FADE
IN:
-
Sobre um fundo negro ouvimos uma VOZ:
São eles: Damien;
ABRE EM:
CENA
01. EXT. – ST. GEORGE HOTEL – PALCO – NOITE:
A IMAGEM abre num palco pouco
iluminado. De repente a luz do holofote cai sobre um vulto vestido de
negro. É DAMIEN GREY, o guitarrista e vocalista.
LEGENDA:
Auckland,
Nova Zelândia, turnê de 1966. Palco Montado ao ar livre em frente
ao St. George Hotel.
Uma SALVAS de PALMAS e GRITOS
histéricos são OUVIDOS. PLANO GERAL da plateia, mostra uma MULTIDÃO
em sua grande maioria mulheres e enlouquecidas.
Intercalar o PLANO DETALHE da boca
do apresentador quando fala ao microfone com CORTES RÁPIDOS nas
demais apresentações.
APRESENTADOR:
Lenny;
A luz abre sobre o vulto do
guitarrista base e vocal de apoio LENNY HIDE. Ele joga um beijo para
uma fã. A menina desmaia, e é socorrida por enfermeiros.
APRESENTADOR:
Scott;
Agora a luz ilumina o vulto do
baixista SCOTT THORN. Ele tem um cigarro pendendo no canto da boca e
DEDILHA surpreendentemente algumas notas no baixo. O PÚBLICO delira.
APRESENTADOR:
Cliff.
E por fim, a luz cai sobre o vulto
de CLIFF CASTEVET, que ao dar um “tchau” para o público,
desajeitado derruba acidentalmente um prato e um chimbau de bateria.
E ao se curvar para apanhar os objetos, pisa no pedal e sem querer
RIBOMBA o bumbo da bateria. Desesperadoramente sem jeito, ele coloca
os instrumentos em seus devidos lugares.
APRESENTADOR:
T-h-e B-r-i-t-i-s-h
B-o-y-s
PLANO GERAL do palco, todos
integrantes da banda vestem ternos negros com suas respectivas
gravatas slim negras. Cliff bate uma baqueta contra a outra, na
marcação de: um, dois, três. Damien se aproxima da margem do palco
e de forma amalucada toca um RIFF na guitarra. A GALERA vibra também
de forma amalucada. Depois de um tempo os outros instrumentos entram
no ritmo, cada um fazendo seu papel.
--NOTA:
A música que eles vão apresentar é da Banda Kinks, a original
canção: “You Really Got Me”. Porém, ao decorrer da série
todas as canções tocadas de outras bandas, faremos de conta que
pertence aos The British Boys.
Damien retorna para o centro do
palco e canta ao microfone.
DAMIEN: Girl,
you really got me goin'. You got me so I don't know what I'm doin'
LEGENDA:
Garota,
você realmente me pegou indo. Você me pegou, então, eu não sei o
que estou fazendo.
DAMIEN:
Yeah, you really got me
now. You got me so I can't sleep at night.
LEGENDA:
Sim,
você realmente me pegou agora. Você me pegou, então, não consigo
dormir à noite.
Uma FÃ sobe no palco, despista os
SEGURANÇAS, beija Lenny na boca ao mesmo tempo que o derruba no
chão. Os seguranças retiram a moça enquanto ela chora e esperneia.
Lenny se ajunta a Damien ao microfone. Enquanto Cliff e Scott fazem o
fundo da música com alguns scat de voz, por exemplo: la dum ba dum
pa.
DAMIEN
& LENNY: Yeah, you
really got me now. You got me so I don't know what I'm doin', now.
LEGENDA:
Sim,
você realmente me pegou agora. Você me pegou, então, eu não sei o
que estou fazendo, agora.
Na emoção do toque da bateria,
Cliff deixa cair seu par de óculos. Tem certa dificuldade de
enxergar onde bater quase errando a marcação. PLANO FECHADO em
Cliff, seu nervosismo é evidente. Scott tem a áurea envolta de
fumaça, em razão do cigarro, com muito estilo Scott dedilha o baixo
e desce em meio à MULTIDÃO.
DAMIEN & LENNY: Oh
yeah, you really got me now. You got me so I can't sleep at night.
LEGENDA:
Oh
yeah, você realmente me pegou agora. Você me pegou, então, não
consigo dormir à noite.
Damien e Lenny, ambos chacoalham as
cabeças feitos loucos. O PÚBLICO faz o mesmo enquanto grita e pula.
Damien, Lenny e Scott, se alinham um do lado do outro, descendo e
subindo o braço de seus instrumentos.
DAMIEN & LENNY: You
really got me. You really got me. You really got me.
LEGENDA:
Você
realmente me pegou. Você realmente me pegou. Você realmente me
pegou.
Os três saltam no ar.
CORTE BRUSCO PARA:
CENA
02. EXT. – CÉU – NOITE:
A IMAGEM abre na imensidão do céu
apresentando nuvens em formação de chuva, um RELÂMPAGO risca os
céus, seguido do RIBOMBAR de um trovão
LEGENDA:
Espaço
aéreo da Inglaterra.
Subitamente um AVIÃO Boeing 707
saído do meio das nuvens vem NOSSA DIREÇÃO e passa por cima da
NOSSA VISÃO num jato.
CORTA PARA:
CENA
03. INT. – AVIÃO BOEING – POLTRONA – MESMA NOITE:
O CORTE
é feito diretamente no
reflexo de Damien na superfície espelhada da janela de moldura
circular. Ele espia o tempo lá fora.
DAMIEN: Vem
uma baita chuva por aí!
Damien solta um suspiro de
insatisfação e depois lança o corpo contra as costas do assento.
DAMIEN: Eu
odeio viajar de avião!
Damien se agarra aos braços da
poltrona, aperta os olhos e respira fundo. Mas, os seus movimentos
indicam muita tensão.
LENNY: (fora da tela):
Fica frio, cara!
O QUADRO se abre para revelar Lenny
sentado na poltrona ao lado.
LENNY: Quantas
vezes viajamos de avião e não aconteceu nada? Ainda mais no nosso
avião particular. Mora?
Damien balança a cabeça como se
concordasse com a colocação de Lenny. Mas, mesmo assim, Damien
sustenta cara de quem está muito apreensivo. Lenny apanha um
espelho, examina sua a imagem e depois passa um laquê para cabelos.
LENNY: Aquela
desgraçada beijoqueira quase acaba com o meu cabelo. Espelho.
Espelho, meu. Alguém tem cabelo mais bonito que o meu?
CLIFF (fora da tela): Sim,
o cara que te comeu.
LENNY: Vai
se foder!
Lenny ataca algo fora da NOSSA VISÃO.
NO OUTRO LADO
extremo do avião. Estão Cliff e
Scott, sentado em outras poltronas. Ambos se envergam te tanto rir.
Damien faz cara de quem não acha menor graça.
CLIFF (encara Damien): Relaxa,
Damien. Foram poucos os famosos que morreram em acidentes de avião,
cara. (pausa) Buddy
Holly, The Big Bopper, Ritchie Valens...
LENNY (cortando-o): Você
não está ajudando.
Damien fulmina Cliff com o olhar.
Scott resmunga algo incompreensível. Mas, que faz sentido só para a
banda, porque o restante assente com a cabeça.
LENNY:
Concordo plenamente,
Scott.
De repente, o avião sofre uma
turbulência. Todos se entreolham e dão uma risadinha sem graça,
como se transmitisse um: “Não foi nada”. Damien passa a mão
sobre o peito. O avião começa a chacoalhar de novo e dessa vez não
para. Eles ficam nervosos e entram em pânico. Uma AEROMOÇA surge em
CENA acompanhada
de um HOMEM.
AEROMOÇA: Tenham
calma, rapazes. É apenas uma turbulência. Já vai passar.
Eles balançam a cabeça
concordando.
HOMEM: Vocês
acham que Deus iria deixar acontecer alguma coisa com você? Vocês
precisam se preparar para o show de amanhã, ok?
DAMIEN: Beleza,
Gary! Você é o melhor empresário que tivemos. Você nos acalma
sempre. Valeu.
Cessa a turbulência.
GARY: Viram?
Parou. É por causa da chuva.
INSERÇÃO – TURBINA DO AVIÃO
O SOM de uma falha do motor da
aeronave, que provoca uma parada da HÉLICE. Outra turbina ainda
consegue trabalhar por 5 segundos e depois para também. O RABO do
avião quebra.
VOLTA À CENA
Com o EMUDECIMENTO repentino da
turbina, a cabine se inclina, e todos podem OUVIR o ASSOBIO do avião
caindo quando rasga o ar em alta velocidade. Cliff e Scott se
agarram, numa típica cena à la Scooby Doo e Salsicha. Gary e a
Aeromoça, são lançados ao fundo do avião. A despressurização
invade o avião, as máscaras de oxigênio caem automaticamente do
teto diante ao assento. Damien aperta a mão de Lenny e os dois se
encaram como se transmitisse um “último adeus”
CLIFF:
Eu não posso morrer, eu sou virgem. (chora)
Eu não posso morrer sem
antes comer um pastel de pelos…
De todos, Cliff é o que grita mais,
ainda por cima escandalosamente. Num efeito digital, a CÂMERA entra
na sua boca e mostra AMÍGDALA estremecendo na garganta. A cena cai
para negro de tela com os gritos dele ao fundo.
FADE OUT.
FADE
IN:
CENA
04. INT. – CENÁRIO DO ACIDENTE – INFERNO - MANHÃ
A imagem abre na linha vertical do
rosto de Damien. Ele está desacordado. Subitamente seus olhos se
arregalam. A CAMERA ajusta o ângulo da imagem invertendo o PLANO
para meio ângulo horizontal. PERCEBEMOS que Damien tem o rosto
afundado ao chão.
O QUADRO se abre para revelar os
demais integrantes da banda também caídos em meio aos escombros de
uma casa e aos destroços do avião. Acima deles um imenso buraco se
abriu ao teto. Um a um, vão se levantando lentamente. Limpam a
poeira de suas vestes com auxílio das mãos.
CLIFF (grita): Estamos
vivos! (se ajoelha de olhos
fechados e com as mãos aos altos)
Glória a Deus!
Scott com o cigarro amassado e
pendendo num canto da boca, funga o ar, e resmunga algo parecido
como: Q che es? Quando fala quase não move os lábios. Todos
entreolham-se e fitam Cliff.
CLIFF (grita):
O que vocês acham? Eu caguei nas calças, porra!
Um
ECOANTE “psiu” como se expressasse: ”silêncio, por favor” é
ouvido de todos os cantos do lugar.
NO
OUTRO LADO
Em meio à sombra surge a silhueta
de uma mulher. PRIMEIRÍSSIMO PLANO PERFIL do rosto ainda
obscurecido.
VOLTA À CENA
A MULHER aparece por completo. Do
alto de seus 60 anos. Trajada em um extravagante longo vestido
vermelho com fenda lateral e baia rodada que vai até o chão,
cobrindo os pés. Vamos referir-se a ela como: LUCY FERRIS
PLANO MASTER do lugar.
LENNY: Deve
ser uma fã. (olha para
Cliff) Acho que você está
com sorte hoje para desencalhar.
Cliff faz o famoso gesto com dedo do
meio.
LUCY: Fã
é o diabo que te carrega!
Damien se adianta na direção dela.
DAMIEN: Quem
é você?
LUCY: Ah,
tolinho! Ainda não caiu a ficha?
Lucy solta uma gargalha e depois
desfila até eles.
LUCY (alisa o rosto de Damien):
Minhas crianças, vocês morreram.
DAMIEN: Não
pode ser.
LUCY: A
propósito, respondendo sua pergunta: eu sou Lucy Ferris, o Diabo em
pessoa.
DAMIEN (ri para si mesmo): Ah,
tá! Então, aqui é o inferno?
LUCY: Sim,
anta. (encara cada um
deles) Mariquinhas, vocês
pensaram que o inferno era o quê? Um hotel de luxo?
Scott cochicha algo no ouvido de
Damien, antes mesmo de Damien se pronunciar, Lucy responde.
LUCY: Acham
que sobreviveriam a uma queda daquelas, e ilesos? Olhem em volta: os
destroços, não há nenhum corpo, e nenhuma outra alma, é claro, a
não ser as de vocês.
Damien alisa o queixo com a mão,
como se estivesse analisando a possibilidade. Cliff vai até Lucy e
para diante dela.
CLIFF:
Mas, onde estão as chamas? As torturas? E os gritos?
LUCY (estapeia o ar): Aín,
que mania de achar que o inferno é de fogo. Isso é uma crença
cultural. (pausa) Isso
tudo aqui é a projeção mental de vocês, a última coisa que viram
antes de morrerem. (pausa)
Modéstia à parte, o
inferno é muito mais bonito.
Lucy estala os dedos, e de repente,
num EFEITO DIGITAL de TRANSIÇÃO, o CENÁRIO do acidente ao redor
deles modifica para...
TRANSIÇÃO PARA:
CENA
05. INT. - ESCRITÓRIO DE LUCY – MANHÃ
É
uma sofisticada sala, que faz o uso do inteiramente branco nas
paredes, nas poltronas de acrílico e na dupla de mesas de centro de
mármore que sustenta um antigo GRAMOFONE e uma luminária de
cristal. Atônitos e boquiabertos, os rapazes olham tudo em volta
maravilhado.
LENNY: Caralho,
que porra foi essa! (pausa)
Eu tenho de parar de fumar
maconha.
Lucy se senta e faz sinal para que
eles também se sentem. Após um tempo, todos se sentam. Lucy cruza
as pernas, a fenda lateral do vestido desliza pelas curvas de uma das
pernas e parte da coxa e do quadril fica à mostra. Lenny cresce os
olhos e solta um sorrisinho safado. Eis que a roupa de Lucy,
transforma-se num conjunto de terno: blazer e calças brancas. Lenny
chacoalha a cabeça.
LUCY: O
vestido de gala era só para recebe-los. (pausa)
Desejam algo? Estão com
sede?
Os rapazes fazem que não.
LUCY: Pois,
eu estou. (fala ao telefone
sobre o criado-mudo próximo à sua poltrona) Marie
Claire, traga-me o chá da manhã.
Lucy volta à atenção para os
rapazes e sorri.
LUCY: Vocês
venderam as almas, por muito sucesso, grana e mulheres.
DAMIEN: Mas,
como assim? Quando?
LUCY: Naquela
noite, no Havaí, após as filmagens do filme de vocês: Loucuras
Havaianas.
Lucy ri debochadamente.
INSERÇÃO – PRAIA NO HAVAÍ
Damien, Lenny, Scott, Cliff,
juntamente com quatro GAROTAS, dançam nus à beira da praia em
torno de uma fogueira. Os únicos acessórios utilizados pelo grupo
são: coroas de flores e colares havaianos. Fazem tudo isso enquanto
bebem, tropeçam e seguram garrafas de bebidas.
LENNY (grita): Danuh,
queremos: fama, sucesso e mulheres.
E todos repetem sucessivamente por
várias vezes.
VOLTA À CENA
LUCY: Naquele
momento que vocês dançaram e invocaram o demônio Danuh. Vocês
pediram tudo aquilo que queriam e eu lhes dei.
LENNY (contesta): Mas,
o demônio Danuh, foi invenção minha.
LUCY: Sim,
eu sei. Porém, toda e qualquer coisa que envolva o adjetivo
relacionado, é de propriedade minha. (pausa)
Desculpem, direito
autorais cedidos pelo livre-arbítrio do Criador.
CLIFF (afunda as mãos nos
cabelos): Mas, nós
estávamos bêbados. Falaríamos qualquer absurdo.
Cliff entra em desespero e começa a
andar de um lado para o outro.
DAMIEN: Não
precisa assinar um contrato?
LUCY (retorce os olhos): Os
tempos são outros, mentecapto. Vocês selaram o contrato
verbalmente.
CLIFF: Vamos
queimar no fogo do inferno.
LUCY: Na
verdade, vão catalogar almas para o resto da vida.
A porta da sala se abre, e MARIE
CLAIRE entra, e por sinal é uma mulher muito bela. Ela está vestida
de enfermeira e segura uma bandeja com uma xícara. Lenny seca a moça
dos pés à cabeça e solta um sorrisinho safado. Marie Claire parece
gostar do olhar e compartilha do mesmo sorrisinho safado.
MARIE CLAIRE: Com
licença, Madame. Seu chá.
LUCY: Está
um pouco atrasada, não acha?
MARIE CLAIRE: Desculpe-me,
Madame.
A moça coloca a xícara de chá
sobre a mesa.
LUCY: Vai,
vai, vai! Eu não quero “ver mais a sua cara”.
Marie Claire se apressa para sair,
mas, antes se vira para dar um tchauzinho para Lenny, o ROSTO dela
sumiu, Lenny se assusta num salto.
LENNY: Vocês
viram aquilo?
DAMIEN: Aqui
é o quê? Uma espécie de hospício?
LUCY (balança a cabeça): Muito
bem colocada a sua questão. Demônios não passam de almas
dementadas e perturbadas por suas transgressões.
Lucy apanha alguns torrões de
açúcar, joga na xícara, mexe com uma colher de chá, leva a xícara
à boca e dá uma profunda golada e fecha os olhos passando bastante
satisfação. Coloca a xícara de volta à mesa, levanta-se, caminha
até a uma enorme janela e se dispõem a olhar para fora. Cliff ainda
continua a andar de um lado para o outro.
LUCY: Querem
fazer o favor de acalmar o seu amigo!
Lenny puxa Cliff para se sentar,
mas, Cliff não quer. De repente inicia uma briga muito engraçada
entre os dois, com direito a socos e pontapés. Scott intervém, mas,
recebe um soco sem querer, e cai na briga também.
LUCY: Eu
tenho uma proposta.
Damien se levanta, vai até ela e
olha para fora também.
DAMIEN: Qual?
LUCY (grita): Querem
parar!
Os
três param e ficam atracados de forma engraçada. Levantam-se e se
ajuntam à Lucy e Damien à janela. Lucy se volta para os quatro.
LUCY: Como
eu dizia: tenho uma proposta. (cruza
os braços à altura do peito) fugiram
666 almas de Túndalo, a nona esfera. A pior ala que existe neste
lugar. (pausa)
Se vocês me trouxerem os 666 demônios que fugiram de Túndalo.
(encara cada um deles) Eu
lhes devolverei as almas e lhes darei de volta à vida. Sãs e
salvos. Como se nada disso tivesse acontecido.
Os rapazes se entreolham, os rostos
apresentam receio, os movimentos são de vacilação, mas, depois de
algum segundo todos concordam com um gesto de cabeça.
DAMIEN: Está
bem. O que temos de fazer?
LUCY: Vou
logo dizendo: isto não será uma tarefa fácil. Visto que, cada
pessoa condenada a Túndalo perde a capacidade de sentir amor,
felicidade, esperança ou qualquer coisa além de crueldade e
miséria. Há tempo atrás também fui assim.
Scott
oscila algo no pé do ouvido de Lenny.
LENNY: Certo.
Mas, como é que é que vamos fazer isso?
Scott arqueia as sobrancelhas para
Lucy como se perguntasse: “e aí?”.
LUCY: Vamos
ao salão escuro.
Lucy estala os dedos num EFEITO
DIGITAL todos se deslocam numa VERTIGINOSA VIAGEM para a...
CORTE BRUSCO:
CENA
06. INT. – SALÃO ESCURO – TEMPO INDEFINIDO:
É um espaço inteiramente negro:
sem chão, parede, janelas ou teto. Cliff se lava de vômito.
LENNY: Mas,
que nojo!
CLIFF: Você
queria o quê? Mas, que droga! Eu sou sensível.
LUCY (abre os braços): Lhes
apresento: o arsenal maldito, onde se esconde os mais terríveis
instrumentos e armas malignas.
No espaço entre Lucy e os Rapazes,
surge uma esteira móvel e luminosa. Depositados sobre elas, inúmeros
tipos de objetos estranhos, que passam diante deles. Lucy olha com
muita atenção, como se escolhe a dedo. Eis que apanha um deles.
LUCY: Entregarei
a você, Scott. (mostra)
Este isqueiro de Chama Negra. A chama dele é azul quando usado,
porém, quando um demônio está próximo, a sua chama fica negra.
Levante o isqueiro à altura dos olhos dele e você verá os seus
verdadeiros olhos e face.
Lucy joga o objeto a Scott. Ele o
apanho no ar e examina o objeto.
PONTA
DE VISTA DE SCOTT
É
um objeto que tem a superfície dourada, um dos versos possui gravado
a imagem do crânio de uma caveira e a inscrição: “Você perdeu”.
VOLTA À CENA
Scott acende o cigarro amassado e
agradece por meio de gemido. Lucy volta o olhar para esteira, espera
e escolha outro objeto.
LUCY: Entregarei
a você, Lenny. Este Espelho de Narciso, é no qual vocês irão
aprisionar a alma dos demônios. E em seguida deve destruí-lo e o
espelho restituirá novamente. O espelho faz com que aparece o número
de cela, no formato de uma chama na testa do demônio caçado. A
imagem horrível representa o que eles são por dentro, pois, o
verdadeiro demônio está dentro de cada um de nós, e em breve vocês
saberão disso.
Lucy atira o espelho em direção a
Lenny, este apanha o objeto no ar e o examina.
PONTO DE VISTA DE LENNY
Um espelho circular com a moldura
enfeitada por diversos pequenos crânios de caveiras. A imagem dele
oscila na superfície espelhada, é como se olhássemos a nossa
imagem na água.
VOLTA À CENA
Lenny se olha no espelho e joga a
sua mecha de cabelos para o lado.
LUCY: Mas,
tome muito cuidado com ele, pois, um efeito hipnotizante e
controlador.
Lucy agora apanha da esteira uma
CASE para guardar guitarra e entrega para Damien.
LUCY: E
por último para Você, Damien: A Balada da Morte.
Damien tenta abrir a caixa negra,
mas, não consegue.
PLANO DETALHE DA CAIXA
Possui um mecanismo de travas com
senha de três algarismos. O dedo de Damien, faz rolar “0” até
“6” na primeira fileira, repete a ação na segunda e terceira
fileiras. Um CLICK é ouvido. A caixa se abre revelando uma guitarra
deitada sobre uma espuma vermelha. A base da guitarra é feita de:
crânio, vértebras cervicais, costelas e estrutura ósseas das mãos
de uma caveira.
VOLTA À CENA
Damien desliza a mão suavemente
sobre o instrumento, nos passando até um momento de contemplação.
LUCY: As
cordas do violão são feitas de fios dos meus cabelos. Ela tem um
som hipnotizante quando tocada, imobilizando os movimentos e anulando
todos os poderes do demônio caçado.
CLIFF: e
eu?
LUCY: Você
não recebe nada. Todo mundo sabe que o baterista não é tão
importante. Você não vê o Ringo, dos Beatles?
Cliff balança a cabeça desnorteado
e concorda. Scott coloca a mão ombro do amigo e resmunga algo. Cliff
sorri para ele.
LUCY: Agora
vou marcar vocês com: A Marca da Besta, ela dará a vocês
habilidades sobre-humanas.
CLIFF (se adianta): Eu
vou receber uma?
LUCY: Você
não precisa. Você já é uma besta.
Cliff abaixa a cabeça com olhar
triste. Lucy estende a mão espalmada contra os rapazes. Ela aperta
os olhos. Alguns segundo passados, os rapazes gritam e se envergam de
dor, de dentro de suas camisas saem fumaças. Os quatro abrem os
botões da camisa, no peito esquerdo de cada um: há gravado três
riscos verticais enfileirados como uma cicatriz de queimado, como se
causada por um ferrete em brasas.
CLIFF (ainda resmungando de dor)
Por que você mesma não
os captura?
LUCY: Sua
besta, se pudesse eu mesma faria, não acha? Darrr! Você acha que o
Criador me deixaria bordar e pintar. Senão a terra seria um
manicômio. É por isso que existe o inferno. O livre-arbítrio é
uma falsa liberdade. Tudo é feito com a vontade do Criador. Nem
anjos e muito menos demônios “devem” interferir na vida dos
mortais sem o consentimento do Homem lá de cima.
CLIFF (olha para cima): Quem
aí em cima? Será que não é o meu ex-senhorio? Ele morreu e morava
no andar de cima. Não podia se fazer nada no apartamento sem seu
consentimento.
LENNY: Seu
burro. Ela está falando de Deus.
Um ZUNIDO de alta frequência se
espalha pelo ar. Todos tampam os ouvidos e fazem careta de dor,
inclusive Lucy.
DAMIEN: O
que foi isso?
LUCY: Darrr!
Estamos na primeira esfera aos redores do inferno. Pelo amor de
D***... mas, que diabo! Não podemos pronunciar esse nome aqui e nem
qualquer outro lugar. Nem um de vocês podem. Vocês agora pertencem
à uma classe de demônios conhecida como: Semônicos. Literalmente
semi-demônios. E porquanto, cada mente vive seu próprio inferno,
pois, é um estado de sentimento de culpa.
DAMIEN: Semônicos?
LUCY: Sim.
Não sou eu quem transforma as pessoas em demônios, mas, sim as
ações dessas pessoas. E o estágio de processo transmôniaco se dá
início na terra e não no inferno.
Scott vai até Damien e balbucia
algo no ouvido dele.
DAMIEN: Mas,
ainda não conseguimos entender. (pausa)
Com essas criaturas soltas
no mundo, não lhe traria mais almas para o inferno?
LUCY: Entenda,
eu não trabalho com contagem. Eu já lhes falei. Eu trabalho com
condenação e reabilitação. Você não sabe do que eles são
capazes. Estamos falando de: assassinos no maior grau de psicopatia.
Vão matar por puro prazer. E estas transgressões afetarão o
equilíbrio natural das coisas. Tudo precisa de equilíbrio, é assim
que a coisa funciona. (pausa)
LENNY: Mas,
você disse que nem anjos e demônios devem interferir na vida de
mortais?
LUCY: Sim,
eu disse. Mas, eu disse: que não “devem”. Ou seja, poder pode,
mas, não se deve. Faz parte do equilíbrio. E essas criaturas são
desobedientes e não seguem conforme as regras. (pausa)
Vocês são uma espécie de patrulha demoníaca. Como a polícia que
estabelece lei e ordem, mesmo porque o delegado nunca vai a campo. E
ainda por cima vocês continuam conectados ao mundo dos vivos.
(entediada) Mais
alguma pergunta?
Todos fazem que não.
LUCY (coloca a mão na cabeça):
Já estava me esquecendo.
Como
num passe de mágica, um livro de capa negra aparece nas mãos dela.
LUCY (para Cliff): Isto
aqui é para a banda. Mas, vou deixar aos seus cuidados. Ok?
Lucy lhe entrega o livro. E Cliff
fica feliz feito criança quando ganha um brinquedo.
LUCY: É
um demonote. Um prontuário contendo a ficha técnica de todas as
almas internas no inferno.
CLIFF: Muito
obrigado, Dona Diabo!
LUCY (entrelaça os dedos): Ah,
eu sempre quis ser empresária. E já que dizem que o Diabo é o pai
do rock. De agora em diante vocês passam a ser: A Banda do Diabo.
(sorri satisfeita) Bem,
para mais dúvidas e maiores esclarecimentos é só me ligar no
número: 666-6666. Boa caçada!
Lucy estala os dedos e os rapazes
desaparecem instantaneamente numa nuvem de fumaça contra o ar. Lucy
gargalha e FECHA no rosto dela.
FADE OUT.
|
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