| ||
CAPÍTULO 02 | ||
|
||
VOZ DE ANTÔNIA – Anteriormente em Garotas do Rio FÁBIA – Isso não é jornalismo. É hipocrisia. ANUNCIAÇÃO – As pessoas não tem julgamento próprio a cerca de filmes, livros ou novelas. Esperam sempre pela crítica de um jornal ou site. FÁBIA – Acontece que estamos remando contra a maré. Todos os jornalistas elogiaram a perfeita atuação dela. Eu estou sendo amoral com meus princípios. ANUNCIAÇÃO – Você precisa de princípios ou dinheiro para viver? ANTÔNIA – Eu vou fazer o que há muito tempo eu estava com vontade. Antônia dá um tapa no rosto de Fábia, que cai no chão com o impacto. Todos a volta olham assustados, alguns pegam o celular e começam a tirar fotos. ANTÔNIA – Isso é pra você aprender a não falar mal dos outros. Aprenda a engolir o sucesso. ANUNCIAÇÃO – A Mimi vai tirar uma foto minha entregando o cheque para vocês. ANTÔNIA – Caridade assistida não é caridade, é barganha! Antônia sai puxando Marcela e dá um esbarrão proposital em Anunciação, que engole em seco, sorri forçadamente e entrega o cheque para Donna. MIMI – Mas para quê a senhora quer tanto isso, chefinha? Anunciação olha para a foto e a rasga com raiva. ANUNCIAÇÃO – Eu vou fazer esse filho da puta me pagar por cada lágrima derramada. Chegou a hora de fazer justiça! LAURA – Mamãe voltou, querida! É hora da onça beber água. Em Laura, sorriso faceiro. CENA 01. APARTAMENTO DE FÁBIA. QUARTO. INT. DIA. Fábia e Lu estão deitadas na cama, dormindo. A campainha TOCA insistentemente. FÁBIA (sonolenta) – Que merda de campainha. LU – Vai lá atender, pode ser urgente. Fábia olha para o rádio relógio, que marcam 08h00min. FÁBIA – No meu dia de folga. Ninguém merece. Fábia se levanta, revelando estar em trajes íntimos, ela vai até a poltrona próxima, pega um penhoar e o veste, saindo. CORTA PARA: SALA DE ESTAR. Fábia abre a porta e revela Laura, que sorri. LAURA – Sentiu saudades da mamãe? Fábia fica paralisada. Laura passa por ela, entrando e olhando tudo ao redor. LAURA – Esse tom mais claro nas paredes ficou maravilhoso. Você sempre teve bom gosto, puxou a mamãe. Fábia fecha a porta e olha incrédula para Laura. FÁBIA – O que você tá fazendo aqui, Laura? LAURA – Já disse, meu bem, senti saudades. Você sabe como é mãe, a saudade aperta. FÁBIA – Eu não sei de nada. (irritada) Fala de uma vez o que você veio fazer aqui. Boa coisa não é. Laura se senta no sofá. LAURA – Falar assim, a seco? Não rola nem um uisquezinho? FÁBIA (gritando) – Se você não falar, eu te coloco daqui pra fora abaixo de cacete. LAURA – Já que você tá pedindo com tanta delicadeza, eu vou ser direta: preciso de 50 mil reais. Em Fábia, assustada. CENA 02. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA. SONOPLASTIA: ELA É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO. Um giro pela Zona Sul, mostrando seus principais pontos, desde a Praia de Copacabana até o Morro do Vidigal. Takes rápidos e pontuados. MÚSICA CESSA. CENA 03. ONG FILHOS DA ARTE. JARDIM. EXT. DIA. Donna está rodeada de alunos que tocam instrumentos, enquanto ela está cantando a música “Tatuagem” (Marjorie Estiano), quando Antônia vem da rua e faz sinal para ela segui-la para o interior do local. DONNA – Só um minutinho, pessoal. Vão ensaiando aí. Donna se afasta. O pessoal continua a música em instrumental. CENA 04. ONG FILHOS DA ARTE. SALA. INT. DIA. Antônia está de pé olhando a paisagem pela janela, quando Donna entra. DONNA – Pois não, Antônia. Antônia vira-se para ela. ANTÔNIA – O que você fez com o cheque da Anunciação? DONNA – Não fiz nada. Estava esperando um comando seu. ANTÔNIA – Ótimo! Na hora do almoço eu quero que você desça até o banco e desconte o cheque na conta da ONG, entendeu? Donna fica surpresa. ANTÔNIA – Ela achou que eu iria ser orgulhosa e não aceitaria, só assim ela sairia por cima. Além de não perder 100 mil, a bonita ainda faria uma matéria me detonando. DONNA – Pensando por esse lado, meu bem, você tem toda razão. Mas teremos que divulgar o nome dela como uma das patrocinadoras. ANTÔNIA – Faz melhor, anuncia a Gazeta Carioca como contribuinte. “De vilã a amiga, a Gazeta Carioca faz as pazes com Antônia e doa 100 mil reais para a ONG Filhos da Arte, no Vidigal.” Põe como matéria no site. CENA 05. APARTAMENTO DE FÁBIA. SALA DE ESTAR. INT. DIA. Fábia de pé, perplexa, enquanto Laura está sentada e tomando uísque. FÁBIA – Eu me recuso a acreditar que você saiu de Valença pra vir me contar uma piada. LAURA (séria) – Não é brincadeira não. Eu necessito de 50 mil reais e só você pode me ajudar. FÁBIA – Eu não tenho esse dinheiro. Eu não ganho nem metade disso por mês. Laura se levanta e se aproxima de Fábia. LAURA (carinhosa) – A sua mãe se meteu numa furada. Faz dias que não durmo. Fábia se afasta de Laura, ficando de costas. FÁBIA – Você se meteu numa furada ou o Nenzin? LAURA – Ele tá devendo essa grana pra um cara barra pesada que jurou a gente de morte. FÁBIA – Se aquele maldito morresse, te juro que não seria uma ideia ruim. Laura e Fábia se encaram. Lu chega, devidamente vestida. LU – Fábia, acho que já vou. FÁBIA – Fica, eu te preparo um café, pelo menos. LU – Não. Deixa pra outra hora. FÁBIA – Mais tarde eu te ligo. Lu vai embora. Laura cai na gargalhada. LAURA – Então essa deve ser a sua amiga de trabalho? FÁBIA – Não seja hipócrita, Laura. Você sabe muito bem quem ela é. LAURA – E você sabe muito bem que isso foi a sua desgraça. FÁBIA – Minha desgraça foi ter nascido sua filha. Como você pode deixar aquele homem nojento fazer aquilo com a sua filha? Fábia fica sentida. Laura se aproxima. LAURA – Você sabe que o Nenzin só quis ajudar. Fábia deixa escorrer uma lágrima, mas permanece altiva e se afasta de Laura. FÁBIA – Eu não tenho esse dinheiro não. Trata de trabalhar, coloca aquele imprestável do seu marido para trabalhar também. LAURA – Qual foi, filha? Você quer que eu morra? Entrei nessa de gaiato, por favor, me ajuda! FÁBIA – Você sempre soube muito bem do que o Nenzin era capaz. Ele nunca pensou duas vezes para colocar a sua vida ou a minha em risco. Mesmo assim você permaneceu com ele esse tempo todo, mesmo assim você abraçou a causa, deu razão a esse marginal. Deu no que deu. Só lamento por você e por ele. Eu não posso fazer nada, a não ser rezar. Laura começa a chorar e se ajoelha em frente à Fábia. LAURA – Por favor, Fábia. Por compaixão. Ajuda a sua mãe. Fábia começa a circular pelo ambiente, meio desorientada. Laura se senta no sofá e abaixa a cabeça. FÁBIA – Eu não tenho como levantar essa quantia de uma hora pra outra... Levaria, no mínimo, um ano. LAURA – Tô ferrada. Você era a minha única alternativa. FÁBIA – Nenzin sabe que você veio pro Rio? LAURA – Não. Ele acha que você mora em Juiz de Fora. Acha que tô pra lá. Fábia se aproxima de Laura, se abaixa e fica cara a cara com ela. FÁBIA (amável) – Eu sei que posso me arrepender muito do que vou fazer, Laura, mas a única saída é te dar guarita. Passa uns meses aqui comigo. Eu tento te arrumar trabalho, pelo menos, até a poeira abaixar. LAURA – Mas e o Nenzin? Vou deixá-lo em perigo? FÁBIA – Quem se meteu nessa foi ele. Cada um é dono de suas escolhas e escravo das consequências. Mas se você quiser voltar pro interior e morrer com ele, a escolha é sua. E aí? Em Laura, pensativa. |
||
|
||
|
||
ARAPUCAS | ||
CENA 06. ESCRITÓRIO. RECEPÇÃO. INT. DIA. Uma sala muito aconchegante e com obras de artes de fino gosto. Uma secretária está sentada digitando algo no computador, quando Mimi entra e vai até ela. MIMI – Bom dia! A moça para de digitar e sorri amigavelmente para Mimi. MOÇA – Em que posso lhe ser útil? MIMI – Eu sou Anita Gonzaga do Amaral, assistente pessoal do Dr. Germano, dono da Empreiteira Melo. Ele está no Brasil e queria tratar de negócios com o senhor Affonso Queiroz. MOÇA – Empreiteira Melo? Bom, não me recordo desse nome. Tem certeza que é com o Dr. Affonso? MIMI – É sim! Ele foi enfático. Quer estabelecer uns projetos. MOÇA – Bom, posso marcar para semana que vem uma reunião. MIMI – Dr. Germano é um homem ocupadíssimo. Vai embarcar amanhã mesmo para São Paulo. Não teria como encaixá-lo hoje na agenda? MOÇA – Impossível! Dr. Affonso está justamente para São Paulo. Reuniões e palestras. MIMI – O Dr. Germano está indo amanhã para lá. Será que eles não poderiam se encontrar lá? Ao menos para uma conversa informal. MOÇA – Não sei... Acho difícil, pois o Dr. Affonso está no Hotel San Martini da Costa, e todas as reuniões serão lá no Centro de Convenções do próprio local. Mas posso ligar. Mimi sorri. MIMI – Não necessita! Você já me foi muito útil, queridinha. Mimi sai e a moça estranha. CENA 07. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA. SONOPLASTIA: ELA É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO. DIA ENSOLARADO. Takes aéreos de diversas praias da zona sul do Rio, seu contraste com as favelas. MÚSICA CESSA. CENA 08. APTO DE PIETRO. SALA. INT. DIA. A campainha toca. Pietro vem da cozinha e atende a porta. Ele fica paralisado por alguns instantes. PIETRO – Você? Antônia entra. Ele fecha a porta. ANTÔNIA – Pelo que vi ontem, você se divertiu bem. PIETRO – Também tenho esse direito, não acha? ANTÔNIA – Acho sim. Tava bem íntimo da moça lá. PIETRO – Ela é minha amiga, só isso. O que tem de mal? ANTÔNIA – Nada de mal, queridinho. Viva a amizade. PIETRO – Para de rodeios, Antônia. Fala de uma vez que você ficou mordida de ciúmes quando me viu saindo do CopaBar com a Mimi. Confessa. ANTÔNIA – Eu? Com ciúmes? Você tá confundindo as coisas. PIETRO – Quem tá confundindo as coisas aqui é você. Eu saí, fui beber, aproveitar a vida. Você queria que eu ficasse aqui em casa, numa redoma de vidro. É isso? ANTÔNIA – Eu não queria nada. Aliás, não quero. Não tenho o direito de te cobrar nada. PIETRO – Exato! Não pode me cobrar nada. Nós ficamos casualmente. A decisão sempre foi sua. ANTÔNIA – Vai me jogar as coisas na cara agora? PIETRO (voz embargada) – Eu esperei demais. Me doei de corpo e alma pra você. Na sua mão eu não passei de um boneco. ANTÔNIA – Você sempre soube que eu era casada. Ninguém entrou nessa história enganado. PIETRO – Que história, Antônia? Antônia e Pietro se olham. Ele triste, ela contendo as lágrimas. SONOPLASTIA: NA PAZ – ORLANDO MORAIS. ANTÔNIA – Tem razão. Que história?(pausa) Acho que eu tô fazendo papel de idiota aqui. Você é livre. PIETRO – Eu sempre fui diversão, não é? Não passei de um corpo, de um desejo sexual seu. Um dos tantos caprichos que a dondoca de Ipanema cultivava. E quer saber a verdade? Eu fiquei com aquela garota de ontem sim. Nós nos beijamos, nós transamos. E depois da transa, ela não foi embora ou inventou uma desculpa pra sair. Ela me chamou pra jantar com ela, pra fazer companhia. Pra conversar como qualquer casal faria. Como qualquer pessoa que se importa com o sentimento da outra faria. Taí a diferença entre vocês duas. Antônia começa a chorar. Pietro também chora. PIETRO – Eu acho que você nunca amou ninguém. Você precisa começar a se amar pra poder estabelecer qualquer tipo de relação com alguém, Antônia. ANTÔNIA – Você foi muito cruel nas suas palavras. E as palavras, quando ditas sem pensar, podem machucar muito, às vezes, até matar, sabia? PIETRO – Vai pra sua casa e analisa cada atitude sua. Depois, junta com tudo que eu disse. Vamos ver quem tem razão. Pietro abre a porta e faz menção para Antônia sair. ANTÔNIA – Só uma última coisa: espero que essa moça possa mexer com o seu coração como eu fiz. Que ela possa te completar, como eu completei um dia. PIETRO – Vai embora, por favor! Antônia sai. Pietro fecha a porta com força e se joga no sofá. MÚSICA CESSA. CENA 09. COPABAR. COZINHA. INT. DIA. Tony está dando algumas instruções aos cozinheiros, quando Lu entra. LU – Licença! Tony, tem um rapaz lá fora te esperando. TONY – Que rapaz? Mas hoje não é dia de entrega. LU – Deve ser do anúncio para garçom, lembra? TONY – Tem razão. Aliás, lembro também que hoje a senhora só pegaria às 19 horas. O que aconteceu? Lu fica cabisbaixa. TONY – Já sei. O nome dessa tristeza é Fábia Bueno. LU – A gente tava numa boa. Até dormi lá. Mas aí chegou uma mulher lá, cheia de intimidade. TONY – Eu te avisei que a Fábia é da vida, que não se apega a ninguém. É cada dia pra um esquema. Agora deixa eu ver quem é o rapaz. Tony sai. Lu fica ali, pensativa. CENA 10. COPABAR. SALÃO. INT. DIA. Todas as cadeiras do salão estão em cima das mesas. Alguns funcionários limpam o local. Ao longe está Diego (moreno, cabelos cacheados, olhos cor de mel, porte físico atlético), trajando jeans e regata baby look, salientando seus músculos. Tony se aproxima e sorri. TONY – Veio por causa do anúncio pra garçom? DIEGO – Isso mesmo. Gostaria que o senhor me desse uma chance. Pode ser? TONY – Você tem experiência como garçom? DIEGO – Já servi em umas festas lá na minha cidade. TONY – E de onde você é? DIEGO – Sou de Juiz de Fora. TONY – Belo mineiro. Deveria ser modelo. DIEGO – Gosto não, seu Tony. TONY – Pode me chamar só de Tony. Aqui somos todos íntimos. Tony lança um olhar malicioso em Diego, que percebe e fica sem jeito. TONY – Qual é o seu nome, moreno? DIEGO – Me chamo Diego. TONY – Bom, Diego, faremos um teste essa noite. Se você se sair bem o emprego é seu. Fechado? Tony estende a mão. Diego aperta sua mão com convicção e lhe solta um sorriso. DIEGO – Tá bem! Obrigado! Diego se afasta. Tony pega uma cadeira, se senta e começa a se abanar. TONY (pra si/ com interesse) – Mãos hábeis... Vontade louca de ser uma bandeja. CENA 11. PRAIA DE IPANEMA. EXT. DIA. SONOPLASTIA: ELA É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO. Praia pouco movimentada. Patrick e Marcela vem do mar, de mãos dadas e sorrido e se sentam debaixo de um guarda-sol, onde Das Dores está sentada, lendo um livro. MÚSICA CESSA. DAS DORES – Se divertiram bem, hein. PATRICK – Você que não foi se molhar até agora. Tá com medo da água? DAS DORES – Estou num capítulo interessante do livro. Na parte em que Mariana conquista o meio-irmão. É babadeiro. Marcela olha séria para Das Dores. DAS DORES – Já leu, Marcela? É um livro de uma ex-aluna de Letras da UERJ. Você deve conhecer. MARCELA – Ainda não li, mas já acho essa Mariana uma vadia. Tanto homem no mundo e ela vai se interessar pelo meio-irmão? Uma incompetente, não acha, Patrick? PATRICK – É sim, amor! Das Dores se levanta e se espreguiça de costas para Patrick e Marcela, deixando a mostra seu biquíni fio dental. DAS DORES – Chegou a hora da sereia cair na água. MARCELA – Lá que é lugar de sereia. Fica por lá, tá? Das Dores sorri ironicamente e sai em direção ao mar. PATRICK – Você é sempre tão hostil com a Das Dores. MARCELA – Ela faz questão de me irritar. Tá sempre querendo chamar a sua atenção. PATRICK – Ela é carente. Não conhece ninguém no Rio. MARCELA – Só você não percebe as coisas, Patrick. Essa cabeça sua aí é só pra fazer gol? Eu vou buscar uma água de coco pra gente. Marcela se levanta. PATRICK – Traz uma pra Das Dores também. MARCELA (saindo) – Sereia não toma água. Toma cicuta. CORTA PARA: OUTRO PONTO DA PRAIA. SONOPLASTIA: O MUNDO É UM MOINHO – BETH CARVALHO. Antônia caminha pela praia com as sandálias na mão. Meio desnorteada e chorosa. Até que Marcela esbarra nela, sem perceber quem é. MÚSICA CESSA. MARCELA – Desculpa, moça... (olhas/ fica surpresa) Antônia? ANTÔNIA (voz embargada) – Me dá um abraço? Marcela abraça Antônia. MARCELA – O que foi que aconteceu? ANTÔNIA – Me leva pra casa? Por favor, me leva pra casa? MARCELA – É claro! Senta aqui. Vou ali na frente avisar meu namorado. Já volto! Antônia se senta, Marcela se afasta. CORTA PARA: ALGUM LUGAR DA PRAIA. Patrick está sentado, admirando o mar. Enquanto Das Dores mergulha. Marcela se aproxima dele. MARCELA – Amor... PATRICK – Ué, cadê a água de coco? MARCELA – Eu esbarrei com a Antônia Assumpção. Acho que aconteceu alguma coisa com ela. Tá em prantos. Precisa ver. Me pediu pra levá-la pra casa. PATRICK – Eu vou com você. Pode ser útil. MARCELA – Não. Deixa que eu a levo. Ela quer uma companhia feminina. Mais tarde eu passo no seu apê. Marcela dá um selinho em Patrick e sai. CENA 12. GAZETA CARIOCA. SALA DA PRESIDÊNCIA. INT. DIA. Anunciação está falando ao celular, quando Mimi entra. ANUNCIAÇÃO (ao cel.) – Tá bem, querida. Qualquer furo de reportagem você me avisa. Abraço. Anunciação desliga o celular. ANUNCIAÇÃO – Caramba, Mimi. Foi buscar essa informação onde? Bangladesh? Levou a manhã inteira. MIMI – Reclama isso na secretaria de trânsito, meu bem. Daqui até a Barra é um verdadeiro martírio. ANUNCIAÇÃO – Chega de conversa fiada. Conseguiu o que eu queria? MIMI – Ele foi pra São Paulo. Hotel San Martini da Costa. Anunciação sorri. MIMI – Todas as reuniões serão lá. ANUNCIAÇÃO – Que ótimo! Irei pra lá no próximo voo. MIMI – Eu mereço um prêmio, não mereço? ANUNCIAÇÃO – Não deveria, mas como eu sou boa... Você vai comandar o jornal na minha ausência. Não deixe que nada saia dos trilhos. MIMI – Sim senhora! E se alguém perguntar para onde está? ANUNCIAÇÃO – Diga que tirei férias. Que fui passar uns dias na Serra Gaúcha. Recuperar o ânimo e a altivez. Anunciação vai saindo da sala. MIMI – O que a senhora fará com o Dr. Affonso? ANUNCIAÇÃO – Doutor. Doutor em quê? Só se for em malandragem. Mas o que é do Affonso tá muito bem guardado. Anunciação sai. Mimi se senta na sua cadeira e coloca os pés sobre a mesa. MIMI – Agora quem manda na Gazeta sou eu. Quero ver a metidona da Fábia fazer graça agora. Vai piar fininho. CENA 13. APARTAMENTO DE FÁBIA. COZINHA. INT. DIA. Fábia está sentada a mesa, enquanto Laura está cozinhando. FÁBIA – Caramba, Laura, esse almoço sai ou não? Laura desliga o fogo e coloca a panela em cima da mesa. LAURA – Prontinho! Risoto de camarão. Ainda é o seu predileto? FÁBIA – Desde que saí de Valença, eu nunca mais comi. Jurei apagar tudo do passado. Fábia fica cabisbaixa. LAURA – Você não pode ser tão amargurada assim, minha filha. Seu passado teve coisas boas também. FÁBIA – Lista aí, Laura. Quais? Laura fica pensativa por alguns instantes. LAURA – Melhor a gente comer, não acha? Camarão frio fica borrachudo. Laura e Fábia se servem e começam a comer. LAURA – Você vai pedir um emprego pra mim ao seu amigo? FÁBIA – Hoje eu vou ao CopaBar e falo com o Tony. Talvez ele precise de uma faxineira. LAURA – Eu faço de tudo. Tudo mesmo. FÁBIA – Faça como eu, Laura. Trancafie esse passado e recomece uma nova vida. Aproveita que aquele desgraçado não sabe do seu paradeiro. Laura se entristece. LAURA – Apesar de tudo, eu ainda gosto dele. FÁBIA – Você tem vocação pra masoquismo, só pode. Aquele imprestável só fez a gente sofrer. (relembrando/ feliz) Eu era criança, mas lembro de que você se arrumava, se maquiava, ia pro forró, tomava sua cerveja. Era independente. Não deixava homem nenhum te botar cabresto. Hoje eu penso que herdei essa parte de você. LAURA – Quando eu vi já estava envolvida. FÁBIA – Envolvida até demais. Eu nunca vou esquecer o que você fez comigo por causa daquele monstro. Não vou mesmo. CENA 14. APARTAMENTO FAMÍLIA QUEIRÓS. SALA DE ESTAR. INT. DIA. Antônia entra chorosa e se joga no sofá. Marcela entra em seguida. MARCELA – Eu vou preparar um chá pra você, tá bem? Marcela se afasta, indo em direção à cozinha. Antônia fica deitada, chorando. Corta para: Marcela e Antônia sentadas tomando chá. MARCELA – Tá melhor agora? Antônia, visivelmente mais calma, assente com a cabeça. MARCELA – Quer desabafar? O que aconteceu? ANTÔNIA – Eu não sei se estou preparada pra falar. MARCELA – Desabafar pode ser bom, mas não se apresse. Deixa tudo assentar primeiro. ANTÔNIA – Ontem quando estávamos saindo do CopaBar, lembra que eu fiquei distante e logo saí? ***INSERT DO FLASHBACK DO EPISÓDIO 01 DA CENA 28: COPABAR. CALÇADA. EXT. NOITE.*** Pietro e Mimi entram no carro. Antônia, Fábia e Marcela vão saindo do bar, risonhas, quando Antônia avista o carro saindo. Do P.V de Antônia, vemos o carro sair, Pietro a olha por alguns instantes, que fica em transe. FÁBIA – Hello, Antônia, tá tudo bem? Antônia volta a si. MARCELA – Parece que viu um fantasma. Aconteceu algo? ANTÔNIA – Tá tudo bem. Preciso ir embora. Até mais. Antônia sai na frente, em disparada. ***FIM DO FLASHBACK*** MARCELA – Como não lembrar? Você ficou estranha. Como se tivesse visto algo que te assombrasse. ANTÔNIA – E vi. E estou sem chão até agora. MARCELA – Mas o que pode ter sido? ANTÔNIA – Eu vi o meu amante com outra. MARCELA (assustada) – O que? ANTÔNIA – Eu tenho um amante. Faz alguns anos que mantemos relação. O fato é que a gente discutiu e ele me expulsou da vida dele. Tô arrasada. MARCELA – Mas e seu marido? ANTÔNIA – Sempre muito ocupado, sempre muito ríspido. Abriu precedente pra eu me consolar na cama de outro. MARCELA – Desculpa, mas isso não é justificativa. ANTÔNIA – Por favor, não seja mais uma a me apontar o dedo. MARCELA – Foi melhor terminar. Cultive seu casamento, Antônia. ANTÔNIA – Obrigada por ter vindo, mas será que agora você pode me deixar a sós? Quero tomar um bom banho e dormir até amanhã. MARCELA – Fique bem! Marcela sai. CENA 15. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE. SONOPLASTIA: How Deep Is your Love – Calvin Harris & Disciples. Takes de pessoas correndo pela orla iluminada. Bares agitados com jovens, muito riso. Take final na fachada do CopaBar. CENA 16. COPABAR. INT. NOITE. A música da cena anterior continua, mas como som ambiente. Várias pessoas circulam pelo local. Lu e Diego com bandejas cheias de bebida. Tony olha tudo atento, especialmente Diego. Tempo na movimentação do local. CORTA PARA: BALCÃO. Fábia e Laura estão sentadas nuns bancos próximos ao balcão. Elas tomam vodca enquanto olham o ambiente. LAURA – Esse bar é bem animado, hein! FÁBIA – É o melhor do Rio, pode apostar. LAURA – Será uma honra trabalhar aqui. FÁBIA – Calma aí, Laura. Eu ainda nem falei com o Tony. Tudo depende dele, falou?! Nesse instante, Tony se aproxima. TONY – Olha quem está aqui! (olha Laura) De amiguinha nova? FÁBIA – Não começa, Tony! Essa daqui é a... LAURA (por cima/ estendendo a mão) – Sou Laura. Mãe da Fábia. Tony cumprimenta Laura. TONY – Mas vejam só, a Fábia nunca me disse que tinha mãe. Cheia dos segredos. FÁBIA – Eu tenho os meus motivos. Mas o fato é que eu queria conversar um assunto com você, Tony. Tá disponível amanhã? TONY – Não deixe pra falar amanhã o que pode ser dito hoje. Anda, vai, desembucha. LAURA – É que é assunto profissional. TONY – E vocês acham que estou no happy hour? Meus amores, eu tô na labuta, trabalho pesado. Pode dizer. FÁBIA – Eu queria saber se você não tem uma vaga de faxineira pra Laura. Ela precisa trabalhar. Vai passar uma temporada no Rio e precisa ganhar algum dinheiro. TONY – Mas é claro. Começa amanhã. Das 16 às 2 horas da manhã. Com duas horas de descanso. Pode ser? LAURA – Mas é claro. Fico imensamente feliz. Nesse instante, Felipe (50 anos, branco, cabelos grisalhos, porte físico médio, charmoso) trajando camisa polo e jeans se aproxima. FELIPE – Será que posso roubar um pouquinho o dono do CopaBar? FÁBIA – Você já roubou até o coração dele. TONY – Milagre você por aqui, Felipe. FELIPE – Vim aproveitar um pouco a noite. TONY – Ou veio me vigiar? FELIPE – Jamais. Não precisamos disso. TONY – Tem razão. Tony abraça Felipe com carinho e os dois saem. LAURA – São namorados. FÁBIA – Casados há muitos anos. Laura dá uma golada na vodca e volta a olhar o ambiente. CENA 17. APTO DE PATRICK. QUARTO DE PATRICK. INT. NOITE. MÚSICA DA CENA ANTERIOR CESSA. Patrick e Marcela estão deitados na cama em trajes íntimos. PATRICK – E sua amiga? MARCELA – Tá mal. Rompeu com uma pessoa que ela gostava muito. PATRICK – Com o marido? Ela é casada? MARCELA – Ela é muito bem casada. Rompeu com um amigo. Alguém que ela considerava muito. PATRICK – Tipo eu que considero demais a Das Dores. MARCELA – Pronto. Tava demorando pra meter essa menina no nosso meio, né?! PATRICK – Desculpa. Não vamos brigar por causa dela. É tão bom quando você dorme aqui, meu amor. SONOPLASTIA: TE AMO – RIHANNA. Patrick e Marcela começam a se beijar calorosamente. Ela percorre a língua por todo o pescoço dele, vai descendo, passando por seu peitoral, ela desce até o umbigo, passa a língua e olha maliciosamente para ele. Ela percorre a língua pelas genitais dele, que delira de prazer. Num gesto brusco, ele a puxa a beija e a coloca na posição de quatro. CLOSE no rosto de Marcela, que delira de prazer e faz movimentos leves para frente e para trás. Música cessa. CENA 18. COPABAR. CALÇADA. EXT. NOITE. Laura e Fábia estão saindo, quando Lu aparece na porta. LU (gritando) – Fábia, espera aí! LAURA – Vai lá atender sua namoradinha, Fábia. Fábia se aproxima de Lu. FÁBIA – Que bom te ver! A gente precisa conversar. LU – Tudo bem que a gente não tem nada. Tô ciente. Mas precisava esfregar essa mulher na minha cara? Precisa daquilo de manhã? Me senti usada, pior: descartada. FÁBIA – Você tá confundindo as coisas, Lu. LU – Não tô não. Tá tudo muito nítido. Fica lá com a sua coroa. Aproveita bastante dela. Lu vai saindo, quando Fábia a segura pelo braço. FÁBIA – Espera aí. LU – Dá pra me soltar? Fábia solta Lu e a olha com ternura. FÁBIA – Aquela ali é a minha mãe. Lu fica surpresa. FÁBIA – Eu nuca falei dela, porque foi traumático. E só vim com ela no CopaBar, pra poder conseguir com o Tony um emprego pra ela. Foi só isso. LAURA (gritando) – Bora, Fábia! Depois você conversa! LU – Eu fiz papel de idiota não foi? Fábia acaricia o rosto de Lu. FÁBIA – Depois a gente conversa melhor! Fábia dá um beijo no canto da boca de Lu e sai. CENA 19. SÃO PAULO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE. SONOPLASTIA: SAMPA – Caetano Veloso. Imagens suaves e lentas dos principais pontos turísticos da capital, desde o MASP, passando pelo Memorial da América Latina, o Theatro Municipal e terminando na frente de um imponente hotel, que ocupa toda a esquina de uma movimentada avenida. CENA 20. HOTEL SAN MARTINI. FACHADA. EXT. NOITE. Sonoplastia continua. CAM sobe devagar, mostrando a arquitetura moderna e muito bem iluminada, até chegar a uma grandiosa arte, com os dizeres: HOTEL SAN MARTINI DA COSTA. Ao lado, cinco estrelas douradas reluzem um amarelo-ouro bem nítido. Música cessa. CENA 21. HOTEL SAN MARTINI. RECEPÇÃO. INT. NOITE. Ambiente amplo, cores em tom pastel nas paredes. Carpetes em azul Royal vão desde a porta de entrada, até o balcão da recepção. Um imenso Lustre de cristal ilumina o ambiente. Fluxo grande de pessoas e funcionários pelo local. Anunciação adentra, seguida por um rapaz com uniforme do hotel. ANUNCIAÇÃO – Minhas malas estão no táxi lá fora. Faça a gentileza de pegá-las. RAPAZ – Não prefere que eu a acompanhe até a recepção? ANUNCIAÇÃO – Não precisa! Vá pegar minhas malas. RAPAZ – Como a senhora deseja! O rapaz sai em direção a rua. Anunciação chega ao balcão da recepção, onde se encontra uma moça jovem, uniformizada e bem maquiada. MOÇA – Boa noite! Bem vinda ao Hotel San Martini da Costa. O mais luxuoso e bem avaliado de toda a capital paulista. ANUNCIAÇÃO (amigável) – Boa noite! Desejo uma boa suíte. MOÇA – Nosso sexto andar tem as melhores suítes, mas creio que a senhora não vá querer ficar lá. ANUNCIAÇÃO – Por quê? Estão em obra? Já vou avisando que tenho rinite alérgica. MOÇA – Não é isso, nosso hotel está impecável. É que lá se encontram alguns executivos que vieram para uma convenção. E, a senhora pode ouvir muitos passos, conversas e até ouvir galanteios de empresários. Não é recomendado. ANUNCIAÇÃO – Mas vejam só que ironia do destino, também sou empresária. Vim para algumas reuniões. Não aqui, mas na cidade. Acho que esse ambiente executivo muito me atrai. Pode me instalar no quinto andar mesmo, querida. MOÇA – Como a senhora quiser. Só um minutinho que farei o seu check in. Anunciação se vira de costas para o balcão e sorri. CENA 22. APARTAMENTO FAMÍLIA QUEIRÓS. QUARTO. INT. DIA. Antônia vem do banheiro enrolada em um hobby. Com semblante de tristeza, ela se senta na beirada da cama e fica pensativa. ***INSERT DO FLASHBACK DO EPISÓDIO 02. CENA 08.*** PIETRO – Eu sempre fui diversão, não é? Não passei de um corpo, de um desejo sexual seu. Um dos tantos caprichos que a dondoca de Ipanema cultivava. E quer saber a verdade? Eu fiquei com aquela garota de ontem sim. Nós nos beijamos, nós transamos. E depois da transa, ela não foi embora ou inventou uma desculpa pra sair. Ela me chamou pra jantar com ela, pra fazer companhia. Pra conversar como qualquer casal faria. Como qualquer pessoa que se importa com o sentimento da outra faria. Taí a diferença entre vocês duas. Antônia começa a chorar. Pietro também chora. PIETRO – Eu acho que você nunca amou ninguém. Você precisa começar a se amar pra poder estabelecer qualquer tipo de relação com alguém, Antônia. ***FIM DO FLASHBACK*** SONOPLASTIA: A vida é um moinho – Beth Carvalho. Antônia deixa escorrer uma lágrima. ANTÔNIA (pra si) – Talvez você esteja certo. Talvez eu não saiba manter qualquer relação com ninguém. Antônia passa a mão por cima dos cabelos. Se levanta, vai em direção ao espelho e se olha por alguns instantes. ANTÔNIA – O que eu tô fazendo com a minha vida, meu Deus? Ainda bem que o Affonso tá viajando... Ele não merecia isso. Antônia se olha e deixa cair mais algumas