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Garotas do Rio - Capítulo 07

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CAPÍTULO 07
 
     
 
 
 

VOZ DE MARCELA – Anteriormente em Garotas do Rio... 

 


ANUNCIAÇÃO –
E qual é o furo de reportagem?

LAURA (andando) – Esse você vai ficar sem, querida.

 


AFFONSO –
Você esqueceu uma coisa comigo.

ANUNCIAÇÃO – Provavelmente a dignidade.

 


FÁBIA –
Aquele por quem você se apaixonou? É isso?

ANTÔNIA – Antes do rompimento, eu juro pra você que tinha controle da situação. Não vou negar que sempre gostei dele. Mas era um gostar sem tanta importância. Era um gostar mais sexual. Era só sexo.

FÁBIA – Sem compromisso?

ANTÔNIA – Era. Eu acho que era. Aí, de repente, eu vi o quanto estar longe dele era desesperador. O quanto vê-lo com outra mexia comigo.

FÁBIA – E ainda veio a situação do bebê, né?!

 


LAURA – Você e aquele garçonzinho de lesco-lesco. Que nojo. Só não via quem não queria. Você se insinuando, olhares maliciosos, caronas altas horas da noite, fala adocicada.

TONY – Você não tinha o direito de fazer isso.

LAURA – Nem pra ir prum motel. Transavam naquele pardieiro do almoxarifado. Entre roupas sujas, poeira. Você dá pinta de elegante, mas desce o nível por qualquer par de calças.

 


LAURA –
O que você tá fazendo aqui?

MARCELA – Eu acho que sessenta mil reais não foi o suficiente. Você precisa ser recompensada a altura. É pra isso que eu tô aqui.

 


CENA 01. COPABAR. BANHEIRO FEMININO. INT. NOITE.

Laura olha surpresa para Marcela, que se aproxima.

LAURA – Você não deveria estar aqui. Que eu me lembre não a convidei.

MARCELA – Mas eu sou amiga do Tony, sou amiga da sua filha. Não precisei ser convidada pela anfitriã da festa. Me fiz presente assim mesmo.

Marcela tranca a porta do banheiro.

LAURA (séria) – Destranca essa porta, garota. Tá pensando que vai fazer o que comigo?

MARCELA – Tá com medo, Laurinha? Eu fiquei alguns dias naquele casebre e você não se importou.

LAURA – Cala a tua boca. Se essa história sair daqui, menina, eu juro que.../

MARCELA (por cima) – Jura o quê? Que vai me matar? Que vai mandar me sequestrar outra vez? Que vai barbarizar com a minha vida?

Laura fica ainda mais séria e se aproxima de Marcela.

LAURA – Você sabe que eu não prometo, eu cumpro!

As duas se olham sérias.

CENA 02. COPABAR. SALÃO. INT. NOITE.

MÚSICA AMBIENTE: Empire State of Mind (Part II) Broken Down Alicia Keys.

A festa continua. Muita movimentação, ambiente glamourisado. Tony se aproxima de Fábia e Antônia.

TONY – Cadê sua mãe, Fábia? A Gazeta Carioca quer falar com ela.

FÁBIA – Quem veio? Mimi ou Anunciação?

TONY – Galinha velha mandou a garnisé. Mimi tá circulando por aí.

Tony se afasta.

FÁBIA – Amanhã vão falar mal horrores da festa. Anunciação tá voltando aos tempos de fuzilar Deus e o mundo.

ANTÔNIA – Poxa, uma pena a Marcela não vir, né? A festa tá linda.

FÁBIA – Às vezes ela só se atrasou.

Em Fábia, olhando o ambiente.

CENA 03. COPABAR. BANHEIRO FEMININO. INT. NOITE.

Laura e Marcela estão se olhando sérias.

LAURA – Já fez sua ameaça? Já latiu tudo que tinha? Agora abre a porta pra mim. Isso não é um pedido.

Marcela debocha.

LAURA – Você não sabe do que sou capaz, garota.

MARCELA – E não sei mesmo. Uma pessoa que mente pra família, que se aproveita das pessoas, que comete crime em nome de dinheiro, eu não sei do que é capaz.

LAURA – Você não sabe mesmo. Se soubesse, não estaria aqui me desafiando.

MARCELA – Eu não vim aqui pra te desafiar. Eu vim aqui pra isso.

Marcela dá um murro no rosto de Laura, que bate com o rosto na quina da pia e cai no chão.

LAURA – Vagabunda!

Marcela se abaixa e começa a desferir vários tapas sobre o rosto de Laura.

MARCELA – Pelas mentiras que você conta pra Fábia.

Fábia dá um soco no nariz de Laura.

LAURA – Me larga que eu te arrebento, sua imunda.

MARCELA – Não arrebenta nada. Você se garante com seu comparsa, mas no mano a mano você é fraca. Não se aguenta sobre os próprios pés.

Marcela dá um tapão em Laura.

MARCELA – Esse daqui é por você quase ter estragado meu casamento.

Marcela se levanta, meio exausta e dá alguns chutes no rosto de Laura.

MARCELA – Minha vontade é te matar, mas a morte seria um descanso e eu quero ver você castigada.

Marcela se ajeita no espelho, enquanto Laura permanece imóvel caída no chão.

MARCELA – Se você ousar tentar algo contra mim, saiba que eu gravei um vídeo onde eu conto tudo sobre você e o Nenzin.

Marcela termina de se recompor e destranca a porta.

LAURA (com dificuldade) – Isso não vai ficar assim.

MARCELA – Tem razão. Vai ficar inchado, roxo e muito dolorido. Aproveite sua festa, monamour.

Marcela sai. Close em Laura. A roupa rasgada, cabelo desgrenhado e rosto todo ensanguentado.

CENA 04. COPABAR. ÁREA DOS BANHEIROS. INT. NOITE.

Marcela e Donna estão por ali conversando.

DONNA – Não acredito que você fez tudo isso.

MARCELA – Ela merecia.

DONNA – Vamos embora?

MARCELA – Tá louca, mulher? Vamos aproveitar a festa. Tô sequinha numa tequila. Tô com a alma leve.

DONNA – Só tenho medo dessa mulher voltar e fazer coisa pior.

MARCELA – Eu ainda não terminei as surpresinhas do aniversário dela, Donna. Tem o grand finale.

Close em Marcela, convicta.

CENA 05. AP ANUNCIAÇÃO. SUÍTE. INT. NOITE.

Anunciação e Affonso estão seminus deitados na cama.

ANUNCIAÇÃO – Sabe quando você vai se estrepar pela segunda vez, mas decide aproveitar o momento? Estou com essa sensação.

AFFONSO – Você sempre me julga mal.

ANUNCIAÇÃO – Estamos percorrendo o mesmo caminho, Affonso. Eu servindo de amante até você resolver olhar a situação de outra forma. Adivinha quem vai pra escanteio?

AFFONSO – Não sei se as coisas entre mim e a Antônia vão bem. Nosso casamento viveu tempos turbulentos. Mas ele vem sendo um marasmo infinito.

ANUNCIAÇÃO – Talvez vocês estejam sendo mais amigos do que amantes, não acha?

AFFONSO – Pode ser.

Affonso vira-se para Anunciação e a beija calorosamente.

 
     

 

     
   
 
REVELAÇÕES
     
 

CENA 06. COPABAR. ALMOXARIFADO. INT. NOITE.

Diego está por ali pegando algumas toalhas, quando Laura entra, bastante machucada.

DIEGO (surpreso) – Laura?

LAURA (com dificuldade) – Me ajuda a sair daqui, gigolozinho.

DIEGO – Sai você sozinha. Tô numa situação complicada por sua causa. Posso ser demitido, ter minha imagem denegrida.

LAURA (com dificuldade) – Pensasse nisso antes de seduzir e depenar um veado velho. Toda ação tem sua reação. Agora chama um táxi pra mim, ou então, eu vou mostrar um filmezinho bem pornográfico naquele telão lá no salão. A decisão é sua.

Closes alternados nos dois.

CENA 07. APÊ DE MARCELA E PATRICK. SALA INT. NOITE.

Patrick está deitado no sofá quando a campainha toca.

PATRICK (pra si) – Já é a Marcela? Será que esqueceu de levar a chave?

Patrick se levanta e abre a porta. Close em sua reação de surpresa.

PATRICK (boquiaberto) – Você?

Das Dores entra no apartamento. Está trajando um vestido vermelho sensual, maquiagem bem carregada e cabelos soltos.

DAS DORES – Desde que casou nunca mais me procurou. O que aconteceu?

PATRICK – Marcela e você nunca se deram bem. Eu tinha que escolher um lado.

DAS DORES – Sucumbiu ao pedido da esposa, foi? Preferiu se afastar das amizades de infância?

PATRICK – Eu não me afastei, dei um tempo. Vivendo uma coisa de cada vez.

DAS DORES – Você deixou que a nossa amizade se perdesse por um mero capricho da sua esposa.

PATRICK – Não é capricho. Eu entendi que a vida agora é ela e eu.

DAS DORES – Então quer dizer que eu não caibo mais na sua vida?

Das Dores se aproxima de Patrick, segura forte em seu rosto. Os dois se encaram.

DAS DORES (cochichando) – Você não tem qualquer sentimento por mim, Patrick?

Close nos dois se encarando.

CENA 08. COPABAR. SALÃO. INT. NOITE.

SOM AMBIENTE: FESTA DAS PATROAS – MARÍLIA MENDONÇA E MAIARA E MARAÍSA.

Várias pessoas circulando pelo ambiente. Fábia, Marcela e Antônia estão sentadas em uma mesa conversando.

MARCELA (incrédula) – Mentira que você fez isso, Antônia?

ANTÔNIA – Fiz. Tô mais aliviada, amiga. O fardo se torna mais leve quando é dividido. Joguei na sorte: era tudo ou nada.

MARCELA – Mas como ele reagiu?

ANTÔNIA – Da forma mais fofa possível.

Antônia dá um sorriso meigo.

MARCELA – Não me diz que você tá apaixonada por esse homem? Amiga isso é um erro.

FÁBIA – Mas ela tá apaixonada sim. Tanto que voltaram.

MARCELA – Não acredito?

ANTÔNIA – Eu vou passar uns dois dias em Petrópolis filmando uma participação numa novela. Lá eu vou poder colocar os pensamentos em ordem e vou ver o que eu decido.

Fábia olha ao redor como se tivesse procurando alguém.

ANTÔNIA – Tá procurando alguém, Fábia?

FÁBIA – A minha mãe sumiu, cês repararam nisso?

MARCELA – Às vezes ela foi tomar um arzinho ou resolveu sair com algum pretendente. Eu a vi perto da área dos banheiros conversando com um rapaz bem bonitão.

