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A mulher usando uma blusa de manga cumprida
escura, caminha lentamente pela extensão florestal, sem apresentar
nenhum tipo de medo ao transitar naquela trilha. O frio é como um
retrato da alma naquele começo de tarde, sem nenhum valor. Precisa
conversar com Jonathan, pela última vez, antes do casamento que foi
apressurado para a próxima data, Miguel tinha pressa e Pamela desgosto.
Essa não é a sua vida, esse não é o seu destino. Ela atravessa uma pista
sem nenhuma circulação de veículos, chegando a um grandioso portão
gigantesco fechado com cadeado enferrujado e acima, uma placa escrita: O
Lar dos Demônios.
Pamela retira uma chave do bolsa da calça jeans e descerra
tranquilamente o estorvo de ferro. Todos os brinquedos estavam cobertos
por grandes lonas pretas. A propriedade fora fechada há cerca de 10
anos, graças a uma falha humana, quando o funcionário responsável pela
montanha-russa não o configurou corretamente, causando a morte de onze
crianças. A população de Arraial D’ Ajuda, iniciou diversas
manifestações contra ao parque de diversões, os Monteiros decidiram
trancar os extensos portões, antes iluminados, do que sujar o sobrenome
da família.
Esse é o pequeno refúgio de Pamela, seu universo.
Jonathan estava a esperando perto do Castelo dos Horrores, usando uma
jaqueta de couro. Ele se aproxima da mulher para lhe dar um beijo, mesmo
que seja o último, deve ser o melhor de todos.
- Pamela, precisamos conversar.
- Sim.
- Você vai se casar mesmo com aquele cara?
- Isso está transcrito.
- Podemos mudar cada palavra dessa história.
- Guarde nossos momentos na sua cabeça.
- Não quero lembranças.
- Nem eu, querido, estamos frente a frente nesse momento, mas me sinto
tão distante da terra. O meu coração é um iceberg, que jamais será
esquentado, não irá ser derretido.
- E o nosso amor?
- Vamos nos acostumar com esse álgido, vai ser eterno.
- Então é isso?
- É o fim.
Ela não podia revelar nada, a exatidão pode machucar e tem o poder de
destruir o ser humano. Resta apenas recordar as fases doces, aquelas que
nunca serão retomadas. Pamela pertence a Miguel Xavier, fazendo
companhia a sua coleção de imóveis e carros de luxo, é assim que se
apresenta nesse momento, um objeto, que nunca será descartado. As mãos
do rapaz estavam quentes e macias, quando as tocou pela última vez.
Jonathan havia ido embora, deixando Pamela desacompanhada, mas nesse
momento a solidão deve ser a sua companheira. Ele não implorou milhares
de vezes, não derramou muitas lagrimas ou se ajoelhou nos seus pés, na
sua imaginação esse momento seria mais agonizante. Por um instante um
desenho do futuro surge repentinamente em sua mente, estará casada com
um dos homens mais importantes da Bahia, grávida do seu primeiro filho e
infeliz na união matrimonial, para deixar o amado vivo e ele nunca
saberá disso.
Escuta alguns passos firmes, quebrando os galhos de árvores no solo, ela
sentiu um pouco de medo, mas a voz no tom grave a deixa um pouco mais
calma, trata-se do seu irmão mais velho.
- Levi...
- Fazendo o quê nesse lugar abandonado?
- Nada ué, você está me seguindo?
- Sim, te vi caminhando pelas matas e fiquei um pouco curioso.
- Sou maior de idade e vacinada, maninho.
- Seus olhos estão tristes, tinha alguém aqui?
- Você viu alguém?
- Não.
- Então não tinha ninguém, só ia ter se você visse.
Ela deu uma pequena risada.
- Como sempre irônica.
- Desculpa.
- Eu lembro desse lugar, foi bastante importante na minha infância.
- Esse é o lar dos meus demônios. Dizem que nunca devemos alimentá-los.
- Aquele dia foi fatídico não acha? Mudou essa cidade para sempre.
Levi observa bem a irmã e isso parece deixá-la incomodada. Pamela começa
a tamborilar com os dedos e brincar com o colar do pescoço. Ela não
estava confortável e não consegue fingir paciência de permanecer naquela
área. Eles caminham um ao lado do outro, retornando para o palacete em
menos de quinze minutos, deixando os calçados no hall de entrada, um
sapato de camurça de cano baixo e um salto de sete centímetros preto.
A dama sobe a longa escadarias com facilidade, conhece cada detalhe
daquela casa, desenhada em sua memória. Não queria ser incomodada
naquele momento. Deitou-se na cama e se entregou aos sonhos, neles é
capaz de se distanciar da verdade, por mais artificial que seja. Ao
despertar dos devaneios, Pamela divisa a matriarca acariciando os seus
cabelos, Amália estava completamente diferente daquela mulher
controladora que metamorfoseou nos últimos cinco anos.
- Pamela, querida, tudo bem?
- Está mãe.
- Eu me sinto tão culpada com tudo isso, com esse casamento.
- Eu amo o Xavier.
Pamela soltou essas palavras sem nenhum prazer.
- Nós podemos conversar? Sobre qualquer coisa, minha filha. Finja que
sou sua amiga, ou melhor, finja que sou a Evelyn, ou um desconhecido,
não vou te julgar pelos seus erros. Só queria ter o poder de limpar as
suas feridas, entende? – Amália engoliu um soluço, mas não consegue
segurar as lagrimas que começam a se derramar pelos seus olhos e se
estender pelo rosto. – Eu poderia ser a melhor mãe do mundo, mas optei
por ser uma dominadora. Desculpe-me.
As pessoas cometem erros. Pamela repensou sobre a eventualidade e a sua
mãe não estava errada em alguns pontos. O fato de apresenta-la a Miguel
Xavier como sua futura noiva, para o empresário oferecer um dote e pagar
todas as dívidas, foi para proteger Pamela do mundo. O casamento com um
homem rico mostra uma estabilidade e um confiança para toda existência,
um destino digno de rainha que muitas desejam ter, mas significa por
outro lado sacrificar um amor puro e juvenil.
Elas se abraçam e lamuriaram juntas.
- Eu vou estar linda amanhã, no dia do meu casamento.
- É isso mesmo que você quer?
- Sim, eu amo o Xavier, vai ser o momento mais importante da minha
vida.
- Vai entrar para a história dessa cidade.
- Eu vou morrer de felicidade. |
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