|
Mais uma vez, para a grande satisfação de Levi Monteiro
e seus sócios, é fechado um excelente contrato com um
grupo do Paraguai, na fabricação de produtos e na
abertura de um novo shopping, na cidade de San Lorenzo.
Quanto mais o governo e os empresários anseiam em
destruir essa praga chamada “pirataria”, é como se nada
os desestruturassem. A pobreza exacerbava do terceiro
mundo e o preço abaixo da média, é obviamente mais
acessível, tornando-se assim a melhor opção desses
consumidores.
- Colhemos o que plantamos.
Havia passado o dia todo atrás de pistas a respeito do
assassinato da irmã, esquecendo da sua vida pessoal, ao
subir para o quarto, encontra-se a namorada deitada na
cama, em um sono profundo. Por um instante,
amaldiçoou-se por não ter lembrado de chegar a morada um
pouco mais cedo, Barbara queria jantar com o amado.
Ele acariciou as madeixas da mulher e beijou sua
cabeça.
- Desculpe.
Ele retorna para o escritório. A escuridão toma conta de
toda a residência. Poucas luzes permanecem acesas. Levi
continua apreciando o vinho italiano, verificando alguns
gráficos de vendas pelo notebook. Olha para o relógio no
visor, três horas da manhã, como o horário passa rápido
quando se está na frente de uma máquina de
entretenimento. Levanta-se da mesa do escritório
bocejando, com a taça novamente cheia em mãos, divisa as
portas de vidro abertas e um corpo feminino no lado
externo. Anda lentamente chegando perto da matriarca,
que permanece olhando para as estrelas.
- Não consigo dormir como antes. – Ela começou a falar.
- Eu também não.
- As estrelas são como sinais, a minha filha deve estar
bem.
- A Pamela está fazendo muita falta.
- Eu me sinto literalmente quebrada por dentro, Levi.
Sem um coração, apenas uma verdadeira pedra. Tudo isso é
a minha culpa, a morte da Pamela, se não tivesse imposto
toda essa pressão.
- Uma hora irá cicatrizar.
- Expressando-se assim até parece com o Antônio. Sempre
objetivo com cada fala.
- Isso é ruim?
- Dependendo do momento.
Amália continua a choradeira nos ombros do filho.
- Preciso te contar algo Levi. – Ela se fasta
repentinamente. – Quem sabe isso, pode tirar um peso de
dentro de mim. Libertar-me desse padecimento
ininterrupto. É o meu maior segredo.
- Confie em mim.
Levi esboça um sorriso fraco, encarando-a.
- É que, eu não sou a mãe da Pamela.
Olhar a verdade escondida durante anos dentro de uma
caixa trancada a sete chaves pode-se trazer dores e
feridas. Não existe uma luz na escuridão e escolhas sem
consequências, o mundo foi dominado pelos lobos, aqueles
que nós mesmos alimentamos.
- Como desejo voltar ao passado, por pelo menos um
minuto. Gostava tanto da minha garotinha.
- A senhora acabou se esquecendo de mim. – Levi
demonstra a solidão abarcada durante anos em seu peito.
Levantando a âncora que o faz parecer seco e deixa
algumas lagrimas a deslizar por sua face e logo as
enxugam. – Por que sempre foi assim?
- Sinceramente? Eu te amo Levi, mas nunca consegui
manter um ponto de equilíbrio entre você e a Pamela.
Sempre fomos diferentes, as ideias nunca bateram e por
isso, acabamos nos distanciando.
- E de quem ela era filha exatamente? Ou foi adotada?
- Pamela é fruto de um romance do Antônio com nossa
antiga empregada, a Neide. Descobri o caso, quando
cheguei com antecedência de um passeio de Porto Seguro e
topei os dois transando na sala de estar. Enquanto você
estava chorando no segundo andar, com muita fome. Eu
tive que manter a calma e a pose. Naquela época eu só me
preocupava em meu nome, perdoei o seu pai e mantive esse
segredo, durante vinte e cinco anos.
- Inacreditável. Papai era como um herói, meu melhor
amigo.
- Nunca diminua o amor do Antônio a você e a Pamela. Ele
pode ter tido vários defeitos como marido, mas como pai,
foi excelente, o melhor. Sempre atencioso.
- Verdade. – Continua o monologo. – Mas e essa Neide?
- O meu único pedido, foi que essa vagabunda
desaparecesse da minha vida e desde então, como um
estralar de dedos. Sumiu feito uma fumaça.
- Estranho uma mãe dar a filha assim.
- Quem fez parte dessa empreitada foi o Antônio. Ele
quis criar a Pamela e com o tempo passei a sentir o amor
aflorando e quando ela me chamou de “mamãe” pela
primeira vez estava entregue a aquele rostinho
angelical. Tornou-se a minha razão de viver.
- E eu achando que sempre fui adotado.
- Desculpe-me.
- Está tudo bem, sou um homem agora e consigo enfrentar
o mundo sem a ajuda de ninguém.
- Você sempre foi assim, independente.
Os dois permanecem calados, o silêncio é quebrado por
Levi.
- Mãe. Tenho uma dúvida, mas não é nada sobre o nosso
passado.
- Continue...
- A senhora sabia sobre a relação que a Pam teve com o
Jonathan?
- Sim. Mas como você descobriu?
- Isso não é segredo para ninguém nessa cidade.
- A Pamela era apaixonada por este garoto. Eu o achava
até bonito. Mas quando começou a atrapalhar os meus
planos de pagar as dívidas, tive que a reprimir e
proibir o relacionamento.
- Estranho. Qual motivo dela entrar na igreja?
- Ás vezes acreditamos na mentira.
- Casar-se com o Miguel Xavier, por amor?
- Pamela sempre pensou no futuro, sempre foi vaidosa,
casar-se com aquele homem era um sinal de segurança e
tranquilidade para o resto da vida, cada um faz a sua
escolha.
Nos minutos posteriores à noite é finalizada com um
rápido enlace na escada, entre mãe e filho, oficialmente
estenderam a bandeira branca. Levi, no entanto, continua
com as últimas palavras em mente. Será que aquele
desgraçado, teve coragem de matar a própria noiva na
entrada da igreja? As ideias não fazem sentidos. Talvez
este não seja o assassino ou faltam provas para
persistir neste suspeito. A exaustão o consome,
finalmente entregando-se a cama macia, dormindo
rapidamente. |
|
Comentários:
0 comentários: