TEASER
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EXT. OCEANO - DIA:
Vários navios SEAS cruzam-se, navegando lentamente. Uma música suave ao fundo.
VOZ FEMININA (V.O.)
Você vai se apaixonar com todas as nossas acomodações, luxo e, acima de tudo, prazer. (pausa) Embarque conosco!
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INT. PRÉDIO SEAS - SALA DE REUNIÕES - DIA:
ZOOM-OUT de uma TV, que exibe a cena anterior, logo desfocada e dando espaço a grande logo de SEAS.
Ali, estão Orlando, Búlgaro, Clark, Luciano, Ril (empresário do episódio 1/TEASER) e outros engravatados, de pé, às palmas. Sentam-se, enfim.
BÚLGARO
E então, o que acharam?
RIL
Eu estou, realmente, surpreso com os investimentos.
ORLANDO
E por que não fazer parte de nosso navio?
RIL
É... É um caso a se pensar.
Todos riem.
ORLANDO
Ótimo. (pausa) Nós esperamos contar com você.
CLARK
E sobre nossos tripulantes? Já temos todos?
BÚLGARO
A seleção foi feita e temos, praticamente, noventa e oito por cento das vagas preenchidas.
CLARK
Não falo da tripulação em geral. Falo da tripulação que fará parte do esquema.
BÚLGARO
Nós procuramos, dentro dos selecionados, os que mais se submeteriam a tudo.
CLARK
E você tem certeza de que todos se enquadram a este perfil?
BÚLGARO
É o que eu espero, Clark. (a Orlando) As fotos.
Orlando pega um tablet, sobre a mesa, clica em algo e devolve. CLOSE no tablet: as fotos de Lianna, Kênia, Lívia e Caio.
ORLANDO
Lianna Sanz, espanhola; Kênia Duarte, brasileira; Lívia Silveira, brasileira e Caio Cardoso, brasileiro.
CLARK
Bom, eu gostaria de dar uma olhada em seus perfis. Pode ser?
ORLANDO
Claro.
BÚLGARO
Eu só não vejo motivo para isso, Clark.
CLARK
É importante conhecer mais com quem estamos lidando.
Búlgaro encara-o.
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INT. MANSÃO DA FACÇÃO - QUARTO DE CLARK - DIA:
Clark joga um artefato de vidro contra a parede, quebrando-o em mínimos pedaços, e dá um berro forte.
CLARK
Que ódio!!! Que ódio desse velho maldito. (pausa) Você ainda vai pagar caro, Búlgaro... Por tudo o que você fez...
Clark senta-se na cama, ofegante. Respira fundo e começa a chorar.
CORTE DESCONTÍNUO.
Clark segura a carta dos episódios anteriores.
CLARK (cont.)
Eu vou me vingar, mãe. (pausa) Por você! Eu vou matar Búlgaro.
FADE IN:
FIM DO TEASER ATO I
FADE OUT.
1x08 - O MAR DE CADA UM (SEASON FINALE)
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INT. MANSÃO DA FACÇÃO - QUARTO DE CLARK - NOITE:
Clark e Búlgaro, frente a frente.
BÚLGARO
Você não esperava por isso, né?
CLARK
Eu espero tudo de você, capitão.
BÚLGARO
Depois de tantos anos, você ainda me chama de capitão?
CLARK
(sorri)
É muito bom saber que você se lembra do passado, Búlgaro. Então, parece que temos motivos suficientes para estarmos aqui, frente a frente, não acha?
BÚLGARO
Eu vim pegar o que é meu, Clark, e acabar de vez com essa sua festa de merda. (ri) A facção, um dia, num tempo bem distante, foi uma
BÚLGARO (cont.)
organização, Clark. Você perdeu de vista o ideal. Me atingir tornou-se seu maior objetivo, não foi?
CLARK
É claro. Você acha que eu seria burro o suficiente para esquecer de você? (ri) Convenhamos, Búlgaro... Pobre não tem tempo pra pensar em vingança; existem preocupações muito maiores. Mas, quando se tem poder, aí é muito bom olhar pra trás.
BÚLGARO
Então você confessa que se tornou líder da facção só pra me atacar?
Clark senta-se numa poltrona. Búlgaro, rápido, retira uma arma da cintura e aponta pra ele. Clark ri e levanta-se, com as mãos pra cima.
CLARK
(irônico)
Desculpa! Desculpa, capitão, eu não deveria ter me sentado. (ri) Como você é patético, Búlgaro. Você acha o quê? Que levantar uma arma contra alguém é solução pra tudo?
BÚLGARO
Foi isso que você fez essa noite: levantou a arma pra todos os meus. Matou muitos deles! Você também está investindo nesse jogo, Clark/
CLARK
(sério)
Não tem jogo, Búlgaro. Isso aqui é um acerto de contas. Contas muito antigas, mas que deixaram marcas ferrenhas em muita gente.
BÚLGARO
Eu, realmente, devo ter jogado pedra na cruz pra vir até aqui e escutar um discurso tão chato como este. Você é chato, Clark. Para com isso! Sabe, quando eu fui seu padrasto, eu devia ter aconselhado sua mãe a ter posto você num orfanato! Quem sabe lá você teria
BÚLGARO (cont.)
motivos suficientes para choramingar pelos cantos? (pausa) Eu estou cansado e vim aqui para buscar o que é meu!
CLARK
(ri)
Você só sairá daqui morto, Búlgaro. Não tem escolha. Eu não ligo pro que você veio fazer aqui, só quero que você entenda uma coisa: eu cresci e não sou mais aquela criança que assistia você surrando a minha mãe! (pausa) Hoje é um dia de muita festa, Búlgaro, porque é o dia da minha vingança.
BÚLGARO
Eu não tenho tempo pra ela/
CLARK
(alto)
Ah, você tem! Tem, sim! Eu não esperei à toa, Búlgaro. Eu não planejei cada palavra desse encontro à toa. Não, mesmo.
Clark retira uma arma da cintura e aponta pra ele.
CLARK (cont.)
(ri)
Agora são dois armados. Sem covardia. Quem atira primeiro?
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INT. MANSÃO DA FACÇÃO - QUARTO DE ORLANDO - NOITE:
Orlando ajoelhado no chão, com as mãos na cabeça. Regina anda ao seu redor, apontando-lhe a arma.
REGINA
Finalmente a gente vai resolver os nossos impasses, Orlando.
ORLANDO
Quando você entrou aqui, Regina, deveria ter entendido que a facção não vive de passado, mas de planos futuros.
REGINA
E quem disse isso pra você? (pausa) É impressionante, Orlando. Você é um pau mandando de todos, mesmo. No navio, era do capitão; aqui, do Clark. Quem é você, Orlando? O que você quer? Dinheiro? Não pode ser... Não só isso...
ORLANDO
Regina, você está cometendo um grande erro/
REGINA
(alto)
Quem dita as regras sou eu, aqui! Fica quieto! Eu estou falando e você cala a boca, ou você ainda não entendeu que eu não sou uma das suas putas da House Pink? Em?
ORLANDO
Eu me arrependo de algumas coisas/
REGINA
(ri)
Ah, você se arrepende? Você se arrepende, Orlando? (pausa) Na minha terra, não existe isso, não. Eu cresci em ponta de favela, Orlando. E lá não existe essa. É bem simples; regra única: mexeu com quem tá quieto, morre. E sabe quem te mata? Quem você mexeu. Nunca teve regra na favela, Orlando, e eu aprendi a bater de volta. Eu acho que você vive numa realidade muito distante, né?
ORLANDO
A gente não tá numa favela, Regina/
REGINA
Mas a lei da favela vai imperar aqui, sabe por quê? Porque eu quero! Porque eu mando! Porque você tá na minha mão. Eu vou matar você e vou vigar cada soco que você deu em Kênia, Lianna, Lívia... Em todas aquelas meninas...
ORLANDO
Então acaba logo com isso/
REGINA
Não... Qual a graça? (pausa) Você vai sofrer antes, porque gente como você tem que pagar é aqui, na Terra, por todo mal que fez ao próximo!
ORLANDO
Você vai se arrepender. Eu sou uma peça muito importante nesse jogo, Regina/
REGINA
Chega de frase de efeito/
ORLANDO
(alto/por cima)
Eu sinto muito se você tá achando isso um teatro, uma cena de novela... Mas, pensando bem, acontece, né? A sua atuação vai acabar quando Clark entrar por aquela porta e acabar com você, porque, da mesma forma que na favela, Regina, aqui na facção não fica traidor. Não, mesmo.
Regina pega a arma e dá uma coronhada em Orlando, que cai no chão, com os olhos esbugalhados.
REGINA
(alto)
Cala a boca, Orlando! Eu já disse e vou repetir: quem dita as regras, agora, sou eu. Seu porco, nojento!
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INT. MANSÃO DA FACÇÃO - QUARTO - NOITE:
Flávio com o corpo de Dil, sangrando, nos braços. O corpo de Lianna está ao lado. De repente, Mauro ENTRA no quarto e dá com Flávio; assusta-se. Olha pro lado e vê o corpo de Lianna.
MAURO
Não pode ser...
FLÁVIO
Ela matou o meu irmão.
Mauro vai pra cima de Lianna, extasiado. Mede seus batimentos pelo pescoço. Encara Flávio, surpreso.
MAURO
A Lianna... (lágrimas) Tá morta?!
FLÁVIO
Eu matei ela.
MAURO
Você fez o quê?
FLÁVIO
(berra)
Ela matou o meu irmão!
Mauro encara Dil.
MAURO
(mão à cabeça)
Meu Deus... E onde está o capitão?
Flávio encara-o. Mauro sai da sala, repentino. CÂMERA aproxima-se lentamente do rosto de Flávio.
CORTA PARA FLASHBACK:
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EXT. MANSÃO - JARDIM - DIA (ANOS ANTES):
Uma CRIANÇA (6 anos, branca, cabelos encaracolados) tem as mãos seguradas por um MENINO (15 anos, negro, cabelos crespos), que o ajuda a andar pelo extenso gramado.
MENINO
Vamos, Flávio, você consegue!!!
MULHER (O.S.)
Dilson!
O menino vira-se, rápido, e vê uma MULHER (40 e poucos anos, loira, magra, roupas finas), que olha sério para ele.
CRIANÇA
(chama o menino para brincar) Dil!!!
A mulher aproxima-se.
MULHER
O seu pai está chamando na cozinha.
DIL
Mas eu estou brincando com o Flavinho, dona Simone.
Simone retira as mãos de Dil das de Flávio.
SIMONE
Sinto muito. O Flavinho não pode ficar em baixo desse sol quente e, já falei, seu pai está chamando.
DIL
Deixa o Flavinho aqui, dona Simone, eu quero brincar com ele.
SIMONE
(grita)
Não, garoto! Você tá surdo? Vai logo pra cozinha! Anda! Filho de empregado não tem que ficar zanzando na casa do patrão, pelo amor de Deus!
Dil assusta-se e sai correndo.
FLÁVIO
(triste)
Mamãe, me deixa brincar com o Dil...
Simone abaixa e encara o menino nos olhos.
SIMONE
Dil foi pra cozinha, porque lá é o lugar dele. Agora, escuta bem o que eu vou falar, Flávio: Dil não é criança pra brincar com você. Ele tá aqui de favor, morando com os empregados; você, não. Você é rico, mora nessa casa e tem seus próprios brinquedos, não precisa de Dil e de ninguém!
FLÁVIO
Mas a gente faz aniversário juntos, mamãe. O papai disse que nós somos como... Irmãos.
SIMONE
Deus me livre. Você não é irmão dele, Flávio! Olha pro seu braço, pra sua pele. Você é branco. Ele é negro! E, agora, chega! Entende, de
(MAIS)
SIMONE (cont.)
uma vez por todas, que ele só está aqui enquanto a gente não se muda pra Paris. (pausa) Em breve, tudo isso vai mudar.
Ela pega na mão de Flávio e vai levando pra dentro da casa.
SIMONE (cont.)
Porque o mundo, Flávio, é dividido justamente entre vencedores e perdedores!
CORTA PARA FLASHBACK 2:
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INT. AVIÃO - DIA (ANOS ANTES):
Um HOMEM (40 e poucos anos, branco, magro) olha para Simone e Flávio, ao seu lado. Ela sorri para ele.
CORTA PARA FORA DO AVIÃO.
De repente, o veículo começa a perder altitude. Rapidamente, a aeronave vai em direção a uma densa floresta. Próximo ao choque...
VOLTA À CENA.
Flávio encara o corpo de Dil. Nisso, ouve vozes aproximando-se. Rapidamente, Flávio fecha os olhos e finge-se de morto. DOIS HOMENS apontam na porta, olham e SAEM. Flávio abre os olhos.
CORTE DESCONTÍNUO.
Ele agarra nos braços de Dil e vai puxando seu corpo.
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INT. MANSÃO DA FACÇÃO - QUARTO DE ORLANDO - NOITE:
Orlando sangrando no chão. Regina tem um taco de beisebol nas mãos.
REGINA
Você achou, mesmo, que tudo o que você fez ia passar impune? Se eu não ajudei aquelas meninas a te por dentro de uma cela, então eu te faço sofrer aqui fora, mesmo. Você se lembra de tudo o que fez? (berra) Em? Você se lembra?
Ela agacha, pega no cabelo dele.
REGINA (cont.)
Eu to perguntando se você se lembra! Me responde!
ORLANDO
(grita) Lembro!
REGINA
Ótimo. Eu quero que você se lembre mesmo, Orlando. Lembra de quando você atacou Kênia, porque a coitada não queria fazer programa com um pedófilo? Foi a primeira vez que eu vi o quão desumano você era.
