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Música:
Deixo - Ivete Sangalo
Jonathan observa o céu azul através das grades da cela
feita estritamente de ferro e escuta o barulho dos
passarinhos, por um instante a sua imaginação atravessou
o universo e conseguiu escutar o barulho do oceano
atlântico, debatendo-se contra a costa baiana. Os seus
olhos encheram de lágrimas ao lembrar da amada, Pamela e
da sua família, as dores são fortes em seu intelecto,
não consegue mais emendar tamanha solidão. Será que vai
conseguir sair deste inferno? As chamas estão queimando
e não existem caminhos nas labaredas.
Um homem aparece com um molho de chaves nas mãos,
abrindo a cela.Jonathan
levanta-se lentamente da cama de solteiro, rezando para
que aquela experiência fosse à última.
- Estou livre?
- Não posso falar nada a respeito.
Eles caminham através de um longo corredor escuro, a
delegacia é tranquila, quase não acontece adversidades
em torno do distrito, um lugar bastante arcaico.
Jonathan não chegou a ser transferido para ao presidio
em Eunápolis, graças aos excelentes advogados de Levi
Monteiro, ele o agradeceu com um abraço.
- Já era você ter saído daqui. – Disse Levi.
- Muito obrigado, acho que essas palavras são poucas,
tamanha a sua atitude.
- Você fez um bem enorme a minha família, Jonathan, a
minha irmã e a minha mãe também, que graças a você,
conseguiu suportar a dor do luto, naquele momento
fatídico.
A senhora se entrega as lagrimas ao contemplar o filho,
finalmente solto. Abraçaram-se durante longos minutos,
quase infinitos. Dona Hilda nota a aparência cansada de
Jonathan, que a todo o momento fica olhando para o piso,
talvez continue assustado. O patriarca aproxima-se do
rapaz com um sorriso grandioso e algumas piadas bobas
para quebrar o gelo, Senhor Ernesto ou simplesmente
Ernesto, como prefere ser chamado, é completamente
diferente da esposa, que trata a situação com certa
consternação.
- Vamos embora daqui.
- Vamos, filho.
- Estou muito cansado.
Na frente do prédio da delegacia, um movimento muito
forte de pessoas em fúria protesta contra a liberdade
provisória. Enxergar aqueles rostos conhecidos,
chamando-o de “assassino”, é como uma faca encravada
diretamente em seu peito. Os policiais o protegem para
entrar no veículo e acompanha a família até residência,
para que ninguém ficasse ferido.
Levi sumiu rapidamente com o seu carro em torno da
pista.
Ao colocar os pés no chão, observou cada detalhe do lado
externo da morada, como sentiu saudades do lugar onde
sempre morou, quando abriu o portão, é ovacionado por
seu pastor alemão, ele abraçou o cachorro com todo
carinho e brincou diversas vezes antes de entrar na
casa.
- Vocês não sabem o quanto senti saudades disso daqui.
Ele arrumou o controle em cima da mesa de centro e
sentou no estofado, observando cada detalhe que
conhecia, mas como se fosse a primeira vez, as rosas ao
próximo da janela tinham um cheiro encantador, lembrava
um perfume de uma pessoa, mas não conseguiu ligar o
aroma ao indivíduo, talvez fosse o da Pamela, precisava
descansar.
- Está com fome, querido?
- Sim.
- Fiz aquela lasanha que você adora.
- Sério?
- Sim.
- Vou tomar um banho primeiro, preciso tirar esse cheiro
do meu corpo.
Jonathan encaminha-se para o quarto, sendo seguido pelo
animal de estimação, tranca a porta e divisa algumas
roupas em cima da cama, certamente sua mãe devia ter
escolhido. O quarto está literalmente arrumado e com
tudo em devido lugar, incluindo o notebook. O rapaz
acomoda-se na escrivaninha e liga o aparelho, digitando
uma senha extensa com números e letras, descerrando o
programa do Windows, onde o papel de parede toma conta
da tela, uma bela imagem ao lado de Pamela.
- Eu ainda te amo, Pamela.
O nome mais citado em seu vocabulário, mesmo se morresse
milhões de vezes, ainda amaria essa mulher que acreditou
em seu coração, que amou aquele garotinho inocente que
ainda usava óculos de graus, ela que o beijou pela
primeira vez, talvez ela já tivesse experiência, pois
conduzia muito bem o ato, foi com ela que transou pela
primeira vez, os dois se amaram na praia, iluminados
pela lua e dominados pelo fogo da paixão, se Xavier não
existisse, provavelmente Pamela ainda estaria viva e os
dois continuariam juntos, mas aquele homem roubou a sua
mulher, para sempre.
Jonathan entra no banheiro, deixando a água cair por
diversos minutos em torno do corpo, para tentar se
livrar do odor de detento. Seca-se rapidamente e coloca
uma bermuda simples de tactel e uma camisa do flamengo,
time que todos da casa torcem.
- Estou livre Bacco.
O cachorro se abeira do dono e os dois se enlaçam. Os
latidos de felicidades são inevitáveis e os batuques
também. Trata-se da mãe.
- Vamos comer querido.
O rapaz caminha para a cozinha, mas a felicidade não
tira de critério alguns fatores: provar a inocência e
encontrar o verdadeiro facínora, tudo aponta para Miguel
Xavier, mas não pode simplesmente acusá-lo sem provas,
afinal este miserável tem nome na cidade e influência no
estado. A pressa é inimiga da perfeição, deve agir com
cautela.
O seu celular tocou, trata-se de Amália Monteiro.
- Jonathan, meu filho, tudo bem contigo?
- Estou bem.
- Só de pensar que você foi preso por causa de uma
injustiça.
- E o criminoso continua solto.
- Mas nós vamos conseguir prender este desgraçado.
- Ele não vai enganar a gente novamente.
- Nunca mais, Dona Amália.
- Muito obrigado por tudo, como queria te abraçar nesse
momento, se eu tivesse negado aquele noivado, hoje teria
a minha filha aqui.
Jonathan conseguiu ouvir perfeitamente o barulho dos
prantos da mulher, sentia-se muito culpada.
- Não pensa mais nisso, a senhora tentou proteger a
Pamela o tempo todo.
- Fico feliz que me entenda, obrigada.
- Fico feliz que acredite em minha pessoa, obrigado. |
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