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Laços de Amizade - Capítulo 16

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CAPÍTULO 16
 
     
 
     

 

     
 

| CENA 01 | Manhã chuvosa. Bela Vista. Casa de Darlan. Interior.

Darlan toma café calmamente na enorme mesa. A campainha toca. A empregada vai atender, mas é interrompida por ele.

DARLAN: Tudo bem, Jurema. Eu abro.

Darlan atravessa a sala de estar e abre a porta. Close em Janaína, do lado de fora.

JANAÍNA: Surpresa!

DARLAN: (sorrindo) Que bom que você veio. E o mais rápido possível.

JANAÍNA: Pra que ficar perdendo tempo né?

DARLAN: Poderia ter esperado pelo menos essa chuva passar. Pensando bem, acho que ela não vai passar tão cedo.

JANAÍNA: ‘Me ajuda’ com as malas.

DARLAN: Claro.

Ele pega duas malas e Janaína pega outra. Entram, e a empregada fecha a porta. Ao chegarem ao meio da sala.

DARLAN: É um pena não poder ficar pra curtir esse nosso primeiro dia morando juntos. Tenho que ir ‘pro escritório’, mas te compenso a noite.

JANAÍNA: Tudo bem. Eu não quero atrapalhar.

DARLAN: Jurema mostre a Janaína nosso quarto e chame o Severino pra ajudar com as malas. Eu realmente estou atrasado.

JANAÍNA: Vê se não se molha muito!

DARLAN: (rindo) Vou tentar.

Ele beija a namorada, e se vai.

| CENA 02 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Interior.

A família Felício está reunida à mesa, fazendo a primeira refeição do dia, quando a campainha toca.

JAQUELINE: Deixa que eu ‘vou lá’.

Jaqueline dá uma mordida no pão e levanta-se da cadeira para abrir a porta. Segundos depois, ela volta acompanhada da nova vizinha. Ao perceber a presença de Suzana, Igor se engasga com o pão.

ISABEL: Olá Suzana. Aconteceu alguma coisa querida?

SUZANA: Desculpe o incômodo Isabel. Mas é que meu açúcar acabou. E como ainda não encontrei uma empregada decente, estou tendo que colocar a mão na massa. Você sabe, coisas de vizinha.

Igor não contém a tosse. Suzana contém o riso.

ISABEL: Tudo bem meu filho? O que houve?

Ele toma o suco de laranja em um só gole.

IGOR: Não, nada. Só engasguei, mas já tô bem. Vamos pra aula né Jaque? ‘Tamo’ atrasados já!

JAQUELINE: Vou buscar minha bolsa.

Jaqueline sai de cena. Igor faz o mesmo.

SUZANA: Bons estudos meninos. Mas então Isabel, você poderia me ajudar?

ISABEL: Vou fazer melhor. ‘Te convido’ pra me acompanhar no café. Aceita?

Close em Suzana, sorrindo.

| CENA 03 | República Universitária Laços de Amizade. Interior da sala de estar.

“MÚSICA: El mariachi loco”.

Celina faz a faxina da casa, ao mesmo tempo em que baila ao som da lambada mexicana que o aparelho de som reproduz. Ouve-se alguém bater na porta. Ela se dirige até a estante onde se localiza o som e diminui o volume, indo em seguida abrir a porta. Ao abrir, se depara com o carteiro e lhe recebe com aquele sorriso. O homem lhe oferece uns papéis, retribuindo o sorriso. Sonoplastia baixa.

CELINA: (pegando os papéis) Gracias, señor Augusto.

Logo o homem se vai e ela fecha a porta. Caminha até o centro da sala e senta-se no sofá vendo a correspondência. Celina franze a testa. Fim da sonoplastia.

CELINA: Que raro! No hay remetente! [Que estranho! Não tem remetente!]

Curiosa, a mexicana abre o envelope do que parece ser uma carta e fica petrificada com o que lê:

Querida Celina,

Intenté de todas las maneras olvidarte, pero no he conseguido sacarte de mi pensamiento. Después que fuiste vivir en Brasil, me he dado cuenta de que no soy nada sin ti.  Te quiero mucho, eres mi vida. Y el amor es tan grande que me ha hecho dejar mi vida en México,  para estar junto a ti. Si, mi vida! Estoy llegando en Brasil.

Um beso de tu eterno José! 

