES. CASA DE KURT. SALA. INT. DIA.
Kurt está sentado
na poltrona fazendo a leitura de um livro. A campainha toca. Ele fecha
o livro, se levanta da poltrona e segue em direção a porta.
KURT – (abrindo-a)
Sim?
ELIZABETH – Olá, eu me
chamo Elizabeth.
Kurt encara a
garota, esperando que ela diga o que deseja.
KURT – (percebe que a
menina não irá falar mais nada) E então?
ELIZABETH – Será que eu
posso entrar?
KURT – (estranhando)
Sim. Entre. Mas você pode me adiantar o que está procurando?
ELIZABETH – (entra e
observa a casa) É um lugar confortável para se morar, mas nada
comparado a sua antiga casa.
KURT – (surpreso)
Você esteve lá?
ELIZABETH – Sim, foi o
endereço que a minha mãe me passou. Ela disse que eu te encontraria lá,
mas o atual dono da casa me contou que você se mudou há bastante tempo.
KURT – Sim, não tinha
mais razões para eu continuar morando sozinho numa casa enorme como
aquela. Sem falar que eu havia acabado de me divorciar e estava sem um
bom emprego para manter as despesas da casa. Então decidi vendê-la e me
mudar para uma menor.
ELIZABETH – Esta é
realmente menor... (olhando em volta) Mas é muito aconchegante. Você
deve gostar de morar aqui.
KURT – Eu até gosto,
mas infelizmente uma casa menor não faz com que eu me sinta menos
solitário. (sorri) Mas então, você disse que a sua mãe te passou o
endereço da minha antiga casa... O que você veio fazer aqui em Los
Angeles?
ELIZABETH – Eu vim te
conhecer.
KURT – Não sei se eu
mereço essa gentileza.
ELIZABETH – Claro que
merece. (sorri) Você é o meu pai!
KURT – (engasga) O
que?
ELIZABETH – Eu sei que te
peguei de surpresa vindo até aqui e soltando essa bomba na sua casa,
mas você não acha que é uma ótima hora para nos conhecermos?
KURT – Eu não sei do
que você está falando, garota. Filho eu só tenho um e ele mora em San
Francisco com a mãe.
ELIZABETH – Quer dizer que
eu tenho irmão? (sorri) Eu sempre quis ter um irmão, mas minha mãe
nunca mais se interessou por um homem depois que deu à luz.
KURT – Eu preciso
saber quem é a mulher que colocou essa ideia absurda na sua cabeça...
Então, Elizabeth
tira a mochila das costas e, com muita calma, a abre e tira de dentro
dela a foto de uma mulher. Ela entrega para Kurt.
KURT – (pegando a
foto e olhando atentamente para ela) Mas esta é a... Kirsten?!
ELIZABETH – Exato, é a
minha mãe. Ela não queria que eu viesse até aqui, mas eu não poderia
deixar que você continuasse não sabendo da minha existência. Porque,
durante todo esse tempo, ela me escondeu de você... (tira o sorriso do
rosto)
KURT – Por que a
Kirsten fez isso?
ELIZABETH – Segundo ela,
vocês tiveram um encontro logo após o seu noivado com a sua mulher...
ou ex-mulher, já que você disse que se separou. Quando ela soube que
você estava noivo, pediu para que ficasse longe dela. Um mês depois,
ela descobriu estar grávida e não te procurou com medo de que isso
atrapalhasse o seu casamento com a Suzie.
KURT – Mas era o meu
direito saber! Eu poderia ter ajudado ela com a gravidez e com a sua
criação...
ELIZABETH – Mas a mamãe é
uma mulher muito orgulhosa. Foi muito difícil convencê-la a me deixar
vir aqui. Eu venho de Texas, você pode imaginar o quão longe é...
KURT – Elizabeth...
Eu ainda estou digerindo a notícia, mas se você for realmente a minha
filha, eu fico muito contente pela sua atitude em vir até Los Angeles
para me conhecer.
