|
Música:
Just Breathe - Pearl Jam
O carro estaciona na frente de um barzinho na Rua Mucugê, o motorista
desce do veículo e ativa o alarme, caminhando em direção do
estabelecimento. Levi acomoda-se na cadeira na frente do balcão de
madeira e tenta relaxar, tendo como singular companhia, o garçom. São
quase duas horas da manhã e não tinha ninguém no local, exceto Levi, mas
isso não impedia de desligarem o som, que tocava excelentes músicas
nacionais e o bom atendimento, certamente aquele garçom ia ganhar uma
ótima gorjeta. Levi pediu primeiro uma caipirinha acompanhada de camarão
ao alho e óleo, no segundo copo falou para o garçom caprichar no álcool,
precisava esquecer os problemas, que acercavam sua cabeça, essa é a
noite. Quando chegou no décimo terceiro copo, tentou conter uma leve
sensação de náusea, não precisava ser fraco.
- Levi, mamãe sempre disse o quanto é ruim ficar tomando essas coisas.
Ele contempla a presença da sua irmã mais nova. Será que a bebida estava
fazendo efeito? Levi começa a delirar nos próprios pensamentos. Pamela
continua linda, utilizando
um vestido vermelho de gola cascata cobrindo todo o corpo moreno e um
salto agulha de doze centímetros.
- Não estou bem.
- Calma.
- Você está viva?
- Sim, só para você. – Ela cochicha no ouvido dele.
Os olhos de Levi foram fechando lentamente, como se não tivesse mais
controle da situação, quando desperta após um pequeno adormecimento,
repara que está dentro do quarto na sua morada, a visão continua
embaçada, mas consegue contempla uma silhueta feminina na varanda.
- Pamela...
Talvez aquele momento, seja total maluquice de seu cérebro, não tem como
ser verdade, afinal, Pamela está morta, enterrada para todo o sempre na
terra gelada do distrito. Levi resmunga quando a luz do sol inunda o
cômodo, aparentemente os toques do celular, não tinha surtido nenhum
efeito, embora não tivesse programado. Todas as chamadas perdidas eram
de São Paulo, limitou-se exclusivamente em ver os números. Está
literalmente exausto, devido à noite anterior e ainda, contém álcool em
seu paladar.
Levanta-se da cama com os olhos avermelhados, anda para
o banheiro, sentindo um embrulho no estomago, vomitando
no vaso sanitário. Tosse duas vezes e aciona a descarga.
Ele entra embaixo do chuveiro, asseando por longos
minutos, em seguida, deixa a água correr pelas costas,
mas elas não iam levar a ressaca. Depois de colocar as
vestimentas e responder algumas mensagens no e-mail, ele
desce para a cozinha, onde toma um café puro, sem
açúcar, espantando os demônios. Alguns passos fortes
ecoam pelo o corredor, a matriarca aparece o
cumprimentando.
- Acho que sonhei com a Pamela... – Ele comenta.
- Acha ou sonhou?
- Está incógnita permanece em minha cabeça.
Amália assenta na cadeira adiante da mesa, ao lado do
primogênito que começa a contar o fato sucedido em
expressões verdadeiras e detalhes minuciosos.
- Você me viu chegar ontem de madrugada?
- Não, dormi feito uma pedra.
As memórias embrionárias se misturam com o aroma doce da
cidade naquele domingo, diversos momentos do passado
esquadriam na mente da matriarca dos Monteiros.
- Levi. Existe outro segredo envolvendo o nascimento de
Pamela.
- Qual?
- Eram dois bebês. A Pamela tem uma irmã gêmea.
- Me explica isso.
- Desculpa, mas quem fez parte deste acordo foi o
Antônio.
- E a Neide? Onde mora?
- Apenas sei o sobrenome dela “Alencar” e de mais nada a
respeito.
- Droga, quando penso que algo pode ajudar, retrocede
tudo.
A campainha toca, Amália se retira da cozinha, indo
atender a porta, deixando o homem sozinho com os
pensamentos. Em seguida, a dama com os olhos azuis,
quase transparentes, surge adiante de Levi. Os lábios
dos dois se encontraram e finalmente, formaram um só.
- Eu te amo, Barbara.
- Eu também te amo.
- Desculpe-me por tudo, mas estou fazendo isso para te
proteger.
- Entendo perfeitamente, querido.
- Quando finalizar a divulgação do seu livro volte para
Los Angeles, aqui não é seguro.
- Mas você é tudo para mim.
- Quando isso acabar. Voltaremos a ser feliz, que nem
antes.
- É mesmo?
- Sim, mas a diferença que não vai ter fim. Eu, você e o
nosso bebê.
Levi coloca as mãos na barriga de Barbara, está se
sentindo tão bem, finalmente a realização do maior sonho
da vida, o de ser pai.
- Nosso menino. – Finaliza a escritora.
Eles foram feitos um para o outro, Levi sorriu com um
pouco de ironia, nunca tinha acreditado em amor
verdadeiro até encontrar ela, Barbara Novak, a mulher
por trás das palavras, que lhe fez despertar um
sentimento guardado dentro dele, um laço puro e
verdadeiro. Os dois ficaram à manhã toda brincando um
com o outro, escolhendo o nome do bebê, enquanto
escutavam o barulho das ondas. Levi ia ser um excelente
pai, levaria a criança para a escolinha de futebol,
compraria diversos brinquedos, enquanto Barbara,
brigaria com ele, por mimar demais o menininho. Depois
do almoço, Levi sentiu que precisava pesquisar um pouco
mais sobre a noite anterior, estacionou o carro na
frente do barzinho novamente, que estava completamente
diferente da noite passada com uma aparência mais
sombria, ele procurou primeiro pelo garçom, mas foi
atendido por uma mulher, a dona do estabelecimento.
- Estou procurando por um rapaz, que me atendeu muito
bem nesta última madrugada.
- Ele não está aqui.
- Está de folga ou chega mais tarde?
- Ele pediu demissão hoje de manhã.
- Por qual motivo?
- Nem eu mesma entendi, mas disse tinha que viajar com
urgência.
- De repente?
- Sim, sua mãe está um pouco doente.
- Ele trabalhava aqui faz muito tempo?
- Não. Menos de duas semanas. Ele nem quis esperar o
dinheiro.
- Uma história diferente.
- Aqui na Bahia aparece de tudo, mas porque ficou
curioso?
- É que ontem eu vi uma moça aqui, só queria que ele me
falasse quem era ela.
- Se for uma cliente conhecida, posso ver contigo.
- Acho muito impossível, mas obrigado, a senhora é muito
educada.
- Eu que agradeço e volte sempre.
Levi retirou-se do lugar e entrou novamente no carro,
dando partida, sem respostas. |
|
Comentários:
0 comentários: