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O veículo desce que nem uma montanha-russa e não resta
mais nada, do que as grandes árvores lá embaixo, para
amortecer a queda. De onde continua sentado, Levi não
pode alcançar os galhos com o cinto.
- Levi!
Tony grita para o amigo, segurando o banco com toda sua
força, enquanto o carro continua o percurso, a traseira
se ergue no ar. Levi joga o laço novamente pela janela,
que de algum modo assegura-se em um galho. O impulso
começa a puxar o homem, que ainda continua segurando o
cinto, com as duas mãos e a metade do corpo para o lado
de fora da janela.
- Segure nas minhas pernas, cara.
Ele sente o amigo naqueles instantes, o segurando com
força, desliza perfeitamente da janela, no entanto algo
parece estranho, cadê Tony? Ele não estava mais o
segurando, havia seguido o percurso das cinzas. O carro
Sport, ganha ainda mais velocidade, batendo em diversos
eixos e finalmente o tanque de gasolina incendeia e uma
grande explosão rasga o ar do distrito. Levi desanca com
força na terra, um pedaço de pedra atinge o seu
estômago, o cinto escorrega de suas mãos e ele derrapa
acidentalmente na ladeira. O homem tenta agarrar em
qualquer coisa, para frear o deslocamento, batendo num
cepo de árvore. Ele respira cansado, se tivesse caído
por mais seis metros, provavelmente se tornaria um
presunto, lembrou-se do melhor amigo.
- Tony!
Levi se levanta lentamente e se apoia em uma pequena
planta inclinada de raízes fortes. Observa os destroços
do carro, completamente incendiado. As chamas diminuem,
enquanto o combustível é consumido. Aproxima-se
lentamente do automóvel, com o receio de encontrar os
restos mortais do melhor amigo. Todos os pensamentos
envolvendo Tony aparece em sua cabeça que nem um
flashback, jamais se perdoaria caso ele estivesse morto,
começou a imaginar a sentença, tudo foi forte demais, a
queda do veículo e o incêndio, o fato de Levi permanece
vivo, é uma mera dadiva.
- Tony?
Ele continuou a gritar. Neste instante escuta-se um
barulho, tão forte para um tipo de animal tacanho. Levi
se lança para frente, correndo em direção, Tony está
deitado de bruços, perto de um carvalho, com o rosto
todo ensanguentado e o braço dobrado, num ângulo no
mínimo esquisito.
- Estamos vivos? – Indaga Tony sentindo um pouco de dor.
- Sim.
Tony se levanta com a ajuda de Levi, que observa o
ferimento, parte do osso está exposto para fora da pele.
- Preciso te levar para a emergência.
- Sim e nós precisamos sair daqui, antes que a polícia
apareça.
- Nem estava pensando nos federais.
- Cara, eu pensei que íamos morrer de verdade.
- Temos uma estrada pela frente ainda.
- Isso mesmo.
- Mas como você conseguiu sair do carro?
- Quando o carro estava descendo, uma coisa forte bateu
nele, a porta se abriu e eu caí para fora.
- Foi por pouco.
Levi pega sua jaqueta e improvisa uma tipoia para manter
a fratura de Tony o mais imóvel possível.
- Consegue andar campeão?
Tony afirma com a cabeça. Levi pôs sua mão sobe a axila
dele e seu braço ao redor da cintura e eles começaram a
subir lentamente, demorou mais de uma hora até que os
dois finalmente conseguiram chegar a pista e pela
primeira vez, olharam para trás, para a massa escura de
metal queimado.
- A pessoa que fez isso, está com sede de vingança.
- Acredito que seja o Miguel, sabe, Tony?
- Sim, mas precisa de mais um detalhe.
O frio estava forte naquele começo de manhã, eles
conseguiram pegar uma carona com um caminhoneiro
simpático e atencioso, que os levam para um posto de
saúde público, próximo de Vale Verde, Levi pegou o
dinheiro da carteira e ofereceu para o senhor de idade,
mas ele recusou e disse que não era necessário e
retornou com a sua locomoção. Tony é operado, teve seu
osso colocado em devido lugar e o braço engessado, uma
operação simples para os funcionários do posto, que os
atenderam com tamanha hospitalidade, posteriormente
encontraram uma pequena pousada, aonde reservam um
quarto, apenas para descansarem, com duas camas de
solteiros e um banheiro.
Levi improvisa um pequeno lanche com algumas bobagens no
frigobar, abre uma garrafinha de refrigerante de um
litro e coloca em dois copos, entregando um para o
amigo, junto com o sanduiche de presunto.
- Estou morrendo de fome.
Tony deu a primeira mordida no pão.
- Está muito bom, Levi, como você fez?
- É apenas, pão com presunto e tomate, você está com
muita fome.
- Nunca tinha sentido isso.
- Muitas pessoas ao redor do mundo sentem esse fardo.
- Bancando o filantropo?
- Não e nem posso.
- Cara, quando estava sendo operado, pensei nos
detalhes, pensei em todas as ferramentas, será que só
existe o Miguel envolvido nisso? Ou tem mais uma pessoa
junto com ele? Que anseia em ver nós dois aniquilados.
- Como assim?
- É só uma dúvida sabe?
- Duas pessoas?
- Isso, nós temos muitos inimigos.
- Lobos usando pele de cordeiro.
- Um lobo que alimentamos.
- Quem pode ser?
- É aí que mora o mistério, não me vem um nome na
cabeça.
Tony digeriu o sanduiche e as ideias na cabeça e bebeu o
ultimo gole daquele refrigerante.
- Seu braço continua doendo?
- Um pouco.
- A casa da Neide está perto? – Indaga Tony, acomodado
na cama com um travesseiro de pena de ganso, debaixo de
seu braço.
- Faltam alguns quilômetros.
- Está na hora de descobrir toda a verdade.
- Sim. Vou pegar um táxi ali na frente daqui a pouco,
quando a Barbara chegar com as nossas roupas, preciso de
um banho.
- Quero ir também!
- Você vai ficar aqui com ela.
- Está certo, vou perder a melhor parte.
Tony faz uma careta e toma alguns analgésicos, mas
querendo ou não, Levi está na razão, por questão de
saúde e segurança, não deve o acompanhar nessa ocasião. |
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