CENA 12. COPACABANA PALACE. SALÃO DE FESTAS. INT. DIA.
Música pop ambiente. Edgar circula com Ayres.
EDGAR (olhando o celular) –
O pessoal quer que eu faça uma live e conte a eles o que rolou nesse
desfile. Mas é pra já. Live no Instagram e Facebook.
Edgar levanta o celular, ao modo de aparecer seu rosto e parte do local onde
está.
EDGAR –
Gravando... Queridos e queridas, amores e amoras, pitangas e kiwis, hoje
estou aqui no Copacabana Palace para o evento de moda de Laica Vidigal e já
lhes adianto que ela mais prometeu do que cumpriu.
Nesse instante, Laica aparece atrás de Edgar, mas ele não a nota.
EDGAR –
Foi uma coleção marcada pelo gosto duvidoso, com cores que não se harmonizam
e acessórios que você encontra fácil em lojas paraguaias para fantasias
carnavalescas. Chegando em casa eu lhes conto os detalhes. Agora, minha
assistente Ayres Duran mostrará como está o ambiente e as pseudo
celebridades que se dispuseram a vir nesse show de horrores.
Edgar entrega o celular para Ayres, que começa a gravar tudo.
LAICA –
Então o desfile não ficou do seu agrado, Edgar?
Edgar vira-se assustado. Dá um sorriso amarelo para Laica.
EDGAR –
Realmente... Não gostei do que vi, Laica. Você já foi mais competente.
LAICA –
Talvez você não entenda a proposta da coleção. Não te culpo pela sua
ignorância. Acontece...
Ayres começa a filmar os dois.
EDGAR –
Ignorante? Você sabe onde estudei? Escola de Belas Artes.
LAICA –
Poupe-me, Edgar. Você completou o ensino médio num supletivo, comprou um
celular em doze parcelas, pôs recarga na banca da esquina e saiu achando que
era blogueiro.
EDGAR –
Era, não, meu amor. Sou! Aceita que você é ridícula e não tem dom pro que
faz. Sabe o que eu faria com aquele amontoado de tecido em cores cítricas
ali? Daria pra uma escola de samba que homenageie a laranja e o limão.
Laica dá um tapa em Edgar. Todos olham ao redor. Ayres permanece filmando.
EDGAR –
Você é suja, Laica. Suja!
Laica desfere mais dois tapas, derrubando Edgar no chão.
LAICA –
Agora sim você está onde merece, seu rato de bueiro.
CENA 13.
RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA.
SONOPLASTIA: VOCÊ
PRECISA DE ALGUÉM – JOTA QUEST FEAT. MARCELO FALCÃO.
Um giro pela Zona
Sul, mostrando seus principais pontos, desde a Praia de Copacabana até o
Morro do Vidigal. Takes rápidos e pontuados.
CENA 14. SHOPPING.
INT. DIA.
Marta e Consuelo
passeiam pelo local com algumas sacolas de compras em mãos.
MÚSICA CESSA.
MARTA –
Que cena
deplorável aquela no fim do evento.
CONSUELO –
Coisas de
Brasil, minha querida. Faz muito bem o seu pai que vive mais no Canadá do
que aqui.
MARTA –
Aquele
blogueirinho é bem maléfico, a senhora não acha?
CONSUELO –
Achei. Mas a
Laica foi radical demais.
MARTA –
Em estapear o
rapaz?
CONSUELO –
Também. Mas
digo por colocar só modelo negra e com aqueles trajes exóticos.
MARTA –
Mas, mamãe,
era inspirado nos países da África Subsaariana. Normal que as modelos sejam
negras. Aliás, não sei qual o espanto.
CONSUELO –
É que aquelas
cores não combinaram com elas. Uma pele mais ariana seria bem mais apetitoso
para nossos olhos.
MARTA –
Xiu! Se te
ouvem falar essas coisas, a senhora pode ir presa.
CONSUELO –
Só mesmo nessa
republiqueta tupiniquim. Imagine só, eu, Consuelo Castelo Branco, nascida e
criada em berço de ouro, ser presa por uma coisinha insignificante que mora
na favela e teve os avós criados no fundo de uma senzala. É demais pra mim,
Marta Beatriz. Demais!
Em Marta, chocada.
CENA 15.
RESTAURANTE RANGO BOM. SALÃO. INT. DIA.
Teodoro e Daiana
estão lavando o local.
TEODORO –
Sabe das
horas, Daiana?
DAIANA –
Já são quase
três da tarde.
TEODORO –
Estranho... A
Tânia não voltou e nem ligou para dizer se houve algum imprevisto.
DAIANA –
Tem razão. Vou
tentar ligar pro celular dela.
Daiana vai até o
balcão e disca alguns números no telefone. Tempo nela.
DAIANA –
Nada, Teodoro.
Só dá desligado.
TEODORO –
Vamos aguardar
um pouco mais.
CENA 16. JOALHERIA
CINTRA. INT. DIA.
Uma jovem está
atendendo uma senhora, quando Tânia entra no local portando uma
submetralhadora 9mm e presa ao seu corpo estão duas bombas-relógio.
TÂNIA (firme) –
Eu
exijo todas as joias e dinheiro desse lugar.
Close nela.
Expressão firme.
TÂNIA –
Eu não tô com
tempo. Anda, põe tudo aqui. Eu quero dinheiro e joias.
Tânia tira a
mochila das costas e joga para a atendente.
TÂNIA –
Enche isso aí
ou vou explodir com a gente aqui.
Assustada, a
atendente começa a colocar as joias e dinheiro na mochila. O alarme é
disparado e Tânia pega a mochila e sai correndo.
CENA 17.
DELEGACIA. GABINETE DA DELEGADA. INT. DIA.
Uma pequena sala
em tom pastel com apenas um basculante e um ventilador de teto. Uma mesa de
madeira antiga, com um computador de última geração. Na parede de trás, o
mapa político do estado do Rio de Janeiro pregado a parede. A parte da
frente da sala é de divisórias de vidro, a qual dá total visão sobre os
demais departamentos da delegacia.
Joanne está ao
telefone.
JOANNE (tel.) –
Ok! Já,
já pegaremos essa delinquente.
Joanne desliga o
telefone e sai apressada.
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 18.
DELEGACIA. ANTESSALA DA DELEGADA. INT. DIA.
Joanne vai saindo
por ali, entre as repartições.
JOANNE (tom alto)
–
Atenção, galera! Houve um roubo milionário a Joalheria Cintra. A filial de
Copacabana. Uma mulher negra entrou com uma metralhadora e duas bombas
presas ao corpo e levou peças raras e dinheiro. Não temos muito tempo.
Devemos cercar a Linha Amarela, Avenida Brasil, A Dutra e a Ponte
Rio-Niterói, entendido? Vamos nos dividir e pegar essa mulher. (grita)
AGORA!
Todos saem
correndo.
CENA 19.
DELEGACIA. PÁTIO. EXT. DIA.
Joanne entra numa
viatura da polícia e sai acelerada, sendo seguida por muitas outras viaturas
com as sirenes ligadas.
CENA 20. POSTO DE
GASOLINA. EXT. DIA.
Um carro modelo
Blazer preta para, Tânia desce com a submetralhadora na mão e as bombas
agarradas ao corpo. Todos olham. Ela vai até o calibrador de pneus e pega um
pequeno pote.
HOMEM –
É ela. A ladra
da joalheria.
Tânia volta para o
carro e sai em disparada. Pouco depois, duas viaturas da polícia param no
posto. O homem se aproxima.
HOMEM –
A ladra da
joalheria saiu agora a pouco daqui. Corre!
As viaturas dão
partida e saem “cantando pneu”.
CENA 21. RIO DE
JANEIRO. AVENIDAS. EXT. DIA.
SONOPLASTIA: AÇÃO.
Imagens aéreas de
várias viaturas cruzando as avenidas em alta velocidade.
CENA 22. AVENIDA
VIEIRA SOUTO. EXT. DIA.
Perseguição
desenfreada e com muito ritmo acontece entre o carro que Tânia está e
viaturas da polícia. Os policiais atiram contra os pneus do carro,
assustando os pedestres que se encontram no calçadão.
Até que um tiro
acerta o pneu, o carro roda e rapidamente é cercado por outras viaturas.
Tânia desce do
carro chorando e com as mãos para o alto, mas as bombas continuam agarradas
a seu corpo.
TÂNIA
(desesperada) –
Eu sou inocente.
Eu juro!
No desespero de
Tânia.
CENA 23.
APARTAMENTO DE EDGAR. SALA. INT. DIA.
Ambiente extenso e
muito bem decorado em cores suaves.
Ayres está fazendo
um curativo em Edgar, quando o celular dele toca.
EDGAR (cel.) –
Alô!
(T) O quê? Tô indo já pra lá.
Edgar desliga o
celular e fica eufórico.
AYRES –
O que foi
agora?
EDGAR –
Um assalto
inusitado a joalheria mais famosa do Brasil.
AYRES –
Mas essa não é
a linha de cobertura do seu blog, garoto.
EDGAR –
Dane-se linha
de cobertura. É Kléber Magalhães. Além do mais, o assalto terminou na praia
e com bomba. Preciso fazer lives, entrevistar a galera.
Puxa Ayres pelo
braço.
EDGAR –
Vamos! É
furaço de reportagem. Já vejo os likes subindo, os seguidores aumentando.
CENA 24. AVENIDA
VIEIRA SOUTO. EXT. DIA.
Tânia permanece
com as mãos para o alto, cercada por policiais atrás das viaturas com as
armas apontadas. A área foi isolada. Ao longe, vemos muitos curiosos.
Joanne pega um
megafone.
JOANNE –
Senhora,
retire essas bombas do seu corpo. Isso não é um pedido.
TÂNIA –
Você está
vendo que estão agarradas ao meu corpo por uma barra de aço. Não posso
tirar. Preciso continuar achando as xaradas.
JOANNE –
Que xaradas
são essas?
TÂNIA –
As xaradas que
desativam essas bombas. Caso contrário, vou morrer. Eu fui obrigada a
assaltar essa joalheria. Eu não queria.
Élio (30 anos,
moreno, trajando farda policial) se aproxima de Joanne.
ÉLIO –
Melhor chamar o
esquadrão antibombas, não acha?
JOANNE –
E se ela
estiver mentindo?
CORTA PARA:
CALÇADÃO
Edgar e Ayres
chegam ao local, olham o movimento.
EDGAR –
Acho que vai
bombar. (Entregando o celular) Toma o celular e me filma direito, sem
tremer.
Ayres começa a
filmar.
EDGAR –
Estamos
falando aqui da Praia de Copacabana, onde a policial cerca uma assaltante de
joias. Segundo fontes, ela retirou peças raras e valiosíssimas da Joalheria
Cintra, de propriedade do empresário Kléber Magalhães. Sabemos também que a
meliante está com duas bombas agarradas ao corpo, que se forem verdadeiras,
podem explodir a qualquer momento.
CENA 25. MANSÃO
MAGALHÃES. FACHADA. EXT. DIA.
Uma enorme mansão
em formato de palacete, com arquitetura medieval e esculturas do período
romano na porta de entrada. Planos gerais do jardim, muito colorido e bem
cuidado, com inúmeras flores.
CENA 26. MANSÃO
MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Uma enorme sala em
tom pastel, com um imenso sofá branco de couro no meio da sala. No teto há
um lustre gigantesco. Atrás do sofá, uma escadaria toda em mármore africano,
que dá acesso ao piso superior. Numa das paredes, tem uma enorme pintura de
Pablo Picasso.
Kléber vem da rua,
se joga no sofá, afrouxa a gravata e fecha os olhos. Consuelo desce as
escadas apressadas.
CONSUELO
(desesperada) –
Kléber, pelo amor
de Deus. Ainda bem que você chegou. Te liguei milhares de vezes.
KLÉBER –
Meu celular
acabou a bateria. Mas o que aconteceu de tão importante, Consuelo? Você
nunca me liga.
CONSUELO –
Assaltaram a
joalheria. Levaram quase todas as peças raríssimas. Foi uma mulher. Uma
mulher portando bomba e metralhadora.
Kléber levanta
desesperado.
KLÉBER –
O que? Como
assim?
CONSUELO –
Tá saindo em
tudo quanto é noticiário. Eu mesma vi pelo Instagram. Até live sobre o
ocorrido estão fazendo.
Kléber vai saindo.
CONSUELO –
Onde é que
você vai?
KLÉBER –
A polícia!
Kléber sai em
disparada.
CENA 27. AVENIDA
VIEIRA SOUTO. EXT. DIA.
Tânia se senta no
chão, chorosa. A polícia mantém distância, mas ainda com as armas apontadas
para ela.
JOANNE –
Conta pra
gente como tudo aconteceu.
TÂNIA –
Então, eu sou
motogirl de um restaurante e entrego quentinhas. Hoje recebemos o pedido de
uma próxima a Floresta da Tijuca e eu fui. Chegando lá, eu fui recepcionada
por dois homens que me prenderam e colocaram essas bombas em mim. Eu
precisava fazer o que eles mandaram: assaltar a joalheria nesse carro,
depois ir pegando as xaradas. São quatro xaradas para desarmar as bombas.
Tudo isso em um tempo que eu não sei qual é.
Tânia chora.
JOANNE –
Fica calma, já
acionamos o Esquadrão Antibomba. Vamos salvá-la.
Élio se aproxima.
ÉLIO –
E então, doutora?
JOANNE –
Ela pode estar
dizendo a verdade. Não podemos esperar mais. Liga pro esquadrão aí.
CENA 28. MANSÃO
MAGALHÃES. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
Local
aconchegante, elegante e muito espaçoso.
Marta está
assistindo a live de Edgar, quando vê que ele se aproxima de Joanne.
MARTA –
O que esse
viado vai fazer perto dessa serigaita?
CENA 29. AVENIDA
VIEIRA SOUTO. CALÇADÃO. EXT. DIA.
Ayres filma Edgar,
que está do lado de Joanne.
EDGAR –
Estamos aqui
com Joanne Sobral, delegada do caso mais curioso que esse Rio de Janeiro já
presenciou. Joanne, essa moça é culpada ou inocente?
JOANNE –
Muito cedo
para determinarmos isso.
EDGAR –
Mas a bomba é
falsa ou verdadeira? Corremos risco?
JOANNE –
Se for
verdadeira, a distância é segura para todos, exceto para ela. É uma bomba
caseira que não tem um grande alcance.
EDGAR –
Então
aguardaremos os desdobramentos. Obrigado, delegada.
Joanne se afasta.
EDGAR –
Volto mais
tarde ao vivo e com notícias fresquinhas. Aguarde, amores.
Ayres para de
filmar e entrega o celular para Edgar.
EDGAR –
Quantas
visualizações?
AYRES –
Oitocentas
mil. Tem ideia do que é isso?
EDGAR (feliz) –
Mentira? Vou ficar mega famoso, então! Hugo Gloss que me aguarde!
CENA 30. MANSÃO
MAGALHÃES. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
Marta começa a
quebrar várias coisas no quarto, quando Consuelo entra apressada.
CONSUELO –
Minha filha,
eu sei que esse assalto está dando um desfalque imenso para vocês, mas não
precisa disso.
MARTA –
E eu lá tô
interessada nisso, mamãe.
CONSUELO –
E o que é,
então?
MARTA –
Esse inferno
dessa delegada Joanne que está a frente desse caso. Até entrevista acabou de
dar. Vê se pode?
CONSUELO –
Não entendo a
raiva.
MARTA –
Eu detesto
essa mulher, mamãe. Detesto essa mulher e tenho os meus motivos.
CONSUELO –
Só espero que
os seus motivos não a faça ruir ainda mais o patrimônio de seu marido.
MARTA –
Essa mulher
não perde por esperar, mamãe.
Em Marta, séria.
CENA 31. AVENIDA
VIEIRA SOUTO. EXT. DIA.
Dos Anjos (60
anos, negra, cabelo cacheado, roupas simples) fura a barreira e quase se
aproxima de Tânia, mas é impedida por policiais, que a afastam.
DOS ANJOS –
Filha.... Ela
é minha filha.
Joanne se aproxima
de Dos Anjos.
JOANNE –
Aquela moça é
sua filha?
DOS ANJOS –
Sim... Aquela
é Tânia. Minha única filha.
Dos Anjos começa a
chorar. Um som de BIP muito alto é ouvido, vindo das bombas.
TÂNIA
(desesperada) –
É ela! Não
acreditem... Socorro, por favor!
A intensidade do
som aumenta, assim como a velocidade.
FADE TO BLACK.
Ouvimos barulho da
bomba explodindo.
DOS ANJOS (V.O) –
Nãaaaaaao! |
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