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CAPÍTULO 22 | ||
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| CENA 01| Noite. Condomínio Almirante. Apartamento 209. Interior. Quarto de Isabel. Isabel acaba de fechar a porta, tentando disfarçar o nervosismo. Jaqueline segura a arma envolvida numa flanela, admirando-a. JAQUELINE: Estou esperando uma resposta, mamãe. Por que você tem uma arma escondida dentro de casa? Isabel pensa rápido. ISABEL: (calculista) Como por que, filha? Pelo motivo mais óbvio. Precaução. Esqueceu que moramos numa cidade perigosa? Hoje em dia não se pode “vacilar”, como vocês mesmo dizem. Já pensou se entra alguém aqui? Temos que estar preparados pra tudo. JAQUELINE: Isso quer dizer que você sabe usá-la? ISABEL: Eu não estou gostando do rumo que esta conversa está tomando. Primeiro você invade meu quarto sem a minha permissão, feito uma criminosa. E agora me enche de perguntas? Onde você quer chegar Jaqueline? JAQUELINE: Por que tá tão nervosa? Só to fazendo umas perguntas. ISABEL: Muito inoportunas, por sinal. Eu estou com dor de cabeça. Preciso dormir. JAQUELINE: Tudo bem, então. ISABEL: Guarda isso. E nunca mais entre no meu quarto sem minha permissão, ouviu bem?! JAQUELINE: Ok, dona Isabel. Jaqueline guarda a arma onde havia encontrado e se retira sem dizer uma palavra mais. Isabel tem um semblante aflito. Ela se aproxima da cama e senta-se, nervosa. ISABEL: Ela desconfia de alguma coisa. | CENA 02 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. Sentados no sofá verde-limão, bem próximos, Valeska passa seu braço em volta de Marcelo, que o tira grosseiramente. VALESKA: Você já foi mais cavalheiro. MARCELO: Eu devia saber que uma atitude infantil como essa, só poderia ser fruto de um cérebro desprovido de qualquer capacidade intelectual como o seu. VALESKA: (chocada) Eu não acredito que você tá me chamando de burra. MARCELO: Qual é a sua, Valeska? VALESKA: (cínica) Será que eu posso pelo menos saber do que to sendo acusada? Marcelo retira do bolso o bilhete que recebera mais cedo e entrega a Valeska. MARCELO: Vai dizer que nunca viu esse pedaço de papel na vida? Ela pega o papel. VALESKA: Qualquer ser humano que me conheça bem, ATÉ O MENOS DESPROVIDO DE CAPACIDADES INTELECTUAIS, saberia dizer que essa letra não é minha. Ela devolve o bilhete à ele. MARCELO: Você mandou alguém escrever! VALESKA: Ah, Marcelo... FRANCAMENTE, querido. Se eu quisesse plantar a dúvida na sua cabecinha a respeito da integridade da interiorana, certamente faria muito melhor que mandar bilhetinhos com recadinhos bobos. Mesmo que você me ache uma anencéfala, fique certo que eu tenho capacidade pra fazer mais do que isso. Me poupe. Marcelo fica confuso por um momento. Valeska levanta-se do sofá e levanta-se para sair, ao chegar na escada dá uma parada brusca, voltando-se para ele. VALESKA: Maaas... Se algum desocupado, que não tem qualquer tipo de relação mínima com você, se deu ao trabalho de escrever isso aí, e te enviou, com certeza deve ter seus motivos. Eu, no seu lugar, ficaria de olhos bem abertos com a Bruninha. Ele se levanta, bravo. MARCELO: Eu confio inteiramente nela. A Bruna é praticamente uma santa. VALESKA: Talvez seja esse o seu erro, querido. As santinhas costumam ser as piores. E olha que eu to te aconselhando como AMIGA, em consideração por todo tempo que nos conhecemos. Eu já entendi que você não me quer. Portanto, azar o seu! Valeska se retira, desfilando. Marcelo permanece na sala, bastante confuso. Ele volta a sentar-se no sofá. Celso vem da cozinha conduzindo sua cadeira de rodas. CELSO: Que cara é essa, Marcelo? Ele desembucha. MARCELO: Você acha que a Bruna seria capaz de me trair? Close em Celso, surpreso com a pergunta. | CENA 03 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Quarto Morango. “MÚSICA: Maré – NX Zero.” Vanessa está deitada na cama de baixo do beliche, agarrada a um travesseiro, fones no ouvido. Veste apenas um baby dool branco com desenhos infantis. Seu olhar vermelho, cansado e distante, como se estivesse fora de seu corpo. Celina entra no quarto sem ser notada e puxa um puff que estava próximo da mesa do computador, para próximo da cama, sentando-se perto de Vanessa, que só então percebe a presença da mexicana. Fim da sonoplastia. CELINA: ¿No quieres comer, Vanessa? VANESSA: (contida) To sem fome, Celina. CELINA: (penalizada) ¿Qué está pasando contigo, chica? Desde hace tiempo no eres la chica feliz, amorosa e llena de vida que era antes. Ahora me parece que estás muerta en vida. Estoy preocupada com usted. ¿Qué pasa, Vanessa? [O que está acontecendo com você, menina? Faz tempo que você não é a menina feliz, amorosa e cheia de vida de antes. Agora parece que está morta em vida. estou preocupada com você. O que está acontecendo?] VANESSA: (contida) Não é nada, Celina. Me deixa sozinha, por favor. CELINA: Sabes que siempre puede hablar conmigo, para todo que sea. VANESSA: Eu não quero falar! Eu não posso falar! CELINA: Sabes que puede... Vanessa se levantada da cama, completamente atordoada. VANESSA: (amedrontada) Eu não posso... Eu não posso... É perigoso! E a culpa é minha, Celina. A culpa é toda minha! CELINA: (confusa) ¿Culpa? VANESSA: (angustiada) É sim. Se eu não tivesse ido lá... Se eu não... A culpa é MINHA! Vanessa se tranca no banheiro e continua se culpando. Celina está muito preocupada. CELINA: Dios mio! Es peor de lo que pensé. [Meu Deus! É pior do que pensei.] | CENA 04 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. Marcelo e Celso estão no local. José, vindo da cozinha e tirando seu avental, anuncia para todo bairro ouvir. Celina desce as escadas neste momento. JOSÉ: La cena se sirve! [O jantar está servido] CELSO: Até que enfim. JOSÉ: Preparem-se parar comer la mejor paella de sus vidas. MARCELO: Só se for agora. Neste momento, Cláudio, ainda vestido de mariachi, chega a casa, furioso. Ao avistar José, sua raiva aumenta ainda mais. CLÁUDIO: Taí você né seu mexicano dos infernos. Você me paga! Cláudio vai para cima de José, que tenta se defender como pode. Histérica, Celina se joga na frente do amado. Marcelo segura Cláudio evitando uma tragédia. CELINA: ¿Qué significa esto, Cláudio? ¿Estás loco? CLÁUDIO: Esse seu mexicano de uma figa quase me fez dormir na cadeia. JOSÉ: (desentendido) ¿Yo? CLÁUDIO: SIM. Você e essa sua história de serenata infalível quase me botaram em cana. Marcelo e Celina começam a ri. MARCELO: Mas que história é essa? E que roupa é essa, cara? CLÁUDIO: (apontando para José) Pergunta pra esse maluco aí! JOSÉ: ¿A chica no le gustó la serenata? Entoces hiciste algo errado. Quizá no cantaste la mejor canción... [A garota não gostou da serenata? Então você fez algo errado. Talvez não tenha cantado a melhor música...] CLÁUDIO: Claro que eu fiz algo de errado. Segui seu conselho maluco e, como já era de se esperar, me dei mal. A sorte é que eles me liberaram, mas por muito pouco não passei a noite na cadeia. Celina, Marcelo e José se divertem com a situação. O clima descontraído se desfaz com a fala de Celso. CELSO: Tava mesmo querendo falar contigo, Cláudio. CLÁUDIO: Qual é a parada, mano? CELSO: ‘Vamo’ jantar. Depois a gente conversa. | CENA 05 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Interior. Sala de estar. Jaqueline está esparramada no sofá, distraída na leitura de uma revista. Ao ouvir a porta bater, ela joga a revista na mesinha de centro e encara Igor, que acabara de entrar. IGOR: Que foi? JAQUELINE: Ela tem uma arma guardada no quarto. IGOR: (surpreso) A mamãe? JAQUELINE: E quem mais seria, seu burro?! Jaqueline se ajeita no sofá, sentando-se. Igor se aproxima dela para sentar-se também. IGOR: Mas você viu essa arma? E o que ela disse? JAQUELINE: Disse que era por precaução. “Nunca se sabe quando um bandido vai entrar aqui, e temos que estar preparados pra qualquer coisa.” IGOR: Mas isso faz sentido, Jaque. São Paulo é uma cidade muito perigosa. JAQUELINE: De qualquer maneira, não to totalmente convencida disso. IGOR: Você tá ficando paranóica, garota. Se liga! JAQUELINE: Não sei, não... IGOR: Ah! Você não sabe da maior. O otário do Cláudio pagou o maior mico na frente do prédio. Tu acredita que ele fez uma serenata pra Suzana? Ela riu da cara dele e ainda chamou a polícia. Ele foi parar na delegacia. JAQUELINE: Vocês ainda não desistiram dessa bobagem? IGOR: Quando eu entro numa parada é pra ganhar. E pelo visto dessa vez não vai ser diferente. Mas sabe de uma coisa, Jaque. Essa mãe do seu namorado é completamente maluca. Ela não curtiu as flores e chocolates que mandei e ainda zombou da minha cara. JAQUELINE: Isso não me surpreende. IGOR: Mas que tipo de mulher não gosta de receber flores, chocolates e poemas? JAQUELINE: A Suzana é um caso à parte. E eu te avisei que essa história era perca de tempo. Ela é quem deve tá se divertindo à custa dos dois babacas! IGOR: Será? JAQUELINE: O Celso já sabe de tudo viu. IGOR: Como é que é? JAQUELINE: Eu não ia ficar omitindo uma coisa dessas pro meu namorado. Ele tinha que saber. IGOR: Tanto faz. Eu não tenho nada a perder com isso. JAQUELINE: Já o Cláudio... IGOR: Bom. Deixa eu ir dormir que essa sua sogrinha insaciável me deu uma canseira danada. JAQUELINE: Seu cachorro, sem vergonha! Ela lhe dá um tapinha no braço. Ele ri com saliência. | CENA 06 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Quarto Goiaba. Close na porta do quarto se abrindo. Cláudio passa por ela e a segura para que Celso passe com sua cadeira de rodas. Dentro do quarto, Celso se posiciona no centro, enquanto Cláudio fecha a porta. Depois disso, ele caminha rumo ao banheiro tirando a roupa de mariachi que ainda estava usando. CLÁUDIO: Tu precisava ver o ridículo que eu passei na frente de todo mundo, cara. Vestido feito um palhaço e entrando naquela viatura da polícia. CELSO: Sei... Cláudio reaparece trajando apenas um calção florido e indo a direção ao guarda-roupas. CELSO: A propósito, Cláudio. Quem foi a felizarda que te fez se fantasiar desse jeito? Num rápido reflexo, Cláudio para o que estava fazendo, desconfiado. CELSO: Deve gostar muito dela, né... Não vai me contar quem é a gata que fisgou teu coração, meu amigo? Cláudio se vira para ele, desconcertado. Coça a cabeça. CLÁUDIO: (gaguejando) Ah, cara. É uma mina aí. Nesse tempo que você ficou no hospital aconteceram umas paradas... Celso interrompe-o. CELSO: Você é muito cara de pau. CLÁUDIO: (estranhando) Qual foi, Celso? Tá maluco? Celso impõe a voz. CELSO: A Jaqueline me contou que você e o irmãozinho dela tão tendo um caso com a minha mãe, seu canalha. E como se já não bastasse, agora inventaram uma competição ridícula pra ver quem consegue conquistar o coração dela. Essa serenata fez parte da disputa de vocês né?! CLÁUDIO: Eu posso explicar, cara... CELSO: (bravo) Explicar o que? Que você é um canalha, cafajeste, que não tem consideração alguma por aquele dizia ser como um irmão pra você? É isso que você chama de amizade, Cláudio? CLÁUDIO: Calma, cara. Eu sei que... (pausa) CELSO: O Igor, tudo bem. Eu sou capaz de entender que ele faria isso de propósito, pela rixa que ele tem com a gente ou por ciúme da Jaque. Mas, você...?! EU TE CONSIDERAVA UM IRMÃO. CLÁUDIO: (rapidamente) E eu também, Celso. Você é o irmão que eu não tive. Você é o meu melhor amigo aqui dentro. CELSO: (gritando) Você não é amigo de ninguém, cara. (tom normal) Você não sabe o que a palavra amizade significa. Porque se soubesse não me trairia dessa maneira. Enquanto eu tava lá naquela cama de hospital, entre a vida e a morte, ao invés de me apoiar, o garanhão tava lá, cantando a minha mãe, que pode não ser a melhor pessoa do mundo, MAS É MINHA MÃE! CLÁUDIO: Eu fiquei o tempo todo contigo naquele hospital, Celso. E foi aí que eu conheci tua coroa. Eu sei que não devia ter feito isso, cara. Mas ela me provocou de todas as maneiras que ficou difícil resistir. Eu juro que tentei, mas eu sou homem, pow! A carne é fraca. Eu sei que tu entende porque tu também é. CELSO: Eu jamais ficaria com a tua mãe. Principalmente só por diversão...! CLÁUDIO: Mas ela só quer diversão! CELSO: O fato é que você foi um calhorda que não teve a mínima consideração por essa amizade que pra mim acaba aqui. CLÁUDIO: Peraí, cara. Também não é assim... CELSO: Pra mim você tá morto, Cláudio. | CENA 07 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. Close na porta de entrada da casa se abrindo. Janaína e Bruna entram, ambas com cara de cansadas. JANAÍNA: Hoje o dia foi puxado. BRUNA: Nem me fale. Elas notam a presença de Marcelo, sozinho, sentado no sofá. BRUNA: Ainda acordado, meu amor? MARCELO: Tava te esperando. Bruna abre um sorriso e corre para os braços do namorado. JANAÍNA: Bom. Eu vou dormir o sono dos justos. Boa noite pra vocês, e juízo hein! MARCELO: Boa noite, Janaína. BRUNA: Boa noite, mãe. Janaína sobe as escadas. Marcelo e Bruna se olham por um momento trocando sorrisos. O casal se beija com fervor. Bruna segura na nunca de Marcelo. Ele passa sua mão direita pela cintura dela e vai descendo até sua perna, levantando de leve a saia amarela que ela usava. Bruna não se importa e enfia sua mão por debaixo da blusa dele. Marcelo conduz sua mão até o zíper da saia de Bruna, e quando vai abri-la, ela se afasta bruscamente levantando-se, assustada. BRUNA: Não, Marcelo... MARCELO: Mas, Bruna... BRUNA: Você sabe que eu ainda não... Você sabe! MARCELO: (frustrado) Uma hora vai ter que rolar. BRUNA: Mas eu ainda não to pronta. Você disse que ia esperar. MARCELO: Tudo bem. É que é mais difícil do que parece. Bruna volta a sentar-se ao lado de Marcelo. Ela o observa por um instante e volta a beijá-lo. Ele se esquiva. BRUNA: Que foi? MARCELO: Bruna... Você seria capaz de me trair? BRUNA: (surpresa) Que pergunta mais sem propósito. Eu te amo. E quem ama, não trai. Ele assente com a cabeça. BRUNA: Mas, por que tá me perguntando isso? MARCELO: (hesitante) É que... Bem... Ah! Deixa pra lá. Eu também te amo. Eles trocam um sorriso e ela deita-se no peito dele. | CENA 08 | No dia seguinte. Bela Vista. Casa de Darlan. Interior. Sala de estar. Close em Darlan, sentado no enorme sofá marfim, de pernas cruzadas saboreando um whisky. Solitário, olhar distante. A campainha toca. Uma empregada surge na sala indo atender a porta. Ao ouvir os passos da visita, Darlan pronuncia. DARLAN: Espero que você tenha boas notícias para mim, querida. Close no rosto da visita, Valeska. VALESKA: Ele desconfiou. DARLAN: Eu disse que esse seu plano era óbvio demais. VALESKA: Mas não se preocupe. Consegui contornar a situação e acho inclusive que estou começando a semear a discórdia entre o casalzinho. Não está muito cedo para bebidas alcoólicas, sogrinho? DARLAN: Sim. Mas é uma ocasião especial e eu quero brindar com você. Aceita uma bebida? VALESKA: Uma caipirinha, please. Mas não muito forte, tenho que chegar sóbria a faculdade. Darlan levanta-se do sofá e se dirige a um bar localizado ainda na sala de estar. Ele prepara a bebida dela, enquanto fala. DARLAN: Acho melhor você esquecer essa ideia dos bilhetes. Precisamos ser mais objetivos, Valeska. Esse seu plano requer um tempo que não temos