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MÚSICA:
Secrets - One Republic
A mulher dona de cabelos brilhantes e escuros, dermas morenas e macias,
aproxima-se lentamente da sacada no segundo andar de sua residência,
para contemplar a paisagem de Arraial D’ Ajuda, a vista é simplesmente
magnífica, digna de uma verdadeira obra de arte de Themistokles von
Eckenbreche, Pamela Monteiro está utilizando uma calça jeans de cintura
alta, acompanhada por uma camisa longa preta que compactua facilmente
com a sua bota. Os seus pensamentos permanecem em desalinhos, em poucas
horas a sua vida irá mudar para sempre, apenas um sorriso no dia do
noivado é o suficiente, mas para a dama é feito uma facada no pescoço.
Ela esboça uma tristeza acompanhada de alegria, ao lembrar-se do irmão
mais velho que sempre a protegeu, dos tempos em que brincavam na praia e
jogavam-se na piscina daquele palacete de quase quatrocentos metros
quadrado, que hoje é consumado apenas pela solidão, desde que o
patriarca faleceu, acerca de cinco anos atrás. A divisão de bens chegou
a ser justa, um milhão de dólares para cada herdeiro: Pamela, a filha
mais nova, Levi, o filho mais velho e Amália, a matriarca da família.
Levi saiu pelo mundo e resolveu cortar relações com os parentes, seu
vínculo afetivo com a mãe era de uma verdadeira ruína, mas certamente
deve se encontrar melhor que a irmã mais nova, que atualmente não tem
nada além de sua beleza e um ventre pronto para dar um golpe da barriga
em um dos homens mais ricos de Porto Seguro. Amália conseguiu jogar dois
patrimônios no fundo do poço, o dela e o da filha, o que resta agora são
apenas sobras do que conseguiu movimentar a renda liquida do município e
um sobrenome.
Pamela caminha em direção ao closet, se fosse se casar com uma pessoa
que amasse de verdade, estaria contornada de maquiadores profissionais e
estilistas de primeira linha, mas não estava se importando com o que a
sociedade baiana pensaria daquela noite na Ilha dos Aquários. Havia
escolhido um vestido vermelho rendado nas mangas e decote alto fechado e
um salto fino de cerca de dez centímetros, estava pronta, sempre esteve,
mas esse é o momento de colocar a máscara.
Quando pôs as mãos no corrimão, os seus olhos castanhos chamaram mais
atenção do que a cor do seu vestido ou o seu colar de rubis. O noivo a
aguardava no pavimento, a cada passo nos degraus a feição de Miguel
Xavier mudava, entre surpresa e ansiedade, certamente deve desejar o
coração da moça, mas a recíproca não é verdadeira. Os dois ficaram
frente a frente, Pamela estava na altura do homem que trajava terno e
gravata, roupa tradicional em noivados e que descreve perfeitamente o
empresário do ramo de hotelaria.
A limusine se deslocou facilmente no trafego do município em direção a
balsa exclusiva para os dois pombinhos. Miguel observava a mulher a todo
momento, deixando Pamela um pouco embaraçada, eles estavam noivos, mas
ao menos se conheciam ou dialogavam, um jogo de aparências. Ele
acariciou as pernas dela, mas ela afasta as mãos dele.
- Agora não, Xavier, o motorista pode escutar alguma coisa.
- Você acha que me importo?
- Não, mas preciso estar perfeita para essa noite.
- Mais bela do que tu, Pamela, apenas o raio de sol.
A festa estava apenas começando e os convidados formavam filas
quilométricas para entrar no local, todos foram meticulosamente
revistados pelos seguranças.
Pamela atraiu atenção, não apenas pelo fato de ser o centro do
acontecimento social, também por seu encanto e magnetismo. Pela primeira
vez naquele dia conseguiu avistar a matriarca, que passou muito tempo
trabalhando naquele teatro, ela estava tomando um coquetel feito com gim
e vermute seco, mais conhecido como martini, aquela não era a primeira
taça, certamente.
Pamela puxa a mãe para que os convidados não pudessem escutar e a leva
para o almoxarifado.
- Está gostando da festa, Pamela? Esse noivado vai ser uma loucura, o
momento mais badalado do ano. Imagina amanhã, as colunas sociais,
falando apenas da família Monteiro, somos verdadeiras fênix, retornarmos
das cinzas, aquelas peruas nem falavam mais comigo, mas graças a você,
querida, o mundo ainda é meu e circula na ponta dos meus dedinhos.
Amália Monteiro estava com bastante álcool no sangue, os cabelos escuros
dela permanecem amarrados em um coque e o vestido bem colocado no corpo,
valoriza sua idade, mas as palavras que saem da boca da senhora, parecem
inúteis.
- Você me destruiu, Amália, eu podia estar feliz ao lado do homem que
amo, mas graças a essa ambição demoníaca, vou me casar com o Xavier.
- E acha isso ruim? Ele é podre de rico.
- Não é apenas de dinheiro que o globo é feito.
- Devemos ser capitalistas, queridinhas, amor não enche barriga.
- Acho que por isso que a senhora brigava tanto com o papai, vai morrer
seca.
- Respeite-me, Pamela, ainda continuo sendo a sua mãe.
- Infelizmente. Retoque a maquiagem e vamos seguir para a segunda parte
do show.
- Isso mesmo, ninguém merece saber o que acontece nos bastidores.
O som estava alto demais, Pamela observa atentamente cada uma das
pessoas ao redor, todos se divertindo e os seus olhos encontra os
encantadores de um rapaz, Jonathan Sampaio, o seu verdadeiro príncipe,
ele estava se formando em administração em uma grande faculdade federal,
trabalhava nos negócios dos pais, que mesmo sendo conhecida em todo o
distrito, não era tão opulenta. Agora está neste paradigma, um romance
impossível, digno de um conto de fadas.
Os dois seguiram para os fundos andando despercebidos no meio de todos
os indivíduos, passaram por um corredor e encontraram um cômodo
escondido, aonde ninguém poderiam os perceber, Jonathan fecha a porta no
cadeado e a beija intensamente, Pamela tira cuidadosamente o vestido,
mas a vontade era de arrancá-lo do corpo selvagemente, os cabelos dela
estavam caindo sobre os seus ombros nus, a lingerie branca deixa
enfatizado os seus seios fartos que eram mais interessantes do que
qualquer joia preciosa, despertando o controle do rapaz adiante e ambos
entregaram os corpos ao pecado, enquanto o mar se debatia contra a costa
baiana, naquele colchão jogado no assoalho sujo e com apenas um lençol
de quinta categoria.
Pamela teve alguns minutos para se arrumar e retocar o batom e a
maquiagem, não teve tempo para conversas, quando retorna para a mesa
principal, Miguel Xavier direciona um jeito maldoso para a mulher. Ela
tenta apagar as últimas lembranças de prazer da cabeça.
- Onde esteve esse tempo todo?
- Estava passando mal, apenas isso.
- Comeu alguma coisa?
- Acho que foi uma dessas bebidas.
Ao se levantar novamente Pamela avista Jonathan retirando-se do local,
continua triste, mas não pode voltar atrás, existe dividas da sua
família a serem pagas e apenas esse casamento é capaz.
Um segundo é o suficiente para expor o seu destino em flashbacks, os
reflexos do passado voltam em sua mente enquanto a música Secrets do
One Republic começa a tocar, os dois haviam começado a se relacionar
aos 15 anos de idade, ele usava óculos de grau devido a miopia e Pamela,
era a garota mais cobiçada da escola e avistou em Jonathan um desejo
incurável, uma paixão doce e inocente, posteriormente o garoto acabou
por se tornar um homem, bonito e inteligente, ambicionado por várias
mulheres.
Ela continuou a recepcionar os seus convidados, muitos conhecidos, mas a
sua única amiga naquele ambiente é Evelyn, se conhecem desde pequenas.
Os cabelos cacheados da dama estão amarrados em um rabo de cavalo com um
acessório brilhante, nas mãos segura apenas um copo de suco de maracujá,
detestava bebidas alcoólicas.
- Pam, tem certeza de tudo isso?
- Até você contra minha decisão?
- Vai ter uma consequência muito grande!
- Sei disso, Evelyn, mas infelizmente não tem outra escolha.
- O Jonathan está muito triste.
- Sim, conversamos agora pouco.
- Só conversaram?
Evelyn a encarou e deu uma pequena risada, sabia muito bem o que tinha
acontecido.
- Você sumiu por muito tempo, os convidados notaram.
- Não ligo para ninguém desse ninho de cobra.
- Você deve saber com quem está jogando.
Os convidados esperavam uma dúzia de palavras dos noivos em um palco com
telão onde ficava o DJ, que parou de reproduzir a música para Miguel
Xavier fazer um anúncio.
“É com grande honra do mundo que hoje, oficializo o noivado com a minha
amada Pamela Monteiro, ao seu lado vou construir uma família, poderemos
encontrar os nossos sonhos e visitar as estrelas, eu vou ser o seu homem
e você será a minha mulher.”
Todos bateram palma e Pamela o beijou e sussurrou no seu ouvido:
“Eu não quero falar nada, Miguel, ainda não me sinto bem.”
Eles sorriam para as fotos de revistas e sites importantes, um barulho
irritante começa a importunar a todos do salão, maior do que a música no
lugar, acionando todos os convidados para o lado externo, um helicóptero
circunda o espaço para finalmente pousar tranquilamente sem machucar
ninguém, quando as hélices pararam de se movimentar, as portas do
aparelho se abriram, para todos verem um homem de boa aparência, usando
uma roupa social.
- Não pode ser... É o demônio! – Afirma Amália Monteiro.
- É o meu irmão, é o Levi.
Pamela solta um sorriso imaculado de liberdade. |
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