Na TELA BRANCA,
TEASER
ALANA
(V.O.) Eu estava enganada.
FADE IN:
CENA 1. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. INTERIOR. NOITE.
CLOSE no rosto desacordado e pálido de Alana. Ela está com olheiras profundas e o cabelo loiro todo desarrumado. A sua cabeça está sobre um travesseiro e o fundo, inicialmente não identificado, está em movimento.
ALANA
(V.O.) Sempre estive. A minha vida toda. Talvez este tenha sido o meu maior pecado. Veja bem, não é que eu deteste a verdade. É que eu apenas aprendi a viver na mentira. A mentira é muito mais honesta.
Principalmente a que eu inventei. Muitas vezes os seres humanos, para não lidar com seus monstros interiores, criam uma realidade.
Tentam mascarar as memórias. O problema é que as nossas memórias não são como átomos e partículas da física quântica. Elas ficam dentro de nós para sempre. Eu estava enganada quando achei que poderia caçar e derrotar o monstro. No fim das contas, o monstro era eu.
CORTA PARA duas enfermeiras (altas, uniformizadas) trazendo Alana (de camisola branca) em uma maca hospitalar por um corredor pouco iluminado e de paredes brancas.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Passei cinco anos da minha vida submersa na dolorosa mentira. E só agora eu consigo perceber o quão errada estava. Sou mais sã agora, como louca, do que era quando cuidava dos meus pacientes. A loucura me deu a clareza total. Sei que a hora de enfrentar os meus fantasmas está chegando. Não posso fugir deles.
As enfermeiras aproximam-se de uma porta e entram carregando a maca. Somem da tela. A porta se bate com força. CÂMERA vai se afastando lentamente.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Na verdade, não quero mais fugir. Já fugi por muito tempo. Já fingi por muito tempo. Este é o fim do caminho.
CENA 2. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Alana deitada na cama, melancólica. MARGARET (baixa, robusta, loira), aproxima-se trazendo um comprimido e um copo d'água.
MARGARET
Hora do seu remédio.
Alana não esboça nenhuma reação, apenas pega o comprimido, põe na boca e dá um gole na água.
MARGARET (CONT’D)
(pega o copo) Muito bem. Abra a boca.
A interna encara Margaret por alguns segundos até abrir a boca. Margaret dá uma olhada e sorri.
MARGARET (CONT’D)
Boa menina. Como está se sentindo hoje?
ALANA
(suspira) Bem, de certa forma.
MARGARET
Olhe para você. Não consigo acreditar que o destino nos uniu novamente. Lembro-me bem de quando você nasceu. Você é igual a sua mãe.
ALANA
Exceto que minha mãe era uma santa.
Margaret larga o copo no criado-mudo ao lado da cama e senta- se no colchão.
MARGARET
Por que você diz essas coisas?
ALANA
Você sabe, Margaret. Eu não tenho absolutamente nada para me orgulhar. Nenhuma razão para ser feliz.
MARGARET
O que você precisa fazer é deixar o passado lá atrás e ficar boa para poder sair daqui.
ALANA
Só há uma saída. Você sabe.
Margaret franze a testa e Alana derruba uma lágrima.
ALANA (CONT’D)
Eu preciso fazer isso.
MARGARET
É perigoso.
ALANA
Eu sei. (pausa) Não tenho mais nada a perder.
A enfermeira concorda com a cabeça e beija a testa de Alana.
MARGARET
Tente descansar. Te vejo amanhã cedo.
E sai do quarto. Assim que a porta bate, Alana cospe o comprimido na mão e esconde debaixo do colchão.
ALANA
Me desculpe, Margaret.
Rapidamente, ela se levanta da cama e se aproxima da janela.
P.V. da Alana: lá embaixo, no jardim, atrás da placa de entrada do prédio, está a figura do Slenderman nas sobras, encarando-a.
CENA 3. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. EXTERIOR. NOITE.
CÂMERA aproxima-se da janela onde está Alana. Ela fica por ali alguns segundos e fecha as cortinas.
CENA 4. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. TUBULAÇÃO. INTERIOR. NOITE.
Ambiente escuro e úmido. Várias partículas pretas voam pelo ar na direção da saída do local.
CENA 5. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
A porta é arrombada com força. As partículas se juntam e formam a figura do Slenderman. O ambiente está escuro. A criatura aproxima-se da cama, onde se vê uma cabeleira loira debaixo dos lençóis. Com seu braço esticado, o Slenderman puxa a coberta, mas o que está ali é uma peruca.
Alana surge por atrás com uma faca de cozinha e enfia nas costas da entidade. O Slenderman estica um dos braços até as costas e arranca a arma sem dificuldade. Sua cabeça pálida e cheia de veias se contorce para trás. Alana arregala os olhos e sai correndo.
CENA 6. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
Alana correndo em total desespero. O Slenderman desliza pelas paredes, contorcendo seu corpo, soltando berros aterrorizantes.
A mulher tropeça e cai no chão. Ela vê a criatura
aproximando-se ainda mais, se levanta e entra na escadaria de incêndio.
CENA 7. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. ESCADARIA. INTERIOR. NOITE.
Alana sobe correndo, sem olhas para trás. As partículas pretas do Slemderman esgueiram-se pela fresta da porta e seguem atrás de Alana.
CENA 8. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. TERRAÇO. EXTERIOR. NOITE.
A porta é arrebentada e voa longe. O Slenderman surge do interior e olha em volta. Não há ninguém ali.
ALANA
(O.S.) Eu estava esperando por você.
E a criatura se vira. Alana sai das sombras.
ALANA (CONT’D)
Por que demorou tanto tempo?
CLOSES DESCONTÍNUOS nos dois, encarando-se.
FADE OUT.
FIM DO TEASER
1x05 - A ORIGEM DA MONSTRUOSIDADE (SEASON
FINALE)
ATO I
FADE IN:
CENA 9. CHATEAU MARMONT. PAVILHÃO. INTERIOR. NOITE.
Uma mão feminina ergue uma alavanca no painel de controle. As luzes se acendem.
A esteira começa a girar. BATIDAS de sapatos no chão.
Enfileiradas, as crianças do orfanato entram no local com os olhos avermelhados, sem reação, numa espécie de encanto.
A grande máquina funcionando. As crianças vão subindo pela escadinha de metal e posicionam-se na esteira em ordem. Ao fim, está o enorme bocal que direciona até um caldeirão.
CÂMERA se afasta e revela, ao alto, debruçada em uma vidraça, a imagem de Cruella, observando tudo.
CORTE DESCONTÍNUO para as crianças em fila sendo levadas pela esteira. Uma à uma, vão caindo dentro do bocal. SOM das lâminas arrebentando sua carne e seus ossos.
No bocal de ferro, vão vazando os restos mortais e sangue na direção da caldeira.
Lachlan é o próximo da fila a subir na esteira. CÂMERA acompanha o rosto enfeitiçado do menino por alguns segundos até que seu corpo despenca no moedor.
CENA 10. CHATEAU MARMONT. SALA DE OPERAÇÕES. INTERIOR. NOITE.
Cruella sai da janela. Alexia entra e fecha a porta.
ALEXIA
A máquina já está em operações.
CRUELLA
Eu estou acompanhando.
CÂMERA ABRE e revela o ambiente: pequeno, cheio de pó, com alguns armários de ferro e um único sofá.
ALEXIA
Você tem certeza que quer fazer isso?
CRUELLA
Já estou fazendo, Alexia.
Alexia assenta, ainda cautelosa.
CRUELLA (CONT’D)
Por acaso você está arrependida?
ALEXIA
Não diria arrependida, mas não acha que isso é cruel demais? Eu digo, assassinar todas essas crianças.
Elas não têm culpa.
CRUELLA
Claro que não tem, mas essa é a única maneira de destruir a administração do Hermann.
ALEXIA
Não vejo como.
CRUELLA
Quando formos embora, vou me certificar de denunciar este orfanato anonimamente por todas essas atrocidades. Bernard vai parar na cadeia.
ALEXIA
Mas você era a diretora à pouco tempo, também vai acabar responsabilizada.
CRUELLA
Até que a polícia chegue nesta conclusão, nós já estaremos em Paris.
Alexia concorda e cruza os braços.
CRUELLA (CONT’D)
Não se esqueça que foi você quem puxou a alavanca.
As duas se encaram e Cruella volta para a janela.
CENA 11. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE LETHA. INTERIOR. NOITE.
Ambiente na total escuridão. Letha entra, em prantos, e se ajoelha no pé da cama. Cruza as mãos e fecha os olhos.
LETHA
Oh meu Deus... Oh meu Deus, o que eu fiz? Me perdoe.
Ela ergue os olhos para o crucifixo pendurado na parede, acima da cama.
LETHA (CONT’D)
Eu estava desesperada. Sem escolha. Ele era um monstro que precisava pagar pelas atrocidades que fez.
Mas e agora? (arregala os olhos) Eu me tornei o monstro.
CLOSE em Letha.
CENA 12. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.
PLANO GERAL do orfanato. Não escuta-se nada e as luzes estão desligadas. De repente, a figura do Slenderman surge na tela, arrastando-se vagarosamente na direção do casarão, trazendo consigo uma neblina branca.
CENA 13. CHATEAU MARMONT. PAVILHÃO. INTERIOR. NOITE.
A máquina em funcionamento. Rosie, seguida de Lily, são as próximas a subirem na esteira. Com os olhos avermelhados, são direcionadas até o bocal.
Subitamente, as luzes instaladas nas paredes começam a piscar e explodem uma a uma. Um grito macabro e ensurdecedor ecoa pelo local.
Rosie e Lily se aproximam cada vez mais do final da esteira. Em SLOW-MOTION, o corpo de Rosie despenca lá dentro.
CÂMERA AÉREA mostra a menina caindo na direção das lâminas e tendo seu corpo retalhado.
CORTA PARA o painel de controle explodindo. A esteira para de vez. Os olhos das crianças voltam ao normal e todos se olham. Lily retoma a consciência, mas perde o equilíbrio e cai no moedor.
CLOSE em Cruella observando tudo da vidraça.
CRUELLA
(murmura) O que está acontecendo?
CENA 14. CHATEAU MARMONT. SALA DE OPERAÇÕES. INTERIOR. NOITE.
Cruella se afasta da janela rapidamente e vai até Alexia.
CRUELLA
Algo aconteceu com o maquinário. Desça lá imediatamente.
ALEXIA
Oh meu Deus...
Alexia abre a porta e sai correndo. CLOSE em Cruella, preocupada.
CENA 15. CHATEAU MARMONT. PAVILHÃO. INTERIOR. NOITE.
Livres do encanto, as crianças começam a gritar e saltam para fora da máquina.
CORTA PARA dentro do bocal: Lily está jogada no meio dos restos mortais. Ela ergue a cabeça, e tenta ficar em pé, mas cai novamente. Começa a chorar.
LILY
Alguém me ajuda! (berra) Por favor!
CORTA PARA o lado de fora. Alexia desce a escadaria de ferro e vai na direção do painel. Vê ele todo preto e soltando faíscas.
ALEXIA
Merda!
CORTA PARA Lily novamente. Ela se arrasta para trás, no meio da gosma avermelhada, e a CABEÇA decapitada de Rosie boia.
Lily dá um berro de horror e fecha os olhos. CLOSE na cabeça de Rosie.
CORTA PARA o lado de fora. As crianças correm de um lado para o outro, enlouquecidas. Alguma delas erguem um extintor de incêndio e tentam quebrar as janelas de vidro da parede.
Alexia surge de um corredor e vê a confusão.
ALEXIA (CONT’D)
(arregala os olhos) O que vocês estão fazendo?
Um grupo de cinco crianças olha para Alexia com raiva. Ela dá dois passos para trás. As crianças se aproximam.
ALEXIA (CONT’D)
Não cheguem perto de mim, seus pestinhas.
MENINO
(grita) Peguem ela!
Alexia dá um grito e sai correndo. As crianças correm na sua direção.
Duas mãos femininas surgem de dentro do bocal. O rosto desesperado de Lily surge. Ela se esforça e coloca metade de seu corpo para fora. Se joga e cai no chão. Está toda suja de sangue.
LILY
(em desespero) Eu quero sair daqui!
Ela se levanta com dificuldade e vê um grupo de crianças correndo em direção à saída.
CENA 16. CHATEAU MARMONT. PAVILHÃO. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
Alexia correndo em desespero. Ela vê que não há saída e, quando vai voltar, se vê encurralada pelo grupo de crianças.
ALEXIA
(trêmula) Não se aproximem de mim.
E eles vão se aproximando lentamente.
ALEXIA (CONT’D)
Vocês não podem fazer nada comigo. Eu resgatei todos vocês da sarjeta de onde vocês estavam.
MENINO
Você tentou nos matar.
ALEXIA
Nós não vamos tolerar esse motim!
Um outro menino entrega para o líder uma barra de ferro. Alexia dá dois passos para trás e encosta na parede.
ALEXIA (CONT’D)
Não se aproximem!
MENINO
Esse momento é nosso!
Ele dá um grito e desfere um golpe violento na cabeça de Alexia. Alexia cai de joelhos, com um ferimento aberto na testa. Tenta falar, mas o sangue sai de sua boca. As crianças se divertem. Ela despenca no chão. O menino dá outro golpe e esmaga parte da cabeça de Alexia. Entrega o ferro para uma outra criança do seu lado, que repete o mesmo golpe.
CENA 17. CHATEAU MARMONT. SALA DE OPERAÇÕES. INTERIOR. NOITE.
Cruella empurra um armário de ferro contra a porta e se afasta. BATIDAS na porta. GRITOS de crianças.
CRUELLA
Meu Deus...
A diretora vai até a janela. P.V. dela: a confusão lá embaixo, as crianças correndo de um lado para o outro, quebrando tudo.
VOLTA À CENA.
Ela se afasta e olha para os lados, sem saber o que fazer. As BATIDAS se tornam mais fortes. CLOSE na expressão de medo de Cruella.
FIM DO ATO I
ATO II
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 18. CHATEAU MARMONT. SALA DE OPERAÇÕES. INTERIOR. NOITE.
Continuação imediata da cena 17. Cruella acuada. As crianças batendo com toda a força na porta. Ela olha em volta, na busca de uma saída, e encontra um quadro pendurado numa parede. Rápida, arrasta o sofá até lá.
A lâmina de um machado acerta a porta. Cruella dá um grito e sobe no móvel. O machado acerta a porta novamente e uma mão infantil surge da fresta da madeira.
Cruella retira o quadro da parede e encontra uma pequena portinhola. Abre a portinhola e encara um corredor estreito e escuro. Olha para trás, vê as crianças quase quebrando a porta, e se joga na escuridão.
CENA 19. CHATEAU MARMONT. LUGAR MISTERIOSO. INTERIOR. NOITE.
O corpo de Cruella sai de um túnel na parede e despenca num colchão empoeirado. O local é escuro e totalmente vazio. A diretora se levanta, bate nas roupas, tirando a poeira, e sai correndo dali.
CENA 20. CHATEAU MARMONT. TÚNEL. INTERIOR. NOITE.
A enorme porta se abre. As crianças saem correndo de lá e percorrem os curtos trilhos de ferro. Lily vem logo atrás, esbaforida, já sem forças para chorar. Ela tropeça e cai sentada. Alguns segundos depois, uma menina (baixinha, ruiva, olhos verdes) aproxima-se e estende a mão.
MENINA RUIVA
Eu te ajudo.
Lily ergue os olhos, mas vê o rosto de Rosie em sua frente.
LILY
Rosie? Você está viva?
ROSIE
Preciso tirar você daqui!
Lily concorda, pega na mão da irmã e levanta-se. As duas sorriem e saem correndo, acompanhando os outros.
CENA 21. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. NOITE.
Cruella abre a porta principal e entra. Ela ouve os gritos das crianças em OFF e, assustada, sobe a escadaria sem olhar para trás.
CENA 22. CHATEAU MARMONT. SUÍTE DE CRUELLA. INTERIOR. NOITE.
Cruella fechando uma das malas em cima de sua cama.
CRUELLA
(irritada) Crianças malditas. Estragaram tudo.
A diretora põe a mala no chão.
CRUELLA (CONT’D)
Não vou morrer aqui.
Ela vai até seu enorme espelho e se olha. Ajeita o cabelo e limpa a roupa.
CRUELLA (CONT’D)
É incrível que mesmo depois de tudo isso, eu continuo incrivelmente linda.
INSERT:
Uma fumaça escura entra por debaixo da porta.
VOLTA À CENA.
A fumaça toma conta do quarto e a figura do Slenderman se revela pelas costas de Cruella. Ela o vê através do espelho, mas não se apavora.
CRUELLA (CONT’D)
O que você está fazendo aqui?
Cruella se vira e fica cara a cara com a entidade.
CRUELLA (CONT’D)
Você pode meter medo nessas crianças insuportáveis, mas não mete em mim!
A criatura ergue um de seus braços e as cortinas do quarto começam a pegar fogo. Cruella olha para sua cama que, imediatamente, também pega fogo.
CRUELLA (CONT’D)
(alto) Você não pode fazer isso! (bate no peito) Não comigo! Eu mereço sobreviver!
Slenderman encara Cruella por alguns segundos até empurrá-la na direção do espelho. A diretora dá um grito e acaba indo parar lá dentro.
CRUELLA (CONT’D)
Me tira daqui!
Cruella começa a bater no vidro, enquanto o Slenderman vai se desfazendo até virar fumaça. O espelho então explode e os cacos de vidro voam pelo chão. O fogo toma conta o ambiente.
CENA 23. CHATEAU MARMONT. INTERIOR. NOITE. SEQUÊNCIA DE PLANOS:
1. O fogo se alastrando pelos corredores do orfanato.
2. A fumaça invade todos os quartos.
3. O fogo toma conta da cozinha. Os armários começam a cair no chão.
4. As crianças jogam as carteiras nas janelas da sala de aula para
tentar escapar do fogo.
5. Lily corre por um corredor de mãos dadas com Rosie e, do nada, percebe que está sozinha.
CENA 24. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.
Um veículo azul-marinho vem da estrada e aproxima-se do orfanato. Num PLANO GERAL, vemos o local pegando fogo.
CENA 25. CARRO. INTERIOR. NOITE.
Alana na direção. Ela vê a situação do casarão, perplexa.
ALANA
Oh meu Deus...
A psiquiatra pisa no freio, puxa o freio de mão e salta do veículo.
CENA 26. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.
Algumas crianças correm pelo jardim, apavoradas, e embrenham- se na floresta. Alana põe as duas mãos na boca e olha tudo em volta, sem acreditar.
CENA 27. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. NOITE.
O fogo já tomou conta de todo o local. Muita fumaça. A porta é arrombada e Alana entra, tampando o nariz.
ALANA
(grita) Letha! Tem alguém aí?
Ela caminha em volta e dá um salto para trás quando a estátua de anjo despenca e se quebra em mil pedaços.
ALANA (CONT’D)
(tosse/grita) Letha!
Alana olha para os lados por alguns segundos e decide subir a escadaria.
CENA 28. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
A fumaça só aumenta. Alana caminha com dificuldade, tendo pouca visão.
ALANA
(grita) Letha!
Ela chega até uma porta, põe a mão na maçaneta e abre.
CENA 29. CHATEAU MARMONT. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Assim que Alana entra, ela vê o local em chamas e a janela arreganhada. Aproxima-se do parapeito e vê as crianças em desespero pelo jardim.
ALANA
(murmura) Merda!
BATIDAS de porta. A psiquiatra olha para os lados e vê que o som vem do armário. Vai até lá rapidamente e abre, encontrando Lily, acuada, chorando.
ALANA (CONT’D)
Lily?
Alana se ajoelha e Lily a abraça.
ALANA (CONT’D)
Meu Deus, o que você está fazendo aqui? Eu disse para esperar na floresta. Onde está a Rosie?
LILY
Ela morreu!
ALANA
(surpresa) Morreu? Do que está falando?
LILY
Ela morreu! Eles estavam matando todos nós! Iam me matar também, mas algo nos salvou!
ALANA
Não acredito nisso!
LILY
Me tira daqui Alana! (suspira) Não me deixe morrer. Por favor.
ALANA
Nós vamos sair daqui. Fica calma.
Alana pega um tapete no chão e enrola na menina.
ALANA (CONT’D)
Se proteja. Vamos lá.
Lily concorda e as duas saem.
CENA 30. CHATEAU MARMONT. INTERIOR. NOITE.
Alana e Lily correm pelo corredor até que uma viga de madeira cai na frente delas. Lily se agarra nas pernas de Alana. Elas ficam acuadas, sem saída. Então, as paredes começa a se mover e, como gelatina, vão desmanchando-se. O chão se torna preto e aos poucos o ambiente vai mudando. FUNDE COM:
CENA 31. LOCAL MISTERIOSO. INTERIOR. NOITE.
Alana e Lily se vêem no meio da imensidão obscura. Ninguém além delas. Nenhum som. Apenas o infinito negro.
LILY
(trêmula) Onde nós estamos?
ALANA
(olha em volta) Eu não sei.
LILY
(grita) Tem alguém aí?
A voz da menina ecoa. RISADAS de criança. Alana e Lily se viram e vêem Danny sentado no chão, de cabeça baixa.
ALANA
(perplexa) Danny? É você?
Ela caminha até o menino e abaixa-se. Quando a criança ergue a cabeça, revela seu rosto em carne viva e olhos saltados para fora.
DANNY
(voz distorcida) Sua culpa.
Alana dá um berro de horror e fecha os olhos. Começa a chorar. Lily a abraça, também nervosa.
ALANA
(apavorada) Não pode ser real! Não pode ser real!
Alana abre os olhos, vê que Danny simplesmente sumiu. Ela limpa suas lágrimas e se levanta, ainda assustada.
LILY
Precisamos sair daqui.
BERRO macabro e agoniante pelo ar. As duas vêem, ao longe, um gigante trem-bala aproximando-se das duas, imponente e descontrolado.
ALANA
(berra) Corre!
E alas saem em disparada na direção contrária. Correm em completo desespero até chegar na beira de um precipício. Olham lá embaixo, vêem milhares de agulhas viradas para cima. O trem está se aproximando. Alana agarra na mão de Lily e as duas se atiram.
LETHA
(V.O.) Alana?
Quando Alana e Lily estão prestes a se espetar nas agulhas, a
IMAGEM ESCURECE.
LETHA (CONT’D)
(V.O.) Acorda!
FADE IN:
CENA 32. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
P.V. de Alana: o rosto de Letha vai surgindo na tela até ficar nítido.
LETHA
Graças a Deus.
ALANA
(O.S.) Letha?
VOLTA À CENA.
Alana e Lily deitadas no chão, em meio à fumaça. Letha dá a mão para as duas.
LETHA
Eu vim para ajudá-las.
E todas se encaram.
FADE OUT.
FIM DO ATO II
ATO III
FADE IN:
CENA 33. CHATEAU MARMONT. PORÃO SECRETO. INTERIOR. NOITE.
Letha fecha a passagem pela parede e desce pela escada de madeira. Lá embaixo, estão Alana e Rosie.
LETHA
Estamos seguras. Pelo menos agora. O fogo vai demorar um tempo para chegar até aqui.
LILY
Onde estamos?
LETHA
Em um lugar que poucas pessoas sabem. Acredito que no momento a única viva seja eu.
ALANA
(olha em volta) O porão de Victor Montgomery.
LETHA
Preciso que me escutem. Não temos muito tempo.
ALANA
O que aconteceu, Letha? Quando cheguei aqui, o orfanato já estava em chamas.
LETHA
Eu não sei. Estava prestes a dormir quando senti o cheiro da fumaça.
Fui até o quarto da senhora Blaylock, ela não estava. Acho que conseguiu escapar. Então, foi quando encontrei vocês duas desmaiadas no chão.
LILY
(olha para Alana) O que vimos. Era uma ilusão. Uma ilusão criada por ele.
LETHA
(estranha) Ele?
LILY
O Slenderman.
ALANA
Letha, sei que difícil de acreditar.
(MORE)
ALANA (CONT’D)
Eu não acreditava antes, mas sei da verdade agora. Ele é real.
LETHA
Nunca duvidei que realmente fosse. Independente disso, ou das causas deste incêndio, preciso tirá-las daqui.
ALANA
Por onde?
LETHA
Me sigam.
Letha aproxima-se da banheira que está no centro do local e a empurra com dificuldade. Revela-se a entrada de um alçapão. A governanta olha para Alana e Lily.
LETHA (CONT’D)
Espero que nenhuma de vocês tenha medo do escuro.
CENA 34. TÚNEL SUBTERRÂNEO. INTERIOR. NOITE.
Letha na frente, em passos firmes. Alana e Lily de mãos dadas, logo atrás. O local é extremamente apertado.
ALANA
Este lugar cheira como um túmulo.
LETHA
Foi algo assim, de certa forma.
ALANA
O que quer dizer?
LETHA
Esse túnel é bastante secreto. Nem a diretora sabe sobre ele. Apenas eu e acredito que o Reverendo. Na realidade, ele não existe na planta do casarão.
ALANA
Bem como a suposta fábrica descrita por Lily. O lugar onde os corpos eram desovados.
LETHA
Aquele lugar. A fábrica. Reverendo nunca soube da existência.
(MORE)
LETHA (CONT’D)
Foi construído pela administração da Cruella. Quando alguma criança morria de forma misteriosa e não queríamos nos explicar para a polícia, mandávamos os corpos para lá e fingíamos que as crianças tinham fugido.
ALANA
Trata-se de assassinato, Letha.
LETHA
Sei disso. Nunca fui a favor. Porém, sou empregada, Alana. Obedeço ordens.
LILY
(enche os olhos de lágrimas) Não consigo acreditar que... Que fizeram aquilo com Rosie. Eles mataram minha irmã.
Alana para e alisa o rosto da menina.
ALANA
Oh minha querida. Sei que tudo isso é muito triste. Sua irmã era uma menina muito corajosa.
LILY
(chorando) Ela não merecia morrer. Não merecia! E agora? O que vai ser de mim? Eu não sou nada sem ela.
Nada.
ALANA
Tudo vai ficar bem, ok? Eu te prometo que vou cuidar de você.
LILY
Promete?
Alana concorda e as duas se abraçam.
LETHA
Tenho certeza absoluta que esse massacre é orquestrado pelo dr. Hermann. Vingança por ter sido deixado de lado todos esses anos.
LILY
Se isso for verdade, eu espero que ele morra!
LETHA
Oh querida, não se preocupe quanto a isso. Precisamos seguir em frente.
Alana segura o braço de Letha.
ALANA
Você ainda não me disse o motivo da existência deste túnel.
LETHA
(encara) Foi construído pelo fundador logo após a morte da esposa. Quando ele surtou e passou a sequestrar as crianças da região, era por aqui que ele as transportava. A polícia jamais descobriria.
ALANA
A história de Victor Montgomery me arrepia.
LETHA
Vamos! Por favor.
Letha toma frente e as outra duas a seguem.
CENA 35. FLORESTA. EXTERIOR. NOITE.
Letha, Alana e Lily saem do túnel.
ALANA
Finalmente. Quantos quilômetros caminhamos?
LETHA
O suficiente. Vocês estão livres, agora.
LILY
Para onde iremos?
ALANA
(pensa) Um lugar seguro.
LETHA
Agora vocês seguem sem mim.
ALANA
Mas eu achei que/...
LETHA
Aquele orfanato é a minha vida. Aquelas crianças são tudo para mim. Não posso deixá-las morrer. Preciso voltar e salvá-las. Espero que compreendam.
Alana concorda e segura nas mãos de Letha.
ALANA
Não tenho palavras para descrever o quão agradecida fico por ter salvo nossas vidas.
LETHA
É o que eu sempre fiz.
ALANA
Sei que tivemos uma certa antipatia logo no inicio, mas eu admiro sua coragem, Letha. O Chateau Marmont tem sorte em ter você.
LETHA
(sorri) Eu sei.
Alana abraça Letha, para a surpresa da governanta.
LETHA (CONT’D)
(se afasta) Já chega. Vocês precisam ir.
ALANA
Sim.
LETHA
Boa sorte.
Alana dá a mão para Lily e as duas vão embora. Letha respira fundo e embrenha-se no meio das árvores. Num PLANO GERAL, enxerga-se a luz das chamas e a fumaça ao longe.
CENA 36. CABANA NA FLORESTA. EXTERIOR. NOITE. PLANO GERAL.
CENA 37. CABANA NA FLORESTA. INTERIOR. NOITE.
Alana fecha a porta. Lily deitada num velho sofá.
LILY
Não a veremos nunca mais.
ALANA
Quem?
LILY
Letha. (pausa) Você sabe que ela vai sacrificar a própria vida para salvar quem ficou preso no orfanato.
Alana suspira e senta-se no sofá. Alisa o cabelo da menina.
ALANA
Talvez você esteja certa.
LILY
É tudo tão triste.
ALANA
Eu sei. O que você passou naquele lugar é triste, mas passou. Acabou. Está salva agora.
LILY
Queria que Rosie também tivesse sobrevivido.
ALANA
Eu sei. Vocês duas tinham uma conexão maravilhosa. É difícil. Nada que eu tentar te falar agora, vai mudar o que você está sentindo.
LILY
(olha nos olhos) O que vai acontecer comigo agora?
ALANA
Você sabe.
LILY
Não quero voltar para um orfanato, Alana. Por favor.
ALANA
Você não vai. Quero ficar com você.
LILY
(espantada) Comigo?
ALANA
Não como mãe. Talvez irmã. Uma irmã amiga. Posso adotar você.
LILY
(se senta) Isso seria... (sorri) Maravilhoso!
ALANA
(sorri) Então está decidido. Vamos partir para a cidade amanhã cedo e farei o impossível para adotar você. Vamos construir uma nova vida, Lily. Juntas.
LILY
Você é muito generosa.
ALANA
E você é a garotinha mais corajosa que eu já conheci. Mais corajosa que a sua irmã. Quando eu te vi pela primeira vez, com os olhos baixos, falando pouco, jamais imaginei que fosse se tornar uma sobrevivente. E você se tornou.
BATIDAS na porta. As duas se entreolham, assustadas.
LILY
(murmura) Oh meu Deus.
ALANA
(murmura) Fica calma!
BATIDAS na porta novamente. Alana se levanta e se aproxima devagar.
ALANA (CONT’D)
(alto) Quem é?
Nenhuma resposta. Lily fecha os olhos e tampa os ouvidos, apavorada.
ALANA (CONT’D)
(alto) Letha? É você?
De repente, a porta começa a tremer. Alana dá um salto para trás, no susto.
ALANA (CONT’D)
(grita) Quem está fazendo isso?
LILY
(O.S.) Alana!
Alana se vira e vê Lily flutuando no ar, em direção ao teto.
LILY (CONT’D)
(grita) Me ajuda!
A psiquiatra olha em volta e todos os móveis e objetos começam a flutuar na mesma direção que a menina. Subitamente, a própria Alana é alçada ao ar.
ALANA
(se debate) Não!
Uma força invisível prende Alana e Lily na parede. As duas se olham, de olhos arregalados. Uma forte luz branca invade o pequeno ambiente. Um grito fino e agoniante ecoa pelo local.
LILY
(berra) É ele! Ele veio por mim! Ele veio por mim!
Alana começa a gritar e fecha os olhos. Como mágica, ela despenca até o assoalho junto de todos os objetos. Põe a mão na cabeça, machucada. Ergue os olhos.
ALANA
(murmura) Lily, como você/...
Se levanta e vê que está sozinha. Tenta caminhar, mas perde o equilíbrio.
ALANA (CONT’D)
(zonza) Lily...
Com dificuldade, vai caminhando até a porta.
CENA 38. CABANA NA FLORESTA. EXTERIOR. NOITE.
Alana abre a porta e sai correndo. Tropeça na pequena escada de entrada e rola até o chão batido. Levanta, atônita, com as mãos nos cabelos.
ALANA
(berra) Ela não! Não pode estar acontecendo novamente! Lily!
E cai de joelhos, começa a chorar.
ALANA (CONT’D)
Lily...
E a CÂMERA se afasta lentamente até um PLANO GERAL.
FADE OUT.
FIM DO ATO III ATO FINAL
FADE IN:
CENA 40. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. TERRAÇO. EXTERIOR. NOITE.
Continuação da cena 8. Alana de frente com o Slenderman.
ALANA
O que foi? Por que me olha dessa forma? O que está esperando? Me leve agora! (bate no peito) Eu mereço.
Ela dá alguns passos na direção da criatura, que apenas observa.
ALANA (CONT’D)
Você conhece minha história. Você sabe quem eu sou. O que aconteceu... (pausa) É por minha causa. Construí meu próprio inferno. (enche os olhos de lágrimas) Eu estou cansada. Cansada de lutar. A maior crueldade do mundo é a falsa esperança. E foi nela que eu me apoiei nos últimos 5 anos. Passei esse tempo na procura do monstro que havia destruído a minha vida. Então eu conheci a sua história. E foi conhecendo a sua história que eu percebi que passei todo esse tempo em busca do monstro errado. O monstro sempre foi eu. Eu sou a origem de toda a monstruosidade. E finalmente posso enxergar isso agora. E por enxergar claramente, eu não posso mais viver. Não poderei passar o resto da minha vida com esse fantasma na minha cabeça. O fantasma da mentira. Então me leve!
Alana abre os braços, enquanto as lágrimas correm de seus olhos.
ALANA (CONT’D)
Não vou gritar. Não vou fugir. (grita) Me mate! Eu mereço!
SUPER CLOSE no rosto de Alana.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Eu te amo, Danny.
FADE OUT.
FLASHBACK PARA:
CENA 41. CENTRAL PARK. EXTERIOR. NOITE.
Um sol escaldante. Alana corre alegremente pelo gramado.
ALANA
(V.O.) Eu estava no verão da minha vida.
À frente de Alana, Dale, segurando uma bola. Ele joga a bola, mas ela não consegue pegar.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Dale era meu céu azul.
A bola rola pela grama e é pega por Danny. Alana corre atrás do menino, que foge, dando gargalhada.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Danny era meu raio de sol.
Alana agarra o menino pela cintura e os dois caem no chão. Começam a rolar na grama, alegres.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Nunca pensei que pudesse ser tão feliz o quanto fui naquele tempo.
DALE
(O.S.) Sorriam para a câmera!
Dale se aproxima com a máquina fotográfica. Alana e Danny fazem pose e Dale tira a foto. A imagem sai instantaneamente por debaixo do aparelho.
DANNY
Me deixe ver, papai!
Dale sacode a foto e mostra para o filho. Alana os observa, realizada.
ALANA
(V.O.) Nunca fui uma mulher de muita sorte. Tive uma vida bastante difícil com meus pais. Meu pai, mais precisamente.
(MORE)
Quando me vi longe deles, acreditei que minha vida começaria. Na verdade, ela começou no momento em que Dale surgiu. Surgiu do nada e levou tudo, até meu coração.
CENA 42. PRAIA. EXTERIOR. DIA.
Dale e Alana, com um barrigão de grávida, vestindo branco, na frente de um juíz de paz. Alguns amigos em volta, segurando flores.
ALANA
(V.O.) Amei aquele homem mais do que a minha própria vida. Foi como se tudo que tivesse acontecido antes fosse apagado.
Dale ergue a mão de Alana e coloca um anel. Em seguida, beija seu dedo. Alana se emociona, deixa as lágrimas rolarem.
DALE
Para sempre.
ALANA
Até o fim dos dias.
E o casal dá um longo e caloroso beijo. Os convidados começam a gritar e aplaudem. Alana ergue o buquê e alisa a barriga.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Quando recebemos a notícia da vinda de Danny, tudo se tornou ainda melhor. Era como a minha vida estivesse completa. Tinha um marido que me amava e um bebê a caminho.
Não poderia ficar melhor.
CÂMERA se afasta e mostra um PLANO GERAL da cerimônia na areia.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Na verdade, não poderia mesmo. Alguns anos após o nascimento de Danny, o castelo começou a ruir. Tudo mudou num clique. (pausa) Como todo homem americano, Dale foi convocado para lutar numa sangrenta guerra. Ele não tinha como recusar.
(MORE)
Era sua obrigação. Deixei-o partir, sem saber se o veria novamente.
Surge o letreiro: 1962.
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 43. RUA. EXTERIOR. NOITE.
Comboio cheio de soldados estacionado na calçada. Dale, uniformizado, dá um beijo em Alana, emocionada. Ele se abaixa e abraça o pequeno Danny.
DANNY
Vou sentir muito a sua falta, papai.
DALE
(embargado) Oh, campeão. Eu também vou sentir.
DANNY
Você vai voltar, não vai?
DALE
Eu... Eu vou. Prometo que vou.
Danny sorri. Dale se levanta e dá mais um beijo na esposa.
DALE (CONT’D)
(murmura) Cuida bem dele.
ALANA
(concorda) Pode deixar.
SOLDADO
(O.S.) Está na hora.
Dale sobe no comboio junto dos outros soldados. O caminhão dá a partida e vai embora.
DANNY
(grita) Papai!
E o menino sai correndo atrás do veículo. Alana alcança o filho e o puxa pelo braço. Alana alisa a cabeça dele, forte, sem derrubar uma lágrima.
CENA 44. CASA DOS MAXWELL. COZINHA. INTERIOR. NOITE.
Danny sentado ao redor da mesa. Alana coloca um prato de comida na frente dele e senta-se também.
ALANA
Limpe o prato.
Danny se entristece e não mexe na comida. Alana observa.
ALANA (CONT’D)
Danny, não ouviu o que eu disse?
DANNY
Não estou com fome.
ALANA
Meu filho, você precisa se alimentar. Ficar forte. Trate de comer tudo. Não me faça falar duas vezes.
Danny mexe a comida com o garfo.
DANNY
Tive um pesadelo hoje.
ALANA
Oh. Então seria essa a causa do seu desânimo.
DANNY
Sonhei com o papai.
ALANA
Oh...
Alana encara o filho, sem saber o que dizer.
DANNY
Sonhei com a guerra.
ALANA
Não gosto que você fique pensando nisso.
DANNY
No meu pesadelo, papai morria e nos deixava sozinhos para sempre.
ALANA
Danny...
DANNY
Sei que isso vai acontecer.
ALANA
Não vai, meu filho. Seu pai vai voltar.
DANNY
Quando? Já fazem dois meses que não temos notícias. E eu olho as imagens na TV. Dizem que muitos já morreram nos campos de concentração.
ALANA
Não quero você vendo noticiários. Eles somente nos apavoram.
DANNY
Vamos perder o papai para a guerra. Sei disso. Eu sinto.
Quando Alana vai dizer alguma coisa, batem na porta. Ela se levanta e sai.
CENA 45. CASA DOS MAXWELL. SALA. INTERIOR. NOITE.
Alana abre a porta. Estão ali dois homens do exército. Ela estranha.
ALANA
Boa noite.
SOLDADO
Senhora Maxwell?
ALANA
Eu mesma.
SOLDADO
Podemos falar com a senhora? É sobre seu marido.
ALANA
Dale? Ele está de volta?
SOLDADO
Não, senhora. As notícias não são nada boas.
ALANA
(confusa) O que quer dizer/...
Um dos soldados tira a boina e baixa a cabeça. Alana começa a balançar a cabeça negativamente.
CENA 46. CASA DOS MAXWELL. COZINHA. INTERIOR. NOITE.
Danny sentado na mesa, de cabeça baixa. Os GRITOS de pânico de Alana ecoam pelo ambiente. O menino começa a chorar sem fazer nenhum ruído. CÂMERA se afasta lentamente dele.
CENA 47. CASA DOS MAXWELL. EXTERIOR. NOITE.
PLANO GERAL da residência em um dia nublado.
CENA 48. CASA DOS MAXWELL. QUARTO DE ALANA. INTERIOR. NOITE.
Luzes apagadas. Alana jogada na cama, desacordada, em meio aos lençóis. Danny entra, trazendo uma bandeja com café.
Coloca sobre o colchão e se aproxima do ouvido da mãe.
DANNY
Mamãe? Acorda.
Alana vai abrindo os olhos e dá um sorriso ao ver o filho.
ALANA
Danny. (passa a mão no rosto dele) Você está aqui.
DANNY
Precisa se levantar. Olha o que eu trouxe.
Ela se senta e vê a bandeja com o café. Seus olhos de enchem de lágrimas. Danny sorri.
ALANA
Você fez isso por mim.
DANNY
Você chorou a noite toda. Eu escutei. Logo que o dia raiou, achei que pudesse fazer algo para deixá-la mais contente.
Alana bate nas pernas e coloca Danny no seu colo.
ALANA
Você é um menino muito especial, quero que saiba disso. Seu pai teria muito orgulho de você.
DANNY
Onde você acha que ele vai estar agora?
ALANA
Tenho certeza que num lugar lindo e mágico, junto dos anjos. Ele estará olhando por nós e guiando nosso caminho.
DANNY
Vou sentir tanta falta dele.
ALANA
Também vou sentir, querido, mas infelizmente aconteceu o que tinha que acontecer. Lamento que você esteja tão triste.
DANNY
O que eu não quero é ver você chorar.
ALANA
Eu sei, pareço fraca. Mas é assim que acontece quando as pessoas morrem. Se choramos, é por que vamos sentir saudades daquele que se foi.
DANNY
O que vai acontecer com a gente agora?
ALANA
Nós sobrevivemos. É o que acontece.
DANNY
Eu te amo, mamãe.
ALANA
(V.O.) Eu te amo, Danny.
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 49. CASA DOS MAXWELL. FUNDOS. EXTERIOR. DIA.
Alana sentada em um banco de madeira, com vestes simples, segurando uma vassoura. Ela está com o olhar melancólico no horizonte.
ALANA
(V.O.) Eu disse para o meu filho que sobreviveríamos. Naquele momento, eu realmente achei que pudéssemos. (pausa) Na verdade, isso era mentira. Dale era o esteio da minha casa. Era onde eu me apoiava quando tudo dava errado.
Como disse antes, minha vida era um inferno antes dele aparecer. E quando ele se foi, eu tive medo de que o inferno voltasse. Tive medo de não saber lidar com a pressão.
Sabia que poderia surtar a qualquer momento. Eu tinha um filho para criar. Uma carreira como psiquiatra. O que eu poderia fazer? (pausa) Como eu previa, não aguentei. Saí do eixo. Perdi o controle. E acabei com a minha vida.
CLOSE em Alana.
DANNY
(V.O.) Não, mamãe!
CENA 50. CASA DOS MAXWELL. SALA. INTERIOR. DIA.
Danny corre pelo local, assustado. Alana atrás dele, descontrolada, segurando uma vassoura.
DANNY
Não faça isso!
ALANA
(grita) Vem aqui, seu pestinha! Vou fazer você aprender a não mexer comigo!
Ela agarra o filho pela camisa. Danny se joga no chão, começa a se debater.
DANNY
(berra) Me solta! Por favor!
ALANA
(alto) Eu fui muito, mas muito clara! Sem futebol dentro da minha casa!
DANNY
Eu não fiz nada!
Danny se solta e vai engatinhando até debaixo da mesa. Alana ergue a vassoura e sai a procura do filho.
ALANA
(alto) Volte aqui! Onde está? Hum? (ofegante) Maldito pestinha! Você não pode fugir de mim! Nunca poderá! Eu sou sua mãe! Cuido de você agora! O seu pai...
Ela não consegue completar a frase e começa a chorar. Totalmente em descontrole, começa a quebrar tudo que você pela frente com a vassoura. Danny espia por debaixo da mesa, apavorado.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Não conseguia me reconhecer. Quem era aquela mulher? Onde estava a mulher que lutou tanto? Sentia como se estivesse desistindo. Quase desisti.
CENA 51. CASA DOS MAXWELL. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
Alana vem do primeiro andar, com os cabelos desgrenhados e roupas desleixadas.
DANNY
(O.S.) Não posso fazer isso!
Ela para perto da porta do quarto do filho, atenta.
DANNY (CONT’D)
(O.S.) Sei que ela é má, mas ela é minha mãe.
ALANA
Daniel?
Alana põe a mão na maçaneta e entra.
CENA 52. CASA DOS MAXWELL. QUARTO DE DANNY. INTERIOR. NOITE.
Alana encontra Danny debaixo do lençol, com uma lanterna ligada. A janela está aberta. Ela olha em volta, curiosa.
ALANA
Daniel? Com quem está falando?
Danny desliga a lanterna e coloca a cabeça para fora.
DANNY
Ninguém.
ALANA
(se aproxima) Ouvi sua voz. Você disse que eu era má.
DANNY
(com medo) Nunca quis dizer isso.
ALANA
Você realmente acha que eu sou uma má pessoa? Depois de tudo que eu fiz desde a morte do seu pai?
DANNY
Desculpe, mamãe.
Alana enche os olhos de lágrimas e senta na ponta da cama.
ALANA
Quer saber de uma coisa? Talvez você esteja certo. É possível que eu seja má. Ou melhor, uma bosta de mãe. Eu falhei, Danny.
DANNY
O que está dizendo?
ALANA
(põe a mão no peito) Sinto como se estivesse entrando num túnel. Um trem descarrilado. Eu estou infartando. Infartando.
DANNY
Nada do que está dizendo faz sentido para mim.
ALANA
Eu posso ser uma péssima mãe, mas daria a minha própria vida por você, pestinha. (ri) Maldito pestinha.
Danny começa a rir. Alana se deita ao lado do filho. Juntos, ficam admirando o teto.
DANNY
Eu te perdoo.
ALANA
É, eu sei.
DANNY
Mesmo que você não mereça. É normal a pessoa se perder no caminho quando coisas ruins acontecem.
ALANA
Você é mais maduro que eu, sabia?
DANNY
O papai/...
ALANA
(por cima) Seu pai está decepcionado comigo. Se ele não estivesse morto, com certeza me mataria. (debocha) A péssima mãe.
DANNY
Sei que é uma fase. Sei que tudo vai ficar bem.
Alana olha para o filho e o admira.
ALANA
(V.O.) Ele mentiu. Nunca ficou bem. Na realidade, ficou ainda pior.
Ela alisa o rosto do menino.
ALANA (CONT’D)
Você é lindo como o seu pai.
DANNY
Obrigado.
ALANA
Você sabe como ele me faz falta, não sabe? Em todos os momentos. (suspira) Nos mais íntimos momentos. E olhando para você, percebo o quão parecido com ele você é. Meu menino. O meu garotinho!
A mão de Alana desliza para debaixo das cobertas e Danny arregala os olhos.
DANNY
O que está fazendo?
ALANA
(sussurra) Meu doce e lindo garoto.
DANNY
(apavorado) Para com isso!
E a mão de Alana se movimenta debaixo da coberta. Danny começa a gritar e chorar. Alana dá uma gargalhada e a IMAGEM vai desfocando. FUNDE COM:
CENA 53. CASA DOS MAXWELL. BANHEIRO. INTERIOR. NOITE.
Alana de camisola branca, na frente do espelho. Ela se olha por alguns segundos e pega uma navalha que estava dentro de uma das gavetas da pia.
ALANA
(V.O.) Naquele momento, parecia a coisa mais correta a se fazer. O que havia restado para mim?
Absolutamente nada.
Calmamente, Alana enfia o canivete no pulso e rasga sua pele até o cotovelo. O sangue começa a jorrar e ela cai no chão. CÂMERA AÉREA mostra o corpo desfalecido da psiquiatra envolto no sangue.
ALANA (CONT’D)
(V.O.) Fácil demais.
CORTA PARA Alana na frente do espelho, ainda fitando a navalha. Ela joga o objeto na pia e respira fundo.
CENA 54. CASA DOS MAXWELL. COZINHA. INTERIOR. NOITE.
Alana entra e liga a luz. Ela dá um grito quando vê uma criatura alta e escondida nas sombras pular para fora da porta, carregando Danny nos braços.
ALANA
(grita) Danny!
DANNY
Mamãe...
E tanto a criatura quanto Danny simplesmente desaparecem. Alana sai correndo da residência.
CENA 55. CASA DOS MAXWELL. EXTERIOR. NOITE.
Alana sai porta afora, em prantos, gritando. Ela corre pela grama erguendo as mãos para o céu.
ALANA
Levaram meu filho! Eu preciso de ajuda!
Algumas pessoas passam pelo outro lado da calçada e apenas observam.
ALANA (CONT’D)
(grita) O que estão olhando? Me ajudem! Ele levou o meu menino!
E cai de joelhos no chão. Em fúria, começa a dar todos na grama.
ALANA (CONT’D)
(berro) DANNY!!!
PLANO GERAL da residência.
FIM DO FLASHBACK.
CENA 56. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. TERRAÇO. EXTERIOR. NOITE.
Alana de frente para o Slenderman, chorando.
ALANA
Esperei por esse momento a minha vida toda. O fim da linha. Eu estou pronta agora.
A criatura estica seus braços e agarra a psiquiatra. Ele ergue a mulher até o alto e vai asfixiando-a. SOM dos ossos de Alana sendo quebrados. Ela revira os olhos e começa a se debater.
CENA 57. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Margaret abre a porta. Liga a luz. Vê o quarto vazio.
MARGARET
Oh meu Deus... (grita) Eu preciso de ajuda.
E sai correndo.
CENA 58. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. TERRAÇO. EXTERIOR. NOITE.
Margaret sai, acompanhada de dois enfermeiros. Eles encontram Alana no parapeito, prestes a se jogar.
MARGARET
Alana! Não faça isso.
A mulher se vira para eles, abre os braços e dá um sorriso.
ALANA
Ele veio me buscar, Margaret.
MARGARET
(nervosa) Me deixa te ajudar. Não precisa terminar assim. Você tem uma vida inteira pela frente.
ALANA
Te disse que não tinha mais nada para perder.
E se joga de lá de cima. Margaret dá um grito e corre até o parapeito.
CENA 59. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. EXTERIOR. NOITE.
CÂMERA no rosto de Alana: olhos arregalados e sangue escorrendo pela boca. A IMAGEM se afasta para mostrar a psiquiatra morta, dentro de um chafariz. Aos poucos, os enfermeiros correm para fora e aproximam-se do corpo dela.
CENA 60. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. TUBULAÇÃO. INTERIOR. NOITE.
CÂMERA mostra, de costas, a figura do Slenderman caminhando calmamente. Atrás dele, uma fina neblina branca. À medida que a criatura se afasta da tela, a IMAGEM ESCURECE.
CRUELLA
(V.O.) Você deve ser Alana Maxwell, correto?
FADE IN:
CENA 61. CHATEAU MARMONT. SALA DE CRUELLA. INTERIOR. DIA.
Cruella sentada em sua poltrona. Na frente da mesa, está Alana. As duas conversam.
ALANA
Senhora Blaylock, eu sou uma pessoa muito honesta. Não posso deixar de comentar o que a senhora sabe que eu testemunhei ontem.
CRUELLA
Oh, e o que seria?
ALANA
Exorcismo. Eu respeito seus métodos de tratamento com crianças, mas preciso alertá-la que essa é uma prática bastante condenável. Há outras formas/...
CRUELLA
(interrompe) Senhorita Maxwell, por favor, deixe-me lembrá-la do seu trabalho aqui. O seu trabalho é analisar o estado mental de duas meninas acusadas de um crime terrível e escrever uma recomendação ao governo se elas devem morrer na cadeira elétrica ou permanecer sob meus cuidados até a maioridade. Portanto, eu sugiro que faça o seu trabalho e me deixe fazer o meu. (levanta-se) Me siga. Te apresentarei às meninas.
A diretora levanta e sai da sala. Alana a segue.
CENA 62. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. DIA.
Cruella descendo a escadaria. Alana logo atrás.
CRUELLA
Você parece ser uma mulher muito inteligente, senhorita Maxwell. Esperta. Decidida. Posso sentir.
ALANA
Sempre sigo minha intuição.
CRUELLA
Não foi sua intuição que te trouxe até o Chateau Marmont.
ALANA
Por que está dizendo isso?
CRUELLA
Este lugar... (pausa) Ele muda as pessoas.
ALANA
Pelo pouco que conheci ontem a noite, pude perceber que é um ambiente bastante incomum.
CRUELLA
Quer um conselho, Alana?
Cruella se vira e coloca o dedo no peito dela.
CRUELLA (CONT’D)
(ameaçadora) Faça apenas o seu trabalho e volte para sua casa. Você não conhece esse lugar. O Chateau Marmont é como uma ser vivo. Ele te seduz e engana. Faz você imaginar um paraíso ilusório dentro do mais verdadeiro inferno. Você pode acabar com a sua vida com o que encontrar aqui. Muitos já acabaram outras vezes.
ALANA
Como você mesma disse, eu sou uma mulher decidida. (sorri) Prefiro correr o risco.
Cruella concorda e encara a psiquiatra, irônica.
CRUELLA
Você vai se arrepender.
SÉRIE DE:
JOTA PÊ
ELENCO:
SARAH PAULSON...................................Alana
Maxwell
MACKENZIE FOY......................................Rosie Tate
KENNEDI CLEMENTS....................................Lily Tate
CATHERINE DENEUVE.......................................Letha
REBECCA HALL....................................Alexia Greene
JACOB TREMBLAY..................................Danny Maxwell
LINCOLN MELCHER.......................................Lachlan
BARRY SLOANE.....................................Dale Maxwell
ROBIN WEIGERT........................................Margaret
e
MICHELLE FORBES..............................Cruella Blaylock
PRODUÇÃO
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com
nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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