Querida Celina,

Tentei de todas as maneiras de esquecer, mas não consegui te tirar do meu pensamento. Depois que você foi viver no Brasil, me dei conta de que não sou nada sem você. Te quero muito, você é minha vida. E o meu amor é tão grande que me fez deixar minha vida no México, para estar junto de você. Sim, minha vida... Estou chegando ao Brasil.

Um beijo de seu eterno José!

CELINA: (emocionada) No me lo creo...! Es José... Él viene a Brasil! José viene a Brasil!

Sonoplastia alta. A mexicana comemora dando pulos de alegria.

Fim da sonoplastia.

| CENA 04 | Universidade Campelo Costa. Interior. Lanchonete do campus.

É hora do intervalo. Muitos estudantes estão reunidos no local conversando, comendo, rindo à toa. Close em uma mesa onde estão sentados Marcelo e Bruna.

MARCELO: Só não tô gostando de uma coisa, Bruna. Hoje você vai começar a trabalhar no Ponto de Encontro, e isso significa menos tempo pra mim.

BRUNA: Ah, seu bobo. Eu sempre vou ter tempo pra você. Sem falar que se quiser ficar perto de mim, basta ir almoçar lá. Por falar nisso, ainda bem que o Chad entendeu que eu só poderia trabalhar no horário da tarde e a noite. Largar a faculdade tá fora de cogitação.

MARCELO: E sua mãe, como é que ela tá?

BRUNA: Ela me ligou mais cedo e disse que já foi pra casa do seu pai. Mas to preocupada.  Ela ainda não contou pra ele que era garota de programa. Como você acha que ele vai reagir quando souber?

MARCELO: (sério) Eu vou ser bem sincero com você, Bruna. Eu acho que sua mãe tá começando do jeito errado. Você sabe que eu quero mais é que o Darlan se dane, mas eu me coloco no lugar dele. Eu não gostaria de saber que to sendo enganado pela mulher que amo, ainda mais quando se trata de um segredo dessa categoria. Sem falar que o verdadeiro Darlan, e não o que ele tenta representar a todo instante, preza muito pelo sobrenome e pelo status social. Já imaginou quando a imprensa ficar sabendo que o grande senhor Rezende, um dos maiores advogados do país, tá envolvido com uma ex-garota de programa? Eu acho que o desfecho dessa história não vai ser nada bom.

BRUNA: (angustiada) Concordo com você. Ainda mais agora que eles já tão morando juntos. Ela tinha que ter contado desde o começo.

Neste momento, Marcelo avista Luciano e Fabiana, vindos em sua direção. Ele faz sinal para os dois, que se aproximam.

LUCIANO: E aí, casal? A gente pode se juntar a vocês?

Fabiana vai logo se acomodando numa das cadeiras desocupadas.

FABIANA: Claro que sim. Do que ‘cês tavam’ falando?

Luciano revira os olhos pela atitude de Fabiana, mas senta-se na última cadeira vazia da mesa.

BRUNA: Nada demais. (desconversa) Mas então, qual o motivo desses sorrisos no rosto dos dois?

FABIANA: Ai, colega. Você jura que não sabe?

Fabiana e Luciano se olham, sorrindo.

| CENA 05 | Hospital Regional. Interior. Quarto de Celso.

Jaqueline e Igor entram no local.

IGOR: Você tá me devendo uma hein.

JAQUELINE: Até parece que fugir da escola é um sacrifício pra você.

Jaqueline se aproxima de Celso, penalizada. Ela acaricia o cabelo encaracolado do rapaz, e respira fundo.

JAQUELINE: Quando você vai sair desse coma meu amor?!

IGOR: Meu amor? ‘Tu’ gosta mesmo desse cara né. Não sei o que viu nele.

JAQUELINE: (olhando para o irmão) Algo que certamente mulher nenhuma veria em você. (olhando para Celso) O Celso é... Ele é maravilhoso. Tem um sorriso lindo, sorriso que poucas vezes vi em alguém. Um olhar encantador... (suspira) o beijo dele deve ser maravilhoso!

IGOR: Como é possível que você tenha gostado tanto de alguém que mal chegou a conhecer garota?

JAQUELINE: Nem eu mesmo sei, mano. Só sei que o que eu sinto é de verdade. E quer saber? Tenho certeza que ele sente o mesmo. Deu pra perceber das poucas vezes em que nos encontramos.

IGOR: Então me agradece. Porque se não fosse por mim, você não o teria conhecido.

JAQUELINE: E se não fosse por você ele também não estaria nessa! Portanto...

