| ||
FERIADÃO WEBTV | ||
|
||
TOGETHER |
||
|
||
FADE IN. CENA 01. IMÓVEL. INT. DIA. A imagem abre em um pequeno imóvel vazio. Um homem de terno segura uma prancheta em direção a um jovem rapaz de aparentemente vinte e oito anos. Ele encara a prancheta com um olhar de receio. RAPAZ – (firma um olhar decidido) Acho que não preciso procurar mais. Encontrei o lugar perfeito. IMOBILIÁRIO – Fico feliz em ouvir isso, senhor Sullivan. É um imóvel pequeno, mas um ótimo lugar para formar uma família. RAPAZ – (com os olhos brilhando) Sim, eu tenho certeza de que seremos muito felizes aqui. IMOBILIÁRIO – Me desculpe a indiscrição, mas... (sorri) Seus olhos brilham quando fala nela. Esta garota deve ser muito especial. RAPAZ – Realmente... É uma pessoa muito especial. E eu mal posso esperar para viver ao lado dela. IMOBILIÁRIO – Bom, acredito então que não temos mais tempo a perder... Segure a prancheta. Assine os papeis. O imobiliário entrega a prancheta para o rapaz. Este, confiante, tira uma caneta do bolso e assina o papel no devido lugar. Close em seu nome: Noah Sullivan. NOAH – (entrega a prancheta de volta) Aqui está. IMOBILIÁRIO – (estende a mão) Muito prazer em fechar negócio com o senhor. Espero que goste da casa e seja muito feliz aqui. NOAH – (cumprimenta o imobiliário) Não duvide disso. Noah e o imobiliário trocam sorrisos. O último deixa o local. Noah anda pelo imóvel, com as mãos nos bolsos e um sorriso esperançoso estampado no rosto. NOAH – (diz para si mesmo) Nossa vida está só começando, Ty... Close em Noah, entusiasmado. A imagem corta para: CENA 02. NOVA YORK. AVENIDA QUALQUER. EXT. DIA. O clima em Nova York é bastante frio. Noah anda apressado pelas ruas da cidade. Ele segura um copo de café em uma das mãos e o celular encostado ao ouvido com a outra. NOAH – (animado) Você não vai acreditar de onde eu acabei de sair... A tela se divide em duas partes. Em uma, fica Noah. Na outra, Tyler, que dirige seu carro atenciosamente. Ele fala ao celular pelo modo viva-voz. TYLER – Não sei, mas você deve estar atrasado para o trabalho... NOAH – Tudo bem, foi por um motivo especial. (sorri) Nossa casa. TYLER – (sem entender) Do que você está falando? NOAH – Nossa casa. Sim, meu amor, eu acabei de assinar o contrato da nossa casa. TYLER – (ri) Você só pode estar de brincadeira. NOAH – Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida. Eu sei que deveria ter conversado com você primeiro, mas desde o dia em que você decidiu se assumir para a sua família, eu não paro mais de pensar nisso... Estou procurando um lugar legal para a gente há duas semanas. TYLER – Bom, e eu estou tentando me assumir para a minha família há duas semanas... NOAH – Você está no carro. Hoje é seu dia de folga. Você está indo para a casa ver a sua família. Eu tenho certeza que de hoje não passa. Você vai conseguir abrir o jogo com eles. TYLER – Não sei, a todo momento eu penso em dar marcha ré no carro e voltar para o meu apartamento. Não sei se ainda estou preparado para isso, Noah... NOAH – Claro que você está. E sabe por que você está? Porque eu sinto. Não é à toa que acabei de comprar uma casa para a gente. Nós estamos preparados, Tyler. Nós estamos preparados para viver juntos. É claro que esse lance da casa era para ser uma surpresa, mas eu não estou conseguindo me conter... TYLER – Quer dizer que você já tem tudo planejado para a gente? NOAH – Se você quiser. Eu sei que comprar uma casa sem antes te consultar é arriscado, mas eu só tomei a decisão de fazer isso, porque como eu te disse... Eu sinto que nós estamos preparados. Eu sinto que a gente é capaz de fazer isso. TYLER – (tira o sorriso do rosto) Noah, eu vou ser sincero com você... Close em Noah, aflito. TYLER – Eu não poderia estar mais satisfeito. Quero dizer, você se preocupando com o nosso futuro... Isso representa muito para mim. NOAH – (respira aliviado) Então quer dizer que eu agi certo comprando a casa? TYLER – Sim, se você quer fazer isso, eu também quero. Vamos nos arriscar. Eu estou indo para a casa agora, eu vou contar para a minha família e então viveremos nossa vida sem segredos. NOAH – Você não sabe como me deixa feliz. TYLER – Eu estou chegando na casa dos meus pais... Tenho que desligar agora. Nos falamos depois, certo? NOAH – Certo, também tenho que desligar. Preciso acelerar os passos ou vou acabar sendo demitido. (pausa) Escuta, Tyler, independente da reação dos seus pais... TYLER – (acena com a cabeça positivamente) Eu sei... Eu sei... Independente da reação dos meus pais, eu vou ter você ao meu lado para me apoiar. NOAH – Sim, que bom que não se esqueceu disso. Mas não vamos pensar na pior das hipóteses... Talvez eles sejam compreensíveis. Eu vou estar torcendo por você. TYLER – Obrigado, meu amor. Eu te amo. NOAH – Eu também. Tyler sorri e desliga o celular. Noah ganha a tela. Ele toma o último gole de café e descarta o copo em um lixo próximo. O rapaz continua a andar, sorridente. CENA 03. CASA DA FAMÍLIA COLLINS. SALA DE ESTAR. INT. DIA. A câmera explora a belíssima casa da família Collins. A campainha toca. Uma senhora muito elegante corre atendê-la. SENHORA – Pode deixar comigo, Sonia... Deve ser o meu filho chegando. Faço questão de atender. A senhora Collins se aproxima da porta e a abre, eufórica. Close em Tyler com um buquê de flores em mãos. SENHORA COLLINS – (ao ver o filho) Querido, que saudades que eu estava de você... A senhora Collins ameaça abraçar o filho, mas Tyler logo a interrompe. TYLER – Calma, mamãe... Você não quer amassar as flores, não é mesmo? SENHORA COLLINS – São para mim? TYLER – Sim, são para a senhora. SENHORA COLLINS – Rosas brancas, as minhas favoritas. Representam união. E este é o maior desejo para a minha família, que todos vivam sempre unidos e felizes... Tyler entrega as rosas para a mãe. TYLER – Eu também estava com muitas saudades da senhora. SENHORA COLLINS – Quando soube que você viria passar o dia comigo e com o seu pai, pedi logo para que a Sonia preparasse uma mesa farta de café da manhã... Vamos, aposto que seu pai já leu o jornal do dia de cabo a rabo e está infernizando a Sonia para que ela sirva seu café. TYLER – Vamos. Não queremos deixar papai furioso... Tyler abraça sua mãe e os dois saem contentes em direção à sala de jantar. CENA 04. CASA DA FAMÍLIA COLLINS. SALA DE JANTAR. INT. DIA. Os senhores Collins e Tyler estão sentados à mesa. Eles desfrutam do café da manhã. SENHOR COLLINS – Tyler, você deveria visitar os seus pais mais vezes na semana... Desde que você foi morar naquele péssimo apartamento, eu e a Diane sentimos muito a sua falta. Ficamos preocupados com você. TYLER – Seu Donald, não precisa se preocupar com isso... Eu estou bem, estou seguro... Sem falar que meus dias naquele apartamento estão contados. (sorri) DIANE – Não entendo por que você tinha que sair daqui... TYLER – Mãe, eu já tenho 26 anos, eu preciso do meu próprio espaço... Não posso continuar morando com os meus pais pelo resto da minha vida. DONALD – Como anda o trabalho? TYLER – Ótimo. Finalmente estou fazendo algo que finalmente gosto. Jornalismo foi o que eu sempre almejei para mim. DIANE – E as pretendentes? (sorri) Eu sei que é indiscrição minha perguntar isso, mas ora... Eu sou a sua mãe. E você mesmo acabou de dizer que já tem 26 anos. DONALD – Com esta idade, eu já estava casado com a sua mãe e quase perto de ser pai. TYLER – Pai, são tempos modernos agora... E foi por isso mesmo que eu vim até aqui falar com vocês. DIANE – (bate as mãos) Não acredito! Você finalmente encontrou a garota ideal para você? (eufórica) Conte-nos sobre ela. Como ela é? Bonita? Deixa eu adivinhar, loira? Talvez você tenha puxado ao seu pai. Quando eu o conheci, ele era fascinado por loiras. Deu azar em se casar com uma morena. TYLER – (engole seco) Não, mãe, o que eu quero dizer para vocês é muito difícil... E eu venho há um longo tempo me preparando para isso. Eu não peço que vocês entendam, eu peço que vocês respeitem. DONALD – Querido, falando assim, até parece que você quer dizer que é... TYLER – (complementa) Gay? DONALD – Eu não iria usar este termo, mas... Claro que estou enganado. (sorri) Não vá me dizer que engravidou uma garota... É isso que você está tentando falar e que é tão difícil? Tudo bem, meu filho. Como você mesmo disse, são tempos modernos. Os jovens de hoje em dia não seguem mais padrão nenhum... TYLER – Não, pai... Eu não engravidei garota nenhuma, porque eu nunca cheguei a me envolver com garotas... Você não está enganado, eu sou gay. Close nos pais de Tyler, sem reação. TYLER – Tudo bem, vocês não precisam dizer nada... Eu não estou pedindo que vocês entendam, eu estou pedindo que vocês respeitem. DIANE – Tyler, permita-me ver se eu entendi... Meu filho veio até a minha casa para jogar na minha cara que se relaciona com outros garotos? TYLER – (um pouco trêmulo) Com um garoto. Existe apenas um. O nome dele é Noah e nós pretendemos morar juntos. Mãe, ele é um rapaz atencioso, é dedicado e me faz muito feliz. DONALD – Eu não acredito que estou perdendo o meu tempo ouvindo toda essa bobagem... TYLER – Pai, não é uma bobagem. Estamos falando da minha vida. DONALD – Tyler, eu não criei um filho para isso. TYLER – Não, pai, não diga isso... DONALD – (batendo na mesa) Eu não criei um filho para isso. Eu te encaminhei na vida para se tornar um bom rapaz, um homem trabalhador, se casar, ter filhos... TYLER – (interrompe) Pai... pai... Não começa com essa história. Como eu acabei de dizer, são tempos modernos. DONALD – Não me importa se são tempos modernos, os valores tradicionais precisam continuar... Se continuar essa bagunça, aonde este mundo vai parar? TYLER – (olha para Diane) Mãe, olha para mim... Diga que me aceita. DIANE – (afasta seu prato) Eu perdi o apetite. TYLER – (deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto) Por favor, pessoal, não tornem isso mais difícil do que já está sendo para mim. DIANE – E como você acha que está sendo para nós? Você acha que é fácil... TYLER – (interrompe) Não, mãe! Em nenhum momento, eu disse que seria fácil. Eu só estou pedindo que vocês respeitem. DONALD – Eu não posso. Isso vai contra aos meus princípios. Tyler, eu não posso. TYLER – Pai, a minha orientação sexual é só um detalhe. Não muda a ótima educação que o senhor me deu. DIANE – Tyler, eu acho melhor você ir embora da nossa casa... Tudo isso ainda está entalado em nossa garganta. Talvez demore a se digerir. TYLER – (se levantando da mesa) Tudo bem. Talvez tenha sido um erro vir até aqui. Foi perca de tempo passar dias da minha vida pensando em como contar isso para vocês. Eu fui um tolo em achar que vocês gostariam de saber quem eu realmente sou. Eu não deveria ter vindo até aqui. Eu só queria que vocês me respeitassem. Será que é tão complicado assim? Eu estou feliz. Eu estou ao lado de um cara que eu amo e nós vamos viver juntos. Satisfeitos? Eu estou feliz e esse comportamento ridículo de vocês não vai mudar isso... Eu estou me retirando dessa casa. Tyler sai, apressado. Close nos pais do rapaz, imóveis. CENA 05. CARRO DE TYLER. INT. DIA. Tyler dirige o seu carro em alta velocidade. O rapaz deixa lágrimas rolar sobre o seu rosto. Então, pega o seu celular que estava sobre o banco passageiro. Ele aperta algum número na discagem rápida e leva o aparelho até o ouvido. TYLER – (chorando) Alô? Noah? A tela se divide em duas partes. Em uma, fica Tyler. Em outra, Noah, que está em frente à mesa do seu escritório. NOAH – Olá, meu amor. Conversou com os seus pais? TYLER – Foi um erro, Noah... Foi um erro. NOAH – (preocupado) Tyler, que voz é essa? Por acaso você está chorando? TYLER – Eles disseram que não me criaram para isso... Eu só queria que eles respeitassem, Noah. NOAH – Eu sei, meu amor, mas nem todos os pais levam isso numa boa... Você já pensou em dar um tempo para eles se acostumarem melhor com a ideia? TYLER – (batendo no volante) Não, eu não vou dar uma hora sequer para eles. Tudo o que eu tinha que ouvir da boca dos meus pais, eu já ouvi. Eu não quero mais pisar naquela casa. Eu não quero ver meus pais nunca mais. Eu não quero... NOAH – (interrompe) Tyler, você está dirigindo? Me escuta, para o carro agora... Você não está em condições de dirigir. TYLER – (descontrolado) Se é tão difícil para eles ter um filho gay, então eu vou simplesmente me afastar... Noah, você deveria ter me impedido. Você não deveria ter me incentivado a ir até lá. Meus pais nunca entenderiam. Toda a minha insegurança não era em vão. Queria me dizer algo. NOAH – Tyler, eu estou tentando te impedir agora de fazer uma besteira... Pare o carro agora! TYLER – Malditos preconceituosos... Quem eles pensam que são para querer privar a minha felicidade? Noah, você... Você é quem realmente importa pra mim. Eu não ligo para a opinião dos meus pais... Eu ligo para você. Nós vamos ser felizes juntos, entendeu? Com ou sem o consentimento dos meus pais... NOAH – Então, Ty, eu preciso que você me escute... PARE... ESSE... CARRO... E antes que Noah conclua o que irá dizer, Tyler acaba não percebendo o automóvel que vem em sua direção. Na tentativa de desviar, ele acaba entrando com o carro em um pequeno despenhadeiro. O veiculo capota uma vez no ar e se choca contra o chão. Noah ganha a tela. NOAH – (deixa o celular cair, imóvel) Tyler... Não! A imagem escurece num baque. |
||
|
||
|
||
|
||
|
||
|
||
TOGETHER |
||
CENA 06. HOSPITAL DE NOVA YORK. RECEPÇÃO. INT. DIA. Noah anda de um lado para o outro, inquieto. Uma enfermeira passa por ele. O rapaz a interrompe. NOAH – Olá, será que você pode me dizer como o paciente Tyler Collins está? ENFERMEIRA – Desculpa, senhor, eu não posso responder a sua pergunta... E a enfermeira continua a andar. NOAH – (gritando) Então quem pode? Me diga quem e eu vou até ele. (continua a andar de um lado para o outro) Por favor, meu Deus, proteja o Tyler... Faça com que nada de ruim aconteça com ele. De repente, um médico vem em direção à Noah. MÉDICO – Olá, você é o acompanhante do paciente Tyler Collins? NOAH – (alvoroçado) Sim, senhor, sou eu... Como ele está? Ele está bem? Por favor, doutor, diga que ele está bem... MÉDICO – Você pode me dizer o seu grau de parentesco com o paciente? NOAH – Eu sou... (mente) Eu sou o irmão dele. MÉDICO – Pois bem, senhor Collins, onde estão os seus pais? Eu preciso conversar com eles... NOAH – Meus pais estão viajando, doutor. Mas eu já telefonei para eles, expliquei o caso e eles virão imediatamente para cá. Por favor, doutor, eu sou o irmão dele, me diga como ele está... MÉDICO – Por favor, senhor Collins, venha até a minha sala. O médico sai. Noah o acompanha, apreensivo. CENA 07. SALA DO MÉDICO. INT. DIA. O médico senta-se à mesa. Noah puxa uma cadeira e também se senta. NOAH – Diga, doutor... O estado do Tyler é grave? MÉDICO – O estado do senhor Collins é sensível. Mas eu não me refiro ao acidente. O jovem está fisicamente bem e sofreu apenas algumas lesões. O que ele precisa agora é descansar... NOAH – Então eu não vejo problema com ele... MÉDICO – Durante os exames, percebemos algo irregular no Tyler... NOAH – Como assim “algo irregular”? MÉDICO – Demoramos para informar o estado do jovem, porque tivemos que nos aprofundar nestes exames... Senhor Collins, o que eu vou dizer agora não é fácil e eu preciso que o senhor mantenha a calma. NOAH – Diga logo, doutor, você só está me deixando ainda mais apreensivo... MÉDICO – O seu irmão foi diagnosticado com glioblastoma multiforme, ou como é popularmente chamado, tumor cerebral. NOAH – (deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto) Você só pode estar brincando comigo... MÉDICO – Infelizmente, nós não temos muito o que fazer em relação a isso. O tumor não tem cura e já está avançado. NOAH – Você está insinuando que o Tyler... (limpa sua lágrima) Ele vai morrer? MÉDICO – O tumor é fatal. O que podemos fazer agora é iniciar um tratamento intensificado com o Tyler, o que possibilitará que ele tenha um tempo maior de vida... NOAH – Quer dizer que o Tyler... Ele... (close em suas mãos trêmulas) Ele pode morrer a qualquer momento? MÉDICO – Não se optarmos pelo tratamento. A quimioterapia prolongará bastante o seu tempo de vida, mas eu não posso te assegurar que irá curá-lo. Vai permitir que ele passe um tempo maior com vocês. A partir de agora, o Tyler vai andar em uma corda bamba, senhor Collins. Vocês precisam estar ao lado dele a todo momento. Vai ser um período delicado, decisivo, mas vocês não podem deixar se abater. NOAH – (começa a chorar) E você quer que eu reaja como? Você quer que eu faça de conta que tudo está bem? MÉDICO – Não, mas vocês não podem desanimar o Tyler, ele precisa mais do que nunca de força. Vocês precisam ser fortes e transmitir isso para ele... NOAH – Até que ele morra? E depois, fazemos o que com essa força? Enterramos junto com o Tyler? (balança com a cabeça negativamente) O Tyler está morrendo aos poucos. Você sugere um tratamento. E nós prosseguimos com esse sofrimento até quando? MÉDICO – Eu só estou querendo ajudar, senhor Collins. Eu tenho certeza de que toda a sua família vai querer passar o maior tempo possível ao lado do Tyler. NOAH – NÃO! Eu quero passar a minha vida inteira ao lado do Tyler, não só uns dias, não só uns meses ou até quando o tratamento for capaz de mantê-lo vivo... Eu não quero deitar a minha cabeça no travesseiro e ter a consciência de que ao acordar no dia seguinte, o Tyler pode estar morto. Eu não quero viver com essa insegurança, com esse medo... (chorando) Eu não quero. MÉDICO – Vai ser complicado, mas é a única alternativa. (levantando-se) Eu preciso ir agora. Logo, as visitas serão autorizadas e você poderá vê-lo. O médico sai da sala. Noah apoia seus braços sobre a mesa e afoga a cabeça entre eles. O rapaz chora feito uma criança. CENA 08. HOSPITAL DE NOVA YORK. RECEPÇÃO. INT. DIA. Noah sai da sala do médico. Ele avista os pais de Tyler sentados nas poltronas da recepção. DIANE – (se levantando) Então você é o rapaz que provocou tudo isso... DONALD – (se levanta também) Eu não acredito que você teve a audácia de se passar por alguém da família apenas para receber informações privilegiadas sobre o meu filho. NOAH – Senhor Collins, eu também sou a família do Tyler. Eu tenho tanto direito quanto você de saber como ele está depois do acidente. (se vira para Diane) E, senhora Collins, eu não tenho um pingo de responsabilidade nisso. Eu não queria colocar a culpa em ninguém, mas já que estamos tentando encontrar um culpado, eu não tenho o mínimo problema em dizer que se vocês tivessem dado ouvidos ao seu filho, ele não teria parado numa cama de hospital. DONALD – Você desgraçou a nossa família. NOAH – Não, você desgraçou a vida do Tyler a partir do momento em que o expulsou de casa e o condenou por sua orientação sexual. E talvez eu até agradeça a vocês por terem feito o que fizeram, porque eu não queria dizer isso, mas o acidente veio até a calhar... Talvez se isso não tivesse acontecido, nós nunca saberíamos que... DIANE – Que o quê? (exaltada) O que aconteceu com o meu filho? DIGA O QUE HÁ DE ERRADO COM O MEU FILHO! NOAH – O Tyler está morrendo, senhora Collins. E se eu fosse você, ao invés de afastá-lo da sua vida, eu o reaproximaria, porque cada minuto agora ao lado do seu filho será crucial... Close em Diane, que cai aos prantos. Donald a consola. DONALD – O que você está dizendo? Noah dá de ombros para os senhores Collins e sai em direção à cafeteria. CENA 09. HOSPITAL DE NOVA YORK. QUARTO DE TYLER. INT. DIA. (música: This – Ed Sheeran) Tyler está deitado na cama de hospital, acordado e com os olhos focados em uma das paredes brancas do quarto. Noah entra. NOAH – (batendo na porta) Toc... Toc... Posso entrar? TYLER – Já entrou. (sorri) Você é muito bem-vindo aqui. Mas... Não era para estar trabalhando? NOAH – E você acha que eu seria capaz de voltar para o trabalho e deixar você aqui sozinho? TYLER – Bom, eu soube que meus pais estão aqui... Arrependidos, pelo o que me parece. NOAH – (aproximando-se da cama) Eu não quero te deixar sozinho por mais nenhum segundo. TYLER – Eu já estou sabendo de tudo, Noah... Eu sei que a minha vida está com os dias contados. Parece que hoje em dia, os médicos não têm mais nenhum problema em dizer que você irá morrer a qualquer momento. Noah segura fortemente a mão de Tyler e começa a chorar. NOAH – Tyler... TYLER – Por favor, não chore... Ver você sofrer é pior do que a morte. NOAH – Por que estão querendo tirar você de mim? TYLER – Encare isso como uma oportunidade. Agora vamos aproveitar cada minuto juntos como se fosse o último de nossas vidas... NOAH – Você não está triste? TYLER – Eu estou, Noah. Muito triste. Porque eu sei que uma hora eu vou deixar esse mundo e infelizmente não vou poder ter você perto de mim. Mas eu não posso me lamentar por isso até o dia da minha morte, não é mesmo? Eu tenho que fazer valer a pena cada dia que a vida me der de agora em diante... NOAH – Eu admiro muito a sua força. Eu não sei se vou conseguir lidar com isso da mesma forma que você. TYLER – Você está sendo muito mais forte do que eu, Noah. E eu quero agradecer por você estar comigo. Quero dizer, não vai ser um período fácil o que vamos enfrentar... Eu vou sofrer um bocado com o tratamento e vou acabar te levando junto nisso... NOAH – Tudo bem pra mim. Lembra quando eu disse pra você que sempre iria te apoiar? Pois bem, eu vou cumprir com o que eu disse. Eu vou te acompanhar até o fim, Tyler. Doa o que doer. Estaremos juntos. Certo? TYLER – Saiba que nesse pouco tempo que vivi, não poderia ter acontecido coisa melhor na minha vida do que te conhecer... NOAH – (sorri) Você também foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu... Eu... (limpa as lágrimas) Eu estou fazendo alguns telefonemas importantes e quando você sair daqui, iremos direto para a nossa casa. TYLER – Como assim? Você acabou de comprar... NOAH – Sim, mas não podemos mais perder tempo, Tyler... Eu vou pegar o dinheiro que meus pais me deixaram e comprar tudo o que precisamos para a nossa casa. TYLER – Por favor, Noah, eu não quero que você gaste o dinheiro dos seus pais comigo... NOAH – Eu estou gastando o dinheiro dos meus pais com a minha felicidade. Tyler sorri. Noah aproxima seus lábios aos dele e lhe dá um beijo leve, sensível e apaixonado. O silêncio no quarto predomina. Ouvimos apenas o batimento cardíaco sendo emitido pelo eletrocardiograma. CENA 10. CASA DE NOAH E TYLER. SALA DE ESTAR. INT. DIA. (Música cessa.) Close na porta de entrada da casa. Noah a abre com uma das mãos e, com a outra, tapa os olhos de Tyler. O rapaz acaba de receber alta no hospital. Ele está bem e apresenta apenas algumas marcas no rosto devido ao acidente. Surge a seguinte legenda: NOAH – (bastante sorridente) Está preparado para conhecer a sua nova casa? TYLER – Eu estaria se você me deixasse vê-la. NOAH – Calma, apressadinho... E Noah tira sua mão dos olhos de Tyler, permitindo que ele veja o interior da casa. TYLER – (entrando e olhando em volta) Meu amor... Isso é... NOAH – (sorri) Gostou? TYLER – Se eu gostei? (admira o lugar) Eu amei. Isso é... Isso é incrível. NOAH – E essa é só a sala. Eu tenho muita coisa para te mostrar. Tem o quarto, tem o banheiro... (entrando na sala) Veja, temos uma televisão. Temos um sofá. Temos um porta-retrato, olha... (aponta para um porta-retrato em cima de uma mesinha central) Com a nossa foto. Lembra dessa foto? Nós dois juntos na graduação da minha irmã. TYLER – Claro que eu me lembro. (se aproxima de Noah) Eu quero agradecer por estar fazendo isso pela gente. Quero dizer, eu não poderia estar mais feliz. NOAH – Ah, é? E como você pensa em me agradecer? TYLER – (entrelaçando seus braços na cintura de Noah) O que você acha disso? E Tyler o beija apaixonadamente. Noah corresponde. TYLER – (interrompe o beijo) O que mais temos na casa? NOAH – Bom... (ri) Nós também temos uma cama. Tyler também ri. Noah o pega no colo e o leva em direção ao quarto. A imagem corta rapidamente para: CENA 11. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. DIA. (música: Your Song – Ellie Goulding) Noah entra com o namorado no colo e o coloca no chão. Tyler sorri e beija o rapaz. O beijo, que até então era apaixonado, começa a ganhar uma força a mais, tornando-se intenso e caloroso. Os rapazes deslizam as mãos sobre o corpo um do outro e, vagarosamente, puxam a camisa para cima. Eles pausam o beijo para tirar suas camisetas. Voltam a se beijar. Noah vai empurrando Tyler levemente para cima da cama. Após deitá-lo, sobe em cima do rapaz e começa a percorrer com os lábios todo o corpo do rapaz, da cabeça até o fim da barriga. Close em Tyler, que solta alguns gemidos abafados de prazer. Noah desabotoa a calça de Tyler e a tira, deixando-o apenas de cueca. Corte descontínuo. Agora, os dois rapazes estão nus embaixo de um lençol: Noah de bruços na cama e Tyler sobre ele. Os dois fazem sexo de forma intensa, mas muito apaixonada. Seus corpos suam de tanto prazer. Tyler abraça o corpo do namorado e pressiona ainda mais o seu sobre ele. Seus rostos se colam um ao outro. Tyler o beija enquanto o penetra. Corte descontínuo. Noah e Tyler estão deitados na cama sem camisa. Tyler repousa a cabeça sobre o peito de Noah. Eles conversam. TYLER – Isso até parece um sonho... NOAH – (passando a mão nos cabelos de Tyler) O que? TYLER – Estar com você aqui, vivendo em nossa própria casa, deitados em nossa própria cama... (ri antes de dizer) Inclusive, já estreamos ela com chave de ouro. (volta a ficar sério) Seria tão bom se isso não acabasse... NOAH – Se depender de mim, nunca vai acabar. TYLER – Noah, uma hora ou outra, isso vai acabar. E não depende da gente. Close em Noah, preocupado. TYLER – Você consegue imaginar o que está acontecendo dentro da minha cabeça? NOAH – Como assim, você está se sentindo confuso? TYLER – Não, eu quero dizer no sentido literal. O que a doença está fazendo ali. NOAH – Bom, pelo o que o médico me disse, é um tumor que vai afetando todo o seu sistema nervoso. TYLER – Até me matar. NOAH – Não vamos pensar nisso. TYLER – Eu pensei que você ocupasse tanto espaço na minha cabeça que não haveria lugar para uma doença. NOAH – (ri) Bobo. TYLER – Você está com medo do que irá acontecer com a gente daqui pra frente? NOAH – Eu não definiria como medo. Mas sim como uma ansiedade. E você? TYLER – Não estou com medo, mas estou preocupado com você. Eu não queria te ver passando por isso. De qualquer forma, essa doença também vai fazer parte de você. NOAH – Por favor, Tyler, não vamos começar com essa história de novo... Eu já te disse que vou estar ao seu lado para o que der e o que vier. TYLER – Mas se eu pudesse te poupar disso... Quero dizer, vai ser uma fase muito complicada. E olha tudo o que você já fez pela gente. Você comprou esta casa, você mandou decorar, eu aposto que você ficou sem dinheiro... NOAH – Não vamos falar sobre dinheiro. TYLER – Nós temos que falar sobre dinheiro. Ele vai ser fundamental para o meu tratamento. Eu estava conversando com o médico e posso te garantir que esse lance de quimioterapia não sai tão barato... NOAH – Eu vou dar o meu jeito. TYLER – Noah, eu não quero que você se sacrifique para me tratar de uma doença que não tem cura... Você só vai jogar dinheiro e mais dinheiro no lixo. NOAH – Não fale bobagem, Tyler. Acredite, cada tostão gastado nesse tratamento vai ser recompensado com um dia a mais ao seu lado. Isso representa muito para mim. TYLER – Talvez eu pudesse continuar trabalhando na editora... NOAH – Não! O que você precisa fazer agora é se focar no seu tratamento e repousar. TYLER – Eu não quero me tornar um ninguém, Noah... NOAH – Você não vai se tornar um ninguém. Pode ter certeza de que os próximos dias serão os melhores da sua vida. TYLER – E os últimos. NOAH – Não seja pessimista. E confie em mim. Eu vou cuidar de você. Nem que eu tenha que fazer horas extras no trabalho, mas eu vou conseguir pagar este tratamento. Você vai se dedicar a ele e ficaremos juntos por muito mais tempo... TYLER – Quantos dias ou meses de vida você acha que eu ainda tenho? NOAH – Não sei, é muito arriscado dizer. Por isso temos que aproveitar cada oportunidade que a vida nos der. TYLER – Você sabe que o tratamento... Ele machuca muito as pessoas, né? NOAH – Eu sei, mas a dor vai ser um dos elementos principais nesta batalha. Juntos, vamos ter que superá-la. (segura forte a mão de Tyler) Eu vou cuidar de você, está bem? TYLER – Eu fico mais tranquilo com você me dizendo isso. NOAH – Ótimo, agora vamos parar de falar nesse assunto, aproveitar o silêncio e nos curtir. Você se dá conta do que acabou de acontecer nesta cama? TYLER – (ri) Nós transamos? NOAH – Também. Mas mais do que isso, nós nos conectamos. Enquanto a vida permitir, eu quero repetir este momento muitas vezes com você. Tyler sorri, levanta sua cabeça do peito de Noah e o beija apaixonadamente. CENA 12. EMPRESA PUBLICITÁRIA. ESCRITÓRIO DO GERENTE DE NOAH. INT. DIA. (Música cessa.) O gerente da ala de Noah na empresa está sentado em frente à sua mesa, concentrado em alguns papeis. A porta do escritório está aberta. Noah bate nela mesmo assim. NOAH – Com licença, senhor? GERENTE – (levanta a cabeça) Noah Sullivan, o meu melhor publicitário. Fiquei sabendo que você queria falar comigo. Por acaso é sobre os seus atrasos? Close em Noah, que engole seco. GERENTE – Sim, eu os notei. Mas eu não vou te condenar por isso, você trabalha comigo há muito tempo e sempre se mostrou um funcionário muito competente. Se está se atrasando, é porque deve haver algum motivo nisso. NOAH – Com licença. (puxa uma cadeira e se senta) E há, senhor. Eu resolvi procurá-lo porque eu tenho um pedido muito importante a fazer. Acredite, eu não estaria aqui se não estivesse realmente desesperado. GERENTE – (com um ar de preocupação) Pois bem, me diga. NOAH – Uma... Uma pessoa muito importante para mim está passando por uma situação bastante difícil e eu mais do que nunca preciso ajudá-la. GERENTE – Como assim? NOAH – Ela foi diagnosticada com uma doença que é muito... Muito grave. É um tumor no cérebro. Não tem cura, mas tem o tratamento que prolonga a vida do paciente. GERENTE – Meu Deus, eu estou horrorizado. Posso saber quem está passando por isso? NOAH – Como eu lhe disse, é uma pessoa com um grande significado na minha vida. Eu e ela optamos por seguir com o tratamento, mas a quimioterapia é muito cara e eu acredito que o meu salário sozinho não será capaz de pagar. GERENTE – Mas essa pessoa... Ela não tem família? NOAH – Sim, tem, mas ela está afastada dos pais e não quer envolvê-los nisso. Por favor, será que o senhor não poderia fazer a enorme gentileza de aumentar o meu salário? Eu não quero muita coisa, apenas o suficiente para... GERENTE – (interrompe) Sullivan, eu compreendo que você esteja passando por um momento bastante difícil e esta pessoa também, mas eu não posso. Quero dizer, eu reconheço que você é um funcionário hábil e responsável, mas se eu aumentar o seu salário, eu precisaria aumentar o de todos... E você sabe que nossa empresa ainda está crescendo no mercado. NOAH – Eu entendo, mas será que não podemos fazer isso em segredo? GERENTE – Eu sei que é um pedido desesperado, mas eu estaria em uma grande encrenca caso alguma posição superior a mim descobrisse que estou te dando privilégios. Temos muitos publicitários nesta área e todos desempenham a mesma tarefa que você. Eu não estaria sendo justo com os demais. NOAH – Tudo bem, eu entendo. (levanta-se da cadeira) GERENTE – Se eu puder fazer algo por você, eu juro que farei. No momento, eu só posso dizer que eu estou torcendo muito por ela... Pelo brilho dos seus olhos, percebi que é alguém muito importante para você. NOAH – Sim, é... (saindo) E eu estou o perdendo. Noah sai do escritório. Close no gerente, sensibilizado. CENA 13. HOSPITAL DE NOVA YORK. ALA DA QUIMIOTERAPIA. INT. DIA. (música: Angels – The XX) A câmera explora o local mostrando inúmeros pacientes portadores de câncer sentados em cadeiras, realizando o tratamento. Close na porta de entrada. Noah e Tyler entram acompanhados de uma enfermeira. Surge a seguinte legenda: ENFERMEIRA – (parando em frente a uma cadeira) Este é o seu lugar, senhor Collins. Tyler encara Noah apreensivo, que retribui um piscar de olhos encorajador. Tyler senta-se na cadeira, enquanto a enfermeira – em frente a um armário – prepara a primeira injeção que o rapaz irá receber. Noah segura fortemente a mão de Tyler. ENFERMEIRA – Por favor, senhor Collins, estenda o braço. Tyler obedece ao pedido da enfermeira. Ela, por sua vez, passa com muito cuidado um pequeno pedaço de algodão encharcado de álcool no braço do rapaz. ENFERMEIRA – (joga o algodão em um cesto de lixo e segura a injeção) Isso vai doer um pouco. Com muita cautela, a enfermeira aplica a injeção em Tyler. Close no garoto, que fecha os olhos, demonstrando sentir um pouco de dor. A enfermeira retira a seringa e coloca um algodão no lugar. ENFERMEIRA – Segure forte. (pausa) Bom, como vocês já devem ter sido informados, a quimioterapia é um tratamento que traz efeitos colaterais nada agradáveis. (para Tyler) Então é normal que você sinta enjoos, febre, fortes dores de cabeça e até chegue a vomitar, certo? Tyler acena positivamente com a cabeça. ENFERMEIRA – O importante é você não desistir do tratamento. A enfermeira sorri e sai. NOAH – (agachando-se no chão, mas sem soltar a mão de Tyler) Você está se sentindo bem? TYLER – Por enquanto, sim. NOAH – (puxa o cesto de lixo) Se por acaso você quiser vomitar... (sorri) Nós estamos preparados. TYLER – Obrigado por vir até aqui comigo. NOAH – Eu não perderia isso por nada... Digo, não me entenda mal... Não que isso seja emocionante, mas é muito importante para mim estar ao seu lado nesta situação. TYLER – Eu sei. Close em Noah, que sorri. CENA 14. CASA DE NOAH E TYLER. BANHEIRO. INT. DIA. (Música cessa.) Tyler está sentado no chão do banheiro. Ele aproxima sua cabeça ao vaso sanitário e começa a vomitar. Assim que termina, leva a mão até a boca para limpá-la. Ouvimos alguém batendo na porta. NOAH – (em off) Ty, você está bem? TYLER – Não consigo mais parar de vomitar. Mas a enfermeira disse que é normal, então eu devo estar bem. NOAH – Ty, se você quiser, eu posso te levar ao hospital. TYLER – Eu já não disse para você ir trabalhar, Noah? Eu não quero que você perca o seu emprego por minha causa. Tyler se levanta bruscamente. Ele se sente um pouco tonto e cambaleia por alguns instantes. Close no rosto bastante pálido do rapaz, demonstrando as primeiras consequências da quimioterapia. NOAH – Eu não vou conseguir me concentrar no trabalho até ter certeza de que você está bem... TYLER – (abrindo o armário e procurando por algo) Onde está a minha escova, Noah? Eu não estou achando a minha escova. Noah abre a porta do banheiro e entra para ajudá-lo. Ele puxa uma gaveta e tira a escova de dente de Tyler de dentro dela. NOAH – (entrega para Tyler) Aqui está. TYLER – Eu posso saber por que a minha escova de dente estava na gaveta e não no armário? Você sabe que eu sempre a deixo no armário... NOAH – Eu achei que aqui na gaveta ficaria mais acessível, por estar perto da pia de escovar os dentes... TYLER – Não mude as minhas coisas de lugar, Noah! Eu não quero praticidade. Eu quero as minhas coisas em seus devidos lugares. Você está mexendo no que é meu. Eu não quero isso. NOAH – Opa, parece que alguém está de mau humor... (tira a escova de dente das mãos de Tyler e coloca um pouco de pasta nela) Deixa que eu faço isso por você. TYLER – Por que você tirou a escova da minha mão? Você acha que eu não sou mais capaz de colocar pasta na minha própria escova? NOAH – Você está pondo palavras na minha boca, Tyler. Eu não disse nada disso. Eu só quero te ajudar. Eu estou aqui para isso. Você está pálido e aparentemente não está bem... TYLER – Eu estou muito bem. Eu posso não estar completamente bem, mas eu estou suficientemente bem a ponto de ser capaz de colocar pasta na minha própria escova. Noah, eu tenho uma doença, mas ela ainda não me aleijou. NOAH – (balança com a cabeça negativamente) Tyler, eu só estou tentando te ajudar... TYLER – (começa a balançar as mãos) Eu pedi a sua ajuda? Eu apenas perguntei onde a minha escova estava... Porque você a mudou de lugar. Eu não quero mais que você invada o meu espaço, Noah. Você está passando de todos os limites. NOAH – Tyler, eu... TYLER – (interrompe gritando) NÃO! Não venha com esse papo de que você está tentando me ajudar. Pelo contrário, você está me tratando como um bebê. Veja, eu tenho mãos, eu tenho braços, pernas... Eu sou capaz de cuidar de mim mesmo. NOAH – Tyler, você está sendo grosseiro. TYLER – E você está me fazendo perder a paciência com você. Eu não quero mais que você mude as minhas coisas de lugar. Eu não quero mais que você me trate feito um bebê. Se for pra receber tudo na boca, então eu prefiro estar no hospital. E se você quer saber, eu vou voltar a trabalhar. Segunda-feira, eu vou voltar a... E antes que conclua o que irá dizer, Tyler começa a vomitar pelo chão do banheiro. Close em Noah, inconformado. NOAH – Você acha que está em condições de voltar a trabalhar, Tyler? Olha o seu estado... Tudo o que eu estou fazendo é para o seu próprio bem. Se você é tão ingrato a ponto de não perceber isso, então eu não tenho mais nada para fazer aqui. Noah sai do banheiro. Close em Tyler, que continua a vomitar. CENA 15. PARQUE URBANO DE NOVA YORK. EXT. DIA. (música: Hometown Glory – Adele) Noah está sentado embaixo de uma árvore jogando pedras em um riacho. Ele desconta toda a sua fúria nisso. Algumas lágrimas rolam sobre o seu rosto. De repente, vemos uma garota loura passando correndo pelo local, com fones de ouvido e a malha atlética bastante suada. Ela diminui a velocidade ao reconhecer Noah. GAROTA – (se aproximando do rapaz) Noah, o que você está fazendo aqui? NOAH – (reconhece a voz e olha para a garota) Harmony. HARMONY – Sim, eu estava fazendo a minha corrida matinal e vi você sentado aqui. NOAH – (limpando suas lágrimas) Você sabe que este é o meu lugar favorito em Nova York. HARMONY – (sentando-se ao lado de Noah) É o nosso lugar favorito desde quando éramos crianças. Lembra quando vínhamos aqui com a mamãe e ela morria de medo que caíssemos no lago? NOAH – Sim. (sorri) Eu sinto falta daqueles tempos. Eu sinto falta da mamãe. HARMONY – Mas aposto que não é pela mamãe que você estava chorando. Aconteceu alguma coisa? NOAH – Sim. O Tyler... Ele está cada vez pior. HARMONY – Você quer dizer... Morrendo? NOAH – Não, ele está bem. O tratamento parece estar dando resultados satisfatórios. Acontece que a quimioterapia está acabando com ele e tem afetado até o seu humor... A gente acabou de brigar. E foi uma briga feia. A gente nunca brigou assim antes. HARMONY – Noah, você tem que ser paciente com o Tyler. As pessoas que passam por esse tratamento acabam ficando muito sensíveis. Agora o humor do Tyler vai estar em constante oscilação. NOAH – Eu sei, mas ele parece estar sendo tão egoísta, entende, Harmony? Tudo o que eu estou fazendo é em benefício a ele. E eu não quero jogar isso na cara dele, como se eu estivesse fazendo alguma obrigação. Não, eu faço isso porque eu quero e porque me preocupo com o Tyler. Mas ele parece não se importar... Eu tenho a impressão de que ele está querendo se afastar de mim. HARMONY – Será que talvez essa não seja realmente a intenção dele? NOAH – O que você quer dizer com isso? HARMONY – As pessoas que convivem com um paciente portador de câncer sofrem tanto quanto ele. Talvez o Tyler esteja cansado de te ver sofrer. Ele está arranjando alternativas para te afastar de todo esse sofrimento e não te envolver na dor dele... Ou talvez ele não queira que você se apegue tanto a ele no momento, sabendo que a qualquer momento ele irá te deixar... NOAH – Quer dizer que... Você quer dizer que ele está fazendo isso por que se preocupa comigo? HARMONY – Noah, eu conheço vocês dois melhor do que ninguém. Eu vi este namoro crescer e vejo agora a sua dedicação em prol do Tyler, então tenho certeza do que estou dizendo... O Tyler está morrendo e ver você gastando todo o seu tempo para deixá-lo confortável só aumenta ainda mais a sua dor. NOAH – Mas ele deveria estar feliz. Eu estou ao lado dele, como ninguém nunca esteve. Ele deveria ser grato a isso, não? HARMONY – Ele é grato, Noah. Entenda uma coisa... O Tyler está te afastando simplesmente porque ele te ama. Ele percebeu que você já se preocupou demais com ele e, agora, se deu conta de que precisa se preocupar com você. NOAH – (começa a chorar) Harmony, eu não sei o que vai ser da minha vida quando ele... Você sabe. HARMONY – (deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto e abraça o irmão) Vá para a casa, meu irmão. Deixe que a vida se encarregue do que venha a acontecer. A câmera se afasta, enquanto os dois irmãos continuam abraçados em frente ao lago. CENA 16. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE. (Música cessa.) Tyler está deitado em sua cama tentando encontrar alguma posição confortável para dormir, porém, não consegue, pois a dor que sente o faz se contorcer. De repente, ele ouve alguns passos firmes vindo em direção ao quarto. Sua mãe entra, afobada. DIANE – (se aproximando da cama) Filho, meu filho, que bom que te encontrei... Que lugar miserável é esse onde aquele desgraçado te colocou? Escuta a mamãe, escuta a mamãe... TYLER – Mãe, o que você está fazendo aqui? DIANE – Eu vim te buscar. Nós vamos embora para a casa, meu filho. (senta-se na cama e começa a alisar os cabelos do rapaz) Lá sim é o seu lugar. Eu não posso permitir que você continue morando na casa sob a guarda de um cara que não pode bancar o seu tratamento. TYLER – Mãe, o Noah está dando o seu melhor para pagar a quimioterapia. Ele arranjou uns bicos durante a noite e... DIANE – (interrompe) Ele está pagando o seu tratamento com bicos, é isso mesmo o que eu ouvi? Meu filho, ouça... Eu trouxe uma cadeira de rodas. Eu vou te colocar nela e nós vamos para a casa. Seu pai providenciou os melhores enfermeiros e médicos da cidade e você estará sendo vigiado por eles durante o dia inteiro, no seu próprio quarto. Não é uma beleza? TYLER – Espera, mãe. Você acabou de dizer “cadeira de rodas”? DIANE – Sim, meu filho... Você está tão branquinho, aposto que anda sentindo fome. TYLER – Não, mãe, eu estou pálido porque esse é um dos efeitos da quimioterapia. DIANE – E você acha que eu confio em tratamento de hospital público? Você vai morrer, Tyler, e eles vão agradecer por terem se livrado de você. TYLER – (grita) MÃE, SAI DA MINHA CASA AGORA! De repente, ouvimos Noah chegando ao local. Ao ouvir os gritos, ele para na porta e fica ouvindo a conversa entre mãe e filho. DIANE – Eu não saio daqui até você for comigo. Eu não posso permitir que o meu filho morra longe de mim... TYLER – (fecha os olhos, inconformado) SAI DAQUI! Eu não quero mais ouvir uma única palavra da sua boca. Me deixa em paz. Deixa o Noah em paz. O que ele está fazendo por mim é maravilhoso. Você pensa que me levando para a sua casa e me dando o melhor atendimento médico, vai estar me salvando dessa doença... Mas, adivinhe, mãe. Eu vou morrer de qualquer forma. Não me importa se estou sendo tratado em um hospital público. Pelo menos aqui, nesta casa, eu tenho apoio e eu tenho o amor. E eu prefiro morrer rodeado de sentimentos como esses do que pela sua luxúria e preconceito. Sai daqui agora. Close em Diane, que deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto. Ela ameaça abrir a boca para dizer algo, mas Tyler logo a interrompe. TYLER – Sai daqui agora! Diane deixa o quarto, aos prantos. Noah entra, emocionado. TYLER – Você estava aí... durante esse tempo todo? NOAH – (se aproximando da cama) Eu peguei boa parte da conversa. Escuta, Ty, eu sei que você está tentando encontrar razões para ficar bravo comigo e me afastar da sua vida... (se senta nela) Mas eu te proíbo de continuar fazendo isso. Eu não me importo de sofrer por sua causa ao longo do tratamento. Acredite, dói muito mais ficar longe de você. Então não me afaste, não me afaste, nós vamos passar por isso juntos. TYLER – (começa a chorar) Eu sei, nós vamos passar por isso juntos. Me desculpa por ter gritado com você, você não sabe como eu estou arrependido... Eu... NOAH – (abraça Tyler) Não diga mais nada. E pare de chorar. Isso só vai piorar a sua dor. Eu vou ficar aqui com você, certo? Abraçadinho até você dormir. O que você acha disso? TYLER – Eu te amo, Noah. NOAH – Eu te amo, Tyler. E os dois jovens se abraçam ainda mais forte. CENA 17. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. DIA. (música: Shelter – Birdy) Tyler está sentado em frente a um espelho. Ele está com uma expressão bastante fria. De repente, o garoto leva uma das mãos até o seu cabelo e desliza seus dedos sobre ele, fechando-os logo em seguida. Tyler abaixa a mão e a abre. Close no tufo de cabelo sobre a sua palma. Uma lágrima rola sobre o seu rosto. Surge a seguinte legenda: Noah entra no quarto. Ele se aproxima de Tyler. Vemos o reflexo dos dois rapazes no espelho. NOAH – O que está acontecendo, Tyler? TYLER – (mostra sua mão para Noah) Os meus cabelos começaram a cair, Noah. NOAH – (coloca as mãos nos ombros de Tyler) Bom, meu amor, nós sabíamos que isso viria a acontecer. A queda de cabelo é uma das consequências do tratamento. TYLER – Eu sabia que iria acontecer, mas não esperava que fosse tão difícil. Essa doença está destruindo o que eu sou, Noah. Está me deformando. NOAH – Tyler, você continua lindo. TYLER – (se levanta e se vira para Noah) Olha para mim. Veja como eu estou horrível. NOAH – Não, meu amor, você está lindo. TYLER – Você só está falando isso porque quer ser gentil comigo. NOAH – Ty, chegou a hora de rasparmos a sua cabeça. TYLER – Não, eu não vou fazer isso. Essa doença quer me transformar num monstro, Noah. Eu não vou deixar. Depois que eu ficar careca, você vai querer me abandonar... Eu vou ficar feio e você não vai mais querer ficar comigo. NOAH – Pare de falar bobagem, Ty. Eu aposto que você vai ser o cara careca mais lindo deste mundo. (sorri) E nós temos que raspar o seu cabelo. Deixar que ele caia sozinho é muito pior. TYLER – Você promete que não vai me deixar? NOAH – Prometo, fica tranquilo. Tyler sorri e volta a se sentar no banquinho. Noah abre uma das gavetas do armário e retira de dentro dela um barbeador para cabelo. Então, se aproxima do namorado, liga o aparelho e começa a raspar sua cabeça. Enquanto os cabelos de Tyler caem, lágrimas rolam sobre o seu rosto. A imagem corta rapidamente para: CENA 18. CASA DE NOAH E TYLER. COZINHA. INT. NOITE. (A música tocada na cena anterior continua a ser executada nesta.) A casa está totalmente escura, dando a entender que já são altas horas da madrugada. Porém, Noah está acordado, sentado sobre uma mesa e folheando alguns papeis. Por estar com uma calculadora em mãos, subentendemos que se tratam de contas. Tyler, com a cabeça careca, espia o namorado. Noah passa as mãos sobre a cabeça, mostrando um certo ar de desespero. Surge a seguinte legenda: TYLER – (entrando) Chega, Noah! NOAH – (olhando para Tyler) Ty, o que você está fazendo acordado a essa hora da madrugada? TYLER – Eu te pergunto o mesmo, Noah. Você deveria estar dormindo. Você precisa acordar cedo para o trabalho amanhã. NOAH – Não se preocupe comigo. TYLER – Não peça para eu não me preocupar com você. Eu deixei você se preocupar comigo, acredito que eu possa ter o mesmo direito que você. Eu não quero mais que você se afunde em dívidas por minha causa. NOAH – E vamos fazer o que, adiar o tratamento? TYLER – Não, eu vou pedir a ajuda dos meus pais. NOAH – Tyler, quando decidimos seguir em frente com este tratamento, você deixou bem claro que não queria que seus pais fizessem parte disso. Eu não quero que você vá contra ao seu princípio só por causa de algumas contas... TYLER – Não são apenas algumas contas, Noah. E eles são meus pais. Aquela noite em que veio aqui, minha mãe demonstrou interesse em me ajudar. Por favor, não peça para eu não fazer isso. NOAH – Tudo bem. Eles podem ajudar com o tratamento. TYLER – Ótimo, eu vou pedir para que eles venham até aqui amanhã. Noah se levanta da cadeira e se aproxima de Tyler, colocando uma das mãos sobre suas costas. NOAH – Vamos dormir, está tarde... Os dois jovens saem em direção ao quarto. Close nas contas espalhadas sobre a mesa. CENA 19. CASA DE NOAH E TYLER. SALA DE ESTAR. INT. DIA. (Música cessa.) Donald e Diane estão sentados no sofá mantendo uma postura séria. Noah e Tyler estão de pé em frente a eles. TYLER – Bom, eu pedi para que vocês viessem até aqui porque tenho um comunicado importante a fazer. Eu não tinha o mínimo interesse em voltar a olhar para a cara de vocês, eu só estou fazendo isso porque o Noah insiste para que eu continue este tratamento. Então agradeçam a ele. Ele está ao lado de vocês. Close nos pais de Tyler, que encaram Noah, surpresos. TYLER – Eu decidi aceitar a ajuda de vocês no meu tratamento. Quero dizer, eu não estou trabalhando mais e o salário que o Noah ganha como publicitário mal dá para pagar as contas, quem dirá meses de tratamento. Eu não sei quanto tempo de vida ainda me resta, mas eu estou disposto a prosseguir com a quimioterapia e ficar o máximo de tempo que eu puder ao lado do Noah. DIANE – Isso é ótimo, meu filho. (sorridente) Você não sabe como me deixa aliviada em saber que agora você estará sendo tratado nas mãos de ótimos médicos. DONALD – Faço das palavras da sua mãe as minhas. TYLER – Mas existe uma condição. Se vocês quiserem pagar este tratamento, vocês terão que deixar eu e o Noah em paz. Eu não quero que vocês se intrometam mais em nossas vidas e digam que é errado. Vocês são bem-vindos em nossa casa, mas para me visitar, não para levantar críticas a respeito do nosso “namoro fora dos padrões tradicionais”. DIANE – Nós aceitamos a condição, Tyler. DONALD – Prometemos fazer um esforço. TYLER – Ótimo, até porque meus dias estão contados. Não temos mais tempo para indiferenças. Diane se levanta e, aos prantos, corre abraçar o filho. Donald faz o mesmo. Close em Noah, que assiste à cena, emocionado. CENA 20. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DE TYLER. INT. NOITE. Tyler desperta após o seu repouso vespertino. Surge a seguinte legenda: Ao se levantar da cama, ele percebe que um terno preto está pendurado em um cabide em frente ao guarda-roupas. Dentro do bolso, há um bilhete saindo para fora. Tyler se aproxima do traje e retira o bilhete de dentro do bolso. Close no pequeno pedaço de papel:
ESPERO QUE TENHA
CONSEGUIDO DESCANSAR. COM AMOR, NOAH Close em Tyler, que sorri e alisa o terno com uma das mãos. A imagem corta rapidamente para: CENA 21. CASA DE NOAH E TYLER. SALA DE ESTAR. INT. NOITE. Tyler entra na sala de jantar vestindo o traje de gala. Ele está muito elegante. Noah, que também veste um terno, está virado para o rádio e não percebe a chegada do namorado. Ele dá play em uma música e se vira rapidamente, surpreendendo-se com a presença de Tyler. (música: Incancellabile – Laura Pausini) NOAH – (com os olhos brilhando) Você... Você está maravilhoso. TYLER – Eu digo o mesmo. (ouvindo a música) Hey, você se lembrou... NOAH – Me lembrei do quê? TYLER – Da primeira música que dançamos juntos. No dia da graduação da sua irmã. Eu lembro que comentei que não entendia a letra, por ser italiana, mas que parecia ser linda e perfeita para o momento. NOAH – Sim, eu pesquisei a tradução da música e adivinha? Realmente descreve nós dois. (se aproxima de Tyler) Você sabe que aquele dia foi muito importante para nós, não é mesmo? TYLER – Sim, foi o dia em que nos conhecemos. O dia em que nos vimos pela primeira vez. (ri) Engraçado, um colega meu me apresentou para a sua irmã e eu disse a ela que preferiria muito mais o seu irmão. (pausa) Então ela me olhou assustada e disse: “Ele é gay”. E nos apresentou. Foi uma situação realmente embaraçosa... Eu tinha bebido mais do que devia aquela noite. NOAH – Mas valeu a pena, não valeu? Noah pega duas taças de vidro que estavam sobre um balcão e entrega uma delas a Tyler. TYLER – Noah, não sei se você se lembra, mas eu não posso beber, eu estou no meio de um tratamento... NOAH – É claro que eu não me esqueci. Pode beber sem preocupações. É soda. Eu coloquei em uma taça só pra dar a entender que fosse champanhe. Eu estou tentando fazer um encontro de gala aqui. (sorri) TYLER – (bebe um pouco da soda) Respondendo a sua pergunta... Sim, valeu muito a pena. NOAH – (bebe um gole da soda e coloca a taça no balcão) Você me concede a honra de uma dança? Não podemos desperdiçar a nossa música... Tyler também coloca a taça no balcão e oferece uma de suas mãos para Noah, que logo o conduz em uma dança lenta e romântica. Eles encostam seus corpos um ao outro. Tyler deita a sua cabeça no ombro de Noah, enquanto é guiado por ele. TYLER – Noah, eu preciso te dizer uma coisa... NOAH – Diga. TYLER – Esta é a minha última noite. NOAH – O que você está dizendo? TYLER – As pessoas sentem quando irão morrer. NOAH – Você está estragando a nossa música. TYLER – Não, eu só quero aproveitar os meus últimos minutos ao seu lado. Close em Noah, que deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto. A câmera se afasta, enquanto os dois rapazes continuam dançando na mais perfeita sintonia. CENA 22. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE. (Música cessa.) Noah e Tyler estão deitados em sua cama cobertos por um lençol. Noah dorme, Tyler, porém, está acordado. O rapaz se levanta apenas de cueca e veste uma camiseta e uma calça. Ele deixa o quarto. A câmera mostra a janela. As cortinas estão abertas, permitindo que a luz lunar invada o local e ilumine o rosto de Noah. A imagem corta rapidamente para: CENA 23. CASA DE NOAH E TYLER. COZINHA. INT. NOITE. Tyler está sentado em frente à mesa da cozinha, com uma folha de papel sobre ela e uma caneta em mãos. As cortinas também estão abertas, possibilitando que a luz lunar atravesse o vidro da janela e ilumine o local. Close no papel. Tyler começa a escrever... MEU GRANDE AMOR NOAH... A imagem corta rapidamente para: CENA 24. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. DIA. O dia já amanheceu. Percebemos isso pelos raios solares que invadem o local. Noah desperta com a luz. Lentamente, ele se levanta da cama e percebe Tyler ainda dormindo, de costas para ele. Noah decide chamá-lo. NOAH – Tyler... O que você acha de fazermos um passeio no Central Park? Sem resposta. NOAH – Tyler, vamos... Eu sei que você me ouve. Você só está fingindo dormir para que eu não te incomode em plenas seis horas da manhã. Mas veja lá fora, está um dia lindo. Novamente, sem resposta. Close em Noah, preocupado. NOAH – Tyler? Noah se aproxima da cama e se senta sobre ela. Com muito receio, o rapaz leva sua mão até o pescoço de Tyler, tentando sentir a sua pulsação. NOAH – (deixando uma lágrima rolar sobre o seu rosto) Tyler... A imagem escurece num baque.
CENA 25.
CASA DE NOAH E TYLER. COZINHA. INT. DIA. Ainda de pijama, Noah se senta em frente à mesa. Sua expressão é fria, ele não demonstra nenhum sentimento em relação à morte de Tyler. Então começa a ler a carta que o namorado lhe deixara em voz alta: MEU GRANDE AMOR NOAH... EU SEI QUE ESTA NÃO ERA A MELHOR FORMA PARA EU ME DESPEDIR DE VOCÊ. EU NÃO QUERIA ME DESPEDIR DE VOCÊ. MAS EU TINHA QUE FAZER ISSO. EU ESTAVA ME LEMBRANDO DE QUANDO EU ERA MAIS NOVO, TINHA EM TORNO DE 11 ANOS E ME PERGUNTARAM COMO EU IMAGINAVA A MINHA VIDA DAQUI A 15 ANOS. EU RESPONDI QUE QUERIA ESTAR TRABALHANDO EM ALGUMA ÁREA QUE ME FIZESSE BEM E AO LADO DE ALGUÉM QUE ME FIZESSE BEM. QUINZE ANOS SE PASSARAM E ESTAS DUAS COISAS REALMENTE ACONTECERAM. EU TRABALHEI COM O JORNALISMO, ALGO QUE DESEJEI EM TODA A MINHA VIDA E ENCONTREI UM CARA MUITO ESPECIAL. EU PODERIA TER ESCRITO NESTE PAPEL TUDO O QUE VOCÊ REPRESENTOU PARA MIM AO LONGO DESSES DOIS ANOS EM QUE NOS CONHECEMOS, MAS AINDA NÃO SERIA SUFICIENTE. ENTÃO EU DECIDI SOMENTE AGRADECER TUDO O QUE VOCÊ FEZ PARA MIM E POR MIM, SIM, PORQUE VOCÊ SACRIFICOU MUITAS COISAS PARA ME VER COM UM SORRISO NO ROSTO, PRINCIPALMENTE NESTES ÚLTIMOS CINCO MESES. NOAH, QUERO DIZER QUE ESTES ÚLTIMOS CINCO MESES FORAM OS MAIS IMPORTANTES DE TODA A MINHA VIDA. EU APRENDI MUITAS COISAS COM ELES. APRENDI QUE NEM TUDO É PARA SEMPRE. TUDO QUE TEM UM COMEÇO TAMBÉM TEM UM FIM. A MORTE FOI O NOSSO. ENTÃO DEVEMOS SEMPRE APROVEITAR CADA DIA QUE A VIDA NOS OFERECE E APROVEITÁ-LO DA FORMA MAIS INTENSA POSSÍVEL AO LADO DE QUEM AMAMOS. EU QUERO HONESTAMENTE AGRADECER PELO ÓTIMO COMPANHEIRO QUE VOCÊ FOI NESSES ÚLTIMOS TEMPOS. VOCÊ ME AMOU, ACREDITOU NA MINHA FORÇA, MESMO QUANDO EU ME SENTIA O CARA MAIS FRACO DE TODA A TERRA. OBRIGADO POR DIVIDIR A SUA FORÇA COMIGO. EU SEI QUE VOCÊ ESTAVA TÃO FRACO QUANTO EU E NÃO QUIS DEMONSTRAR. NÃO CULPE A DOENÇA NEM NINGUÉM POR ME TIRAR DE VOCÊ. ESTE ERA O DESTINO TRAÇADO PARA NÓS. DUROU POUCO, MAS FOI MUITO IMPORTANTE E VAI PERMANECER CONOSCO PARA SEMPRE. EU NUNCA VOU ME ESQUECER DE VOCÊ, NOAH, E EU ESPERO QUE VOCÊ TAMBÉM NUNCA SE ESQUEÇA DE MIM. AH, UMA ÚLTIMA COISA, DIGA À HARMONY QUE EU SOU ETERNAMENTE GRATO A ELA POR TER TE APRESENTADO A MIM. COM AMOR, TYLER Noah engole todas as palavras que acabara de ler sem saber como digeri-las. Então deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto. A última lágrima em prol do seu grande e único amor. Close no papel: a lágrima cai sobre ele, borrando o nome de Tyler. A IMAGEM ESCURECE. |
||
|
||
CRIADO E ROTEIRIZADO POR |
||
.aaa.
|
.aaa. | |
Feriadão WebTV - Together
Together - Filme de André Esteves
Comentários: