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VOZ DE JOSH
– Na temporada anterior de New Stages... CENA 01. UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA. CORREDOR DAS SALAS DE AULA. INT. DIA.
Música (From Where You Are -
Lifehouse)
A imagem abre em
alunos, apressados, andando em direção às suas salas de aula. É o
primeiro dia do novo ano letivo na Universidade da Califórnia após as
férias de verão. Entre os estudantes, está Josh, que ao contrário dos
demais, anda em passos lentos, com olhar fixo para o que está a sua
frente, mas uma foto na parede lhe chama a atenção. Enquanto os alunos
continuam andando, eufóricos, sem se importarem com o que está na
parede, o garoto interrompe seus passos e olha para o quadro.
A câmera revela a
foto de Austin em preto e branco em uma belíssima moldura e os
seguintes dizeres:
“Em
memória, Austin Davis Calouro da Universidade da Califórnia”
Josh deixa uma
lágrima rolar sobre o seu rosto, mas logo a limpa para que ninguém
perceba que está chorando. Ryan vem em sua direção. O garoto olha para
Josh e, sensibilizado, decide parar ao seu lado.
RYAN – Oi, Josh... É
muito bom te ver voltando para a universidade.
JOSH – (demonstrando
certa frieza) É, uma hora ou outra eu teria que encarar a realidade.
RYAN – Josh, eu...
(faz uma pequena pausa) Eu sei que as coisas não estavam andando bem
entre a gente, mas eu preciso dizer que... (volta a pausar) Eu
realmente sinto muito por tudo o que aconteceu durante as férias de
verão.
JOSH – O que passou,
passou. O que eu preciso fazer agora é me focar nos estudos, porque o
ano letivo está só começando...
RYAN – Josh, não
precisa disfarçar os seus sentimentos, eu sei que, por dentro, a morte
do Austin está te matando também...
JOSH – Eu não posso
desistir, certo? Eu tenho que olhar para frente e seguir com a minha
vida. Se eu tivesse morrido no lugar do Austin, era isso o que eu
queria que ele fizesse. Tenho certeza de que isso é o que ele também
quer para mim.
RYAN – Com certeza.
(sorri amigavelmente) Eu fico muito aliviado que nada de trágico tenha
acontecido a você.
JOSH – Mas aconteceu,
Ryan. Eu sei, eu estou aqui vivo hoje, porém, eu sinceramente preferia
não estar. Tiraram um pedaço de mim e está difícil viver sem ele. Todos
os dias, eu me lamento por não ter acontecido comigo o mesmo que
aconteceu com o Austin, porque se eu tivesse morrido naquele dia... Eu
não precisaria estar passando por isso sozinho agora.
RYAN – Josh, você não
está sozinho. Você tem os seus amigos aqui na universidade, nós estamos
aqui para te ajudar nesse momento. Nós dois brigamos muito no último
ano, mas isso não quer dizer que eu te odeie ou algo assim...
JOSH – Vocês estão
aqui comigo, mas ele não.
RYAN – Josh, você não
pode falar uma besteira dessas. Você tem que agradecer por ter
sobrevivido e encarar essa situação com a cabeça erguida...
JOSH – É o que eu
estou tentando fazer... Eu tento isso pelo Austin. Mas não é fácil.
Desde aquele dia, eu não consigo mais pregar os olhos durante a noite.
E quando amanhece, eu não tenho mais forças para sair da cama e colocar
os pés no chão... É como se o chão não existisse.
RYAN – Mas você está
sendo capaz de pisar nele agora... Você vai perceber com o tempo, Josh,
que a morte do Austin só vai te tornar uma pessoa ainda mais forte...
JOSH – A única coisa
que eu sinto agora é que eu sou uma pessoa fraca e desprotegida.
RYAN – Não, onde
quer que o Austin esteja, ele continua ligado a você.
JOSH – Foi exatamente
o que ele disse antes de morrer... Há dois meses... Mas tem algo nisso
tudo, Ryan... Eu nunca me contentei. Eu precisava do Austin aqui... E
ele não está.
De repente, a
sineta começa a tocar anunciando o início da primeira aula do dia.
JOSH – Bom, eu tenho
que ir para a minha sala... Como eu disse, preciso levantar a cabeça e
seguir em frente, por mais difícil que isso seja... Bom dia, Ryan.
(saindo)
RYAN – (ainda imóvel)
Bom dia... (pausa) E Josh...
Josh para de
andar e se vira.
RYAN – (sorri) Você
não está sozinho nessa. Acredite!
Josh acena
positivamente com a cabeça em resposta a gentileza de Ryan. A câmera volta a mostrar a foto de Austin: sorridente, feliz e ainda vivo... Há dois meses.
(Música cessa.) CENA 02. NOVA YORK. LOCAL DO ACIDENTE. EXT. NOITE.
(Música: Crash - Sum 41)
O carro onde Josh
e Austin estavam continua capotado. Várias viaturas policiais, com as
luzes rotativas acesas, estão paradas no local. Jornalistas andam pela
rua interditada em busca de informações sobre o acidente. Ambulâncias
chegam em alta velocidade para socorrer os dois garotos. Em poucos
minutos, vemos dois paramédicos carregando um dos corpos em uma maca.
Eles o colocam na carroceria do veículo. Do lado de dentro, duas
paramédicas preparam a assistência para o garoto, que ainda não sabemos
qual é.
A imagem corta
rapidamente para:
CENA 03. NOVA
YORK. AMBULÂNCIA. INT. NOITE. (A música tocada na cena anterior continua a ser executada nesta.)
A câmera revela
Austin, deitado na maca posta na ambulância, recebendo o devido
atendimento das paramédicas. O garoto respira com dificuldade e balança
a cabeça freneticamente. Uma das paramédicas insere o aparelho de
respiração no garoto e a outra verifica a sua freqüência cardíaca em um
eletrocardiográfico. Esta olha assustada para a colega de trabalho.
AUSTIN – (com
dificuldades para falar) Eu... preciso... dele...
PARAMÉDICA – Evite
conversar agora. Você perdeu muito sangue e não pode fazer muito
esforço. Vamos te levar para o hospital e tudo ficará bem... Em pouco
tempo você verá o seu amigo.
AUSTIN – Mas...
(engasga) Eu... preciso... ver... ele... pela... última... vez.
PARAMÉDICA – Se depender da
nossa equipe, esta não será a última vez que você verá o seu amigo.
AUSTIN – Chame...
ele... aqui.
PARAMÉDICA – O seu amigo
está sendo atendido em outra ambulância. Tudo ficará bem com ele
também. Logo, vocês poderão se ver novamente.
AUSTIN – Eu... não...
posso... esperar... (segura forte a mão da paramédica, assustando-a)
Dê... dê um recado... para ele... por mim. Diga ao Josh... que não
importa onde eu estiver... eu sempre vou... continuar... ligado a ele!
A frequência
cardíaca de Austin começa a reduzir drasticamente. A segunda paramédica
demonstra um tom de desespero e tenta fazer algo em prol a ele.
AUSTIN – Diga... a...
ele... Eu preciso... Eu preciso ir embora agora... Diga isso a ele...
Diga isso a ele... Diga isso a... E antes de concluir o que estava dizendo, as ondas cardíacas de Austin param de se movimentar. Uma das paramédicas tenta fazer a massagem cardíaca a fim de reanimá-lo, mas sem resultados. A paramédica que estava conversando com Austin olha para a colega de trabalho como se não houvesse mais nada o que fazer pelo garoto. (Música cessa.) |
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3x01 - AUSTIN |
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CENA 04. NOVA
YORK. LOCAL DO ACIDENTE. EXT. NOITE.
Um policial com
um celular em mãos anda de um lado para o outro, aguardando informações
da equipe médica. A paramédica que conversara com Austin na ambulância
se aproxima do homem.
PARAMÉDICA – Eu sinto
muito... O garoto que estava dirigindo o carro não resistiu e acabou
morrendo...
POLICIAL – (irritado)
Droga! (levanta o celular) Eu achei isso no bolso dele. Cabe a mim dar
a péssima notícia para os pais... Eles estão esperando por alguma
informação minha.
PARAMÉDICA – Apenas seja
cuidadoso... Este é um momento delicado para a família.
POLICIAL – Acredite, eu
não poderia estar fazendo tarefa pior... (aperta o botão de registros
recentes no aparelho e inicia uma ligação) Alô... Eu liguei antes
avisando sobre o acidente dos dois garotos e disse que retornaria com
alguma notícia sobre eles... Pois bem, eu tenho uma... (pausa) Eu sinto
muito em informar, mas o seu filho não resistiu...
ALEX – (do outro lado
da linha) Você quer dizer que... O meu filho morreu?
POLICIAL – Eu sinto
muito, senhor... O corpo do seu filho será encaminhado para o centro
médico municipal de Nova York. Peço que a família se dirija ao local
para fazer o reconhecimento. Mais uma vez... Eu sinto muito! (desliga o
aparelho)
PARAMÉDICA – Você acabou de
falar com o pai?
POLICIAL – Sim, mas antes
eu tinha falado com a mãe. Encontrei o número dela na agenda do garoto
e a informei sobre o ocorrido... Eles devem estar muito abalados.
PARAMÉDICA – Eu imagino,
antes de morrer o garoto pediu para que eu desse um recado ao seu amigo
Josh...
POLICIAL – (confuso)
Josh? Mas este é o nome do garoto que acabou de morrer...
PARAMÉDICA – Não, só pode
estar havendo algum engano... O amigo do garoto que acabou de morrer é
que se chamava Josh. O menino acabou de me dizer o nome dele.
POLICIAL – Mas o celular
que ele carregava no bolso está no nome de Josh Parker, filho de Alex e
Marta Parker, para os quais telefonei. (ainda confuso) Um momento, por
favor...
O policial
caminha para perto de um colega de trabalho.
POLICIAL – Você pode me
passar os documentos das duas vítimas, por favor?
O outro policial
entrega para ele os documentos pessoais de Josh e Austin.
POLICIAL – (olhando para
o documento de Josh) Então quer dizer que o garoto que morreu não se
chama Josh... E sim, Austin.
PARAMÉDICA – Sim, parece
que você informou a morte de um dos garotos para os pais errados.
POLICIAL – (novamente
irritado) Droga! Mas o que o celular de um dos meninos estava fazendo
no bolso do outro? Bom, não devemos nos preocupar com esta questão
agora... Eu vou ligar novamente para os pais do Josh e dizer que tudo
não passou de um engano.
PARAMÉDICA – Isso vai ser
um alívio para eles...
O policial
concorda com a cabeça.
A imagem corta
rapidamente para:
CENA 05. NOVA
YORK. RUA DESERTA. EXT. NOITE.
O carro de Marta
está estacionado no meio da rua. A mulher sai chorando de dentro dele e
se encosta à parte da frente do veículo. Alex também sai do automóvel e
caminha para perto da mulher, com lágrimas nos olhos.
ALEX – (segurando o
braço de Marta) Calma, querida...
MARTA – Como você ousa
a pedir que eu fique calma, Alex?! Eu acabei de saber que o meu
filho... (chorando) O meu filho... Ele está morto! Ele está morto!
ALEX – Eu sei, essa é
uma notícia terrível...
MARTA – Como eu pude
ter deixado o meu Josh entrar no carro com um garoto irresponsável e
sem um pingo de juízo? Como eu pude ter deixado ele se envolver com
aquele... (grita) EU NÃO DEVERIA TER ACEITADO A RELAÇÃO DO JOSH COM ELE!
ALEX – Querida, você
não poderia se intrometer nas amizades do Josh...
MARTA – (grita) MAS
NÃO ERA UMA SIMPLES AMI... (percebe antes o que iria dizer e fica em
silêncio) O meu filho, Alex... O nosso filho... (se joga em cima do
ex-marido) Tiraram a vida do nosso garoto...
ALEX – (também
chorando) Eu não deveria ter o tirado de San Francisco...
MARTA – O único
culpado dessa história sou eu. Se eu tivesse impedido que dois garotos
de 19 anos saíssem em uma estrada, atravessando uma cidade em direção a
outra... (sem forças) Tudo poderia ter sido evitado... Meu filho
estaria vivo...
De repente, o
celular que Alex segurava nas mãos começa a tocar.
ALEX – (atendendo-o
rapidamente enquanto segura Marta) Alô?
Alex ouve
atentamente o que o policial lhe diz. De repente, o homem esboça um
sorriso em seu rosto.
ALEX – Muito
obrigado... Muito obrigado por ter nos tirado esse peso das costas...
Estamos indo imediatamente para o hospital vê-lo... Muito obrigado!
(desliga o aparelho)
MARTA – (levantando a
cabeça) O que aconteceu, Alex? (com a maquiagem bastante borrada devido
ao choro) Por que você está sorrindo?
ALEX – Confundiram o
outro garoto com o nosso. O nosso filho está vivo, está bem e está
sendo encaminhado para o hospital. Vamos vê-lo, Marta. Nosso Josh está
vivo!
MARTA – (tenta sorrir,
mas ainda muito confusa) É uma boa notícia, mas como... Como isso
aconteceu?
ALEX – Parece que o
garoto que estava dirigindo o carro... Ele estava com o celular do
nosso filho no bolso, então os policiais pensaram que ele fosse o Josh.
MARTA – Meu Deus, mas
que estupidez é essa?
ALEX – Ele nos pediu
desculpas pela confusão... O mais importante agora é que nada de mal
aconteceu ao nosso filho.
MARTA – (limpando as
lágrimas) Não com ele... Mas com alguém importante para ele... (indo
para o carro) Temos que nos preparar, Alex, este pesadelo ainda não
terminou. Pelo contrário, está muito longe disso acontecer... (entrando
no veículo)
Close em Alex,
refletindo assustado sobre o que a ex-esposa acabara de lhe dizer.
A imagem corta
para:
Início de efeito
flashback.
CENA 06. HOTEL.
FACHADA. EXT. DIA.
Efeito flashback
com Josh e Austin antes de saírem para o último dia de viagem. Josh
deixa o hotel carregando duas malas nas mãos. Ele caminha em direção ao
porta-malas do carro e as coloca dentro. Austin passa as mãos pelo
bolso à procura de algo.
JOSH – (olhando para
Austin) Perdeu alguma coisa?
AUSTIN – Droga! Acabei
esquecendo de trazer o meu celular. Será que você pode me emprestar o
seu? Preciso ligar para os meus pais e avisá-los que estou sem contato.
JOSH – (tirando seu
celular do bolso) Aqui está. (entrega o aparelho para Austin) Passe o
meu número para os seus pais. Se eles precisarem conversar com você, é
só ligarem para o meu celular.
AUSTIN – (sorri para
Josh) Farei isso. Obrigado.
JOSH – Enquanto você
faz o telefonema, eu vou lá em cima buscar a última mala.
AUSTIN – Certo.
Josh volta a
entrar no hotel. Austin disca o número desejado no celular e o leva até
a orelha, aguardando a chamada ser executada. O garoto espera alguém o
atender, mas sem resultado.
AUSTIN – Caixa
postal... (para si mesmo) Bom, depois eu ligo para eles. (colocando o
celular no bolso) O Josh não vai se importar que eu fique com o celular.
A imagem corta
rapidamente para:
CENA 07. NOVA
YORK. CARRO DE AUSTIN. INT. NOITE.
O carro de Josh e
Austin já está capotado. Os garotos estão de cabeça para baixo,
desmaiados, apenas presos pelo cinto de segurança. A cabeça de Josh
sangra. A câmera mostra as pernas de Austin. No bolso de sua calça, o
celular de Josh está um pouco para fora, possibilitando que vejamos a
tela. A luz do aparelho acende. Alguém está ligando. Na tela do celular: Marta chamando...
Fim de efeito
flashback.
CENA 08. HOSPITAL
MUNICIPAL DE NOVA YORK. RECEPÇÃO. INT. NOITE.
Marta anda de um
lado para o outro, a espera de informações sobre o seu filho. Alex se
aproxima dela com um copo de café em mãos.
ALEX – Tome, querida,
isso lhe fará bem...
MARTA – Não, eu não
preciso de mais nada além do meu filho, Alex. Onde estão esses médicos
que parecem adorar assistir a nossa angústia?
ALEX – Eles estão
fazendo o melhor pelo Josh, Marta. Logo, virão dizer que está tudo bem
com o nosso filho e que podemos levá-lo para a casa.
MARTA – Falando nisso,
quem deveria ir para a casa é você... Não sei se você se lembra, mas
você acabou de abandonar uma noiva no altar...
ALEX – Não, é melhor
eu não ir atrás da Meghan agora, senão ela é capaz de me mandar para a
guilhotina. E eu jamais seria capaz de deixar você e o nosso filho
sozinhos... Não em um momento tão sensível como este.
Marta retribui a
gentileza de Alex com um sorriso. Eles avistam um médico vindo em sua
direção.
MÉDICO – Senhor e
senhora Parker?
ALEX – Sim... O nosso
filho está bem?
MÉDICO – Está tudo
ótimo com o garoto. Ele não corre mais perigo de vida. Mas o Josh
perdeu muito sangue depois do acidente, então ele ainda está um pouco
fraco...
MARTA – Será que posso
vê-lo, doutor?
MÉDICO – E eu seria
capaz de recusar o pedido de uma mãe aflita? Vá em frente, senhora. O
seu filho irá adorar ver um rosto familiar...
Marta ameaça sair
da recepção para ver o filho, mas os gritos de uma mulher chamam a sua
atenção. Alex olha assustado para a ex-esposa.
ALEX – Mas o que é
isso?
Os pais de
Austin, Barbara e Mark Davis, entram no local. A mulher está histérica
e o marido tenta a todo custo acalmá-la.
BARBARA – (gritando e
andando de um lado para o outro) ONDE ESTÁ O MEU FILHO? EU PRECISO VER
O AUSTIN!
MARK – (segura o
braço de Barbara) Querida, com este comportamento você acabará
assustando os outros pacientes...
BARBARA – NÃO TENTE ME
CONTROLAR, MARK! EU NÃO VOU DEIXAR QUE NINGUÉM TIRE O MEU FILHO DE MIM!
MARK – (olha para o
doutor) Recebemos a ligação e viemos o mais rápido que pudemos...
BARBARA – Exato, doutor,
nós queremos saber como o nosso filho está...
MÉDICO – Eu sinto
muito, senhor e senhora Davis, mas eu pensei que já soubessem do pior...
MARK – Sim, nós já
sabemos, doutor. E eu peço desculpas pelo comportamento alterado da
minha esposa.
BARBARA – Realmente, nós
já sabemos... Mas eu não consigo acreditar. E eu nem me dou ao luxo de
acreditar, sabe por quê? Porque eu jamais deixaria que um garoto sem
orientação na vida tirasse a vida do meu filho...
MARTA – (entrando na
discussão) Por acaso o “garoto sem orientação” ao qual você se refere é
o meu filho?
BARBARA – Então você é a
mãe de Josh Parker? Escute aqui uma coisa... Se alguém deveria estar
morto neste momento, este alguém é o Josh, pois foi por causa dele que
esta tragédia aconteceu...
MARTA – Desculpa, eu
não conheço a senhora, mas eu tenho certeza de que está completamente
equivocada. O garoto que estava dirigindo o carro era o seu filho. Foi
ele que colocou a própria vida e a vida do meu Josh em perigo...
ALEX – Marta, é
melhor não perder o controle...
BARBARA – Desde que o
seu filho apareceu na frente do Austin, a vida dele virou uma bagunça.
Se este garoto não tivesse o convidado para ir até um casamento em Nova
York, meu filho não teria colocado o carro na estrada e não estaria
morto neste momento...
MARTA – Sim, acredite,
eu usei o mesmo argumento hoje... Mas, convenhamos, Josh e Austin eram
adultos. A decisão de ir para Nova York sozinhos foi tomada pelos dois.
Nós não tínhamos nenhum direito de intervir...
MARK – Ela está
certa, Barbara... Não adianta comprar briga... O nosso filho está morto!
BARBARA – (começa a
chorar) NÃO, ELE NÃO ESTÁ MORTO! ERA PARA O AUSTIN TER FICADO EM SAN
FRANCISCO. MALDITA A HORA QUE VOCÊ DEU UM CARRO PARA ESTE GAROTO... EU
TE AVISEI, EU AVISEI QUE ESSE CARRO SERIA UMA ARMA NAS MÃOS DO AUSTIN E
VOCÊ NÃO ME LEVOU A SÉRIO... VOCÊ DISSE QUE TUDO FICARIA BEM... EU
POSSO SABER ONDE ESTÁ TUDO BEM? O MEU FILHO ESTÁ MORTO E EU NÃO CONSIGO
RECONHECER ISSO... TIRARAM O MEU FILHO DE MIM! O AUSTIN MORREU... ELE
MORREU! VOCÊ CONSEGUE COMPREENDER A GRAVIDADE DISSO? O NOSSO FILHO IRÁ
PRA DEBAIXO DA TERRA...
MÉDICO – (para Mark)
Senhor, se você quiser, nós podemos tentar acalmá-la...
BARBARA – NADA DISSO FAZ
SENTIDO... MEU AUSTIN... MEU AUSTIN... MEU AUSTIN...
Mark acena
positivamente com a cabeça para o médico. Este, por sua vez, se
aproxima de Barbara e puxa o seu braço com muita cautela. Então, ele dá
a mão para ela e a leva para longe dali, ainda aos prantos, se
lamentando pela morte do seu filho.
MARK – Eu peço
desculpas pelo escândalo que a Barbara aprontou... É muito difícil para
uma mãe ouvir que o seu filho está morto. Vai contra o princípio
natural da vida. O Josh não teve nada a ver com isso... Esses dois
garotos se amavam... O amor mais sincero que já vi! Me desculpem...
Mark se retira do
local, desolado. Close em Alex, surpreso com o que acabara de ouvir.
ALEX – Se amavam?
Amor sincero? O que esse homem quis insinuar?
Marta então
percebe que Alex ainda não sabe sobre a sexualidade de seu filho e fica
assustada.
MARTA – Alex, por
favor, agora não é a melhor hora para você questionar os fatos... Eles
eram amigos. Grandes amigos. E isso basta!
ALEX – Marta, me
responda uma coisa... E eu preciso que você seja sincera. O
relacionamento entre o Josh e este garoto que morreu era apenas de
amizade, certo?
MARTA – (cabisbaixa)
Alex... Não sou eu quem deveria te dizer isso... Era pra eu esperar a
decisão do Josh, mas eu não consigo te enganar... O nosso filho, Alex,
tinha uma conexão... Digamos, amorosa... Com o Austin.
ALEX – (aumenta o tom
de voz) Você quer dizer que o nosso filho é gay?!
MARTA – Por favor,
Alex... Abaixe o tom de voz. Nós estamos em um hospital e aquela mulher
já incomodou bastante gente por aqui. Não precisamos de mais nenhum
tipo de show gratuito.
ALEX – (retirando-se
do local) Eu vou acabar com esta palhaçada agora...
MARTA – (indo atrás do
ex-marido) Alex, não faça isso...
A imagem corta
rapidamente para:
CENA 09. HOSPITAL
MUNICIPAL DE NOVA YORK. QUARTO DE JOSH. INT. NOITE.
Josh está deitado
na cama de hospital com os olhos bem abertos. Seu rosto está bastante
machucado devido ao acidente. Alex entra possesso. Marta vem atrás.
JOSH – Pai... Mãe...
Que bom vê-los... Mas não era pra vocês estarem em uma festa de
casamento agora?
ALEX – (andando de um
lado para o outro) O casamento foi cancelado, Josh. E no dia mais
infeliz da minha vida, além de quase me casar com uma mulher que eu não
amo e quase perder o meu filho em um acidente de carro, eu descubro que
ele mentiu para mim durante todos esses anos...
JOSH – (tira o
sorriso do rosto) Pai, do que você está falando?
ALEX – Não se faça de
desentendido, Josh... Você sabe muito bem do que eu estou falando. Ou
vai negar para mim que você ia para a cama com aquele garoto?
MARTA – (grita) ALEX,
VOCÊ ESTÁ SENDO CRUEL!! (olha para Josh) Desculpa, meu filho, eu tentei
evitar isso, mas a verdade sempre vem à tona... O seu pai descobriu que
você é...
JOSH – (interrompe)
Gay!? (olha para Alex) Você está me acusando de ter escondido de você
que eu sou gay? E não é que de uma hora para a outra, você passou a se
interessar pela minha vida?
ALEX – Não seja
injusto, Josh... Eu sempre me preocupei com você. E eu não vou admitir
agora...
JOSH – (complementa)
Que eu tenha escondido de você o que eu verdadeiramente sou? Que piada,
pai. Todo mundo sabe que se você se preocupasse realmente com a minha
vida particular, jamais teria subido ao altar com outra mulher...
ALEX – Não envolva a
Meghan nesta história, Josh.
JOSH – Então não
envolva a minha sexualidade. Se você prestasse mais atenção em mim e na
minha mãe, quem sabe eu teria contado antes pra você que eu gosto de
garotos... Ou melhor, eu amo outro garoto!
ALEX – Eu não
entendo, Josh... Você está me afastando da sua vida por eu ter ido com
outra mulher para o altar?
JOSH – Sim, é isso
mesmo que eu estou fazendo. Chega de hipocrisia, pai. Você pode até ter
pensado que eu fiquei feliz com essa ideia de casamento, mas a verdade
é que eu nunca engoli nem a ideia nem a sua noiva fútil e
individualista... Você tinha alguém que te amava em San Francisco e
preferiu se casar com uma mulher de plástico.
ALEX – Eu só aceitei
me casar com a Meghan porque a sua mãe insistiu para que eu fizesse
isso...
JOSH – E a sua vida
funciona desta maneira? Você abre mão do que tem porque as pessoas te
pedem?
MARTA – (chorando)
Josh, não faça isso...
JOSH – Não, mãe,
chega de ficar sentado assistindo a esse circo... Você errou sim em ter
se preocupado com a Meghan e pedido para que o papai se casasse com
ela, mas ele errou mais ainda em ter te atendido e desistido de você...
E, consequentemente, desistido da nossa família.
ALEX – Josh...
JOSH – (interrompe)
Porque é isso que nós poderíamos ter sido. Uma grande família.
Novamente. E você jogou a possibilidade no lixo, em troca de quê? De um
casamento fracassado com uma mulher que não ama... Aliás, um casamento
que nem aconteceu. E, acredite, papai, eu não tinha a menor intenção de
atrapalhar... Foram simplesmente as circunstâncias da vida que quiseram
assim.
ALEX – (deixa uma
lágrima rolar sobre o seu rosto) Talvez... Talvez você tenha razão. JOSH – Você não precisa se preocupar com isso, porque eu sei que tudo o que eu disse é a mais absoluta verdade. Agora se você quiser esclarecimentos, sim, eu sou gay. E não tenho nenhuma vergonha disso. Não tenho vergonha de amar o Austin... E eu mal vejo a hora de sair desta cama e abraçá-lo novamente... (Música: Falling - The Civil Wars)
MARTA – (chorando)
Josh, o Austin...
ALEX – (começa a
chorar também) Depois conversamos, Marta... Isso está acabando
comigo... (e sai do local)
MARTA – (se aproxima
do filho) O Austin... Ele não resistiu, Josh...
Close em Josh,
que se esquiva, confuso.
JOSH – (começa a rir)
Mãe, pare de chorar... Eu tenho certeza de que nada de mal aconteceu
com o Austin. Nada aconteceu comigo, certo? Por que aconteceria com
ele? (entende a informação que a mãe quer passar e deixa uma lágrima
rolar sobre o seu rosto) Por que o Austin morreria? Por que, mãe? Me
diga o porquê...
MARTA – Porque a vida
quis assim...
JOSH – (começa a
chorar) NÃO! A VIDA NÃO TEM QUE QUERER NADA! EU MATEI O AUSTIN, MÃE! EU
MATEI O AUSTIN!
MARTA – Você não matou
ninguém, meu filho... Às vezes, algumas pessoas têm mais sorte que as
outras...
JOSH – Não! Se eu não
tivesse entrado na frente do Austin para beijá-lo, se eu tivesse ficado
quieto, a gente teria chegado bem e em segurança. Foi por minha causa
que ele não viu o caminhão que estava a
frente e perdeu o senso da direção... FOI POR MINHA CAUSA!
MARTA – Josh, não se
culpe pelo o que aconteceu...
JOSH – (chorando
feito criança) Mãe, por que ele não me levou?
MARTA – (abraça Josh)
Meu filho, eu não deixaria que ele te levasse pra longe de mim...
JOSH – Então por que
eu deixei ele ir? Eu fui um péssimo namorado, mãe...
MARTA – Você foi um
ótimo namorado, Josh... O Austin morreu ao lado de alguém que o amava.
JOSH – (chorando) Eu
não poderia ter deixado ele ir... A câmera se afasta, enquanto mãe e filho choram abraçados.
(Música cessa.)
(Música: Run - Snow Patrol)
Tomada da cidade
de Nova York. As imagens locais da cidade são substituídas pelos pontos
turísticos de San Francisco. Surge a seguinte legenda:
CENA 11.
CEMITÉRIO MUNICIPAL DE SAN FRANCISCO. EXT. DIA. (Música continua.)
Josh, agora sem
as marcas do acidente no rosto, está vestindo um terno preto e segura
um buquê de rosas vermelhas nas mãos. Ele se ajoelha no campo
verdejante e observa a lápide de Austin. A câmera mostra a foto do
garoto e o seu nome embaixo.
Josh deixa uma
lágrima rolar sobre o seu rosto e coloca o buquê de rosas abaixo da
lápide do namorado. Ele limpa a lágrima que deixara cair com uma das
mãos e sorri.
JOSH – Não importa
onde você estiver, eu sempre vou continuar ligado a você... (sorri) Foi
isso que você pediu para que a enfermeira me dissesse, certo? Pois bem,
ela me disse... (tira o sorriso do rosto) Eu te amo, Austin... E eu vou
te amar por toda a vida...
De repente, uma
voz feminina desperta a atenção de Josh.
VOZ FEMININA – Está tudo bem
com você?
JOSH – (sem virar o
rosto) Chelsea?!
Josh se levanta
num impulso e se surpreende ao ver Chelsea, usando um lindo vestido
preto, salto alto, cabelos esvoaçando ao vento e com uma aparência
muito saudável.
CHELSEA – Surpresa por
me ver?
JOSH – Claro que eu
estou surpreso. Eu jamais esperava te encontrar aqui. Não era pra você
estar no centro psiquiátrico?
CHELSEA – Eu fui
dispensada hoje. Não tenho culpa se os enfermeiros não me suportavam
mais...
JOSH – (abraçando a
garota) É muito bom te ver novamente... E o melhor ainda é saber que
você seguiu firme e forte com o tratamento e está livre para a vida
novamente.
CHELSEA – Obrigada,
Josh. (interrompe o abraço e coloca as mãos nos ombros do amigo) Eu
juro que não queria te reencontrar em um lugar como esse, mas eu não
poderia deixar de prestar a minha solidariedade... Quando eu soube, foi
um verdadeiro choque... Mas eu te garanto uma coisa: pessoas vão, mas
as boas memórias sempre permanecem.
JOSH –
(sensibilizado) Obrigado, Chelsea. Do fundo do meu coração, muito
obrigado.
CHELSEA – Esta não é a
melhor ocasião, mas será que podemos sair para tomar um sorvete e
colocar o papo em dia?
JOSH – Bom, você
acabou de sair de um centro psiquiátrico, eu tenho medo de recusar um
convite seu...
CHELSEA – (leva na
esportiva) Josh, eu não sou mais louca. Bem... Talvez tenham restado
alguns sintomas...
Josh ri e dá a
mão para Chelsea. Os dois garotos saem juntos, de mãos dadas,
conversando. A câmera se afasta, mostrando eles caminhando pelo vasto
campo verdejante do cemitério municipal. Em seguida, volta a destacar a
lápide de Austin. A narração de Josh começa a ser ouvida...
JOSH – (em off) Algumas notas que merecem ser registradas: Após a morte do
filho, os pais de Austin resolveram se mudar para uma pequena cidade no
interior do Alabama. Senhor Davis, depois de anos, decidiu deixar o seu
cargo de diretor na San Francisco High School à disposição e dedicar-se
às atividades rurais. A senhora Davis fez o mesmo. Antes de irem
embora, eu a procurei para conversar, mas ela não quis me dar
ouvidos... Ainda acha que eu sou culpado pela morte do Austin. No
fundo, no fundo, eu também me sinto culpado às vezes... Com a morte do
Austin, muita coisa vai mudar na minha vida e eu preciso estar
preparado para enfrentar essas mudanças. Não vai ser fácil, mas eu não
posso desistir. Aprendi com alguém que pessoas vêm e vão na nossa vida,
algumas fazem cada momento ao seu lado valer a pena e depois vão
embora, mas o que importa é que as boas lembranças sempre vão
permanecer... E nada, ninguém, nem o tempo é capaz de apagar. Austin
Davis me proporcionou muitas das quais eu jamais vou esquecer.
A imagem escurece. |
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New Stages - 3x01
New Stages - Série de André Esteves
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