| ||
CAPÍTULO 01 | ||
|
||
FADE IN ** FLASH-FORWARD ** CENA 01. PRAIA DE COPACABANA. EXT. NOITE. SONOPLASTIA: DISTÚRBIA (RIHANNA). CAM AÉREA, passando por toda a areia da praia lotada de pessoas, a maioria em trajes brancos. CENA 02. CRISTO REDENTOR. EXT. NOITE. Antônia (37 anos, morena, cabelos longos), Fábia (33 anos, ruiva, cabelos longos e cacheados) e Marcela (35 anos, negra, cabelos enrolados) estão sozinhas e de costas para a CAM e olhando para a imagem do Corcovado, todo iluminado. FÁBIA – Chegamos até aqui, meninas. Nem acredito! MARCELA – A gente passou por tanta coisa nesse ano. ANTÔNIA – Faltam poucos minutos para o Réveillon. O que vocês vão pedir? FÁBIA – Eu quero que a nossa amizade se perpetue. MARCELA – Um pouquinho mais de sucesso não irá nos fazer mal, não é?! As três riem. FÁBIA – E você, Antônia? ANTÔNIA – Eu quero a sorte de um amor tranquilo. Ouvimos passos, que cada vez vão ficando mais fortes e próximos. MARCELA – Deve ser o Tony com o champanhe pra brindar com a gente. Elas se viram e olham surpresas para a pessoa, que não é mostrada. Clima de tensão no ar. FADE TO BLACK. OUVIMOS UM TIRO. ** FIM DO FLASH-FORWARD ** FADE IN CENA 03. RIO DE JANEIRO. COPACABANA. AVENIDA. EXT. DIA. TOCANDO: I go to Rio – Peter Allen Dia Ensolarado. ÂNGULO ALTO pegando a praia de Copacabana e seguindo a Avenida Atlântica, até acompanhar um carro branco com teto solar aberto. A música vem do som do carro, que vai cortando toda a avenida. Antônia está com os cabelos ao vento e gritando ao som da música. CORTA PARA O CARRO. O celular toca. Antônia abaixa o som e atende. ANTÔNIA – Fala, Wanessa. WANESSA (V.O) – Saiu a crítica do último filme. Tá sabendo? ANTÔNIA – Fábia Bueno que escreveu? WANESSA (V.O) – A própria. Acho melhor você nem ler. Antônia desliga o celular. ANTÔNIA (impaciente) – Vagabunda! A imagem congela. LETREIRO: ANTÔNIA. CENA 04. GAZETA CARIOCA. PRESIDÊNCIA. INT. DIA. Anunciação (50 anos, cabelos castanho escuro) está pesquisando algo no tablet, quando é interrompida pela entrada abrupta de Fábia, com um exemplar do jornal em mãos, seguida por Mimi (34 anos, morena, cabelos longos). MIMI – Desculpa, amada diva, tentei impedir a passagem da Fábia. Fábia joga o jornal na mesa de Anunciação. FÁBIA – Satisfeita? MIMI – Quer que eu chame os seguranças, diva? ANUNCIAÇÃO (olhando para Fábia) – Sai, Mimi. Mimi sai. As duas encaram-se. ANUNCIAÇÃO – Eu ia mandar te chamar justamente agora. Não atualizou a sua coluna de críticas do jornal online. O que aconteceu? FÁBIA – Eu não compactuo com isso. A Antônia foi super bem no filme e você sabe disso, além do mais ela/ ANUNCIAÇÃO (por cima) – Quem decide o que sai no meu jornal sou eu. Fábia olha irada para Anunciação. ANUNCIAÇÃO – Quem paga a sua porcaria de salário sou eu, portanto, cabe a mim a decisão do que você vai escrever. FÁBIA – Isso não é jornalismo. É hipocrisia. ANUNCIAÇÃO – As pessoas não tem julgamento próprio a cerca de filmes, livros ou novelas. Esperam sempre pela crítica de um jornal ou site. FÁBIA – Acontece que estamos remando contra a maré. Todos os jornalistas elogiaram a perfeita atuação dela. Eu estou sendo amoral com meus princípios. ANUNCIAÇÃO – Você precisa de princípios ou dinheiro para viver? Fábia se vira e vai saindo pisando forte. ANUNCIAÇÃO (tom alto) – Quero essa crítica no site em quinze minutos. CORTA PARA ANTESSALA DA PRESIDÊNCIA. Fábia vai saindo irada, quando Mimi sai de sua mesa e vai andando atrás dela, por entre as repartições. MIMI (deboche) – Levou uma chamada daquelas, não foi? FÁBIA – Me esquece, vaquinha de presépio. MIMI – Não sei por qual motivo a minha diva ainda te mantém aqui. FÁBIA – Me faço a mesma pergunta em relação a você. MIMI – Eu sou competente no que faço. Fábia para e olha pra Mimi. FÁBIA – Se puxa-saquismo fosse faculdade, meu amor, você já seria PhD. MIMI – Eu vou fazer de tudo pra você ser demitida daqui, sua órfã. Fábia segura forte no colarinho da blusa de Mimi e a empurra contra a parede. Close na expressão de medo de Mimi. FÁBIA – Que bom que você sabe que eu não tenho mãe. Agora, se você ainda quer continuar tendo uma língua dentro da boca, é melhor você nunca mais me dirigir a palavra. Entendidas? Close no olhar firme de Fábia. A imagem congela. LETREIRO: FÁBIA. |
||
|
||
|
||
TE ENCONTRO PELO RIO |
||
CENA 05. ESTÚDIO DE FILMES. INT. DIA. Antônia vem lendo o jornal, acompanhada de Wanessa (36 anos, loira, cabelos longos). ANTÔNIA (lendo) – A falta de sensibilidade nas cenas dramáticas e as caras e bocas em momentos de maior tensão, tornaram o filme um grande dramalhão mexicano, superando A Usurpadora. Antônia deveria escolher outra profissão, ou ainda, mudar-se para o México e investir pesado por lá, pois só assim terá futuro. Num ato de fúria, Antônia joga o jornal no chão e sapateia em cima. WANESSA – Calma! ANTÔNIA – Calma uma vírgula. O meu melhor papel no cinema e ela escreve uma bobagem dessas? Eu fui bem, não fui? Wanessa se aproxima e acaricia Antônia. WANESSA – Mas você ainda tem alguma dúvida, Antônia? É claro que você foi bem. Tanto foi, que está escalada para ser a grande vilã da próxima novela das nove. ANTÔNIA – Mas se eu pego essa Fábia... Juro pra você, eu a estapeio muito. WANESSA – Pessoas assim vivem atrás de um computador numa sala escura. Isso é recalque. ANTÔNIA – Affonso ligou pra cá? WANESSA – Não, mas...(interrompe a própria fala). ANTÔNIA – Mas o quê? Fala. WANESSA – Aquele Pietro ligou de novo e pediu pra você retornar. Antônia fica sentida e sem graça ao mesmo tempo. ANTÔNIA (disfarçando) – Eu já disse para esse rapaz que não tenho vaga pra motorista. Antônia e Wanessa se olham, em silêncio. Tempo nelas. ANTÔNIA – Preciso ir pra casa! Beijo! Antônia vai saindo. Em Wanessa, paralisada. CENA 06. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA. SONOPLASTIA: Empire State of Mind (Part II) Broken Down Alicia Keys Um giro pela Zona Sul, mostrando seus principais pontos, desde a Praia de Copacabana até o Morro do Vidigal. Takes rápidos e pontuados. Último take na fachada do prédio principal da UERJ. MÚSICA CESSA. CENA 07. PÁTIO PRINCIPAL. EXT. DIA. Vaivém de estudantes. Muito riso e descontração.
MARCELA (V.O) -
Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam
zangado . Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada
um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão.
Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou um
via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas
exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico
ao do outro. Mas cada um via uma coisa diferente, e cada um portanto, tinha
razão. CENA 08. UERJ. SALA DE AULA. INT. DIA. PLANO GERAL. Muitos alunos, sentados em fileiras indianas, quietos, olhando para frente. CLOSE em Marcela, com os olhos fechados e expressão de felicidade, de satisfação. Ela abre os olhos, contempla toda a extensão da sala por poucos instantes e sorri. TODOS aplaudem. LETREIRO: MARCELA. MARCELA – Fernando Pessoa. Um aluno se levanta. ALUNO – Achei tão interessante. MARCELA – Poesia da Amizade, não é lindo?! O aluno assente de modo positivo com a cabeça. O sinal toca e os alunos vão saindo. MARCELA – Não se esqueçam do trabalho sobre literatura portuguesa. É para a próxima segunda. A sala, quase vazia, apenas com Marcela, que vai colocando alguns livros na bolsa. Ela está de costas para a porta e não percebe quando Patrick, sorrateiramente entra e tapa seus olhos com as mãos. MARCELA (sorrindo) – Posso adivinhar? Pelo cheiro de colônia de barbear amadeirada, seria o senhor Patrick? Patrick (27 anos, moreno, cabelos curtos, barba por fazer), sorri, tira suas mãos dos olhos de Marcela e desce até o quadril, lhe puxando para um beijo. Marcela interrompe. MARCELA – Tá louco, Patrick? Onde se ganha o pão, não se come a carne. PATRICK – Foi só um beijinho. É pecado buscar minha namorada pra um lanche? Marcela olha pra Patrick e dá um sorriso dissimulado. CENA 09. APTO DE PIETRO. SALA. INT. DIA. Pietro (29 anos, moreno, cabelos curtos, barba) está sentado no sofá, assistindo ao futebol na tevê e com uma long neck de cerveja na mão. Tempo nisso. A campainha toca, ele se levanta, olhando para a tevê e atende. Ao olhar para a porta, fica paralisado. Close em Antônia, com cara de poucos amigos. ANTÔNIA – Me convida a entrar? Pietro se retira do caminho, dando passagem. Antônia entra e ele fecha a porta. ANTÔNIA – Quantas vezes eu disse para não ligar pro estúdio? PIETRO – Você não retornava as minhas ligações. ANTÔNIA – Eu sou casada, Pietro. PIETRO – Mal casada. Tempo nos dois se olhando em silêncio. PIETRO – Eu também sinto saudade, sabia? ANTÔNIA – A Wanessa tá sacando, cara. Ela é sobrinha do Affonso. PIETRO – Larga logo esse cara, Antônia. Você é independente, não tem filho. O que tanto te segura a esse cara? ANTÔNIA – Gratidão. Foi ele que me estendeu a mão quando eu mais precisei. PIETRO – E a gente fica como? ANTÔNIA – No momento não fica. Antônia e Pietro se olham em silêncio, em seguida, se aproximam e começam a se beijar calorosamente. SONOPLASTIA: NA PAZ – ORLANDO MORAIS. Cortes descontínuos das carícias e beijos entre os dois. SLOW-MOTION: Pietro tira a calcinha de Antônia e beija seu sexo, ela delira de prazer. MÚSICA CESSA. CORTA PARA: O casal na cama, seminus, Antônia deitada no peito dele. PIETRO – Cada vez é diferente. ANTÔNIA – Melhor ou pior? PIETRO – Sempre melhor, meu anjo. Um celular começa a tocar. PIETRO – Aposto que é esse Zé Mané te ligando. Querendo te rastrear. ANTÔNIA – É só o meu despertador me avisando que estou atrasada para o salão. Antônia se levanta apressada, trava o celular e começa a se vestir. Pietro vai até ela, segura sua cabeça com carinho, fazendo-a olhar em seus olhos. PIETRO – Você é linda, liga e desmarca esse salão. Fica mais um pouco comigo. ANTÔNIA – Não posso. Hoje é o dia do coquetel do filme. PIETRO – Coquetel que você não me chamou? ANTÔNIA – O Affonso vai. PIETRO – Quando que eu serei prioridade na sua vida? Antônia termina de se arrumar, olha para Pietro, se aproxima e lhe dá um selinho. ANTÔNIA (saindo) – Eu te ligo! Antônia sai. Pietro senta na cama, cabisbaixo. Seu celular toca, ele atende. PIETRO (cel.) – Alô?!(T) Sou eu mesmo. (T) Serviço completo? (T) Em meia hora na Nossa Senhora de Copacabana? (T) Tá ok! Combinado, Carmem. Pietro encerra a chamada e começa a se vestir apressadamente. CENA 10. LANCHONETE/ INT./ DIA. Patrick e Marcela estão sentados em uma mesa ao fundo. MARCELA (histérica/ feliz) – Não acredito que você conseguiu convites para o coquetel do filme da Antônia Assumpção. PATRICK – Meu técnico e a mulher dele não poderiam ir e como sei que você é muito fã, eu comprei. Marcela pula no colo de Patrick e o beija no roto várias vezes. MARCELA – Você é o melhor namorado. PATRICK – Mas posso ser o melhor marido também. Basta você querer. Marcela sorri e o olha nos olhos. MARCELA – Vamos ao shopping? Preciso de um vestido bem bonito. Marcela se levanta e sai puxando Patrick. CENA 11. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA. Fábia está digitando algo no computador, quando Anunciação e Mimi entram. ANUNCIAÇÃO – Fábia, precisamos conversar. Fábia faz menção para que ela se sente. ANUNCIAÇÃO – Prefiro permanecer de pé. FÁBIA – Quer que eu me levante também? MIMI (a Fábia) – Não é assim que você deveria se dirigir a sua chefa. FÁBIA – Quem tem chefe é índio. Aliás, eu não sei nem o porquê de você estar dirigindo a palavra a mim. Achei que tivesse sido clara com você, Mimi. ANUNCIAÇÃO – Eu espero que vocês não estejam de baixaria nas dependências do meu jornal. Bom, eu vim aqui elogiar a sua maravilhosa crítica na internet sobre a atuação de Antônia Assumpção de Queirós. Ficou bem mais afiada que a do jornal. Estamos batendo recordes de acesso. Fábia a olha com desdém. FÁBIA – Se não há justiça para os leitores, que não haja paz para os governantes. Era só isso? Eu preciso ficar sozinha para terminar o caderno de economia. ANUNCIAÇÃO – Deixa essa parte para outra pessoa. Você é uma jornalista chefe aqui na Gazeta, aprenda a delegar funções. Apenas as críticas e opiniões devem ser assinadas por você. FÁBIA – Era só isso? Agora que já ensinou o padre a rezar a missa, acho que pode ir. ANUNCIAÇÃO – Antes de usar de sarcasmo comigo, lembre-se que quem paga a porcaria do seu aluguel naquela cobertura de frente para o mar, sou eu. E se eu fizer uma cartinha bem linda de recomendação, você não conseguirá emprego nem em jornaleco de grêmio estudantil. Fabia respira fundo. Mimi sorri discretamente. ANUNCIAÇÃO – Eu quero que você vá ao coquetel do filme, que será no Copacabana Palace. Fotografe tudo com seu celular. Amanhã faremos uma grande reportagem na coluna social. FÁBIA – Mas por que não levar fotógrafo? MIMI – Você pergunta demais. ANUNCIAÇÃO – Você vai como convidada. Por isso, se arrume decentemente. É um coquetel de gala. Anunciação se aproxima de Fábia. Olhar intimidador. ANUNCIAÇÃO – Quero foto de tudo. Quero relatório completo. Qualquer furo de reportagem, me envie e decido se vai ser publicado no blog do jornal. Estamos entendidas? FÁBIA – Sim senhora! Anunciação e Mimi saem. Fábia soca a mesa. CENA 12. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE. SONOPLASTIA: ELA É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO. Takes de pessoas correndo pela orla iluminada. Bares agitados com jovens, muito riso. Take final num prédio imponente e de alto padrão, de frente para a praia de Ipanema. MÚSICA CESSA. CENA 13. APARTAMENTO FAMÍLIA QUEIRÓS. SALA DE ESTAR. INT. NOITE. Affonso (47 anos, moreno, barba por fazer) entra, vindo da rua. Antônia, em um belíssimo vestido azul Royal, com cabelo e maquiagem impecáveis, vem de encontro a ele. ANTÔNIA – Que bom que você chegou. Antônia dá um selinho em Affonso. ANTÔNIA – Deixei seu smoking em cima da cama. Você tem quinze minutos pra se arrumar, Affonso. AFFONSO – Me arrumar pra quê? ANTÔNIA – Como pra quê? Hoje é o dia do coquetel do filme, esqueceu? Eu sou a estrela principal, meu amor. AFFONSO – Amanhã cedo eu vou viajar para São Paulo. Preciso descansar. Antônia para e o olha séria. ANTÔNIA – Como assim? A gente combinou, Affonso. AFFONSO – Mas surgiu um imprevisto. É um cliente, um chinês valiosíssimo. Vai aplicar milhões na empresa. ANTÔNIA – Eu não tô acreditando que você vai me trocar por um chinês. AFFONSO – Sem dramas, Antônia. Você sabe que os negócios estão em primeiro plano. A gente precisa encher os bolsos, pra depois se encher de mimos. Primeiro, o trabalho. Depois, a diversão. ANTÔNIA – Mas esse é o meu trabalho. Custa fazer esse esforço por mim? Quantas vezes eu já fui a jantares de negócios com você. AFFONSO – Meu amor, você prefere uma figura decorativa no meio de tanta gente rasa ou milhões na nossa conta? Antônia fica paralisada, sem esboçar reação. Affonso a beija, sem que ela corresponda, e se afasta, indo em direção ao quarto. Nela, paralisada. CENA 14. COPACABANA PALACE. FACHADA PRINCIPAL. EXT. NOITE. Música abafada, vinda do interior do local. Luzes coloridas iluminam a entrada, que está ornamentada com tapete vermelho e flores decorativas. Além de inúmeros fotógrafos e jornalistas. Patrick e Marcela chegam ao local, são fotografados por um pequeno instante e entram. Mais alguns convidados também entram, logo depois, Fábia chega e entra rapidamente. CENA 15. LIMUSINE. INT. NOITE. Antônia está cabisbaixa, ao seu lado, está Wanessa, tomando champanhe. ANTÔNIA – Obrigada por não ter me deixado chegar sozinha, Wanessa. WANESSA – Eu jamais faria isso. Não posso demorar, pois amanhã vou rodar umas cenas de um filme. ANTÔNIA – Também não vou ficar muito tempo. Pode até dispensar a limusine. Vou embora de táxi. WANESSA – Acho que chegamos! Antônia respira fundo. CORTA PARA: Área exterior/ fachada do Copacabana Palace. Antônia e Wanessa saem da limusine e são recepcionadas por uma chuva de flashes e inúmeros jornalistas. JORNALISTA 1 – Antônia, você ficou abalada com a crítica feita pela Gazeta Carioca? ANTÔNIA – Fiz o meu melhor, meu bem. Impossível agradar a Gregos e Troianos, não é?! WANESSA (sussurra no ouvido) – Não dá trela pra esse povo. Apenas sorria! Antônia sorri. Posa para algumas fotos e entra acompanhada de Wanessa. CENA 16. COPACABANA PALACE. SALÃO DE FESTAS. INT. NOITE. MÚSICA AMBIENTE: How Deep Is your Love – Calvin Harris & Disciples. PLANO GERAL. Local cheio de pessoas em trajes de gala. Garçons circulando com bandejas de champanhe, uísque e canapés; muito vozerio entre os convidados, todos aparentando felicidade. Um fotógrafo circula pela multidão. CLOSE em Antônia, conversando com várias pessoas, rindo, tirando “selfies”. Até um momento em que fica a sós com Wanessa. ANTÔNIA – O Affonso me paga. WANESSA – Meu tio sempre foi assim, Antônia. ANTÔNIA – Primeira recepção que fazem pra mim, Wanessa. Poxa, não custava nada ele ter vindo fazer uma horinha. Wanessa fica olhando para todos os lados, como se procurasse alguém. Antônia percebe. ANTÔNIA – Procurando quem? WANESSA – A Rainha da Alta Sociedade Carioca. Anunciação Bragança. ANTÔNIA (deboche) – Tá velha, não pode sair mais. E além do mais, essa festa é pra jovem, quem gosta de velho é reumatismo. Wanessa ri. CAM SEGUE PARA OUTRO LADO. Onde está Fábia, num misto de nervoso e ansiedade, olhando a todo instante para o relógio. Uma garçonete vai passando, quando Fábia a intercepta e pega duas taças de champanhe e bebe rapidamente. FÁBIA – Obrigada! Fábia deposita novamente as taças na bandeja e olha para a garçonete (25 anos, morena, cabelos até a altura do ombro), que sorri. FÁBIA (surpresa) – Lu? LU – Em carne e osso. FÁBIA – O que faz aqui? Você não era para estar no CopaBar? LU – Digamos que recebi uma proposta desse bufê e o Tony me liberou pra ganhar um extra. FÁBIA – Que bom então! LU – Mas e você, o que faz aqui? Você detesta esse tipo de evento. FÁBIA – Digamos que recebi uma intimação para estar aqui, caso contrário, receberia ordem de despejo da minha cobertura. LU – Bom, só me resta desejar boa festa. FÁBIA – Vai ser difícil. A gente se esbarra por aí, gatinha. Fábia pisca o olho para Lu, que sorri e se afasta. Marcela passa bem em frente à Fábia, abraçada com Patrick. MARCELA – Tô amando essa festa, amor. PATRICK – Faço tudo por você, minha linda. Marcela sorri e o beija. CORTA PARA: PALCO. O mestre de Cerimônias (60 anos, moreno, cabelos grisalhos) faz sinal e o DJ para a música. Ele pega o microfone. As pessoas se acomodam em frente ao palco, tudo fica em silêncio. M.C – É com grande felicidade que o Copacabana Palace e todos os convidados aqui presentes, recepcionam a nossa ilustre atriz Antônia Assumpção de Queirós. CLOSE em Antônia, que sorri e acena para todos, enquanto é aplaudida. Ela sobe ao palco. VOLTA no M.C. M.C – Sua atuação no filme “O Sorriso do Rio” foi impecável. É um dos grandes talentos de sua geração. É sensível e demonstra verdade, passa segurança. Por isso, eu, como representante da Academia Carioca de Cinema, quero lhe dar a medalha de melhor atriz deste ano. TODOS aplaudem novamente. Uma mulher linda traz um broche e entrega ao M.C, que coloca no lado esquerdo do busto de Antônia, que sorri e pega o microfone. ANTÔNIA – Sabe, minha gente, não é fácil ser atriz. Exige esforço, estudo e muita dedicação. Eu não aceitei esse filme apenas para status. Eu aceitei, pois me sentia pronta, capacitada, mas parece que tem gente que não pode ver o sucesso alheio que sofre. Tem gente que é frustrada e acaba por tentar te derrubar de qualquer forma. É por isso, que eu dedico este prêmio a você: Fábia Bueno! Do PONTO DE VISTA de Antônia, vemos Fábia olhar surpresa em sua direção. Antônia desce as escadas e vai até onde Fábia está. ANTÔNIA – Veio fazer o que aqui? FÁBIA – Sou convidada. Quer que eu lhe mostre o convite? ANTÔNIA – Eu vou fazer o que há muito tempo eu estava com vontade. Antônia dá um tapa no rosto de Fábia, que cai no chão com o impacto. Todos a volta olham assustados, alguns pegam o celular e começam a tirar fotos. ANTÔNIA – Isso é pra você aprender a não falar mal dos outros. Aprenda a engolir o sucesso. Antônia sai em direção ao banheiro. Fábia se levanta, um tanto envergonhada, enquanto todos a olham. MÚSICA AMBIENTE: SORRY – JUSTIN BIEBER CORTA PARA: BANHEIRO FEMININO Marcela está retocando a maquiagem no espelho, quando Antônia entra totalmente desconsertada. Vai até a pia ao lado de Marcela e lava o rosto, em seguida olha Marcela pelo espelho. MARCELA – Eu sou muito sua fã, Antônia. ANTÔNIA – Desculpa, não estou na melhor hora para tirar fotos. MARCELA – Eu vi a briga. Nesse instante, Fábia entra no banheiro e tranca a porta. ANTÔNIA (irada) – O que você quer aqui? FÁBIA – Agora você vai me ouvir, seja pelo amor ou pela dor. ANTÔNIA – Te ouvir? A cada trabalho meu, eu leio uma nota de repúdio sua. Me esforço, dou o meu melhor e você com meia dúzia de linhas, vai lá e acaba comigo. Qual o seu problema, garota? É pessoal? MARCELA – Calma, meninas, não briguem! FÁBIA – Eu tenho um grande apreço pelo seu trabalho, Antônia. De verdade. Antônia parte pra cima de Fábia e aponta o dedo em direção ao seu rosto. ANTÔNIA – Não me venha com ironias, garota. Eu te parto ao meio. Marcela corre e se coloca entre as duas, conseguindo afastar Antônia. FÁBIA (tom alto) – Mesmo que você me odeie, mesmo que não acredite em mim, eu vou falar. Nem que seja a última coisa que eu faça. Tô correndo o risco de perder meu emprego, mas acho que a dignidade tem que vir em primeiro lugar. Antônia e Marcela olham assustadas para Fábia. FÁBIA – Eu admiro o seu trabalho sim. Sempre fui fã. Acontece, que eu trabalho para a Gazeta Carioca, especificamente, para Anunciação Bragança. E não sei por qual motivo, Antônia, ela te detesta. Parte dela as críticas. Eu sofro a cada palavra digitada, a cada frase que suja a sua imagem. Você não sabe o tamanho da pressão psicológica que eu sofro. De ser jornalista, de ter idealizado mil coisas na faculdade e hoje não ter voz. Tenho um excelente salário, que dificilmente eu conseguiria em outro lugar, mas não tenho liberdade. Fábia se escora na parede e vai descendo lentamente, até chegar ao chão e começa a chorar. Marcela e Antônia se olham. Fábia seca as lágrimas. FÁBIA – Agora, se quiser sair, pode sair. Antônia se abaixa perto de Fábia e olha dentro dos seus olhos. ANTÔNIA – Eu não sei se tô fazendo a coisa certa, mas eu confio em você. No início da minha carreira como atriz, eu também fui bastante reprimida. FÁBIA – Me desculpa por tudo. Saiba que aquelas palavras doíam muito mais em mim do que em você. Antônia se levanta e puxa Fábia. As duas se abraçam. MARCELA – Bom ver que vocês se entenderam. Alguém bate a porta. FÁBIA – Deixa eu abrir aqui. Monopolizamos o banheiro. Fábia abre a porta. Wanessa entra apressada. WANESSA (a Antônia) – Poxa, Antônia, foi eu sair um pouquinho pra fazer uma ligação, que você faz esse vexame? ANTÔNIA – Eu não me aguentei, desculpa! WANESSA – Era isso que essa tal Fábia queria. FÁBIA – Alto lar, minha querida. Nós já conversamos e resolvemos os maus entendidos que existiam. WANESSA (a Fábia) – Bom pra você! Amanhã vai vender mais jornal! (a Antônia) Eu tô indo embora, vai comigo? Antônia olha para Fábia e Marcela, em seguida, volta seu olhar para Wanessa. ANTÔNIA – Não vou não. WANESSA – Mas o evento está no fim. Não tem mais nada! ANTÔNIA – Vou voltar pra casa e encontrar um marido que ronca. Vou conectar a internet e ler a baixaria que causei. Meu amor, se eu posso adiar o sofrimento, eu vou adiar. Preciso de uma boa dose de tequila. WANESSA – Você que sabe, Antônia. Amanhã te ligo! Wanessa sai. FÁBIA – Eu também preciso beber. ANTÔNIA – Junte-se comigo! MARCELA – Se me permitem uma opinião, meu amigo tem um bar maravilhoso e pertinho daqui. Posso passar o endereço. FÁBIA – Como assim? Você não vai com a gente? MARCELA – Meu namorado tá aí, acho que fica chato. ANTÔNIA – Mas é claro que você vai. Não é minha fã? Marcela faz que sim com a cabeça. ANTÔNIA – Então dispensa o boy e vem com a gente. Hoje a noite é das mulheres. As três se olham e riem. CENA 17. COPACABANA PALACE. RUA. EXT. NOITE. Marcela e Patrick saem pela porta principal. Rua bastante vazia, apenas um carro mais a frente. PATRICK – Como assim, você não vai comigo? MARCELA – Eu vou beber com as meninas. PATRICK – Marcela, por favor, eu comprei ingressos pra esse evento porque sei que você gosta, pensei agora da gente ir pro seu apartamento e namorar um pouquinho. Vai me negar esse carinho? Marcela se aproxima de Patrick, faz carinho em seu rosto. MARCELA – Antônia me chamou pra fazer companhia. Não posso recusar. PATRICK – Ultimamente eu tenho sido segunda opção em tudo na sua vida. Boa diversão. MARCELA – Pode ir no meu carro, vou de táxi com as meninas. Marcela dá um selinho em Patrick, que não esboça reação. Um táxi para em frente a eles. Antônia abaixa o vidro. ANTÔNIA – Vamos, amada! Marcela entra no carro, que sai em disparada. CENA 18. COPABAR. INT. NOITE. MÚSICA AMBIENTE: HEADLINES – SPICE GIRLS Ambiente descolado, várias pessoas conversando, rindo, se divertindo. Vozerio. Tony (55 anos, moreno, barba) está ali pelo salão, conversando com as pessoas. De repente, todos param suas atividades e olham surpresos para a entrada. EM SLOW: Marcela, Antônia e Fábia, adentram o bar, risonhas, caminhar gracioso e leve, cabelos ao vento. Se olham e olham o ambiente. Tony se aproxima. TONY (embasbacado) – Minhas pérolas, vocês estão simplesmente divinas. MARCELA – Achei que iria fazer surpresa ao trazê-las no CopaBar, mas elas já conheciam e te conheciam. ANTÔNIA – Tony é meu melhor amigo. FÁBIA – É meu também, sabiam? MARCELA - Amo, amo, amo de paixão. Trocamos confidências há anos. TONY – Minhas melhores amigas juntas? Nunca pensei... ANTÔNIA – Queremos uma mesa e doses triplas de tequila. CORTA DESCONTÍNUO das três em uma mesa ao fundo, local mais restrito do bar. Marcela, Antônia e Fábia estão sentadas com um copo de tequila nas mãos. FÁBIA (erguendo o copo) – Um brinde! MARCELA – A quê? ANTÔNIA – Um brinde a amizade que acaba de nascer. Um brinde a nós, mulheres, que somos independentes e autênticas. Todas erguem os copos e brindam, felizes. Imagens das três rindo e bebendo, dançando na pista de dança... Música cessa. CENA 19. APARTAMENTO FAMÍLIA QUEIRÓS. SALA DE ESTAR. INT. NOITE. Local todo escuro. Antônia entra, sorrateiramente, vinda da rua. Cambaleia um pouco. Esbarra em um móvel. ANTÔNIA (tom baixo) – Caralho! A luz é acesa e revela Antônia bastante embriagada. Affonso se aproxima. AFFONSO (sério) – Quase cinco da manhã. Daqui a pouco o dia amanhece. Olha pra você, Antônia, tá num estado deplorável. ANTÔNIA – Eu tô bem, Affonso. Poderia ter estado melhor, se você não se recusasse a ir a eventos do meu trabalho. AFFONSO – Eu não vou discutir com uma bêbada. ANTÔNIA – Eu só quero um pouco da sua atenção, entende? Quero ser mais companheira do que esposa. AFFONSO – Pra escorar você e esses seus porres? ANTÔNIA (tom alto) – Chega! Chega! Chega! Chega! Pra você, eu sempre serei uma figura decorativa. Antônia vai passando por Affonso, que segura seu braço. ANTÔNIA – Me solta! AFFONSO – Eu só quero o seu bem. ANTÔNIA – Eu sinto saudades do Affonso com quem me casei. Aquele que me amava, que me respeitava, que era parceiro, doce, gentil. Antônia e Affonso se olham por alguns instantes. SONOPLASTIA: You’re still the one – Shania Twain. Affonso puxa Antônia pra si, num beijo avassalador. Os dois começam a se despir. Ela delira enquanto ele corre a língua desde seus lábios, até os seios. MÚSICA CESSA. CENA 20. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA. SONOPLASTIA: AQUELE ABRAÇO – GILBERTO GIL. DIA ENSOLARADO. Takes aéreos de diversas praias da zona sul do Rio, seu contraste com as favelas. Último take na fachada de um prédio pequeno e residencial em Copacabana. MÚSICA CESSA. CENA 21. AP DE PATRICK E DAS DORES. SALA. INT. DIA. A campainha TOCA insistentemente. Das Dores (27 anos, morena, cabelos longos) vem do quarto, em uma camisola vermelha e levemente transparente. Ela atende a porta. DAS DORES – Opa, querida! Marcela passa ligeira por ela e entra. Das Dores fecha a porta. MARCELA – Isso é traje de ficar em casa? DAS DORES – Eu estou na minha casa, algum problema? MARCELA – Essa casa também é do meu namorado. Deveria se portar como uma mulher decente. Camisola é só dentro do seu quarto. DAS DORES (voz melosa) – Mas ele gosta. MARCELA (alterada) – Ele quem? DAS DORES – O meu corpo. Ele gosta de ficar bem à vontade. MARCELA – Uma vez periguete, sempre periguete. DAS DORES – Veio pra discutir comigo, baby?! Desculpa, mas eu estou estudando pra prova. MARCELA – Vim falar com meu namorado. Nesse instante, Patrick aparece, vindo do quarto. PATRICK – Tô aqui, Marcela. Você e Das Dores já andaram se bicando cedo? DAS DORES (voz melosa) – Eu não fiz nada, Papa. Sua namorada que insiste em não gostar de mim. Das Dores dá um beijo no rosto de Patrick, pisca o olho e sai em direção ao quarto. MARCELA (imitando Das Dores) - Eu não fiz nada, Papa. Sua namorada que insiste em não gostar de mim. PATRICK – Para com isso, Marcela. A Das Dores é como uma irmã pra mim. Fomos criados juntos, vizinhos, dividimos tudo que tínhamos. MARCELA – Pois bem, dividiram tantas coisas, que agora ela quer dividir até a cama. PATRICK – Não começa com essas insinuações sem fundamentos. MARCELA – Sem fundamentos? Ok, meu bem. Só você não quer enxergar as segundas, terceiras e quartas intenções que ela tem pro seu lado. Mas eu não vim falar sobre Das Dores. Vim pegar meu carro. Tô indo ao Vidigal. PATRICK – Vai fazer o que lá? MARCELA – A Antônia faz trabalho social numa ONG lá. Ela me chamou pra poder ir conhecer e, quem sabe, levar um pouco de literatura para os jovens de lá. Patrick sorri e abraça Marcela. PATRICK – É um belíssimo trabalho, meu amor. Fico orgulhoso. Só tenha cuidado com a bandidagem lá. MARCELA – Pode deixar. Marcela dá um selinho em Patrick. CENA 22. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA. Fábia está digitando no computador, quando Anunciação entra, muito séria e joga um jornal na mesa de Fábia. ANUNCIAÇÃO – Parabéns pela incompetência, Fábia. Fábia, calmamente, pega o jornal e lê a matéria. ANUNCIAÇÃO – Conseguiu ser o centro das atenções. Agora, meu bem, todos os jornais estão falando mal da Gazeta Carioca. FÁBIA – Desculpa, Anunciação, mas eu não tenho culpa se a Antônia partiu pra cima de mim feito um animal. ANUNCIAÇÃO – Eu te pago pra quê? FÁBIA – A mulher estava com ódio de mim. Também, pudera né? Eu fiz uma crítica esculhambando o trabalho dela. ANUNCIAÇÃO – Você ainda me paga, Fábia. Além de não trazer uma matéria que preste, deu furo de reportagem para a concorrência. Fábia olha a hora no visor do celular e se levanta. ANUNCIAÇÃO – Onde você pensa que vai? FÁBIA – Vou cobrir a matéria da ONG Filhos da Arte, lembra? ANUNCIAÇÃO – Aquela que a Antônia é madrinha? Mas não vai mesmo. FÁBIA – Como não? Vai pro caderno de cultura. Além do mais, é um evento social. Eu já tinha tido o seu aval pra ir, lembra? ANUNCIAÇÃO – Quem vai sou eu. Voltarei aos meus áureos tempos de repórter de rua. Você fica aqui e faz o caderno de esporte e de economia. FÁBIA – Mas eu não entendo nem de um e nem de outro. ANUNCIAÇÃO (saindo) – Se vira, bebê. Esse é o seu castigo. Anunciação se afasta. Em Fábia, irritada. CENA 23. STOCK-SHOTS. MORRO DO VIDIGAL. EXT. DIA. SONOPLASTIA: A CULTURA – SABOTAGE. Imagens da linda vista do Morro do Vidigal, contrastando com os barracos, as vielas, pessoas andando pelo local, camelôs, botecos animados, motoboys subindo e descendo, crianças correndo, brincando, evangélicas orando em uma igreja. Take final na fachada de uma casa simples, mas muito bem conservada. No muro de fundo branco, há um grafite colorido com os dizeres: “ONG FILHOS DA ARTE”. MÚSICA CESSA. CENA 24. ONG FILHOS DA ARTE. JARDIM. EXT. DIA. Um imenso jardim, com várias cadeiras de plástico, onde pessoas em trajes simples estão sentadas. Vozerio. Marcela e Antônia chegam, se sentam na primeira fila. Close nelas. MARCELA – Hoje é dia de evento? ANTÔNIA – Não. É dia comum mesmo. O pessoal daqui gosta de assistir a tudo que tem. Marcela sorri.
De repente, vem de dentro do local, Donna, oito rapazes e duas adolescentes,
que trazem instrumentos, caixa de som e microfones. Eles se ajeitam de
frente para o pessoal que está sentado. Donna olha para eles, faz um sinal
com a cabeça e eles começam a tocar perfeitamente e Donna canta a música
“Amor I Love you”. Tempo na canção. CENA 25. ONG FILHOS DA ARTE. SALA. INT. DIA. Uma grande sala vazia, apenas com um pequeno palco e uma câmera ao fundo. Marcela e Antônia entram. ANTÔNIA – É aqui que dou as aulas de teatro. A gente senta no chão, conversa, cria a história e depois interpreta. Marcela olha a tudo muito maravilhada. MARCELA – Eu nunca imaginei que você fizesse um trabalho tão lindo assim. Achava que carreira de atriz era só festas glamurosas, capas de revistas, salão fino e dinheiro na conta. ANTÔNIA – Tem umas que até são assim, o que nunca foi meu caso. MARCELA – Mas em todas as entrevistas que você dá, você nunca falou sobre esse trabalho social tão bacana que é realizado nessa comunidade. ANTÔNIA – O que eu faço aqui é pouco. Eu apenas passo um pouco do que sei. E isso daqui não é meu, é do povo, é de quem estiver disposto a ensinar ou a aprender. Você mesma viu o trabalho maravilhoso que a Donna faz com aquele grupo. DONNA (entrando) – Estavam falando de mim? ANTÔNIA – Sim. Mas fique tranquila, era bem. Donna (38 anos, morena, cabelos longos e cacheados) abraça Antônia, em seguida, abraça Marcela. DONNA – Essa moça é sua amiga, Antônia? ANTÔNIA – Sim, minha amiga. Veio conhecer a ONG e o trabalho que é realizado aqui. DONNA (a Marcela) – Aqui a gente realiza sonhos. Seja na música, na dança, no teatro... ANTÔNIA – Falta a literatura, não acha? DONNA – Tem razão, falta a literatura. Eu sou péssima com os livros. MARCELA – Eu sou professora de literatura. Amo livros, amo embarcar em lindas estórias. DONNA – E por que não se junta a gente? Marcela sorri, olha para Antônia que faz que sim com a cabeça. MARCELA – Será que eu dou conta? ANTÔNIA – Se você acredita no que faz, pode ter certeza, estará ajudando muita gente. MARCELA – Então eu vou aceitar. Antônia sorri e abraça Marcela. Nesse instante, Anunciação entra com Mimi e mais algumas pessoas da comunidade. ANUNCIAÇÃO – Que bom que te achei, amada Antônia Assumpção. Antônia olha séria para Anunciação, que finge cordialidade. ANUNCIAÇÃO – Há tempos que eu estava louca para conhecer essa ONG. ANTÔNIA – Que bom! Eu estou de saída, mas a Donna pode lhe mostrar tudo. ANUNCIAÇÃO – Ah, mas assim é falta de educação... Eu queria que você me mostrasse tudo. ANTÔNIA – Eu tenho compromisso, não posso ficar! ANUNCIAÇÃO – Então eu serei bem breve, tá bem? Vim aqui presentear a ONG com cem mil reais. Eu quero poder ajudar essa comunidade. Fiz um cheque que pode ser descontado amanhã mesmo. As pessoas aplaudem com entusiasmo, menos Donna, Marcela e Antônia, que faz “cara feia” para Anunciação. ANUNCIAÇÃO – A Mimi vai tirar uma foto minha entregando o cheque para vocês. ANTÔNIA – Caridade assistida não é caridade, é barganha! Antônia sai puxando Marcela e dá um esbarrão proposital em Anunciação, que engole em seco, sorri forçadamente e entrega o cheque para Donna. CENA 26. STOCK-SHOTS. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE. SONOPLASTIA: ELA É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO. Imagens da praia de Copacabana. MÚSICA CESSA. CENA 27. COPABAR. INT. NOITE. SONOPLASTIA: How Deep Is your Love – Calvin Harris & Disciples. Local cheio de pessoas dançando, bebendo, se divertindo. Fábia entra meio tímida, e logo, dá de cara com Tony, que sorri. TONY – Veio encontrar com Antônia e Marcela? FÁBIA – Elas estão aqui? TONY – Sim, têm uns quinze minutos que chegaram. (Pega na mão dela) Vem, vou te levar até elas. Fábia fica meio reticente. TONY – O que foi? FÁBIA – Não sei se devo ir, a Antônia pode achar... TONY – Para de bobeira, mulher. A Antônia não vai achar nada. Ontem vocês estavam aqui enchendo a cara, deixa de conversa fiada. Vem. Tony sai puxando Fábia em meio a multidão. CORTA PARA a mesa onde Antônia e Marcela estão. Tony aparece com Fábia. TONY – Olha quem estava tímida lá na entrada. ANTÔNIA – Fábia? Que surpresa boa. Senta e bebe com a gente. TONY – Vou deixa-las conversando, preciso cuidar do meu bar. Beijos! Tony se afasta e Fábia se senta. MARCELA – Por que você não foi hoje a ONG, Fábia? FÁBIA – A minha patroa me puniu por causa de ontem à noite, acredita? ANTÔNIA – Ela doou cem mil reais para a ONG, acredita? FÁBIA – Alguma coisa ela quer, vocês não acham? ANTÔNIA – Me custa entender o motivo da Anunciação me perseguir tanto. Eu nunca fiz nada contra ela. MARCELA – Pode ser inveja, não acham? FÁBIA – Não acho não. Aliás, acho que essa mulher pode querer destruir a ONG. Todo cuidado é pouco, Antônia. Uma moça se aproxima da mesa delas e entrega um cartão a cada uma das três. Que leem. MARCELA – Campanha de dia das mães. Tá chegando! Vou comprar um presente pra minha. ANTÔNIA – Eu já quis muito ser mãe. Hoje em dia, não mais. Fábia joga o cartão no chão. MARCELA – Por que fez isso, Fábia? Não gostou de lembrar que o dia das mães está chegando? FÁBIA – Eu não tenho mãe! Nunca tive... (longa pausa) Vamos pedir o jantar. Em Fábia, muito séria. CENA 28. COPABAR. CALÇADA. EXT. NOITE. Pietro e Mimi descem dum carro esportivo rosa, e param em frente a entrada do bar. MIMI (sedutora) – A noite foi maravilhosa, não acha? PIETRO – Foi muito boa mesmo. MIMI – Se eu fosse rica, pagaria pra você viver comigo. Como consegue ser tão gostoso? PIETRO – Servimos bem para servir sempre. MIMI – Vamos terminar a noite numa tequila? Pietro olha para o relógio e olha de volta para Mimi. PIETRO – Tecnicamente, você ainda tem meia hora comigo, faço o que mandar. Mimi sorri. Seu celular toca. MIMI – Quem será a uma hora dessas? Mimi atende. MIMI (cel.) – Alô. Oi, chefinha, tudo bem? (T) Claro, tô indo agora. Mimi desliga o celular. MIMI – A noite foi ótima, mas a tequila fica pra uma próxima. É a minha chefa exigindo que eu vá a casa dela. Deve ter rolado a maior treta. PIETRO – Então pode ir, eu pego um táxi e vou pra casa. MIMI – Nada disso, eu te levo até em casa. Serviço delivery, meu gato. Pietro e Mimi entram no carro. Antônia, Fábia e Marcela vão saindo do bar, risonhas, quando Antônia avista o carro saindo. Do P.V de Antônia, vemos o carro sair, Pietro a olha por alguns instantes, que fica em transe. FÁBIA – Hello, Antônia, tá tudo bem? Antônia volta a si. MARCELA – Parece que viu um fantasma. Aconteceu algo? ANTÔNIA – Tá tudo bem. Preciso ir embora. Até mais. Antônia sai na frente, em disparada. MARCELA – O que será que aconteceu com a Antônia? FÁBIA (séria) – A lua de virgem entrou em escorpião. Dá isso. Marcela olha para Fábia e as duas riem. CENA 29. APARTAMENTO FAMÍLIA QUEIRÓS. BANHEIRO. INT. NOITE. Antônia se despe e liga o chuveiro. Entra debaixo e começa a lavar o rosto com certa velocidade e força. ANTÔNIA – Não pode ser. Não tô acreditando no que eu vi. (grita) Filho da puta! CENA 30. GAZETA CARIOCA. SALA DA PRESIDÊNCIA. INT. NOITE. Anunciação está sentada e olhando para uma foto de Affonso, quando Mimi entra. MIMI – Pois não, chefinha. Vim o mais rápido que pude. ANUNCIAÇÃO – Quero que investigue para onde o Affonso viajou. MIMI – Quem é Affonso? ANUNCIAÇÃO – O marido da Antônia. Eu sei que ele viajou a trabalho, mas não sei pra onde. Amanhã eu quero que você vá a empresa dele e investigue tudo: para onde viajou. Local onde está hospedado. Quero ficha completa, entendeu? MIMI – Sim senhora! ANUNCIAÇÃO – Não me venha sem essas informações. MIMI – Mas para quê a senhora quer tanto isso, chefinha? Anunciação olha para a foto e a rasga com raiva. ANUNCIAÇÃO – Eu vou fazer esse filho da puta me pagar por cada lágrima derramada. Chegou a hora de fazer justiça! CENA 31. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA. SONOPLASTIA: Empire State of Mind (Part II) Broken Down Alicia Keys Um giro pela Zona Sul, mostrando seus principais pontos, desde a Praia de Copacabana até o Morro do Vidigal. Takes rápidos e pontuados. MÚSICA CESSA. CENA 32. RODOVIÁRIA NOVO RIO. PLATAFORMA DE DESEMBARQUE. EXT. DIA. Um ônibus de cor laranja estaciona no local. Em seu letreiro diz: “VALENÇA/RJ”. Algumas pessoas descem, entre elas, Laura (50 anos, branca, cabelos pretos, cacheados), de óculos escuros. Ela vai até o bagageiro, pega sua mala e sai. CENA 33. TÁXI. INT. DIA. Laura está admirando a paisagem da orla da praia pela janela. LAURA – O Rio continua lindo. TAXISTA – Mas muito perigoso. Tem muito bandido. LAURA – Bandido é fichinha perto de muitas pessoas que vivem aqui. CENA 34. APARTAMENTO DE FÁBIA. CALÇADA. EXT. DIA. O táxi para, Laura desce, pega sua mala e olha para o alto. Especificamente, para a cobertura. LAURA – Mamãe voltou, querida! É hora da onça beber água. A imagem congela em Laura com sorriso faceiro. |
||
CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO: |
||
CENA. APARTAMENTO DE FÁBIA. QUARTO. INT. DIA. Fábia e Lu estão deitadas na cama, dormindo. A campainha TOCA insistentemente. FÁBIA (sonolenta) – Que merda de campainha. LU – Vai lá atender, pode ser urgente. Fábia olha para o rádio relógio, que marcam 08h00min. FÁBIA – No meu dia de folga. Ninguém merece. Fábia se levanta, revelando estar em trajes íntimos, ela vai até a poltrona próxima, pega um penhoar e o veste, saindo. CORTA PARA: SALA DE ESTAR. Fábia abre a porta e revela Laura, que sorri. LAURA – Sentiu saudades da mamãe? Fábia fica paralisada. |
||
|
||
autor Wesley Alcântara
elenco |
||
.aaa.
|
.aaa. | |
Navigation
Comentários: