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CAPÍTULO 20 | ||
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| CENA 01 | Bairro Santa Felícia. Interior da casa de Carlos. Quarto. Noite. Continuação do capítulo anterior. Na cama estão Ronaldo e Vanessa. Ela está encolhida num canto, tremendo e com olhos inchados de chorar, apenas vestida com seus trajes íntimos. Ele, apenas de cueca, levanta-se e busca sua calça jeans jogada no chão, vestindo-a em seguida. Vanessa está imóvel. Ronaldo se aproxima dela e segura seu queixo. RONALDO: Ah docinho... Até que não foi tão ruim, vai! Ele beija a boca. Ela passa a mão, enojada. RONALDO (grosso): Anda, levanta! Hora de ir pra casa. (tom ameaçador) E se alguém souber o que aconteceu aqui, sua irmã será uma patricinha morta, ouviu bem?! Vanessa concorda com a cabeça, abalada psicologicamente. | CENA 02 | Condomínio Almirante. Interior. Apartamento 209. Isabel e Janaína acompanharam Suzana até a porta. Ela segura um pote branco. SUZANA: Obrigada pelo café, amiga. E pelo açúcar, claro. ISABEL: Não tem de quê, querida. Quando precisar, sabe onde encontrar. SUZANA: Foi um prazer conhecê-la, Janaína. JANAÍNA: O prazer foi meu. SUZANA: Dê um beijo nos meninos por mim, Isabel. Até logo. Suzana atravessa o corredor e entra em seu apartamento. Isabel fecha a porta e volta-se para Janaína. ISABEL: O que achou dela? JANAÍNA: Me parece uma boa pessoa, não?! ISABEL (risonha): Abstenho-me de comentários. JANAÍNA: Bom, Isabel. Acho melhor eu ir pro quarto antes que seus filhos cheguem. E não se preocupe, pois amanhã mesmo eu vou embora. ISABEL: Você sabe que se fosse por mim, você ficaria. JANAÍNA: Tudo bem. Não quero ser um problema pra você. Janaína se retira e Isabel volta a sentar-se no sofá, desconfiada e pensativa. | CENA 03 | Bar Ponto de Encontro. Interior do local. A pista de dança segue animada. No andar de baixo o movimento está um pouco mais fraco. As mesas começam a ser esvaziadas e boa parte dos clientes já foram embora. Na mesa onde estão Igor e Jaqueline: JAQUELINE: Não vai me dizer o que você o Cláudio estão aprontando não? IGOR: Apostamos quem conquista primeiro o coração da mãezinha do seu namorado. JAQUELINE (incrédula): Como é que é? IGOR: Vou ter que desenhar pra você entender, garota? Jaqueline começa a ri em tom de deboche. IGOR: Tá rindo do que, palhaça? JAQUELINE: Cara, quantos anos você tem? Vocês acham mesmo que a Suzana vai cair nessa brincadeira de vocês?! IGOR: (gabola) Duvido que ela me resista. JAQUELINE: Mas você é muito sem noção mesmo né! Ainda não percebeu que se tem alguém que está se divertindo nessa historinha toda é ela?! Acordem pra vida! Tanto você, quanto o Cláudio servem apenas para satisfazer as carências sexuais dela. Aquela mulher não é do tipo que se deixa levar fácil por homem nenhum. É mais fácil um dos bobocas se apaixonar por ela, do que o contrário. Escuta o que to dizendo. IGOR: Você não sabe de nada, garota. JAQUELINE: Tá. Depois não diga que não avisei. (pausa) O Celso não merecia uma mãe dessas. E muito menos um amigo como aquele Cláudio. | CENA 04 | República Universitária Laços de Amizade. Interior da sala principal. Sentados e abraçados no sofá estão Celina e José, com uma tigela com pipoca sobre suas pernas. Ela está entretida assistindo a uma novela mexicana na TV. Ele está um pouco entediado, mas faz companhia a amada. Celina sequer pisca enquanto dialoga com a história da telenovela. CELINA (alterada): No, José Maurício! Es mentira... Se quieren separar usted y Mariângela! [Não José Maurício! É mentira... Querem separar você e Mariângela!] JOSÉ: Calma, mi amor. Ya ha visto a esta telenovela. Sabes que se quedarán juntos al final. [Calma, meu amor. Você já viu essa novela. Sabe que ficarão juntos no final.] Celina faz sinal de silêncio ao amado e ordena. CELINA (brava): No me interfiera, José! [Não me atrapelhe, José!] José bufa, impaciente. Celina toma a tigela de pipoca que estava nas pernas dele e volta a devanear assistindo a novela. Barulho de porta batendo. JOSÉ: Hola, chica! ¿ Qué tal estás? [Oi, garota. Como você está?] Vanessa, quem acabara de chegar, ainda muito abalada, passa sem responder José que fica no vácuo. | CENA 05 | Bar Ponto de Encontro. Interior da cozinha. Bruna um pouco menos atarefada organiza algumas coisas numa prateleira. Marcelo adentra ao ambiente, meio que desconfiado. BRUNA: Marcelo? Quê que você tá fazendo aqui? Sabe que o Chad não gosta nada disso. Ainda estou em horário de serviço. MARCELO: (insatisfeito) Mas já não tem quase ninguém no bar! Bruna volta a seus afazeres. Marcelo a pega por trás e beija sua nuca. BRUNA: Agora não, Marcelo. Não quero perder meu emprego por sua culpa. Ele se estressa. MARCELO: Ah então é assim? Beleza... Marcelo faz que vai sair, mas Bruna o impede. BRUNA: Espera, Marcelo... Não é isso, amor. Mas você sabe que eu dependo desse trabalho e eu já dei muitos ‘vacilos’ com o meu patrãozinho. Você me entende? MARCELO: (bravo) Sinceramente? Eu não entendo não, Bruna. Já to de saco cheio disso. Todo mundo lá fora se divertindo e você aqui trancada nessa cozinha. E pior, privando-me de me divertir também. Isso não é justo. Melissa adentra ao local discretamente. Ao perceber a discussão do casal decide não intervir. BRUNA: (convicta) Eu tenho que trabalhar pra me sustentar. MARCELO: Às custas do meu sacrifício? BRUNA: (estressada) Eu não to acreditando no que eu to ouvindo. Sacrifício? Bom saber que você pensa assim. Se pra você me namorar nessas condições é um sacrifício, acho que precisamos rever nossas prioridades. MARCELO: O que é que você quer dizer com isso? Melissa intervém, de braços cruzados. MELISSA: Será o Benedito meu Deus?! Não... Claro que não, é só o Marcelo novamente. Você sabe que não pode ficar aqui garoto. Anda, vaza antes que Chadinho que te veja. Marcelo dá mais uma olhada pra Bruna, e sai em seguida. Ela suspira. MELISSA: (dando tapinhas em Bruna) Pode me agradecer fofa. BRUNA (confusa): Hã? MELISSA: Te livrei de fazer uma grande bobagem. BRUNA: Continuo sem entender. MELISSA: Ah minha filha... Homem hoje em dia é produto raro no mercado. Por pouco você não entrega o seu de bandeja pra’quela bruaca oxigenada da Valeska. Abre o olho, Bruna. Ela passou a noite toda dando condição pro Marcelo, mas não se preocupa não que eu fiquei ali marcando território e ela se tocou. BRUNA: Essa garota não desiste. | CENA 06 | República Universitária Laços de Amizade. Interior do quarto Morango. MÚSICA: “Maré – NX Zero.” A porta se abre e por ela entra Vanessa, que se arrasta como se fizesse um grande esforço para andar. Ao entrar, a garota se encosta à porta e se desmancha em lágrimas. Joga sua bolsa no chão e começa a se tocar com repúdio, como se quisesse arrancar as roupas que usa a qualquer custo. Vanessa caminha em direção ao banheiro, visivelmente arrasada, tirando suas roupas. Corta para o interior do banheiro. Imagem dos ombros para cima. Sob o chuveiro, ela busca de alguma forma limpar a sujeira deixada pela violência que sofrera. Impureza que vai além do corpo, mas chega a doer em sua alma. A garota chora tanto a ponto de gemer e soluçar. Fim da sonoplastia. | CENA 07 | Bairro Santa Felícia. Casa de Carlos. Int. Ronaldo abre a geladeira e de dentro dela tira uma cerveja a qual abre com o dente, cuspindo a tampa da garrafa em qualquer lugar. Ele vai até uma mesa redonda de madeira preta, sentando-se à uma cadeira. Toma um gole da cerveja colocando-a em seguida na mesa à medida que dá um sorriso sacana ao lembrar do que fez a Vanessa. Neste momento Carlos chega, batendo a porta como de costume. RONALDO: Pelo visto não ‘teve’ a mesma sorte que eu. Carlos fala indo em direção à geladeira quando faz o mesmo que Ronaldo fizera antes dele chegar. CARLOS: Sorte eu vou ter quando encontrar a vaca da Janaína. Quando ela tiver nas minhas mãos de novo... Ah mas ela não perde por esperar! Ele abre a cerveja e junta-se a Ronaldo na mesinha. RONALDO: Esquece ela, Carlos. Mulher é o que mais tem por aí. CARLOS: Mas Janaína só tem uma! (um gole de cerveja) Essa mulher vai me pagar, Ronaldo. Escreve o que to te dizendo. A Janaína vai me pagar por ter se mandado daqui. (pausa) Mas e aí, como é que foi lá? RONALDO: Descolei uma princesinha daquelas. Cheia da grana e novinha. Uma delícia cara! CARLOS: Vê lá hein. Não vai se meter com menor que dá merda. RONALDO: Já tem dezoito. Órfã de mãe e o pai vive fora do país. A garota tava precisando de carinho. Sem falar que eu tratei de calar o bico dela. CARLOS: (surpreso) Tu matou a garota, ‘rapá’? RONALDO: Não cara. Claro que não. Ainda pretendo me divertir muito com a guria. Mas dei um jeito de calar o bico dela. Ronaldo tome um gole da cerveja. | CENA 08 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Int. Isabel anda de um lado para o outro, preocupada com a demora dos filhos. Alguém enfia a chave pelo lado de fora, abrindo a porta em seguida. Isabel fica aliviada. ISABEL: Até que enfim vocês chegaram. Querem me matar de preocupação? JAQUELINE: Preocupada você devia estar por dividir o mesmo teto com uma assassina. IGOR: Cadê ela? ISABEL: Dormindo. Mas não se preocupem. Vocês venceram. IGOR: Isso quer dizer que... Isabel toma a palavra. ISABEL: Isso quer dizer que ela passará essa noite aqui. Mas ela vai embora amanhã mesmo. Estão felizes agora? JAQUELINE: Quer mesmo que a gente responda? Jaqueline se retira. Igor vai logo em seguida. Isabel revira os olhos e volta a ficar séria. Ela põe a mão no queixo, pensativa. As palavras de Janaína martelam na cabeça de Isabel. FLASHBACK, JANAÍNA (off): Quem precisa entender alguma coisa aqui é você, Isabel. Você tem uma dívida eterna comigo... Você precisa saber que me deve isso... Pois saiba que a partir do momento em que você me expulsar daqui a sua relação com Igor e Jaqueline corre muito mais perigo. FIM DO FLASHBACK, ISABEL: (preocupada) Ela vai acabar contando tudo... Não posso deixar isso acontecer. Preciso calar a boca da Janaína. O semblante de Isabel é indecifrável. | CENA 09 | República Universitária Laços de Amizade. Interior da sala principal. Close na porta que se abre e por ela entram Valeska e Cláudio. Valeska não esconde sua satisfação. VALESKA: O casalzinho brigou é?! Ô, que peninha! Ela faz beicinho, em deboche. Cláudio reprova a atitude da patricinha. CLÁUDIO: Ficaram lá discutindo no carro. (pausa) E a Vanessa... Ligou pra ela? VALESKA: Por que o interesse na minha irmã, cabeça de bagre? CLÁUDIO: Você não se preocupa com ela não? VALESKA: Claro que me preocupo. Tanto que tratei de abrir os olhos dela quando me contou que estava a fim de você. Vê se pode. Minha irmã tem cada uma. CLÁUDIO: (convencido) Eu não tiro a razão dela. Não sou de se jogar fora. VALESKA: Vou fingir que não ouvi isso. Quanto a Vanessa, é claro que ela não volta pra casa hoje. Bem, minha cama me chama. Beijos e abraços, amore. CLÁUDIO (debochado): Não seria melhor um banho antes? Valeska lança-lhe aquele olhar mortal. Esnobe como sempre, a loira vai em direção ao quarto. Pouco tempo depois, rindo da própria piada, Cláudio sobe também. | CENA 10 | Sequência de cenas rápidas. MÚSICA: “Algo mudou - Liah”. República Universitária Laços de Amizade. Quarto Maçã. Interior. Fabiana está deitada em sua cama, com olhos marejados. Ela olha para o guarda-roupas, como se tivesse uma ideia. CORTA PARA Quarto Uva. Interior. Luciano também está deitado, mãos na cabeça. Com o celular sobre seu corpo e fones no ouvido. Seu semblante é de preocupação e parece estar com pensamento distante. O rapaz tira os fones do ouvido, vira-se para o lado e se cobre com o edredom. CORTA PARA Quarto Morango. Interior. Vanessa vira-se de um lado para o outro. Ela dorme feito um anjo, apenas com a cabeça fora do edredom. Valeska entra no quarto e estranha a presença da irmã ali. CORTA PARA Hospital Regional. Interior. Quarto de Celso. O rapaz está sedado na cama. CORTA PARA Bela Vista. Casa de Darlan. No interior da biblioteca, de pijamas e com um óculos de leitura no rosto, Darlan tenta se concentrar no livro. Vencido, ele põe o livro na mesa e pega um porta-retratos com duas fotos, uma de Janaína, outra de Marcelo. Ele admira o retrato por um tempo, mas logo joga-o no lixo. Close em seu rosto sério. CORTA PARA República. Interior do corredor que dá acesso aos quartos. Bruna, apressada, caminha na tentativa de entrar logo no seu quarto antes que Marcelo a alcance, o que não consegue. Marcelo segura seu braço fazendo-a voltar-se pra ele. Os dois se olham fixamente até que ele tenta beijá-la, mas ela vira o rosto. Ele a solta. Ela entra no quarto. CORTA PARA Quarto Maçã. Interior. Fabiana está parada a frente de seu guarda-roupa. Uma das portas está aberta e ela segura um papel. Close no papel que denuncia ser o exame de gravidez da jovem. Bruna surge por trás da amiga. Fim da sonoplastia. BRUNA: Que papel é esse, Fabiana? Close em Fabiana, surpreendida. Bruna espera uma resposta de Fabiana que pensa rápido. FABIANA: (mostrando a folha rapidamente) Isso aqui? Não é nada. É só uma ‘cola’ pra prova de amanhã, amiga. Fabiana volta a guardar a folha no guarda-roupa antes que sua amiga pedisse pra ver. Bruna não se convence, mas não insiste. BRUNA: Você sabe que isso é errado, Fabi. FABIANA: Não tenho escolha, Bruna. Juro que tentei absorver a matéria até agora, mas Antropologia Social é complicado demais pra minha cabeça. Não posso correr o risco de fazer segunda chamada. To exausta. Vou dormir. Vê se não demora pra apagar essa luz. Fabiana se joga na cama, querendo encerrar o assunto. Bruna puxa conversa. BRUNA: Eu briguei com o Marcelo. Quer dizer, nós brigamos. FABIANA: (se escondendo debaixo do edredom) Ai não, Bruna. Agora não, por favor... BRUNA: (alterada) Por favor, digo eu, Fabiana. Quando você tem problemas com o Luciano, eu to sempre pronta pra te ouvir. FABIANA: (escondida debaixo do edredom) Tá passando na minha cara, colega? BRUNA: ‘Cê’ sabe que não. Fabiana bufa insatisfeita e senta-se na cama, fazendo um gesto para Bruna juntar-se a ela. FABIANA: Me conta vai. Bruna desabafa. BRUNA: Ele disse que tá se sacrificando demais por mim, pelo simples fato de não poder se divertir enquanto eu trabalho. Pode isso? Eu não tenho pai rico, eu preciso desse trabalho. Às vezes o Marcelo é muito imaturo. Sem falar que enquanto eu trabalho na cozinha do bar, ele está lá na pista, livre pra quem quiser chegar. FABIANA: Mas você sabe que ele não quer ninguém além de você. BRUNA: E eu não quero ninguém além dele. Mas se ele não tá feliz, acho que nossa relação não tá dando certo. FABIANA: É amiga... Acho que nós duas estamos na mesma. BRUNA: Ainda de mal com o Luciano? FABIANA: (suspira) Sim, ainda. Posso dormir agora? BRUNA: Sua chata. Elas sorriem e se abraçam. | CENA 11 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Quarto Uva. No beliche, Marcelo está na cama de cima admirando o teto, Luciano está na de baixo, com cara de poucos amigos. LUCIANO: Não to acreditando que tu me acordou pra dizer que teve uma DR com a Bruna. MARCELO: Ela me disse que precisamos rever nossas prioridades, cara. O que será que ela quis dizer com isso? LUCIANO: (sonolento) Não sei... MARCELO: Não é justo comigo, Luciano. Ela só vê o lado dela. Eu tenho que ficar a noite toda plantado numa mesa esperando a Bruna sair do serviço, pow! Eu também quero me divertir... Cê num acha? LUCIANO: (geme a fala) Hum rum... MARCELO: Se fosse com você, o que faria nessa situação? Luciano começa a roncar, dormindo. Marcelo se curva para ver o amigo na cama de baixo, e se frustra ao constatar que ele caiu no sono. MARCELO: Isso é que é amigo de verdade! Marcelo joga um travesseiro em Luciano, que não acorda. | CENA 12 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Quarto Maçã. Luz baixa. Fabiana dorme feito um anjo, enquanto Bruna está com os olhos bem abertos, intrigada com alguma coisa. Ela levanta-se da cama, calça as pantufas, certifica-se de que sua amiga dorme, e vai até o guarda-roupa cautelosamente. Abre-o e procura o papel que Fabiana dizia ser uma cola. Ao encontrar a folha, Bruna se choca. BRUNA: (aflita) Ela tá grávida...! | CENA 13 | São Paulo. Exterior. MÚSICA: “Semente – Armadinho”. Imagens externas da madrugada paulistana. A lua dá lugar ao sol fazendo nascer um novo dia. | CENA 14 | Exterior. Fachada da República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala principal. Celina e José preparam o café da manhã para os moradores que aos poucos vão surgindo na sala. Valeska já está sentada à mesa, assim como Cláudio e Marcelo. Corta para. Corredor que dá acesso aos quartos. Bruna acabara de sair de seu quarto quando ouve vozes vindas do quarto Uva. Ela se aproxima para ouvir a conversa. Fim da sonoplastia. LUCIANO (off): Já confirmei sua consulta. De hoje isso não passa, Fabiana. FABIANA (off): Tô com medo, Luciano. LUCIANO (off): Pensa que depois disso nós teremos de volta nossa liberdade. FABIANA (off): Às custas da vida de nosso filho? Bruna se espanta ao ouvir a última frase de Fabiana, mas logo se recupera saindo imediatamente dali. | CENA 15 | Hospital Regional. Interior. Quarto de Celso. O médico adentra ao local com uma prancheta na mão. DR. HUMBERTO: Como está se sentindo, Celso? CELSO: (aflito) Não sinto minhas pernas, doutor. DR. HUMBERTO: Tendo em vista a gravidade do acidente, isso é normal. O paciente na maioria dos casos deixa alguma sequela. Mas não se preocupe que com a ajuda da fisioterapia você recuperará os movimentos. CELSO: (receoso) E se eu nunca mais voltar a andar? DR. HUMBERTO: Celso, você superou um traumatismo. Não devia ser tão pessimista. Agora é fundamental que não se coloque na condição de vítima. É preciso muita força de vontade de sua parte. Até o mais cético dos homens diria que sua recuperação foi coisa de Deus. Em tantos anos de medicina, eu nunca vi nada igual. Mas é preciso que você colabore, rapaz. CELSO: Tudo bem, doutor. Se eu fui capaz de superar a morte, o que são algumas sessões de fisioterapia, não é? DR. HUMBERTO: É assim que se fala! CELSO: Além do mais, eu preciso fazer isso pela Jaque. Eu sei que ela esteve aqui, doutor. Em todos os momentos. E se eu consegui acordar do coma, certamente devo isso a ela. Foi realmente um milagre que me salvou, o milagre do amor. O médico se engasga com a própria saliva. DR. HUMBERTO: Ela é sua namorada? CELSO: Será assim que eu for capaz de amá-la de verdade. O médico engole em seco. DR. HUMBERTO: Felicidades ao casal. O resultado dos exames finais sai mais tarde. Espero ter boas notícias. O pior certamente já passou, Celso. Depois disso começamos as sessões de terapia. Quanto antes, melhor. CELSO: Obrigado por tudo, doutor Humberto. DR. HUMBERTO: Não há o que agradecer. Eu amo o que faço. Bem, preciso ver outros pacientes agora. O médico se retira. Celso solta um sorriso esperançoso. | CENA 16 | Universidade Campelo Costa. Interior. Estacionamento. Marcelo acaba de parar o carro. Valeska, Vanessa e Cláudio, no banco de trás, saem do automóvel. Ao abrir a porta para sair, Marcelo é impedido por Bruna que estava no carona. Ela segura seu braço. BRUNA: Preciso contar uma coisa. MARCELO: (sério) Veio calada o caminho todo. Quer falar o quê agora? CLÁUDIO: (fora do carro) Vocês não vêm? MARCELO: Vão à frente. A gente vai logo depois. Valeska e Vanessa já estavam praticamente na saída do estacionamento. Cláudio sai em seguida. Interior do carro. MARCELO: Se for sobre ontem... Bruna o corta. BRUNA: Mais importante que isso. MARCELO: (irritado) Qualquer coisa pra você é mais importante que nosso namoro. Já reparou? Bruna evita a discussão por um bem maior. BRUNA: A Fabiana tá grávida. Ela pretende tirar o bebê. MARCELO: (incrédulo) O quê? BRUNA: Eu vi o exame ontem. E hoje de manhã ouvi o Luciano falando com ela sobre tirar a criança. MARCELO: Meu Deus. BRUNA: A gente precisa impedir que eles façam essa loucura. Marcelo liga o carro novamente, dá a marcha ré e dirige em direção à saída do estacionamento. Passam por Cláudio que ainda saia do local. CLÁUDIO: Safadinhos...! | CENA 17 | Universidade Campelo Costa. Exterior. Pátio principal do campus. Vários estudantes transitam pelo ambiente. A câmera dá um close nas irmãs Peduzzi que caminham em direção à entrada do prédio universitário. Vanessa está contida, seu semblante é sério. VALESKA: Maninha... Tá tudo bem, querida? Você tá esquisita. VANESSA: Tudo bem. VALESKA: Ah... Mas me conta. E a noite de ontem? Como foi com o bofe mais velho? Achei que não voltaria pra casa, mas tão grande foi minha surpresa ao chegar e te vê lá dormindo. Quê que foi? O garanhão não era tudo ‘aquilo’ não, é?! Vanessa fica nitidamente desconfortável e atordoada. VANESSA: Eu não quero falar sobre isso. VALESKA: Fala, bobinha. Não pode haver segredos entre irmãs! Me conta tudo. Menos os detalhes sórdidos, claro. Vanessa perde o controle. VANESSA: (grita/atordoada) Eu não quero falar sobre isso! Me deixa em paz! Me deixa em paz! O tom de voz de Vanessa foi tão alto que chamou a atenção dos mais próximos. Ela sai fugida dali. Valeska está passada, põe a mão no peito. VALESKA: Gente... Quê que deu nessa maluca?! | CENA 18 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala principal. Enquanto José lava a louça do café da manhã, Celina começa a faxina na sala. As tarefas são realizadas ao som ambiente de “Paso doble”. Celina arrisca uns passinhos de dança, vez ou outra. O som da campainha desconcentra a mexicana que vai atendê-la. Ao abrir a porta, close em Janaína. JANAÍNA: Bom dia. CELINA: Buenos dias! JANAÍNA: Você se lembra de mim? CELINA: Por supuesto! Eres Janaína... La mamá de Brunita, ¿si? [Com certeza. Você é Janaína... A mãe de Bruninha, sim?] Janaína assente com a cabeça e um sorriso. CELINA: Entre, por favor. Perdon por la confusión, es que llegaste en la hora de la limpieza. [Desculpa a bagunça, é que você chegou na hora da faxina.] JANAÍNA: Sem problemas. Celina fecha a porta e vai até o aparelho de som desligá-lo. Depois vai em direção ao sofá fazendo gesto para Janaína sentar-se. Da cozinha, José fala. JOSÉ: ¿Quién es, mi amor? [Quem é, meu amor?] CELINA: Una amiga, mi vida! Bueno... ¿Em qué puedo ayudarte? [Em que posso lhe ajudar?] JANAÍNA: Na verdade não sei se pode. Mas não tenho a quem recorrer. CELINA: (curiosa) ¿Qué pasa? JANAÍNA: Como? CELINA: (força o Português) O que está acontecendo? JANAÍNA: Tanta coisa, Celina. A começar pela chegada da Bruna a São Paulo. Você já deve saber o que aconteceu e como ela veio parar aqui. (Celina assente com a cabeça) Depois que ela descobriu meu segredo, eu decidi não mais me submeter às condições de vida que levava e saí da casa do homem que me obrigava a me prostituir. Apareceu outro homem na minha vida, mas este era maravilhoso, e eu me apaixonei... Vivemos um sentimento verdadeiro e intenso até o dia em que ele descobriu que eu fui prostituta, e me expulsou da vida dele. Eu reconheço que errei em omitir meu passado, mas foi por medo de perdê-lo, o que acabou acontecendo do mesmo jeito. CELINA: Compreendo. Y no tienes que darme explicaciones. [Entendo. E você não tem que me dar explicações.] JANAÍNA: A verdade é que eu fiquei sem ter onde morar, Celina. Recorri a uma amiga e ela me deu abrigo, mas seus filhos não me aceitaram lá e eu tive que sair. Agora eu realmente não sei a quem recorrer... CELINA: Díos, que lastima! JANAÍNA: Eu sei que você não tem nenhuma obrigação comigo, até porque já faz muito pela minha filha e te agradeço por isso. Mas eu não sei mais o que fazer. CELINA: No te desesperes. Soy capaz de compreender tu sofrimiento y no puedo quedarme ajeno a esto. Además, mi república es como corazón de madre, siempre cabrá uno más! (força o português) Usted puede ficar aqui, Janaína. [Não se desespere. Sou capaz de compreender seu sofrimento e não posso ficar alheio a isso. Além do mais, minha república é como coração de mãe, sempre caberá mais um.] Janaína abre um largo sorriso. JANAÍNA: (aliviada) Você jura, Celina? CELINA: (sorrindo) Por la virgenzita! [Pela Virgenzinha!] As duas se abraçam felizes, sob o olhar de José que assistia a cena, satisfeito pelo bom coração que tem sua amada. | CENA 19 | Hospital Regional. Interior. Quarto de Celso. Impaciente, o rapaz torce para receber uma visita e ao ouvir a porta se abrir, se anima, mas logo fecha a cara ao perceber de quem se trata. CELSO: Veio fazer o quê aqui? SUZANA: (irônica) Visitar meu filho querido?! CELSO: Boa tentativa. Mas não me convenceu. SUZANA: Por que você tem de ser tão ríspido comigo hein garoto? Eu sou sua mãe. Eu larguei minha vida em Floripa só pra saber como você estava. Isso é jeito de me tratar? CELSO: Bom, veio porque quis. Ninguém te obrigou. SUZANA: Por que você me odeia? CELSO: Me diz você... SUZANA: Eu realmente não sei a resposta. CELSO: Ah não?! Você sempre foi ausente na minha vida. Tudo e todos estavam acima de mim, eu sempre fiquei em segundo plano. Acha pouco ou quer mais motivos? SUZANA: Você sempre teve tudo que quis. Nunca te faltou nada. CELSO: O quê? Uma vida de ilusão? Brinquedos caros e roupas de marca? SUZANA: E o que mais você queria? CELSO: Algo mais importante que qualquer presentinho caro. CARINHO DE MÃE! E isso sempre me faltou, dona Suzana. SUZANA: (desconcertada) Toda mãe ama seus filhos. Mas cada uma à sua maneira! CELSO: Não me venha com esse papo. Você nunca quis me ter, mãe. Você sempre foi egoísta, só pensava em você. Eu não passava de um estorvo na sua vida, não é?! Você deu graças a Deus quando resolvi vir estudar aqui. E quer saber? Foi a melhor coisa que eu podia ter feito. Vivi muito bem esse tempo todo sem você. SUZANA: Percebe-se que você está muito bem mesmo sem mim, entrevado nessa cama de hospital. Celso não tem resposta. SUZANA: Você só saiu de casa pra me desafiar. Aliás, isso era o que você fazia de melhor: me tirar do sério. CELSO: Eu só queria sua atenção! Eu só queria que você olhasse pra mim. Que me amasse como toda mãe ama seu filho! Silêncio momentâneo. SUZANA: Acho melhor eu ir. Não quero que sua recuperação seja prejudicada por discussões desnecessárias. Eu volto outra hora. Enquanto Suzana pega sua bolsa e se retira. CELSO: Não precisa voltar. Eu me virei até hoje muito bem sem você sim. E agora não será diferente. Suzana se retira. | CENA 20 | Bairro. Exterior. Em algum bairro de classe médio-baixa da grande São Paulo. Fachada de uma casa com aparência velha. Um carro estaciona na calçada. CORTA PARA o Interior da casa. Sala. O local não aparenta ser um lar de família, mas sim uma sala de espera improvisada de um hospital abandonado. Fabiana e Luciano estão sentados em um sofá mal cuidado. Outras mulheres também estão ali à espera de serem chamadas. Fabiana está visivelmente aflita, Luciano não está menos que ela, mas não deixa transparecer. FABIANA: Eu to com medo, Luciano. LUCIANO: Fica tranquila. Vai dá tudo certo. Uma mulher velha, vestida com uma roupa branca, aparece na sala, vinda de uma espécie de consultório, mas que provavelmente é um quarto de dormir. Ela chama: MULHER: Fabiana Solimões? Fabiana troca um olhar desesperado com Luciano. Ele mantém a aparência. LUCIANO: É ela. MULHER: Chegou sua vez. Me acompanhe. FABIANA: Meu Deus... Luciano segura a mão da namorada e a levanta do sofá conduzindo-a na mesma direção em que a mulher de branco seguia. Neste momento, um barulho de porta se abrindo violentamente assusta todos no local. Marcelo surge no local, seguido de Bruna. BRUNA: Não faz isso, Fabiana! Close em Fabiana, assustada e aliviada ao mesmo tempo. |
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autor Diogo de Castro
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