CENA 01. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Continuação da última cena do capítulo anterior.
Marcelo olha incrédulo para Heloísa que vai até Clara e
a abraça. Marcelo encara as duas lado a lado.
Heloísa
— (Sorri) Nós somos idênticas não somos?
Clara
— Poucas pessoas conseguem distribuir uma da outra. A
sua mãe era uma delas. (Tom) Eu vou pegar uma coisa lá
no meu quarto, aí a gente pode ir, tá?
Clara dá um beijo em Marcelo, que não corresponde e vai
para o seu quarto. Marcelo e Heloísa ficam sozinhos.
Furioso, Marcelo segura Heloísa pelo braço.
Marcelo
— (Raiva/Baixo) O que você tava querendo com isso?
Heloísa
— (Sorri/Cínica) Te conhecer melhor. Ver se você era
tudo isso que a Clarinha tava dizendo.
Marcelo
— Você é uma cínica, eu sou namorado da sua irmã e você
apronta uma dessas?
Heloísa
— Ai para de ser careta. Cadê o seu senso de humor?
Marcelo
— Que senso de humor, sua louca? Isso aqui não é uma
piada. Como você acha que a Clara vai se sentir quando
descobrir o que aconteceu?
Heloísa
— Só vai descobrir se você contar. (Tom) Você não vai
ser otário de fazer isso.
Marcelo
— Eu não vou mentir pra ela. Um relacionamento que
começa com mentiras só pode dar errado.
Heloísa
— (Revira os olhos) Que saco, hein? Para com essa
conversinha chata e sentimentalóide. A verdade é tão
relativa, se você ficar quietinho a gente pode até fazer
um replay depois. (Passa a mão nele) Você não disse que
eu fui melhor que ela?
Marcelo empurra Heloísa para longe dele.
Marcelo
— Não encosta em mim. Se eu soubesse quem você é, nunca
que isso teria acontecido.
Heloísa
— Isso não anula o fato de você ter sentido muito tesão
em tá comigo na cama. E agora cada vez que você estiver
transando com a Clara, você vai lembrar de mim.
Marcelo
— Você é louca.
Heloísa ri. Clara vem do seu quarto.
Clara
— Do que você tá rindo?
Heloísa
— O Marcelo me contando umas histórias da cidade que ele
vivia. (Pra Marcelo) Conta pra ela, Marcelo.
Marcelo
— Depois. (Pra Clara) Vamos?
Marcelo pega Clara pelo braço e os dois saem para a rua.
Heloísa fica ali, dando um sorriso vitorioso.
CENA 02. casa de giancarlo. sala de jantar. Interior.
Dia.
Continuação da cena 33 do capítulo anterior.
Giancarlo, Bianca, Rogério, Milena e Yasmin na mesa do
café da manhã. Bianca por fim, quebra o silêncio.
Bianca
— Você vai casar e fala isso como se estivesse pedindo
um chá?
Milena
— Não, o que eu pedi foi a geleia. Pode passar?
Giancarlo
— Quando é que ele fez o pedido, Milena?
Milena
— Ontem de noite.
Bianca
— É, tava na cara que mais cedo ou mais tarde isso ia
acontecer. Parabéns, minha filha. O Leandro é um ótimo
rapaz.
Milena
— Eu sei mãe.
Giancarlo
— Parabéns, querida. Toda felicidade do mundo pra você.
Rogério
— Que vocês sejam muito felizes nesse novo caminho.
Milena
— Obrigada gente. Eu tenho certeza que eu e o Leandro
vamos se muito felizes.
CENA 03. casa de ana carolina. frente. Exterior. Dia.
Tomada geral da frente da mansão.
CENA 04. casa de ana carolina. quarto de marcelo.
Interior. Dia.
Marcelo larga sua mala em cima da cama. Clara junto
dele.
Clara
— Você não vai ficar no quarto que era da sua mãe? É o
maior da casa.
Marcelo
— É melhor não, primeiro porque eu não ia me sentir bem
e segundo porque esse quarto também é bem grande. Quase
do tamanho da minha antiga casa.
Clara
— (Abraça Marcelo) Você vai ser muito feliz nessa casa.
Clara beija Marcelo, mas ele é um pouco frio.
Clara
— (Estranha) To te achando um pouco estranho. Aconteceu
alguma coisa?
Marcelo fica sem saber o que responder.
CENA 05. AP DE LUÍSA. sala. Interior. Dia.
Heloísa sozinha, rindo.
Heloísa — E não é que o namoradinho da Clara é gostoso.
Não sei o que ele viu naquela coisinha insossa (Ri) Mas
eu deixei a minha marca nele.
Luísa entra da rua e pega Heloísa rindo.
Luísa
— Tá rindo do que, Helo?
Heloísa
— De uma piada engraçadíssima que eu lembrei agora.
Luísa
— Seus irmãos onde tão?
Heloísa
— Bernardo não sei. Clarinha foi com o Marcelo pra casa
que era da tia Ana e que agora é dele. Parece que ele tá
se mudando pra lá.
Luísa
— (Feliz) Coisa boa. (Tom) Você conheceu o Marcelo? O
que acho dele?
Heloísa
— (Sorri) Um amor de pessoa.
CENA 06. ap de otávio. escritório.
Interior. Dia.
Otávio e Giovanna.
Conversa já iniciada.
Giovanna
— Foi boa coisa o capiau ter saído daqui? Ele estando
longe vai ser mais difícil de manipular.
Otávio
— Eu sei, Giovanna. Mas eu não poderia prender ele aqui
pra sempre. Mas eu vou colar nele, fazer com que ele me
torne o seu braço direito nos negócios.
Giovanna
— E será que vai funcionar?
Otávio
— Claro que vai. Ou você acha que ele vai saber comandar
uma empresa do porte daquelas?
Giovanna
— O Gregório não vai deixar que isso aconteça.
Otávio
— Sim, justamente por isso que eu tenho que agir o
quanto antes: pra impedir que o Gregório faça com que o
Marcelo fique do lado dele.
Giovanna
— Eu to começando até a sentir pena do Marcelo. O
coitado caiu o ninho da serpente e nem sabe.
Otávio
— O mundo é dos espertos, meu bem. Você já tá bem
grandinha pra saber disso.
CENA 07. casa de giancarlo. quarto de milena. Interior.
Dia.
Música:
That I Would Be Good - Alanis Morissette.
Milena na cama olha um álbum de fotos antigas com ela
ainda bebê, Bianca e seu pai ainda jovens. Milena sorri
emocionada. Tempo e Yasmin entra.
Yasmin
— Tá olhando o que?
Milena
— Um álbum de fotos antigas. Senta aqui.
Yasmin senta ao lado de Milena e começa a olha as fotos
junto da irmã.
Yasmin
— Você era bonitinha quando bebê.
Milena
— Era? Ainda sou, né Yasmin?
As duas riem.
Yasmin
— Você tá chorando?
Milena
— Ver essas fotos me fizeram sentir saudades do meu pai.
E agora que eu vou me casar esse vazio fica ainda maior
por saber que ele não vai tá aqui pra entrar comigo no
altar.
Yasmin
— Pede pro vô Carlo entrar com você.
Milena
— Eu já pensei nisso, maninha.
Música:
That I Would Be Good - Alanis Morissette.[Fade out].
CENA 08. casa de ana carolina. quarto de marcelo.
Interior. Dia.
Continuação da cena 04. Marcelo por fim responde.
Marcelo
— (Disfarça) Não tá acontecendo nada. Deve ser a emoção
de tá voltando pra casa.
Clara
— (Sorri) Deve ser.
Marcelo
— Eu vou te acompanhar até a sua casa.
Clara
— Mas já?
Marcelo
— (Enrola/Mente) Pois. Eu lembrei que tenho que fazer
umas coisas com o Otávio. Não vou poder ficar aqui.
Clara
— Tudo bem. Vamos então.
CENA 09. casa de gregório. quarto do casal. Interior.
Dia.
Gregório e Tarsila conversando.
Tarsila
— Eu só acho que você tá muito parado em relação ao
nosso sobrinho. Daqui a pouco ele fica tentado pelo
poder e acaba querendo conquistar a cadeira da
presidência.
Gregório
— (Pouco caso) Imagina, Tarsila. Aquela pessoa sem eira
nem beira jamais iria sonhar em chegar à presidência de
uma empresa do porte da nossa. Esse tipinho de gente
fica contente com o básico do básico, não tem um pingo
de ambição.
Tarsila
— Eu não falo nada, porque eu quero ver esse sujeito com
os meus próprios olhos.
Gregório
— Eu vou levar você e lhe garanto que você vai me dar
razão em ter pensado que ele era um invasor na casa da
Ana Carolina. Aquela pessoa mais parecia ser membro do
Movimento dos Sem Terra do que meu sobrinho.
CENA 10. praia de ipanema. calçadão.
ambiente. Exterior.
Dia.
Leandro e Bernardo correm pelo calçadão de Ipanema.
Conversa já iniciada.
Bernardo
— Eu acho uma tremenda cara de pau a sua. Tentar pegar a
garota justo no dia em que você tá comemorando um pedido
de casamento?
Leandro
— Qual é o problema, Bernardo. Não vem querer dar uma de
beata puritana que isso não tem a ver contigo. Eu amo a
Milena, com aquela garota é diferente eu achei ela
bonitinha e quero levar ela pra cama.
Bernardo
— Tudo bem, faça o que você quiser. Mas que você correu
um risco fazendo isso de baixo do nariz da Milena, isso
foi.
Leandro
— Eu tenho tudo sob controle. Não foi a primeira e nem
vai ser a última vez que isso acontece. E quantas vezes
ela desconfiou?
Bernardo
— Nenhuma. Cê tem o rabo virado pra lua.
Leandro
— Eu uso o cérebro, meu velho. Nunca que a Milena vai
desconfiar disso. Até porque eu não vou desistir daquela
garota, ela tá se fazendo de dificilzinha, mas na
primeira oportunidade que ela baixar mais a guarda eu
cato ela.
E os dois seguem correndo pelo calçadão.
Música:
That I Would Be Good - Alanis Morissette.
CENA 11. bairro das laranjeiras. ruas. Exterior. Dia.
Stock-shot de ruas do bairro das Laranjeiras.
Música:
That I Would Be Good - Alanis Morissette. [Fade
out].
CENA 12. frente do prédio de luísa.
ambiente. Exterior.
Dia.
Marcelo e Clara na frente do prédio.
Clara
— Você veio quase o trajeto inteiro calado. Tem certeza
que não aconteceu nada?
Marcelo
— (Sorri amarelo) Tenho, Clara. Eu preciso resolver uns
problemas e mais tarde a gente se fala.
Marcelo dá um beijo morno em Clara e ela entra no
prédio.
CENA 13. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Clara entra da rua e encontra com Heloísa.
Clara
— Helô, aconteceu alguma coisa com o Marcelo enquanto
ele me esperava aqui?
Heloísa
— (Finge não entender) Como assim? Que tipo de coisa?
Clara
— Sei lá. Eu achei ele muito estranho hoje.
Heloísa
— Deve ser paranoia sua. Aqui não aconteceu nada.
Clara
— Você tem razão, bobagem minha.
Clara vai para o seu quarto. Heloísa sorri.
Heloísa
— Quer dizer então que ele ficou balançado.
Em Heloísa vitoriosa.
CENA 14. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Marcelo e Rudá conversando.
Rudá
— Eu fiquei surpreso quando o senhor me ligou.
Marcelo
— Não me chama de senhor.
Rudá
— Desculpa. Qual é o assunto?
Marcelo
— Seus pais trabalharam pra minha mãe durante muitos
anos, certo?
Rudá
— Sim. Eles trabalharam durante vários anos e ficaram
até eu fazer uns 15 anos mais ou menos.
Marcelo
— Então, Rudá. Se os seus pais trabalharam por tantos
anos pra minha mãe, é porque ela tinha total confiança
neles.
Rudá
— Tinha sim, Marcelo.
Marcelo
— Então eu quero que você venha trabalhar pra mim.
Rudá
— (Surpreso) Que?
Marcelo
— Isso mesmo, seu pai foi jardineiro, quero que você
faça o mesmo e que também seja meu motorista de vez em
quando. Pago bem. Ah e se quiser pode se mudar pra cá e
ficar onde seus pais ficavam.
Rudá
— Poxa, eu fico muito feliz com a proposta, mas não sei
se posso aceitar.
Marcelo
— Por quê?
Rudá
— Eu não sou sozinho, tem o meu irmão também.
Marcelo
— Ele vive com você?
Rudá
— Sim, ele é meu meio irmão por parte de pai. Foi um
caso que o meu pai teve fora do casamento. A mãe do
Samuca, acabou morrendo no parto e depois que o nosso
pai morreu em um acidente de ônibus, só sobrou eu como
família.
Marcelo
— Seus pais eram separados?
Rudá
— Não ela acabou perdoando ele. Mas o fato é que pra vir
trabalhar e morar aqui, meu irmão precisaria vir junto.
CENA 15. casa de gregório. sala. Interior. Dia.
Gregório desce as escadas e vai até Tarsila.
Gregório
— Pronta?
Tarsila
— Pra quê?
Gregório
— Pra conhecer o nosso sobrinho Marcelo. Você não queria
fazer isso? Pois então, hoje eu vou te levar para
conhecer o nosso parente perdido.
Tarsila
— Ótimo, não vejo a hora de conhecer ele.
Em Tarsila ansiosa.
CENA 16. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Continuação da cena 14.
Marcelo
— Não seja por isso. Quer trazer o seu irmão, fique a
vontade. Essa mansão é grande e cabe todo mundo.
Rudá
— (Sorri) Muito obrigado, Marcelo. Voltar a trabalhar e
morar aqui vai me trazer muitas recordações boas.
Marcelo
— Quero que você comece o quanto antes.
Rudá
— Amanhã mesmo eu to aqui pra o que o senhor/
(Corta/Corrige) o que você precisar.
Marcelo
— (Sorri) Perfeito. Amanhã a gente acerta dos os
detalhes.
CENA 17. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Noite.
Stock-shot da cidade ao anoitecer.
CENA 18. casa de ana carolina. sala. Interior. Noite.
Gregório e Tarsila recém chegaram e estão falando com
Marcelo.
Marcelo
— Eu não esperava a visita de vocês.
Gregório
— Desculpa aparecer assim, Marcelo. Mas é que depois do
que aconteceu no nosso primeiro encontro, eu tive receio
de que você ficasse com má impressão.
Marcelo
— Imagina, tio. Eu compreendo que você só quis defender
o patrimônio da família. (Tom) Desculpa, qual é o seu
nome mesmo?
Gregório
Gregório. (Apresenta Tarsila) E essa é a minha esposa
e sua tia Tarsila.
Tarsila finge estar emocionada e abraça Marcelo.
Tarsila
— Marcelo, meu querido! Eu fico muito feliz em saber que
você está de volta ao seio da sua família. Eu acompanhei
de perto o sofrimento da sua mãe.
Gregório segura o riso. Tarsila se afasta um pouco e
observa Marcelo.
Tarsila
— Deixa eu olhar pra você. Como tá grande, nem parece
aquele menininho.
Gregório
— Claro, Tarsila. Ele tá há anos sumido. (Pra
Marcelo/Mente) Desculpa ela, é a emoção.
Tarsila
— (Mente) Você e o Leandro eram muito ligados. Você se
lembra disso?
Marcelo
— Não, tia. Eu não lembro de muita coisa da época que eu
vivia aqui. (Tom) Por que vocês não sentam e me contam
um pouco dela.
Gregório e Tarsila sorriem e se sentam no sofá junto com
Marcelo. A conversa segue sem áudio.
CENA 19. ap de luísa. sala. Interior. Noite.
Clara e Luísa conversando. Heloísa alheia à conversa.
Luísa
— Como foi a mudança do Marcelo pra casa nova?
Clara
— Foi boa, ele tá realmente disposto a assumir tudo o
que era dos pais dele. Eu só achei ele um pouco
estranho.
Luísa
— Estranho como, filha?
Clara
— Meio longe. Parecia tá preocupado com alguma coisa.
Luísa
— E deve tá mesmo, Clara. A vida dele virou de cabeça
pra baixo de uma hora pra outra.
Clara
— Isso não deixa de ser verdade. (Tom) To com fome. O
que tem pra comer?
Luísa
— Não sei, vamos lá ver. (Pra Heloísa) Vai jantar agora?
Heloísa
— Já to indo.
Clara e Luísa vão para a cozinha.
Heloísa
— (Indignada) Eu não posso acreditar que o Marcelo
esteja apaixonado pela Clara. Vamos ver se ele vai achar
que ela é tudo isso depois dos momentos inesquecíveis na
minha cama.
E sorri sarcástica.
CENA 20. casa de ana carolina. sala. Interior. Noite.
Marcelo, Gregório e Tarsila conversando.
Gregório
— Acho que tá na hora da gente ir, né Tarsila? (Pra
Marcelo) Qualquer dia aparece lá em casa, você tem que
conhecer a nossa filha mais nova, a Karina.
Marcelo
— Pode deixar que assim que as coisas se resolverem, eu
apareço por lá.
O celular de Marcelo toca, ele olha no visor o nome de
Clara e guarda o celular no bolso.
Tarsila
— (Sutil) Você não vai atender?
Marcelo
— Não.
Disfarçadamente, Gregório e Tarsila se olham.
CENA 21. ap de luísa. sala de jantar. Interior. Noite.
Clara sozinha. Ela desliga o celular, decepcionada.
CENA 22. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Dia.
Stock-shot do Rio de Janeiro ao amanhecer.
CENA 23. escritório de otávio. sala de otávio. Interior.
Dia.
Marcelo e Otávio conversando.
Otávio
— Eu já entrei com um processo pra que você possa
assumir a sua herança.
Marcelo
— E em quanto tempo fica tudo resolvido?
Otávio
— Difícil dizer isso, Marcelo. Mas não se preocupe que
como seu representante diante da lei eu vou fazer o
impossível para que esse problema se resolva o mais
rápido possível.
Marcelo
— Eu não sei nem como te agradecer.
Otávio
— Esse voto de confiança que você está me dando já é o
suficiente. (Brinca) E é só não esquecer de pagar os
meus honorários.
Marcelo
— O mesmo que a minha mãe pagava, eu vou pagar pra você.
Otávio
— (Continua) Provavelmente o juiz vá pedir a exumação do
corpo da dona Ana Carolina pra fazer o DNA e provar que
você é você.
Marcelo
— Mas só a minha identidade não vale?
Otávio
— Infelizmente as coisas não são tão simples.
O celular de Marcelo toca, ele vê no visor o nome de
Clara.
Marcelo
— Desculpa, Otávio. Eu tenho que resolver um assunto
urgente. (Se levanta) Qualquer coisa me liga.
Enquanto vai saindo, Marcelo atende o celular.
Marcelo
— (Cel) Que bom que você ligou, tava precisando falar
com você.
CENA 24. casa de giancarlo. quarto de milena. Interior.
Dia.
Milena por ali.
Bianca bate na porta e entra.
Bianca
— Filha me diz uma coisa: vocês vão fazer festa de
noivado, alguma coisa assim?
Milena
— Acho que sim. Eu ainda tenho que ver com o Leandro
como é que vão ser as coisas. Mas se a gente fizer, vai
ser aqui. Por quê?
Bianca
— Curiosidade, não precisa ficar na defensiva. Foi uma
pergunta como outra qualquer.
Milena
— Você e o pai fizeram festa de noivado?
Bianca
— Fizemos e foi um mega evento, toda a alta sociedade
carioca tava na festa.
Milena
— Eu queria ter convivido mais tempo com ele. Até hoje
eu não me conformo dele ter sofrido aquele acidente.
Bianca
— Pois é, mas infelizmente ele se foi e as únicas
lembranças que eu guardo são as fotografias e o meu
vestido de noiva. (Pausa) Alias, porque você não usa no
seu casamento o meu vestido de noiva?
Na surpresa de Milena.
CENA 25. bairro das laranjeiras. praça. Exterior. Dia.
Marcelo e Clara conversando.
Clara
— Eu te achei tão estranho ontem, aí você ignora as
minhas ligações! Comecei a pensar bobagem.
Marcelo
— Desculpa, Clara. É que aconteceram umas coisas que me
deixaram atordoados.
Clara
— Falando assim você me deixa preocupado. É alguma coisa
que eu possa ajudar?
Marcelo
— Talvez não, mas tem a ver com você.
Clara
— Comigo? (Preocupada) Fala logo, Marcelo.
Marcelo
— Sabe ontem, quando eu fui até a sua casa pra te buscar
e quem me recebeu foi a sua irmã?
Clara
— Sim, o quê que tem?
Marcelo
— Ela não falou que era sua irmã.
Clara fica séria por alguns instantes, mas logo em
seguida ri.
Clara
— Ela se passou por mim, né? Bem a cara dela.
Marcelo
— O problema não é só esse.
Clara
— (Não entende) Então?
Marcelo
— Ela fez eu acreditar que ela era você e...
Marcelo dá uma longa pausa, até que finalmente toma
coragem e fala.
Marcelo
— E eu e a sua irmã, a gente acabou transando.
Em Clara surpresa.
CENA 26. casa de gregório. sala. Interior. Dia.
Gregório, Tarsila, Leandro e Karina se preparando para
sair.
Leandro
— To pensando em chamar o Bernardo pra ser meu padrinho
de casamento.
Tarsila
— Eu achava melhor você chamar o seu primo Marcelo.
Leandro
— Que?! Mas eu mal conheço ele?
Tarsila
— Por isso mesmo, filho. Assim você estreita os laços
com ele.
Gregório
— Sua mãe tá certa, uma aproximação ia ser bem útil
agora.
Leandro
— Não sei, vou pensar nisso.
Karina
— (Se mete) Eu quero ser a madrinha!
Leandro
— (Pouco caso) Não delira, garota. Vou chamar uma
pirralha pra ser minha madrinha.
Gregório
— Sua mãe te falou que a gente foi visitar ele ontem?
Karina
— Ah! Todo mundo conhece ele, menos eu?
Tarsila
— (Pra Karina) Qualquer dia a gente te leva lá. (Pra
Leandro) Sabe, que o jeito dele me lembrou um pouco o
Alcides.
Karina
— Quando é que eu vou visitar ele?
Tarsila
— Um dia. Você não tá atrasada pra aula?
Karina
— Não.
Tarsila
— Tá sim, se agiliza.
Gregório
— (Pra Leandro) Você já ta indo pra empresa? Não me
inventa de faltar hoje.
Leandro
— Tem algo de urgente?
Gregório
— Sempre tem e você como futuro herdeiro de metade
daquilo, deveria estar de olho no que está acontecendo.
CENA 27. bairro das laranjeiras. praça. Exterior. Dia.
Continuação da cena 25. Clara ainda incrédula.
Clara
— (Ri) Que brincadeira idiota, Marcelo. Eu não gosto
desse tipo de humor.
Marcelo
— Não é piada, Clara. Infelizmente isso aconteceu mesmo.
Clara
— Eu não posso acreditar nisso. Você e a Heloísa?!
O clima de discussão vai ficando cada vez mais intenso,
até o ponto que os dois vão estar gritando. Muito ritmo.
Marcelo
— Eu não queria fazer isso/
Clara
— Ah tá! Foi sem querer que vocês transaram e/
Marcelo
— Não! Mas eu não sabia que ela era você. Você nunca me
disse que tinha uma irmã gêmea/
Clara
— Vai dizer agora que a culpa é minha?/
Marcelo
— Não, eu só to dizendo que a sua irmã me enganou.
Fingiu ser você pra me levar pra cama/
Clara
— Como é que você pode fazer isso?!
Marcelo
— Eu juro que achava que era você. (Passa a mão no rosto
dela) Nunca que eu ia mentir pra você/
Clara
— (Tira a mão dele/Grita) Não toca em mim!
Marcelo
— (Grita) Você tá me julgando como se eu fosse Judas,
mas a traidora dessa história é a sua irmã.
Clara
— Por que você não me falou nada logo em seguida?
Marcelo vai falar, mas Clara o interrompe.
Clara
— Já sei: ia esconder tudo, mas aí ficou com medo da
Heloísa contar tudo e resolveu fazer a sua versão da
história.
Marcelo
— Não é a minha versão, Clara! É a única.
Clara
— (Lágrimas) Quem me garante que você tá falando a
verdade?
Marcelo
— Eu te garanto, meu amor.
Clara
— Eu não sei se posso acreditar em você.
Clara vai se afastando, Marcelo vai atrás.
Marcelo
— Onde você vai?
Clara
— Eu preciso pensar. (Grita) E não me segue!
Marcelo
— (Grita) Clara! Espera!
Marcelo para e olha para alguns populares que olham para
ele.
Marcelo
— Que foi?! Nunca viram um casal brigando na rua! Bando
de desocupado.
Marcelo vai para a direção oposta de Clara.
CENA 28. casa de gregório. quarto de milena. Interior.
Dia.
Continuação da cena 24. Bianca esperando uma resposta de
Milena.
Milena
— Usar o seu vestido no meu casamento? (Ri) Acho que
não.
Bianca
— Qual é o problema? Você acha que tá fora de moda?
Milena
— Não é isso, eu nem vi ele pra saber isso. O problema
são as energias que carregam esse vestido.
Bianca
— Ah tá, você acha que eu fui num terreiro e fiz macumba
com ele.
Milena
— Macumba eu não sei, mas esse vestido não te deu sorte.
Bianca
— E o que você sabe sobre o meu casamento com o seu pai?
Você era tão novinha.
Milena
— Não vou me casar com o seu vestido. Eu quero ter um
casamento feliz.
Bianca
— Milena, casamento e felicidade não necessariamente vão
andar sempre juntos. Hoje você e o Leandro se amam,
amanhã quem garante que esse amor vai ser o mesmo? Você
gosta de citar os meus casamentos como fracasso, mas é
só olhar em volta. O Alcides e a Ana Carolina: ele sumiu
com o filho e nunca ninguém soube o porquê. Seus sogros,
Gregório e Tarsila: aquilo mais parece uma sociedade do
que um casamento. (Pausa) Pra você não ficar espalhando
por aí que eu sou uma mãe relapsa, eu vou te dizer que
do fundo do meu coração que eu quero que você seja muito
feliz nesse casamento... Mas não fica contando com isso.
Bianca sai, deixando Milena pensativa.
CENA 29. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Marcelo diante dos empregados: Rudá, Dolores (60 anos,
cabelos claros e curtos) e Aparecida (35 anos, cabelos
escuros e ondulados).
Marcelo
— Então a partir de hoje, eu vou morar nessa casa. Eu
quero que vocês continuem fazendo as coisas, igualzinho
faziam quando minha mãe estava aqui. Entenderam?
Aparecida
— Sim senhor.
Marcelo
— Podem ir agora.
Aparecida e Dolores saem. Rudá fica.
Rudá
— Tá tudo bem, Marcelo?
Marcelo
— Não. Acho que fiz uma grande merda.
CENA 30. casa de ana carolina. escritório. Interior.
Dia.
Marcelo e Rudá conversando.
Rudá
— E você contou tudo pra ela?
Marcelo
— Óbvio! Eu não poderia começar uma relação com essa
mentira. Agora eu tenho medo que ela não me perdoe.
Rudá
— É bem provável que seja isso mesmo que vá acontecer.
Marcelo
— (Irônico) Valeu pela força.
Rudá
— Desculpa.
Dolores entra da sala.
Dolores
— Com licença, seu Marcelo. Uma mulher tá lá na sala
esperando o senhor.
Marcelo
— (Sorri) Deve ser a Clara.
Marcelo vai para a sala.
CENA 31. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Marcelo entra do escritório e vê Luísa na sala.
Marcelo
— Luísa, eu não esperava você por aqui.
Os dois se cumprimentam.
Marcelo
— Eu achava que era a Clara, a gente teve uma briga e...
Luísa
— Mas já?
Marcelo
— É, quando você chegar em casa vai saber o motivo.
Luísa
— Bom isso não vem ao caso. Eu vim aqui por outra razão.
Luísa tira do bolso uma caixinha de anel e entrega para
Marcelo.
Luísa
— Abre.
Marcelo abre e vê o anel de Ana Carolina. Marcelo olha
para o anel fascinado.
CENA 32. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Clara entra da rua furiosa e vai até Heloísa.
Clara
— (Grita) Vagabunda!
E Clara esbofeteia Heloísa.
CENA 33. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Música:
Pede a ela – Tim Maia. [Até o fim do capítulo]
Continuação da cena 31. Marcelo olha para o anel de Ana
Carolina.
Marcelo
— O que é isso, Luísa?
Luísa
— O anel de noivado da sua mãe. Ela ganhou do seu pai
quando foi pedida em casamento.
Marcelo
— E como foi parar em suas mãos?
Luísa
— Eu peguei logo depois que a Ana Carolina morreu. Tive
medo que ele fosse parar em mãos erradas. Mas agora que
você apareceu, esse anel deve ficar com você.
(Emocionada) Sua mãe ia querer que você desse para
mulher que você ama. Igual seu pai fez.
Marcelo
— (Emocionado) Eu não sei o que dizer.
Luísa
— Não diz nada, meu querido. Só me dá um abraço.
Luísa e Marcelo se abraçam muito emocionados.
Fade
Out. |
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