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Música:
Ave Maria - Schubert
Um minuto de silêncio, por favor.
O caixão ainda não havia chegado no palacete da família Monteiro, era
madrugada e os instantes permanece álgido no coração de todos no
ambiente, principalmente dos parentes. Um momento realmente conturbador
na vida de qualquer ser humano, perder uma pessoa, sentir a amargura do
luto, uma ferida que nunca pode ser remendada na alma.
Amália encontra-se em estado de transe, sentada na varanda, contemplando
o oceano casando com a lua cheia. A culpa a domina por inteira, se ela
nunca tivesse inventado esse maldito casamento, será que Pamela ainda
estaria viva?
- Mãe.
Levi acaricia os braços dela, Amália segura suas mãos com forças,
puxando o filho para perto e começou a lamuriar.
- Isso é um pesadelo, querido?
- Não posso mentir.
- Eu não queria estar viva para enterrar um dos meus filhos.
Eles se abraçaram para finalmente se entregarem as lágrimas.
A casa estava lotada, quando o féretro entrou pela porta principal,
carregado por quatros homens, o serviço da funerária ascende algumas
velas e coloca uma coroa de flores na parede da sala, com uma foto da
falecida dama e por último, abriu o caixão.
Amália se aproxima lentamente e acariciou o rosto dela, eles trataram de
deixar tudo arrumado, por começar pela preparação do corpo, a vestimenta
é literalmente branca e de seda, as flores acercavam o ataúde, para um
auspicioso descanso.
- Eu não posso acreditar que isso seja verdade.
Aquela não era a Pamela é apenas uma constituição física, uma matéria e
é nisso que Amália deve acreditar agora, foi dessa maneira que encontrou
um ponto de equilíbrio no velório do marido, mas essa é a sua filha, ela
a segurou no colo, até ontem conhecia todos os seus segredos, os mais
ocultos, até ontem.
Jonathan um pouco acanhado se aproxima lentamente, ganhando um abraço
inesperado da senhora.
- Ela realmente te amava.
Levi divisa atentamente cada detalhe no hall da escadaria, Evelyn tinha
acabado de ir embora, enquanto Jonathan permanece ao lado de Amália, o
mais estranho e comentado, foi o simples fato do noivo ainda não ter
comparecido, o que fez muitos pensar: esse amor de Miguel Xavier era de
verdade?
Barbara toma um gole de água antes de começar a falar.
- Como você está?
- Menos péssimo, tudo foi rápido demais.
- O destino é assim mesmo.
- É uma dor muito grande, uma escara sem limites.
- Eu senti a mesma coisa quando perdi o meu pai.
Levi se calou por alguns minutos.
- Barbara, só vou embora quando descobrir a verdade.
- Sim e ainda tem a sua mãe, ela não pode ficar sem você neste momento.
- Seria muito solitário.
- E doloroso.
- Existe muitas coisas que preciso descobrir.
- Quem matou a Pamela devia ter um motivo.
- Qual? A Pamela nunca fez mal a ninguém!
- A beleza ás vezes é um mal, por si só.
- Ciúmes?
- Devemos colocar todos os personagens desse caso em um tabuleiro.
Miguel Xavier chegou ás cinco horas da manhã, ocultando a presença de
Jonathan Sampaio do seu campo de visão. Ele abraçou Amália e pediu para
se responsabilizar por cada despesa do velório, a senhora não conseguiu
negar o convite.
O sol brilha e a terra permanece gelada na costa baiana. O dia não está
ensolarado e nem tórrido, chove impetuosamente. Não existe nada de
positivo em enterrar alguém com dois buracos de balas no tórax. Uma vida
encurtada em menos de três décadas ao adentrar na igreja para o próprio
casamento. A polícia investiga o acontecido, mas infelizmente não
existem pistas o suficiente ou testemunhas para ajudá-los a encontrar o
homicida. De certo o caso será arquivado nos próximos meses.
No local do enterro a poucos quilômetros da cidade, a água tinha
transformada a terra próximo da cova de um metro e setenta de
profundidade num monte de lama. O caixão de Pamela e as pessoas que lhe
servem as últimas homenagens ficam numa pequena barraca improvisada, ao
lado do túmulo.
Não se fala de mais nada a respeito no município, todos comentam sobre o
crime. Nenhuma ação da polícia ou dos Monteiros passam despercebidos. No
cemitério, tinham mais curiosos do que os próprios familiares e amigos.
Levi abraça a mãe, dando um pingo de alívio e a anestesiando dos
momentos angústia, mas não consegue entender, porque Pamela não mudou a
decisão para seguir o destino ao lado de Jonathan?
- Devemos permanecer unidos!
Levi tenta manter-se impassível, mas por dentro, é como se sua alma
desabasse. Barbara Novak segura às mãos do namorado, com os óculos
escuros no rosto. Tony Federline apenas analisa tudo, como um
espectador, as pessoas choram e olham para o caixão, ele fita
atentamente ao redor para buscar alguma vertigem, um suspeito, mas nada
é encontrado.
Uma hora depois quando todos tinham ido embora, os
coveiros chegam ao meio da tempestade ocorrendo, para
plantar aquela bela mulher, de olhos castanhos e pele
morena, para sempre na terra de Arraial D’ Ajuda.
Um sonhou chegou ao fim.
Jonathan, no entanto, observa cada movimento dos
trabalhadores, segurando um fardo maior do que pode
carregar. De dentro do bolso da calça jeans retira o
envelope branco, uma carta, que tinha escrito um dia
antes do casamento.
“Sinto o cheiro do seu perfume antes de dormir Pamela,
lembro-me da nossa última transa, quando nossos corpos
se conectaram vigorosamente, vou guardar todo aquele
momento como um longa-metragem e repeti-lo para todo o
sempre. Não há como pedir perdão e apagar as decisões
erradas, mas espero que se Deus exista como todos falam,
que ele nos dê outra oportunidade. Que você se sinta
feliz ao chegar ao altar, também espero que alguém
apareça, para guiar a minha vida a partir do agora. Não
quero imaginar os momentos que não poderão acontecer,
que bem isso pode fazer? Se toda essa felicidade for
taxada como um devaneio adolescente, espero acordar vivo
e me livrar desses problemas. Nosso amor acabou, espero
que uma luz nos acompanhe agora. ”
Ass. Jonathan Sampaio. |
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