CENA 01. bairro das laranjeiras. rua. Exterior. Noite.
Continuação da última cena do capítulo anterior.
Heloísa tenta se acalmar.
Heloísa
— Calma, Heloísa. Você precisa pensar em alguma coisa
pra tirar aquela idiota do seu caminho. Ela já
atrapalhou de mais a sua vida, tá na hora dela pagar por
isso.
Em Heloísa pensativa.
CENA 02. ap de luísa. sala. Interior. Noite.
Continuação da cena 26 do capítulo anterior. Luísa
Bernardo felicitam Marcelo e Clara.
Luísa
— (Ainda surpresa) Essa notícia me pegou de surpresa,
Clara. Mas parabéns, filha.
Clara
— Ela também me pegou de surpresa, mas não tem porque
adiar a felicidade, não é?
Bernardo — Que frase clichê, maninha.
Clara
— Mas é a verdade, ninguém vai atrapalhar a nossa
felicidade.
Luísa
— Por falar nisso, a Helô sumiu.
Clara
— Melhor assim.
Clara mostra para Luísa o anel de noivado para Luísa. É
o mesmo anel de Ana Carolina.
Luísa
— (Sorri) O anel da Ana Carolina.
Marcelo
— Você não disse que era pra eu dar pra mulher que eu
amasse? Eu fiz isso.
Marcelo sorri e Clara retribui com outro sorriso.
Luísa
— Ô meu querido, a sua mãe ia ficar tão feliz. (Tom)
Acho que nem tem com que a gente comemorar.
Marcelo
— Nem se preocupe com isso, Luísa. Eu já to de saída, só
vim pra falar sobre o casamento junto com a Clara.
Luísa
— Mas já?
Marcelo
— Sim, amanhã eu quero conhecer a empresa. Acredita que
até agora eu não fui lá? Se vocês me derem licença.
Clara
— Eu te acompanho.
Marcelo e Clara saem do apartamento.
CENA 03. casa de giancarlo. sala.
Interior. Noite.
Rogério chega da rua. Bianca no sofá entediada.
Rogério
— Cadê todo mundo?
Bianca
— Boa noite pra você também.
Rogério
— Boa noite, Bianca. Cadê todo mundo?
Bianca
— E eu tenho cara de babá? Devem tá por aí.
Rogério se joga no sofá.
Rogério
— Tava vendo as propostas das agências de publicidade
que tão concorrendo à conta da exportadora.
Bianca
— Não quero agência pequena. Pra nossa empresa eu quero
que seja uma agência grande, multinacional.
Rogério
— (Retruca) Você não tem que querer nada e sim o seu
pai.
Bianca
— Por enquanto, Rogério. O pai já tá velho e não demora
muito não vai tá mais entre nós. Aí quem vai mandar naquele
lugar, sou eu.
Giancarlo já entrou da rua e ninguém percebeu.
Giancarlo
— Você tá querendo que eu morra logo, Bianca?
Bianca encara Giancarlo, surpresa.
CENA 04.
ap de luísa. frente.
ambiente. Exterior. Noite.
Marcelo e Luísa se beijam na calçada.
Marcelo
— Dorme comigo.
Clara
— Hoje não, amor.
Marcelo
— (Insiste) Por quê? Imagina só a gente dormindo
agarradinhos, bem juntinhos.
Marcelo vai beijando Clara, tentando convencê-la. Ela se
arrepia.
Marcelo
— Vem.
Clara
— A gente vai ter a vida toda pra dormir juntinhos.
Marcelo
— Tá. Então me dá só mais um beijo.
Clara beija Marcelo.
Clara
— Você não me falou que esse anel era da sua mãe.
Marcelo
— É. A Luísa guardou ele e me deu. Disse que foi
presente do meu pai pra mulher que ele amava, e que era
pra eu fazer o mesmo.
Clara sorri um pouco emocionada e dá um beijo em
Marcelo, que não retribui, está pensativo.
Clara
— (Percebe) Que foi?
Marcelo
— Tava aqui pensando... Se o meu pai amava tanto a minha
mãe... Por que ele sumiu no mundo sem deixar rastros? O
que aconteceu pra ele fazer isso?
Clara
— Ele nunca te falou nada?
Marcelo
— Não. Sempre pensei que fosse só eu e ele. Alguma coisa
de muito séria deve ter acontecido.
Clara
— Tipo o que?
Marcelo
— Não sei, Clara. Mas ninguém desaparece sem motivos.
Clara
— Por que você não investiga essa história?
Marcelo
— Como assim?
Clara
— Vai atrás do passado dos seus pais. Investiga a
história deles. Quem sabe lá tenha alguma pista das
razões que fizeram o seu pai sumir. Eu to vendo que isso
te preocupa.
Marcelo
— Meu pai me privou do convívio com a minha mãe e não
foi a troco de nada. Quem faz isso é uma pessoa
mesquinha. E o meu pai não era assim.
Clara
— Então Marcelo. O único jeito de você tirar essa nuvem
da sua cabeça é indo atrás do que aconteceu. Quando você
souber de tudo, talvez as coisas comecem a fazer sentido
pra você.
Em Marcelo pensativo.
CENA 05. casa de giancarlo. sala. Interior. Noite.
Continuação da cena 03. Giancarlo espera uma resposta de
Bianca, que se levanta rapidamente.
Bianca
— Que é isso? Você entendeu errado. Eu quis dizer que
quando você nos deixar/
Giancarlo
— (Corta) Senta que esse dia ainda vai demorar. Eu to
muito bem de saúde e não pretendo morrer tão cedo.
Bianca
— Graças a Deus.
Giancarlo
— Mas numa coisa eu concordo... Sobre a presidência da
empresa... Talvez seja a hora de começar a preparar a
minha sucessão. Muito em breve eu não vou mais sentar
naquela cadeira.
Giancarlo sobe as escadas. Bianca sorri vitoriosa para
Rogério.
Bianca
— Viu? Nas entrelinhas ele disse que tá preparando a
cadeira da presidência pra mim.
Rogério
— Ele disse que ia sair sim, mas não falou que ia ser
você.
Bianca
— E quem ia ser, Rogério? Você? Que piada.
Rogério
— A Milena. Ela também é herdeira.
Bianca
— Faz-me rir. Eu to antes na linha de sucessão. O pai
não seria louco de fazer uma coisa dessas, a Milena não
tem experiência nenhuma para presidir uma empresa do
porte da nossa. Esse perigo eu não corro: eu vou ser a
próxima a sentar na cadeira do presidente.
CENA 06. casa de giancarlo. quarto de milena. Interior.
Noite.
Milena e Yasmin conversando.
Milena
— Amanhã eu vou começar a procurar pelo meu vestido de
noiva.
Yasmin
— Você vai que horas?
Milena
— Acho que pela manhã. À tarde eu vou pra empresa.
Yasmin
— Troca de horário. Eu queria ir com você só que de
manhã eu tenho aula.
Milena
— (Sorri) Te garanto que eu não vou escolher nada. Ou
você acha que eu vou escolher o meu vestido de noiva
logo no primeiro dia?
Yasmin
— Espero que não.
Milena
— Na próxima vez você vem junto.
Yasmin
— Combinado.
Escutam-se leves batidas na porta, é Divinéia (70 anos,
baixinha, cabelos escuros e presos), uma das empregadas
da casa.
Divinéia
— Licença meninas. O jantar já vai ser servido.
Milena
— (Brinca) Aí Divi, eu adoro quando você me chama de
menina.
Divinéia
— E você é o que? Uma senhora? Senhora sou eu com cabelo
pintado e ruga na cara. Você que tem essa cara lisinha
que nem bundinha de neném e esse corpinho de dar inveja,
é menina sim!
Milena ri e aperta as bochechas de Divinéia.
Milena
— Eu já disse que te adoro?
Divinéia
— Hoje ainda não. Agora vai lá. (Pra Yasmin) Você
também.
Milena e Yasmin saem do quarto.
CENA 07. ap de otávio. sala. Interior. Noite.
Otávio entra da rua e encontra as luzes apagadas e o
ambiente iluminado por velas, para criar um clima
romântico. Giovanna está esperando por ele.
Otávio
— Boa noite.
Otávio dá um beijo rápido em Giovanna e olha em volta.
Otávio
— Faltou luz?
Giovanna
— Não. Eu que apaguei elas pra dar um clima por nosso
jantar?
Otávio
— Que jantar?
Giovanna
— O que a gente vai ter. Só nós dois. Eu já despachei a
Juliana pro quarto e ela prometeu fica por lá até
amanhã. Sabe o que isso significa?
Otávio
— O que?
Giovanna
— (Fala no ouvido dele) Que a casa é só nossa.
Otávio
— Hoje o dia foi tão estressante lá no escritório que a
única coisa que eu queria era tomar um banho e deitar.
Giovanna
— (Seduzindo) A gente pode fazer isso. Depois do jantar
delicioso que eu preparei a gente toma banho juntinhos.
Otávio sorri.
Otávio
— Você pensou em tudo, hein?
Giovanna
— A gente tá brigando tanto.
Eu não quero isso.
Otávio
— Nem eu Giovanna.
Otávio e Giovanna dão um longo beijo.
Giovanna
— Sabe qual é o menu da noite?
Otávio
— Não faço ideia. O que você preparou? (Brinca) Foi você
mesmo ou encomendou de algum restaurante?
Giovanna
— Que? Tá duvidando dos meus dotes culinários?
E os dois seguem para a sala de jantar.
CENA 08. casa de gregório. sala de jantar. Interior.
Noite.
Gregório, Tarsila e Karina jantando.
Karina
— Todo mundo conhece ele menos eu! Não é justo.
Tarsila
— Dá um tempo Karina. Eu já te disse que um dia eu te
levo pra conhecer o Marcelo.
Karina
— Um dia no juízo final, Jesus vai descer de novo a
Terra. Só a gente não sabe quando.
Gregório
— Onde é que você aprende essas coisas? Na escola não é.
Na minha época eu dormia nas aulas de religião de tão
chatas que eram.
Karina
— Um dia eu mesmo pego um ônibus e vou até a casa da tia
Ana Carolina conhecer o meu primo novo... Que já é
velho.
Tarsila
— Você pode pegar o Expresso do Oriente pra ir até a
casa dele. Mas por favor, para de atormentar. Ocupa a
sua boca comendo e não falando.
Todos ficam em silêncio.
CENA 09. ap de luísa. sala. Interior. Noite.
Heloísa entra da rua e vê Bernardo sozinho na sala.
Heloísa
— Cadê todo mundo?
Bernardo
— Cada uma no seu quarto.
Heloísa
— Melhor assim. Eu também vou pro meu.
Bernardo
— Você vacilou com a Clara.
Heloísa
— Agora não, Bernardo. Outra hora a gente fala sobre
isso.
Heloísa vai para o seu quarto, deixando Bernardo
sozinho.
CENA 10. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Dia.
Música:
Meu novo mundo – Charlie Brown Jr.
Takes do Rio de Janeiro ao amanhecer. O último take é da
frente da casa de Ana Carolina.
Música:
[Fade Out].
CENA 11. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Marcelo e Rudá conversando.
Marcelo
— Você pegou o endereço da empresa que eu te pedi?
Rudá
— Esqueci. Vou lá pegar, peraí.
Rudá vai para a cozinha. Tempo e Samuel com uma mochila
e uniforme da escola, vem dá mesma direção que saiu
Rudá.
Samuel
— Bom dia seu Marcelo.
Marcelo
— Corta esse seu... (Tom) Tá indo pra aula?
Samuel
— Sim. É você que vai pagar as mensalidades?
Marcelo
— (Não entende) Como assim?
Samuel
— É que é escola particular. E como era caro pra gente
manter, quem pagava a mensalidade era a dona Ana
Carolina e como ela morreu...
Em Marcelo pensativo.
CENA 12. ap de luísa. cozinha. Interior. Dia.
Heloísa toma um copo d’água. Clara entra e revira os
olhos ao ver a irmã.
Clara
— (Enojada) Eu devia ter dormido fora de casa, ter que
acordar e olhar pra sua cara tá deixando o meu estômago
embrulhado.
Clara dá meia volta, mas Heloísa segura ela.
Heloísa
— Espera.
Clara
— (Se solta) Me solta.
Heloísa
— A gente precisa conversar.
Clara
— (Irritada) A gente não tem nada que conversar. Tudo o
que você e eu tínhamos pra falar, já foi dito ontem.
Clara vai sair, mas Heloísa impede colocando o braço
diante da porta.
Heloísa
— Aí é que você se engana, Clara. A gente tem conversar
sim e eu não vou deixar você sair daqui até eu falar
tudo o que eu quero.
Closes alternados.
CENA 13. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Continuação da cena 11. Marcelo e Samuel por ali. Rudá
vem da cozinha com um papel na mão.
Rudá
— Tá aqui o endereço Marcelo. (Vê Samuel) Samuel, o que
você tá fazendo aqui? Eu não disse pra você sair pela
porta de serviço?
Marcelo
— Imagina, não tem necessidade de uma coisa dessas. Por
mim não tem problema nenhum.
Rudá
— Se você diz...
Marcelo
— Viu, que história é essa de que era a minha mãe que
pagava o colégio dele?
Rudá fuzila Samuel com os olhos.
Rudá
— Eu disse pra você não falar nada, moleque linguarudo.
E Rudá dá um cascudo em Samuel.
Samuel
— Foi sem querer!
Rudá
— Some daqui. Você já tá atrasado.
Samuel sai correndo para a rua.
Rudá
— Desculpa, Marcelo. Esquece o que ele falou. A sua mãe
pagava, mas você não tem nada a ver com isso. (Entrega o
papel) Tá aqui o endereço. Fica aqui do lado em São
Conrado. De carro é um pulo.
CENA 14. barão do alambique. frente. Exterior. Dia.
Take da frente do prédio.
CENA 15. barão do alambique. sala de gregório. Interior.
Dia.
Gregório trabalhando. Tempo e entra Adelaide (50 anos,
cabelos escuros, na altura dos ombros), secretária da
empresa.
Adelaide
— Com licença, Doutor Gregório.
Gregório
— Fala, Dona Adelaide.
Adelaide
— Tem um homem ali fora querendo falar com o senhor?
Gregório
— Que homem? Ele tem hora marcada? Se não tem despacha
ele.
Adelaide
— É que... Ele disse que é filho da dona Ana Carolina?
Gregório se surpreende com o que acaba de ouvir e encara
Adelaide.
CENA 16. ap de luísa. cozinha. Interior. Dia.
Continuação da cena 12. Heloísa impedindo a passagem de
Clara pela porta.
Clara
— Você perguntou se eu quero escutar você?
Heloísa
— Eu não tô te perguntando nada. Você vai me escutar
querendo ou não.
Clara
— O que você vai fazer? Me prender aqui?
Heloísa
— Se for preciso, sim! Custa deixar eu falar?! Eu sei
que o que eu fiz foi errado, eu queria te pedir
desculpas, mas se é difícil pra você escutar o que eu
tenho pra te dizer, pode ir.
Heloísa libera a passagem da porta, mas Clara não sai.
Clara
— Você acha que é assim? Me arrependi, pronto, vou pedir
desculpas e tá tudo resolvido?
Heloísa
— Eu sei que não é assim, Clara. Mas poxa! Nós somos
irmãs! Não podemos ficar brigadas... Eu amo muito você.
Clara
— Mas você não pensou nisso quando transou com o
Marcelo.
Heloísa
— Eu sei que fiz errado, mas eu to arrependida. Se não
tivesse, você acha que eu ia tá aqui pedindo desculpas?
Me humilhando diante de você? Quer que eu ajoelhe?
Heloísa ameaça se ajoelhar, mas Clara impede.
Clara
— Deixa de ser ridícula, Heloísa. Não é se ajoelhando
que as coisas vão mudar.
Heloísa
— Eu sei. O que vai mudar é o meu arrependimento e o seu
perdão.
As duas ficam em silêncio por um breve tempo. Clara
pensativa.
Clara
— Por que isso agora?
Heloísa
— Porque eu errei! Quantas vezes a gente não erra na
vida, Clara? Pra que? Pra aprender! Eu aprendi com isso.
(Pausa) Nós já tínhamos feito isso de trocar
namoradinhos tantas vezes/
Clara
— (Corta/Irritada) O Marcelo não é um namoradinho! Eu
amo ele!
Heloísa
— Eu não sabia disso! Ou você acha que se eu soubesse,
ia fazer o que eu fiz?
Clara
— (Lacrimejando) Eu não sei se eu posso confiar me você.
Heloísa
— Eu sei que as coisas que eu falei pra você quando a
gente brigou, foram muito duras, mas tenta entender. Eu
tava nervosa, você tava me batendo e acabei falando sem
pensar.
Clara
— Não vai querer colocar a culpa em mim agora.
Heloísa
— Claro que não! Eu to te dizendo que eu to realmente
arrependida de tudo o que eu fiz e falei. Agora eu só te
peço uma coisa: o seu perdão.
Clara
— Eu preciso pensar.
Clara sai abalada da cozinha. Logo que fica sozinha,
Heloísa tira do seu rosto a aparência de arrependida e
dá um sorriso debochado.
Heloísa
— (Baixo) Pensa maninha. Pensa e depois me diz se eu não
sou uma boa atriz.
CENA 17. barão do alambique. sala de gregório. Interior.
Dia.
Continuação da cena 15. Gregório e Adelaide.
Gregório
— (Surpreso) O Marcelo tá aí?
Adelaide
— Sim.
Gregório
— Manda ele entra. Agora.
Adelaide sai da sala.
Gregório
— (Baixo) Droga! Eu não acredito que esse aprendiz de
Tarzan veio aqui.
Marcelo entra. Gregório se levanta todo sorridente e o
cumprimenta.
Gregório
— Marcelo! Que surpresa você por aqui.
Marcelo
— Pois é tio. Faz um tempo que eu cheguei no Rio e até
agora eu não tinha vindo visitar a minha empresa.
Gregório
— Sua empresa... Claro. (Tom) Quer sentar?
Marcelo
— Não, na verdade eu queria conhecer o local. Pode ser?
Gregório
— Claro. (Aponta para a porta) Por favor...
Os dois saem.
CENA 18. barão do alambique. corredores. Interior. Dia.
Gregório e Marcelo caminham e conversam. Outros
executivos também circulam pelo local.
Gregório
— Aqui Marcelo, fica a parte administrativa da empresa.
A produção propriamente dita fica no interior do estado.
A nossa produção de cachaça além de ser a melhor do
Brasil, é alto-suficiente. A cana que a gente usa pra
fazer a bebida é cultivada em fazendas de nossa
propriedade. Isso nos dá um controle maior sobre o
produto, sobre a qualidade dele, entende?
Marcelo
— Sim.
Gregório
— Pois é. Não é a toa que a nossa marca chegou ao topo.
Essa empresa começou com o nosso bisavô, meu e do seu
pai, fabricando cachaças artesanais, no inicio do século
XX, o talento dele de fazer a bebida e mais um tino
comercial de dar inveja a muita gente, fez isso aqui
crescer como ninguém.
Marcelo
— Eu acho muito estranho o meu pai ter largado tudo isso
pra morar num fim de mundo.
Gregório
— (Desconfortável) Seu pai sempre foi meio estranho.
(Tom) Você sabia que a nossa marca foi a 1ª no Top of
Mind por vários anos consecutivos?
Marcelo
— E o que é isso?
Gregório
— São as marcas mais lembradas pelo consumidor. Eu não
posso te mostrar ao vivo a plantação de cana-de-açúcar
nem a fábrica onde as nossas cachaças são feitas, mas eu
tenho alguns vídeos institucionais pra lhe mostrar.
Assim você tem uma ideia de como é o lugar. Quer ver?
Marcelo concorda.
CENA 19. barão do alambique. sala de leandro. Interior.
Dia.
Leandro falando ao telefone.
Leandro
— (Cel) Cê vai sozinha?... Sei... Escolhe um vestido de
noiva bem bonito. Se bem que qualquer coisa que você
usar vai te deixar linda. (Dá uma risada).
Gregório e Marcelo entram na sala.
Leandro
— (Cel) Milena, eu vou ter que desligar. Mais tarde a
gente se fala. Beijos. (Desliga).
Leandro se levanta e vai até Marcelo cumprimentá-lo.
Leandro
— Primo! Você por aqui?
Gregório
— Ele resolveu nos fazer uma visita, conhecer um pouco
mais da empresa.
Leandro
— Que bom. Eu fico muito feliz por isso. E tá gostando
do que tá vendo?
Marcelo
— To achando muito interessante. Ainda não to entendendo
muita coisa, mas aos poucos eu vou me familiarizando.
Mas se eu quero trabalhar aqui eu preciso aprender, não
é?
Leandro
— Você pretende vir trabalhar aqui?
Marcelo
— Óbvio! Essa empresa também era dos meus pais.
Leandro e Gregório se olham disfarçadamente.
Gregório
— E nós vamos estar esperando você de braços abertos.
Marcelo
— Fico feliz em ouvir isso, tio. (Tom) Eu adorei a
visita, mas agora eu vou ter que ir.
Gregório
— Eu te acompanho até a saída.
Leandro estende a mão para se despedir de Marcelo, mas
ele despachado, dá logo um abraço.
Marcelo
— Deixa de frescura. A gente é parente, não tem que ter
essas formalidades.
Leandro
— (Ri) Você tem razão.
Marcelo
— Aparece lá em casa um dia desses?
Leandro
— Apareço sim. Tchau.
Marcelo e Gregório já saíram.
Leandro
— Só o que me faltava! Esse trouxa querer vir trabalhar
aqui.
CENA 20. shopping. ambiente.
Interior. Dia.
Marcelo e Clara caminham pelo shopping. Conversa já
iniciada.
Marcelo
— Ela falou isso?
Clara
— Falou. Disse que tava arrependida de tudo o que tinha
feito e veio me pedir perdão.
Marcelo
— E você?
Clara
— Sei lá, Marcelo. Eu disse que ia pensar. O que ela fez
foi terrível, mas é a minha irmã!
Marcelo
— Você acha que ela tá sendo sincera?
Clara
— Acho que sim. O que você acha?
Marcelo
— Não sei, Clara. Eu mal conheço ela, você que nasceu
com ela deve saber mais do que eu.
Clara
— E o que você acha que eu devo fazer?
Marcelo
— Segue o seu coração. Se você acha que ela tá falando a
verdade, perdoa. Como você mesmo disse: é sua irmã.
Milena vem vindo em direção aos dois e abana para Clara
quando a vê.
Milena
— Oi, tudo bem. Lembra de mim?
Clara
— Milena, da festa da tia Ana, né?
As duas se cumprimentam com um beijo no rosto.
Milena
— Isso. (Tom) Desculpa, mas você é qual das duas mesmo?
Clara
— Clara.
Milena
— Ai que vergonha. Desculpa Clara, mas é que você e a
sua irmã são muito parecidas.
Clara
— Eu sei. Todo mundo confunde a gente.
Clara olha para Marcelo, que disfarça olhando para o
lado.
Milena
— (Pra Marcelo) E você?
Marcelo
— Marcelo.
Marcelo e Milena se cumprimentam com um beijo no rosto.
Milena
— O primo sumido do Leandro?!
Marcelo
— Sim. Você conhece ele?
Milena
— É meu namorado. (Corrige) Noivo. (Mostra o anel) A
gente vai casar.
Clara
— (Feliz) Que bom! Fico feliz por você.
Milena
— E vocês...
Clara
— Sim. E com intenção de nos casar logo.
Milena
— (Surpresa) Mas já? (Brinca) Que paixão avassaladora.
Clara
— Você não tem ideia o quanto.
Milena
— Tava numa loja aqui perto vendo um vestido de noiva, a
gente pode ver juntas da próxima vez e sem ele.
As duas riem.
Clara
— Eu não acredito nesse negócio de superstição. Acho que
tudo de ruim que tinha pra acontecer, já aconteceu.
Milena
— É, mas é bom prevenir. (Tom) Querido, adorei encontrar
vocês, mas eu vou ter que ir. Beijos.
Milena se despede de Clara e Marcelo e vai embora.
Clara
— Eu gosto dela. Acho simpática.
Marcelo
— É me pareceu sim. Mas voltando ao assunto da Heloísa.
Você vai perdoar ela?
Em Clara pensativa.
CENA 21. barão do alambique. sala de leandro. Interior.
Dia.
Leandro e Milena se beijam.
Leandro
— Encontrou alguma coisa?
Milena
— Claro que não, Leandro. Eu ainda vou olhar muito até
encontrar o vestido perfeito, pro casamento perfeito.
Os dois se beijam novamente.
Milena
— Não encontrei o vestido, mas encontrei o seu primo e a
Clara.
Leandro
— O Marcelo e a Clara? Fazendo o que?
Milena
— Fazendo o que, eu não sei. Mas eles me falaram que vão
se casar em breve.
Leandro se surpreende com o que escuta, mas tenta
disfarçar.
Leandro
— Casar é?
Milena
— Você não sabia?
CENA 22. barão do alambique. sala de gregório. Interior.
Dia.
Gregório dá um pulo da cadeira. Leandro diante dele.
Gregório
— (Surpreso) Casar! Quem tem falou isso?
Leandro
— A Milena. Ela encontrou com ele e com a Clara. (Pausa)
O que você acha disso?
Gregório
— Eu acho que o Marcelo tá começando a criar raízes aqui
e isso não é nada bom.
CENA 23. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Clara entra da rua e encontra Heloísa. As duas ficam
frente e frente.
Heloísa
— Pensou no que eu disse?
Clara
— Pensei, Helô. Pensei e acho que você tem razão. Se
você se arrependeu mesmo, não tem porque eu não te
perdoar.
Heloísa dá um sorriso falso.
Heloísa
— Ah Clarinha! Você não imagina como eu fico feliz em
ouvir isso. Eu não ia suportar ficar brigada com você.
As duas se abraçam.
Clara
— Vamos esquecer o que aconteceu. Passar uma borracha
nisso.
Heloísa
— Concordo! E eu tenho uma ideia pra fazer isso em
grande estilo.
Clara
— Como?
Heloísa
— Lembra do iate da tia Ana?
Clara
— Sim, o quê que tem?
Heloísa
— Vamos dar uma volta nele, só nós duas. Lembra de
Cannes? Quando a gente foi de veleiro pelo litoral?
Clara
— Impossível de esquecer isso, Helô.
Heloísa
— Então! Vamos repetir. Tudo bem que o litoral do Rio
não se compara ao de Cannes, mas né? Uma tarde simbólica
pra selar a nossa paz.
Clara
— (Sorri) Tá bom. Você me convenceu. Mas eu acho que não
é assim, só chegar? O iate não é nosso.
Heloísa
— Pedir autorização pra quem? A dona tá morta.
Clara
— Talvez pro Marcelo, ele é o herdeiro e dono do iate.
Heloísa
— Então liga pra ele e pede o barco.
CENA 24. casa de ana carolina. escritório. Interior.
Dia.
Marcelo por ali. Otávio entra.
Otávio
— Marcelo, eu vim assim que você me chamou. Pra que você
precisa de mim?
Marcelo
— Pra agilizar os papéis do meu casamento. Eu quero que
tudo fique pronto o quanto antes.
Em Otávio surpreso.
CENA 25. casa de gregório. sala. Interior. Dia.
Gregório e Tarsila conversando.
Tarsila
— Você sabe o que esse casamento do Marcelo significa,
né Gregório?
Gregório
— Claro que eu sei. Você acha que eu não to preocupado?
Tarsila
— Você me parece muito tranquilo. Eu pelo menos não to
vendo você fazer nada.
Gregório
— Não começa, Tarsila. O que você quer que eu faça? Que
empeça esse casamento?
Tarsila
— Até que não seria má ideia, mas ia ser inútil. E se ele tá querendo se casar, é porque vai ficar de vez por
aqui.
Gregório
— Infelizmente. Agora não é o momento de entrar em
confronto e sim de nós nos aproximarmos dele.
Tarsila
— Nisso eu concordo. Fazer o que a gente sempre fez com
a Ana Carolina.
Gregório
— Já que a gente não pode ter ele bem longe, é melhor
ter ele bem perto.
CENA 26. casa de ana carolina. escritório. Interior.
Dia.
Continuação da cena 24.
Otávio
— Você vai casar?
Marcelo
— Sim. Eu e a Clara queremos nos casar o quanto antes.
Otávio
— E pra que tanta pressa?
Marcelo
— Sem questionamentos. Faça o que eu to lhe pedindo.
Otávio
— Claro eu só/
Otávio é interrompido pelo celular de Marcelo que toca.
Marcelo
— (Cel) Alô. Oi Clara... To aqui com o Otávio, ele vai
arrumar os papéis pro nosso casamento.
Otávio
— Marcelo, eu vou ter que ir. Depois a gente se fala.
Marcelo faz sinal positivo para Otávio, que sai.
Marcelo
— (Cel) Então fizeram as pazes... Que? Que iate?... Não
to sabendo de nada, mas vocês querem usar, fiquem a
vontade.
CENA 27. urca. ambiente.
exterior. Dia.
Takes do bairro da Urca.
CENA 28. iate clube. píer. Exterior. Dia.
Clara e Heloísa entram no iate. Heloísa liga o motor e
assume o leme. Aos poucos o iate vai se afastando do
píer.
CENA 29. casa de ana carolina. escritório. Interior.
Dia.
Rudá entra e vai até Marcelo.
Rudá
— Chamou?
Marcelo
— Sim, senta.
Rudá senta.
Marcelo
— Eu andei pensando naquela história da escola do Samuel
e/
Rudá
— (Corta) Por favor, Marcelo! Nem/
Marcelo
— (Corta) Deixa eu falar?... Bom, se a minha mãe bancava
os estudos dele é porque vocês não tinham condições de
fazer isso e porque ela tinha muito apresso pelo garoto.
Então não me custa nada fazer isso.
Rudá
— Não precisa Marcelo. Eu coloco ele numa escola
pública.
Marcelo
— Nada disso. Tá decidido. Eu vou pagar.
Rudá sorri agradecido.
Rudá
— Não sei nem como agradecer.
Marcelo
— Não precisa, mas diz pro seu irmão que eu quero que
ele tira notas boas.
Rudá
— Ele vai ser o melhor aluno da turma.
CENA 30. IATE. CONVÉS.
ambiente. Exterior. Dia.
Clara no convés. Detalhe: em nenhuma das direções é
possível enxergar a costa. O motor é desligado e em
posse de um pedaço de ferro, Heloísa sai do interior do
iate e vai até Clara.
Clara
— Desligou por quê?
Heloísa
— Pra gente conversar um pouco, admirar esse mar enorme
que tem aqui.
Clara — (Sorri) É bonito não é? (Olha para o pedaço
de ferro) O que é isso?
Heloísa
— Um pedaço de ferro. Acho que é alguma ferramenta.
(Tom) Bonito esse anel.
Clara
— Lindo, né? Foi o Marcelo que me deu, pelo nosso
noivado. Foi da tia Ana.
Heloísa
— Lindo mesmo. E vai ficar ainda mais no meu dedo.
Clara se surpreende com o comentário de Heloísa.
CENA 31. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Luísa entra da rua e vê Bernardo ali.
Luísa
— A Heloísa tá por aí?
Bernardo
— Nem a Helô, nem a Clara. Parece que as duas fizeram as
pazes e saíram pra “selar a paz” no iate da tia Ana.
Luísa
— No iate?
Bernardo
— É, foi isso que elas falaram quando eu cruzei com elas
no elevador.
Luísa
— Droga. Eu queria tanto conversar com a Heloísa. As
coisas que eu falei com ela foram muito duras e eu to
arrependida.
Bernardo
— Relaxa, mãe. Em algumas horas elas vão tá de volta e
vocês conversam. Ninguém vai morrer de esperar um pouco.
Luísa olha para janela.
Luísa
— Você disse iate, né?
Bernardo
— Sim, por quê?
Luísa
— O tempo parece que tá fechando.
E vemos da janela, as nuvens negras e carregadas.
CENA 32. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Dia.
Takes do Rio de Janeiro. Uma forte tempestade está se
armando.
CENA 33. IATE. CONVÉS. Exterior. Dia.
Continuação da cena 30.
Clara
— Que comentário idiota, Heloísa.
Heloísa
— Por quê? Só falei a verdade?
Clara
— Se você começar com isso, a gente vai brigar de novo.
Heloísa
— Pelo amor de Deus, como você é insuportável. Eu
sinceramente não sei como eu aguentei conviver com você
todos esses anos.
Clara começa a estranhar Heloísa.
Clara
— Eu não to te reconhecendo.
Heloísa
— Sabe aquela história de que eu tava arrependida? É
mentira.
Clara
— (Surpresa) Que?!
Heloísa
— E você caiu feito uma trouxa... Sabe por que eu te
trouxe aqui? Pra te matar.
Heloísa pega o pedaço de ferro que está no chão.
Heloísa
— A pauladas, igual a um inseto nojento.
Com medo, Clara começa a se afastar lentamente de
Heloísa.
Clara
— (Medo) Para com isso, Heloísa. Eu não to achando
graça!
Heloísa vai caminhando lentamente em direção à Clara.
Heloísa
— Mas eu to achando divertidíssimo ver nos seus olhos o
medo que você tá sentido. Só não tive um prazer maior
quando eu transei com o Marcelo. (Ri) E disso eu não me
arrependo, porque foi gostoso.
Clara
— Você tá louca!
Heloísa
— To! To louca pra te matar, sua cretina! Com essa
carinha de sonsa, sempre levou a melhor, mas eu vou
acabar com isso.
Clara
— (Nervosa) O que você vai fazer?
Heloísa
— Aquilo que eu deveria ter feito há muito tempo: tirar
você do meu caminho.
Clara
— Você não pode me matar! Você vai se presa!
Heloísa
— Não vou não. Tanto não vou, como ainda vou ficar com o
Marcelo. Milionário, gato, todo pra mim. Ou você acha
mesmo que eu ia deixar ele pra você?
Clara
— Você tá fazendo isso por inveja?
Heloísa
— Não. Eu to fazendo isso porque você já atrapalhou
demais a minha vida. Por sua causa, eu sempre fui a
segunda. (Grita) E eu não nasci pra ser coadjuvante! Eu
nasci pra ser a protagonista da história! (Calma/Sorri)
Só que pra isso acontecer, a gente precisa de algumas
baixas no elenco.
Clara
— (Apavorada/Grita) Socorro! Alguém me ajuda!
Heloísa
— (Ri) Tá gritado pra quem, amor? A gente tá no meio do
mar, ninguém vai te ouvir.
Clara vai se afastando de Heloísa, apavorada.
Clara
— (Medo) Meu Deus, você é uma psicopata. (Grita mais
alto) Socorro!!
Heloísa segue caminhando em direção à Clara, sempre com
um sorriso sarcástico no rosto.
Heloísa
— Quer um conselho de irmã? Poupe a sua voz, relaxa e
aproveita esse momento, porque uma coisa eu garanto...
Por mais que grite, você não vai sair viva daqui.
Heloísa dá um sorriso diabólico. No medo de Clara.
Música:
I'm Happy Just To Dance With You – The Beatles.
Fade Out. |
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