|
Música: Ave Maria - Schubert
A mulher permanece inquieta na sala de espera, o
hospital é um ambiente que lhe traz tristes memórias,
era aquele ambiente que frequentava quando o namorado se
encontrava em um estágio profundo de perda de
consciência. Levi ainda insiste em investigar cada
detalhe do assassinato de Pamela e isso pode destruí-lo
por completo. Barbara se levanta quando o médico se
aproxima com uma papelada em mãos, mas o paciente está
bem e receberá alta nas próximas horas. Ela sentiu-se
aliviada, dando um grande abraço na sogra que demonstra
completa felicidade, Tony, no entanto continua intacto
como se ainda não estivesse presente. A escritora é
encaminhada para o quarto, a porta é aberta lentamente
pela enfermeira, o homem está deitado na maca em um
quarto com uma janela ampla com uma belíssima vista para
a cidade, ele esboça um grande sorriso ao observar a
noiva colocando a bolsa em cima da poltrona, mas a
feição dela é de completa frieza.
- Brigamos uma vez por causa desta mesma situação, você
pode não se lembrar, mas logo após a morte da sua irmã,
nós deslaçamos um do outro, abandonamos nossas fantasias
pela inquirição, existiu uma escolha naquele momento.
Hoje claramente, não anseio o tempo que jogamos nossos
ápices no nada. – Ela se aproxima da cama hospitalar e
abaixa o seu corpo, para que ficasse frente a frente com
o noivo. – Não iremos abandonar mais nada, nenhuma etapa
da nossa vida por uma mera besteira, isto ainda é
preciso? Bancar o Aguste Dupin a esta altura? Nosso
filho está crescendo, precisa de duas pessoas presentes,
fisicamente e psicologicamente, um ao lado do outro,
levando tudo a sério, ensinando cada valor, mas somos
capazes disso completamente juntos. Não quero que exista
mais lagrimas aqui, nos nossos corações, arrastando cada
sentimento que levantamos.
Ela fica calada por poucos segundos, instantes que
agonizam a mente do empresário.
- Barbara... – Ele tenta falar.
- Ás vezes tudo que eu quero, é te abraçar tão forte e
te dizer o quanto te amo, neste momento, Levi. Há algo
de errado comigo? Porque está fazendo isto? Mal dá
atenção pra mim ou para o David.
- Eu amo muito vocês.
- Não é o que está parecendo.
- Nunca duvide. Certo? Temos uma estória juntos, quem
sabe um dia será escrito, pela a melhor cronista do
mundo. – O sorriso na face masculina, acalmava Barbara
Novak, que nos últimas semanas ainda enfrenta um
bloqueio de escritor, precisa encher as palavras vazias
com um conceito. – Em um futuro breve, iremos ser
felizes, sem a cobrança de mais ninguém, a não ser um do
outro, mas deveremos deixar muita coisa de lado.
- Não há nada mais importante, do que o nosso amor.
- Isso me machuca, não faça mais isso, por favor.
Os lábios dela estão doces quando se encontraram com o
dele pela primeira vez naquele dia, o homem se
arrependeu de ter seguido aquela rota que acabou com a
vida de Neide Alencar, ele arcou com as despesas do
velório, qual não pode comparecer, o remorso ainda está
presente, se não tivesse ido para o vilarejo, certamente
o destino daquela senhora obteria outra proporção. Eles
saíram do centro hospitalar no final da tarde, quando o
céu estava começando a ficar alaranjado, atravessando a
balsa para Arraial D’ Ajuda. Levi ainda continua
anestesiado ao lado de Barbara, enquanto taxímetro
continua a rodar lentamente, Tony havia pegado o próprio
carro e partido sozinho, precisa de um tempo para pensar
e esfriar a cabeça, neste momento não se sente a
companhia adequada para ninguém.
Ave Maria cheia de graça
O Senhor é convosco,
Bendita sois Vós entre as mulheres,
E bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus,
Rogai por nós pecadores,
Agora e na hora da nossa morte.
Amém.
O homem está acomodado na poltrona balançando a caneta
banhada de ouro de um lado para o outro, sua vista se
concentra naquele pequeno objeto, como se não existisse,
mas nada de importante ao redor. O barulho da porta
deslizando nos trilhos de aço não chega incomodá-lo,
Tony se aproxima para poder conversar com o amigo, eles
se entreolharam por alguns segundos.
- Hoje é a missa de sétimo dia. – Lembra Tony ao sentar
adiante do amigo.
- Se não tivéssemos ido naquele lugar...
- A ideia foi minha Levi, sou o maior culpado de ter
relembrado aquela história do passado e iniciado aquela
averiguação, não podemos sair por aí correndo atrás de
justiça, isso quase nos matou diversas vezes, antes
existia o Miguel Xavier, agora existe um inimigo oculto
que ninguém consegue enxergar.
- Isto é verdade.
- Mas não consigo chegar a um “x” desta questão.
- Como se as ideias não se alinhassem as respostas.
- Isto é verdade.
- O coração da Claudia deve estar machucado.
- Ela é uma mulher forte pelo o que parece.
- Ás vezes as aparências enganam.
Tony se levanta para dar uma volta na praia, enquanto o
amigo permanece quieto naquela saleta, posteriormente
escutando os prantos do filho no segundo andar da
morada, certamente com fome, Barbara havia deixado uma
mamadeira pronta, Levi segurou os filhos no colo que
segura à mamadeira com toda a força, seu homenzinho
estava crescendo, em poucos dias irá começar a andar e
falar, desenhar o próprio destino. O sorriso de David
era perfeito, muitos falavam que se parece com o do pai,
mas para Levi era similar ao de Barbara, capaz de
iluminar um dia de tristeza. O pequeno dormiu nos braços
do patriarca, que o coloca de volta no berço.
Levi regressa para o primeiro andar, onde encontra acima
da mesa de centro a principal fonte de notícias da
região, um jornal impresso, ainda citando o assassinato
da senhora no vilarejo próximo a Eunápolis, mas não
indica as testemunhas, o empresário havia desembolsado
quinhentos mil reais para não ter seu nome usado em
meios de comunicações. |
|
Comentários:
0 comentários: