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CAPÍTULO 5 | ||
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CENA 01. DELEGACIA. PÁTIO. EXT. NOITE. Daiana agoniza no chão, enquanto a moto dá partida acelerada. JOANNE – Rápido, chamem a ambulância pra ela. Eu vou atrás desse patife assassino. Joanne entra rapidamente em uma viatura. Élio entra no banco do carona. JOANNE – Élio... Você deveria ficar ali com Daiana. ÉLIO – Não sou médico. Não iria ajudar muito. Agora acelera. Joanne sai em disparada. CENA 02. CASA DE DOS ANJOS. SALA. INT. NOITE. Bastião e Dos Anjos olham surpresos para Yago. BASTIÃO (amoroso) – Então este é o filho da Taninha? Bastião se aproxima, acaricia o rosto de Yago. Dos Anjos o afasta. DOS ANJOS – Tira a mão do meu neto. (a Yago) Esse homem é um fornecedor de velas que a vovó precisava pagar, só isso. Vai lá pra dentro tomar seu banho, vai. YAGO – Tá bem, vó. Yago sai. Dos Anjos encara Bastião. BASTIÃO – Até que o filho da Tânia com.../ DOS ANJOS (por cima) – Não ouse falar esse nome dentro da minha casa. Alguém escuta e pode complicar ainda mais. É um segredo guardado a sete chaves. BASTIÃO – Sabe, nega, olhando pra você aí toda rezadeira, mãe e avó, que trabalha pra tirar o sustento da casa, ninguém imagina que exista tantos segredos que você varreu pra debaixo do tapete. DOS ANJOS – Segredos seus, inclusive. Agora some daqui, infeliz. Já tá com o que quer. BASTIÃO – Eu vou. Bastião sai. Dos Anjos, aflita, se senta. CENA 03. APARTAMENTO DE EDGAR. QUARTO. INT. NOITE. Edgar olha amedrontado para Ayres. AYRES – O que foi, chefinho? EDGAR – Se eu te disser, você não vai acreditar. AYRES – Pois diga. Você parece que viu a assombração. Edgar se levanta e fecha a porta do quarto, olha através da janela, pouco depois, volta seu olhar para Ayres. AYRES – Tá tudo bem? Eu tô ficando com medo de você, Edgar. EDGAR – Você ouviu a campainha tocar uma vez? AYRES – É verdade. Você ficou tão estranho que eu até esqueci. Vou lá atender. Ayres se levanta e vai andando em direção a porta. EDGAR (gritando) – Não atende! Ayres o olha surpresa. EDGAR – Eu fui ameaçado de morte pelo celular. Pronto, é isso. Edgar se joga na cama, Ayres aproxima. EDGAR – Aquela maldita carta criptografada da polícia. Eu aceitei e tô correndo risco de vida. AYRES (preocupada) – Que isso, chefinho? Quem pode ser? O que será que tem naquela carta criptografada? Edgar tapa os olhos com as mãos. Se inquieta na cama. EDGAR – Uma coisa é certa, o assassino está entre os meus seguidores. AYRES – Mas então você precisa ir agora falar com a delegada. Edgar se levanta, olha através da janela, meio receoso. EDGAR – Nunquinha. Eu jamais vou contar o que aconteceu aqui. Se aproxima de Ayres, tapa a boca dela suavemente. EDGAR (olhar intimidador) – Nem você vai. CENA 04. RUAS DA ZONA SUL. EX. NOITE. SONOPLASTIA: SUSPENSE. Em ângulo alto, CAM mostra a perseguição desenfreada entre o motociclista e a viatura da polícia. Tudo em alta velocidade e muito ritmo. CORTA PARA O INTERIOR DA VIATURA. Joanne dirige, muito atenta. Élio do lado, com um revólver em mãos, tentando fazer uma mira. JOANNE – Cuidado com essa arma, Élio. A gente pode acabar matando um inocente e não seria nada bom. ÉLIO – Deixa comigo, doutora. CORTA PARA O EXTERIOR. O motociclista faz manobras arriscadas com maestria, corta diversos carros, ultrapassa sinais vermelhos e a viatura da polícia o segue com as sirenes ligadas. |
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QUASE PERFEITO - CAPÍTULO 5 | ||
CENA 05. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. NOITE. Dos Anjos e Yago estão sentados a mesa, jantando. Sabine chega. SABINE – Oi, mãe. Tudo bem? Sabine dá um beijo em Dos Anjos. DOS ANJOS – Oi, meu amor. Senta e janta com a gente. Sabine vai até Yago e lhe dá um beijo e faz cócegas. SABINE – Quem é a coisa mais linda e gostosa da titia? Quem é? Yago cai na gargalhada. Sabine se senta e se serve. DOS ANJOS – Como foi o dia hoje? SABINE – Desgastante, muito desgastante. Mas eu conheci um homem lindo, fantástico. DOS ANJOS (alegre) – Hum! YAGO (cantando) – A titia tá namorando! A titia tá namorando! SABINE – Tô nada, meu bem. Ele não é pro meu bico. DOS ANJOS – E quem é esse deus grego que balançou o coração da minha filha? SABINE – O Lucas, filho da dona Esther, minha cliente. DOS ANJOS – Aquela riquíssima? SABINE – A própria, mãe. DOS ANJOS – Sem chance, né, filha. Aquilo lá é areia demais pra sua carretinha. É gente graúda, peixe grande. Não é pro bico de gente como a gente. Sabine fica cabisbaixa. SABINE – Eu sei, mas é que ele parece não.../ DOS ANJOS (por cima) – Só parece. Essa gente gosta de pessoas pobres como a gente pra se aproveitar. Não cai nessa, Sabine. SABINE – Vamos mudar de assunto, vai. Valeska teve aqui me procurando? DOS ANJOS – Teve não, por quê? SABINE – Combinei de ir tomar uma cerveja com ela, mas acabei me atrasando e perdi meu celular. DOS ANJOS – Olha direito na bolsa, vai ver tá no fundo dela. SABINE – Pode ser... Eles voltam a jantar em silêncio. YAGO – Tia, sabia que a vovó deu dinheiro prum velho. Dos Anjos olha assustada para Yago. SABINE – Que velho, mãe? Em Dos Anjos. CENA 06. PRAIA DO LEME. CALÇADÃO. EXT. NOITE. Joanne e Élio caminham por ali, cabisbaixos. JOANNE – Cara, eu não tô acreditando que esse assassino escapou. Ele tava aqui (abre a mão). Tava aqui e escapou pelo meio dos dedos. (fecha a mão e dá um soco no ar). Élio acaricia suas costas, ela se esquiva. JOANNE – Ele subiu o Morro da Babilônia. Eu deveria ter subido atrás. ÉLIO – Pra quê? Pra ser feita de peneira? Estamos numa viatura comum, com armas simples e sem colete. Olha pra gente, final de expediente. JOANNE – Você tá certo. Mas agora eu só imagino a repercussão que esse caso vai dar. Orestes vai passar por cima de mim feito um trator. Joanne se senta no chão, olhando para o mar. Élio se aproxima, faz o mesmo. JOANNE – Acho que Orestes tá certo. Eu não vou dar conta, não vou conseguir. Joanne começa a chorar, Élio a consola. Um celular toca. ÉLIO – É o seu. Joanne pega o celular olha o visor com o nome “ELE”. Ela se levanta, meio se graça, se afasta e atende. JOANNE (cel.) – O que foi? (T) Tá bem, me espera aí que chego em meia hora. Joanne encerra a chamada e Élio se aproxima. ÉLIO – Era ele, né? JOANNE (surpresa) – Ele quem? ÉLIO – O seu certo alguém. A pessoa que te balança. JOANNE – Por favor, Élio, por favor! ÉLIO – Entendi. Desculpa. JOANNE – Bora pra delegacia? CENA 07. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. NOITE. Sabine e Dos Anjos se olham. SABINE – E então, mãe, quem era esse velho aí? Dos Anjos se levanta, fica de costas para Sabine. DOS ANJOS – Era o fornecedor das velas. Veio buscar o dinheiro antes. Ele ligou e perguntou se eu tinha algum valor pra poder acertar. SABINE – Mas quem recebe o dinheiro das velas é a dona Margarida, não é? DOS ANJOS – De uns meses para cá tem vindo outras pessoas. Dona Margarida já é de muita idade e acho que está acamada. SABINE – Ah, sim. Bom, vou tomar um banho e descansar. Amanhã o dia será longo. Sabine se levanta e sai. Dos Anjos olha séria para Yago. DOS ANJOS – Amanhã você está de castigo. Amanhã, não. O resto da semana. Yago ameaça chorar. DOS ANJOS – Engole esse choro. Senão leva uns cascudos no meio da testa. Sabe, Yago, eu deveria era colocar pimenta malagueta nessa sua língua para ver se você guarda ela dentro da boca. Agora vai pro quarto e não me dá um piu sequer. Yago sai correndo. Dos Anjos se senta. Respira aliviada. CENA 08. MANSÃO MAGALHÃES. QUARTO DE MARTA. INT. NOITE. Marta vem do banheiro com um absorvente sujo de sangue nas mãos e se senta de frente para a penteadeira e chora. Nesse instante, Kléber entra no quarto, com roupas de ginástica. KLÉBER – O que aconteceu, Marta? Marta mostra para ele o absorvente. KLÉBER – Credo. Joga