CENA 08. MANSÃO MAGALHÃES. ÁREA EXTERNA. EXT. DIA.
Marta vem do interior da casa junto de uma empregada. Com uma mala em mãos,
contorna a piscina e se aproxima da churrasqueira, que está acesa.
MARTA –
Abre essa mala.
A empregada abre a mala e começa a entregar umas roupas masculinas.
MARTA (raiva) –
Tudo que é dele vai queimar, você vai ver.
Marta joga com extrema força as roupas na churrasqueira. Pouco depois,
Consuelo se aproxima.
CONSUELO –
O que tá acontecendo aqui?
MARTA –
O que a senhora está vendo, mamãe: churrasco.
CONSUELO –
Mas essas roupas são do Kléber. Você tá ficando maluca?
MARTA –
Maluca eu estava de aguentar esses chifres todos. Eu quero que tudo que seja
dele, tudo que tenha encostado ou que lembre aquela piranha, queime, vire
cinza.
Consuelo puxa a mala.
CONSUELO –
Para com isso, Marta. As coisas não se resolvem assim.
MARTA –
E se resolvem como, dona Consuelo?
Marta puxa com força a mala das mãos de Consuelo e a joga inteira na
churrasqueira.
Consuelo e a empregada olham tudo perplexas. Marta sorri.
MARTA (aliviada) –
Pronto, agora eu tô satisfeita, leve.
Em Marta, olhar diabólico.
CENA 09. CASA DE DOS ANJOS. QUARTO DE DOS ANJOS. INT. DIA.
Dos Anjos e Tamires de pé, frente a frente.
TAMIRES –
Vai me explicar o que é isso ou vou ter que levar até a polícia?
DOS ANJOS –
Calma, minha filha.
TAMIRES –
Calma? Que mané calma, mãe. A senhora tem um seguro de vida em nome da Tânia
e quer que eu tenha calma?
DOS ANJOS –
É uma história complicada, envolve muita gente. Ela quis fazer pra garantir
o futuro do Yago.
TAMIRES (lendo) –
Quatrocentos mil reais em caso de morte, salvo se for suicídio.
Tamires joga o documento na cama, olha para Dos Anjos.
TAMIRES –
Um dinheirão desses e a senhora não me diz nada?
DOS ANJOS (alterada) –
E eu ia dizer o quê? Esse dinheiro não é nosso. Esse dinheiro não traz a
minha filha de volta. É porcaria.
TAMIRES –
É porcaria pra senhora, que não tem ambição que viveu e quer morrer nessa
penúria de vida. Mas esse dinheiro pode modificar a minha vida.
DOS ANJOS –
Esse dinheiro é do Yago, Tamires. É pro futuro do filho dela.
TAMIRES –
Se eu tiver um futuro bom, o Yago também terá.
DOS ANJOS –
Sai daqui, Tamires.
TAMIRES –
Eu vou sair, mãe. Mas eu volto e volto para cobrar o que me pertence por
direito. Não pense a senhora que vai ficar tudo por aí.
Tamires sai. Dos Anjos se recosta na parede, completamente abalada.
CENA 10. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.
Joanne ENTRA com um copo em mãos, quando vê Orestes sentado em sua cadeira.
Surpresa, ela deixa o copo cair.
JOANNE –
Orestes?
Orestes se levanta, olhar fixo em Joanne.
ORESTES –
A gente tem muito o que conversar, não acha?
Em Joanne.
CENA 11. BAIRRO PRAZERES. PRACINHA. EXT. DIA.
Valeska desce de um ônibus, caminha até se sentar num banco próximo.
INSERÇÃO DO FLASHBACK:
CAPÍTULO 5. CENA 27. COLÉGIO MUNICIPAL. SALA DA DIREÇÃO. INT. DIA.
HOMEM –
Você é um rascunho mal feito. É falta do que fazer, só pode.
DIRETORA –
Contenha-se, ou terei que chamar a polícia.
HOMEM –
Fica tranquila, diretora. Eu tô de saída. Mas eu vou fazer a cabeça de todos
os pais, farei abaixo-assinado, irei até o secretário de educação se preciso
for, mas eu vou mandar fechar esse pardieiro. (a Valeska) E pra você, eu
deixo isso.
O homem dá um murro no rosto de Valeska, que cai deitada no chão.
FIM DO FLASHBACK.
Valeska começa a chorar copiosamente. Pouco depois, Eleandro passa por ali,
se aproxima.
ELEANDRO –
Valeska?
Valeska o olha, seca as lágrimas.
ELEANDRO –
Eu não sei o que tá acontecendo, mas não chora. Detesto ver mulher chorar.
Eleandro se senta, abraça Valeska.
VALESKA –
Eu sou uma droga de ser humano, cara. Eu mereço sumir.
ELEANDRO –
Não diga isso. Você é uma mulher incrível. É linda, profissional, bondosa.
VALESKA –
Mas nem todo mundo pensa assim, nem todo mundo vê isso em mim. Aliás, quase
ninguém. (APONTANDO PARA A BOCA) Tá vendo essa marca? É a marca da
intolerância dessa gente.
ELEANDRO –
Você foi agredida aqui?
VALESKA –
Aqui, não. Mas como diz a minha diretora, aqui as pessoas estão acostumadas
comigo. Como se eu fosse um bicho adestrado.
ELEANDRO –
Você é incrível.
VALESKA –
Incrível? E por que ninguém gosta de mim? E por que ninguém se interessa por
mim, Eleandro?
Eleandro a beija. Pouco depois, os dois se olham.
VALESKA –
Não faz isso de novo, por favor.
ELEANDRO –
Você não gostou? Me desculpa.
VALESKA –
Eu amei. E meu medo é esse seu momento de tentar me consolar e eu me apegar.
ELEANDRO –
Posso ser xucro, como a Tamires dizia, posso ser um duro, de pouco estudo,
mas eu tenho caráter, gata. Eu tô aqui única e exclusivamente te beijando,
porque eu tô realmente afim de você.
Valeska sorri, os dois se beijam.
CENA 12. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.
Orestes e Joanne se encaram.
ORESTES –
Na minha cara tá escrito palhaço? Só pode estar, né?
JOANNE –
A minha vida pessoal não tem nada com a profissional, são linhas paralelas.
ORESTES –
Caso de amor com o dono da joalheria Cintra, envolvido no caso de maior
repercussão no Brasil. Você tem ideia de que furada você me meteu? (grita)
Tem, sua irresponsável?
JOANNE –
O meu caso com o Kléber vem de muito antes do que você possa imaginar. Nós
já fomos noivos.
ORESTES –
Eu pouco me lixo pra isso, Joanne. Eu dei esse caso na sua mão.
JOANNE –
Porque não tinha outra saída. O meu departamento era o mais próximo.
ORESTES –
O governador e o secretário de segurança me ligaram e não foram nada gentis.
Eu amanheci com dois homens gritando ao telefone comigo, me chamando de
irresponsável, de burro. A coisa vazou.
JOANNE –
Eu vou processar o autor da matéria e das fotos.
ORESTES –
E isso importa? Você manchou o nome da polícia do Rio de Janeiro. Manchou o
nome do Governador.
JOANNE –
Claro, a reputação da polícia e do governador eram imaculadas até o meu
beijo no Kléber, né?
ORESTES –
Não me venha de ironias, pois a minha vontade é te colocar daqui pra fora a
pontapés.
Joanne se aproxima, estufa o peito.
JOANNE –
Acontece, Orestes, que eu não sou sua mulherzinha. Eu não tô em cargo de
confiança. Eu entrei pela porta da frente e também não cometi crime algum. A
minha vida privada só diz respeito a mim.
ORESTES –
Que bom te ver alterada. Vindo da Barra pra cá, com o trânsito maravilhoso
que tem a essa hora do dia, eu pude analisar sua vida na polícia e você tem
uma licença prêmio e dois meses de férias para serem tirados. Estou lhe
dando cinco meses em casa.
Joanne se surpreende.
JOANNE –
O quê?
ORESTES –
Assim você tem tempo pra colocar sua vida pessoal, que como você mesma
disse, só diz respeito a você, em ordem.
JOANNE –
Mas esse caso não pode ficar arquivado até a minha volta.
ORESTES –
Nesses cinco meses, minha querida, o Junqueira vai assumir tudo dessa DP
aqui.
JOANNE –
Você está me castigando, Orestes?
ORESTES –
Eu tô só mostrando com quantos paus se faz uma bela canoa, querida. Passar
bem.
Orestes SAI.
CENA 13. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Consuelo e Esther estão sentadas no sofá, cada uma com uma xícara na mão.
Consuelo visivelmente preocupada.
ESTHER –
Desde que cheguei, tô te achando meio estranha. O que aconteceu?
Consuelo dá uma golada na xícara e a deposita na mesa em frente.
CONSUELO –
Hoje de manhã cedo saiu num site de fofocas uma foto do Kléber beijando uma
mulher.
ESTHER –
Mas esses homens são assim. É biológico. Eu mesma já suportei tantas e
tantas traições do falecido.
CONSUELO –
É o que eu penso, mas a Marta é descompensada. Saiu cuspindo fogo e voltou
cuspindo marimbondos. Jogou as roupas todas do Kléber na churrasqueira. Foi
uma loucura. Um circo dos horrores.
ESTHER –
Ah, minha amiga, acho então que vim numa má hora. Você aí cheia de
problemas.
CONSUELO –
Os problemas são da Marta, mas ela é imatura, impulsiva, cheia de querer,
respinga em mim. Não sei o que seria dela sem mim. Mas me diga, o que te
trouxe aqui?
Esther respira fundo.
ESTHER –
Filhos. Aliás, filho. O meu.
CONSUELO –
Mas Lucas é um amor de pessoa. Você acertou na loteria. Ao contrário de mim,
que tenho um vulcão em constante erupção.
ESTHER –
Eu também achava isso, mas tô começando a me preocupar. Deve ser provação
divina.
CONSUELO –
Mas o que foi?
ESTHER –
Lucas está de namorico com a minha cabelereira.
CONSUELO –
Aquela linda dos olhos verdes?
ESTHER –
Isso. Ela é linda, gentil, muito minha amiga, mas pobre.
CONSUELO –
Nada que um fino trato não resolva. Eu, por exemplo, tô aqui em casa com
Tamires. Xucra, mas tem seguido à risca as aulas de finesse.
Esther se levanta, meio pensativa, anda de um lado ao outro.
ESTHER –
Não sei, Consuelo. A minha família vem de uma linhagem mais nobre, mais
alta. Seria um pecado sujar o sangue logo na minha vez. Pensa só: se eu
tivesse dois ou três filhos, tudo bem. Mas tenho um só. É lindo, rico e
inteligente. Metade das moças da elite carioca fariam de tudo para ter o
Lucas como marido.
CONSUELO –
Essa coisa de linhagem é arcaica, Esther. Dá um banho de etiqueta na menina
e ela estará a altura do sobrenome D’Ávila.
ESTHER –
Raça mista? Deus me livre!
Consuelo se levanta.
CONSUELO –
Você veio saber minha opinião ou me avisar sobre a sua decisão?
ESTHER –
Na minha família não entra gente da raia miúda. Sabine não será exceção.
Em Esther.
CENA 14. DELEGACIA. FACHADA. EXT. DIA.
Fluxo normal de pessoas e veículos por ali.
CENA 15. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.
Joanne está terminando de colocar seus objetos pessoais em caixas. Ela pega
um porta-retratos em que há a sua foto na formatura da polícia. Sorri e
deixa escapar uma lágrima.
JOANNE (pra si) –
Que Deus não permita que a maldade do Orestes vença. Eu vou, mas volto. Tão
determinada e cheia de planos como nesse dia.
Nesse momento, Élio entra. Os dois se olham. Joanne disfarça a tristeza,
seca a lágrima.
ÉLIO –
Tem um minuto?
Joanne assente com a cabeça. Élio fecha a porta atrás de si.
ÉLIO –
Então o seu amor é o ricaço da joalheria.
JOANNE –
Se vai me recriminar, pode.../
ÉLIO (por cima) –
Vou sim. Vou recriminar, repudiar, reprovar, vou utilizar todos os sinônimos
possíveis. Você parece adolescente, Joanne. Olha no que isso se transformou.
Olha onde isso tudo te levou.
JOANNE –
A gente não escolhe gostar das pessoas.
ÉLIO –
Eu sei bem disso. Poderia ter evitado manchar seu nome, sua carreira. Só
você saiu perdendo nessa.
JOANNE –
Eu errei em estar com um homem casado, admito. Mas, caramba, quem nunca
errou na vida?
ÉLIO –
Tem erros que podem ser evitados.
JOANNE –
Guarda o seu sermão pro culto. Eu sou maior de idade, dona do meu nariz e
não preciso que as pessoas me indiquem o caminho a seguir. Eu ando com
minhas próprias pernas.
ÉLIO –
E isso é andar? Você tropeçou no próprio pé. Caiu, tá na foça e ninguém quer
te ajudar.
JOANNE –
Como é que você sabe?
ÉLIO –
Você foi obrigada a se afastar do seu cargo, o Brasil inteiro te detesta por
ser amante, a mulher do cara veio aqui e brigou com você. E cadê ele? Cadê o
apoio dele? No naufrágio, Joanne, os ratos são os primeiros a abandonar o
navio.
Joanne coloca as duas mãos sobre a cabeça e se senta no chão, cabisbaixa.
JOANNE –
Não me deixa pior do que estou.
ÉLIO –
Eu tô decepcionado com você. Triste, magoado. Mas se tô aqui dizendo essas
verdades, saiba que é porque gosto demais de você.
Élio sai. Em Joanne.
CENA 16. APARTAMENTO DE KLÉBER. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Tamires está olhando através da janela. Kléber se aproxima com uma garrafa
de champanhe e duas taças.
TAMIRES (admirada) –
Isso daqui é incrível. Uma cobertura maravilhosa, de frente para a praia de
São Conrado.
KLÉBER –
É eu sei. Comprei no nome de um amigo, com dinheiro daquela velha da
Consuelo. Mulher metida a saber de negócios, mas não sabe quanto é dois mais
dois.
Kléber estoura a champanhe. Tamires aplaude.
TAMIRES –
Tomaremos champanhe?
KLÉBER –
Francês. Do mais caro.
TAMIRES –
Qual o motivo de tanta comemoração?
Kléber serve as taças e entrega uma para Tamires.
KLÉBER –
Um brinde a essa morena gostosa.
Tamires sorri.
TAMIRES –
E eu sou só isso?
Kléber se aproxima, brinda as taças, dá um selinho em Tamires.
KLÉBER –
Você é a futura Senhora Magalhães. Eu vou me divorciar da Marta e vou me
casar com você.
TAMIRES (incrédula) –
Mentira?
KLÉBER –
É a mais pura verdade. Vou fazer de você a mulher mais feliz e mais rica que
esse Rio de Janeiro já conheceu. Aguarde!
Tamires sorri, pula no colo de Kléber. Os dois começam a se beijar.
CENA 17. DELEGACIA. REPARTIÇÃO. INT. DIA.
Vários policiais, entre eles, Élio, estão de pé olhando para Joanne.
JOANNE –
Eu sei que fiz coisas erradas, que envolvi nosso departamento num escândalo.
Nunca foi minha intenção, nunca vai ser. Só quero agradecer o carinho e
dedicação de cada um de vocês. Eu tô saindo de cena, momentaneamente, mas em
breve eu volto. E é isso. Eu detesto despedidas.
ÉLIO –
Mas quem disse que isso daqui é uma despedida?
Joanne o olha e sorri.
JOANNE –
Tem razão. Eu tô indo cuidar da minha vida pessoal, mas eu volto.
Todos aplaudem. Joanne deixa escorrer uma lágrima.
CENA 18. CASA DE ELEANDRO. QUARTO. INT. DIA.
Local simples, mas bem mobiliado e limpo. Valeska e Eleandro estão deitados
na cama, ofegantes. Cobertos apenas por um lençol.
VALESKA –
Olha, eu sempre tive fantasias sexuais com você, confesso. Mas eu nunca, em
nenhum dos meus sonhos, pude imaginar que você era tão gostoso assim.
Eleandro ri.
VALESKA –
A gente imagina uma coisa meio contos de fada, mas a vida real é bem
diferente e mostra que situações ruins, adversas podem nos aproximar de um
sonho.
ELEANDRO –
Sempre te admirei, morena. Tu sabe que sempre te tratei no respeito. Até
então eu era amarradão na da Tamires. Mas aquela lá quer vida de madame e eu
não sou marajá pra isso.
Valeska se levanta enrolada no lençol, vai ate uma mesinha, e retira um
cigarro da carteira.
ELEANDRO –
Tu fuma?
VALESKA –
Às vezes. Mas me diz mais. Me diz o que tu sente por mim, o que tu sente por
Tamires.
Eleandro se levanta e começa a beijar o pescoço de Valeska.
VALESKA –
Tu ainda gosta muito dela, não é?
ELEANDRO –
A gente não esquece uma pessoa da noite pro dia, né?
Valeska acende o cigarro e dá uma tragada forte.
VALESKA –
Eu só espero não ser a ponte até o seu objetivo.
ELEANDRO –
E quem é meu objetivo?
VALESKA –
Você me diz.
Em Valeska.
CENA 19. PRAZERES. RUAS. EXT. DIA.
Sabine desce de um ônibus e anda pelas ruas. Logo após, Esther salta de um
carro importado e começa a segui-la.
CENA 20. APARTAMENTO DE EDGAR. SALA. INT. DIA.
A campainha toca e Ayres atende. Ela dá de cara com Joanne. Edgar se
aproxima.
EDGAR –
Quem é, Ayres?
Joanne entra e olha fixamente para Edgar.
JOANNE –
Acho que a gente precisa ter uma boa conversa, não é?
Em Joanne.
CENA 21. CASA DE DOS ANJOS. EXT. DIA.
Sabine entra. Esther fica parada ali na calçada, olha a casa com desdém.
ESTHER –
É nesse muquifo que a Sabine mora? Mas é nunca que ela será casada com um
D’Ávila.
Nesse instante passa um rapaz por ali.
ESTHER –
Moço, por gentileza, me dê uma informação.
RAPAZ –
Pois não?!
ESTHER –
Sabe me dizer onde mora a Sabine?
RAPAZ –
A Sabine cartomante?
Esther fica surpresa.
ESTHER –
Cartomante?
RAPAZ –
Bom, podemos estar falando de Sabines diferentes. Mas a Sabine que me refiro
é uma morena bonita, olhos verdes, que trabalha como cabelereira lá no
bairro dos ricos. É essa que a senhora procura?
Esther fica desorientada, apenas olha para o rapaz.
RAPAZ –
É essa Sabine, dona?
Esther coloca as mãos sobre a cabeça, se apoia no muro.
RAPAZ –
A senhora tá bem? Quer que eu chame a mãe da Sabine? Ela pode lhe dar um chá
e uma reza. Acho que a senhora deve tá atrás disso.
ESTHER –
Tá amarrado!
Esther sai depressa dali, meio desnorteada.
CENA 22. APARTAMENTO DE EDGAR. SALA. INT. DIA.
Edgar e Joanne frente a frente. Ayres mais atrás, fecha a porta.
AYRES –
Quer que eu fique, chefinho?
JOANNE –
Você é um rato, Edgar.
EDGAR (a Ayres) –
Dá licença pra gente. Vai respondendo a galera do blog.
AYRES –
Precisando é só chamar.
Ayres sai em direção ao quarto.
EDGAR –
Então eu sou um rato, delegada?
JOANNE –
Você postou uma foto minha beijando o Kléber. E sabe o que isso significa?
EDGAR –
Que você, no mínimo, é amante dele.
JOANNE –
Eu não concedi aquele beijo. Eu não quis aquilo.
EDGAR –
Você pode dar mil declarações, doutora, mas a foto é categórica. O que está
feito, está feito. Não dá pra voltar atrás.
JOANNE –
Mas pode ser reparado. Aliás, vai ser reparado. Você vai retirar aquilo do
ar e vai me pedir desculpas publicamente.
Edgar começa a gargalhar.
JOANNE –
Eu não tô brincando, Edgar.
EDGAR –
Pensasse nisso antes de dar condição pro ricaço lá, querida. Eu só fiz o meu
trabalho.
JOANNE –
Um trabalho sujo, desonesto. Você representa o que há de pior na imprensa
brasileira. É aquele tipinho de gente que quer se manter em evidência e faz
qualquer servicinho sujo pra isso. Que nojo!
EDGAR –
Fiz algo ilegal, doutora? Vai me prender?
JOANNE –
Você é mesmo um ignorante de marca maior, não é? Aposto que acha que
jornalismo é pegar uma câmera e sair por aí fotografando e filmando as
pessoas. Mas eu vou aos tribunais. O que você fez é caracterizado como dano
moral. Além disso, minha imagem profissional foi manchada e eu fui afastada
das minhas funções temporariamente, ou seja, mais dano moral.
EDGAR –
Eu tô pronto pra guerra, doutora. Mas eu não retiro a publicação.
JOANNE –
E pensar que eu te ajudei, te dei proteção policial.
EDGAR –
Você me ofende, me chama de rato, ignorante e o caralho a quatro, mas quando
precisou de mídia pra poder desvendar a tal carta criptografada, recorreu a
mim. Já se esqueceu? Se esqueceu também que foi graças a essa sua ideia
genial que eu fui ameaçado e por isso precisei de proteção? Sua memória é
muito menor do que tua autoestima, doutora. A senhora tá colocando em mim
uma culpa que é sua. Se o tal ricaço não te assumiu, se vocês têm algo sério
ou não, não é aqui, me ofendendo que a senhora vai achar essas respostas.
Joanne fica cabisbaixa. Edgar vai até a porta e a abre.
EDGAR –
Melhor a senhora ir embora.
Joanne levanta a cabeça e o olha nos olhos.
JOANNE –
Nada disso modifica o fato de você ter feito uma matéria suja e tendenciosa.
Tem troco. E ele será no tribunal.
Joanne sai. Edgar bate a porta com força.
CENA 23. APARTAMENTO DE ESTHER. SALAD DE ESTAR. INT. DIA.
Esther está de pé falando ao telefone.
ESTHER (tel.) –
Tá bem, querida. Que bom que aceitou. Te espero as oito. Beijo.
Esther desliga o telefone. Lucas entra.
LUCAS –
Oi, mãe.
ESTHER –
Oi, meu filho. Que bom que está aqui. Hoje eu chamei a Sabine, minha
cabelereira, para jantar com a gente. Você se incomoda?
Lucas se surpreende.
LUCAS (disfarçando) –
Não, claro que não. Tá tranquilo.
ESTHER –
Que bom. Vou pedir a cozinheira para preparar algo bem gostoso para ela.
Esther sai. Em Lucas, pensativo.
CENA 24. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Consuelo e Tamires estão sentadas no sofá, lendo revista.
TAMIRES –
Mas, dona Consuelo, por que eu tenho que saber sobre economia? Eu detesto
matemática.
CONSUELO –
Uma mulher da alta classe tem que saber o mínimo de tudo, minha querida. Uma
mulher rica acaba sendo executiva em algum momento, mesmo que seja para
administrar a compra de sapatos.
TAMIRES –
Mas eu não entendo.
CONSUELO –
Para de perguntas e leia com atenção. Aprenda a ser culta.
Tamires volta a ler. Nesse instante, Kléber entra, vindo da rua.
Consuelo se levanta, surpresa.
CONSUELO –
Kléber?
KLÉBER –
Eu já sei o que me espera, Consuelo.
CONSUELO (a Tamires) –
Termina de ler a revista no seu quarto.
Tamires sai.
CONSUELO –
Senta aqui antes de subir, Kléber. Eu preciso falar com você.
Nos dois se olhando.
CENA 25. APARTAMENTO DE JOANNE. SALA. INT. DIA.
Joanne e Élio estão um de frente para o outro.
ÉLIO –
Vim saber como você está de verdade. Agora como amigo.
JOANNE –
Eu tô mal. Pior impossível.
ÉLIO –
Mas isso vai passar. É que foi agora, tá tudo muito recente. Você vai
passar. Talvez tenha sido melhor que isso tenha acontecido agora.
JOANNE –
Eu fui uma burra, uma inútil, cara. Pensa comigo: o cara me levou na maciota
por anos. Eu fui amante do Kléber por anos. Eu ameaçava sair disso, mas no
fundo eu não tinha coragem. O que tá acontecendo é culpa exclusivamente
minha, entendeu?
Joanne começa a chorar, Élio se aproxima e a abraça.
SONOPLASTIA: AONDE QUER QUE EU VÁ – PARALAMAS DO SUCESSO.
ÉLIO –
Eu tô aqui com você e sempre estarei, tá bem?
JOANNE –
Mas eu não mereço.
ÉLIO –
Você merece tudo. Você é amor. É o meu amor.
Joanne e Élio se beijam.
CENA 26. MANSÃO MAGALHÃES. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
PANORÂMICA. Marta está sentada na cama, de cabeça baixa. A sua frente há um
pequeno monte de cinzas. Tempo nela. Pouco depois, Kléber entra.
KLÉBER –
Então a sua mãe me disse a verdade.
Marta se levanta, olhos muito vermelhos.
KLÉBER –
Eu tô aqui, porque eu achei que você merecia uma explicação.
MARTA –
Não há explicação para o que você fez.
KLÉBER –
Eu não tô falando disso. Tô falando desse momento. Sua mãe me alertou que
você havia queimado as minhas coisas, que fez um escarcéu.
MARTA –
Eu fui exposta, Kléber. Precisava disso?
KLÉBER –
Tem razão, Marta, não precisava. Eu deixei isso ir longe demais.
MARTA –
Sim. O seu caso com aquela vagabunda foi longe demais.
KLÉBER –
Eu me refiro ao nosso casamento. Ele durou tempo demais. Eu não precisava
ter ido tão longe.
MARTA –
O que?
KLÉBER –
Eu me casei com você, Marta, mas não foi por amor. Eu precisava de um nome e
de um capital pra subir na vida. Eu tinha a ideia brilhante, mas faltava o
resto, entende?
MARTA –
E eu fui essa moeda de troca?
KLÉBER –
Você nunca foi meu alvo. Mas como você me quis e eu não tava com tempo e nem
paciência para procurar outra mulher da elite, vi que você me serviria.
MARTA (incrédula) –
E você diz isso assim, com essa naturalidade? Como se eu fosse um recurso,
um objeto pra você enriquecer?
KLÉBER –
Se você não fosse tão chata, tão ciumenta, eu juro que tentava. Mas não deu.
E que bom que meu caso com a Joanne foi exposto, sabe? Assim eu me livro
logo de você. Tchau.
Kléber sai.
MARTA (saindo/gritando) –
Volta aqui, seu cachorro.
CENA 27. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Consuelo está de pé. Kléber desce as escadas calmamente, logo atrás vem
Marta, que desce chorando.
MARTA –
Espera, Kléber!
CONSUELO –
Deixa ele ir, Marta. O Kléber só quis te usar. Deixa ele ir.
KLÉBER –
Ouve a sua mãe, Marta. Ela é sensata.
Marta corre e se põe diante da porta.
MARTA –
Aqui você não passa. Dessa casa você não sai. Não, você não vai sair da
minha vida assim.
KLÉBER –
Para com essa cena ridícula. Você tá patética, mais do que já é.
MARTA –
Por favor, Kléber, fica comigo.
KLÉBER (sério) –
Sai da minha frente.
Marta se ajoelha diante de Kléber.
MARTA –
Eu te peço, de joelhos, fica comigo. Por favor, fica comigo. Continua casado
comigo, eu te peço.
CONSUELO –
Onde tá a sua honra, Marta Beatriz? Deixa esse abutre ir embora.
Marta se abaixa mais, segura os pés de Kléber.
MARTA –
Fica comigo, por caridade. Por favor, fica comigo. Eu te pago. Quanto você
quer? Eu te pago por mês, deixo você ter amantes, mas fica comigo.
KLÉBER –
Eu só quero uma coisa de você, Marta. Distância!
Kléber se desvencilha de Marta e sai. Marta deita no chão, chorosa. Consuelo
a olha com ar de reprovação.
MARTA –
Ele se foi, minha mãe. O amor da minha vida se foi.
CONSUELO –
A sua cena foi deprimente, Marta. Que decepção. Agora se levanta e seja
digna.
Marta se levanta, seca as lágrimas e vai até a cristaleira.
CONSUELO –
O que vai fazer?
Marta pega uma garrafa de uísque e começa a subir as escadas.
CONSUELO –
Isso! Vai beber no seu quarto.
Em Consuelo, irritada.
CENA 28. APARTAMENTO DE JOANNE. QUARTO. INT. DIA.
Élio e Joanne estão deitados na cama, nus. O celular de Élio toca. Ele
atende.
ÉLIO (cel.) –
Oi. (P) Ok, estamos indo aí para buscar você. Tchau.
Élio se levanta rapidamente e começa a se vestir.
JOANNE –
O que foi?
ÉLIO –
Levanta e se arruma. Nós vamos atrás do homem que tinha ligação com o
Teodoro.
JOANNE –
Mas eu tô fora da investigação.
ÉLIO –
Eu disse que estou com você, não é?
Joanne faz que sim com a cabeça.
ÉLIO –
Então... Chegou a hora da gente fazer nossa investigação, com a nossa lei.
Eu tenho um plano. Se arruma que eu vou te contando.
Em Joanne, surpresa.
CENA 29. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.
MÚSICA DE SUSPENSE. Takes rápidos e pontuais do bairro Prazeres.
CENA 30. BAIRRO PRAZERES. RUA. EXT. NOITE.
Música cessa. Uma viatura da polícia para, Joanne, Élio e Daiana descem do
carro.
ÉLIO –
É aqui, Daiana?
DAIANA –
Aquele portão verde ali, enferrujado.
JOANNE –
Lembra o nome dele?
DAIANA –
Bastião. Foi assim que o Teodoro o chamou.
ÉLIO –
Volta pro carro e se tranca aí. Daqui pra frente é comigo e com a Joanne.
Daiana entra no carro. Élio e Joanne começam a atravessar a rua.
JOANNE –
Acha que vai dar certo?
ÉLIO –
Não sei, mas pode ser a nossa única chance.
JOANNE –
Então vamos dar o nosso melhor.
CENA 31. CASEBRE DE BASTIÃO. INT. NOITE.
Local pequeno e muito sujo. Bastião está contando dinheiro, quando ouve
barulho de palmas.
JOANNE (v.o) –
Senhor Sebastião!
Bastião guarda o maço de dinheiro embaixo do colchão. Close nele,
ressabiado.
CENA 32. CASEBRE DE BASTIÃO. EXT. NOITE.
Joanne bate palmas mais uma vez, tudo permanece quieto.
JOANNE –
Acho que não está.
ÉLIO –
Será que não tá mais aqui?
Nesse instante, Bastião aparece.
BASTIÃO –
Que foi que tão me chamando?
Élio aponta arma na cabeça de Bastião, enquanto Joanne o algema.
JOANNE –
O senhor está preso.
BASTIÃO –
Preso? Mas pelo quê?
JOANNE –
Preso pelo assassinato de Tânia dos Anjos.
Em Bastião, surpreso. |
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