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Música: Just Breathe - Pearl Jam
As esperanças na alma de Barbara ascendem junto ao
pavio, que ilumina a exatidão numa espécie de túnel
sombrio, por mais que o amado permaneça na cama em um
estado de traumatismo de crânio-encefálico, devido ao
forte impacto no cérebro, não deve ceder em um momento
de queda livre, deve avançar as asas feridas. Levi pode
acordar amanhã ou daqui a sete anos, isso irá acontecer
a qualquer segundo, não tem como escrever nada, está
entregue ao destino, que transformará sua existência em
uma obra de arte, apesar de ser esculpida em lágrimas.
Tudo mudou completamente quando a cronista divisou o
rosto do homem através daquela vidraça no hospital de
Porto Seguro, um misto insano de alegria e aflição,
poderia continuar apaixonada naquelas centenas de milhas
que o separavam, tão longe um do outro. O tempo é um
inimigo, transformando em horas e semanas, as lembranças
felizes soam apenas como chaves, a deixando ainda mais
acorrentada a essa prisão. Ela perambulou pelos
corredores do prédio antes de chegar ao estacionamento,
as pessoas não entendiam o seu sofrimento ao pedir
autógrafo, mas faz parte do acordo em exibir sua
imagem.
Os anjos parecem estar caindo perante aos seus tetos,
Olga não a compreendia em nenhum momento, mas as
conversas inconvenientes da senhora diminuíram
gradualmente, provavelmente começou a respeitar a
história do genro, que apesar dos erros, é um homem
batalhador, um soldado pronto para a luta. Ela entra no
automóvel, havia saído de casa bem cedo para não ser
acompanhada por ninguém, os familiares a contemplavam
como uma fraca. Quando o veículo chegou a balsa, Barbara
teve que saltar, observando os indivíduos ao redor, ela
compra uma garrafa de água, o calor estava começando a
ficar insuportável naquele verão, é uma tristeza, pois
detesta essa época do ano. Ela liga o motor quando
finalmente a embarcação de fundo chato atracou, um forte
chuvisco começa a cair, isso não é um incomodo, mas
deixava a cidade ainda mais quente se não se tornar uma
tempestade capaz de esfriar a terra.
A escritora para o veículo na frente do palacete e
lembrou-se de quando o amado a contou de um plano, criar
uma nova residência mais próxima da costa litorânea, com
um mapa feito pelo mesmo, cada detalhe meramente
imaginado, Tony havia tomado posse disso e se tornado
encarregado das obras, a casa estava sendo construída
aos poucos.
As palavras saem perfeitamente das suas mãos para o
computador, a dor e a escrita, elas andam juntas, estava
trabalhando no seu novo livro, dessa vez o amor
impossível tomou conta de sua criatividade, tinha se
tornado uma verdadeira camaleoa, dominava qualquer
gênero. Ela se levantou e divisa pela sacada a
tempestade se formando no céu cinzento, caindo
diretamente no oceano atlântico nos quilômetros à
frente, fazendo um forte barulho, pouco assustador.
Barbara fecha as portas e as cortinas, temendo a imagem
do cenário, retornando adiante do computador, mas a
inspiração tinha sumido do nada, o que é normal. Ela
pega um casaco no guarda-roupa da Hollister e o traja,
descendo as longas escadarias, passando por um dos
cômodos para chegar a cozinha.
Amália tinha acabado de preparar dois sanduiches
naturais, estava colocando numa bandeja de aço
retangular de quarenta e dois centímetros junto com uma
jarra de suco e um copo para levar a cronista, quando a
mesma apareceu. Barbara não fez desfeita, sentou-se em
uma das cadeiras próximo da mesa e começou a se
nutrir.
- Não te vejo comendo assim faz tempo. – Lembra a
senhora.
E com repleta razão, devido a constante jornada no
hospital, Barbara começou a se alimentar pouco, normal
para uma pessoa vivendo este tormento emocional, no
entanto sabe que precisa melhorar seu cardápio. Amália
sempre se preocupava com ela, demonstrando sempre um
forte carinho, principalmente com o neto.
- Está melhor, querida?
- Ainda me sinto em pedaços, sabe Amália?
- Somos duas, mas devemos ser fortes, começando por
nossas atitudes.
- É, me alimentando mal não vai ajudar em nada.
- Mas ás vezes a ansiedade falar mais forte.
- É o pior de ser humano.
Amália segurou as mãos de Barbara.
- E ainda tem o pequeno David, esse precisa muito da
mamãe.
- Meu filhote. Não sei nem como agradecer por sua
ajuda.
- Ajuda? Você é praticamente a minha filha, Barbara. – A
senhora esboça um sorriso no rosto. – Está sempre
presente e me deu uma das maiores benções da minha vida,
o meu netinho, quer maior agradecimento que esse?
- És uma vovó coruja.
- E não devo ser? O David é uma fofura.
- Falta apenas o Levi para o álbum em família de final
de ano estar completo, não é mesmo?
- Temos uma jornada inteira nos esperando.
- Sim.
- Choramos este tempo todo pela dor do luto.
- E agora ele se encontra em coma.
- Mas continua respirando, isso não é perfeito?
- Isso é verdade, mas estive pensando...
- Não adianta pensar em mais nada, querida, pensamentos
ás vezes são coisas negativas, neles estamos alegres e
em segundos, tudo se torna um grafite de visões.
- É uma grande conselheira.
- Só digo a verdade, não podemos ficar insistindo na
mesma tecla.
- Tem coisas que a gente não consegue dominar.
- Este é o seu controle.
Barbara deixa a cozinha, subindo para o quarto aonde o
filho continua deitado no berço, observa aquele sorriso
perfeito, dando à luz mais brilhante de sua existência.
Amália tem razão, não deve analisar as coisas antes de
acontecer, tem que deixar rolar junto a correnteza que
move o destino, o vento que atravessa de uma fresta é
capaz de trazer paz ao espírito e colidir entre os
sonhos.
O amor é brilhante.
O amor é um fetiche.
O amor é um encontro.
O amor é complicado.
O amor é a desgraça.
O amor é intenso.
O amor é o alimento.
O amor é o cansaço.
O amor é o tédio.
O amor é a compreensão.
O amor é a morte.
O amor é............
O que é o amor para você? |
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