mais. Ela vai a direção ao bar e senta-se num banco perto do balcão. VALESKA: E o que você propõe? DARLAN: Vamos armar um flagrante e acabar de uma vez por todas com essa aventura do meu filho. Você vai contratar um rapaz que seduza a Bruna de alguma maneira e faça com que Marcelo flagre os dois. Mas tudo tem que parecer real, para que não restem dúvidas da índole dessa garota. Darlan oferece a bebida a Valeska que a pega, receosa. Ele percebe. DARLAN: Quê que foi? VALESKA: Sogrinho, você sabe que eu não sou o tipo de mulher que se dá por vencida facilmente. Mas creio que Marcelo seja inteligente demais pra cair nessa história da carochinha. Além disso, eles se gostam de verdade. DARLAN: Conheço meu filho, Val. Ele diz que não, mas é muito parecido comigo. VALESKA: Ah, isso é verdade! DARLAN: Além disso, ele é um pouco é imaturo e de gênio forte. Não aceitará essa “traição”. VALESKA: Pode ser... DARLAN: Mas o que houve com você, hein? Não estou lhe reconhecendo. Cadê aquela Valeska determinada que sempre brigava com as coleguinhas da escola pela atenção exclusiva do Marcelo? VALESKA: Cresceu. E talvez ela tenha se dado conta de que contra o sentimento verdadeiro não há quem possa. Ai! EU NÃO ACREDITO QUE DISSE ISSO. Retire o que disse imediatamente, Valeska! Darlan deixa escapar um risinho frouxo. DARLAN: Você é muito novinha, filha. Tem muito que aprender ainda. E aí vai a primeira lição, hein: se você deseja alguma coisa, lute até o fim por ela. Eu a conheço desde moleca, e sei que você é dessas que está disposta a tudo para alcançar seu objetivo. E é justamente isso que me agrada em sua personalidade. Sei que você gosta do meu filho de verdade e é a garota certa pra ele. VALESKA: Eu amo o Marcelo. DARLAN: Não duvido. Mas, você vai ter de encarar o que for pra ficar com ele. VALESKA: Nem precisa repetir. Os dois brindam e tomam um gole de suas bebidas. VALESKA: Posso fazer uma pergunta? Por que, de repente, você decidiu separá-los? Até onde eu sei você e a garota de programa, mãe da Bruna... Ele a corta. DARLAN: A Janaína foi muito desonesta comigo. Certas coisas nessa vida não tem perdão. Sem falar que somos de mundos bem diferentes. Eu não podia continuar numa relação com alguém que nunca seria igual a mim... VALESKA: Então, é isso? Darlan ignora a pergunta de Valeska e olha fixamente em seu olho. DARLAN: É você quem eu quero como nora, Valeska. Isso é tudo que precisa saber, minha pequena. Darlan toma mais um gole de seu whisky. Close em Valeska, que sorri inocentemente. VALESKA: Você me dá uma carona? DARLAN: Com maior prazer. | CENA 09 | Hospital Regional. Interior. Sala da fisioterapia. Dr. Humberto prepara alguns aparelhos para a sessão de fisioterapia de Celso, que entra na sala neste momento, em companhia de Jaqueline. DR. HUMBERTO: (com um sorriso de ponta a ponta) Bom dia! CELSO: (desanimado) Bom dia, doutor. DR. HUMBERTO: Que ‘bom dia’ mais sem empolgação. Ânimo, Celso! Hoje você vai progredir ainda mais nos exercícios. JAQUELINE: Eu já disse a ele, doutor. Mas o Celso é muito cabeça dura. CELSO: (conformado) Eu só acho que isso é perca de tempo. Eu não vou mais voltar a andar. DR. HUMBERTO: (sério) Você tem razão, Celso. Você não vai mais voltar a andar. JAQUELINE e CELSO: (chocados) O QUÊ? O médico ri, de leve. DR. HUMBERTO: Se você continuar pensando dessa forma, é bem provável que você não volte a andar mesmo. Antes de qualquer coisa, é necessário que você acredite que vai conseguir. Pode não parecer, mas essa é uma etapa fundamental para o processo de recuperação. Eu não vou ficar repetindo isso toda hora né, cara? JAQUELINE: É isso aí, meu amor. Eu sei que você é capaz. CELSO: (impaciente) Tá, tá, tá. Vamos logo começar com isso. JAQUELINE: Eu preciso ir pra escola. (para o médico) Cuida bem dele, hein! DR. HUMBERTO: Pode deixar, Jaque. Jaqueline beija Celso na boca. Em seguida, se despede do médico e sai. Dr. Humberto troca um olhar com Celso. | CENA 10 | Bar Ponto de Encontro. Exterior. Um Gol branco estaciona poucos metros antes da entrada do restaurante. Close em Isabel, no interior do veículo. Ela tira um óculos de sol de sua bolsa e o coloca em seu rosto, desconfiada. Corta para. | CENA 11 | Bar Ponto de Encontro. Interior. Janaína e Melissa estão sentadas nos bancos encostados ao balcão central, jogando conversa fora, enquanto o movimento no bar ainda está fraco. Há uma bandeja de alumínio no balcão. Melissa está com o braço direito apoiado nele e cara de poucos amigos. Janaína, de pernas e braços cruzados. Ambas vestidas com o uniforme do bar. JANAÍNA: Não se preocupe, Melissa. Quando você menos esperar o Chad se dará conta do quanto perde adiando esse casamento de vocês. MELISSA: (desanimada) Eu sou muito persistente, sabe. Mas tá ficando difícil, minha filha. Ô homem difícil meu Deus! Janaína dá um sorriso fraco. JANAÍNA: Vou organizar a cozinha pra quando a Bruna chegar. MELISSA: Eu te ajudo. Janaína se levanta, Melissa a segue. Quando se preparam para começarem a andar, um barulho estranho assusta as duas mulheres. Elas se viram imediatamente em direção a entrada, assustadas. Diante das duas, parado, está um indivíduo todo vestido de preto, com capuz cobrindo seu rosto, mãos cobertas por uma luva e apontando uma arma para a cabeça de Janaína. Melissa arregala os olhos de medo. HOMEM: Dessa vez você não vai escapar. Close em Melissa e Janaína, ambas em pânico. Apavoradas, Melissa e Janaína erguem as mãos para cima, deixando claro que não pretendem reagir ao assalto. O homem de preto segue com a arma apontada para as duas. Melissa se desespera e fala descompassadamente. MELISSA: (nervosa) Pode levar tudo... Leva o dinheiro, nossas carteiras, as roupas... TUDO! Mas não mata a gente, pelo amor de Deus. JANAÍNA: (voz trêmula) Não é dinheiro que ele quer, Melissa... Melissa olha para Janaína, confusa. HOMEM: Muito esperta você. Vamos ver se é esperta o suficiente para escapar com vida uma segunda vez. Neste momento, Chad surge na entrada do bar com umas sacolas nas mãos. CHAD: (exagerado) QUERIDA... CHEGUEI! O homem de preto se assusta e vira-se para Chad, que ao perceber a arma sendo apontada para si, arregala os olhos, assustado. CHAD: Jesus sacramentado! Ele deixa as sacolas caírem e ergue as mãos. Num reflexo, Melissa pega a bandeja em cima do balcão e bate com toda sua força na cabeça do homem que grita de dor, deixando a arma cair, pondo as mãos na cabeça. MELISSA: (grita) Pega ele! Melissa avança no homem, e se monta nele, por trás. Janaína corre para pegar a arma. Chad está estático, sem reação alguma. HOMEM: Me solta sua maluca! Me solta! MELISSA: Quer me deixar viúva antes mesmo de eu me casar? NUNCA, meu bem! Melissa segue agarrada nele, enquanto ele tenta se desvencilhar. Ela tenta tirar-lhe o capuz, mas ele tem mais força para impedir. Janaína, tremendo, segura a arma com as duas mãos e aponta para o homem. JANAÍNA: Quem te mandou aqui? Responde! Quem te mandou aqui? O homem consegue se soltar de Melissa e foge sem medo de ser alvejado por Janaína. Ela não tem coragem de fazer nada e deixa seu braço abaixar involuntariamente, perplexa. Melissa, ofegante. MELISSA: Por que você não atirou? JANAÍNA: Eu não sou uma assassina, Melissa. MELISSA: Mas... Janaína e Melissa observam Chad, estático, de olhos arregalados, tremendo. Close nele. CHAD: Eu acho que fiz besteira. A câmera desce focalizando a calça jeans de Chad, molhada. | CENA 12| Hospital Regional. Sala de fisioterapia. Int. Celso está deitado numa espécie de cama. Enquanto doutor Humberto conduz as pernas do paciente, movimentando-as constantemente. DR. HUMBERTO: Melhora essa cara, Celso. CELSO: Só se for com cirurgia plástica. O médico dá um risinho de canto de boca. DR. HUMBERTO: Não é disso que to falando. CELSO: Eu não tenho motivo pra sorrir, doutor. DR. HUMBERTO: Nem a Jaque? Ela me parece muito apaixonada por você. CELSO: Ela merece alguém melhor do que um inválido que sempre será um estorvo em sua vida. Eu não posso condená-la a passar o resto de seus dias cuidando de mim. Ela é uma menina especial, cheia de vida e de sonhos. Não posso fazer isso, por isso, vou terminar nosso namoro. O médico engole em seco. DR. HUMBERTO: Mas, você não a ama? CELSO: Sim. E é por isso mesmo. Quem ama quer a felicidade do outro, e ao meu lado ela não vai poder se feliz. DR. HUMBERTO: Entenda, Celso. O seu problema é reversível. Você tem muitas chances de se recuperar. Além disso, estar numa cadeira de rodas não significa ter uma vida de privações. Muitos cadeirantes têm uma vida normal. É tudo uma questão de como se encara o problema. CELSO: Você só tá fazendo seu trabalho de médico. Tentando confortar o paciente. DR. HUMBERTO: (convicto) Não, Celso. Com você eu faço muito mais do que meu trabalho de médico. Com você é diferente. CELSO: Diferente por que, posso saber? Close no médico, tenso. DR. HUMBERTO: (desconversando) Bom... É que... Nenhum paciente é igual ao outro ué. Você também é jovem, cheio de vida e com uma vontade tamanha de amar. Mas está querendo sacrificar esse sentimento por medo de fazer sua namorada sofrer. Isso é muito digno de sua parte. Mas não é o certo. A Jaqueline certamente vai te aceitar como você é. Celso se cala. DR. HUMBERTO: Mas, de preferência andando, não?! Celso abre um sorriso. CELSO: Você tem toda razão. Faz-se um silêncio momentâneo. Dr. Humberto segue fazendo os exercícios em Celso. CELSO: E você, doutor? É casado? Tem namorada? A pergunta deixa o médico constrangido. DR. HUMBERTO: Não sou casado. E não tenho namorada. CELSO: (sondando) Mas tem alguma mulher na parada, não tem?! Fala aí, garanhão! DR. HUMBERTO: Não. Não tem. CELSO: (desconfiado) Você não é... Humberto o corta. DR. HUMBERTO: Sim, Celso. Eu sou gay. Celso engole em seco a revelação de seu médico. | CENA 13| Bar Ponto de Encontro. Interior. Mais calmas, Janaína e Melissa tentam entender o que aconteceu. Janaína ainda segura à arma do homem misterioso. MELISSA: Então é verdade, Jana. Alguém tá querendo te matar. Janaína ergue a arma. JANAÍNA: O que vamos fazer com isso? MELISSA: Entregar a polícia? JANAÍNA: Acho melhor não. Ele tava usando luvas, certamente as digitais dele não ficaram gravadas. Se formos entregar à polícia as suspeitas cairão sobre nós. Vou dar um fim nela. MELISSA: Com tanto que ela não fique aqui dentro. JANAÍNA: Por enquanto, sim... Janaína esconde a arma do lado de dentro no balcão e volta para onde estava. JANAÍNA: Mas tem uma coisa, Melissa. Eu não posso continuar colocando vocês em perigo. Eu peço demissão. MELISSA: Não se preocupa com isso agora, Jana. O importante é a gente saber quem tá por trás disso e por que tá fazendo isso. Neste momento, Isabel entra no bar. Ela retira os óculos do rosto e avista Janaína. JANAÍNA: (surpresa) Isabel? O que você tá fazendo aqui? ISABEL: (se aproximando) Oi, Janaína. (percebendo o clima) Cheguei num mau momento? JANAÍNA: (disfarçando) Não, não. Mas, como você descobriu que eu trabalho aqui? Melissa olha desconfiada para Janaína. ISABEL: Meus filhos frequentam essa... Isabel analisa o local com desprezo, mas percebe Melissa cruzando os braços, pronta para dar uma resposta à altura. ISABEL: ... esse ambiente. Não foi difícil descobrir. Eu preciso falar com você, amiga. JANAÍNA: Acho que a gente não mais nada pra falar, Isabel. Eu já entendi seus motivos. ISABEL: Mas eu preciso desfazer a má impressão que você teve de mim, em nome de nossa amizade. Nos conhecemos há tanto tempo. Eu não queria que ficasse um clima estranho entre a gente. JANAÍNA: Não se preocupe. Está tudo bem. ISABEL: Mesmo? JANAÍNA: Claro. ISABEL: Então me prove, indo me fazer uma visita qualquer dia desses. JANAÍNA: Mas e os seus filhos? ISABEL: Vá pela manhã. Horário em que eles estão na escola. Janaína pensa por um instante, hesitante. JANAÍNA: Tudo bem. Eu aviso quando for. ISABEL: Obrigada, minha amiga. Isabel cumprimenta Janaína com um beijo em cada bochecha e dá um tchauzinho para Melissa, que não retribui. Isabel se retira do local. MELISSA: Muito enfaroza pro meu gosto, essa sua amiga. JANAÍNA: Quê que é? Tá com ciúmes? Chad aparece vindo de dentro do banheiro, vestindo outra calça. MELISSA: Olha só quem resolveu aparecer, a coragem em pessoa! CHAD: (emocionado) Meu doce de limão... VOCÊ É MINHA HEROÍNA! MELISSA: É. Pena que eu não sou de ferro e tive que contar com a sorte, porque se fosse esperar pelo meu futuro marido pra me defender né, querido, estávamos agora os três mortinhos da silva. CHAD: O importante é que agora tá tudo bem, meu amor. JANAÍNA: O Chad tem razão, Melissa. Você salvou nossas vidas. Janaína agradece abraçando Melissa. | CENA 14| Universidade Campelo Costa. Interior. Lanchonete do campus. Sentados a uma mesa pequena e redonda estão Valeska e um rapaz desconhecido de estatura mediana, corpo normal, pouco malhado. Seu cabelo é preto, assim como os olhos, usa cavanhaque. Ele veste uma blusa de manga, verde, colada no corpo; e uma calça jeans. VALESKA: E então, Jorge? Entendeu ou quer que eu desenhe? JORGE: Entendi, Valeska. Não precisa repetir. VALESKA: Ótimo. Tudo que você tem que fazer é dopar a songa monga e levá-la, você sabe pra onde. Nada pode dar errado ouviu bem?! JORGE: (desdém na voz) Você tá falando com um profissional, garota. VALESKA: Acho bom mesmo. Valeska levanta-se da mesa e se retira. Jorge toma um gole de seu suco de tomate. | CENA 15| República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. Celina está sentada no sofá verde limão, com pensamento distante. José surge, vindo da cozinha, enxugando as mãos em um pano de prato. Ele senta-se ao seu lado. JOSÉ: ¿Qué pasa, amor de mi vida? Estás triste. Celina o olha com tristeza. CELINA: José... Cres que seria una buena mamá si hubierámos tenido hijos? [José... Você acha que eu teria sido uma boa mãe, se tivéssemos tido filhos?] JOSÉ: Por supuesto. Y te has olvidado de una cosita. Nosotros tenemos ocho chicos para cuidar, no? Tenemos ocho hijos. [Com certeza. E você se esqueceu de uma coisinha. Nós temos oito meninos para cuidar, não? Temos oito filhos.] CELINA: Sí. Pero, pienso que he fallado con mis pupilos. [Sim, mas, penso que falhei com meus pupilos.] JOSÉ: No! No digas esto. Ellos también tienen en usted, una mamá. La mejor que ellos podrian tener. [Não! Não diga isso. Eles também têm em você uma mãe. A melhor que poderiam ter.] CELINA: Algo está pasando con Vanessa y ella no me quiere contar. Siento que Fabiana también tiene problemas e no se fia de mi. Valeska es un problema. Los chicos viven mentiendo-se en confusiones. Celso ha perdido las ganas de vivir... Y no he hecho nada para ayudar. [Algo está acontecendo com Vanessa e ela não quer me contar. Sinto que Fabiana também tem problemas e não confia em mim. Valeska é um problema. Os meninos vivem se metendo em confusão. Celso perdeu a vontade de viver... e não fiz nada para ajudá-los.] JOSÉ: No seas tan injusta consigo misma. Siempe hiciste lo posible por estes chicos. Nunca les faltó nada, tampoco cariño... Has hecho todo lo posible y ellos reconocen. La vida es la gran responsable por ló que sucedió a ellos, y solamente ellos podran resolver sus poblemas. Tu eres la mejor mujer del mundo, pero no puede sanar todos los problemas de él. [Não seja tão injusta consigo mesma. Você sempre fez o possível por esses meninos. Nunca lhes faltou nada, muito menos carinho... Você fez todo o possível e eles reconhecem. A vida é a grande responsável pelo que lhes aconteceu, e somente eles poderão resolver seus problemas. Você é a melhor mulher do mundo, mas não pode curar todos os problemas dele.] Celina olha emocionada para o seu amado, e lança-lhe um sorriso apaixonado. CELINA: Gracias por estar aqui, mi vida...! [Obrigado por estar aqui, minha vida...!] JOSÉ: Yo siempre estaré a tu lado. [Eu sempre estarei do seu lado.] José e Celina dão um selinho demorado e apaixonado. | CENA 16 | Universidade Campelo Costa. Interior. Lanchonete do campus. Valeska está sentada num banquinho de frente para o balcão central, conversando com uma garçonete, enquanto toma seu Milk shake. Close em Jorge, sentado a uma mesa, sozinho, desconfiado. Close em Bruna e Marcelo, sentados em outra mesa, conversando. MARCELO: Você já pediu? BRUNA: Não vai querer nada, mesmo? MARCELO: Não. Vou ao banheiro. Volto já pra te fazer companhia! Marcelo se retira. Close em Valeska, observando a garçonete com quem conversava colocar um copo em cima de uma bandeja, no balcão. A moça abre um refrigerador e de dentro tira uma garrafa, a qual abre e despeja um líquido cremoso, avermelhado, suco de goiaba. A garçonete volta ao refrigerador para guardar a garrafa. Valeska age rápido retirando um vidro amarronzado de dentro do bolso e despejando o conteúdo no copo. VALESKA: Suco de goiaba. Coisa de pobre! A garçonete retorna ao balcão. Valeska sorri cinicamente. A moça pega a bandeja e se encaminha em direção à mesa de Bruna oferecendo o copo a cliente. Bruna sorri gentilmente, a garçonete se retira. Bruna ingere o líquido até a metade. Close em Jorge, olhando Valeska. Ela pisca pra ele e se retira dali. Imediatamente, Jorge se aproxima da mesa de Bruna, sentando-se sem ao menos pedir licença. JORGE: Você sabia que há muito eu venho te observando? BRUNA: (desinteressada) Engraçado. Nunca te vi por aqui. E se há muito tempo me observa, deve saber que eu tenho namorado. Bruna toma o que sobrara no copo. JORGE: Claro. Sei também que você é areia demais pro caminhãozinho dele. BRUNA: Quem você pensa que é pra falar assim do meu namorado? JORGE: Deixa eu te mostrar... Bruna ri nervosa e se levanta pegando sua bolsa. BRUNA: Era só o que me faltava. De repente, Bruna tem uma vertigem e se desequilibra. Jorge a ampara. JORGE: Calminha, gata... Tudo bem?! BRUNA: (desorientada) Eu to... Eu não... Jorge começa a tirar Bruna dali imediatamente. BRUNA: Espera... O Marcelo... Pra onde você tá me levando. JORGE: Shiii... Fica tranquila. Jorge conduz Bruna para longe dali o mais rápido possível. Segundos depois, Marcelo surge na lanchonete e estranha a ausência da namorada. MARCELO: Ué... Pra onde ela foi? | CENA 17 | Bar Ponto de Encontro. Interior. O local está razoavelmente ocupado. O andar de cima está tranquilo. O movimento é fraco, mas algumas mesas estão ocupadas. Melissa serve uma mesa. Chad está no balcão, concentrado em algumas contas. Close na entrada do bar. Darlan entra no ambiente e se direciona a uma mesa. Sentado, ele dá uma olhada no cardápio. Melissa volta para a cozinha com uma bandeja nas mãos e cruza com Janaína, que avista Darlan. Ela se aproxima da mesa dele e retira um bloco de notas do bolso do uniforme. JANAÍNA: Já fez seu pedido senhor? Darlan levanta os olhos, reconhecendo a voz. Ele engole em seco ao ver Janaína a sua frente. DARLAN: (voz embargada) Janaína... Eles se olham fixamente. JANAÍNA: (hesitante) Darlan... Ele tenta desfazer o clima fitando novamente o cardápio. DARLAN: Um suco de açaí. Por favor. Janaína anota o pedido e se retira, sem mais. Darlan fica observando-a. Do balcão central, ao lado de Chad, Melissa comenta. MELISSA: Pelo visto, hoje será o dia das surpresas! Chad não lhe dá atenção, concentrado nas contas. Ela bufa e sai dali, brava. | CENA 18 | Universidade Campelo Costa. Interior. Segundo andar. Sala de aula. O professor fala incessantemente em sua aula, enquanto os alunos tentam acompanhar seu ritmo. Na terceira fileira está Marcelo, com o braço direito apoiado na carteira, entediado. Como de costume, Valeska está na última fila de carteiras da sala. Um celular toca tirando a atenção dos alunos. O professor reprova a atitude de Marcelo com um olhar. Ele retira o aparelho do bolso e vê que recebera um sms. Ao clicar no botão ver a mensagem, ela diz: “sua namoradinha fugiu misteriosamente de vc, não foi? eu sei onde ela tá. Se quiser descobrir, aí vai o endereço. Abre o olho, amore” Marcelo franze a testa. MARCELO: Amore?! | CENA 19| Em algum bairro de São Paulo. Em uma rua pouco movimentada, um carro trafega reduzindo a velocidade, parando em frente a um portão preto enorme. O motorista buzina. O portão automático se abre vagarosamente. Close numa placa chamativa acima do portão, que diz: “Motel dos Prazeres”. O carro entra no estabelecimento. Corta. Jorge entra num quarto carregando Bruna, desacordada, em seus braços. Ele a coloca na cama e volta para fechar a porta. Em seguida, se aproxima dela e começa a despir-lhe. Tira primeiro a blusa rosa de alças, depois a calça jeans azul. JORGE: Você não é de se jogar fora, Bruninha. Ele tira a blusa verde que vestia, sua calça jeans e se enfia debaixo do edredom, colocando a cabeça de Bruna encostada em seu peitoral. JORGE: Agora é só esperar. | CENA 20| Hospital Regional. Sala de fisioterapia. Interior. Suzana está de pé, encarando seu filho Celso. Ele já está em sua cadeira de rodas. Dr. Humberto também está presente. CELSO: O que você veio fazer aqui? Suzana olha para o médico. DR. HUMBERTO: Vou deixá-los a sós, para que fiquem mais a vontade. Por hoje estou satisfeito, Celso. O médico se retira imediatamente. Suzana cruza a pequena sala se posicionando de frente para o filho. SUZANA: Eu só vim comunicar que estou voltando para Florianópolis. Agora que você está bem e tenho certeza que vai se recuperar. Preciso retomar minha vida. CELSO: (dá de ombros) Por mim... Suzana suspira para tomar coragem. SUZANA: Olha... Eu sei que estou longe de ser a mãe perfeita. Sei de todas as suas mágoas. Sei que poderia ter sido uma mãe mais presente e que muita coisa poderia ter sido diferente. Mas, isso não muda o fato de que você é meu filho. E eu te amo. CELSO: Por que isso agora? Você nunca se importou em demonstrar isso. Tarde demais. Aliás, nem sei por que você se deu ao trabalho de sair de Floripa pra vir aqui. SUZANA: (fitando-o) Eu não teria outro motivo pra estar aqui, se não fosse você. CELSO: O Cláudio, talvez? Suzana desvia o olhar, desconcertada. SUZANA: Então, você já ficou sabendo? CELSO: Da palhaçada que você aprontou comigo? Claro que sim. A Jaque me contou tudo. Alguém nessa história toda tinha que pelo menos ter a decência de me deixar a par de suas... Da situação! Como você se prestou a um papel desses? Como você teve coragem? E ainda quer me fazer acreditar que se importa comigo! Com que cara eu vou olhar pro Cláudio e pro Igor a partir de agora, hein?! SUZANA: Não foi nada premeditado. CELSO: E daí que não foi?! O que está feito, está feito! Você, como sempre, só pensou em você. Não pensou no quanto isso respingaria na minha amizade com o Cláudio. Uma das poucas coisas boas que eu tinha nessa vida. SUZANA: Não seja tão dramático. Esse meu relacionamento sem importância com esse garoto não é motivo suficiente pra vocês deixarem essa amizade que os dois tanto prezam, de lado. CELSO: QUE EU TANTO PREZO! Ou melhor, prezava. Porque o Cláudio NUNCA foi meu amigo de verdade. Se eu to aqui condenado a essa cadeira de rodas, é porque ele me metia nas confusões dele, e em consideração àquele canalha eu sempre topava participar. E olha como ele me retribuiu? SUZANA: Bem... Esse é um problema que só diz respeito aos dois. Eu disse o que tinha pra dizer. Suzana se encaminha para a porta e ao abri-la, lembra-se de algo. Ela volta-se para Celso e olha em seu olho. SUZANA: Eu espero, sinceramente, que você seja feliz com aquela garota, Jaqueline. Pois ela gosta muito de você. Não a deixe escapar. | CENA 21| Motel. Exterior. O carro de Marcelo estaciona na calçada do motel. Ele sai do lado do motorista e dá uma olhada geral naquela rua esquisita. Valeska sai do banco do carona, um tanto desconfiada. Ela observa o local fazendo-se de desentendida. Marcelo retira do bolso e bilhete que recebera e fita-o. Não há movimento de pessoas, nem carros. VALESKA: (tom de reprovação) Marcelo... Eu posso saber o que a gente tá fazendo aqui? MARCELO: Preciso me certificar de uma coisa. VALESKA: Num motel? MARCELO: Fica quieta e vem comigo. VALESKA: Vou. Mas fique sabendo que se você tentar alguma coisa contra minha vontade, você estará em maus lençóis. Marcelo lhe lança um olhar de canto. MARCELO: Não é nada disso que você tá pensando. Ele segue em direção à entrada. Valeska vai logo em seguida, sorrindo cinicamente, mordendo o lábio inferior, comemorando internamente o sucesso se seu plano. Corta. Interior. Corredor. Marcelo caminha por um corredor cujas paredes estão pintadas em um tom forte de vermelho. Ele para de frente para a porta marfim do quarto 32. VALESKA: Tem certeza do que tá fazendo? Marcelo põe a mão na maçaneta e abre a porta violentamente. Ele entra no quarto e fica abismado com a cena que vê. Bruna e Jorge, seminus, adormecidos, feito um casal apaixonado. A câmera o segue por trás. Ele se aproxima da cama com uma cara de raiva e grita. MARCELO: BRUNA?! O grito foi suficiente para acordar os dois. Jorge finge surpresa. Bruna nem sabe direito onde está. BRUNA: Marcelo... ? Valeska...? Ela examina aquele local, assustada, tentando entender a situação. Bruna percebe o rapaz, seminu, ao seu lado. BRUNA: (histérica) Quem é você? Close em Marcelo, levantando a sobrancelha direita, confuso. |
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autor Diogo de Castro
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