ELIZABETH – Eu não quero
que você pense que eu estou te procurando em troca de alguma coisa,
porque eu não estou. Eu não preciso de dinheiro. Minha mãe nunca deixou
que me faltasse nada. A única coisa que eu realmente preciso é
conhecer o meu pai.
KURT – Eu não acho
que eu seja o pai que você tanto precisa conhecer... Eu acompanhei o
crescimento de um filho, Elizabeth, e eu decepcionei muito ele.
ELIZABETH – Me chame de
Liz, ok? Agora já nos conhecemos, não há mais razões para tanta
formalidade. E aposto que, independente de todas as decepções, o seu
filho continua te amando, porque você é a família dele.
KURT – Eu machuquei
muito o meu filho, Elizab... (ri) Liz.
ELIZABETH – É normal
machucarmos quem amamos.
KURT – (sorri) Que
bom que você veio... (olha mais uma vez para a foto) Infelizmente, a
Kirsten é uma das pessoas que sofreram por minha causa. E eu gostaria
de poder voltar no tempo e pedir desculpas a ela por tudo o que eu fiz.
ELIZABETH – Tenha certeza
de que a minha mãe não guarda nenhuma mágoa de você. De acordo com as
próprias palavras dela, após aquele encontro que vocês tiveram, veio ao
mundo o maior presente da vida dela... Eu. (sorri) E essa é a melhor
lembrança que ela tem de você.
KURT – Elizabeth...
Eu quero te conhecer!
ELIZABETH – É para isso
que eu vim. (colocando a mochila no sofá) Será que eu posso ficar aqui
por um tempo?
KURT – Claro, você é
bem-vinda na minha casa. Eu estava me sentindo sozinho mesmo. Agora vou
ter uma ótima companhia.
ELIZABETH – Será que eu
posso... (pausa) te abraçar?
KURT – (sorri) Claro.
Vem aqui.
E a garota se
aproxima de Kurt, abraçando-o intensamente. Close em Kurt, sorridente.
ELIZABETH – Eu estou muito
feliz por finalmente conhecer o meu pai...
E a imagem
escurece, cortando rapidamente para:
CENA 06. TEXAS.
CASA DE ELIZABETH. QUARTO DE ELIZABETH. INT. NOITE.
Elizabeth está
deitada em sua cama, vestindo um pijama. Sua mãe, Kirsten, entra no
quarto com um copo de leite nas mãos.
KIRSTEN – Trouxe um
leitinho quente para você... Com bastante chocolate... Do jeitinho que
você gosta. (sorri e entrega o copo para a garota)
ELIZABETH – Obrigada, mãe.
KIRSTEN – (senta-se na
cama) Minha filha, amanhã é o seu aniversário de 19 anos e eu quero te
dar um presente especial. Então, eu estou te dando o livre arbítrio de
escolher o que quiser. Independente de preço e tamanho... (ri) Só não
pode estar fora desse continente.
ELIZABETH – (olha séria
para a mãe) O maior presente que você poderia me dar amanhã é contar
quem é o meu pai.
Close em Kirsten,
comovida com o pedido da filha.
KIRSTEN – Liz, eu já
cansei de dizer que não posso... Ele tem uma esposa, uma família. Você
não pode simplesmente aparecer em Los Angeles e bagunçar a vida dele.
ELIZABETH – Mas eu posso
continuar sendo uma completa estranha para ele? (deixa uma lágrima
rolar em seu rosto) Mãe, ele é o meu pai e merece saber que tem uma
filha. Assim como eu mereço conhecer o meu pai.
KIRSTEN – Tudo bem,
Liz... Você vai conhecer o seu pai. Mas eu quero que você me prometa
que não vai depositar todas as expectativas nesse encontro, porque eu
não quero que você se decepcione caso ele venha a te recusar.
ELIZABETH – Eu prometo,
mãe. E obrigada por me permitir isso. (sorri) Você pode me contar mais
sobre ele?
KIRSTEN – (sorri) Kurt
Jordan. Ele era um bom homem. Eu estudei com ele durante o segundo grau
e a gente vivia se paquerando durante os intervalos. Mas, infelizmente,
ele me enganou, Liz. Me colocou na vida dele como “a outra” e eu tive
que afastá-lo para que ele não continuasse machucando a sua noiva. Mas
eu não me arrependo do último encontro que tive com ele, porque foi
quando concebi a pessoa que mais amo nessa vida. (sorri)
ELIZABETH – Eu te amo, mãe.
KIRSTEN – Eu também te
amo, filha. Desculpa ter escondido o seu pai de você durante tanto
tempo. Eu só queria te proteger. Mas agora você está certa, chegou a
hora de você deixar de ser um segredo e passar a fazer parte da vida
dele.
Close na garota,
que sorri.
A imagem corta
rapidamente para:
CENA 07. LOS
ANGELES. CASA DE KURT. SALA. INT. DIA.
Kurt e Elizabeth
terminam o abraço.
KURT – Vire à direita
e vá até o final do corredor. Você vai encontrar o quarto de hóspedes,
onde ficará por um tempo. É singelo, mas você disse que a casa é
confortável, então acho que não há problemas.
ELIZABETH – Nenhum... Se
você quiser, eu posso até dormir no sofá. (ri)
KURT – Não, você pode
ficar no quarto de hóspedes. (sorri) Enquanto se acomoda no quarto, eu
vou até a padaria comprar alguma coisa pra você comer... Você veio de
longe, deve estar com fome.
ELIZABETH – Sim, eu estou
faminta...
Elizabeth sorri e
pega sua mochila, seguindo as instruções que o pai passou. Kurt sorri e
vai até a estante da sala. Ele pega a carteira que estava sobre ela e a
abre para pegar algum dinheiro. Ele tira alguns trocados de dentro
dela. Close em sua expressão assustada ao perceber que, na verdade, seu
dinheiro acabou.
KURT – (bufa) Droga... A imagem corta rapidamente para: |
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2x09 - O BOM FILHO |
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CENA 08.
Tomada da cidade
de San Francisco com imagens dos principais pontos turísticos do local
até chegar à fachada da Universidade da Califórnia.
CENA 09.
UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA. CAMPUS. GINÁSIO DE ESPORTES. QUADRA. INT.
DIA. (A música tocada na cena anterior continua a ser executada nesta.)
Os jogadores do
time de basquete da Universidade da Califórnia se organizam para o
início do treino diário. Entre eles, estão Ryan e Evan. O treinador
apita e a bola é lançada por Evan. Ryan consegue tomar posse dela e
segue em direção à cesta adversária para realizar o arremesso, quicando
com a bola no chão e desviando-se muito bem das marcações. Evan corre
até ele e se esbarra agressivamente no corpo do garoto. Ryan perde o
equilíbrio e o movimento da bola, que é tomada por Evan. Close em Ryan,
surpreso pelo comportamento do garoto após a noite em tiveram.
A imagem corta
rapidamente para:
CENA 10.
UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA. CAMPUS. GINÁSIO DE ESPORTES. VESTIÁRIO.
INT. DIA. (Música continua.)
Alguns atletas do
time saem do vestiário. Ryan entra, ainda uniformizado, e se senta em
um banquinho a espera de alguém. Evan sai da cabine de banho enrolado
em uma toalha.
EVAN – (percebendo a
presença de Ryan) Não vai tomar banho, camarada?
RYAN – Eu já vou. (se
levanta do banquinho) Será que antes podemos trocar uma palavrinha
sobre ontem à noite?
EVAN – (ri) O que
aconteceu ontem à noite?
RYAN – (surpreso)
Como assim? Você sabe muito bem o que aconteceu ontem à noite. Houve a
confusão no seu antigo apartamento, você resolveu vir morar aqui no
alojamento e a gente acabou...
EVAN – (se aproxima
de Ryan sussurrando) Cala a boca! Você quer que a universidade inteira
fique sabendo?
RYAN – Não, Evan, eu
só não quero que você aja com intolerância em relação a isso. Você foi
totalmente agressivo durante o treino hoje...
EVAN – Eu só estava
agindo como um bom jogador de basquete deve se comportar dentro de
quadra...
RYAN – Você não
precisa empurrar os seus adversários para conseguir a posse da bola.
EVAN – Cada um tem
uma estratégia para jogar, Ryan. Não queira discutir a minha.
RYAN – Cara, você
está sendo grosseiro...
EVAN – (diz em tom
baixo) Uma pessoa passa a noite contigo e você já logo quer ficar no pé
dela? Desencana, Ryan, a noite anterior não passou de um momento de
diversão. Sem falar que eu estava bêbado...
RYAN – Não queira
descontar a culpa na bebida, Evan. Eu conheço esse jogo desde que eu
nasci e ele não funciona comigo. Você estava bastante ciente dos seus
atos...
EVAN – Tudo bem, eu
fui envolvido pelo momento, mas como eu disse, foi apenas diversão. Não
representou nada pra mim. Eu nem sou gay, cara. Nada contra se você
for, mas eu não sou. Eu experimentei, foi legal, mas já esqueci... Você
deveria fazer o mesmo, porque não quero babaca pegando no meu pé.
Evan se afasta de
Ryan e pega sua mochila para se vestir. Close em Ryan, decepcionado.
CENA 11.
UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA. CAMPUS. ALOJAMENTO. DORMITÓRIO DE CHELSEA E
KEITH. INT. DIA. (Música cessa.)
Keith está
sentada em sua cama digitando algo no notebook. Chelsea entra,
desesperada.
CHELSEA – (andando de um
lado para o outro) Keith, já faz sete dias...
KEITH – (olhando para
o notebook) Sete dias do que? Mas fala rápido, porque eu estou
ocupadíssima aqui digitando as novas regras do dormitório.
CHELSEA – Keith, será
que tem como você parar de se preocupar com esse seu cargo de
supervisora por um minuto e prestar atenção na sua melhor amiga?
KEITH – (olhando para
Chelsea) Tudo bem, a minha criatividade já estava se esgotando mesmo...
CHELSEA – Já faz sete
dias que a minha menstruação está atrasada. E ela nunca atrasa, Keith.
Todo mês é sempre no mesmo dia.
KEITH – Calma, amiga,
tem sempre uma primeira vez para tudo... Você está se desesperando à
toa.
CHELSEA – E você acha
que eu não tenho motivos? Minha menstruação resolve atrasar justamente
no mês em que eu transei pela primeira vez com um garoto.
KEITH – Mas eu pensei
que vocês tinham se protegido...
CHELSEA – Nós nos
protegemos, mas hoje em dia nem no preservativo dá pra confiar mais...
KEITH – Para de querer
encontrar problema onde não tem, Chelsea. Deve ser um atraso normal.
Sem falar que a camisinha é totalmente segura.
CHELSEA – Em 97% dos
casos. (irônica) Do jeito que eu sou sortuda, é bem capaz de eu estar
entre os outros 3%.
KEITH – Vamos fazer o
seguinte... Eu tenho uma ginecologista ótima aqui na cidade. Amanhã
mesmo eu te levo para uma consulta. Daí ela te diz que é só um atraso
convencional e você se toca que isso é preocupação sem propósito da sua
cabeça.
CHELSEA – Ótimo.
KEITH – (volta a olhar
para o notebook) Agora deixa eu continuar criando as regras para o
andar.
CHELSEA – Eu realmente
espero que isso seja coisa da minha cabeça... Eu não posso lidar com
mais nenhum problema neste momento. Ainda mais quando este problema se
trata de alguém crescendo dentro de mim.
Close em Chelsea,
preocupada. CENA 12. (música: I'm Feeling You - Michelle Branch (The Wreckers)
Tomada da cidade
de San Francisco. Anoitece.
CENA 13.
UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA. CAMPUS. ALOJAMENTO. CORREDOR DOS
DORMITÓRIOS. INT. NOITE. (A música tocada na cena anterior continua a ser executada nesta.)
Josh e Austin
estão andando lentamente pelo corredor.
JOSH – Foi ótimo ter
pegado um cinema com você. Nós deveríamos repetir esse programa mais
vezes.
AUSTIN – Nós vamos ter
todas as oportunidades do mundo pra repetir, meu amor. (sorri) De repente o celular de Austin começa a tocar. O garoto tira o aparelho do bolso e atende a ligação.
(Música cessa.)
JOSH – Claro que não.
Eu faço questão de te acompanhar. Eu ouvi bem? Seu pai acabou de sofrer
um infarto?
AUSTIN – Sim, minha mãe
não pôde me dar muitas informações porque ele ainda está sendo
examinado pelos médicos.
JOSH – Mas o que a
sua mãe está fazendo aqui? Ela não mora em Nova York?
AUSTIN – Sim, mas ela
está de férias e veio passar um tempo com o meu pai. Ainda bem, porque
se ele estivesse sozinho em casa agora, eu não sei quem teria o
socorrido. (preocupado) Você vem comigo?
JOSH – Claro. Seu pai
foi meu diretor durante quatro anos. Eu estou tão preocupado quanto
você. Vamos!
E Josh e Austin
saem pelo caminho contrário ao que estavam fazendo.
CENA 14. HOSPITAL
DE SAN FRANCISCO. RECEPÇÃO. INT. NOITE.
A mãe de Austin
está sentada em uma poltrona, aflita. Josh e Austin entram no local,
apressados.
AUSTIN – Olá, mãe.
Peguei o primeiro táxi e vim o mais rápido que pude. Como ele está?
BARBARA – De acordo com
os médicos, ele irá ficar bem, Austin. Mas mesmo sabendo que ele está
fora de perigo, não tem como não se preocupar. (sorri) Quem é o seu
amigo?
AUSTIN – Ah, este é o
Josh. Nós estávamos chegando do cinema quando você ligou e ele quis vir
comigo. O Josh foi aluno da San Francisco High School. E um dos
melhores. (fala orgulhoso) Se formou com louvor.
BARBARA – Parabéns,
Josh. Eu fico feliz em saber que o Austin está cercado de boas pessoas
como você na Universidade da Califórnia. (sorri)
JOSH – Obrigado,
senhora Davis. (estende a mão) Muito prazer em conhecê-la.
BARBARA – Me chame de
Barbara. (também estende a mão) O prazer é todo meu.
AUSTIN – Bom, então
quer dizer que o infarto foi só um susto passageiro?
BARBARA – Sim, os
médicos me garantiram que ele volta para a casa em pouco tempo. Seu pai
é forte como um touro, Austin. Não é qualquer infarto que vai
derrubá-lo não. (ri)
AUSTIN – E você já sabe
quando vamos poder vê-lo?
BARBARA – Logo. Só temos
que esperar o hospital autorizar as visitas.
AUSTIN – (sorri) Ótimo.
Close em Josh e
Austin, que se olham aliviados.
CENA 15. HOSPITAL
DE SAN FRANCISCO. QUARTO DO SR. DAVIS. INT. NOITE.
As visitas para o
quarto do Sr. Davis já foram autorizadas. Austin e Josh entram no local
lentamente para vê-lo.
MARK – Mas que ótimo!
Dois belos jovens vindo me visitar. Será que algum de vocês quer me
doar um pouco de saúde? (ri)
AUSTIN – (se aproxima
da cama onde o pai está deitado) Não fala assim, papai. Você ainda tem
saúde pra dar e vender.
MARK – Depois desse
infarto, eu já não tenho mais tanta certeza, meu filho.
AUSTIN – Você acabou de
sobreviver a um infarto. Isso só prova que você ainda vai passar por
cima de muita coisa que aparecer na sua frente. A San Francisco High
School não vai perder você tão cedo.
MARK – (refere-se à
Josh) E eu fico muito feliz que um antigo aluno meu tenha vindo me
visitar. Achei que depois que se formasse na minha escola, não iria
mais querer ver a minha cara, Josh.
JOSH – Claro que não,
diretor Davis. Eu fiquei muito preocupado quando soube da notícia.
Estou aliviado por ter sido apenas um susto.
MARK – E eu estou
feliz pelo meu filho. Finalmente ele deixou as más companhias de lado e
fez uma amizade que vale à pena. Acho que ir para a Universidade da
Califórnia fez muito bem ao Austin.
AUSTIN – (olha
apaixonadamente para Josh) Sim, pai, me fez muito bem.
Close em Josh,
que sorri.
MARK – Agora, Josh,
eu preciso que você me prometa que vai ficar por cima do Austin.
Austin e Josh se
entreolham e riem, interpretando errado o que o pai do primeiro garoto
acabara de dizer.
MARK – Do que vocês
estão rindo? Eu estou falando sério. Fique de olho nele, Josh! O Austin
já aprontou muita coisa errada nessa vida. Agora que tem você como
amigo, aposto que ele está muito bem encaminhado. (sorri)
JOSH – Obrigado pela
confiança, diretor Davis.
AUSTIN – Pai, eu e o
Josh vamos te deixar em paz agora. O senhor precisa descansar...
MARK – Descansar que
nada, eu já estou pronto para ir para a casa, Austin...
AUSTIN – Os médicos
preferiram deixar o senhor em observação por mais um dia. Aproveite
este tempo para descansar. Aquela escola tem consumido muito tempo e
energia do senhor.
MARK – (sorri)
Obrigado pela preocupação, Austin.
Austin também
sorri e ele e Josh saem do quarto. Sr. Davis fecha os olhos e volta a
repousar.
CENA 16. HOSPITAL
DE SAN FRANCISCO. CORREDOR DOS QUARTOS. INT. NOITE.
Josh e Austin
saem do quarto do Sr. Davis e param no meio do corredor para conversar.
AUSTIN – Josh, eu
decidi que vou passar a noite aqui com o meu pai... Não quero deixá-lo
depois desse susto. Você pode ir para a universidade.
JOSH – Não, Austin.
Se você vai ficar aqui, eu faço questão de passar a noite com você no
hospital.
AUSTIN – (pega na mão
de Josh) Obrigado pela companhia, viu? Tudo o que meus pais disseram
desde que chegamos aqui é a mais absoluta verdade. Eu não sei o que
seria da minha vida hoje se eu não tivesse um amigo como você.
JOSH – Um dia você
ainda vai me contar tudo o que aprontou enquanto não me conhecia. (ri)
AUSTIN – Pode deixar,
amor. E obrigado por escolher ficar aqui comigo. A sua companhia vai
fazer com que as horas neste lugar horrível passem mais rápido.
JOSH – De nada. Agora
solte a minha mão, porque alguém pode acabar nos vendo...
Os garotos
sorriem. Close no fim do corredor, onde a mãe de Austin escuta a
conversa dos dois garotos atrás de uma parede.
CENA 17. HOSPITAL
DE SAN FRANCISCO. CAFETERIA. INT. NOITE.
Josh está sentado
a uma mesa tomando seu café. A mãe de Austin entra na cafeteria e se
aproxima do lugar onde o garoto está sentado.
BARBARA – Olá. Cadê o
Austin?
JOSH – Ele foi ao
banheiro.
BARBARA – (puxando uma
cadeira e se sentando) Ótimo, temos um tempinho para conversar.
JOSH – Claro,
Barbara, fique à vontade.
BARBARA – (indo direto
ao assunto) Quando você e o Austin chegaram aqui, eu pensei que vocês
fossem só amigos, mas pelo visto, eu estava completamente errada...
JOSH – (confuso) Eu
não estou entendendo... O que você quer dizer com isso?
BARBARA – (encara Josh e
diz em tom baixo) Eu quero que você fique longe do meu filho Austin.
Pelo jeito, você não está encaminhando positivamente o garoto, mas sim
o levando para direções erradas.
JOSH – Espera aí...
Você está tentando dizer que eu estou influenciando o Austin?
BARBARA – E quem mais
colocaria na cabeça do meu filho a ideia de que ele é gay?
JOSH – (surpreso)
Olha... A senhora me recepcionou muito bem quando cheguei aqui e não
sei o que aconteceu para você mudar a sua opinião sobre mim, mas eu não
tenho culpa pela sexualidade do Austin. E eu não quero comentar sobre
isso, porque é ele que tem que chegar até a senhora e contar a verdade.
Mas todas as escolhas que o Austin fez foram por vontade própria dele.
BARBARA – Você não acha
muito estranho o meu filho virar gay a partir do momento que vai para a
universidade?
JOSH – (ri
inconformado) Eu não posso estar escutando isso...
BARBARA – O recado está
dado. Fique longe do meu filho. Agora se me dá licença...
JOSH – Nem se
levante, porque eu mesmo estou saindo. Essa conversa nojenta acabou me
deixando enjoado. Eu só tenho uma coisa pra te dizer: é surpreendente
ver uma profissional da educação como você se comportando desta forma
em relação à sexualidade. Se você não consegue entender o seu próprio
filho, como quer seguir em frente com uma escola repleta de alunos com
personalidades totalmente diferentes?
E Josh se levanta
e sai da cafeteria. Close na mãe de Austin, surpresa com o que o garoto
acabara de lhe dizer.
CENA 18.
UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA. CAMPUS. ALOJAMENTO. DORMITÓRIO DE RYAN E
EVAN. INT. NOITE.
Evan está deitado
em sua cama fazendo a leitura de um livro. Ryan entra no dormitório e
ignora a presença do garoto. Ele se dirige até a sua cama e, em frente
a ela, começa a tirar a sua camiseta. Evan desvia os olhos do livro em
direção ao corpo do garoto, então decide se levantar e se aproximar
dele.
EVAN – (encoxando
Ryan) O que você acha da gente repetir o que aconteceu ontem à noite?
(alisando o peito do rapaz)
E, nisso, Ryan
tira as mãos de Evan do seu peito e se vira para o garoto.
RYAN – Eu entendi
muito bem o que você me disse hoje, Evan. E, infelizmente, eu não sou
um garoto de diversão. E a última coisa que eu vou ser nesta vida é o
seu brinquedinho sexual.
Ryan se vira para
a sua cama e continua a se trocar. Close em Evan, que volta para a sua
cama, impressionado com a atitude de Ryan. CENA 19.
(música: Bleeding Love - Leona Lewis)
Tomada da cidade
de San Francisco. Amanhece. CENA 20. HOSPITAL DE SAN FRANCISCO. QUARTO DO SR. DAVIS. INT. DIA. (Música continua.)
Não temos a visão
total do quarto. A Sra. Davis entra no local com uma bandeja de café da
manhã nas mãos.
BARBARA – (animada) Bom
dia, meu am...
E antes de
concluir o que estava dizendo, ela olha para as duas poltronas ao lado
da cama onde o marido dorme tranquilamente. Nelas, estão sentados Josh
e Austin, dormindo juntos. Eles estão com a cabeça colada uma na outra
e de mãos dadas. Close na mulher, espantada com o que vê.
A câmera segue
até as mãos de Josh e Austin, que estão entrelaçadas. A imagem escurece. |
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