FÁBIA – Ela só falava nessa festa, acho estranho ela ter ido embora, mas enfim...

A música para, o bar fica todo escuro e ilumina-se o palco.

Corte descontínuo para o palco, onde Tony está.

TONY – É com grande satisfação que chamo agora ao palco a queridíssima Donna Fox, que é cantora e faz um belíssimo trabalho lá no Vidigal, na ONG Filhos da Arte.

Todos aplaudem. Donna sobe ao palco, abraça Tony, que sai em seguida.

DONNA – Essa música que vou cantar agora é uma regravação que fiz e vai sair no meu CD novo que gravei com outras cantoras aqui no Rio. O CD chama-se Garotas do Rio. Vamos lá, DJ?!

Donna começa a cantar a música “Porta Aberta”, sucesso de Luka. Tempo nela cantando.

CENA 09. APÊ DE MARCELA E PATRICK. SALA INT. NOITE.

Patrick se afasta de Das Dores.

PATRICK – Acho melhor você sair daqui. Marcela vai voltar daqui a pouco de uma festa e não vai gostar nada de te encontrar aqui e você sabe disso.

DAS DORES – Então quer dizer que a esposinha saiu pra se divertir enquanto o bobo fica em casa criando raiz?

PATRICK – Amanhã cedo eu tenho treino. E você sabe que eu nunca saio em véspera de treino.

DAS DORES – Sei. Eu só vim aqui pra me despedir, mas você tá me expulsando da sua casa como fez comigo em sua vida.

Patrick olha surpreso para Das Dores, que finge uma tristeza.

PATRICK – Se despedindo? Como assim?

DAS DORES – Eu tô indo pra Nova Iorque. Consegui um contrato de seis meses pra desfilar por uma agência de lá. Meu voo é amanhã de manhã. E como sempre fomos amigos, verdadeiros confidentes, eu fiz questão de me despedir pessoalmente. Talvez eu decole na carreira e demore a voltar pro Brasil e queria um último abraço, queria que me desejasse boa sorte.

Patrick passa a mão pelos cabelos, desolado.

PATRICK – Nossa, como eu fui um otário. Tô fazendo papel de imbecil aqui com você.

DAS DORES – Tranquilo. É nessas horas que a gente vê quem são nossos verdadeiros amigos, não é verdade?

Patrick fica cabisbaixo.

PATRICK – Quero me desculpar. Como é que posso reparar esse erro?

DAS DORES – Fazendo aquele gin tônica que só você sabe fazer. Brindar a minha ascensão na carreira de modelo.

PATRICK – Mas é pra já, vou preparar pra gente. Senta aí no sofá e vai me contando tudinho.

Das Dores sorri e se senta.

CENA 10. CONDOMÍNIO DE LUXO. PORTARIA. EXT. NOITE.

Laura desce do táxi com dificuldade e se encaminha para o interior do condomínio. O porteiro a vê e se aproxima.

PORTEIRO – Dona Laura, que estado é esse que a senhora se encontra?

LAURA – Foi uma gangue. Tentaram me assaltar, acredita?

PORTEIRO – A senhora precisa ir a um hospital, fazer uns curativos. Avisou a polícia?

LAURA – Se polícia resolvesse alguma coisa acha que a cidade estaria desse jeito? De seis em seis meses tem porcaria de concurso pra policia, pra guarda municipal. E do que adianta? A bandidagem tomou conta dessa cidade.

PORTEIRO – A senhora não pode pensar assim. A cidade tem solução ainda.

LAURA – Fico com pena dessa mentalidade mixa do proletariado. Vocês não vão subir na vida nunca.

Laura vai saindo.

CENA 11. APARTAMENTO ANUNCIAÇÃO. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Affonso está terminando de abotoar sua camisa, quando Anunciação se aproxima e lhe rouba um beijo.

ANUNCIAÇÃO – Tem certeza que precisa ir?

AFFONSO – Você sabe que sim. A Antônia tá numa festa de aniversário, mas logo estará em casa. Eu prometi que não iria sair.

Anunciação bufa, mas logo depois sorri e ajeita a gola da camisa de Affonso.

AFFONSO – Eu volto.

ANUNCIAÇÃO – Na condição de amante?

AFFONSO – Você sabe que não é fácil se separar. Há muita coisa envolvida.

ANUNCIAÇÃO – Sentimentos não são.

Affonso a beija.

CENA 12. APARTAMENTO DE ANUNCIAÇÃO. HALL. INT. NOITE.

Laura vem subindo as escadas.

LAURA (resmungando) – Condomínio de luxo onde? Maldito elevador que não funciona.

Quando Laura está terminando de subir as escadas, ela se depara com Affonso e Anunciação chegando ao hall, mas não a veem. Laura se esconde atrás de uma pilastra.

Do PV de Laura, vemos os dois se abraçando. Close neles.

ANUNCIAÇÃO – Queria tanto que você dormisse aqui comigo.

AFFONSO – Antônia vai viajar pra uma gravação. Teremos nosso tempinho juntos.

Affonso e Anunciação se abraçam mais forte e se beijam. Close em Laura com um celular a postos tirando fotos.

LAURA (pra si) – Mas eu devo estar cagada de urubu mesmo. É muita sorte, muita mesmo. Quem diria que a jornalista durona seria amante do maridinho da atriz canastrona.

Close na tela do celular de Laura com a imagem de Anunciação e Affonso se beijando.

CENA 13. APÊ DE MARCELA E PATRICK. SALA INT. NOITE.

Patrick entrega uma taça com gin tônica para Das Dores e se senta próximo a ela.

DAS DORES – Nossa! Não vai me acompanhar nem um pouquinho na bebida?

PATRICK – Não posso, Das Dores. Amanhã é dia de treino. Tenho que estar com meu corpo cem por cento.

DAS DORES – Não acredito que um mísero copinho de gin tônica vai atrapalhar seu rendimento.

Das Dores se levanta e vai em direção a cristaleira de bebidas.

PATRICK – O que você fazer?

DAS DORES – Vou preparar um uísque pra você. É mais fraquinho. Só pra brindar comigo. Depois eu vou embora e você descansa, pode ser?

Patrick sorri e assente com a cabeça.

Das Dores tira um frasquinho de dentro do sutiã, sem que Patrick perceba e pinga umas gotinhas no copo, que em seguida ela coloca o uísque.

DAS DORES (entregando o copo) – O melhor uísque da sua vida. Vai te dar sorte.

Patrick pega o copo e toma o líquido todo numa golada só. Das Dores apenas sorri.

CENA 14. COPABAR. SALÃO. INT. NOITE.

MÚSICA AMBIENTE: Empire State of Mind (Part II) Broken Down Alicia Keys.

A FESTA CONTINUA. Local cheio, pessoas tirando selfies, rindo, bebendo, dançando. Close na mesa de Marcela, Fábia e Antônia.

FÁBIA – A minha mãe desapareceu mesmo. Pra onde será que ela foi?

MARCELA – Curte a festa por ela, Fábia. Não adianta ficar nessa morosidade. Ela saiu, não saiu? O que nos resta é aproveitar essa festa linda que o Tony fez pra gente.

ANTÔNIA – E se a gente experimentasse cantar um pouco?

Marcela e Fábia olham surpresas para Antônia.

ANTÔNIA – Subir naquele palco e cantar pros convidados como a Donna fez.

MARCELA – Mas a Donna é cantora profissional. Tá acostumada.

ANTÔNIA – Olha que ironia, Marcela: você tá aí reclamando da morosidade da Fábia, mas se recusa a sair da sua morosidade. Se recusa a tentar algo novo, experimentar novas sensações.

MARCELA – Não é isso, mas eu acho que.../

Antônia se levanta e sai puxando Fábia e Marcela, que se levantam meio a contragosto e se encaminham em direção ao palco.

CORTA PARA O PALCO.

A luz se acende, as três sobem e sorriem. Tony entrega um microfone a cada uma.

ANTÔNIA (microfone/ao público)– Eu queria pedir a colaboração de vocês. Nós três não somos cantoras, não ensaiamos nenhuma música, muito menos desejávamos estar aqui até cinco minutos atrás.

MARCELA (microfone/ao público) – Não verdade eu desejo sair correndo.

O público ri. As luzes se apagam, ficando somente a iluminação do palco.

As três começam a cantar a música What’s Up - 4 Non Blondes.

Tempo na canção, até que elas encerram e são ovacionadas.

CENA 15. APÊ DE MARCELA E PATRICK. SALA INT. NOITE.

Patrick está deitado no sofá, em sono profundo. Das Dores ajoelha-se perto dele e lhe dá um beijo na boca.

DAS DORES – Eu aturei ser sua amiga tempo demais. Agora acabou. Vamos ver se a sem sal da professorinha vai me roubar você outra vez.

Das Dores coloca Patrick no chão e começa a retirar sua roupa, até que ele fique nu. Ela se despe e deita-se ao seu lado.

CENA 16. AP LAURA. SUÍTE. INT. NOITE.

Laura vem do banheiro enrolada em um penhoar vermelho e senta-se de frente para o espelho e começa a fazer curativos no rosto. Nesse momento, Nenzin entra.

LAURA (se levantando) – Onde é que você estava esse tempo todo?

NENZIN – Ei, calma! Não vai nem me dar um beijo?

Nenzin dá um selinho em Laura e olha todo o quarto.

NENZIN – Apartamento pica, hein, Laurinha. Mó grandão, todo cheio das fineza. Até tive que apresentar identidade lá na portaria. Quem te alugou isso? Deve ser uma baba esse aluguel. Sua filha tá bancando isso? Aposto que é pra se ver distante de você.

LAURA – Você sumiu, né. Pegou o dinheiro do resgate daquela songamonga e sumiu.

Nenzin olha bem para Laura e se espanta.

NENZIN – Sua filha te agrediu? Você tá bastante machucada.

LAURA – Foi aquela infeliz da Marcela. Mas o que é dela tá guardado, pode apostar.

NENZIN – Eu voltei pra Valença. Paguei umas dívidas, dei um tempo aqui do Rio, esperei esfriar as coisas.

LAURA – Custava me falar? Aposto que gastou dinheiro com biscate.

NENZIN – Que isso, Laurinha. Só tenho olhos para você. Tu sabe bem disso.

Laura sorri e vai pra dar um beijo em Nenzin, mas morde com força o lábio dele.

NENZIN – Ai caralho! Que isso, mulher? Tá ficando maluca?

LAURA (séria) – Cê sabe que posso ser bem pior do que isso, né? E sabe do que tô falando.

NENZIN – Somos parceiros de vida.

LAURA – Eu tenho uma novidade bem boa pra você. Aliás, pra gente. Pros parceiros de vida.

NENZIN – E qual seria?

LAURA – Eu vou depenar uma galera grande. Eu descobri segredos violentos, você não tem noção.

NENZIN – E não é perigoso? Se sua filha descobrir?

LAURA – Fica calmo, Nenzin. Eu tô com tudo sob controle. A gente vai ter vida de marajá sem precisar mover uma palha. Cola em mim que o sucesso é garantido.

Laura começa a rir. Nenzin a abraça e começa a rir também.

CENA 17. APÊ DE MARCELA E PATRICK. SALA INT. NOITE.

Marcela abre a porta e vê Patrick e Das Dores dormindo nus no chão da sala.

MARCELA (em choque) – Não pode ser.

Marcela chora, até que Das Dores acorda e finge surpresa.

DAS DORES – Marcela?

MARCELA – Então você conseguiu o que queria, não é?

Marcela vai até a mesa e vê copos de bebida.

MARCELA – Precisou embebedar o Patrick para ter o que queria?

Das Dores ri e se levanta.

DAS DORES – Eu sempre tive o que queria. Te ludibriar é mais fácil do que andar sobre os próprios pés, sabia?

Num ato de fúria, Marcela arremessa um copo contra Das Dores, mas acaba acertando a parede.

DAS DORES – Que fúria.

Patrick acorda meio zonzo.

PATRICK – O que tá acontecendo aqui?

MARCELA – Quero vocês dois fora da minha casa. Vão buscar safadeza noutro lugar.

PATRICK – Alguém pode me explicar o que acabou de acontecer aqui?

MARCELA – Você e esse ser promiscuo, bêbados, pelados, no chão da minha sala. Quer outra explicação?

DAS DORES – Sua esposa entendeu tudo errado, Patrick.

MARCELA – Eu passei anos entendendo tudo errado. Anos sendo ludibriada. Vocês são uns canalhas, insensíveis.

Patrick olha sério para Das Dores.

PATRICK – O que você armou dessa vez?

MARCELA – Não joga a culpa na sua concubina, canalha. Você tem mais culpa do que ela. Me trair debaixo do nosso teto? Logo com ela?

PATRICK – Mas eu não fiz nada, Marcela. Eu lembro de ter tomado apenas um uísque pra comemorar a nova fase da Das Dores e depois....depois eu apaguei.

MARCELA – Que historinha mais estapafúrdia, Patrick. Eu esperava tudo, menos isso de você.

Marcela abre a porta.

MARCELA – Quero os dois fora daqui. Agora!

Das Dores sai.

PATRICK – Deixa eu falar?

MARCELA – Sua conversa agora será com meu advogado. Em alguns dias o pedido de divórcio vai chegar pra você.

Patrick pega seu celular e carteira na mesinha e sai. Marcela pega a roupa deles e joga no hall.

CENA 18. APÊ DE MARCELA E PATRICK. HALL. EXT. NOITE.

Das Dores e Patrick pegam a roupa e começam a se vestir.

MARCELA – Vocês se merecem. Que engulam um ao outro.

Close em Marcela, expressão dura.

CENA 19. STOCK SHOTS. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: UMA LOUCA TEMPESTADE – ANA CAROLINA.

Imagens do amanhecer do Corcovado, o tempo nublado dando lugar ao sol que desponta. A suavidade das ondas da Praia de Copacabana.

MÚSICA CESSA.

CENA 20. AP ANUNCIAÇÃO. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Anunciação está sentada no sofá mexendo em seu tablet, quando a campainha toca. Ela abre a porta e fica surpresa.

ANUNCIAÇÃO – Mas não seria a mãe viva-morta da minha melhor jornalista?

CAM mostra Laura, sorriso cínico.

LAURA – Não vai me chamar pra entrar?

ANUNCIAÇÃO – Eu tô de saída. Aliás, não sei como deixaram a senhora subir sem ser anunciada.

Laura dá um esbarrão em Anunciação e entra.

LAURA – Senhora? Nós duas regulamos idade. Claro, tô mais conservada, mas nada que um bom Botox não tire esses seus pés de galinha aí.

Anunciação fica séria e fecha a porta.

ANUNCIAÇÃO – O que você quer?

LAURA – Lembra da bomba que eu tinha?

ANUNCIAÇÃO – Que você soterrou. Disse que não iria contar, aliás, não contou.

LAURA – Eu acompanho seu jornal há muito tempo, Anunciação Bragança. Eu sei da sua rixa com a Antônia, que por sinal é uma excelente atriz.

ANUNCIAÇÃO – Veio aqui exaltar a Santa Antônia? Acho que tenho um presépio com pedestal ali na área de serviço. Vou te dar e você coloca a imagem dela.

Laura debocha e senta-se no sofá.

ANUNCIAÇÃO – Você não é bem vinda aqui.

LAURA – Antônia tá grávida.

Anunciação fica paralisada, surpresa.

LAURA – Por essa você não esperava, né?

ANUNCIAÇÃO – Você tá blefando.

LAURA – E eu ganharia o que inventando isso?

ANUNCIAÇÃO – Você quer me fazer sofrer, quer espezinhar. Pra vingar toda humilhação que eu fiz a Fábia passar, não é?

LAURA – Essa gravidez é sigilosa. Nem o próprio marido sabe.

Anunciação respira fundo e fica cabisbaixa.

LAURA – Fica calma, queridinha. Essa não é a maior bomba.

ANUNCIAÇÃO – Como assim? Acho que tudo desmoronou aqui pra mim. Só pode.

LAURA – Se você me der um cheque de trinta mil reais, eu te conto algo que pode soterrar com a carreira, com o casamento, com toda a vida de Antônia Assumpção Queirós. Tá disposta a pagar?

Laura se levanta. Closes alternados nas duas.

CENA 21. AP DE FÁBIA. SALA. INT. DIA.

Fábia está tomando café, sentada a mesa, quando a campainha toca. Ela se levanta e vai atender. No ímpeto, Marcela entra chorosa.

FÁBIA – Marcela, o que houve?

MARCELA – Meu mundo desabou, amiga. Eu tô no chão.

FÁBIA – É algo relativo ao sequestro?

MARCELA – O Patrick. Eu peguei o Patrick na cama com a Das Dores.

Fábia fica visivelmente surpresa, leva a mão até a boca, tentando tapa-la.

CENA 22. AP ANUNCIAÇÃO. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Anunciação está apoiada na mesa assinando o cheque, enquanto Laura olha a paisagem do apartamento pela enorme parede de vidro.

ANUNCIAÇÃO – Acho bom essa bomba ser realmente explosiva. Caso contrário, eu susto esse cheque no minuto seguinte.

Anunciação vai até Laura e entrega o cheque.

ANUNCIAÇÃO – Tá aqui!

Laura pega o cheque, sorri e o beija.

ANUNCIAÇÃO – Desembucha logo. Não tenho tempo a perder.

LAURA – Eu falo, mas tem mais uma condição.

ANUNCIAÇÃO – Você já está com uma quantia considerável. O que mais você quer? Eu não vou ceder a chantagens.

LAURA – Quero que você publique a notícia que eu vou lhe dizer agora. E, melhor, que faça isso na coluna da Fábia.

ANUNCIAÇÃO – O que você pretende com isso.

LAURA – Quero acabar de uma vez por todas com essa amizade entre a Fábia e a Antônia. E o que eu vou dizer agora, atrelado a coluna dela no jornal, minha querida, pode apostar que elas se tornam inimigas mortais. Tipo Coréia do Norte versus Coréia do Sul.

Anunciação sorri.

ANUNCIAÇÃO – Exterminar essa amizade muito me interessa, Laura. Pode contar comigo para isso.

LAURA – A Antônia está grávida. Acontece que ela tem um amante. E ela não sabe se esse filho que ela está gerando é do corno do Affonso ou desse amante aí. Tá bom pra você ou quer mais?

Anunciação fica chocada. Ela cai de joelhos no chão e levanta os braços e começa a gritar de felicidade.

ANUNCIAÇÃO (gritando/feliz) – Obrigada, meu Deus! Obrigada por tudo!

LAURA (saindo) – Valeu pelo dinheiro. Aguardo ansiosamente a coluna da Fábia.

Laura sai. Anunciação sorri, cai no chão. Chora de felicidade.
PLANO ALTO. Anunciação paralisada no chão, sorriso no rosto.

CENA 23. AP DE FÁBIA. SALA. INT. DIA.

Marcela está sentada no sofá, muito abalada. Fábia vem da cozinha com um copo d’água em mãos e entrega a Marcela.

FÁBIA – Bebe essa água e tenta se acalmar. Você tá muito nervosa.

MARCELA – Eu não consegui pregar o olho. Como que eu nunca desconfiei?

FÁBIA – Você tem certeza?

MARCELA – Eu peguei os dois nus, no chão da sala. Estavam suados. Como é que eu não me liguei antes?

FÁBIA – O que você vai fazer?

MARCELA – Vou voltar pro meu apê antigo. Ainda bem que não vendi. Eu não quero ver aquele cafajeste nunca mais na minha vida.

Marcela se levanta, anda de um lado para o outro.

MARCELA – Eu sabia que ela tinha segundas intenções com ele, que se jogava, mas pra mim não iria passar disso. Porque ela provocava, é fato, mas ele não correspondia. Na minha frente ele não correspondia. Ver os dois lá, deitados no chão, totalmente pelados. Foi uma mistura de ira com decepção, talvez o pior sentimento que uma mulher apaixonada pode ter.

FÁBIA – Você precisa se acalmar. Seria bom tirar uns dias da UERJ e da ONG e ir pra outro lugar fora do Rio, o que acha?

MARCELA – Eu vou fazer isso mais tarde. Antes eu tenho outras coisas importantes pra resolver. Aliás, já tá quase na hora. Marquei com uma conhecida.

Marcela abraça Fábia.

MARCELA – Obrigada pelo apoio e desculpa esse furacão todo.

FÁBIA – Pode sempre contar comigo. Somos amigas. Eternamente amigas.

Marcela sorri.

CENA 24. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: ELA É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO.

Takes de pessoas correndo pela orla iluminada. Bares agitados com jovens, muito riso. Take final num prédio imponente e de alto padrão, de frente para a praia de Ipanema.

MÚSICA CESSA.

CENA 25. APARTAMENTO FAMÍLIA QUEIRÓS. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

CAM abre em Wanessa, sentada no sofá lendo algo no tablet. Antônia vem vindo do quarto, enrolada num hobby vermelho e se senta ao lado de Wanessa.

ANTÔNIA – Bom dia!

WANESSA – Bom dia. Meu tio está?

ANTÔNIA – Affonso foi cedo pra empresa. Disse que perdeu muitos dias cuidando dos problemas dos outros. Mas e você, o que lê aí?

WANESSA – Tava dando uma vasculhada no site da Gazeta Carioca. Vendo se Anunciação continua destilando seu veneno.

ANTÔNIA – E achou alguma coisa importante?

WANESSA – Nada. O jornal dela anda bem caidinho, sabia?

Antônia se levanta, olha a vista pela janela.

ANTÔNIA – Tenho medo desse silêncio dela. Silêncio de quem tá caçando algo pra me derrubar.

Wanessa larga o tablet e se aproxima de Antônia.

WANESSA – Ela pode caçar até do outro lado do mundo. Não vai encontrar nada que te desmoralize.

ANTÔNIA – Será? Eu acordei com a intuição de que uma bomba vai explodir a qualquer momento.

WANESSA – Que bomba?

ANTÔNIA – Quem viver...verá!

Close na expressão fria de Antônia.

CENA 26. AEROPORTO TOM JOBIM. EXT. DIA.

Das Dores desce de um táxi com suas malas e se encaminha para o interior do local. Em seguida, Patrick estaciona seu carro e vai atrás.

CENA 27. AEROPORTO TOM JOBIM. SAGUÃO. INT. DIA.

Das Dores anda pelo local, indo em direção ao balcão de atendimento, quando Patrick a segura firme pelo braço. Close nele, expressão muito séria, sombria.

DAS DORES (surpresa) – Patrick?

PATRICK – Vagabunda!

DAS DORES – Deixa eu me explicar.

PATRICK – Piranha!

DAS DORES – Não era a minha intenção, Patrick. O que eu queria era apenas ter um.../

PATRICK (por cima) – Você não presta, nunca prestou.

DAS DORES – Me larga. Tô indo embora. O caminho tá livre pra sua mulherzinha.

Patrick puxa Das Dores a força para o meio do saguão. Todos começam a olhar, a fotografar e filmar.

PATRICK (gritando) – Essa mulher aqui, pessoal, é uma vadia de marca maior. Sabiam? Maria das Dores Guimarães é uma puta. Puta sim. Puta e truqueira, como diria a minha vó. Sabe o que ela fez comigo?

DAS DORES (chorando) – Para, por favor!

PATRICK (gritando) – Ela era minha amiga de infância. Considerava como irmã. Sabe o que essa safada fez? Me dopou e tirou a minha roupa, se deitou nua ao meu lado e esperou a minha mulher fazer o flagrante. Ela destruiu o meu sonho de viver ao lado da mulher que sempre amei. Ela foi baixa, foi reles, foi suja. Em nome de uma obsessão que eu nunca alimentei.

Das Dores chora muito, enquanto as pessoas olham e filmam.

PATRICK (gritando) – Vocês acham certo isso? Acham que essa mulher merece ir fazer a vida dela no exterior, depois de ter destruído meu casamento, depois de ter acabado com a minha dignidade. Acham certo essa mulher sair impune?

Patrick joga Das Dores no chão. Enquanto as pessoas filmam, uma mulher de meia idade, loura, muito chique se aproxima, Das Dores a olha.

DAS DORES – Leonora? Desculpa o meu atraso. Esse homem louco me pegou pra Cristo, eu já estava indo pra plataforma de embarque.

LEONORA – Guarda as suas mentiras junto com seu passaporte, Das Dores. Pra minha agência de modelos você não vai mais. Nem pra minha e nem pra de ninguém do ramo da moda. Eu vou escancarar o seu mau-caratismo pra todo mundo.

Leonora se afasta. Das Dores chora de raiva.

CENA 27. GAZETA CARIOCA. FACHADA. EXT. DIA.

Imagem da imponente fachada do jornal.

CENA 28. GAZETA CARIOCA. SALA DA PRESIDÊNCIA. INT. DIA.

Anunciação está digitando algo no computador, expressão de felicidade.

Mimi entra.

MIMI – Com licença, chefa querida.

ANUNCIAÇÃO – Liga pra imprensa e avisa que eu tenho uma bomba na página online do jornal.

MIMI – E que bomba é essa?

ANUNCIAÇÃO – Antônia está grávida e não sabe se é do amante ou do marido. Eu demorei, mas consegui desmoralizar essa vagabunda.

MIMI – E publicou em qual coluna? Foi matéria de capa?

ANUNCIAÇÃO – Eu retirei todas as outras notícias do ar, só deixei a coluna da Fábia. Dei até o dia de folga pra ela.

MIMI – Isso quer dizer que.../

ANUNCIAÇÃO (pro cima) – Que pra todos os efeitos, quem escreveu foi a nossa excelentíssima jornalista Fábia Bueno.

Mimi sorri. Close final em Anunciação, altiva.

CENA 29. COPABAR. SALÃO. INT. DIA.

Fábia entra e se aproxima de Lu, que está varrendo.

FÁBIA – Oi, Lu. Tudo bem?

LU – Tranquilo. Se tu veio atrás da sua mãe, pode dar meia volta.

FÁBIA – O que tá acontecendo?

LU – Sua mãe não aparece aqui há dias. Tony nem fala nada. Só me tacou mais serviço em cima.

FÁBIA – Tem alguma coisa estranha nisso. Mas, eu vou subir e falar com o Tony. Saber onde minha mãe está.

LU – Ele foi ali na esquina falar com um fornecedor. Cinco minutos tá de volta, mas a sala dele tá aberta. Pode ir pra lá.

Fábia se afasta.

CENA 30. COPABAR. SALA DE TONY. INT. DIA.

Fábia entra e se senta numa cadeira próxima a mesa. Ela olha pro tempo, pras paredes, até voltar seu olhar para a mesa, que tá toda desorganizada.

FÁBIA – Não adianta, o Tony vive desorganizado. Por isso perde tanta nota fiscal.

Fábia começa a separar os papeis, até que pega um e começa a ler.

FÁBIA (lendo) – Transação bancária de Marco Antônio do Nascimento para Laura Bueno. Trinta e cinco mil reais?

Fábia fica muito surpresa. Nesse instante, Tony entra.

TONY – Lu me disse que você queria falar comigo. O que é, minha flor?

Fábia vira-se para Tony com o papel em mãos.

FÁBIA (séria) – Que história é essa de você transferir trinta e cinco mil reais pra conta da minha mãe?

TONY – Eu posso explicar...

FÁBIA – Fez festão de aniversário, tá ajudando no aluguel da nova moradia, deu dias e mais dias de folga, transferiu trinta e cinco mil reais pra conta dela. Algo de muito sério tá acontecendo aqui, Tony. E você vai me contar tudinho.

Closes alternados.

CENA 31. AP LAURA. SALA. INT. DIA.

Laura e Nenzin estão sentados no sofá tomando champanhe.

LAURA – Consegui arrancar trinta mil daquela patroa da Fábia. Imagina só quanto não vou conseguir, quando fizer as chantagens com as fotos.

NENZIN – Você soube dominar o jogo direitinho.

LAURA – Esse pessoal que cerca a Fábia é muito burro. Basta alguém com um pouquinho de inteligência e malícia, que pronto: domina todo o rebanho.

NENZIN – Achei arriscado você expor a atriz lá.

LAURA – Ela que acabou se expondo, meu querido. Foi ela que saiu dando a torto e a direito sem preservativo. Deu no que deu. Ela tava afim de se jogar da ponte, eu só dei o empurrão final.

Laura e Nenzin riem e brindam. A campainha toca.

LAURA – Deve ser a Anunciação. Toda pomposa.

Laura abre a porta e desfaz o sorriso, ficando cada vez mais séria. Marcela entra.

MARCELA – Vim trazer seu presente de aniversário, Laurinha.

Nesse instante, Sirlene (morena, 40 anos, roupas sensuais, maquiagem forte) entra. Laura fica surpresa, Nenzin fica embasbacado.

SIRLENE – Tá lembrada de mim, Laurinha? Tô na área, se derrubar é pênalti.

Closes alternados: em Nenzin embasbacado pela beleza de Sirlene, em Marcela sorridente, Em Sirlene altiva e em Laura assustada.

CENA 32. COPABAR. SALA DE TONY. INT. DIA.

Tony sentado chorando. Fábia compadecida.

TONY – E foi assim que a sua mãe conseguiu todos esses privilégios. Eu tô com vergonha de você, tô com nojo de mim. Sei que me arrisquei, mas eu precisava te falar.

FÁBIA – Aquela mulher não mudou nada. E eu me deixei levar pela lábia dela. A vontade de ter uma mãe era tão grande, que eu não vi que estava chocando o ovo da serpente. Ela me usou, tá te usando, e daqui a pouco usa outra pessoa.

TONY – O que você vai fazer?

FÁBIA – Eu vou acertar as minhas contas com ela. Depois de quinze anos, Laura Bueno precisa acertar contas com o passado e o presente.

Fábia sai em disparada.

CENA 33. APARTAMENTO FAMÍLIA QUEIRÓS. SUÍTE DO CASAL. INT. DIA.

Antônia está terminando de fechar uma mala, quando Wanessa aparece assustada diante dela com o tablet em mãos.

ANTÔNIA – Pronto. Malas arrumadas. Podemos ir pra essa gravação da novela.

Wanessa continua calada, reação de susto.

ANTÔNIA – O que foi, Wanessa? Viu um fantasma por aí?

Wanessa entrega o tablet na mão de Antônia.

CLOSE na tela do tablet: Imagem de Antônia editada com um barrigão de gestante e com o título na notícia: “ATRIZ ESTÁ GRÁVIDA E NÃO SABE SE O PAI É O MARIDO OU O AMANTE”

Antônia vai ficando pálida, reação de pânico.

CENA 34. AP LAURA. SALA. INT. DIA.

LAURA (a Sirlene) – O que é que você tá fazendo aqui, projeto de rapariga?

Sirlene sorri e se aproxima dela.

SIRLENE – Você foi embora de Valença tão de repente. Bateu saudade.

LAURA – No mesmo ônibus que tu veio, tu vai voltar. É bem melhor pra você.

MARCELA – A Sirlene me procurou poucos dias depois do meu sequestro. Ela disse que ouviu no noticiário e deduziu que poderia ser obra sua, já que eu sou amiga da Fábia.

SIRLENE – E a minha suspeita se concretizou. Você realmente armou um sequestro pra arrancar dinheiro desse pessoal.

LAURA – E vocês vão fazer o quê? Eu peguei essa trouxa aí mesmo. Nenzin e eu bolamos o plano de sequestrar essa imunda no dia do casamento dela pra obter um bom dinheiro.

Nesse instante Fábia entra, completamente surpresa.

FÁBIA – Então quer dizer que você é a mandante do sequestro? Que esse tempo todo você estava articulando uma melhor maneira de dar golpes? Você, minha mãe?

Fábia olha para Laura com os olhos marejados. Laura a olha surpresa.

Closes alternados nas duas se olhando. A tela junta metade do rosto de Laura e metade do rosto de Fábia, formando uma nova face.
 
     

 

     

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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