ORLANDO
Aquilo era/(tosse) Aquilo era o meu trabalho.
Regina prepara o taco e bate com tudo no estômago de Orlando, que urra de dor.
REGINA
Não, Orlando! Aquilo não era trabalho! Você, mais uma vez, falando asneiras!
ORLANDO
Você tá levando isso pra um lado muito extremo, Regina. (tosse sangue) Talvez esteja aprendendo comigo/
REGINA
O quê?
Ela agacha e olha nos olhos dele.
REGINA (cont.)
Eu, igual a você? (ela dá um tapinha no rosto dele) Em? (dá outro, mais forte) Eu não joguei ninguém num navio e obriguei a transarem dia e noite com um bando de ricaços nojentos, Orlando. (lágrimas) Seres humanos!!! Aquelas meninas são seres humanos!!!
Regina levanta-se.
REGINA (cont.) Como você pode?
ORLANDO
Eu cansei do show. Me mata logo. Chega!
REGINA
Levanta.
Orlando encara-a.
REGINA (cont.)
(berra)
Eu falei levanta! Tá surdo? Vai! Levanta!
Com muita dificuldade, Orlando levanta. Ajoelha frente a Regina. Ela encara bem o rosto de Orlando e põe o taco sobre a cama. Retira a arma da cintura e aponta para o rosto de Orlando. Respira fundo.
ORLANDO
Acaba logo com isso. Me mata, Regina. Vai! Aperta esse gatilho. Vai!
REGINA
Cala a boca. Cala a sua boca!
CLOSE em Regina, sob forte pressão.
ORLANDO
Dá um basta nessa história e me mata. Vai, logo! Anda! Vinga todas as meninas!
FLASHBACK - Regina e Clark.
CLARK
(...) Ou você se importa, realmente, em apertar o gatilho no lugar de um de nossos homens? Em?
REGINA
Eu me importo.
CLOSE em Clark, surpreso.
CLARK
Você vai se tornar uma assassina. Sabe disso, não sabe?
VOLTA À CENA.
Regina, pronta pra atirar.
CLARK (V.O.)
Você vai se tornar uma assassina. Sabe disso, não sabe?
No auge, ela dá uma coronhada forte na cabeça de Orlando, que o faz cair no chão, desacordado. Regina senta-se na cama e começa a chorar.
REGINA
Eu não sou como eles... Eu não sou...
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INT. MANSÃO DA FACÇÃO - QUARTO DE CLARK - NOITE:
Clark e Búlgaro apontando a arma um para o outro. De repente, Clark dá um soco na mão de Búlgaro, fazendo a arma cair, e parte pra cima do capitão, abraçando-o e jogando-o no chão, ainda com a arma em mãos. Búlgaro consegue chutar a arma de Clark, que, por sua vez senta sobre o abdômen do capitão, dando um soco em seu rosto.
CLARK
Pela minha mãe...
FLASHBACK - Lembranças de Clark.
Uma MULHER (magra, cabelos pretos, num rabo de cavalo, 30 e poucos anos) sorri para um MENINO (olhos claros, cabelos pretos, gordinho). Logo, surge Búlgaro, mais novo, ao lado dela, fazendo os sorrisos da mulher e do menino desaparecerem.
VOLTA À CENA.
Mais um soco.
CLARK (cont.) Pela minha vida...
Outro soco.
CLARK (cont.)
Pelo monstro que você me tornou.
E ele cai para o lado. Búlgaro sangrando, então, geme no chão.
BÚLGARO
E pelo navio? E pelas meninas?
Clark olha-o de relance. Búlgaro começa a rir.
BÚLGARO (cont.)
Você nunca ligou, né?
Clark, rápido, levanta e pega sua arma do chão. Aponta para Búlgaro.
BÚLGARO (cont.)
Você não me matou até agora; não vai conseguir concluir o serviço.
FLASHBACK - Lembranças de Clark.
Búlgaro agarra no pescoço da mulher do flashback anterior e bate em seu rosto. Ela grita. De relance, o menino observa.
VOLTA À CENA.
CLARK
Você me fez o monstro que eu me tornei. Você criou todo mal que hoje existe em mim.
BÚLGARO
Não ponha a culpa dos seus males em mim, Clark.
FLASHBACK - Lembranças de Clark.
Búlgaro atira contra a mulher, na frente do menino. Ela cai no chão; olhos esbugalhados.
BÚLGARO
(berra) Vadia!!!!
VOLTA À CENA.
CLARK
(ódio)
Você matou a minha mãe! Desgraçado!
BÚLGARO
E você se tornou pior que eu, Clark. Comprou todas essas meninas só para me destruir. Não deu em nada, né?
CLARK
Chega, Búlgaro. Tá na hora de você pagar por tudo o que fez comigo.
Nisso, Clark aponta a arma pro rosto de Búlgaro, ainda no chão. Troca de olhares.
Nisso, a porta é aberta e Luciano ENTRA, rápido, com uma arma em mãos.
LUCIANO
(grita)
Você me traiu Clark! Como você foi capaz?
Luciano aponta a arma pra Clark, que encara-o, confuso.
CLARK
Sai daqui, Luciano! Sai!
LUCIANO
Você deu Orlando para a Regina matar. Ele era meu! Eu deveria matar aquele desgraçado.
CLARK
Regina matou Orlando?
LUCIANO
Eu não sei, Clark. Eles estavam no quarto. Tem sangue, lá. Ao que tudo indica, alguém morreu, e eu sinto que foi Orlando. (pausa; treme a arma) Por que, Clark? Por que você me traiu? Em? O Orlando era meu!
Você só chamou ele pra facção por causa de mim; por causa da minha vingança!
CLARK
Você não sabe o que tá falando. Sai daqui. Sai, Luciano! Agora!
LUCIANO
Não saio! Não saio porque, agora, minha vingança vai ser contra você. (treme a arma; louco) Você acha, mesmo, que me engana? (risos) Eu tenho mais história aqui do que rodando bolsinha pros cariocas.
Amam portugueses; têm lábia. Você pode ter me tirado de lá, Clark, e me posto no Empire para,
(MAIS)
LUCIANO (cont.)
simplesmente, lucrar, mas o seu objetivo nunca foi esse, né?
Vingança! Vingança contra o capitão. (encara Búlgaro) Quem diria, em, Búlgaro? Você, padrasto do Clark?
CLARK
(surpreso)
Você roubou a minha carta, então.
LUCIANO
Eu fiquei cho-ca-do! Mas isso passou assim que eu vi meu porco roliço longe da tábua! (berra) Cadê o Orlando, Clark?
CLARK
Eu não sei!
LUCIANO
Eu estava esperando por isso, mesmo. Você agiu muito errado, entregando aquele trapaceiro pra aquela favelada. Você nunca percebeu, não, Clark, que ela não tem força pra nada? Vai ver, já tá morta; do jeito que é fraca!
Clark vira pra Luciano, dá um berro, e atira contra a perna dele. Luciano cai no chão.
CLARK
(berra) CHEGA!!!!
LUCIANO
Você não devia ter feito isso, Clark. Não devia/
CORTA PARA Búlgaro, que estica suas mãos e pega uma arma, ao seu lado.
BÚLGARO
Adeus, Clark!
Quando Clark olha para Búlgaro, BAQUE: o segundo aperta o gatilho, dando dois tiros no peito do rival, que cai no chão, de olhos esbugalhados.
CLARK
(dificuldade) Não...
BÚLGARO
Tarde demais. Agora, sim, acabou! Acabou, Clark. Sua vingança, eu sinto muito, mas não teve fim.
Clark perde sangue e derrama algumas lágrimas. Búlgaro levanta-se, com dificuldade, e SAI do POV.
Luciano geme no chão.
FADE IN:
FIM DO ATO I ATO II
FADE OUT.
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EXT. MANSÃO DA FACÇÃO - FUNDOS - MADRUGADA:
Chove forte. Flávio cava o chão e joga a terra para o lado. CORTE DESCONTÍNUO.
Ele joga o corpo de Dil ali e começa a jogar terra sobre ele. Lágrimas caem de seus olhos.
CORTE DESCONTÍNUO.
Flávio termina de tapar o buraco e chora muito, sentado aos pés da cova. De repente, levanta e SAI do plano.
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EXT. MANSÃO DA FACÇÃO - SALÃO PRINCIPAL - MADRUGADA:
Madames, crianças e homens batem à tela de proteção da porta principal.
Os homens de Búlgaro chegam ali e já vão para cima das pessoas.
De repente, a tela começa a subir. As pessoas abrem a porta e SAEM correndo pro
JARDIM,
gritando, no meio da chuva. Entre eles, vai Orlando.
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EXT. FLORESTA - MADRUGADA:
Orlando corre pela floresta densa e molhada.
Ele para atrás de uma árvore, enfim, e encara uma de suas mãos: seu dedo anelar está cortado ao meio.
REGINA (V.O.)
Isso é pra você olhar e sempre se lembrar de mim, Orlando.
O dedo sangra. Ele volta a correr.
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EXT. MANSÃO DA FACÇÃO - QUARTO DE CLARK - MADRUGADA:
Clark levanta uma das mãos. A mão de Regina surge, pegando à dele.
ABRE revela Clark, muito mal, encarando Regina, penalizada. Luciano não mais ali.
REGINA
Clark...
CLARK
(dificuldade)
Eu não consegui, Regina. Eu não consegui me vingar...
REGINA
Você fez o que podia.
CLARK
Não. Ele machucou a minha mãe durante a vida toda dela. Ele matou a minha mãe, Regina!
CLOSE em Regina.
CLARK (cont.)
Búlgaro foi meu padrasto. E se eu sou um mostro hoje, eu devo isso a ele.
REGINA
Você não é um monstro.
CLARK
Eu cometi muitas chacinas, Regina. Eu não mereço o que tenho hoje. (pausa) Mas Búlgaro (tosse)/ Búlgaro tem que pagar por tudo.
REGINA
Eu não tive coragem, Clark. Eu não tive coragem de me tornar uma assassina. Eu não matei Orlando/
CLARK
Você não deve matar mais ninguém, Regina. O que eu quero/
REGINA
Ao mesmo tempo, eu penso sobre tudo... Sobre deixar Orlando escapar...
CLARK
Faça valer sua justiça e ponha os dois na cadeia. Faça o que eu não quis fazer por covardia, por egoísmo.
REGINA
Você só se aproveitou de nós?
Clark engole à seco.
REGINA (cont.)
Não importa! Você é bom e eu sei disso. Fez coisas erradas, mas pode voltar atrás. Quanto a
mim, acredito que, se eu estou aqui, é porque há algum objetivo. Eu vou vigar tudo e todos.
CLARK
Regina, (segura nas mãos dela) acabe com ele. Acabe com Búlgaro.
Clark tosse muito. CLOSE em Regina.
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EXT. MANSÃO DA FACÇÃO - CORREDOR - MADRUGADA:
Regina andando, temerosa, pelo corredor. De repente, ela vê Tonica.
REGINA
Mãe!!!
TONICA
Filha, o que, que tá acontecendo? Pelo amor de Deus. Tiroteio, gritaria... Eu pensei até que/
REGINA
Calma, mãe. Vai ficar tudo bem. É o capitão do navio. Ele tá aqui, com um monte de gente, querendo pegar as meninas. As tripulantes que eu falei.
TONICA
Então... Então a gente tem que se esconder, Regina.
Nisso, Luciano aproxima-se, ofegante, com um curativo branco
- manchado de sangue - na perna.
LUCIANO
Ainda bem que eu achei vocês/
REGINA
Luciano? Você tá bem? O que foi isso?
LUCIANO
Nada demais. Foi de raspão. (pausa) Regina, por favor, você precisa me ajudar. A Lianna, ela... (lágrimas) A Lianna tá morta, Regina.
REGINA
O quê? Morta? (lágrimas) Não. Não é possível. A vida dessas meninas, mãe...
TONICA
Calma, Regina.
LUCIANO
Gente, vocês não podem ficar aqui. Eu acho melhor virem comigo. Tem um lugar seguro aqui. Vem, vamos!
Regina, muito abalada, dá a mão pra mãe e elas seguem Luciano, que tem um olhar misterioso.
-
EXT. MANSÃO DA FACÇÃO - SALA DE REUNIÕES - MADRUGADA:
Luciano abre a porta e ENTRA.
Búlgaro está ao lado de Lívia e Kênia. Dois homens apontam armas para elas.
Regina e Tonica também ENTRAM. Baque.
REGINA
Lívia?
LÍVIA
(chorosa) Regina...
TONICA
Meu Deus.
REGINA
Mas o que significa isso, Luciano?
BÚLGARO
O Luciano enxergou o lado em que deve estar. Eu sinto muito por tudo isso, Regina.
Nisso, a porta é aberta e um HOMEM ENTRA carregando Mauro, de mãos presas às cordas.
MAURO
Me larga! Me solta! Vamos conversar de homem pra homem!
Regina assusta-se e o homem põe Mauro numa cadeira, ao lado de Lívia e Kênia. Amarra-o.
REGINA
(assustada; p/ Luciano) Eu confiei em você!
BÚLGARO
O seu erro é confiar nas pessoas, Regina. Você confiou no Clark, e deu no que deu; confiou no Luciano, e está aqui, agora. Eu nem precisaria dizer, mas... Você confiou nas meninas e...
REGINA
E o quê? (aproxima-se) E to aqui, agora, frente a frente com você, pra te desejar um inferno bem aconchegante, seu monstro!
BÚLGARO
(ri)
Eu amo essas situações... Você só tem as palavras para me agredir. Mas, quer saber, Regina? Dessas eu to farto! A minha mãe, mesmo, desistiu das conversas. Ela ia
(MAIS)
BÚLGARO (cont.)
direto ao ponto: um bom sinto e uma boa punição!
REGINA
(ri)
Ta aí, eu concordo com você! Eu imagino o quanto a sua mãe deva ter te odiado quando criança, né, não? Em? Eu fico imaginando: como um infeliz, como você, pode ter chego até aqui? Só pode ter tido uma mãe desnaturada, um pai infeliz, uma família medíocre, mesmo. Ah, não!
Você veio de família nobre... (ri) As palavras doem, não doem, Búlgaro? De onde veio sua inspiração pra fazer um esquema tão nojento como o de exploração das meninas, em? Da sua mãe? Rodava bolsinha na rua? (ri) Foi de lá que ela teve você? Transando com um macho qualquer? (ri) Era uma puta, mesmo! Uma piranha!!!
Búlgaro enfurece-se e dá um tapa no rosto de Regina.
BÚLGARO
Cala a boca!
REGINA
(mãos à bochecha)
Eu vejo que algumas palavras te atacam, sim, Búlgaro. Mas fica despreocupado... Essa não vai ser minha arma, não; até, porque, eu não tenho armas aqui, diferente dos seus capangas... Vai, anda logo com isso. Lívia, Kênia, eu, Mauro, minha mãe, Luciano... Quem falta?
BÚLGARO
Por mim, ninguém. Já podemos começar nossa conversa.
REGINA
Conversa? Ah, não! Conversa, não!
Regina bate na porta, loucamente.
REGINA (cont.)
Eu não quero conversa, Búlgaro! Eu não vim até aqui para conversar com você! Eu quero prática! Vamos!
Direto ao assunto. Direto!
BÚLGARO
A escolha é sua, Regina.
REGINA
Isso. Ótimo! A escolha é minha.
Búlgaro, repentino, retira a arma da cintura e agarra Tonica pelo pescoço, ameaçando-a.
BÚLGARO
Vamos conversar ou eu mato a sua mãe primeiro?
CLOSE em Regina, encarando-o, imóvel.
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EXT. MANSÃO DA FACÇÃO - QUARTO - MADRUGADA:
Caio abre os olhos. Olha pros lados. POV DE CAIO - Visão muito embaçada. VOLTA À CENA.
Ele esfrega os olhos; eleva as mãos à cabeça e geme de dor.
CAIO
Meu Deus...
De repente, ele vira-se, mas acaba caindo no chão. Ele geme mais ainda. Vai se arrastando pelo chão, até chegar à porta. Por fim, apoia-se na maçaneta e levanta-se do chão.
Lentamente, ele SAI no
CORREDOR.
Caio olha para os lados. Vê dois corpos no chão e o lugar escuro. Ele fecha os olhos.
ÁUDIO DISTORCIDO - Caio lembra-se, vagamente, com vozes opacas e sons distorcidos, de tiros dentro do quarto.
VOLTA O ÁUDIO NORMAL.
Ele olha para os lados e anda, com dificuldade, pelo canto do corredor.
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EXT. MANSÃO DA FACÇÃO - SALA DE REUNIÕES - MADRUGADA:
Todos sentados ao redor da mesa. Regina de frente para Búlgaro.
BÚLGARO
Sábia decisão, Regina.
REGINA
Você prometeu ir direto ao ponto.
BÚLGARO
Certo. (pausa) Eu tenho uma proposta para você.
REGINA
Do que se trata?
BÚLGARO
Regina, você é muito inteligente. Você chegou até aqui! Fugiu do meu navio, ajudou outras pessoas a fugir. Tem meus parabéns.
REGINA
Menos falsidade, Búlgaro. Cheguei até aqui, pisei em você e tenho méritos por isso, mas você não é candidato a presidente, pra me encher de elogios.
BÚLGARO
E você é rígida. Por um lado, isso é ruim, mas por outro... Ótimo! (pausa) Eu vou falar logo: o negócio é o seguinte, Regina. Eu teria tudo pra acabar com você.
Você me causou prejuízo. Pra todos eu to morto. Tudo bem que eu já devia ter me matado a muito tempo, mas, agora... Agora eu tenho outros planos pra vida que está chegando. E esses planos possuem você.
REGINA
Eu não to entendendo.
BÚLGARO
É simples, Regina: eu tenho planos bons pra você. Se você aceitar, vamos investir neles; se não/
REGINA
Grande novidade: você me mata. Quantas vezes você já disse isso, em?
BÚLGARO
Você está enganada. Eu tenho trabalho pra você, Regina. Eu quero te contratar. Se você vier por bem, o trabalho será bom; se vier por mau, sinto muito te informar...
Mas... Você terá mais tempo na House Pink do que simples visitas.
REGINA
Do que você tá falando? House Pink?
BÚLGARO
Não precisa ser assim. Você pode se aliar a mim, trabalhar no escritório da SEAS, na Itália.
Agora... Se eu não estiver sendo bom o suficiente, você também pode negar a parceria. Só que então, Regina, é mais fácil você aceitar a ideia de ser a nova prostituta da companhia, porque eu tenho uma roupa que... (olha a roupa dela) Vejamos... Ficaria perfeita em você! Então... Está em suas mãos. O que me diz?
Regina olha para Mauro.
BÚLGARO (cont.)
Eu adianto que o mesmo não vale para o seu marido.
LÍVIA
(alto)
Não, Regina! Você não pode aceitar isso!
BÚLGARO
(para Lívia)
Quantas vezes eu já disse sobre a entrevista? Eu estou entrevistando Regina. Podem ficar quietas!
Lívia chora e balança a cabeça negativamente. Búlgaro levanta e, abruptamente, vira a cadeira de Lívia, deixando-a de costas para Regina.
BÚLGARO (cont.)
Melhor assim; sem interferências externas no seu pensar. (pausa) Vamos, querida. Eu preciso de uma resposta agora.
REGINA
E se eu não topar? Você me mata? Mata o Mauro?
BÚLGARO
Minha querida... Você ainda não entendeu, né? Não existe essa possibilidade. Há dois empregos. Eu quero, apenas, que você encontre e me diga qual você quer. Apenas, isso. Mas... Se você, realmente, não quiser nenhum dos dois, eu sou obrigado a matar você, porque aí, Regina, eu sinto muito... Mas você será uma simples e paupérrima inútil.
CLOSE em Regina.
REGINA
Eu nego.
BÚLGARO
(assustado)
Como?
TONICA
Regina/
MAURO
Pelo amor de Deus, Regina!
BÚLGARO
Você está se matando, é isso?
REGINA
Eu? Eu estou negando fazer parte de um esquema sujo, nojento e violento como o seu. Sabe quando que eu vou trabalhar com você, Búlgaro? Nunca! (berra) Nunca! Seu velho nojento!
E ela cospe no rosto de Búlgaro. Os homens se aproximam e puxam-na.
Búlgaro retira um pano do paletó e limpa o rosto.
BÚLGARO
A escolha foi sua. Eu te vejo no inferno, minha querida.
TONICA
Não! Regina...
MAURO
(chorando) Não!!!
Lívia chora muito, assim como Kênia.
TONICA
(berra)
Não!!!!!!! Minha filha, não!!!
Quando Búlgaro pega a arma, então, e mira, Tonica sai correndo e joga-se em frente a Regina, recebendo um tiro certeiro no peito.
REGINA
(berra) Mãe!!!!
Tonica cai no chão. Regina abaixa, rápida, e bate no rosto da mãe.
REGINA (cont.) (chorando)
Fala comigo, mãe. Pelo amor de Deus... Por favor, mãe, fala comigo! (alto) Não!!!!!!!
Regina chora muito.
REGINA (cont.) (p/ Búlgaro)
Você... Você matou a minha... A minha mãe! Demônio!
Regina levanta pra ir pra cima de Búlgaro, berrando muito, mas os homens seguram-na. Mauro, assustado, chora.
REGINA (cont.)
Você vai pagar. Não é possível... Ela era inocente!
Regina soluça muito, até perder o ar e desmaiar no colo dos homens, que a seguram e colocam-na no chão.
MAURO
Regina!
Mauro balança a cadeira, tentando se soltar.
BÚLGARO
Merda! (berra) Merda!!!!!! Levantem ela! (p/ Luciano) Vai ver Flávio!
Chama aquele infeliz. Vamos embora desse lugar. Rápido!
Luciano SAI. Búlgaro eleva as mãos à cabeça.
Mauro chora, assim como Lívia e Kênia. Regina está caída ao lado do corpo de Tonica, que sangra no peito.
De repente, Luciano retorna.
LUCIANO
Nada, senhor. Ao que tudo indica, Flávio fugiu.
BÚLGARO
E quanto a Caio?
LUCIANO
Não está lá.
BÚLGARO
(berra)
Esses inúteis devem ter pego um cruzeiro direto pro inferno! Mas será possível? Nada dá certo! Bando de brasileiros nojentos! Bando de inúteis!!! O que eu vim fazer aqui, nessa terra de índios falidos?
Bando de tupis!
Búlgaro joga tudo o que estava sobre a mesa no chão, raivoso.
BÚLGARO (cont.)
(p/ Mauro)
Tá olhando o quê? Favelado! Se prepara. Tua mulherzinha não preferiu morrer? Então, agora, vocês vão virar putinhos de navios de cruzeiro. Michê, já ouviu falar? Vai se preparando. A hora de vocês vai chegar! Ah, vai!
E Búlgaro eleva as mãos à cabeça, fulo. CLOSE em Regina, caída.
BÚLGARO (cont.) (O.S.)
Peguem todos. Nós vamos embora daqui.
FADE IN:
LUCIANO (O.S.)
E vamos para onde?
FIM DO ATO II
ATO III
FADE OUT.
-
INT. EMPIRE - CABINE DE MAURO E REGINA - DIA:
POV DE ALGUÉM - Olhos abrem-se lentamente e vai formando a imagem de Mauro.
VOLTA À CENA.
Regina abraça Mauro repentinamente.
MAURO
Ei... Você está dormindo há muito tempo...
REGINA
Mauro... (olha pros lados) O que eu to fazendo nesse lugar? Me diz...
Me diz que...
MAURO
Isso não é um pesadelo.
Regina começa a chorar.
REGINA
A minha mãe/
MAURO
Você precisa ficar calma.
REGINA
A gente... (levantando-se) A gente precisa ir embora; a gente tem que sair daqui, Mauro.
MAURO
(olha para a vista da sacada) Impossível.
REGINA
(assustada) Como assim?
Regina olha pra fora e vai até lá, rápida. Abre a porta e entra na
SACADA.
ZOOM-OUT de Regina revela o navio, em alto mar, e ela, pequenininha na imensidão do barco. Ela dá um berro.
SÉRIE DE PLANOS:
A)Regina bate nas portas da tripulação, desesperada, procurando por alguém. Não acha.B)Regina chega à CABINE DE COMANDO e vê Búlgaro, sorrindo para ela. Dá passos para trás, até esbarrar com Luciano. Leva um susto.
C) Regina correndo, desesperada, até se deparar com Lívia, com uma bandeja em mãos. Ela sorri para Regina.
FIM DA SONOPLASTIA.
LÍVIA
Como vai a sua viagem, senhora?
FIM DA SÉRIE DE PLANOS.
-
INT. EMPIRE - CABINE DE BÚLGARO - DIA:
Regina levanta da cama, sobressaltada, e olha pros lados. Eis que Búlgaro está em sua frente.
BÚLGARO
Pesadelo?
Regina encara-o.
REGINA
Não é possível. Onde eu to?
Ela levanta. Sente-se tonta, porém, e volta à cama.
BÚLGARO
Você está medicada, Regina. Nós vamos partir em poucos minutos. Eu, você, Lívia, Mauro e Kênia. Os melhores! É bom que você tenha acordado. Estamos indo para a Itália. O Empire terá uma nova temporada e você será uma figura marcante nele, eu tenho certeza absoluta.
REGINA
Você está louco. Completamente louco!
BÚLGARO
Seja bem-vinda ao Empire, tripulante!
CLOSE em Regina.
-
INT. EMPIRE - CABINE DE COMANDO - DIA:
Búlgaro ENTRA na cabine e aperta alguns botões.
-
EXT. EMPIRE - DIA:
Debaixo d’água, as hélices do Empire começam a girar.
-
INT. EMPIRE - CABINE DE COMANDO - DIA:
Eis que, porém, um cano de arma aproxima-se de seu pescoço. Ele vira-se e dá de cara com Flávio.
FLÁVIO
Você não achou que eu fosse esquecer de você, achou, capitão?
BÚLGARO
Flávio! (sorri) Eu sabia que você retornaria. Vamos, abaixe essa arma.
FLÁVIO
(berra)
Você matou o meu irmão! Seu monstro!!! É o embate final, capitão. Chega! Chega de você, desse navio, dessa vida de merda que eu tenho!
BÚLGARO
Flávio, você está entendendo tudo errado. Eu não matei o Dil. Foi a Lianna. Você estava lá! Você viu!
FLÁVIO
Tudo culpa sua. Tudo! (pausa) Esse navio, a minha vida, a vida de todas essas pessoas. Eu demorei pra entender, mas agora eu sei direitinho o seu jogo, Búlgaro, e o meu irmão não pode morrer sem uma justa causa. Você não deu a ele, então eu te trago a minha justiça.
Flávio pressiona a arma contra o peito de Búlgaro e o faz sentar numa cadeira. Flávio retira uma corda, presa ao cinto, e prende Búlgaro.
FLÁVIO (cont.)
Isso tudo vai explodir, Búlgaro, e, então, tudo estará em seu devido lugar.
BÚLGARO
Espera, Flávio. Você não pode fazer isso. Seu infeliz! Eu te ajudei! Eu te pus no lugar do Orlando, fiz de você meu parceiro!
FLÁVIO
Mas você mexeu com quem não devia. Você é o verdadeiro culpado pela morte do meu irmão. (pausa) Eu te vejo no inferno, Búlgaro.
SONOPLASTIA: "Make It Rain", por Ed Sheeran.
BÚLGARO
Espera. Você está fazendo isso por elas? O contrato está fechado, Flávio. Elas estão vendidas e são da SEAS de qualquer maneira, estando eu vivo ou não.
FLÁVIO
Por hoje já deu! Você morre e elas pensam numa saída em outra oportunidade. Adeus, Búlgaro. Curta as profundezas do inferno!
Flávio dá as costas e SAI, lentamente.
BÚLGARO
(berra)
Volta aqui! Volta aqui!!! Não!!!!!!!!
-
EXT. PORTO DE SANTOS - DIA:
Mauro, Lívia, Kênia, Regina e Flávio saem correndo pela plataforma de acesso ao navio. Lívia, enfim, olha pra trás e vê a parte de cima do navio ter uma grande explosão; a parte de baixo, em seguida.
Regina aproxima-se, então, e puxa-a para continuar.
Elas correm e o navio vai ruindo ao fundo, entregue às chamas.
PLANO GERAL da grande destruição: o Empire, maior navio do mundo, está destruído.
FIM DA SONOPLASTIA.
FADE OUT.
FADE IN:
-
EXT. RIO DE JANEIRO - DIA:
Principais pontos da cidade.
-
INT. DELEGACIA - SALA DO DELEGADO - DIA:
Regina, Lívia, Kênia e Mauro de frente para o DELEGADO (alto, barba e cabelos ralos, forte, 30 e poucos anos).
DELEGADO
No que eu posso ajudar?
REGINA
Há um grande escândalo de exploração sexual envolvendo a companhia SEAS e nós queremos denunciar.
DELEGADO
(olha para o escrivão) Por favor, podem falar.
CLOSE em Regina.
-
EXT. PÍER MAUÁ - DIA
Tomadas aéreas.
LÍVIA
(V.O.)
Era um contrato. Troca de serviços. Só que, por trás, existia muitos mais do que aquelas folhas e mais folhas diziam. Era um esquema sórdido; de exploração sexual.
REGINA (V.O.)
Quando eu descobri a House Pink, uma espécie de bordel, eu vi onde estava. Aquela realidade, naquele navio, é aceitada por muitos passageiros. Acredito que, até, por alguns tripulantes.
MAURO (V.O.)
Às vezes, agiam estranho. Orlando, o diretor do navio, mesmo, muitas vezes, agia de boa-fé. Quando ele descobriu que Regina sabia de tudo, ele transformou nossas vidas num inferno. Nós fomos perseguidos.
KÊNIA (V.O.)
E quando saímos daquele navio, foi como... Foi como respirar novos ares. Nós estávamos livres de noites de sexo sujo, para encher os cofres da companhia SEAS e do capitão, Búlgaro Damasceno, falecido na explosão do navio Empire.
-
INT. DELEGACIA - SALA DO DELEGADO - DIA:
DELEGADO
E você sabe o que ainda resta desse grupo?
REGINA
A facção, um grupo criado para destruir Búlgaro, por conta de investimentos mal resolvidos e... E o restante da companhia SEAS, na Itália.
DELEGADO
A investigação será iniciada, senhora Regina.
REGINA
Eu espero que os nomes delatados sejam encontrados e presos.
DELEGADO
Nós faremos de tudo.
-
EXT. ROMA - DIA:
Tomadas aéreas dos principais pontos da capital.
-
EXT. PARQUE - DIA:
Luciano aflito, com uma mala nas mãos. Um HOMEM alto, traços orientais, barba grande, 40 e poucos anos, aproxima-se dele, olhando pros lados.
HOMEM
E então?
LUCIANO
Deu merda no Brasil. Mataram o Búlgaro.
HOMEM
Como?
LUCIANO
Calma, Hideo!
HIDEO
Eu já esperei demais, Luciano. Vocês falaram com o chefe. Ele está esperando. O navio parte daqui a um mês. A gente comprou essas mulheres de Búlgaro e queremos elas aqui pra ontem!
LUCIANO
Eu vou dar um jeito e vou adiantar a vinda delas, Hideo. Preciso que vocês tenham calma. Nem que seja à força, elas virão! Eu to dando a minha palavra.
HIDEO
Mas é claro, elas têm que vir! Seja competente e cumpra com o tratado, caso contrário, quem vai pagar a conta vai ser você, Luciano.
Luciano entrega a pasta para ele, sorrateiro.
LUCIANO
Aqui tá a documentação de todas elas. Já acrescenta no grupo de tripulantes que quando elas chegarem, é só jogar dentro do navio e partir.
Hideo pega a pasta.
HIDEO
É melhor você correr, porque o tempo passa muito rápido e, muito em breve, o navio já estará navegando.
LUCIANO
Tudo bem. Agora, tem alguém me esperando.
-
EXT. CENTRO DE EXPOSIÇÕES - DIA:
Vários quadros. Luciano observa algum deles. Alguém, fora do POV, aproxima-se ao seu lado.
LUCIANO
Depois do expressionismo, pouca coisa me deixa impactado...
CÂMERA revela Orlando, engravatado, curativo no dedo, ao lado de Luciano.
ORLANDO
Não sabia que você havia vivido o expressionismo.
LUCIANO
Velho demais pra minha beleza, Orlando, muito embora eu saiba apreciar o que é bom. (olha-o da cabeça aos pés) Sempre gostei de maduros.
ORLANDO
Você não queria me matar? Por que me chamou?
LUCIANO
Porque eu sabia que você não ia recusar a minha proposta.
ORLANDO
Voltar a um navio?
LUCIANO
Voltar ao navio. Ao navio do século. Quando Búlgaro me apresentou o projeto do novo navio, eu achei fantástico... É uma pena, ele não estar aqui para contar a você também.
ORLANDO
Quem o matou? Eu apostava todas as fichas em você, até saber que ele te enviou pra cá duas semanas antes.
LUCIANO
Eu não mataria alguém que investe em mim. Clark me traiu, quando tentou me matar; quando te deu de bandeja pra aquela frouxa, que te deixou vivo.
ORLANDO
A Regina acreditou no meu papo de arrependido, eu tenho certeza. Mas isso acontece, não?
LUCIANO
Certamente. Com mais frequência do que você imagina, querido.
ORLANDO
E sobre nós?
Orlando encara Luciano, que ri.
LUCIANO
Eu amaria ir mais além, mas já que eu não posso... Então, que tal, uma nova apresentação? (estende a mão) Luciano.
ORLANDO
Orlando.
LUCIANO
Muito prazer, sócio.
Aperto de mãos. Troca de olhares.
ORLANDO
E sobre o projeto?
LUCIANO
Teremos uma reunião com todo o grupo para apresentação.
ORLANDO
Depois que a polícia desmontou todo o esquema, poucas pessoas foram presas. Laranjas, em sua maioria.
Mas Regina pode ter falado do nosso esquema aqui, na Itália.
SONOPLASTIA: "Do I Wanna Know?" - Arctic Monkeys.
LUCIANO
(ri)
Búlgaro pensou em tudo. SEAS não existe na Itália, Orlando.
Luciano retira um cartão de dentro do bolso e entrega a Orlando.
LUCIANO (cont.)
Conheça Mares! A nova companhia de cruzeiros do mundo. (pausa) Aliás, eu já tenho o seu primeiro trabalho.
ORLANDO
E qual é?
LUCIANO
Búlgaro vendeu Lívia, Regina, Mauro e Kênia. Mas eles estão soltos, no Brasil. (pausa) Traga-os para mim e você contará muitos pontos em nossa primeira jogada. Você tem um mês para isso, Orlando. Prepare-se, porque a guerra vai recomeçar.
CLOSE em Orlando.
-
EXT. RIO DE JANEIRO - DIA: Principais pontos da cidade. SÉRIE DE PLANOS:
A) Lívia depõe.
REGINA (V.O.)
Depois que todos nós depomos e entregamos tudo o que sabíamos, as investigações começaram.
B)Fotos de Lívia, Regina, Mauro e Kênia, abraçadas, na capa do jornal. CLOSE na manchete: "TRÁFICO DE PESSOAS E EXPLORAÇÃO SEXUAL EM NAVIO DESTRUÍDO POR FOGO". Flávio surge de boné, óculos escuros, lendo o jornal.
REGINA (cont.) (V.O.)
Virou capa de jornal, primeira notícia de televisão e enredo de novela. A fama chegou. Fizemos justiça. Acabamos com os resquícios nojentos de Búlgaro em nossa terra. Enfim, nós vencemos.
C) A polícia invade um galpão. Regina aponta atrás, olhando tudo.
REGINA (cont.) (V.O.)
E mesmo sabendo que ainda tem muita gente solta por aí, gente que sabe muito e que devia estar atrás da grade, culpadas por um esquema tão grande e nojento, que ultrapassou fronteiras, nós estamos satisfeitas.
D)Lívia e Regina riem, no meio da rua, juntas.REGINA (cont.) (V.O.)
Porque, se depender de mim, todos vão pagar por tudo. Por cada soco, agressão, humilhação. Eu quero justiça. Por todos.
E) Mauro conserta mais um carro.
REGINA (cont.) (V.O.)
Quanto ao meu casamento, eu tenho certeza que uma nova chama acendeu. Mauro e eu estamos mais juntos do que nunca e, agora, por uma causa honesta e verdadeira.
F) Kênia serve um café, numa CAFETERIA, e sorri, feliz. REGINA (cont.)
(V.O.)
Porque se antes eu estava em dúvida entre estar ou não com aquelas meninas, hoje eu tenho certeza de que fiz tudo o que podia e devia.
G) Pessoas sendo interrogadas.
REGINA (cont.) (V.O.)
Agora, eu quero ver alguém nos tirar daqui! Nós vamos ficar aqui, vamos destruir as raízes desse esquema e se preciso, nós ultrapassaremos as fronteiras e buscaremos os culpados. No inferno, que seja!
FIM DA SÉRIE DE PLANOS.
-
EXT. PÍER MAUÁ - DIA:
ABRE nos sapatos de Lívia, Regina e Kênia.
EXPANDE e revela todas de mãos dadas, olhando para o mar. Lívia carrega um pote.
REGINA (V.O.)
E mesmo que esteja faltando uma parte de nós...
A figura de Lianna aparece ali, mãos dadas à Kênia, mas logo desaparece, com o vento...
REGINA (cont.) (V.O.)
Sabemos que está em lugar feliz e bom, porque se existe uma justiça suprema, que está acima de todos nós, então valeu a pena ter dado as
(MAIS)
REGINA (cont.)
costas e não ter matado Orlando. Quem sabe nos encontremos por aí? (pausa) Faço tudo isso por e para minha mãe.
LÍVIA (V.O.)
Porque o maior segredo da vida é, na verdade, lutar por ela. Eu me renovei e agora tenho forças.
Forças para olhar pra trás, negar tudo e todos, e erguer a cabeça. Regina confiou em mim e devemos tudo a ela. (pausa) Uma nova fase está começando; novas surpresas virão, mas o fôlego de viver e de superar, dia após dia, os próprios traumas, é o que me mantém viva e disposta a vencer. Todos os dias. Até o fim.
Elas aproximam-se do mar. Lívia abre o pote, com as cinzas de Lianna. Juntas, elas vão jogando no mar.
CÂMERA vai abrindo a imagem das três, juntas, na imensidão do píer.
Por fim, toma as adjacências e afasta-se até as imediações da cidade do Rio de Janeiro surgirem.
Sonoplastia termina nos créditos.
FADE TO BLACK.
UMA SÉRIE DE................................RAFAEL OLIVEIRA
ESCRITO POR.................................RAFAEL OLIVEIRA
COM O APOIO DE.............................RODRIGO FERREIRA
PRODUZIDO POR.........................................WEBTV
ARTE......................CRISTINA RAVELA e RAFAEL OLIVEIRA
ARGUMENTO DE................................RAFAEL OLIVEIRA
ELENCO:
LÍVIA............................................MARIA FLOR
REGINA......................................ADRIANA ESTEVES
ORLANDO........................................ENRIQUE DÍAZ
BÚLGARO........................................DANIEL FILHO
KÊNIA........................................SHERON MENEZES
CAIO........................................JAYME MATARAZZO
LIANNA.......................................MARÍA VALVERDE
LUCIANO.....................................RICARDO PEREIRA
FLÁVIO............................................CAIO BLAT
CLARK.....................................WERNER SCHÜNEMANN
DÉBORA....................................DÉBORA NASCIMENTO
TONICA......................................ANA LÚCIA TORRE
COM A PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DE:
DIL...............................................VAL PERRÉ
HIDEO........................................MÁRCIO KIELING
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INT. CASA - QUARTO - DIA:
Caio toma soro na veia, sobre uma maca, meio ao lugar sofisticado, com poltronas, TV, decoração sortida. Ao seu lado, um aparelho mede os batimentos cardíacos, num som contínuo.
Na porta, aponta Clark e Débora, que ENTRAM.
CLARK
E então, Caio? Como se sente?
CAIO
(olhando para os lados) Que lugar é esse?
DÉBORA
Você está seguro aqui.
CLARK
A Débora me salvou e eu salvei você. Espero que você fique bom logo, porque, eu não sei se você sabe, mas nós ainda temos alguns inimigos para vencer.
CORTES DESCONTÍNUOS entre ambos.
TELA ESCURECE NO BAQUE.
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