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Marcos Ribeiro pede um tempo para a esposa, que
permanece o aguardando dentro do carro na parte externa
do palacete de Tomaz, aquela era uma noite maldita para
o investigador que havia de se entregado aos prazeres da
carne, seguindo direto para o poço dos traidores. O
homem está sentado na cama, usando apenas um short
jeans, não pode esconder a derrota na frente do melhor
amigo.
- No que você estava pensando, Tomaz?
- Este é problema, não existia nada na minha mente além
do corpo da Pamela, ela consegue me dominar por
completo, como se fosse um simples fantoche, sabe? É
estranho pensar desta maneira, Marcos? Eu pensava que
finalmente estava livre desta mulher, só que com um
simples estralar de dedos, ela conseguiu arruinar tudo
que me acercava.
- A culpa é somente dela então? Está completando trinta
anos de idade, está na hora de assumir os próprios erros
sozinhos sem precisar se esconder, os dois se jogaram
nesta, ninguém manda em ninguém.
Dos olhos do investigador as lágrimas descem pesadas,
mas não capaz de limpar a sua alma e alinhar o coração,
“Não existe prazer sem arrependimentos”, Tomaz disse
essa frase quando se entregava a luxuria naquele
ambiente algumas horas atrás para Pamela, enquanto
fincava os lábios naquela pele macia e sedosa, agora não
existe a libido, somente as consequência de uma
escolha.
- Nós iríamos casar.
- Agora você deve saber qual é o próximo passo,
acredito.
- Será que um dia a Alice irá me perdoar?
- Apenas o tempo é capaz de lhe dar uma resposta.
A casa não está em ordem e certamente irá permanecer uma
zona até a manhã seguinte, quando uma equipe de
domésticos colocará tudo em seu devido lugar. O melhor
amigo se despede, Tomaz fica deitado na cama junto com
aquela culpa devastadora em torno do corpo, não iria
conseguir dormir nas próximas horas. Ele se levanta pela
primeira vez, andando em direção do toalete, aonde
encheu a banheira com sais de banho, aonde se deita, os
pensamentos deslancham no corpo de Alice Jones, mas deve
se preparar psicologicamente, aquela mulher agora não
passa de um sonho, Alice tem palavras, certamente irá
ignorar aquele homem em qualquer lugar, inclusive no
trabalho. Tomaz se joga embaixo da água, ficando por
quase dois minutos, quando todas as imagens de seu
destino apareceram em sua mente formando um flashback,
ele ergueu-se, quase sufocado, esta é a sua
autoflagelação.
Estava de folga naqueles três dias que se sucederam.
Pamela ligava ocasionalmente e mandava mensagens em
todas as suas redes sociais, mas o investigador fazia
questão de ignorar cada uma delas, assumiu a sua parte
da culpa, mas não estava apaixonado pela dama. Tomaz
toma coragem e tira o automóvel da garagem, estava na
hora de encarar os comentários maldosos das pessoas e os
olhares sórdidos, ele estaciona o carro próximo a um
pequeno campo de futebol do centro de Arraial D’ Ajuda,
saltando do veículo, seguindo em direção de uma escola
particular, avistando de longe Kevin, aproximando-se do
garoto que o ignora completamente, como se o varão não
existisse adiante.
Kevin está usando o uniforme do colégio e com uma
mochila cheia de livros e cadernos nas costas, parece
pouco pesado, pois o garoto mal consegue se equilibrar,
a matriarca o buscava todas as tardes. Tomaz avança na
dianteira do garoto, o fazendo parar.
- Não faça isso comigo. – O investigador tenta se
redimir.
- Tomaz...
- Você é praticamente um filho para mim.
- Você que destruiu tudo, enganando a mamãe assim,
pensou que ninguém iria saber?
Um carro prata estaciona próximo do meio-fio, trata-se
da mãe de um dos amiguinhos de Kevin, o garotinho abre a
porta traseira e entra rapidamente, sem olhar para trás,
para pelo menos se despedir daquele que seria um dia o
seu “futuro patriarca”. Isto era esperado, mas Tomaz não
sabia que doeria daquela maneira, o varão mantém-se
parado enquanto os segundos se sucedem devagar, mas não
pode se jogar na tempestade, ainda deve existir um ponto
de equilíbrio para todo marasmo. O seu sangue estava se
misturando com o álcool ao retornar para o seu palacete,
lembrou-se de um objeto que Alice havia guardado em uma
das gavetas do seu guarda-roupa, as chaves da garagem e
da porta principal da casa dela. No jogo do perdão a
humilhação é o único limite, precisa seguir adiante e
partir da próxima etapa e última. A noite estava fria e
calma, assim como o barulho das ondas. As chaves ainda
eram as mesmas, certamente até hoje. Tudo permanece no
devido lugar menos as imagens do investigador que havia
sumido das fotos em todos os cômodos.
A delegada leva um tremendo susto quando saia do
banheiro, com uma toalha enrolada em volta do corpo, se
não tivesse reconhecido aquela face, certamente teria
pegado uma arma e disparado naquele homem. É essa a sua
vontade, mas falta a coragem.
- Posso muito bem ligar para a polícia.
- Desculpas ter entrando desta maneira, mas você havia
esquecido aquela chave na minha gaveta.
- E você acha que ainda tem o direito de invadir o meu
lar?
- Viveríamos um sonho.
- Se não fosse por uma humilhação pública, não é mesmo?
Não se esconda Tomaz, toma vergonha e assume os seus
erros, se deseja ser feliz, case-se com a Claudia e não
comigo, ela é a mulher da sua vida, não eu, não adiante
se ajoelhar e implorar por perdão, se veio por isso, deu
uma viagem perdida, agora se retire do meu quarto, da
minha casa e principalmente do meu destino.
- Isso é um adeus?
- Com certeza não é um até breve.
Tomaz precisa aceitar o sofrimento e romper os laços com
o passado, mas precisa passar por todas as etapas, como
sofrer em silêncio, chorar sozinho, seguindo pelas
reflexões para que posteriormente consiga um recomeço.
Seu telefone vibra algumas vezes no bolso, trata-se de
uma mensagem de um amigo médico do hospital localizado
em Porto Seguro: “Hey, Tom, tenho uma péssima notícia,
sua nova namorada, a Claudia, foi encontrada com
ferimentos leves no corpo, jogada dentro de um buraco,
vem aqui agora, ela precisa de você...” |
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