CENA 09. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. DIA.
Sabine olha para Dos Anjos séria.
BASTIÃO –
Cuidado com o que você vai dizer, nega.
SABINE –
Eu só quero a verdade.
BASTIÃO –
Mas a verdade tem muitos desdobramentos dolorosos.
SABINE –
Mais doloroso do que enterrar um pai?
DOS ANJOS –
O seu pai me obrigou a forjar a morte dele para não ser preso. Ele cometeu
um crime, Sabine.
SABINE –
Que crime é esse?
BASTIÃO –
Nega, nega, veja lá o que fala pra essa menina.
SABINE –
Eu sou adulta. Ou vocês me dizem a verdade agora, ou eu volto aqui com o
camburão e coloco os dois atrás das grades. Porque o que vocês dois fizeram
é crime.
DOS ANJOS –
Como o Bastião disse, tudo por trás disso é doloroso demais.
SABINE –
Eu não sou tão frágil quanto aparento, mãe. Fala de uma vez. Eu aguento.
DOS ANJOS –
Não é só doloroso para você. É para a família inteira. Principalmente para
mim.
Os olhos de Dos Anjos se enchem de
água.
SABINE –
Se livra desse fardo. A verdade é sempre o melhor caminho, minha mãe. Fala
de uma vez.
BASTIÃO –
Pensa na dor, pensa na revolta que isso vai gerar, nega.
DOS ANJOS –
É muito doloroso, mas chega de ficar escondendo as coisas. Eu vou falar tudo
de uma vez.
SABINE –
Isso, mãe, se abre.
DOS ANJOS –
A Tamires não é minha filha com o seu pai.
Sabine fica surpresa.
SABINE –
Ele roubou ela de alguém?
DOS ANJOS –
A Tamires é filha da Tânia. É filha da Tânia com o seu pai.
Sabine fica chocada.
CENA 10. MANSÃO MAGALHÃES. JARDIM. EXT. DIA.
Duas viaturas da polícia chegam ao
local. Alguns policiais coordenam estratégias de entrada.
CENA 11. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE JANTAR. INT. DIA.
Marta e Consuelo olham sérias para
Tamires, que fica acuada num canto.
MARTA –
Para de se fazer de sonsa, garota. Fala logo tudo.
TAMIRES –
O seu marido, Marta, me prometeu muitas coisas e me seduziu.
CONSUELO –
Não acredito nisso. Você é pobre, mas não é ingênua.
MARTA –
Tá na cara, mãe, que ela tava interessada no dinheiro dele.
TAMIRES –
Não é uma verdade completa.
CONSUELO –
Você queria escalar mais rápido. Acontece, minha querida, que ter dinheiro e
ser da alta sociedade são duas coisas bem distintas. Você é uma ratazana que
agarra a primeira oportunidade.
TAMIRES –
E tô errada? Esse casamento já tava falido mesmo. O cara é rico, charmoso e
se interessou por mim.
MARTA –
Não vê que ele tá te tratando feito uma vagabunda, uma rameira?
TAMIRES –
Pelo menos ele sente tesão por mim. Já por você, só desprezo.
Nesse instante, Marta e se aproxima de
Tamires e lhe desfere dois tapas no rosto.
TAMIRES –
Vagabunda.
MARTA –
Já vi que você é daquelas que gosta de apanhar, né?
Marta empurra Tamires, que cai em cima
da mesa de jantar.
MARTA –
Agora você vai saber quem é Marta Beatriz, meu bem.
Quando Marta vai partir para bater em
Tamires, Consuelo a segura.
MARTA –
Me larga, mãe. Eu vou acabar com a vida dessa garota.
CONSUELO –
Ela já está acabada, não percebe? Se o Kléber teve o trabalho de mandar essa
porcaria dessas fotos, você já sabe que ele só usou a Tamires.
Nesse instante a polícia entra armada
com fuzis. Marta, Tamires e Consuelo se assustam.