lágrimas. CENA 23. HOTEL SAN MARTINI. CORREDOR. INT. NOITE. Música cessa. O elevador se abre e Anunciação sai com um cartão em mãos com o número 555. ANUNCIAÇÃO – Aquela recepcionista disse que eu não iria me perder. É só seguir reto. Último quarto à esquerda. Anunciação caminha até o final. Ela se aproxima de uma porta que está com o número 555 talhado nela. ANUNCIAÇÃO – É aqui! Agora vai ser duro pra achar a suíte do Affonso. Ela passa o cartão e a porta se abre. Ela entra. Quando vai fechar a porta, ouve o barulho do elevador se abrir. ANUNCIAÇÃO – Deve ser o lerdo do serviçal com minhas malas. Vai ficar sem gorjeta. Anunciação sai e vê Affonso entrando em uma suíte. Ela se abaixa e se esconde em um vaso de plantas próximo. Ele não a vê. ANUNCIAÇÃO (surpresa) – Então ele tá mesmo nesse andar. Preciso saber o número do quarto. Ouve-se o barulho da porta da suíte se fechando. Ela corre até lá e vê o número 550. ANUNCIAÇÃO – Então é aqui! CENA 24. COPABAR. SALÃO. INT. NOITE. Local vazio. Sem música. Lu e Diego se aproximam de Tony, que está vindo da cozinha. LU – Já terminamos, Tony! TONY – Que ótimo! Pode ir, Lu. Até amanhã. LU – Até amanhã, Tony! Tchau, Diego. DIEGO – Tchau! Lu sai. Tony não para de fitar Diego, que fica cabisbaixo. TONY – Como você avalia o seu dia, rapaz? DIEGO (olhando para o chão) – Acho que fui bem. Rapidinho eu pego a manha. Tony, delicadamente, pega no queixo de Diego e levanta. Fazendo-o ficar cara a cara com ele. TONY – Não precisa olhar pra baixo, se esconder, rapazinho. Eu fiquei te olhando o tempo todo, (olhando os músculos de Diego) analisado você, sua postura. E gostei! Diego sorri. TONY – Não costumo empregar alguém fixo, antes do prazo de 45 dias trabalhados, mas você será uma exceção. DIEGO (contente) – Essa é a melhor notícia. Preciso muito desse emprego. TONY – Seja meu parceiro e poderá ter grandes oportunidades. DIEGO – Como assim? TONY – Tá tarde e você tá cansado. Vá, rapaz. Aproveite e descanse bem. Amanhã me traga seus documentos e carteira de trabalho. Você é o novo funcionário fixo do CopaBar. No ímpeto, Diego abraça Tony e sai. Tony se escora numa parede e se abana. TONY – Isso é provação demais, meu Deus! Felipe vem da saída e se aproxima. FELIPE – Vamos, Tony! Tô com sono... Amanhã acordo cedo! TONY – Ih, seu ranzinza. Vamos sim. Tony e Felipe saem. CENA 25. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA. SONOPLASTIA: Empire State of Mind (Part II) Broken Down - Alicia Keys Um giro pela Zona Sul, mostrando seus principais pontos, desde a Praia de Copacabana, Avenida Vieira Souto e os enormes e charmosos prédios de Ipanema. Takes rápidos e pontuados. Música cessa. CENA 26. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA. Fábia está sentada a mesa, digitando algo no notebook. Mimi entra sem bater. MIMI – Que bom que já está aqui! Saiba que você respeita horários. FÁBIA (olhando pro notebook) – Você agora virou despertador? MIMI – Anunciação está em férias pelo sul do Brasil. Pediu para que euzinha ficasse no comando de tudo. FÁBIA – Você não comanda nem as suas próprias calcinhas, que dirá, comandar um jornal de grande circulação. Não sei por quais motivos a Anunciação te mantém aqui. Não é jornalista, não é secretária... Ah, já sei: é leva e traz. Isso deve ser fundamental para uma pessoa tão querida aqui dentro. Aliás, sua carteira é assinada como leva e traz ou como puxa-saco? Me bateu essa dúvida agora. MIMI – Você anda tão amargurada, Fábia. Deveria procurar uma terapia, sabia? Faz bem. Enaltece a alma. Fábia ri ironicamente, se levanta e se aproxima de Mimi. FÁBIA – Minha terapia tá aqui, meu bem: Escrever matérias. E olha que tenho credibilidade. MIMI – Credibilidade, credibilidade. Você pode ter credibilidade, pode ter status de jornalista. Mas no fundo você é só uma amargurada. Deve ter tido uma vidazinha medíocre, não é, sua órfã? Fábia dá um tapa em Mimi. FÁBIA – Eu tenho uma vida tão enfadonha, tão medíocre mesmo. Mas vejam só, você tá aqui. Tá tentando fazer parte dessa vida medíocre, tá tentando chamar a atenção de uma pessoa que te despreza. MIMI – Eu tenho ódio de você. FÁBIA – Cuidado! Muito ódio assim tende a ser amor encubado. Mimi bufa de raiva e sai da sala. O celular de Fábia toca. Close na tela com o nome “LAURA”. FÁBIA – O que será que ela quer? Fábia pega o celular e atende. FÁBIA (ao cel.) – Oi, Laura. O que você quer? LAURA (V.O) – Tá tudo bem aí? FÁBIA – Não! Mas é assim o clima aqui. LAURA (V.O) – Pensei em levar um almoço fresquinho pra você. Vou começar a preparar um empadão de frango com palmito. Sei que você gosta, não é? FÁBIA – Não precisa! Tô atolada de serviço aqui. Você nem conhece o Rio direito. Eu peço um sanduíche mesmo. LAURA (V.O) – Nada disso! Vou até o jornal e levo uma marmitinha pra você. Comida caseira e da boa. Fábia desliga o celular. FÁBIA (pra si) – Querendo bancar a boa mãe. A zelosa. Me poupe, se poupe, nos poupe. CENA 27. HOTEL SAN MARTINI. CORREDOR. INT. DIA. Anunciação sai de sua suíte e passa bem em frente a de Affonso, quando a porta se abra e uma camareira sai de lá. ANUNCIAÇÃO – Nossa, ainda bem que encontrei alguém que trabalha nesse andar. Entornei suco no meu lençol todo. Você poderia ver pra mim? CAMAREIRA – Claro! Só me deixa terminar de limpar este quarto antes que o doutor volte. ANUNCIAÇÃO – Ele não está? CAMAREIRA – Não. Acho que saiu cedo. Mas tive ordens pra limpar rápido, porque o doutor vai voltar. Com licença. A camareira se afasta. ANUNCIAÇÃO – Doutor. Esse povo cisma de chamar esse infeliz de doutor. Doutor é quem faz doutorado. E o doutorado do Afonso é em malandragem, isso sim! Anunciação toca o botão do elevador, que se abre e ela entra. CENA 28. GAZETA CARIOCA. SALA DA PRESIDÊNCIA. INT. DIA. Mimi, Fábia e várias outras pessoas estão na sala. MIMI – Chamei vocês aqui, para dizer que estão liberados. O expediente hoje está encerrado para vocês. Podem ir! Todos vão saindo, quando Mimi segura Fábia pelo braço. MIMI – Fábia, você fica. Quero uma matéria sobre o novo filme de Bela Acioli. FÁBIA – Vou pra casa, assisto e trago amanhã a minha crítica pronta. MIMI – Não! Eu quero aqui! Vai ficar aqui, assistir a merda do filme e fazer a droga da crítica sentada na sua cadeira, na sua sala. Já que é jornalista e eu sou uma leva e trás. Então, tô te dando ordem para cumprir a sua função, enquanto eu levo e trago a taça de champanhe até a minha boca na piscina do Copacabana Palace. FÁBIA – Não tô acreditando nisso! Eu vou ligar agora pra Anunciação. MIMI – Liga! Aproveita e liga daqui da redação. Fala pra ela que você tá se recusando a trabalhar. A matéria de amanhã já está fechada. E o povo do plantão tá no andar de cima. FÁBIA – Você me paga. MIMI – A Anunciação te paga. Eu só obedeço a ordens. Até amanhã, querida. Mimi sai. Fábia fica ali por um instante. Logo depois ela sai. CORTA PARA: ANTESSALA DA PRESIDÊNCIA. Fábia passa pelas repartições, tudo escuro, muito quieto. Ela entra em sua sala, cabisbaixa. CENA 29. STOCK-SHOTS. MORRO DO VIDIGAL. EXT. DIA. SONOPLASTIA: A CULTURA – SABOTAGE. Imagens da linda vista do Morro do Vidigal, contrastando com os barracos, as vielas, pessoas andando pelo local, camelôs, botecos animados, motoboys subindo e descendo, crianças correndo, brincando, evangélicas orando em uma igreja. Take final na ONG. MÚSICA CESSA. Cena 30. ONG FILHOS DA ARTE. SALA. INT. DIA. Antônia e Donna estão sentadas conversando. ANTÔNIA – E o cheque? DONNA – O dinheiro já está na nossa conta. ANTÔNIA – Que ótimo! A gente já pode pensar em licitação pra comprar materiais de música novos e construir uma biblioteca também. DONNA – Biblioteca pra quê? ANTÔNIA – A Marcela, minha amiga, é professora de literatura na UERJ e ficou encantada com o trabalho aqui da ONG. Quero muito que ela traga cultura pra essa gente. O Vidigal respira música, respira arte, mas precisa conhecer de verdade de onde tudo isso se originou. Essa noite pensei numas coisas também. DONNA – Pelo jeito você não dormiu. ANTÔNIA – E não dormi mesmo. Acertou. Aí fiquei bolando essas coisas. DONNA – Percebi quando você tirou os óculos. Tá com uma olheira imensa, mulher. ANTÔNIA – Desgraça pouca é bobagem, mulher! Aqui, pensei na gente fazer um show beneficente com os meninos da ONG. O que acha? Arrecadar uma grana e dar uma agitada nisso daqui. Quase um ano que eles não se apresentam. DONNA – Excelente ideia, Antônia. Vou falar com os meninos na aula. Aliás, tô atrasada já. Beijos. Donna sai. Antônia se levanta, sorri. ANTÔNIA – Ao menos isso daqui eu faço com amor. CENA 31. GAZETA CARIOCA. CORREDOR. INT. DIA. SONOPLASTIA: SUSPENSE. CAM Subjetiva vai andando bem devagar pelo corredor. Ao chegar próximo a sala de Fábia, uma luva preta com um canivete aparece e corta alguns fios próximos. Pouco depois, a mão com a luva risca a ponta de metal de um fio na ponta de metal de outro fio e começa um curto-circuito. CENA 32. HOTEL SAN MARTINI. CORREDOR. INT. DIA. Anunciação sai do elevador e para de frente para a porta da suíte de Affonso. ANUNCIAÇÃO – Quem sabe o que planta, não teme a colheita. Ela respira fundo e toca a campainha. CENA 33. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA. Fábia está digitando algo no computador. Ela para, olha o celular. FÁBIA – A Laura tá demorando tanto. Vou descer e comer um sanduíche. Ela olha em direção a porta e vê uma fumaça preta entrar pelas frestas. FÁBIA – Que isso? Ela se levanta e abre a porta, quando entra muita fumaça e uma labareda enorme impede a sua passagem. Fábia começa a tossir muito. FÁBIA (gritando/ entre tosse) – Socorro! Alguém me ajuda! Socorro! Imagem congela no desespero de Fábia. |
||
|
||
autor Wesley Alcântara
elenco |
||
.aaa.
|
.aaa. | |
Navigation
Comentários: