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CAPÍTULO 15 | ||
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CENA 01 |
Noite. Bairro Santa Felícia. Casa de Carlos e Janaína. Interior. Sala.
CARLOS: Quê que tu falou, mulher? JANAÍNA: Eu vou embora dessa casa, Carlos. CARLOS: Tu não pode fazer isso. JANAÍNA: Por que não? CARLOS: A gente tem um trato. JANAÍNA: Que eu tô desfazendo agora. Chega dessa vida. Chega de ser maltratada e abusada por você. Eu encontrei alguém que me ama. E é com ele que eu vou viver o resto da minha vida. CARLOS: Ah é? Eu aposto que tu não contou pra esse granfino, o que tu faz pra ganhar a vida. JANAÍNA: (mentindo) É claro que contei. Ele já sabe de tudo e mesmo assim me aceitou. Ele me compreende. O Darlan é um homem de verdade e não um cafajeste como você! CARLOS: (irado) Cala essa boca! Ele dá um tapa em Janaína.
| CENA 02 |
Condomínio Almirante. Apartamento 210. Interior. Quarto
de Suzana. IGOR: Quem é você, afinal? SUZANA: Já disse. Uma mulher carente e solitária, que acaba de ser consolada por um menino que mal saiu das fraudas. IGOR: (ofendido) Mas que soube muito bem dar conta do recado. SUZANA: Não se ofenda, meu rapaz. Você fez o dever de casa direitinho. IGOR: Você é nova no prédio, não é? SUZANA: Sim. Acabei de chegar de Florianópolis. Meu filho sofreu um acidente de carro e entrou em estado de coma. (bufa) Até quando não quer esse menino me dá trabalho. Tive que deixar muitos negócios inacabados por causa da inconsequência desse moleque! IGOR: Você disse... Coma? SUZANA: É. Por quê? IGOR: (desconfiado) Como se chama esse seu filho? SUZANA: Isso não é importante, garoto. (sarcástica) O importante agora é você ir pra sua casa, está ficando tarde. Hora de criança ir pra cama dormir, senão mamãe dá bronca. Ele se ofende mais uma vez e levanta-se da cama, bravo. Começa a vestir a calça e volta a sentar na cama para calçar os sapatos em seguida. IGOR: Ah então é assim? Usa, abusa e depois joga fora? Ela ri da cara dele. SUZANA: Mas que dramático! Onde foi parar o seu senso de humor?! IGOR: Você tratou de acabar com ele. Ele levanta-se da cama, encaminhando-se para a porta do quarto. SUZANA: Quando quiser, pode voltar bebê. Ela continua rindo, enquanto ele bate a porta sem dá resposta. SUZANA: E eu sei que você volta...!
| CENA 03 |
República Universitária Laços de Amizade. Interior.
Quarto de Celina. CELINA: Te extraño tanto, José! [Sinto tanta falta de você, José!] MÚSICA: “Paso doble – Agustin Lara”. Celina abraça-se a foto, inclina a cabeça para o lado, emocionada, e como se ouvisse a música, começa a bailar no ritmo da canção.
Fim da sonoplastia. FABIANA: (medrosa) É agora... VANESSA: Ela vai entrar na casa abandonada. Sai daí garota! (histérica) Você vai morrer! VALESKA: Cala a boca, Vanessa. Assim não dá pra ouvir o filme! Por trás das garotas, descendo as escadas a passos lentos e delicados, vem três sujeitos cobertos cada um por um lençol branco. Eles se aproximam lentamente. Nesse momento, a cena no filme mostra um fantasma em ação. Close no rosto das quatro meninas, apavoradas. VANESSA: Ai gente. Passa essa parte que eu tenho horror a fantasma. Se aparecesse um aqui agora nem sei o que eu faria. Valeska lança aquele olhar mortal para a irmã. VALEKSA: Você nem parece que é minha irmã, sua medrosa! Nesse momento, os três sujeitos reproduzem o tradicional som oriundo de fantasma. Valeska troca um olhar apavorado com Vanessa; e Bruna com Fabiana. Ambas, ao mesmo tempo, dão o maior grito de suas vidas. Um dos três sujeitos corre para acender a luz, é Marcelo, rindo a toa. Os outros dois, Luciano e Cláudio, tiram o disfarce enquanto caem na gargalhada. Celina desce as escadas, furiosa. CELINA: Qué pasa, chicos?
| CENA 05 |
Bairro Santa Felícia. Casa de Carlos e Janaína.
Interior. Sala. JANAÍNA: Essa foi a última vez que você encostou essa mão suja em mim. CARLOS: Você mereceu essa bofetada. Pra aprender a me respeitar. JANAÍNA: Que respeito, Carlos?! Quem é você pra falar de respeito? CARLOS: (apontando o dedo para Janaína) Eu não vou ‘deixar tu’ sair dessa casa. JANAÍNA: Eu vou embora amanhã mesmo. Ele se aproxima dela, e a segura com os dois braços. CARLOS: (olhos fixos nos dela) Escuta uma coisa, Janaína. Se tu sair dessa casa. (grita) Eu te mato! Ele a empurra com força e sai batendo a porta, deixando-a amedrontada. | CENA 06 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. CELINA: Alguien me puede explicar que pasó? [Alguém pode me explicar o que aconteceu?] VALESKA: Esses idiotas quase nos matam de susto. LUCIANO: Foi só uma brincadeira, Celina. Nada demais. FABIANA: De muito mau gosto, se quer saber. Luciano sai de cena indo a direção a cozinha. MARCELO: Desculpa, é que a gente não resistiu. Vocês aí acreditando piamente que o filme era real. A gente tinha que tirar uma onda. BRUNA: Isso é coisa que se faça gente?! VANESSA: Eu podia ter morrido, sabia?! CLÁUDIO: (irônico) Nossa, ia fazer tanta falta! VANESSA: Estúpido! Celina perde a paciência e começa a tagarelar um portunhol daquele jeito, tão rápido que nem dá tempo de respirar. CELINA: (estressada/furiosa) Ya está! Llega de peleas! Vamos a dormir que mañana es lunes y tienes que estar en las classes demasiado pronto. Qué estan esperando? Ya! Ya! Ya! A sus habitaciones, inmediatamente. Ya! [Já chega! Chega de brigas! Vamos dormir que amanhã é segunda e vocês têm estar na aula bem cedo. O que estão esperando? Já! Já! Já! A seus quartos mediatamente. Já!] CLÁUDIO: Se você falar mais devagar pode ser que a gente entenda. Luciano reaparece na sala com um copo d’água na mão e o oferece a Celina. LUCIANO: Calma Celina. Você tá se estressando à toa. Como eu disse, foi só uma brincadeirinha pra descontrair. Toma essa água pra você ficar mais calma. Bebe e respira fundo. Ele e Fabiana trocam um rápido olhar em cumplicidade. Inocente, Celina aceita a água e ingere o líquido de uma vez só. Respira, e solta a voz. CELINA: (forçando o Português) Todos em sus quartos, AHORA! [Todos em seus quartos, AGORA!] CLÁUDIO: Pow, Celina. Tá cedo ainda... CELINA: (grita) Ya! Os moradores obedecem, mas sob protesto.
| Cena 07 |
Condomínio Almirante. Interior. Apartamento 209. ISABEL: Quê que houve meu filho? Você saiu daqui pra ir à vizinha, que, diga-se de passagem, é aí na frente. Por que tanta demora? JAQUELINE: A gente até já jantou. IGOR: Claro que eu não tava na vizinha até agora. Eu fui dá um rolé no quarteirão. Encontrei um colega e a gente aproveitou pra comer qualquer coisa na lanchonete da esquina. Algum problema? ISABEL: Em se tratando daquela espelunca que você chama de lanchonete da esquina, certamente tem problema sim. Se a vigilância sanitária fiscaliza aquilo ali, fecha as portas num piscar de olhos. IGOR: Não começa, dona Isabel. O sanduba de lá é ‘dahora’ e é tudo muito limpinho tá?! Tô indo pro meu quarto que eu ganho mais. Boa noite. ISABEL: Boa noite, então. Igor se retira. ISABEL: Ele tá esquisito, não tá? JAQUELINE: Mãe, seu filho (enfatiza) É esquisito.
| CENA 08 |
República Universitária Laços de Amizade. Interior.
VALESKA: Quê que foi? Por que tá com essa cara de azeda? VANESSA: Você viu o jeito que aquele imbecil do Cláudio me tratou? VALESKA: Surpreendente mesmo seria se ele utilizasse de gentileza pra tratar alguém né irmãzinha. Aquilo lá é um ogro travestido de homem. VANESSA: (desembucha) Mas será que ele não percebe que...? Vanessa se dá conta que falou demais. VALESKA: Mas será que ele não percebe que...? (deduzindo) Ah não Vanessa. Isso não! Você ainda é a fim desse cara? VANESSA: (confessa) Desde o dia em que a gente ficou no bar do Chad. VALESKA: (irônica) Você quer dizer desde o dia em que ele te embebedou pra se aproveitar de sua nobreza né, queridinha. Eu nem preciso dizer pra você esquecer esse garoto ok?! É perca de tempo amore. Ele não passa de um idiota. Procure alguém mais interessante e que te mereça. Vanessa fica pensativa.
| CENA 09 |
República Universitária Laços de Amizade. Interior.
Quarto Uva. MARCELO: Você gosta de correr riscos, não é? Quero ver como vai fazer pra chegar ao quarto delas com a Celina fazendo a ronda aí fora. Luciano, ao invés de responder o amigo, abre a porta lentamente. Coloca a cabeça para o lado de fora e volta rapidamente. LUCIANO: Primeiro, uma correção: não sou eu quem vai, é a Fabi que vem. Segundo, eu dei meu jeito cara. O sonífero já fez efeito. O caminho está livre. MARCELO: Que sonífero? (deduz) A água... Cara, como você foi capaz? LUCIANO: Foi um caso de extrema necessidade, Marcelo. Eu sei que você como homem é capaz de entender isso. Além do mais tu também tá sendo favorecido ué, não tem do que reclamar. MARCELO: Favorecido, eu? LUCIANO: Claro, cara. É tua oportunidade de avançar o sinal com a Bruna ô seu medroso. Mas agora chega de papo. Luciano tira o celular do bolso e digita um sms rapidamente. Close no celular dele e o conteúdo da mensagem: “tá limpo, pode vir”. Ele envia logo depois. Em seguida, abre a porta do quarto. Corta para. Interior do corredor. Observamos Celina dopada e a porta do quarto Maçã sendo aberta. Fabiana põe a cabeça para fora, desconfiada. Marcelo sai do quarto Uva, como se tivesse sido empurrado por alguém. Fabiana e Marcelo se cruzam no curto percurso. FABIANA: Boa sorte, garanhão. Marcelo se desconcerta. Fabiana não perde tempo e adentra ao quarto Uva, a porta é fechada logo em seguida. Marcelo fica estático no meio do corredor, dá uma olhadela para Celina, até que cria coragem e entra no quarto Maçã. Corta para. Interior. Quarto Uva. Fabiana que estava coberta por um roupão de seda, vermelho, desata o laço e se exibe para o namorado, que coça a cabeça. LUCIANO: Uau...! Que visão do paraíso! FABIANA: Vai ficar aí parado só olhando? MÚSICA: “O que é que eu faço pra tirar você da minha cabeça? – Ivo Mozart”. Luciano se aproxima de Fabiana e agarra em sua cintura lhe dando um beijo quente. Abraçados, eles caminham em meio a troca de beijos e carícias até chegarem à cama debaixo do beliche. Luciano tira sua camiseta branca e volta a beijar Fabiana que retribui apertando-se contra o corpo do rapaz. Ele se afasta por um instante colocando a mão em seu bolso e tem uma surpresa desagradável. Sonoplastia baixa. FABIANA: Que foi? LUCIANO: Tô sem camisinha... FABINA: (frustrada) Sério? Ele se levanta do beliche e vai até uma cômoda bagunçando tudo que estava dentro da gaveta. Frustrado ele olha Fabiana balançando a cabeça negativamente. FABIANA: Então acho melhor a gente parar por aqui. Fabiana tenta se recompor e levanta-se da cama indo em direção à saída. Luciano a impede segurando-lhe com força. LUCIANO: ‘Cê’ num vai me deixar assim, vai...? FABIANA: Mas... Sonoplastia alta. O beijo dele cala a boca de Fabiana. O casal decide se entregar ao desejo.