POLICIAL –
Cadê o Kléber? Estamos à procura dele.
MARTA -
O que aquele canalha aprontou dessa vez?
POLICIAL –
Ele é o criminoso das bombas. Foi ele o mandante daquele crime brutal.
As três ficam chocadas. Outros
policiais chegam ao local.
POLICIAL –
E aí?
POLICIAL #2 –
A casa tá limpa.
CONSUELO –
Aquele traste sumiu. Se separou da minha filha e sumiu.
POLICIAL –
Sabem onde ele pode estar?
MARTA –
Já procuraram na casa da delegada Joanne? Ela é a amante dele.
POLICIAL –
Sim. Ele esteve lá, mas não está mais. Acreditamos que ela esteja correndo
perigo de vida.
MARTA –
Bem feito.
O policial a olha sério.
MARTA (sem jeito) –
Coitadinha.
Tamires se levanta da mesa com
dificuldade.
TAMIRES –
Eu acho que sei onde ele pode estar.
Marta a fita com raiva.
CONSUELO –
Polícia invadindo a minha casa. Genro criminoso. Filha desorientada. Não,
não precisa de mais nada na minha vida. O circo dos horrores está armado.
MARTA –
Mãe, por favor, não exagera.
CONSUELO (saindo) –
Me deem licença, vou tomar um calmante e
repousar. Tô numa idade avançada e não posso ter tantas aventuras assim.
Consuelo sai.
POLICIAL –
E onde é esse lugar, moça?
TAMIRES –
Em São Conrado. Apartamento Alpha Tech, a cobertura.
POLICIAL –
Obrigado. Com licença.
Os policiais saem. Marta se aproxima
de Tamires.
MARTA –
Arruma suas coisas e vaza.
TAMIRES –
Não fico nem mais um dia nesse manicômio. Tenho outra fonte de renda.
MARTA –
O calçadão, não é?
Tamires vai saindo, mas dá uma ombrada
em Marta, que debocha.
CENA 12. DELEGACIA. SALA DO DELEGADO. INT. DIA.
Siqueira e Orestes estão sentados
conversando, quando Élio entra.
ÉLIO –
Doutor Orestes, tô aqui.
ORESTES –
Então você desvendou o crime das bombas, Élio Fiúza?
ÉLIO –
Sim. Descobri através de inúmeros depósitos bancários aos quais o Kléber
fazia para a Tânia. Além de encontrar réplicas de jóias iguais as que a
Tânia pegou na joalheria Cintra antes de morrer.
SIQUEIRA –
E onde você encontrou todas essas provas?
ÉLIO –
Na casa de um suspeito. O padrasto da Tânia, cujo apelido é Bastião.
ORESTES –
Espero que você tenha conseguido um mandato de busca e apreensão na casa
dessa cara, caso contrário, as provas não valerão de nada em um tribunal.
ÉLIO (surpreso) –
O que?
ORESTES –
Tu comanda uma investigação paralela com uma policial afastada e uma vítima
que quase foi morta. Arrombou e invadiu sem permissão a casa de um homem que
a polícia sequer cogitou ser suspeito. Acha que o juiz vai te dar os
parabéns?
SIQUEIRA –
Élio, você sabe que pode ganhar um grande processo administrativo por isso,
né?
Em Élio assustado.
CENA 13. APARTAMENTO DE KLÉBER. SALA. INT. DIA.
Kléber sentado de frente para Joanne.
KLÉBER –
Como eu ia dizendo, a Tânia foi minha amante por um longo período de tempo.
Ela gostava de mim e foi legal até certo ponto.
JOANNE –
Que ponto?
KLÉBER –
Quando ela engravidou, disse que queria que eu registrasse a criança.
JOANNE –
Era o certo a se fazer.
KLÉBER –
Eu tava começando o projeto de expandir a joalheria, de ter filiais. A Marta
estava conseguindo retirar fundos de um investimento no exterior para bancar
esse meu passo. Como você acha que ela reagiria quando soubesse que eu iria
ser pai?
JOANNE –
Mas a culpa era sua. Você foi irresponsável.
KLÉBER –
Quando eu disse que ajudaria, mas que não iria assumir o filho, a Tânia
mudou. Ela virou outra pessoa. Eu não a reconhecia mais.
JOANNE –
Ela começou a te chantagear?
KLÉBER –
Ela guardou mensagens nossas, fez fotos dos nossos encontros, guardou o
passaporte de uma viagem que eu a levei. No fundo, a Tânia engravidou de
propósito para que eu me separasse da Marta e ficasse com ela. Ela armou
isso tudo.
JOANNE –
Eu não acredito nisso.
Kléber ser levanta, vai até a estante,
pega um envelope e se aproxima novamente de Joanne.
KLÉBER –
Tem tudo aqui. Vou te mostrar.
CENA 14. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. DIA.
Dos Anjos chora, enquanto Bastião está
encolhido num canto. Sabine olha séria para os dois.
SABINE –
Como assim a Tamires é filha da Tânia?
BASTIÃO –
Chega disso, nega.
DOS ANJOS –
Sua irmã cuidava da casa e de você, enquanto eu ia pro bairro dos granfinos
fazer faxina. E seu pai vinha almoçar em casa.
Dos Anjos para de falar e chora.
SABINE (irritada) –
Termina de falar.
Dos Anjos seca as lágrimas.
DOS ANJOS –
O Bastião molestou a sua irmã por meses. A minha Tânia ficou calada, com
medo de que eu não acreditasse nela. Ela só tinha catorze anos. E esse
monstro fez isso.
Sabine corre até a pia e vomita.
BASTIÃO –
Foi um deslize meu. Um erro.
SABINE –
Eu tenho nojo de você. Nojo grande.
DOS ANJOS –
Aí a Tânia engravidou e eu fingi estar grávida também. A mandei passar um
tempo em Rio das Flores, no interior, com um casal de amigos. E o restante
você já sabe.
SABINE –
E como você não denunciou esse monstro, mãe? Como você foi conivente com
isso tudo?
BASTIÃO –
Porque ela me perdoou.
DOS ANJOS (gritando) –
Eu nunca te perdoei, seu capeta. Eu me
calei para que a minha filha não sofresse com o mundo lá fora. Mas Deus é
testemunha do quanto eu sofri.
SABINE –
E como surgiu essa morte dele?
DOS ANJOS –
Eu dei o ultimato. Ou ele sumia ou ia para a cadeia.
SABINE –
Que horror, meu Deus. Meu pai é um monstro.
DOS ANJOS –
E ele vem me chantageando por todos esses anos. Vem me tirando dinheiro sob
a ameaça de reaparecer para vocês e contar a verdade.
SABINE –
E deveria ter deixado.
DOS ANJOS –
Tânia e eu sofremos muito. Eu não queria que você e Tamires sofressem
também.
Dos Anjos começa a chorar. Sabine a
abraça.
SABINE –
Fica calma, minha mãe. Nós vamos sair mais fortes dessa.
DOS ANJOS –
Eu só penso na Tamires. Ela nunca vai perdoar o que eu fiz.
SABINE –
Você foi uma mulher de fibra. Uma leoa para suas filhas. Ela vai cair em si
e vai entender que você só quer o nosso bem, que só nos protegeu.
Sabine se aproxima de Bastião e cospe
em seu rosto.
SABINE –
É preferível que continue morto.
CENA 15. APARTAMENTO DE KLÉBER. SALA. INT. DIA.
ABRE em Kléber jogando o envelope no
chão. Ele olha fixamente em Joanne.
KLÉBER –
Viu só? Ela queria era dinheiro. Me usou.
JOANNE –
O que ela fez não foi certo, mas você a usou também.
KLÉBER –
Ela queria metade da rede de joalherias. Queria dinheiro toda semana. O
melhor jeito foi explodi-la.
JOANNE –
Você é um doente mental. Um louco.
KLÉBER –
Eu fui inteligente. Há vários meses que eu estava trocando as jóias
verdadeiras por imitações perfeitas, mas que não valiam um décimo do valor
das originais. Meu lucro estava sendo absurdamente alto. Meu objetivo era
que ela assaltasse e pegasse duas ou três jóias verdadeiras e depois eu
ganhasse um bom dinheiro de seguro. Mas você foi lenta na investigação. E a
incompetente da Tânia ficou nervosa e roubou as erradas.
JOANNE –
E o Teodoro? E o Bastião?
KLÉBER –
Teodoro é meu irmão. Nós somos filhos daquele traste do Bastião.
JOANNE –
Você matou o Teodoro e tentou fazer parecer um suicídio, não foi?
KLÉBER –
Foi. E eu tava lá, vi vocês entrarem, analisarem tudo. Eu tava no forro
rindo da cara de vocês.
JOANNE –
Você é desprezível.
KLÉBER –
E você vai morrer.
Kléber dá um beijo em Joanne. Ouve-se
barulhos de sirenes. Kléber se levanta, vai até a janela, olha, sorri e se
aproxima de Joanne.
KLÉBER –
Seus amigos chegaram.
JOANNE –
Você não vai se safar dessa.
KLÉBER –
Eu não quero me safar.
JOANNE –
Vão te jogar num inferno.
Kléber se aproxima de Joanne, puxa uma
pedra do colar e o cronometro começa a disparar.
KLÉBER –
Que coincidência, vamos os dois para o inferno.
Em Joanne, desesperada.
CENA 16. APARTAMENTO DE ESTHER. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Esther está sentada no sofá lendo uma
revista, quando Lucas desce as escadas com duas malas nas mãos.
ESTHER –
Ué, meu filho, vai viajar? É algum negócio importante?
Lucas se aproxima de Esther, que se
levanta.
LUCAS –
Eu tô indo embora dessa casa, mãe. O que a senhora fez ontem foi
inadmissível.
ESTHER –
Eu te livrei de uma macumbeira golpista.
LUCAS –
A senhora é preconceituosa, arrogante. Acha que a sua religião é a única
certa.
ESTHER –
Eu Só não quero que o meu filho, o único que eu tenho, se misture com
umazinha sem eira nem beira. Além de tudo, pratica essas coisas esquisitas
aí.
LUCAS –
Eu não vou discutir com a senhora, tá bem? Eu tô indo comprar as passagens e
sair do país com a Sabine.
ESTHER –
Aquela garota nunca saiu do Rio de Janeiro, acha mesmo que tem passaporte?
LUCAS –
Não interessa, mãe. A gente vai pra algum país aqui vizinho e de lá resolve
com mais calma. Mas o que eu quero nesse momento é me ver longe da senhora e
do mal que tá exercendo sobre mim. Das palavras infelizes que disse ontem
para a Sabine.
ESTHER –
Eu disse verdades, Lucas. Verdades que ela precisava ouvir. Um dia ela será
mãe e irá querer o melhor para seu filho, como eu agora.
LUCAS –
A senhora é realmente incapaz de ver que errou. Por isso eu tô indo.
Lucas pega as malas e sai.
ESTHER (gritando) –
Volta aqui, Lucas!
Esther sai atrás dele.
CENA 17. APARTAMENTO DE ESTHER. GARAGEM. INT. DIA.
Esther sai transtornada do elevador e
começa a andar pela garagem, até que Lucas vem vindo com o carro, ela se põe
na frente. Ele freia bem em cima.
ESTHER –
Vai ser capaz de matar a sua mãe?
Lucas desce do carro. Os dois se olham
por alguns instantes.
LUCAS –
Ok, dona Esther, a senhora venceu!
Esther sorri.
ESTHER –
Sabia que você seria sensato.
Nesse instante, um carro preto para
próximo a eles. Lucas pega as malas dentro de seu carro.
LUCAS –
Como eu sabia que a senhora iria armar esse escarcéu todo, decidi pedir um
carro pelo aplicativo. Pode ficar a vontade na frente do meu.
Lucas entra no carro, que sai em
disparada.
ESTHER (gritando) –
Você vai ver o que eu vou fazer com a sua
namoradinha, Lucas. Eu vou acabar com ela e com quem mais tiver perto. Me
aguarde!
Em Esther, irada.
CENA 18. APARTAMENTO DE KLÉBER. SALA. INT. DIA.
Os policiais arrombam a porta e
entram.
JOANNE –
Socorro!
Os policiais algemam Kléber. Nesse
instante, Élio e Orestes adentram.
ÉLIO (a Kléber) –
Você está preso, Kléber de Magalhães, pelo assassinato
de Tânia dos Anjos e Teodoro Malta, também pela tentativa de homicídio de
Daiana Oliveira. Vai apodrecer atrás das grades.
Kléber debocha, um policial segue com
ele.
Orestes e Élio se aproximam de Joanne.
ORESTES –
Duas horas e treze minutos. É esse tempo até esse colar de bombas explodir.
Élio se aproxima ainda mais, abraça
Joanne e lhe dá um beijo.
ÉLIO –
Eu não vou deixar que esse colar exploda, tá entendendo?
Joanne, mesmo amedrontada, sorri.
Orestes se afasta discando no celular.
ORESTES (CEL.) –
Manda o esquadrão anti-bombas agora para mim. Vou
passar as coordenadas.
Em Joanne preocupada.
CENA 19. BAIRRO PRAZERES. RUA. EXT. DIA.
Eleandro está montado na moto em
frente a um supermercado, quando Tamires desce do ônibus e se aproxima dele.
TAMIRES –
E aí, Eleandro, quanto tempo.
ELEANDRO –
Pois é, hein.
TAMIRES –
Me dá um bonde até o barraco da minha mãe aí. Tô precisando bater um papo
com a coroa.
ELEANDRO –
Vai dar não.
TAMIRES –
Eu pago, cara.
ELEANDRO –
Tem como não.
TAMIRES –
Tô aqui cheia de bolsa. Vai me deixar ir a pé até lá?
VALESKA (se aproximando) –
Tá surda, periguete? Ele disse que não tem
como.
TAMIRES –
Tu tá falando comigo, projeto mal acabado?
VALESKA –
Acho bom tu baixar a bolinha, senão...
ELEANDRO –
Deixa baixo, Valeska.
TAMIRES –
Acha que eu vou deitar pra você? Tá muito enganada. Pra me fazer deitar tem
que ter duas bucetas no meio das pernas. E pelo que sei você não tem
nenhuma.
ELEANDRO –
Não responde, Valeska. Põe o capacete e vambora.
TAMIRES –
Ah, é assim agora? Prefere levar essa criatura do que a mim?
Eleandro sai da moto e se aproxima de
Valeska, abraçando-a.
ELEANDRO –
Valeska e eu estamos juntos, namorando, vivendo na mesma casa. Ela me ama de
verdade, cuida de mim. Por que tu não pede carona pros playboys da zona sul?
TAMIRES –
Quem te viu quem te vê, Eleandro Silva.
VALESKA –
A roda gira, garota. Vaza.
Tamires fita Valeska e sai. Eleandro
dá um beijo em Valeska.
CENA 20. APARTAMENTO DE KLÉBER. SALA. INT. DIA.
Joanne está sentada no sofá, enquanto
alguns técnicos estão analisando o colar em seu pescoço. Ao fundo, Élio e
Orestes conversam.
ÉLIO –
Esse pessoal tá demorando demais.
ORESTES –
É um trabalho muito delicado, leva tempo.
ÉLIO –
Acontece que tempo é o que a gente menos tem nesse momento.
ORESTES –
Dei com os burros n’água. Jurava que o Kléber fosse cem por cento inocente.
ÉLIO –
Eu nunca gostei dele.
ORESTES –
Mas é porque os dois tavam comendo a mesma mulher.
ÉLIO –
Mais respeito, por favor.
Orestes se aproxima de Joanne.
ORESTES –
Vai ficar tudo bem, Joanne. Tu tá em boas mãos.
No olhar preocupado de Joanne.
CENA 21. CASA DE DOS ANJOS. RUA. EXT. DIA.
Tamires está abrindo o portão, quando
um carro preto para próximo.
TAMIRES (pra si) –
Aposto que é a velha da Consuelo que se
arrependeu e vai me pedir pra voltar.
Nesse instante, Lucas desse
apressadamente.
LUCAS (a Tamires) –
A Sabine tá aí?
TAMIRES –
Deve estar.
LUCAS –
Preciso falar urgentemente com ela.
TAMIRES –
Entra comigo.
CENA 22. CXASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. DIA.
Sabine e Dos Anjos estão com os olhos
marejados.
SABINE –
Acho que essa foi a última vez em que a gente viu esse monstro.
DOS ANJOS –
Tá decidido, vou pegar o Yago e vou embora desse lugar.
SABINE –
A senhora disse que tem um seguro da Tânia, né?
DOS ANJOS –
Sim, tem. Vou embora daqui. Você vai comigo, filha?
Nesse instante, Tamires e Lucas
entram.
DOS ANJOS –
Tamires?!
SABINE –
O que você faz aqui, Lucas?
LUCAS –
Preciso conversar com você.
Em Sabine.
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 23. CASA DE DOS ANJOS. QUARTO DE DOS ANJOS. INT. DIA.
Dos Anjos e Tamires estão de pé
conversando.
DOS ANJOS –
Não. Eu não vou te dar o dinheiro que é do Yago.
TAMIRES –
É só pra eu começar a vida em São Paulo, mãe. Aqui eu tô manchada.
DOS ANJOS –
Eu sempre te mimei demais, Tamires. Sempre te dei de tudo. Taí o que
acontece: você é gananciosa. Gananciosa igual seu pai. Mas chegou a hora de
você saber uma verdade nua e crua. Vai doer, mas a Sabine já sabe e você
também precisa saber.
Em Dos Anjos.
CENA 24. APARTAMENTO DE KLÉBER. CRUA. EXT. DIA.
A policial cerca com fita em volta do
apartamento, enquanto vários curiosos e jornalistas circulam por ali. Entre
eles está Edgar e Ayres.
EDGAR –
Coloca na live em todas as redes sociais, Ayres. Vamos bombar com essa
notícia.
Ayres ajeita o celular.
AYRES –
Tá ao vivo, chefinho.
Edgar sorri.
EDGAR –
Queridos e queridas, amoras e kiwis, estamos aqui de São Conrado, onde a
delegada de polícia Joanne Andrade é mantida presa na cobertura desse
luxuosíssimo apartamento. O motivo? Kléber de Magalhães, o dono da Joalheria
Cintra colocou nela um colar de bombas. Sim, Braseeeeeeel, nele é o autor do
famosos crime das bombas. E ao ser descoberto, tratou logo de fazer o mesmo
com a sua ex-amante.
Edgar faz sinal e Ayres encerra a
live.
AYRES (preocupada) –
Será que a delegada vai morrer?
EDGAR –
Ela ameaçou me processar. Mas sabe, né, só os vivos podem fazer isso.
Edgar dá uma risada diabólica, Ayres
faz o sinal da cruz.
CENA 25. APARTAMENTO DE KLÉBER. SALA. INT. DIA.
Um técnico corta um fio com alicate e
a bomba é desarmada. Todos aplaudem e Joanne respira aliviada.
ÉLIO –
Conseguimos, meu amor.
JOANNE –
Eu achei que fosse morrer.
Élio e Joanne se abraçam.
CENA 26. STOCK-SHOTS. EXT. DIA.
Takes rápidos e pontuais do Rio de
Janeiro.
SONOPLASTIA: SO NICE – BEBEL GILBERTO.
LETREIRO NA TELA: MESES DEPOIS...
CENA 27. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.
Joanne entra seguida de Élio e
Orestes.
ORESTES –
Essa é sua sala. Bem vida de volta, Joanne.
Joanne sorri, passa a mão pela mesa.
JOANNE –
Como senti falta disso daqui.
ÉLIO –
A gente também sentiu falta disso.
Joanne vira para Élio, sorri e o
beija.
JOANNE –
Eu quero casar com você.
ÉLIO –
Eu aceito, meu amor.
ORESTES –
Desculpa estragar a felicidade dos pombinhos, mas acho que vão querer saber
dessa.
JOANNE –
Desembucha, Orestes.
ORESTES –
Kléber conseguiu adiar pela segunda vez o julgamento. Tô até com medo.
JOANNE –
É bom ele continuar na cadeia. Senão o destino dele vai ser o cemitério do
Caju.
EM Joanne séria.
CENA 28. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Consuelo está lendo uma revista,
quando Marta desce as escadas.
MARTA –
Adiado mais uma vez, mamãe.
CONSUELO –
Até agora eu não entendo o motivo de você está pagando advogado para esse
crápula assassino. Não sei onde estão seus miolos, Marta Beatriz.
MARTA –
Eu amo o Kléber. A gente não vai mais ficar junto, mas eu quero ajudá-lo.
CONSUELO –
Só espero que você realmente esteja fazendo a coisa certa, querida.
MARTA –
Eu não esqueci tudo que ele me fez, mas preciso dele livre para poder me
vingar.
CONSUELO –
Como assim? Acabou de dizer que o ama e agora tá pensando em vingança?
MARTA –
Amor e ódio são linhas tênues. Muito amor esnobado pode se transformar em
ódio mortal, sabia?
Em Marta.
CENA 29. AVENIDA PAULISTA. EXT. DIA.
Tamires e Dos Anjos caminham por ali.
TAMIRES –
Acabou de dar no site do Edgar Zampari que o julgamento do Kléber foi
adiado.
DOS ANJOS –
Outra vez?
TAMIRES –
Esse crápula nasceu com a bunda virada pra lua.
DOS ANJOS –
Uma hora essa sorte acaba. Seja pelas mãos da justiça ou não. A rua também
tem seu tribunal.
TAMIRES –
Mãe? Como assim?
DOS ANJOS –
Ele tirou a vida da minha filha, mas não vai ficar impune. Não mesmo.
Em Dos Anjos.
CENA 30. PRESÍDIO BANGU. PÁTIO. EXT. DIA.
Vários presos estão tomando banho de sol, entre eles
está Kléber.
Um agente se aproxima dele.
KLÉBER –
Alguma novidade?
AGENTE –
Hoje a meia noite terá um carro te esperando para uma fuga.
KLÉBER –
Mas quem será?
AGENTE –
Não sei. Tu vai querer ou não?
KLÉBER –
Quero me danar desse lugarzinho xexelento.
AGENTE –
Beleza! Dez pra meia noite eu vou abrir sua cela. Os guardas do turno da
noite já foram devidamente pagos.
Em Kléber, sorriso sacana.
CENA 30. PRESÍDIO BANGU. RUA. EXT. NOITE.
Um carro preto está parado na frente do portão de
saída, que se abre.
Kléber sai, a porta traseira do carro se abre e Kléber
sorri.
KLÉBER –
Você? Eu não esperava!
Um revólver é sacado por alguém de dentro do carro
usando luvas pretas, que dispara dois tiros no coração de Kléber, que cai
morto. O carro sai em disparada.
CAM ÂNGULO ALTO. O corpo de Kleber está estirado no chão, o sangue começa a
manchar o chão, escrevendo a palavra: |
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