CENA 01. estrada de terra.
ambiente. Exterior. Dia.
Abre na visão aérea de um jipe andando por uma estrada
de terra. Ao redor da estrada podemos ver algumas poucas
árvores.
Otávio
— (Off) Você vai sim, Giovanna.
CENA 02. carro em movimento.
ambiente. Interior. Dia.
Jardel (35 anos, cabelos escuros e cacheados e barba)
dirige o jipe enquanto Otávio (50 anos, barba e cabelos
grisalhos) fala ao celular.
Otávio
— Eu sei que você não conhece ninguém naquele lugar, mas
tenta entender. A sua presença nessa festa é muito
importante pra estreitar a nossa relação com a Dona Ana
Carolina. (Pausa) Eu só não to indo porque eu to aqui em
missão especial. Se eu encontrar o filho dela, ela me
vai ser grata pelo resto da vida. (Pausa/Suspira) Faz o
seguinte: fica uma horinha, faz a social e vai embora,
pode ser? Alô? Giovanna? (Desliga) Caiu.
Jardel
— Problemas, Otávio?
Otávio
— Sempre.
Em Otávio.
CENA 03. ap de otávio. sala. Interior. Dia.
Uma bela cobertura duplex, local amplo e bem iluminado,
os móveis predominantemente são em tons claros. Giovanna
(45 anos, cabelos castanhos ondulados, na altura dos
ombros) com roupa de festa, fala ao telefone.
Giovanna
— (Tel) Alô? Otávio? (Desliga) Droga.
Juliana (17 anos, loira, cabelos longos) desce as
escadas, ela está com roupa de festa.
Juliana
— E aí? Ligou pro pai? Ele fez você desistir da ideia de
não ir pra festa?
Giovanna
— Fez sim Juliana. A gente vai.
Juliana
— (Animada) Ótimo! Então bora!
Giovanna
— Calma que eu vou fechar as janelas da sala.
Juliana
— Pra que?! A gente mora no último andar! Ou você acha
que o Homem-Aranha vai escalar o prédio e assaltar o
nosso apartamento?
Giovanna
— Sem gracinha, Juliana.
Juliana
— Deixa de neurose! Vamos que eu não quero perder um
minuto da festa da chefa do pai.
Giovanna
— Pelo amor de Deus, Juliana! Não vai me chamar a dona
Ana Carolina de chefa! Não me racha a cara!
Juliana
— Até parece que eu vou fazer isso, né mãe? Anda!
Juliana pega na mão da mãe e praticamente a puxa para
fora do apartamento. Giovanna só tem tempo de pegar a
sua bolsa e as duas saem.
CENA 04. casa de giancarlo. sala. Interior. Dia.
Sala enorme da mansão, decoração sóbria e muito
refinada. Bianca (55 anos, cabelos castanhos, ondulados
e um pouco acima dos ombros), Giancarlo (75 anos,
cabelos e bigodes brancos) e Rogério (45 anos, careca,
mas com um pouco de cabelo nas laterais) sentados no
sofá conversando. Milena (25 anos, cabelos escuros e
ondulados na altura do peito) desce as escadas, vestida
para a festa.
Milena
— Gente, como eu sei que ninguém vai pra festa da dona
Ana Carolina, eu só passei aqui pra avisar que nós já
estamos indo. O Leandro deve tá chegando.
Bianca
— (Se levanta) Como assim nós estamos indo?
Milena
— Eu e a Yasmin. (Grita) Yasmin! Se apressa que a carona
já deve tá chegando.
Yasmin (16 anos, cabelos escuros, longos e lisos) desce
as escadas.
Yasmin
— To pronta. Como é que eu to?
Milena
– Um espetáculo, maninha.
Bianca
— (Impede) Você não vai a lugar algum, Yasmin. A sua
irmã eu não posso impedir, mas você é menor de idade e
tem que me obedecer.
Yasmin
— (Reclama) Mas mãe! Se você não foi convidada o
problema não é meu! Que culpa eu tenho das suas
implicâncias com a dona Ana Carolina? Eu quero ir.
Bianca
— Não interessa o que você quer. Eu sou sua mãe e to
dizendo que você não vai.
Milena
— Ah dona Bianca, não vem querer pagar de mãe zelosa que
esse papel não lhe cai bem.
O celular de Milena apita e ela lê uma mensagem.
Rogério
— A menina só quer curtir a festa, Bianca. Deixa ela.
Bianca
— Quer curtir festa, pois que curta numa boate na Lagoa
ou até num baile funk no Vidgal, mas na casa da Ana
Carolina não!
Yasmin
— Por que tanto ódio dela?
Milena
— Ah coração, ou você escuta a resposta ou vem comigo.
Eu já conheço e sei que é longa. O Leandro tá lá fora.
Vamos? (Pra todos) Tchau gente.
Milena e Yasmin saem para a rua.
Bianca
— (Grita) Volta aqui, garota! Eu não te dei autorização
pra sair!
Giancarlo — Para de gritar, nessa casa não tem nenhum surdo.
Bianca
— (Irritada) Mas tem muita gente que se faz, pai.
CENA 05. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Noite.
Música:
Chasing Pirates – Norah Jones.
Takes Rio de Janeiro. Último take da mansão de Ana
Carolina e alguns convidados chegando à festa.
[Música: Fade out].
CENA 06. casa de ana carolina. quarto de ana carolina.
Interior. noite.
O quarto é uma suíte. Com a porta do banheiro
entreaberta pode-se ver que ele é tão grande quanto o
quarto. Perto da cama de casal, tem uma penteadeira com
um espelho e vários objetos em cima dela. Ana Carolina
(50 anos, cabelos longos e escuros e com um porte de
mulher de classe) em frente à penteadeira com o retrato
de uma criança de uns 05 anos de idade. Luísa ao seu
lado, sentada na cama.
Ana Carolina
— (Triste) Essa foi a última foto que eu tirei do
Marcelo, depois o Alcides sumiu com ele e/ (Se corta)
Enfim, você já conhece essa história.
Luísa (55 anos, cabelos loiros e ondulados na altura dos
ombros) se levanta e abraça Ana Carolina.
Luísa
— Ô minha amiga, não fica assim! Tem uma festa linda
esperando por você lá em baixo. Afasta essa tristeza por
um instante e desce comigo. Vamos nos divertir um
pouquinho.
Ana Carolina dá um leve sorriso.
Ana Carolina
— Eu vou descer, mas a minha cabeça vai estar aqui ao
lado desse telefone, com a esperança que o Otávio me
ligue dizendo que encontrou o meu filho.
Luísa passa a mão no rosto de Ana Carolina e sorri.
Luísa
— Não pensa nisso agora. É hora de aproveitar a festa.
CENA 07. casebre. frente. Exterior. Noite.
Um jipe para na frente de um casebre de madeira rodeado
de mato. Otávio e Jardel descem do jipe.
Otávio
— Parece que é aqui.
Jardel
— Vou apertar a campainha.
Otávio
— Que campainha? Deixa de ser burro. Você acha que um
casebre como esse vai ter campainha?
Otávio começa a bater palmas.
Otávio
— Ô de casa!
Marcelo (25 anos, cabelo curto e escuro e barba por
fazer) abre a porta do casebre e vai até eles, um pouco
desconfiado.
Marcelo
— O que vocês querem?
Otávio
— Desculpe incomodar, mas o senhor é o Marcelo?
Marcelo
— Eu mesmo. E vocês quem são?
Otávio
— Meu nome é Otávio Assunção e esse aqui é o meu amigo
Jardel. Nós precisamos muito falar com o senhor, será
que a gente poderia entrar?
Em Marcelo desconfiado.
CENA 08. casa de gregório. sala. Interior. Noite.
Ampla sala de uma mansão. Ambiente amplo e com decoração
clássica. Gregório (55 anos, cabelos grisalhos e óculos)
em pé olhando para o relógio.
Gregório
— Tarsila anda logo que a gente vai se atrasar!
Tarsila (55 anos, cabelos castanhos cacheados na altura
dos ombros) desce as escadas, já arrumada.
Tarsila
— To pronta, podemos ir. (Olha em volta) Cadê a Karina?
Gregório
— E eu é que vou saber!
Tarsila
— Vou chamar ela.
Gregório
— Não demora. Se é pra ir, que seja logo. Você sabe que
eu nem queria estar pra essa festa.
Tarsila
— Mas precisa, Gregório. Você tem que ter a Ana Carolina
do seu lado pra conseguir fazer o que quer na Barão do
Alambique.
Gregório
— Eu sei disso, Tarsila... Vai chamar a Karina logo.
Tarsila
— (Subindo as escadas) E o Leandro?
Gregório
— Já foi. Ia passar na casa da Milena pra buscar ela. Há
essa hora eles já devem tá lá.
CENA 09. casa de ana carolina. sala. Interior. Noite.
Música:
Another Sad Love Song – Toni Braxton.
[Em volume um baixo]
Ampla sala, os móveis são todos muito luxuosos e
extremamente elegantes. Festa acontecendo. Alguns
convidados socializando. Clara (25 anos, cabelos
castanhos, longos e lisos, gêmea de Heloísa) conversa
com um deles. Heloísa (25 anos, cabelos castanhos,
longos e lisos, gêmea de Clara) com outro. Leandro (25
anos, cabelos castanhos e barba por fazer), Milena e
Yasmin chegam na festa.
Milena
— (Pra Yasmin) Vai dar uma circulada, mas lembra que eu
to de olho.
Yasmin se afasta dos dois.
Leandro
— Vou lá falar com as gêmeas.
Milena
— Ai, eu nunca sei quem é quem.
Leandro
— Nem eu. Conheço as duas há anos, mas sempre me
confundo.
Leandro e Milena vão até Heloísa.
Leandro
— (Abraça) Clarinha! To muito feliz em ter você de volta
no Brasil. Se bem que Europa é mil vezes melhor, mas tá
perto da família tem suas vantagens.
Heloísa
— (Ri) Ah Leandro, você é um panaca mesmo! A gente se
conhece há tantos anos e você ainda me confunde com a
Clara?
Leandro
— (Ri) Helô?! Que culpa eu tenho se vocês são tão
parecidas?
Heloísa
— É, gato. Não sei se mudou, mas você sempre foi meio
tapadinho. (Olha pra Milena) Não vai me apresentar?
Leandro
— Helô essa aqui é a Milena.
Milena
— Prazer.
As duas se cumprimentam com um beijo no rosto.
Heloísa
— (Sorri) Não sei se posso dizer o mesmo. Vamos fazer
assim: depois que eu te conhecer melhor eu digo se foi
um prazer te conhecer ou não.
Milena olha para Leandro sem saber o que falar. Heloísa
ri.
Heloísa
— To brincando, gente. (Pra Leandro) Escolheu bem, Lê.
(Pra Milena) Já pra você não sei se posso dizer o mesmo.
Divirtam-se.
Heloísa se afasta dos dois.
Milena
— Ela é sempre assim? Debochada?
Leandro
— Digamos que ela voltou muito pior.
Heloísa se aproxima de Clara.
Heloísa
— E aí maninha? Curtindo a festa?
Clara
— Tá o máximo, não tá?
Heloísa
— (Irônica) Ô!
Clara
— Você viu a tia Ana?
Heloísa
— Não. Se você que é a queridinha dela não sabe, imagina
eu. Agora da licença que eu vou ver se tem alguém
interessante nessa festa.
Heloísa se afasta de Clara. Leandro e Milena se
aproximam.
Leandro
— Clarinha!
Clara
— (Sorri) Leandro! (Abraça) Quanto tempo!
Leandro
— Muitos, acho que faz uns 5 anos no mínimo.
Clara
— Será? Acho que mais.
Leandro
— Pode ser, mas eu não me esqueci de você. Tanto que não
te confundi com a sua irmã.
Clara
— (Ri) Deixa de ser mentiroso! Eu vi você falando com a
Helô. (Olha para Milena) Sua namorada?
Leandro
— Milena.
Clara abraça Milena.
Clara
— Oi Milena. Espero que você aproveite a festa. Vocês
dois. (E se afasta).
Milena
— Nossa! Como elas são diferentes!
Leandro
— De iguais elas só tem o rosto, porque de resto...
Enquanto a Clara é um rio tranquilo, a Heloísa é um
vulcão prestes a explodir.
Milena
— De onde vocês se conhecem, mesmo?
Leandro
— A Clara é afilhada da tia Ana Carolina. Depois que a
Luísa, mãe das duas se separou e passou a beber feito
uma condenada, a tia Ana praticamente criou as duas.
Milena
— E o Bernardo?
Leandro
— O Bernardo morava com o pai. (Aponta) Olha ele ali.
Milena e Leandro vão até Bernardo (22 anos, cabelos
castanhos e cacheados).
Leandro
— (Cumprimenta Bernardo) E aí garoto! O que tá achando
da volta das irmãzinhas.
Bernardo
— Por enquanto não to achando nada. Só to rezando pra
que a Heloísa não fique me infernizando.
Leandro
— E a tia Ana? Você viu por aí?
Bernardo
— Até agora nada.
[Música: Fade out].
CENA 10. casa de ana carolina. quarto de ana carolina.
Interior. Noite.
Ana Carolina arrumada para a festa. Luísa ao seu lado.
Luísa
— Vamos?
Ana Carolina acena positivamente com a cabeça. Luísa sai
na frente e Ana vai atrás, mas antes dá uma rápida
olhada para o telefone.
CENA 11. casebre. sala. Interior. Noite.
Na sala apenas alguns bancos, uma mesa e uma rede.
Marcelo
— (Se senta) Se a conversa for demorada, podem ir
puxando uma cadeira.
Otávio e Jardel puxam um banco e sentam.
Otávio
— Então Marcelo, se você nos permitir, a gente queria
contar uma história pra você.
Marcelo
— (Sério) To ouvindo. Pode falar.
Otávio
— Eu sou advogado e trabalho para a Dona Ana Carolina
Mascarenhas, ela era casada com um respeitado empresário
do ramo de bebidas alcoólicas, tinham uma vida feliz. Um
dia o marido dela desapareceu, sumiu do mapa e levou
junto o filho deles. A dona Ana Carolina dedicou a sua
vida na busca pelo marido e pelo filho. Vinte anos de
procura, senhor Marcelo. Sabe o que é isso?
Marcelo
— (Sério) Triste a história dessa senhora, mas o que eu
tenho a ver com isso?
Otávio
— Calma, nós já vamos chegar neste ponto. Bom,
continuando: a dona Ana Carolina gastou rios de dinheiro
contratando os melhores detetives pra encontrar o filho
e o marido, mas todos os investimentos foram em vão.
(Pausa/Tom) Senhor Marcelo, o seu pai ainda é vivo?
Marcelo
— Não, morreu faz alguns anos. Por quê?
Otávio
— E como era o nome dele?
Marcelo
— Alcides. (Insiste) Por que vocês tão querendo saber
isso?
Otávio
— O senhor por acaso tem alguma certidão de nascimento,
documento de identidade ou algo do tipo?
Marcelo
— Acho que tenho.
Otávio
— O senhor poderia ir buscar?
Marcelo
— Tá, mas vocês vão ter que esperar. Vou ter que
procurar. (Se levanta).
Otávio
— Não temos pressa.
Marcelo entra no seu quarto. Otávio e Jardel se olham,
ansiosos.
CENA 12. casa de ana carolina. sala. Interior. Noite.
Festa acontecendo. Música ao fundo. Ana Carolina e Luísa
descem as escadas. Clara vai até Ana Carolina e a
abraça.
Clara
— Madrinha! Tá linda a festa, eu to adorando.
Ana Carolina
— Que bom, querida. Eu fiz ela especialmente pra
comemorar a sua volta.
Ana Carolina olha para Heloísa que está por perto.
Ana Carolina
— Aliás, essa festa é pra vocês duas.
Heloísa
— (Falsa) Claro tia.
Leandro vai até Ana Carolina.
Leandro
— Oi tia, tava mesmo perguntando pela senhora.
Ana Carolina
— Oi Leandro. Não vi seus pais ainda.
Leandro
— Não chegaram. Eu vim antes com a Milena e com a irmã
dela. Eles dois e a Karina já devem tá chegando.
Ana Carolina
— Ótimo, então aproveita que não é sempre que eu faço
esse tipo de festa na minha casa.
Leandro
— (Sorri) Eu sei disso.
Ana Carolina vê um garçom servindo uma taça de champanhe
para Luísa. Ana vai até ela e toma a taça de champanhe
da mão de Luísa.
Luísa
— Só uma! Qual é o problema?
Ana Carolina
— Nem uma. Você sabe disso.
Corte contínuo: Yasmin vai até Leandro.
Yasmin
— Cadê a Karina? Você não disse que ela vinha?
Leandro
— Deve tá chegando. O pessoal lá em casa é meio enrolado
mesmo.
Corte contínuo: Giovanna e Juliana chegam à festa.
Juliana
— (Se afastando) Vou ver se encontro alguém por aí.
Giovanna vai até Ana Carolina cumprimentá-la.
Corte contínuo: Milena e Leandro com uma taça de
champanhe na mão. Yasmin se aproxima dos dois.
Milena
– Encontrou alguém?
Yasmin
– Ainda não.
Milena
— Aquela lá não é a Juliana, sua colega? Vai lá falar
com ela, vai. E não se esquece que eu to de olho!
Yasmin se afasta para ir até Juliana. Discretamente
Leandro olha para Juliana, que está conversando com Yasmin. Juliana percebe o olhar dele e retribui com um
sorriso.
Corte contínuo: Ana Carolina fala com um empregado.
Ana Carolina
— Alguém ligou pra mim.
Empregado — Não, senhora.
Ana Carolina agradece e o empregado se afasta.
Nela ansiosa.
CENA 13. casebre. sala.
Interior. Noite.
Otávio e Jardel sentados. Marcelo vem do quarto com um
papel em mãos.
Marcelo
— Tá aqui a minha certidão de nascimento.
Marcelo entrega a certidão para Otávio, que a lê e
depois entrega para Jardel, que faz o mesmo. Os dois se
olham.
Otávio
— Senhor Marcelo, lembra do menino da história que nós
acabamos de contar?
Marcelo
— Sim. O quê que tem?
Otávio
— Esse menino é o senhor.
Marcelo
— (Surpreso) Como é que é?
Otávio
— A sua certidão de nascimento só confirmou o que já
tínhamos quase certeza: O senhor é Marcelo Mascarenhas,
herdeiro de uma das maiores fortunas do Rio de Janeiro.
Em Marcelo surpreso.
CENA 14. casa de ana carolina. sala. Interior. Noite.
Festa acontecendo. Música ao fundo. Gregório, Tarsila e
Karina (13 anos, cabelos castanhos, longos e lisos).
Leandro vai até eles.
Leandro
— Demoraram, hein?
Gregório
— Culpa da sua irmã que demorou.
Karina
— (Reclama) Tudo é culpa minha, né?
Leandro
— Não enche, peste. Vai procurar as suas amigas e vaza
daqui.
Karina se afasta.
Gregório
— Como estão as coisas por aqui?
Leandro
— Uma monumental chatice. Mas eu puxei o saco da tia Ana
dizendo que a festa tava ótima.
Gregório
— (Ri) Fez a lição de casa direitinho. (Tom) É melhor a
gente ir lá falar com ela.
Gregório e Tarsila vão ir falar com Ana Carolina, mas
antes ela sobe alguns degraus da escada e faz sinal pra
música parar. Todos olham para ela.
Ana Carolina
— Desculpe interromper a música, mas é só para dizer
algumas palavrinhas. É coisa rápida. Eu só queria falar
que eu estou muito feliz que a pessoa que me deu tantas
alegrias esteja de novo perto de mim. Assim como a vida
me tirou um filho, ela tratou e me dar uma filha. (Pra
Clara) Você sabe o quanto eu gosto de você. (Pra
Heloísa) Alias, de vocês duas... Bom, é isso, aproveitem
a festa.
Música volta a tocar. Clara vai até Ana Carolina e a
abraça.
Clara
— Eu também gosto muito de você.
Heloísa observa tudo com um pouco de ciúmes.
CENA 15. casebre. sala. Interior. Noite.
Continuação da cena 13. Marcelo não acredita no que
acabou de escutar.
Marcelo
— (Ri) Eu herdeiro? Eu não sou herdeiro de nada, doutor.
Meu pai com muito esforço conseguiu comprar esse pedaço
de chão. Por muitos anos a gente só comia o que
plantava, eu sou um homem da terra assim como era meu
pai: um homem simples e não esse empresário magnata da
cachaça que vocês falaram.
Otávio
— Aí é que você se engana, senhor Marcelo. Seu pai era
um homem muito rico, mas por circunstâncias que até hoje
não foram esclarecidas, ele sumiu com você.
Marcelo
— E por que diabos eu iria acreditas numa história
absurda dessas?
Otávio tira do bolso uma foto de Alcides e Ana Carolina
jovens junto de um bebê.
Otávio
— O senhor reconhece esse homem da foto?
Marcelo toma a foto das mãos de Otávio e a olha com
muita atenção.
Marcelo
— É o meu pai. Mais novinho, mas é o meu pai.
(Intrigado) De onde vocês tiraram essa foto.
Otávio
— A sua mãe que nos deu. (Mostra) Essa mulher aqui na
foto é ela e esse bebê é o senhor.
Marcelo se levanta da cadeira e começa a andar pela
sala.
Marcelo
— Isso não pode ser verdade.
Otávio
— Mas é. Você é rico e herdeiro da Barão do Alambique,
uma das maiores marcas de cachaça do Brasil.
Marcelo
— Por que meu pai fez isso comigo? Ele disse que a minha
mãe tava morta, que era só nos dois.
Otávio
— Não tente relutar contra os fatos. Você é a pessoa que
nós estamos procurando.
Marcelo
— Tá certo, se eu for mesmo essa pessoa, o que vai
acontecer?
Otávio
— Você vai vir com a gente. Ou você não quer conhecer a
sua mãe?
Marcelo olha para a foto, um pouco tocado.
Marcelo
— (Emocionado) Minha mãe? A mãe que eu achava que tava
morta?
Otávio
— Ela tá viva e ansiosa pra lhe dar um abraço. (Pausa)
Posso ligar pra ela dizendo que você está voltando?
Marcelo fica um tempo em silêncio olhando para a foto,
até que finalmente responde.
Marcelo
— Pode.
Otávio
— (Sorri) Excelente escolha! Bem se vê que você é um
homem decidido, assim como era o seu pai.
Jardel
— (Baixo/Pra Otávio) Que história é essa, Otávio? Você
nunca conheceu o Dr. Alcides.
Otávio
— (Baixo) Cala a boca, Jardel. (Pra Marcelo) Eu vou
ligar para a sua mãe contando das novidades.
Marcelo
— Se quiser ligar vai ter que ir pra rua. Aqui o sinal é
péssimo.
Otávio vai para a rua. Em Marcelo olhando para a foto.
CENA 16. casa de ana carolina. sala. Interior. Noite.
Festa acontecendo e música tocando. Um empregado se
aproxima de Ana Carolina.
Empregado — Dona Ana Carolina. Dr. Otávio no telefone.
Ana Carolina
— (Sorri) Vou atender lá em cima. Obrigada.
Ana Carolina sobe as escadas.
CENA 17. casa de ana carolina. quarto de ana carolina.
Interior. Noite.
Ana Carolina fecha a porta e atende o telefone.
Ana Carolina —
(Tel) Otávio? Me diga que você tem boas notícias.
CENA 18. casebre. frente. Exterior. Noite.
Otávio falando ao celular.
Otávio
— (Cel) Ótimas notícias, dona Ana Carolina. Pode
comemorar! Nós encontramos o Marcelo! (Pausa) Sim, tenho
certeza. Ele mostrou a certidão de nascimento e também
reconheceu a foto do Dr. Alcides. (Pausa) Sim, dona Ana
Carolina, amanhã mesmo nós estamos embarcando para o Rio
e/ Alô? (Desliga) Caiu.
CENA 19. casa de ana carolina. quarto de ana carolina.
Interior. Noite.
Ana Carolina desliga o telefone, muito emocionada. Ela
pega um retrato onde está uma foto de Marcelo com uns
4/5 anos e chora.
Ana Carolina
— Finalmente eu vou conseguir te rever, meu amor. Todos
esses anos de procura e sofrimento vão acabar.
Ana Carolina aperta a foto contra o seu peito e se apoia
na cômoda, um pouco tonta. Faz uma expressão de dor e
larga o retrato em cima da cômoda. Com dificuldade, vai
até a porta e abre. No corredor ela vê Heloísa passando.
Ana Carolina
— (Ofegante) Helô!
Heloísa entra no quarto e vê Ana Carolina passando mal.
Heloísa
— O que tá acontecendo tia? Você tá com uma cara
estranha!
Ana Carolina
— Eu não to passando bem, querida. Chama alguém, por
favor, eu/
Ana Carolina se agarra em algum móvel para não cair no
chão. Heloísa se aproxima dela.
Heloísa
— (Séria) Agora você quer a minha ajuda, né? A vida
inteira você preferiu a Clara. Tudo pra ela e pra mim
nada. (Com ódio) Por mim você pode ter um ataque aí no
chão que eu não vou levantar um dedo pra te ajudar.
Sempre me preteriu e agora quer que eu vá chamar médico?
Da próxima vez, pensa bem antes de menosprezar os
sentimentos dos outros. (Pausa) Se é que vai ter uma.
Ana Carolina
— (Dor) Do que você tá falando, Heloísa? Eu sempre
gostei de vocês da mesma maneira e nunca te menosprezei.
Isso é loucura sua.
Heloísa
— Mentira! Você só me aturava porque eu era irmã da sua
queridinha.
Heloísa se abaixa e sussurra no ouvido de Ana Carolina.
Heloísa —
Quer ajuda? Vai se arrastando chamar ela... Titia.
Heloísa sai, deixando Ana Carolina passando mal.
CENA 20. CASA DE ANA CAROLINA. SALA. Interior. Noite.
Música tocando. Heloísa desce as escadas calmamente e
aumenta o volume da música.
Heloísa
— Tá na hora de agitar essa festa.
Corte contínuo: Luísa vai até Clara.
Luísa
— Você viu a sua tia?
Clara
— Eu vi ela falando com um empregado e depois sumiu.
Corte contínuo: Giovanna fala com Juliana.
Giovanna
— Daqui a pouco a gente vai embora.
Juliana
— (Reclama) Mas a gente mal chegou!
Giovanna
— Não discute.
Corte contínuo: Luísa vê Ana Carolina no alto da escada.
Heloísa fica apreensiva ao ver Ana lá.
Luísa
— Ana? Tá tudo bem?
Ana Carolina põe a mão no peito, desmaia e rola escada a
baixo. Explosão de closes em todos os presentes.
CENA 21. casebre. sala. Interior. Noite.
Marcelo e Jardel por ali. Otávio entra da rua.
Otávio
— Tudo certo, amanhã mesmo a gente embarca para o Rio de
Janeiro.
Marcelo
— E eu finalmente vou conhecer a minha mãe.
Marcelo vai para a janela e fica observando o céu
estrelado.
Marcelo
— (Sorri) Tá bonita a noite hoje, né doutor?
Otávio
— Muito. (Tom) Senhor Marcelo/
Marcelo
— (Corta) Para de me chamar de senhor. Eu não sou senhor
de ninguém.
Otávio
— Certo. Marcelo será que a gente poderia dormir aqui
hoje? Já está escuro e a gente não conhece muito bem a
estrada.
Jardel olha surpreso para Otávio.
Jardel
— (Baixo) Você tá louco? Dormir nessa choupana?
Otávio
— (Baixo) Agora que eu encontrei ele, não largo mais.
Esse homem é a minha mina de ouro.
Jardel
— (Baixo/Corrige) Nossa mina.
Marcelo
— (Da janela) Sem problemas. Tem uns dois colchões
velhos que dormiam eu e meu pai. Podem ficar com eles
que eu durmo na rede.
Em Marcelo olhando para as estrelas.
CENA 22. casa de ana carolina. sala. Interior. Noite.
Ana Carolina aos pés da escada, estirada no chão. A
música para de tocar. Os convidados vão se aproximando
ao redor do corpo. Heloísa sorri de canto, enquanto
Clara e Luísa acodem Ana Carolina.
Luísa
— (Sacode) Amiga! Reage!
Clara
— Para de sacudir, mãe! Pode piorar a situação dela.
(Grita) Alguém chama um médico.
Gregório se aproxima do corpo e checa os sinais vitais.
Clara
— Chama um médico, Gregório.
Gregório encara Clara e Luísa.
Gregório
— Infelizmente a gente não pode fazer mais nada. Ela tá
morta.
Clara começa a chorar descontroladamente e abraça Luísa,
que também chora. Gregório se afasta do corpo e vai até
Tarsila.
Tarsila
— (Baixo) Já posso parabenizar o novo presidente da
Barão?
Gregório
— (Baixo) Mais tarde.
Corte contínuo: Milena e Yasmin chocadas com a cena.
Milena
— Ta na hora de você ir pra casa.
Yasmin
— Que? Mas, Milena eu quero saber o que vai acontecer.
Milena
— Deixa de ser mórbida, você não tem que saber nada. A
barra pesou, a festa acabou.
Milena chama Leandro, que se aproxima das duas.
Milena
— Você vai ficar?
Leandro
— Acho que vou. Eu preciso ver com o meu pai o que a
gente vai fazer agora. Você quer ir?
Milena
— Mais pela Yasmin.
Yasmin
— Por mim não.
Leandro
— Tá. Eu acho que a mãe também vai querer que a Karina
vá embora.
Yasmin
— Então eu vou com ela e aproveito e durmo por lá. Algum
problema?
Leandro
— Por mim tudo bem. Só vê com ela.
Yasmin
— Ótimo! Aí eu já adio a bronca da mãe.
Milena
— Tá, mas pelo amor de Deus liga pra casa e avisa que
você vai dormir fora, porque se não vai acabar sobrando
pra mim.
Yasmin
— Tá bom, eu ligo. (Se afastando) Beijos.
Corte contínuo: Giovanna desliga o celular.
Giovanna
— E o Otávio que não atende esse celular... Ele vai cair
pra trás quando souber disso.
Clara e Luísa agachadas em volta do corpo de Ana
Carolina.
Clara
— E agora, mãe?
Luísa
— Agora ela se foi, filha. Só nos resta rezar pela alma
dela.
Gregório se aproxima.
Gregório
— E tomar as providências pro velório e enterro. Mas
pode deixar que eu me encarrego disso.
Discretamente, Luísa sobe as escadas.
CENA 23. casa de giancarlo. quarto de bianca e rogério.
Interior. Noite.
Quarto de casal amplo. Uma das portas é o banheiro e na
outra o closet. Perto da cama de casal, se encontra uma
confortável poltrona. Rogério deitado na cama lendo um
livro. Bianca em pé caminhando pelo quarto.
Bianca
— Quando a Yasmin voltar ela vai se ver comigo. Vai
ficar até de castigo até os bisnetos dela se
pós-graduarem.
Rogério
— Não precisa desse escândalo todo, Bianca. É só uma
festa. O quê que tem de mais?
Bianca
— Como assim, Rogério? É na casa da Ana Carolina!
(Pausa) Tudo isso é culpa da Milena que fica colocando
minhoca na cabeça da irmã.
Rogério
— Deixa de bobagem.
O telefone toca.
Bianca
— Elas vão ver que não é bobagem quando voltarem.
(Irritada) Será que não tem nenhum empregado pra atender
o telefone?
Rogério
— Olha o horário. Eles são empregados e não escravos.
Bianca
— Claro que não. Incompetentes do jeito que são, iam
passar o tempo todo no tronco.
Rogério
— Deixa que eu atendo. (Atende o tel) Oi filha... Sei...
Tá... E como foi isso?... Tá bom, amanhã a gente se
fala, beijos. (Desliga)
Rogério fica com uma expressão séria.
Rogério
— A Yasmin disse que vai dormir na casa da Karina.
Bianca
— Quer fugir do castigo, mas não vai conseguir.
Rogério
— A Ana Carolina morreu.
Bianca
— (Surpresa) O que?!
Rogério
— Foi isso que ela falou no telefone. Ela teve um treco
no meio da festa, rolou escada a baixo e morreu.
Bianca se surpreende com a notícia e se senta.
CENA 24. casa de ana carolina. quarto de ana carolina.
Interior. NOITE.
Luísa entra no quarto, muito triste. Olha para tudo em
volta, vai até a caixinha de joias e pega um anel. Luísa
guarda o anel na bolsa.
Música:
Say you say me – Lionel.
CENA 25. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Dia.
Música:
Say you say me – Lionel.[Continua].
Takes da cidade, praias etc. Como a história se passa
entre São Conrado, Gávea e Laranjeiras, podemos explorar
estes bairros. Último take é da fachada do cemitério.
CENA 26. CEMITÉRIO.
ambiente. Exterior. Dia.
Música:
Say you say me – Lionel.[Continua].
Cortejo fúnebre de Ana Carolina. Presentes acompanhando
o caixão: Gregório, Tarsila, Leandro, Milena, Clara,
Luísa, Heloísa, Rudá (27 anos, cabelos castanhos e barba
rala) e mais vários figurantes. Ao chegar na sepultura,
o Padre faz um breve discurso e no final o caixão e
colocando dentro do túmulo.
Música:
Say you say me – Lionel.[Fade Out].
CENA 27. avião. ambiente.
Interior. Dia.
Avião voando. Sentados lado a lado: Jardel, Otávio e
Marcelo. Jardel e Otávio olham para Marcelo que segura
firme no apoio da poltrona.
Otávio
— Tá tudo bem, Marcelo?
Marcelo
— (Nervoso) Como é que pode tá tudo bem se a gente tá
num treco que voa sem bater assas? Tem coisa mais
estranha que isso?
Otávio e Jardel seguram o riso.
Jardel
— Senta aqui na janela. A vista é linda.
Marcelo
— Tá doido! Não quero nem chegar perto disso aí.
Otávio
— Não precisa se preocupar. O avião não vai cair.
Marcelo
— Tomara.
Marcelo fica cada vez mais nervoso, Otávio e Jardel se
divertem.
CENA 28. ap de otávio. sala. Interior. Dia.
Otávio e Marcelo entram da rua com algumas malas.
Otávio
— Giovanna, Ju! Cheguei!
Giovanna
— (Descendo as escadas) Que bom que você chegou, Otávio.
Você não sabe o que aconte/
Otávio
— (Corta) Deixa eu te apresentar o Marcelo, o filho da
Ana Carolina.
Giovanna
— (Surpresa) Você achou ele?
Otávio
— Achei. Marcelo, essa é Giovanna, minha esposa.
Marcelo
— (Cumprimenta) Prazer, senhora.
Giovanna
— Otávio, você/
Otávio
— (Corta) E a Juliana cadê? (Grita) Juliana!
Giovanna
— Otávio me escuta/
Otávio
— (Não escuta) Essa mania de ficar com o fone de ouvido
a todo volume, acaba não escutando a gente chamar.
Giovanna
— Presta atenção, Otávio!
Juliana
— (Descendo as escadas) Que foi?
Otávio
— Eu quase perdendo a voz de tanto gritar e você não
vem? Queria te apresentar o Marcelo, o filho da Ana
Carolina.
Juliana acenda para Marcelo que fica olhando para a
escada.
Marcelo
— Olha só, como é que pode ter uma escada dessas dentro
de um apartamento. Nunca vi um troço desses.
Giovanna e Juliana se olham.
Juliana
— (Ri/Baixo para Otávio) Pai, de onde veio esse caipira?
Otávio
— De onde ele veio não importa. E sim pra onde ele vai
nos levar.
Juliana
— (Não entende) Como assim?
Otávio
— Deixa pra lá. (Pra Marcelo) Marcelo, eu vou resolver
uns problemas no meu escritório e início da noite a
gente vai à casa da sua mãe, pode ser?
Marcelo
— Pode ser. Eu vou esperar ansioso.
Otávio
— Isso, mas espera.
Giovanna
— Otávio, eu preciso falar com você!
Otávio
— (Saindo) Agora não, Giovanna. Eu fiquei muito tempo
fora do escritório, preciso saber como estão as coisas.
Fiquem de olho nele.
Otávio sai para a rua. Marcelo vai se aproximando
lentamente da janela, enquanto Juliana observa a cena.
Marcelo olha para a janela, um pouco receoso.
Marcelo
— Vocês não tem medo de cair dessa janela tão alta?
Juliana põe a mão no rosto, não acreditando no que está
ouvido.
CENA 29. barão do alambique. fachada do prédio.
Exterior. Dia.
Take da fachada de um prédio de 5 andares. Funcionários
entram e saem do prédio, a maioria deles executivos
engravatados. Na frente podemos ver o logo da empresa:
BARÃO DO ALAMBIQUE.
CENA 30. barão do alambique. ANTESSALA. Interior. Dia.
Um ambiente amplo com um espaço de circulação. Ali
também está a mesa das secretárias. Gregório entra e
todos os funcionários se levantam.
Gregório
— Bom dia a todos, eu sei que hoje é um dia muito
difícil devido à perda da minha cunhada e sócia da
empresa Ana Carolina. Infelizmente ela não está mais
entre nós e eu conto com a colaboração de todos você
para manter a produção a todo vapor.
Gregório entra na sua sala.
CENA 31. barão do alambique. sala de gregório. Interior.
Dia.
Gregório entra na sala, larga a pasta e se joga na sua
cadeira.
Gregório
— (Sorri) Foi Deus que empurrou a Ana Carolina daquela
escada. Sem marido nem filhos, essa empresa agora vai
ser só minha.
CENA 32. ap de otávio. sala. Interior. Dia.
Marcelo olha para a janela e Giovanna olha para Marcelo.
Marcelo
— Será que o Otávio vai demorar?
Giovanna
— Não faço ideia. (Tom) Me diz uma coisa, Marcelo. Onde
é que você tava esse tempo todo que nunca ninguém
encontrou vocês?
Marcelo
— Tava onde eu tive a minha vida toda: na minha casa.
Giovanna revira os olhos, impaciente.
Marcelo
— A senhora sabe onde fica a casa da minha mãe.
Giovanna
— Na Gávea.
Marcelo
— E a gente tá onde?
Giovanna
— Laranjeiras.
Marcelo
— E é muito longe?
Giovanna
— Meia hora de carro, dependendo do trânsito. De ônibus
um pouco mais.
Marcelo põe a mão no bolso e tira alguns trocados.
Marcelo
— Acho que isso dá pra pagar a condução.
Giovanna
— O que você vai fazer?
Marcelo
— Ir atrás da minha mãe. A senhora não disse que ela
mora nessa tal de Gávea? Eu vou até lá e procuro a casa
dela. As pessoas devem conhecer ela.
Giovanna
— Mas Marcelo! Lá não é um vilarejo onde todo mundo se
conhece! Essa sua tática não vai dar certo! Espera o
Otávio voltar.
Marcelo
— (Saindo) Não, dona. Eu achava que a minha mãe tava
morta. Não vou esperar mais um minuto pra ver ela.
Giovanna
— Marcelo espera!
Marcelo já saiu. Em Giovanna aflita.
CENA 33. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Sala com decoração moderna. Um sofá e algumas poltronas
também fazem parte da decoração. A sala dá para a
cozinha e para o corredor onde está os 4 quartos do
apartamento.
Clara num canto com os olhos inchados de tanto chorar.
Heloísa olha fazendo pouco caso.
Clara
— Coitada da madrinha. Não merecia ter o fim que teve.
Heloísa
— Deixa de drama, Clara. Foi triste a tia ter morrido?
Foi, mas a vida continua, não dá pra ficar choramingando
pelos cantos.
Luísa vem do se quarto.
Luísa
— Deixa a sua irmã, Heloísa. É bom colocar pra fora a
dor que a gente tá sentido.
Heloísa
— Só não chora muito, que vai acabar causando
infiltração no apartamento do vizinho de baixo.
Luísa
— E o Bernardo cadê?
Clara
— (Enxuga as lágrimas) Saiu.
CENA 34. ruas da gávea.
ambiente. Exterior. Dia.
Música:
More than I can say – Leo Sayer.
Marcelo salta do ônibus. Cortes descontínuos de Marcelo
abordando as pessoas na rua e fazendo perguntas, muitas
delas dão respostas negativas, mas a maioria olha para
Marcelo com desprezo e o ignoram por causa de suas
roupas velhas. Mesmo assim, Marcelo parece estar
decidido em encontrar a casa da sua mãe.
Música:
[Fade Out]
CENA 35. ap de otávio. sala. Interior. Dia.
Otávio entra da rua e vê Giovanna sozinha.
Otávio
— Cadê o Marcelo?
Giovanna
— Foi atrás da casa da mãe.
Otávio
— (Susto) Que?! E você deixou?!
Giovanna
— Me poupe, Otávio! Olha pro tamanho daquele capiau e
diz se eu ia conseguir impedir ele de fazer alguma
coisa?
O tom de discussão entre os dois vai aumentando.
Otávio
— (Irritado) Você é uma imprestável mesmo!
Giovanna
— Em vez de ficar me xingando, você deveria ter ficado
aqui pra cuidar dele. Eu não sou babá de ninguém.
Otávio
— Ter ele nas nossas vistas era de nosso interesse, sua
burra!
Giovanna
— Burro é você! Um burro surdo! Eu to tentando ter falar
uma coisa desde que você chegou e não consigo!
Otávio
— Falar o quê, criatura?
Giovanna
— A Ana Carolina ta morta.
Otávio
— (Surpreso/Calmo) O quê? Como assim morta?
Giovanna
— Morta no único sentido que a palavra oferece. Teve um
treco no meio da festa e morreu.
Otávio
— O Marcelo sabe disso?
Giovanna
— É claro que não, mas se ele encontrar a casa dela vai
ficar sabendo.
Otávio
— Eu não posso deixar que isso aconteça.
Otávio sai para a rua apressado.
CENA 36. ruas da gávea.
ambiente. Interior. Dia.
Música:
More than I can say – Leo Sayer.
Marcelo caminha pela rua, distraído olhando para a foto
da sua mãe que Otávio lhe deu. Marcelo esbarra em Rudá.
Música:
[Fade Out].
Marcelo
— Desculpa eu tava distraído.
Rudá
— Não foi nada.
Os dois seguem seus caminhos, mas Marcelo se vira e
chama Rudá.
Marcelo
— Espera. (Vai até ele) Será que você podia me ajudar?
Rudá
— No que?
Marcelo
— To procurando a casa da minha mãe. Disseram que ela
mora por aqui. O nome dela é Ana Carolina.
Rudá
— Eu conheço uma Ana Carolina, mas não deve ser a mesma
pessoa.
Marcelo
— Eu tenho uma foto.
Marcelo mostra a foto para Rudá, que sorri.
Rudá
— (Sorri) Marcelo?! Você é o Marcelo. (Abraça ele). A
sua mãe passou a vida inteira procurando você e o Dr.
Alcides.
Marcelo
— Você sabe onde é a casa dela?
Rudá
— Sei.
Marcelo
— Então me leva para lá agora.
Rudá concorda com Marcelo.
CENA 37. casa de ana carolina. frente. Exterior. Dia.
Marcelo e Rudá chegam à frente da mansão. Marcelo olha
pra tudo, muito impressionado. Eles se deparam com um
grande portão de ferro que impede a entrada no local.
Marcelo
— Que casa linda.
Rudá
— Meus pais trabalharam por muitos anos pra dona Ana
Carolina.
Marcelo
— Eu quero entrar.
Rudá aperta a campainha. Tempo e um vigia se aproxima do
portão.
Vigia
— Eu to reconhecendo você: Rudá?
Rudá
— Eu mesmo. Será que você poderia deixar a gente entrar.
Esse aqui é o filho da dona Ana Carolina e ele quer ver
a casa.
Vigia
— (Olha pra Marcelo) Filho, não sabia que ela tinha
filho.
Rudá
— Ele tava desaparecido, é uma longa história, mas
depois eu conto. Agora, por favor, deixa a gente entrar.
Vigia
— Desculpa Rudá, mas o Dr. Gregório deu ordens pra não
deixar ninguém entrar.
Entre as grades, Marcelo pega o Vigia pelo pescoço.
Marcelo
— Escuta aqui! Eu não sei quem é esse sujeito que deu
ordens pra ninguém entrar, mas eu vou entrar sim! Nem
que pra isso eu tenha que arrancar teus bago fora.
Vigia
— Calma, a gente pode conversar.
Marcelo
— Não tem conversa. A casa é da minha mãe e eu quero que
você abra essa porta agora. Ou prefere ficar falando que
nem mocinha?
Assustado, o vigia abre o portão. Rudá e Marcelo entram.
CENA 38. barão do alambique. sala de gregório. Interior.
Dia.
Gregório sentado na sua cadeira. Escutam-se leves
batidas na porta e Leandro entra.
Gregório
— Chega mais, filho.
Leandro
— (Senta) E aí pai? Pronto pra tomar posse de tudo isso?
Gregório
— Eu espero por esse dia desde que o Alcides sumiu com o
Marcelo. Agora isso tudo vai ser nosso, Leandro.
O telefone toca. Gregório atende.
Gregório
— (Tel) Sim? Pode passar (Pausa) Qual é o problema?
(Surpreso) O que?! E você deixou entrarem? (Pausa) Seu
imprestável, você tem porte de armas pra que? Pra meter
bala quando uma coisa dessas acontece. (Pausa) Cala a
boca! Eu to indo praí agora (Desliga)
Leandro
— Aconteceu alguma coisa?
Gregório
— Invadiram a casa da sua tia.
Leandro
— (Surpreso) Como assim?
Gregório
— Eu também não entendi direito, também. To indo pra lá
ver isso.
Gregório sai apressado. Em Leandro.
CENA 39. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Marcelo olha pra tudo muito emocionado. Rudá fica um
pouco afastado o observando. Marcelo vê o retrato de Ana
Carolina em uma parede.
Marcelo
— Como ela é linda.
Rudá
— Uma pessoa maravilhosa. Você teria orgulho de conviver
com ela.
Marcelo passa a mão nos objetos, sempre muito
emocionado.
Marcelo
— Tudo isso aqui, essa casa, esses móveis, sei lá. É
como se as lembranças da minha infância estivessem
voltando. (Tom) Cadê a minha mãe? Chama ela.
Rudá
— (Surpreso) Você não sabe?
Marcelo — (Não entende) O que?
Rudá
— A sua mãe/
Rudá é cortado por Gregório que entra da rua, furioso.
Gregório
— Que palhaçada é essa?!
Gregório e Marcelo ficam frente a frente.
Marcelo
— Quem você pensa que é pra entrar desse jeito aqui? Não
se entra na casa dos outros sem pedir licença?
Gregório
— Você tá maluco? Quem tá invadindo casa aqui é você.
Gregório olha para Marcelo de cima a baixo, com
desprezo.
Gregório
— De onde você saiu? De uma caverna? Fora daqui!
Marcelo
— Eu não vou sair daqui! Essa casa é minha!
Gregório
— Além de delinquente, é maluco! Ou você sai, ou eu
chamo a polícia.
Rudá
— É melhor a gente ir.
Marcelo
— (Firme) Daqui eu não saio!
Gregório
— Então eu mesmo faço questão de tirar você daqui.
Gregório vai pra cima de Marcelo. Os dois vão iniciar
uma luta, mas são interrompidos pela chegada de Otávio.
Otávio
— (Interrompe) Posso saber o que tá acontecendo aqui?
Marcelo e Gregório se afastam.
Gregório
— Acontece que esse marginal invadiu a mansão e eu vou
tirar ele com as minhas próprias mãos.
Otávio
— Esse marginal é o seu sobrinho Marcelo. O filho
desaparecido do seu irmão Alcides e da dona Ana
Carolina.
Gregório encara Marcelo e dá uma gargalhada.
Gregório
– (Ri) Ah, Otávio! Você não vale nada mesmo! Agora que a
Ana Carolina morreu você vai querer ficar inventando
herdeiro que não existe?
Marcelo
– (Reage surpreso) A minha mãe morreu? É verdade isso,
Otávio?
Otávio
– Eu só fiquei sabendo disso hoje... Eu sinto muito.
Marcelo procura um lugar para sentar, muito abalado.
Marcelo
– (Em choque) Justo agora que eu ia conhecer ela, eu não
posso acreditar nisso. (Tom) Onde ela foi enterrada? Eu
quero ver o túmulo dela.
Gregório
– (Ríspido) Pode parar de teatrinho. Ninguém vai cair
nessa história de vocês.
Rudá
– Ela tá enterrada num cemitério aqui perto. Se o senhor
quiser, eu posso te levar.
Marcelo
– (Se levanta) Por favor.
Marcelo e Rudá saem para a rua. Gregório e Otávio se
encaram.
Gregório
– (Firme) Quem você pretende enganar com essa palhaçada?
Closes alternados. Tensão entre os dois.
CENA 40. casa de giancarlo. sala. Interior. Dia.
Yasmin entra da rua. Bianca está a sua espera.
Bianca
— Você sabe o que vai te acontecer, não é?
Yasmin
— Você vai querer me colocar de castigo só porque eu fui
na casa da Ana Carolina?
Bianca
— Eu não só quero como vou fazer isso.
Yasmin
— Tá bom mãe, faz o que você quiser. Só me diz uma
coisa: porque você odiava tanto a tia do Leandro?
Bianca faz uma breve pausa e por fim responde:
Bianca
— Você quer mesmo saber? Então tá, eu vou te contar.
Em Bianca.
CENA 41. cemitério.
ambiente. Exterior. Dia.
Marcelo e Rudá entram no cemitério.
Marcelo
— Se você não se importar, eu prefiro ir até lá sozinho.
Rudá concorda e fica na porta do cemitério. Marcelo
segue caminhando sozinho pelo cemitério, até chegar ao
túmulo de Ana Carolina. Marcelo olha de longe a
sepultura por um tempo, até que toma coragem e se
aproxima. Ele se ajoelha perto do túmulo e passa a mão
no retrato de Ana Carolina que está na lapide.
Marcelo
— (Triste) Por tão pouco a gente não se reencontrou,
mãe.
Na entrada do cemitério, Clara passa por Rudá e caminha
em direção ao túmulo de Ana Carolina. De longe, ela vê
Marcelo perto da sepultura.
Clara
— Que estranho? Quem é que tá lá no túmulo da tia?
Clara se aproxima de Marcelo.
Clara
— Oi. Desculpa, mas quem é você e o que tá fazendo no
túmulo da tia Ana?
Marcelo
— (Se levanta) Eu sou o filho dela. E você quem é?
Música:
More than I can say – Leo Sayer.
Clara encara Marcelo, surpresa. Closes alternados,
finalizando em Marcelo. Fade Out. |
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