| CENA 10 |
Fim
da sonoplastia. República Universitária Laços de
Amizade. Interior. Quarto Maçã. BRUNA: Você não podia estar aqui. MARCELO: Eu sei. BRUNA: Esses nossos amigos não têm jeito mesmo. MARCELO: O Luciano não presta. Coitada da Celina. Tão boa com todos nós. Não merecia ser passada pra trás dessa maneira. Ela tem lá as suas regras malucas, mas é tudo pensando no bem estar da galera. BRUNA: Eu não acho as regras malucas. Ele ri. Os dois se olham e logo desviam o olhar, envergonhados. Silêncio. Lentamente, Marcelo põe sua mão direita na perna esquerda de Bruna, ela se assusta. MARCELO: O que foi? BRUNA: (desembucha) Eu não tô pronta pra isso. Desculpa. MARCELO: Mas eu não to fazendo nada demais... Ela o corta prontamente. BRUNA: Eu sou virgem. Bruna põe as mãos no rosto, MUITO envergonhada. Marcelo engole em seco a revelação da namorada. MARCELO: Sério? Bruna salta da cama para o chão. BRUNA: É claro que é sério. Eu nunca... Bom, você sabe! MARCELO: Na verdade, eu não esperava... BRUNA: Você deve tá me achando uma ridícula, né? MARCELO: (pulando da cama e se aproximando dela) Não. Claro que não. Mas é que eu não imaginava. Fui pego de surpresa. Não é muito comum hoje em dia. Mas quer saber? Eu acho digno de sua parte e respeito seus princípios. Marcelo segura o queixo de Bruna, olhando-a fixamente em seus olhos. MARCELO: A gente não precisa fazer nada agora. ‘Te dou’ o tempo que for preciso. BRUNA: (sorrindo/aliviada) Obrigada. MARCELO: Eu que te agradeço por ser tão especial. Ele a envolve em um abraço apaixonado.
| Cena 11 | São Paulo. Exterior. Esparramado na cama em meio aos lençóis bagunçados, Carlos acorda com o barulho ensurdecedor de um trovão. Ele rola na cama, e dá por falta de Janaína. Levanta-se num reflexo, esfrega os olhos e levanta-se, perturbado. Fim da sonoplastia. CARLOS: Cadê essa mulher! Ele recorda-se dos acontecimentos da noite anterior. FLASHBACK JANAÍNA: É isso aí. Tô indo arrumar minhas malas. Vou morar na casa de quem realmente me ama. FIM DO FLASHBACK CARLOS: Não pode ser... Carlos começa a gritar o nome de Janaína procurando-a pela casa, sem sucesso. Ele vai até o guarda-roupa e ao abri-lo se dá conta de que apenas suas roupas estão lá, no lado esquerdo, e o lado direito está vazio, nenhuma peça feminina. Close em seu rosto, com ódio. Ele soca a porta do móvel.
CARLOS:
Eu te avisei, Janaína... EU TE AVISEI! |
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