CENA 01. ENFERMARIA IATE CLUBE. RECEPÇÃO. Interior.
Noite.
Continuação da última cena do capítulo anterior.
Bernardo ainda surpreso diante de Heloísa.
Bernardo
— Internar a mãe?! Clara, cê tá louca!
Heloísa
— Louca vai ficar ela se a gente não fizer nada. Bê,
pensa comigo... Você sabe como a saúde mental da mãe é
frágil, você mesmo disse que ela falou que viu o
fantasma de Helô. Deus me livre que ela tenha morrido,
mas.../
Bernardo
— (Corta) Você não tá querendo insinuar que a mãe viu o
fantasma de Heloísa, tá?
Heloísa
— Se o que ela viu foi alucinação ou fantasma, não vem
ao caso. O que a gente precisa decidir o mais rápido
possível é se ela vai ser internada ou não.
Marcelo entra do quarto e vai até Heloísa e Bernardo.
Marcelo
— Clara, como você tá?
Heloísa
— (Beija Marcelo) Ainda em choque.
Bernardo
— Ela quer internar a mãe em uma clínica de repouso.
Acha que vai ser melhor pra saúde psicológica dela. O
que você acha, Marcelo?
Marcelo
— Eu prefiro não achar nada. Essa é uma questão de
família que eu não quero me meter.
Bernardo olha pensativo para Heloísa.
CENA 02. casa de giancarlo. quarto de bianca e rogério.
Interior. Noite.
Continuação da cena 38 do capítulo anterior. Bianca
irritada diante de Rogério.
Bianca
— Cala a boca! Você nunca mais repete isso!
Rogério
— Tá nervosa por que, Bianca? Ta com medo que eu fale
alguma coisa pro seu pai?
Bianca
— Você é um frouxo, não teria coragem.
Rogério
— E você gosta de me humilhar, né?
Bianca
— O que você chama de humilhação, eu chamo de
sinceridade. (Tom) Pelo menos você não é ingrato, porque
se não fosse por mim você não seria nada.
Rogério
— Isso não é verdade.
Bianca
— Você sabe que é. Se não fosse por mim você não estaria
na direção do marketing da exportadora.
Rogério
— Você gosta de jogar na minha cara isso.
Bianca
— Eu dei esse empurrãozinho e você não pode negar.
Rogério
— Do jeito que você fala até parece que eu me casei por
interesse... Eu amava você.
Bianca
— Amava?
Rogério
— É, mas parece que você faz questão de construir um
muro cada vez maior entre nós. (Pausa) Dá licença.
Rogério entra no banheiro do quarto. Bianca fica por
ali.
CENA 03. enfermaria iate clube. recepção. Interior.
Noite.
Heloísa e Marcelo trocam abraços e caricias. Ao fundo,
Bernardo caminha pensativo pelo local.
Marcelo
— (Sorri) Sei lá, Clara. Mas você tá diferente.
Heloísa fica por alguns segundos sem ação, até que por
fim sorri e responde.
Heloísa
— É óbvio, amor. Olha só por tudo que a gente passou.
Marcelo
— Cê tem razão. Que burrice a minha.
Marcelo beija Heloísa. Bernardo se aproxima.
Bernardo
— Tudo bem, eu acho que você tem razão. Internar a mãe é
a melhor coisa que a gente pode fazer.
Heloísa
— Isso, Bernardo. Essa é a melhor decisão que a gente
pode tomar.
Bernardo
— E agora o que a gente faz?
Heloísa
— Pode deixar que eu resolvo tudo.
Marcelo
— Tem certeza? Você acabou de sofrer um acidente, deve
tá fragilizada ainda. Se você quiser eu/
Heloísa
— (Corta) Não. Eu faço questão de fazer isso.
Marcelo
— Então deixa pelo menos eu te acompanhar.
Heloísa concorda fazendo um gesto com a cabeça.
Bernardo — Eu vou voltar pro quarto. Me mantenham informado.
Bernardo entra no quarto da enfermaria.
CENA 04. enfermaria iate clube. quarto. Interior. Noite.
Leandro observa Luísa que parece estar dormindo.
Bernardo entra.
Bernardo
— Como é que ela tá?
Leandro
— Acho que dormiu. (Tom) Velho, infelizmente eu agora
vou ter que ir mesmo.
Bernardo
— Tá de boa, valeu pela força.
Leandro
— Qualquer coisa pode ligar. Abraço.
E Leandro sai. Tempo e Luísa abre os olhos.
Bernardo
— Você não tava dormindo?
Luísa
— E você acha que eu consigo, Bernardo? Cadê a Clara? Eu
quero falar com ela.
Bernardo fica um tempo em silêncio, sem saber o que
responder.
Bernardo
— Relaxa, mãe. Daqui a pouco a gente vai sair daqui.
Em Bernardo penalizado.
CENA 05. rio de janeiro. são conrado. Exterior. Noite.
Takes de localização do bairro de São Conrado.
CENA 06. casa de gregório. sala. Interior. Noite.
Leandro entra da rua e encontra Gregório e Tarsila.
Leandro
— Boa noite.
Tarsila
— Encontraram a Heloísa?
Leandro
— Ainda não e se encontrar duvido muito que seja viva.
Gregório
— Cê acha mesmo? Ela pode ter se salvado e nadado até
algum lugar.
Leandro
— Pode ser, agora eu vou subir que eu to cansadão.
Leandro vai subindo as escadas. Gregório e Tarsila se
olham.
Tarsila
— Coitada da Luísa.
Gregório
— Tá com pena por quê? Você mal conhece ela.
CENA 07. clínica de repouso. recepção. Interior. Noite.
Heloísa ao celular com Marcelo do lado.
Heloísa
— (Cel) Bernardo. Pode vir que tá tudo certo, mas não
esquece de não falar nada pra ela. Tem como anotar o
endereço?
CENA 08. enfermaria iate clube. quarto. Interior. Noite.
Bernardo falado ao celular. Luísa deitada na cama.
Bernardo
— (Cel) Pode falar, Clara. Eu decoro. (Pausa) Tá certo,
daqui a pouco a gente tá aí. (Desliga).
Luísa
— Que foi?
Bernardo
— Era a Clara. (Tom) Vamos?
Luísa
— (Se levantando) A gente vai pra casa?
Bernardo
— Depois. Primeiro a gente vai ter que dar uma
passadinha num lugar.
Bernardo dá o braço, ajudando Luísa a caminhar.
Luísa
— Onde a gente vai, filho?
Bernardo
— No caminho eu te falo.
CENA 09. clínica de repouso. recepção. Interior. Noite.
Marcelo abraça Heloísa.
Marcelo
— O Bernardo tá vindo com a sua mãe pra cá?
Heloísa
— Sim... To em dúvida se eu to fazendo a coisa certa...
Marcelo
— Você tá fazendo o que tá ao seu alcance. Certo ou
errado tudo isso é pra proteger a sua mãe, não é?
Heloísa
— É sim, mas eu espero não me arrepender depois.
Marcelo
— Fica tranquila, Clara. A sua mãe não vai ficar aqui
pra sempre.
Os dois ficam abraçados.
CENA 10. casa de gregório. sala. Interior. Noite.
Continuação da cena 6. Gregório e Tarsila.
Tarsila
— To com pena porque deve ser duro pra uma mãe não saber
se um filho tá vivo ou morto.
Gregório
— É... Isso é verdade.
Tarsila
— Será que isso vai fazer com que o Marcelo cancele o
casamento?
Gregório
— Por quê? Até onde eu sei quem sumiu não foi a noiva
dele.
Tarsila
— Ah sei lá! Como é da família eu pensei que isso
pudesse modificar os planos deles.
Gregório
— Até que não seria má ideia. Melhor seria se aquele
imbecil sumisse daqui.
Tarsila
— Você sabe que isso não vai acontecer.
Gregório
— (Baixo) Ele já sumiu uma vez, bem que poderia sumir de
novo.
Tarsila
— (Não escuta) O que você disse?
Gregório
— Nada. Amanhã de manhã eu vou fazer uma visita pro
nosso adorado sobrinho.
Em Gregório.
CENA 11. casa de repouso. recepção. Interior. Noite.
Heloísa abraçada em Marcelo. Tempo e ela se levanta.
Marcelo
— Onde você vai, Clara?
Heloísa
— Pegar um ar. Não to me sentindo bem.
Marcelo
— Eu vou com você. Não vou deixar você sair sozinha.
Heloísa sorri e os dois saem para a rua.
CENA 12. casa de repouso. frente. Exterior. Noite.
Marcelo e Heloísa saem de dentro da casa de repouso.
Heloísa
— Vamos um pouco mais pra lá.
Heloísa leva Marcelo para longe da entrada. Os dois vão
fica bem longe da vista de qualquer pessoa que entrar.
Tempo e um táxi para na porta. Descem Bernardo e Luísa.
Luísa
— (Olha em volta) Que lugar é esse?
Bernardo
— Vem, mãe.
Meio desconfiada, Luísa entra com Bernardo.
CENA 13. casa de repouso. recepção. Interior. Noite.
Bernardo e Luísa entra da rua.
Luísa
— Bernardo o que a gente tá fazendo aqui?
Bernardo
— Mãe... A Clara e eu achamos melhor você ficar aqui por
um tempo.
Luísa
— (Surpresa) Que?! Que lugar é esse?!
Bernardo
— É uma clínica de repouso. Vai ser bom pra senhora
descansar um pouco. A sua cabeça tá muito atordoada com
tudo.
Luísa
— Eu não preciso descansar, Bernardo. (Grita) Eu não
quero ficar aqui! Chama a Clara! Vocês não podem fazer
isso comigo!
Regina (50 anos, cabelos castanhos e cacheados) se
aproxima dos dois e estende a mão para cumprimentar
Bernardo.
Regina
— Bernardo Vargas? (Cumprimenta) Prazer, Dra. Regina. Sua
irmã conversou comigo e já está tudo preparado para
receber a sua mãe.
Luísa
— Eu não vou ficar aqui!
Bernardo
— Mãe, vai ser melhor pra você.
Regina
— Dona Luísa, a senhora vai ser muito bem tratada aqui.
Eu lhe garanto que esse tempo aqui vai servir para a
senhora se renovar.
Luísa
— Eu vou embora daqui!
Luísa vai caminhando em direção à porta de saída.
Regina
— Alguém segura ela.
Um enfermeiro segura Luísa que começa a se debater.
Luísa
— Me solta! Bernardo manda eles me soltarem!
Bernardo
— (Pra Regina) Precisa disso?
Regina
— Infelizmente sim. Ela tá muito transtornada.
Regina se aproxima de Luísa com uma seringa, injeta nela
e a faz desmaiar. O enfermeiro leva Luísa desacordada
para a parte interna da clínica
Bernardo
— O que foi isso que você colocou nela?
Regina
— Fica tranquilo que é só um calmante. Eu vou ter que me
retirar, mas qualquer coisa a sua irmã tem meus
contatos. Com licença.
Regina vai para a mesma direção que foi o enfermeiro.
Bernardo fica olhando penalizado. Tempo e Marcelo e
Heloísa entram da rua.
Heloísa
— Bernardo. Cadê a mãe?
Bernardo
— Já levaram.
CENA 14. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Dia.
Stock-shot da cidade ao amanhecer. A última tomada é do
bairro das Laranjeiras, na frente do prédio de Otávio.
CENA 15. ap de otávio. sala. Interior. Dia.
Neide (50 anos, cabelos curtos e castanhos) a diarista,
tira o pó dos móveis com um pano. Juliana desce as
escadas com a mochila nas costas, vai até Neide e dá um
beijo no rosto dela.
Juliana
— Bom dia Neide.
Neide
— Já vai, Ju? Não vai tomar seu café?
Juliana
— To meio atrasada, hoje não vai rolar.
Neide
— Acorda mais cedo da próxima vez.
Juliana
— Prefiro a minha caminha.
Juliana manda um beijo para Neide e sai do apartamento.
Neide vai para a cozinha e depois de um tempo volta com
o aspirador de pó. Ela liga e o aparelho começa a fazer
seu ruído característico. Giovanna entra da sala de
jantar tampando os ouvidos.
Giovanna
— Neide! Precisa desse escândalo todo pra varrer a casa?
Neide
— (Não escuta) Que!
Não to escutando, dona Giovanna!
Giovanna
— (Faz sinal) Desliga isso!
Neide desliga o aspirador de pó.
Neide
— A senhora quer alguma coisa?
Giovanna
— Que você limpe a casa de forma silenciosa. Ninguém
merece esse aspirador de pó escandaloso.
Neide
— Ih não vai dar não, dona Giovanna. Ou eu não ligo o
aspirador ou eu limpo a casa. Na vassoura e no paninho é
que eu não vou limpar isso.
Giovanna
— Você é folgada, mesmo.
Neide
— Depois eu venho com atestado médico por causa da minha
dor nas costas e a senhora reclama. Eu não sou mais
jovenzinha.
Giovanna
— (Ri) Tá bom, Neide.
Vai lavar um tanque de roupa, a louça suja, sei lá. Algo
que não faça barulho.
Neide
— Ok. A senhora que é a patroa.
Neide pega o aspirador de pó e vai para a cozinha.
Otávio desce as escadas.
Giovanna
— Bom dia, querido.
Giovanna dá um beijo em Otávio.
Otávio
— Bom dia e até mais. Hoje o dia vai ser corrido.
Giovanna
— Não vai nem tomar café comigo?
Otávio
— Não vai dar. Eu preciso visitar o Marcelo, ver como é
que tão as coisas depois daquele acidente com a Heloísa.
Giovanna
— Dez minutos não vão lhe fazer falta, Otávio. Senta
comigo.
Otávio
— Eu já disse que não, Giovanna! Não insiste! Eu tenho
coisa mais importante pra fazer do que ficar de
conversinha fiada. Se quer tricotar pela manhã, liga pra
uma das suas amigas. (Tom) À noite a gente conversa.
Otávio sai para a rua. Em Giovanna chateada.
CENA 16. ap de luísa. cozinha. Interior. Dia.
Bernardo em pé do lado da geladeira tomando um copo de
água. Heloísa entra.
Heloísa
— Tá fazendo jejum?
Bernardo
— Tava aqui pensando se a gente fez a coisa certa ao
internar a mãe.
Heloísa
— Se foi o certo eu não sei, mas pode ter certeza que
foi o melhor.
Heloísa dá um sorriso falso e sai. Bernardo fica
pensativo.
CENA 17. colégio são sebastião. corredor. Interior. Dia.
Movimentação normal nos corredores da escola com os
alunos circulando. Yasmin e Juliana conversam e
caminham.
Juliana
— Ele me procurou de novo.
Yasmin
— (Não entende) Que?
Juliana
— O carinha mais velho da praia, que a gente se pegou no
Ibiza. Lembra?
Yasmin
— Ah tá! Quê que tem? Vocês voltaram a se ver?
Juliana
— Não, ele me chamou pra sair, mas eu to enrolando.
Yasmin
— Juliana, para de fazer cu doce. Vocês querem se pegar,
então que se peguem. Não vem bancar a santinha pra cima
de mim.
Juliana
— Não é disso que eu to falando, Yasmin. É que eu acho
que ele tem namorada.
Yasmin
— Que filho da/
Juliana
— (Corta) E aí não sei o que eu faço: se dou uma chance
pra ele ou se esqueço.
Yasmin
— (Brinca) Vai soltar o: ou ela ou eu?
Juliana
— Me poupe, Yasmin. Óbvio que não. Talvez eu aceite a
próxima investida dele só pra ver no que vai dar. (Tom)
Tem o que agora?
Yasmin
— História, eu acho. A gente se fala no intervalo.
Yasmin entra na sala e Juliana segue caminhando.
CENA 18. ap de otávio. sala. Interior. Dia.
Ninguém na sala. A campainha toca e Neide vem da cozinha
para atender. Ao abrir a porta ela vê Jardel.
Jardel
— Bom dia, o Dr. Otávio está?
Neide
— O senhor é amigo dele não é?
Jardel
— Podemos dizer que sim. Posso entrar.
Neide
— Claro, mas só que o Dr. Otávio não tá em casa.
Jardel já entrou. Giovanna desce as escadas com a bolsa
na mão, pronta para sair.
Giovanna
— Neide, não esquece de/ (Percebe Jardel) Você foi que
saiu atrás do Marcelo junto com o Otávio, né?
Jardel
— Isso mesmo.
Giovanna
— Desculpa, mas como é o seu nome mesmo?
Jardel
— Jardel. (Estende a mão) Prazer.
Giovanna
— Prazer. Giovanna...
Olha, o Otávio não tá em casa.
Enquanto isso, Neide já foi para a cozinha.
Jardel
— Pena, achei que ia conseguir encontrar ele aqui. Mas
tudo bem eu vou até o escritório dele.
Giovanna
— Acho que lá você também não vai encontrar ele. Quando
saiu, o Otávio disse que ia visitar o Marcelo.
Jardel
— (Interessado) Ah é? E ele falou por quê?
Giovanna
— Não sei direito, mas parece que tem a ver com o
casamento do Marcelo e também tem aquela história da
irmã da noiva dele que desapareceu no mar, você tá
sabendo?
Jardel
— Fiquei sabendo que uma pessoa tinha desaparecido
ontem, mas não sabia quem era. Mas eu to vendo que a
senhora tá de saída, não vou tomar o seu tempo.
Giovanna
— Realmente, e eu ainda tenho que pegar um táxi pra
chegar na loja.
Jardel
— Onde fica?
Giovanna
— Ipanema.
Jardel
— Se a senhora quiser eu posso dar uma carona.
Giovanna
— Eu aceito, mas para de me chamar de senhora. E no
caminho eu te conto a história toda.
Giovanna abre a porta da saída.
Jardel
— Você trabalha nessa loja?
Giovanna
— Sou a gerente de uma joalheria, mas com a crise
ninguém tá com dinheiro pra comprar joias.
Os dois saem juntos.
CENA 19. clínica de repouso. recepção. Interior. Dia.
Heloísa entra da rua e vai até a secretária.
Heloísa
— Bom dia, meu nome é Clara Vargas e eu tenho hora
agendada com a Doutora Regina.
Regina sai do seu consultório.
Regina
— Eu tava mesmo esperando por você. Pode entrar.
Heloísa e Regina entram no consultório.
CENA 20. clínica de repouso. consultório. Interior. Dia.
Heloísa e Regina sentadas frente a frente.
Heloísa
— Eu vim aqui pra entregar o que a gente tinha
combinado.
Heloísa abre a bolsa, tira um maço de dinheiro de dentro
e joga em cima da mesa.
Heloísa
— Tá tudo aí. Se quiser pode contar.
Regina
— Não precisa. Eu confio em quem faz negócio comigo.
Heloísa
— Ótimo, porque eu também to confiado na doutora.
Regina
— E quais são as orientações em relação à sua mãe?
Heloísa
— Por enquanto eu quero que você controle quem for
visitar ela e me avise quando alguém aparecer.
Regina
— Algo mais?
Heloísa
— Sim... Talvez seja bom você dar uns calmantes, assim
quando alguém vier fazer uma visita, vai ter certeza de
que ela não tem a mínima condição de sair daqui.
Regina
— Tudo isso que a senhora tá pedindo vai ser feito.
Heloísa
— Assim espero. Eu não quero que a minha mãe saia daqui
tão cedo.
CENA 21. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Marcelo e Otávio. Conversa já iniciada.
Otávio
— Adiar? Os papéis já estão todos encaminhados. O resto
é burocracia.
Marcelo
— Eu sei, Otávio. Mas depois disso que aconteceu com a
Heloísa, eu não sei se a Clara vai querer se casar
agora.
Otávio
— E o que eu faço?
Marcelo
— Espera. Eu vou ver se falo com a Clara à noite pra ver
o que ela quer fazer.
A campainha toca. Aparecida vem da cozinha e abre a
porta. Gregório entra.
Gregório
— O Marcelo tá por aqui?
Aparecida aponta para Marcelo e Otávio.
Aparecida
— Seu Marcelo tá ali. O senhor pode passar.
Gregório vê Otávio e se aproxima dos dois. Aparecida já
foi para a cozinha.
Gregório
— Acho que cheguei em má hora.
Marcelo
— Imagina tio. Chegou nada.
Marcelo dá um abraço em Gregório. Otávio aperta a sua
mão, num sinal de cordialidade.
Gregório
— Eu fiquei sabendo o que aconteceu com a Heloísa. Como
é que tão as coisas?
Marcelo
— Na mesma. Ela continua desaparecida e pra piorar, a
Luísa teve um surto e precisou ser internada numa
clínica.
Gregório
— A Clara que deve ter ficado abalada.
Otávio
— O Marcelo tava pensando em adiar o casamento, mas acho
que não vai ser preciso.
Gregório
— (Falso) Que bom. Depois de tudo que aconteceu, o
mínimo que ele merece é ser feliz.
Otávio encara Gregório, não acreditando em uma só
palavra que ele diz.
Gregório
— Eu só vim pra saber mais notícias. Preciso ir pra
empresa.
Marcelo
— E me espera, que em breve eu também vou passar a
frequentar ela.
Gregório
— Aguardo ansiosamente.
Otávio
— Eu também já vou indo, Marcelo. A gente se mantém em
contato.
Marcelo leva Gregório e Marcelo até a porta de saída.
CENA 22. casa de ana carolina. jardins. Exterior. Dia.
Gregório e Otávio caminham em direção aos seus carros no
jardim frontal da casa.
Gregório
— Você perdeu muito com a decisão do Marcelo de ficar
por aqui.
Otávio
— Pode ter certeza que não tanto quando você.
Otávio sorri irônico e entra no seu carro. Gregório faz
o mesmo e entra no seu carro.
CENA 23. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Dia.
Takes do Rio de Janeiro pela manhã.
CENA 24. colégio são sebastião. corredores. Interior.
Dia.
O sinal toca e os alunos saem das salas. Karina vê
Yasmin e corre até ela.
Karina
— Que bom que eu te encontrei, Yasmin.
Yasmin
— Que foi?
Karina
— Eu disse pra minha mãe que ia pra sua casa.
Yasmin
— Que? Como assim? A gente combinou alguma coisa?
Karina
— Estamos combinando agora. Eu menti pra ela.
Yasmin
— E precisava me meter nesse rolo?
Karina
— Eu vou visitar o Marcelo, aquele meu primo
desaparecido que apareceu, sabe?
Yasmin
— Sei.
Karina
— E não sei porque eles ficam me enrolando e eu nunca
consigo conhecer ele. To morta de curiosidade pra saber
como ele é. Se a mãe ligar, me dá cobertura.
Yasmin
— (Ri) Tá bom, Karina. Vai lá visitar o seu parente
novo. Eu te dou cobertura.
Karina
— Sabia que eu podia contar com você.
CENA 25. casa de ana carolina. escritório. Interior.
Dia.
Marcelo e Rudá conversando.
Rudá
— Mas lembrar do que exatamente?
Marcelo
— Qualquer coisa, Rudá. Você disse que os seus pais
foram empregados dessa casa durante muitos anos e que
trabalharam aqui na época que o meu pai sumiu comigo.
Rudá
— Verdade, mas eu era muito pequeno. Não se se vou poder
ajudar.
Marcelo
— Faz um esforço. Qualquer nome, acontecimento que você
se lembre vai ser muito importante.
Rudá
— Ok. Vou fazer um esforço.
CENA 26. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
O telefone toca, mas ninguém aparece pra atender. Tempo
e Milena vem descendo as escadas.
Milena
— Não tem ninguém pra atender esse telefone?
Milena atende o telefone.
Milena
— (Tel) Alô. Oi Tarsila, tudo bem?
Yasmin entra da rua.
Milena
— (Tel) A Karina?
Yasmin gesticula para Milena. Pedindo para ela
confirmar.
Milena
— (Tel) É... Elas não chegaram ainda, daqui a pouco
devem tá por aí... Tá bom, eu digo sim. Beijos.
(Desliga).
Milena olha para Yasmin intrigada.
Milena
— Ô Yasmin, que história é essa de que a Karina ia vir
pra cá? Cadê ela?
Yasmin
— (Vai subindo as escadas) Longa história, maninha.
Milena
— Pode parar. Pede pra eu acobertar a mentira de vocês e
não me fala nada. Desce aqui e me conta.
Yasmin
— Ela queria visitar o Marcelo, o primo dela que tava
sumido.
Milena
— Sei, e precisa fazer isso escondido?
Yasmin
— Ah Milena! Você vai perguntar isso pra mim? Ela me
pediu pra eu confirmar a história dela e é isso que eu
to fazendo. Vai me dizer que você nunca fez isso?
Milena
— Não é disso que eu to falando.
Yasmin
— Então acabou a conversa. Vou deixar a mochila no
quarto.
CENA 27. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Dolores abre a porta da rua para Karina.
Karina
— O Marcelo tá?
Dolores
— E você quem é?
Karina
— A prima dele.
Dolores
— Fica a vontade. Eu vou chamar ele.
Dolores entra no escritório. Samuel entra da cozinha e
se surpreende ao ver Karina.
Samuel
— Karina?
Karina
— Samuel? O que você tá fazendo aqui?
Karina dá um abraço em Samuel, que fica sem jeito.
Samuel
— Eu moro aqui. Quer dizer, meu irmão trabalha e mora
aqui e eu moro junto.
Karina
— Não sabia. A gente poderia ter vindo junto.
Samuel
— É...
Marcelo sai do escritório e vai até os dois.
Marcelo
— Queria falar comigo?
Samuel sai sem ser percebido.
Karina
— Vim me apresentar.
Marcelo
— Você disse pra Dolores que você é minha prima. Você é
filha do tio Gregório?
Karina
— Sim. Prazer, Karina.
Karina estende a mão. Marcelo dá um sorriso e abraça
Karina.
Marcelo
— Prazer em te conhecer, Karina. Você veio sozinha?
Karina
— Sim.
Marcelo
— Mas os seus pais sabem que você tá aqui, né?
Karina
— (Mente) Claro!
Marcelo
— Ótimo, então por que você não almoça aqui comigo?
Karina
— Eu ia adorar.
CENA 28. casa de giancarlo. quarto de yasmin. Interior.
Dia.
Yasmin por ali. Milena entra.
Milena
— Eu não acho certo isso que vocês tão fazendo. Não vou
acobertar a mentira de vocês.
Yasmin
— Milena! Deixa de ser chata!
Milena
— Não é questão de ser chata, amada! Se acontece alguma
coisa com aquela garota/
Yasmin
— (Corta) Não vai acontecer nada. Para de paranoia.
Milena
— Eu vou ligar pro Leandro.
Yasmin
— Milena! A Karina não vai mais confiar em mim!
Milena
— Bobagem.
Milena pega o celular
Milena
— (Cel) Amor. Tudo bem?
CENA 29. barão do alambique. sala de leandro. Interior.
Dia.
Leandro falando ao celular.
Leandro
— (Cel) O que essa peste fez dessa vez?... Vou ligar pra
mãe e ela que se vire com a Karina. Quem pariu Daniel
que o embale. (Corrige) Isso: Matheus. Enfim, vou passar
esse pepino adiante. (Tom) Quando é que a gente vai se
ver? To com saudade de você. (Ri) Tá bom, a gente se
fala mais tarde. (Desliga).
Logo em seguida Leandro faz uma nova ligação pelo
celular.
CENA 30. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Tarsila falando ao telefone.
Tarsila
— (Tel) Como é que é, Leandro? O que sua irmã fez?...
Sei...
Karina entra da rua com Marcelo.
Tarsila
— (Tel) Ela chegou aqui. Depois a gente se fala.
(Desliga) Onde você tava, Karina? E não adianta dizer
que tava com a sua amiga que a Milena ligou pro seu
irmão e desmentiu tudo.
Karina
— (Reclama) Fofoqueira. Fui visitar o Marcelo.
Tarsila
— E precisava de tudo isso, criatura?
Karina
— Eu peço e vocês não vão comigo.
Marcelo
— Tia/ Eu posso te chamar assim, né?
Tarsila
— Claro, Marcelo.
Marcelo
— Eu não sabia que ela não tinha avisado. Ela me disse
que tinha avisado pra vocês.
Tarsila
— Mas não avisou. (Pra Marcelo) Desculpa qualquer
incomodo.
Marcelo
— Imagina. (Pra Karina) Gostei de te conhecer. Pode
voltar quando quiser.
Karina
— Obrigada.
Marcelo
— Agora eu tenho que ir. Só vim pra trazer ela.
Tarsila acompanha Marcelo até a saída.
Tarsila
— (Sorri) Volte sempre, querido.
Assim que Marcelo sai, Tarsila encara Karina.
Tarsila
— E você se prepare porque eu vou pensar num castigo pra
você.
Karina revira os olhos.
CENA 31. carro de marcelo.
ambiente. Interior. Dia.
Marcelo dirigindo o carro que está parado no semáforo e
fazendo uma ligação ao celular.
Marcelo
— (Cel) Clara, eu queria conversar com você. Será que a
gente pode se ver à noite?
CENA 32. casa de ana carolina. jardins. Exterior. Dia.
O sol está quase se pondo. Rudá corta os arbustos do
jardim. Marcelo chega de carro, estaciona e vai até
Rudá.
Marcelo
— Pensou no que eu te pedi?
Rudá
— Fiquei pensando sim.
Marcelo
— E aí?
Rudá
— As coisas ainda tão meio confusas, mas assim que eu
organizar as minhas lembranças eu falo com você.
Marcelo
— Essas suas lembranças podem ser uma forma de começar a
entender o passado dos meus pais.
Rudá
— Por que você não pergunta pro seu tio?
Marcelo
— Porque por mais que ele e o meu pai fossem irmãos, tem
coisas que acontecem dentro de casa e só que tá nela
sabe. Você, mesmo que criança, tava dentro.
Rudá concorda. Marcelo vê Samuel ao longe e chama ele.
Marcelo
— (Chama) Samuel vem cá!
Samuel se aproxima de Marcelo e Rudá.
Marcelo
— Da onde você conhece a Karina.
Samuel
— A gente estuda no mesmo colégio.
Rudá
— E ele é caidinho na dela.
Samuel
— Não ferra!
Rudá
— To mentindo? Só não tem coragem de chegar junto.
Marcelo
— (Ri) Que é isso, Rudá. Você tá deixando o garoto
constrangido.
Rudá
— To dando um toque pra ele agir pra não acabar chupando
o dedo. (Tom) Já tá escurecendo, vou recolher as coisas.
Rudá começa a juntar as ferramentas de jardinagem.
CENA 33. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Noite.
Stock-shot do Rio de Janeiro ao anoitecer.
CENA 34. ap de luísa. sala. Interior. noite.
Bernardo falando com o Delegado.
Bernardo
— Então vocês não tem nenhuma pista?
Delegado
— Infelizmente não. (Se levanta) Desculpe vir a essa
hora, mas eu não achava correto deixar vocês sem
informações.
Bernardo
— Eu agradeço pela consideração.
Bernardo leva o Delegado até a saída. Logo em seguida
vai até um porta retratos em que estão Clara e Heloísa e
fica observando a foto.
CENA 35. tijuca. ambiente.
Exterior. Noite.
Takes do bairro da Tijuca.
CENA 36. garagem/depÓsito.
ambiente. Interior. Dia.
Uma garagem escura e com a parede cheia de infiltrações.
A única luz que tem é a da rua, que aparece quando
Leandro abre manualmente o portão. Leandro vai até o
carro popular que está ali dento, entra e dá a ré,
deixando o carro na rua.
Corte descontínuo: O carro mais caro que Leandro estava
usando nas cenas anteriores, agora está na garagem.
Leandro fecha a garagem e entra no carro popular.
CENA 36. casa de ana carolina. escritório. Interior.
Noite.
Marcelo e Rudá.
Marcelo
— (Surpreso) Lembrou?!
Rudá
— É... Mais ou menos... Eu não tenho certeza do que eu
vou te falar, eu era pequeno...
Marcelo
— Não importa, qualquer ajuda é valida.
Rudá
— Eu lembro que quando eu era criança a dona Ana
Carolina e o Dr Alcides me deixavam circular pela casa.
Mas a minha mãe não deixava eu sair quando tinha visita.
E eu me lembro de ela falando várias vezes pra mim: Não
vai pra sala, menino. O Dr. Coimbra tá lá.
Marcelo
— (Intrigado) Quem é Dr. Coimbra?
Rudá
— Não sei. Deve ser algum amigo dos seus pais. Eu não me
lembro mais de terem falado nele depois que o seu pai
sumiu como você.
Marcelo
— Você acha que tem alguma coisa a ver com o sumiço do
meu pai.
Rudá
— Não, foi só uma lembrança que eu tive. Eu era muito
pequeno na época. O que eu to te dizendo pode ser que
seja delírio meu.
Marcelo
— Mesmo assim eu vou investigar. E se esse Dr. Coimbra
existe mesmo, eu vou descobrir quem é.
Em Marcelo pensativo.
CENA 37. ap de luísa. sala. Interior. Noite.
Luzes apagadas. Heloísa entra do seu quarto e acende a
luz. Ela toma um susto ao ver Bernardo sentado no sofá a
encarando.
Heloísa
— (Susto) Que droga, Bernardo! Quer me matar do coração?
Bernardo
— Pra que essa reação desproporcional, Clarinha?
Heloísa
— (Se acalma) Me assustei.
Bernardo
— Desculpa.
Heloísa
— Vou encontrar o Marcelo.
Bernardo
— (Tom) To pensando em ligar pro pai e pedir pra ele
vir, afinal a Helô tá desaparecida.
Heloísa
— (Nervosa) Não! (Respira/Se acalma) Não precisa, pra
que fazer isso? O pai estando aqui não ia ajudar nada
nas buscas.
Bernardo se levanta.
Bernardo
— Claro que não é bom ele vir. Você não ia conseguir
internar ele, não é?
Heloísa não esboça reação.
Heloísa
— (Saindo) Agora não é o momento pra ironias, Bernardo.
Heloísa vai abrir a porta da rua, mas Bernardo fecha com
força e prensa Heloísa contra parede.
Heloísa
— Você tá me machucando! Me solta!
Bernardo encara Heloísa.
Bernardo
— Para de fazer teatrinho. Na hora da confusão eu não me
dei conta, mas agora tudo se encaixa: você só quis
internar a nossa mãe pra que ela não revelasse essa
farsa.
Heloísa
— (Nervosa) Eu não sei do que você tá falando.
Bernardo
— (Grita) To falando que quem tá desaparecida é a Clara
e que você tá querendo enganar todo mundo se passando
por ela!! Confessa, Heloísa!!
Em Heloísa nervosa e acuada. Fade Out.
Música de encerramento:
Alejate de mí – Camila. |
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