IGOR: Não ‘vamo’ começar com isso de novo.

JAQUELINE: Eu só quero que ele se recupere. Eu preciso ter a chance de poder dizer olhando no olho dele, tudo que eu sinto.

IGOR: Eu também quero que ele saia dessa, mana. Uma morte na consciência não me deixaria em paz nunca.

Nesse momento, alguém abre a porta e entra, é Suzana. Ela fica surpresa com a presença dos dois.

JAQUELINE: Dona Suzana, o que a senhora tá fazendo aqui?

Igor empalidece.

SUZANA: (desconfiada) Eu poderia fazer a mesma pergunta a vocês dois.

JAQUELINE: O Celso é nosso conhecido. Mas e você?

Fechando a porta do quarto.

SUZANA: Veja só como é essa vida não?! Nos prega cada peça! Imaginem que a nova vizinha de vocês, é ninguém menos que a mamãe do ‘doentinho’ aqui. Não é muita coincidência? (para Igor) Você não me contou que o conhecia, Igor.

Igor engole em seco. Jaqueline estranha a intimidade entre os dois.

IGOR: Não tive oportunidade.

SUZANA: Claro que não...

| CENA 06 | Noite. Bar Ponto de Encontro. Interior da cozinha.

Bruna está tão atarefada quanto no dia do evento culinário e anda de um lado para o outro, se dividindo entre mexer panelas e cortar verduras. Há uma ajudante no local. Bruna para um instante pegando um pano de prato e enxuga as mãos.

BRUNA: Nossa Senhora! São Paulo inteira decidiu vir aqui hoje? Não sei se vou dá conta desse jeito!

AJUDANTE: Calma, a gente dá conta.

Nesse momento, Marcelo entra no local, sem que ninguém perceba. Aproxima-se de Bruna e abraça por trás.

MARCELO: Vim dá um beijo na chef de cozinha mais gata da Pompéia.

BRUNA: Ai desculpa, Marcelo. Mas eu não tenho tempo pra você agora. Depois a gente se fala.

MARCELO: (emburrado) Já vi que vou ter que te dividir com as panelas.

BRUNA: Não começa...

Bruna se aproxima do namorado e o beija rapidamente, tempo suficiente para Melissa flagrá-los, ao entrar na cozinha.

MELISSA: (exagerada) Epa, epa, epa! Marcelo, você não pode ficar aqui.

MARCELO: Eu já tô de saída, Melissa.

MELISSA: Então chispa garoto!

MARCELO: Calma ‘ô’, já ‘to’ indo.

| CENA 07 | Bar Ponto de Encontro. Interior. Andar de cima do bar.

A pista de dança está razoavelmente ocupada por jovens que dançam ao som de um hit eletrônico. O DJ manipula a aparelhagem, empolgado. Entre as pessoas estão Vanessa e Valeska, mais próximas da mesa de som, e Cláudio, que arrisca uns passos na companhia de uma garota magra, loira e baixa. Ele oferece bebida a ela que aceita, os dois ficam mais próximos. Ele não demora a segurar a nuca da jovem e lhe dá um beijo, enquanto Vanessa observa a cena, e Valeska lhe lança um olhar de reprovação.

VANESSA: Que cretino! Tá fazendo o mesmo que fez comigo aquele dia.

VALESKA: Eu te avisei...

VANESSA: Tudo bem. Quero mais é que ele se exploda.

VALESKA: É assim que se fala, amore.

Vanessa se recompõe e passa a dançar freneticamente na pista, enquanto Valeska tenta acompanhar a irmã. A dupla acaba por chamar atenção das pessoas no local. Cansada, Valeska caminha para se apoiar nas grades de proteção do andar de cima e nota a presença de Marcelo, desacompanhado lá em baixo.

VALESKA: Olha só quem tá precisando de companhia...!

Corta para o andar de baixo. Close em Marcelo sentado em uma mesa, tomando suco, um tanto desanimado.

| CENA 08 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Interior do quarto de Igor.

Ele está deitado na cama, vestindo uma camiseta azul e um short florido, com seu notebook sobre o corpo e fones no ouvido, digita alguma coisa no teclado do computador. Jaqueline entra no local sem cerimônia.

IGOR: Não te ensinaram que é falta de educação entrar sem bater não? E se eu tivesse pelado?

JAQUELINE: Bela porcaria.

IGOR: O que você quer?

JAQUELINE: Qual é a dessa dona Suzana, hein?! Você viu o jeito que ela falou do Celso? (imitando Suzana) “eu sou a mãe do doentinho aqui”. (falando normal) Isso é jeito de falar de um filho? Que espécie de mãe ela é?

Igor volta a olhar para a tela do notebook.

IGOR: (desinteressado no assunto) Estranho...

JAQUELINE: (irônica) E sabe o que é mais estranho ainda?

IGOR: Hum...

JAQUELINE: O jeito que você fica na presença dela. (Igor a olha, desconfiado) E nem adianta me olhar desse jeito. Acha mesmo que eu não percebi? Tanto aqui em casa hoje de manhã, como lá no hospital, você parecia assustado quando ela apareceu.

IGOR: Eu? Assustado? Não viaja, garota!

JAQUELINE: Vai falar por conta própria ou vou ter que descobrir?

IGOR: (bufa) Quer mesmo saber? Acho que não vai gostar.

JAQUELINE: Se eu não quisesse saber, não teria perguntado.

Ele põe o notebook de lado e levanta-se, ficando de frente para a irmã.

IGOR: Eu vou te falar. Mas só porque você vive dizendo que eu sou um ‘pega ninguém’, e que ninguém nunca vai me querer e essa baboseira toda.

JAQUELINE: (rindo debochada) Você não quer que eu acredite que...

IGOR: (cortando-a) É isso mesmo, Jaque. (enfatiza) Eu tô pegando a mãezinha do seu namoradinho morto-vivo. (cheio de orgulho) O encalhado aqui, tá dando um trato na dona Suzana!

Jaqueline cai na gargalhada, quase não se contendo.

IGOR: (bravo) Quê que foi? Eu contei alguma piada por acaso?

JAQUELINE: De todas as mentiras que você já contou essa foi a mais mal elaborada. Deixa de ser mentiroso, Igor. Coisa feia hein!

IGOR: Não acredita? Problema seu. Por que que tu acha que ontem eu demorei a voltar da casa dela então hein? Essa história de role com os amigos foi só ‘pra’ enganar a dona Isabel. Eu tava era com a sua sogrinha, NA CAMA dela!

JAQUELINE: (cruzando os braços) Então prova.

IGOR: Não seja por isso. No nosso próximo encontro, eu gravo um vídeo da gente. Agora sai do meu quarto que eu tenho mais o que fazer.

JAQUELINE: Grosso!

Jaqueline se retira, aborrecida. Igor solta uma risadinha satisfeita.

| CENA 9 | Bar Ponto de Encontro. Interior.

Valeska desce as escadas que dão acesso ao andar de cima do restaurante. Ela vai em direção a mesa em que Marcelo se encontra. Ao chegar lá, senta-se em uma cadeira.

VALESKA: Que chato, não? Você tendo que se divertir sozinho enquanto sua namoradinha cozinha pra toda essa gente.

MARCELO: Nem todo mundo nasceu em berço de ouro como você e Vanessa. As pessoas precisam trabalhar pra sobreviver, sabia?!

VALESKA: Mas se você tivesse ficado comigo, não precisaria passar por isso.

MARCELO: (irônico) Você nunca que se prestaria a essa humilhação, não é?!

VALESKA: Claro que não. Você sabe.

MARCELO: Trabalhar não é humilhante, Valeska.

VALESKA: (ignorando o comentário) Não vai me oferecer um suco?

MARCELO: Olha, não me leve a mal. Mas é melhor você sair daqui.

VALESKA: Por quê? Tá com medinho da Bruna? Fala sério, Marcelo. Nós já passamos dessa fase. Antes de você ser namorado dela, você é meu amigo.

MARCELO: Mas nós dois sabemos que você não quer de mim, só a amizade.

VALESKA: Você já foi mais humilde garoto...

Ele ri.

VALESKA: (sorrindo) Consegui te arrancar um sorriso. Isso é bom. Só falta conseguir te convencer a dançar comigo.

MARCELO: Nem tenta. Eu sou um desastre. Você sabe.

VALESKA: Nada que eu não consiga resolver. Vamos lá!

Sem dar chance para que Marcelo argumentasse, ela o puxa pelo braço. No meio do caminho rumo à pista de dança, Valeska vira-se para ele segurando seu pescoço e tascando-lhe um beijo, para o espanto de Fabiana e Luciano, que entravam no restaurante naquele momento.

FABIANA: (gritando, histérica) MARCELO!

Close em Marcelo, assustado.

 
     

 

     
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