isso fora. Marta se levanta e se aproxima de Kléber com o absorvente. MARTA – Eu achei que tava grávida, Kléber. Achei que a gente ia ter um filho. Mas nem isso eu fui capaz de segurar. KLÉBER – Para com esses papos brabos, Marta. Eu vou tomar uma chuveirada, porque ainda tenho que sair. MARTA – E vai pra onde? Você demorou mais de três horas nessa puta dessa academia e já vai sair de novo? KLÉBER – Vou conversar com a doutora Noriko. Lembra do caso das joias falsas? Eu tô tentando preservar nosso patrimônio. MARTA – Meu, né?! Quando eu casei com você, você só tinha a rua pra andar. Kléber dá um sorriso irônico. KLÉBER – Você adora pagar a conta e jogar na cara depois, não é? MARTA – Eu gosto de te lembrar tudo que faço em prol do nosso amor. Kléber se aproxima de Marta, lábios quase colados. KLÉBER – Seu amor. Kléber sai em direção ao banheiro. Marta se senta na beirada da cama e olha triste para o absorvente. CENA 09. APARTAMENTO DE EDGAR. QUARTO. INT. NOITE. Ayres está deitada na cama, enquanto Edgar termina de se vestir. AYRES – Vai onde a essa hora, chefinho? EDGAR – Vou pedir proteção policial pra delegada, meu bem. AYRES – Mas você acha necessário? EDGAR – Já fiz uma live cancelando a disputa da carta, mas as celebridades sempre andam com guarda-costas. Eu não serei diferente. AYRES – A essa hora a delegada deve estar em casa, não acha? EDGAR – Seu cérebro deve ser bem menor que o seu salário. Eu sei disso, já cogitei essa hipótese. E é para a casa dela que nós iremos. AYRES – Nós, não. Me inclui fora dessa. Eu vou é para a minha casinha dormir o sono dos justos. EDGAR – Você vai para onde eu quiser, filhote de cruz credo. E eu quero você comigo na casa da delegada, deu pra entender? Ayres faz que sim com a cabeça. O celular de Edgar apita. EDGAR – Pronto, nosso Uber chegou. Bora. Edgar e Ayres saem. CENA 10. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE JANTAR. INT. NOITE. Consuelo e Tamires estão sentadas a mesa, jantando. TAMIRES (assustada) – Tem tantos talheres aqui. Pra que tudo isso? CONSUELO – Os talheres que estão mais afastados do prato, serão usados primeiro. Compreendeu? TAMIRES – Tá. Mas a gente vai comer tanta coisa assim? Consuelo dá uma risada. CONSUELO – Percebe-se que você é bem xucra, meu bem. Mas vou lapidá-la. Aguarde! Bom, os primeiros talheres são para a entrada, que hoje serão torradas de soja ao molho de maracujá. Tamires faz cara de nojo. TAMIRES – Soja com maracujá? Credo! CONSUELO – Você precisa refinar esse paladar, Tamires. Com o tempo você se acostuma e nunca mais vai querer bife com batata frita. MARTA (entrando) – Quem nasceu pra ser carpete, nunca chegará a porcelanato, mãe. Marta se senta de frente para Tamires. MARTA – Boa noite para todas. Eu estava sem apetite, mas vendo esse minicurso sobre como pegar nos talheres, sabe, fiquei com uma vontade louca de partilhar desse momento íntimo. A empregada traz a comida, serve as três. Marta olha pra Tamires, que pega os talheres com certa tremedeira. MARTA – Tão novinha e já tem mal de parkson? TAMIRES – Você tá me deixando nervosa. MARTA – Aqui não é seu lugar, garota. Volta pra favela de onde você foi expelida. Lá sim é seu habitat. Cerveja não se cria em ambiente de vinho do porto. Daqui a pouco você aprende isso. CONSUELO – Por favor, Marta. Chega, né? MARTA – Vocês duas se merecem. Marta se levanta, olha fixamente para Tamires. MARTA – Você, Lambisgóia, pode até aprender a utilizar os talheres corretamente, a se vestir como uma dama e a diferenciar as safras de vinho, porque a minha mãe é uma pessoa extremamente refinada e boa professora. Mas o seu passado favelado, o seu sangue pobre, esse você vai levar consigo aonde for. E posso te dizer só mais uma coisa? Essa mancha vai chegar nos lugares antes que o seu perfume importado. Marta sai. Tamires sente o peso das palavras. CONSUELO – A alta roda é cruel, sim. Mas você será bem mais forte. Não se intimida com a Marta. Ela deve ter brigado com o maridinho e tá descontando a raiva no primeiro que apareceu. Vamos lá, garfo na mão esquerda e faca na mão direita. Tamires segura corretamente e Consuelo aplaude. CENA 11. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE. SONOPLASTIA: PESADÃO – IZA FEAT MARCELO FALCÃO. Takes rápidos e bem pontuados dos principais pontos turísticos. MÚSICA CESSA. CENA 12. CASA DE JOANNE. PORTÃO DA RUA. EXT. NOITE. Joanne está chegando em casa, quando se depara com Kléber parado em frente ao portão. JOANNE – O que foi dessa vez, Kléber? KLÉBER – Nossa, é assim que você me recebe? Joanne se aproxima, os dois se encaram por alguns instantes. CORTA PARA O OUTRO LADO DA RUA. Edgar e Ayres vem vindo, quando veem Kléber e Joanne conversando. EDGAR – Para aí, garota. Não vamos atravessar a rua, vamos moitar num arbusto desses. AYRES – Mas por quê? EDGAR – Pega o celular e começa a filmar. Vai que rende um furo. AYRES – Mas devem estar conversando sobre o andamento das investigações. EDGAR – Cala a boca e faz o que mandei, infeliz. Edgar e Ayres se colocam atrás de umas plantas e começam a filmar e fotografar. CORTA PARA: Joanne e Kléber. JOANNE – Vai dizer o que veio fazer aqui ou vai ficar olhando a vida toda pra minha cara? KLÉBER – Como você está ignorante. JOANNE – Eu tive um dia difícil, tô exausta, sei que amanhã será um dia pior ainda, então faz o favor, Kléber, fala o que é de uma vez. KLÉBER – Será que eu posso entrar pra gente conversar? JOANNE – Não, não pode. KLÉBER – Não tô entendendo. JOANNE – Há mais de dez anos que eu te deixo entrar com a promessa de que em pouco tempo você será livre. Dez anos, Kléber. Dez anos que essa liberdade não vem, nunca veio. Dez anos que eu faço papel de trouxa, que me sinto um lixo em ser a outra. Tá compreendendo a situação? KLÉBER – As coisas não são simples como você imagina. JOANNE – É dinheiro, é status. É isso que te move esse tempo todo. O dinheiro e o sobrenome pomposo da Marta estão comprando sua liberdade, sua vida. Porque você diz que me ama, que quer ficar comigo, mas não desgruda do dinheiro dela, daquela vida na coleira. Joanne começa a chorar. JOANNE – Eu tô exausta, Kléber. Kléber se aproxima, a abraça e os dois acabam se beijando. SONOPLASTIA: TE ESPERANDO – LUAN SANTANA. PANORÂMICA da rua, mostra Edgar e Ayres com celular em mãos e completamente estarrecidos, enquanto Joanne afasta-se de Kléber e entra correndo em casa. MÚSICA CESSA. CENA 13. CASA DE DOS ANJOS. QUARTO DE DOS ANJOS. INT. NOITE. Dos Anjos entra apressada, tranca a porta. Ela se aproxima de um quadro com a imagem de Iemanjá e o olha fixamente. DOS ANJOS – Até aqui, minha mãe, a senhora me ajudou. Preciso por demais pegar o que guardou pra mim. Dos Anjos retira o quadro da parede e tira um envelope de trás dele. Ela abre, olha o conteúdo e respira aliviada. YAGO (v.o) – Vó! Batidas na porta. Dos Anjos se assusta, coloca o quadro no lugar e deixa o envelope em cima do criado mudo. Ela abre a porta em seguida. DOS ANJOS – O que faz acordado, menino? YAGO – Tô sem sono. DOS ANJOS – Vem, deita no cantinho da vó! Yago se alegra, corre e pula na cama, Dos Anjos apaga a luz e deita ao lado dele. CENA 14. APARTAMENTO DE JOANNE. SALA. INT. NOITE. Joanne vem da cozinha trajando um hobby de seda preto, cabelos molhados e com uma xícara nas mãos. Ela se senta no sofá, pensativa. Pouco depois, a campainha toca, ela atende. JOANNE (surpresa) – Edgar? Edgar e Ayres entram. EDGAR – Desculpa a hora e o local, mas eu necessito muito da sua ajuda. Nos dois se olhando. CENA 15.RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE. SONOPLASTIA: PESADÃO – IZA FEAT. MARCELO FALCÃO. Um giro pela Zona Sul, mostrando seus principais pontos turísticos. Takes rápidos e pontuais. CENA 16. MANSÃO MAGALHÃES. EXT. NOITE. Fachada frontal do local toda iluminada. MÚSICA CESSA. CENA 17. MANSÃO MAGALHÃES. COZINHA. INT. NOITE. Tamires está com uma camisola vermelha de renda, sentada a mesa com um prato vazio e alguns talheres. Pouco depois, Kléber entra e a olha com desejo. KLÉBER – Vim olhar se era algum ladrão, mas pelo que vejo, é uma deusa. TAMIRES – Dona Consuelo disse que sou meio xucra e preciso me refinar. Como estou sem sono, decidi vir até a cozinha para poder treinar um pouco mais. Kléber a olha com fascínio. KLÉBER – Que coxas! Tamires se levanta, anda sensualmente até se aproximar de Kléber. TAMIRES – Gostou da minha camisola nova? KLÉBER – É linda. Nessa pele macia então... TAMIRES – Pega na minha pele, pode pegar. Kléber aperta a coxa de Tamires, que delira de prazer. TAMIRES – O que acha d’eu tirar essa camisola? Tá tão calor aqui. Num gesto brusco, Kléber rasga a camisola de Tamires. SONOPLASTIA: CORPO SENSUAL – PABLLO VITTAR feat. MATEUS CARRILHO TAMIRES – Nossa! Que selvagem. KLÉBER – Não gostou? Tamires lambe o pescoço de Kléber, morde sua orelha. TAMIRES – Eu a-do-rei! Kléber a pega pela cintura e a beija com tesão. MÚSICA CESSA. CENA 18. APARTAMENTO DE JOANNE. SALA. INT. NOITE. Joanne, Ayres e Edgar estão sentados, tomando café. Conversa já em andamento. EDGAR – E foi tudo isso que aconteceu, doutora. JOANNE – Compreendo, Edgar. Eu jamais poderia ter te exposto a esse risco. Amanhã, assim que eu chegar a delegacia, tratarei logo de pedir apoio policial para você. EDGAR – Muito obrigado! AYRES – Melhor irmos, Edgar, nosso carro chegou. Todos se levantam. Joanne abre a porta. EDGAR – Muito obrigado, doutora. JOANNE – Eu peço mil desculpas pelo grande transtorno. Eu estou tão envolta nesse caso que acabo nem raciocinando muito bem. Edgar e Ayres saem. Em Joanne. CENA 19. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA. SONOPLASTIA: FOR YOU – RITA ORA. DIA ENSOLARADO. Takes aéreos de diversas praias da zona sul do Rio, seu contraste com as favelas. Último take na fachada de um prédio pequeno e residencial. MÚSICA CESSA. CENA 20. APÊ DE EDGAR. COZINHA. INT. DIA. Ayres está colocando a mesa do café da manhã, quando Edgar entra com o celular nas mãos. EDGAR – Muito bom dia, escrava Isaura. AYRES – Vejo que acordou de bom humor. Tudo isso porque terá um policial te seguindo? Edgar se senta a mesa, se serve de café. EDGAR – Às vezes eu fico admirado com a lentidão e a imprecisão que o seu cérebro raciocina, queridinha. AYRES – Eu não entendi. EDGAR – Eu acabei de publicar o caso de amor entre a delegada e o Kléber de Magalhães. Muito acesso, muitas curtidas, milhares de seguidores. Eu tô na alta, meu bem. Ayres fica perplexa. AYRES – Não acredito que você fez isso, Edgar. EDGAR – Fiz e fiz pior, meu amor. Senta aqui pra eu ler pra você. Ayres se senta. EDGAR (lendo) – O beijo entre Joanne Andrade e Kléber de Magalhães, revela que a união deles não era apenas profissional, no misterioso caso das bombas de Copacabana. Eles se renderam a paixão em meio a rua e sequer fizeram questão de esconder essa paixão. CORTA RÁPIDO PARA: CENA 21. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA. Marta e Consuelo estão sentadas no sofá, olhando para o tablet que está com Marta. MARTA (lendo) – A intimidade do casal demonstra que eles já estão juntos há um bom tempo. Esse foi o beijo de chegada, pouco depois, entraram para o apartamento da delegada e a festa deve ter sido um pouco mais animada, né, mores? Num acesso de fúria, Marta joga o tablet longe. MARTA – A senhora viu a foto, mamãe. Que canalha! Marta se levanta, começa a quebrar os objetos do local. Consuelo tenta segurá-la. CONSUELO – Para com isso, Marta. Tá ficando louca, tá? Marta para, respira fundo. CONSUELO – Esse menino que postou a foto é um sensacionalista. Tá atrás de status. Claro que deve ter sido um deslize, coisas de homens. MARTA (incrédula) – O que? Coisas de homens? CONSUELO – Sempre existiu essa coisa de infidelidade masculina. É DNA deles, minha filha. Desde que o mundo é mundo a infidelidade acontece. MARTA – Acorda pra vida, mãe. Esse beijo ou caso, sei lá, não está sendo visto por uma ou duas pessoas. Milhões de pessoas podem ter acesso a isso. E a minha reputação? E os meus sentimentos? CONSUELO – Acorda pra vida, Marta Beatriz. Não sei como eu pude ter uma filha tão fraca, sinceramente. Dane-se a opinião pública. Haja como uma mulher digna: fique uns dias de molho em casa e depois saia com seu marido como se nada tivesse acontecido. Melhor: posta uma foto romântica de vocês. MARTA – Sabe o que eu vou fazer? Vou acabar com a vida daquela delegada de merda. Marta sai em disparada. Consuelo tenta ir atrás. CONSUELO – Marta, não. Não faça uma bobagem dessas, filha. Consuelo fica olhando da porta. Tamires desce as escadas. TAMIRES – Que gritaria foi essa? CONSUELO – Marta baixando o nível já cedo. A senhora tá atrasada pro inglês, não é? Tamires termina de descer as escadas e se aproxima de Consuelo. TAMIRES – Estou indo agora, dona Consuelo. Acabei de pedir um carro pelo aplicativo. CENA 22. MANSÃO DE ESTHER. SALA DE JANTAR. INT. DIA. Esther e Lucas estão sentados a mesa tomando café da manhã. LUCAS – Mãe, onde fica aquele salão de beleza que a senhora sempre vai? ESTHER – Fica em Copacabana, mas já aviso que é exclusivamente feminino. Nada de unissex. Aliás, ultimamente anda na moda essa coisa de tudo ser unissex. Parece até chacota com Deus, que fez feminino e masculino. LUCAS – Não é isso. Acontece que a Sabine esqueceu o celular dela aqui, eu achei e pretendo devolver. ESTHER – Pode deixar comigo, meu querido. Mais tarde irei tomar chá com Consuelo, aproveito e dou uma esticadinha até o salão. LUCAS – Melhor entregar agora, mãe. Eu já estou de saída, aproveito e levo. ESTHER – Você que sabe. Lá na penteadeira do meu quarto tem um cartão com o endereço do salão. Lucas se levanta. LUCAS – Com licença, mãe. Bom dia! Lucas sai. Esther pensativa. CENA 23. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA. Joanne está sentada lendo um documento, pouco depois, Élio entra. ÉLIO – Licença, doutora. JOANNE (olhando pro papel) – Entra, Élio. Tem notícias da Daiana? ÉLIO – Acabei de ligar para lá. O tiro foi de raspão na altura do ombro. Já fizeram os procedimentos lá e ela está em repouso e bem. JOANNE – Pelo menos uma boa notícia no dia de hoje. Joanne volta seu olhar para o documento que tem em mãos. Élio se senta de frente para Joanne. ÉLIO – O que a senhora lê aí com tanta atenção? JOANNE – É o laudo pericial do Teodoro Malta. ÉLIO – E ele se matou com o tiro? JOANNE – A Daiana tava certa, Élio. O Teodoro sabia demais e foi queima de arquivo. Ele foi assassinado com veneno e depois simularam o suicídio com aquela arma. Mas ele jamais poderia ter dado aquele tiro. ÉLIO – Então podemos compreender que quem matou o Teodoro foi.../ JOANNE (por cima) – Foi a mesma pessoa que matou a Tânia e que tentou assassinar a Daiana. Joanne se levanta, anda de um lado para o outro na sala, pensativa. ÉLIO – Então esse caso não é nada simples. JOANNE – Esse caso nunca foi simples. Só que temos um outro problema. ÉLIO – E qual é? JOANNE – O assassino tá tendo informações demais sobre os nossos passos e tá sempre um passo a nossa frente. Pensa comigo: íamos intimar o senhor Teodoro Malta a depor, após Daiana dizer ter ouvido o mesmo falar que sabia quem havia matado Tânia. Ele foi assassinado. Joanne se senta em sua cadeira. JOANNE – Daiana ia nos levar até a casa de um suposto amigo ou cúmplice do senhor Teodoro, e o que acontece? Ela é alvejada no exato momento. ÉLIO – A senhora acha que tem alguém vazando informações daqui de dentro? JOANNE (pensativa) – Pode ser, sim. Não descarto a hipótese. Assim que cheguei, eu revistei a sala toda, dei uma geral atrás de mini câmeras ou escutas, mas não encontrei nada. Mas a conclusão é clara: o assassino sabe bem os nossos passos. Close em Élio ressabiado. Close final em Joanne, séria. CENA 24. STOCK SHOTS. EXT. DIA. SONOPLASTIA: SOLTA A BATIDA – LUDMILLA. Takes rápidos e bem pontuados da Barra da Tijuca. Close final na fachada de um colégio municipal. MÚSICA CESSA. CENA 25. COLÉGIO MUNICIPAL. PÁTIO. EXT. DIA. Local pequeno e deteriorado pelo tempo e pela falta de manutenção. Uma sinaleta toca. Várias crianças com uniforme da prefeitura do Rio de Janeiro fazem fila. Pouco depois, várias professoras se aproximam da fila, entre elas, Valeska. VALESKA (aos alunos) – Vamos lá, meus queridos? ALUNOS (gritando) – Sim! Valeska vai puxando sua turma em fila indiana, quando um homem aparece e se põe a sua frente. Os dois se olham. HOMEM – Eu sou o pai do João Miguel. VALESKA – Prazer, eu sou a professora dele. HOMEM – Pra ser professora, você tem que nascer de novo, parça. Valeska se contém, abaixa a cabeça e desvia do homem. HOMEM – Eu quero falar com você. E tem que ser agora. VALESKA – Eu estou indo dar aula. Volte na saída. HOMEM (gritando) – É agora, meu cumpadi. Todos olham surpresos para o homem. Uma senhora se aproxima de Valeska, puxa seus alunos para o interior do colégio. Valeska se aproxima do homem. VALESKA – Se o senhor deseja agora, será agora. Close nos dois a se encarar. CENA 26. SALÃO DE BELEZA. INT. DIA. Sabine está terminando de fazer escova em uma cliente, quando Lucas aparece. Todas as funcionárias o olham admiradas. LUCAS – Sabine? Sabine olha para Lucas e sorri. LUCAS – Teria um tempinho para um café? No olhar apaixonado de Sabine. CENA 27. COLÉGIO MUNICIPAL. SALA DA DIREÇÃO. INT. DIA. Sala espaçosa, com móveis antigos, contrastando com um belíssimo computador de última geração. Valeska, o homem e a diretora estão de pé se olhando. DIRETORA – E então, senhor, o que houve? HOMEM – Não está claro para a senhora? DIRETORA – Claro o quê? HOMEM (indignação) – Essa criatura dando aula para o meu filho. VALESKA – Essa criatura, não. Eu tenho nome. HOMEM – Que não usa. (DESDÉM) Tia Valeska, (SÉRIO)Tia Valeska o escambal. Baita dum homem feito. DIRETORA – Meu senhor, respeite a professora. O que o senhor está fazendo é vexatório. VALESKA – É criminoso, além de tudo. HOMEM (a diretora) – Eu só quero que demitam essa aberração. VALESKA – Em que planeta você vive, meu senhor? Isso aqui é uma escola municipal e eu sou concursada. Ninguém me tira daqui. Eu estudei e passei numa prova, estou apta a lecionar e cumpro rigorosamente com minhas funções. HOMEM – Você é um rascunho mal feito. É falta do que fazer, só pode. DIRETORA – Contenha-se, ou terei que chamar a polícia. HOMEM – Fica tranquila, diretora. Eu tô de saída. Mas eu vou fazer a cabeça de todos os pais, farei abaixo-assinado, irei até o secretário de educação se preciso for, mas eu vou mandar fechar esse pardieiro. (a Valeska) E pra você, eu deixo isso. O homem dá um murro no rosto de Valeska, que cai deitada no chão. DIRETORA (em pânico) – Meu Deus, sai daqui! O homem sai. A diretora acode Valeska, que está com o canto da boca sangrando. CENA 28. CAFETERIA. INT. DIA. Sabine e Lucas estão tomando café, sentados um de frente para o outro. LUCAS – Eu te chamei aqui para te entregar uma coisa. SABINE – O que é? Lucas retira o celular do bolso e entrega a ela. SABINE – Meu celular. Nossa, eu jurava que havia perdido. Muito obrigada, Lucas. LUCAS – O celular foi só um pretexto, na verdade eu queria mesmo era lhe ver outra vez. Sabine sorri, meio sem jeito. LUCAS – Estou te incomodando? SABINE – Jamais. Eu fiquei muito feliz em lhe ver também. LUCAS – Acho que você sentiu a mesma coisa que eu, não foi? SABINE – É... Acho que sim. Mas não devemos. Lucas desfaz o sorriso. LUCAS – E qual o motivo? SABINE – Você é rico e eu sou pobre. E isso não cola, você sabe. LUCAS – Mas eu não quero alguém pra ficar contando saldo bancário. Quero alguém que seja parceira, que goste de mim, que eu admire. E eu te admiro muito, Sabine. É guerreira, trabalha. É doce, bonita, gentil. SABINE – Mas não tem só essa barreira, Lucas. Você é evangélico, como sua mãe. E eu sou uma cartomante nas horas vagas, acredito nos astros, nos orixás, nas rezas e banhos de ervas. Tudo que vocês abominam. LUCAS – Eu não abomino nada. O fato de eu não seguir, não acreditar, não quer dizer que eu excomungue a pessoa por isso, que a ache filha do demo. Cada um tem sua fé. SABINE – É lindo assim, no discurso, mas na prática não é legal, eu sei. LUCAS – Vamos fazer o seguinte: vamos saindo, nos conhecendo e no final, a gente tira essas conclusões. Pode ser? SABINE – E a dona Esther? LUCAS – Por enquanto, não precisa saber. Vamos nos conhecendo, aparando e convivendo com nossas diferenças, pode ser? Sabine sorri. CENA 29. COLÉGIO MUNICIPAL. SALA DA DIREÇÃO. INT. DIA. Valeska está sentada de frente para a diretora com uma compressa de gelo nos lábios. DIRETORA – Melhor você ir para casa hoje, Valeska. A Lucinda fica com sua turma. VALESKA – Acho melhor mesmo, não tô em condições de retornar à sala de aula. DIRETORA – Em casa você descansa e reflete sobre o que fazer no futuro. VALESKA – Como assim? DIRETORA – Hoje foi o pai do João Miguel que te agrediu, amanhã será a mãe da Soraia, e depois o pai do Mateus e por aí vai. Você não terá sossego. VALESKA – Desde que eu vi que não me encaixava nos padrões da sociedade, eu sabia que a última coisa que teria era sossego. DIRETORA – Acontece que isso causa polêmicas, leva o nome da escola, arrasta um monte de profissionais com você. VALESKA – Você tá me dizendo que eu tô denegrindo a imagem da escola e das pessoas que trabalham aqui? A diretora fica meio sem jeito. DIRETORA – Não é isso. Mas eu acho que você deveria dar aula lá onde você mora, onde todo mundo já tá acostumado com você. VALESKA – Acostumado? Então eu tenho que me esconder, restringir a minha vida por causa de pessoas como a senhora? DIRETORA – Eu, não. Longe de mim. O preconceituoso aqui foi o pai do João Miguel. Eu tô te dando dicas, te preservando. VALESKA – Acontece que eu não sou natureza para ser preservada. Eu sou uma travesti, professora, moradora do subúrbio e que não vai abaixar a cabeça pra gente preconceituosa. O pai do João é sim preconceituoso, mas a senhora também é. Talvez até pior. Se cobrindo de boa samaritana, utilizando meios finos para me fazer recolher, pra tentar voltar pro casulo. Mas eu só lhe digo uma coisa: Não volto pro casulo, não me escondo. Eu desabrochei e vou voar pelo mundo. Sua tentativa de me fazer sair foi em vão. Valeska se levanta. VALESKA ( saindo) – Amanhã estarei aqui no horário de sempre. Tenha um excelente dia. Na diretora, estarrecida. CENA 30. CAFETERIA. CALÇADA. EXT. DIA. Sabine e Lucas saem do interior do local de mãos dadas, sorrindo. Eles param, se beijam várias vezes, se acariciam e caminham por ali, despreocupados. CAM mira em um carro importado todo preto. A porta se abre, Esther sai dali, se escora no carro e vê os dois irem bem mais a frente. ESTHER (pra si) – Entendi a insistência de entregar o celular. CENA 31. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA. Joanne está digitando algo no computador, quando Marta entra afoita, sendo amparada por Élio. MARTA (gritando) – Vagabunda! ÉLIO – Desculpa, doutora, não consegui contê-la. Joanne se levanta calmamente e se aproxima de Marta. JOANNE – Me insulta mais uma vez e tu vai saber o que é gastar seu réu primário, entendeu? Marta saca seu celular e abre a foto do beijo entre Joanne e Kléber e mostra a ela. MARTA – Mulher que fica com home casado é o que? Santa? EM Élio, boquiaberto. Close final em Joanne, completamente surpresa. |
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Autor: Wesley Alcântara Elenco:
Carolina Ferraz como Joanne Andrade
Atores Convidados: |
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Quase Perfeito - Capítulo 05
Minissérie de Wesley Alcântara
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