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Os dois homens estavam comendo do lado de fora do
hospital em uma pequena lanchonete, com vista parcial do
centro de Porto Seguro. O café está forte e sem açúcar
para Levi e expresso para Tony, acompanhado por
panquecas de banana com mel.
- Não podemos nem ir atrás dessa história, que uma
pessoa é assassinada brutalmente, não acha isso no
mínimo curioso? Como se a cada passo, estivéssemos sendo
observado, este não é o nosso jogo, Levi. Estamos
mexendo com pessoas fortes.
Levi corta um pedaço da panqueca e permanece a observar
o amigo.
- Sabe o que fiquei sabendo ontem à noite? – Tony
indaga.
- O quê?
- Que o nosso querido sócio está morando em Arraial.
- O Fagner Lima. Este embuste não havia viajado?
- Isso que é estranho.
- Eu me esqueci de muitos momentos da minha vida, mas
toda vez que tocamos no nome deste cara me bate um
arrependimento de ter seguido nesta empreitada.
- Alguma das suas irmãs também deve estar penitente.
- Como assim?
- Junte todas as peças do tabuleiro Levi, não quero dar
uma tacada errada, mas ligo os pontos, por qual motivo
Fagner Lima estaria aqui neste momento? Existem diversas
cidades no Brasil, centenas de países no mundo. De Nova
York a Paris. Não acha que tem um motivo superior?
Levi afirma com a cabeça.
- Também não podemos afirmar quem morreu na basílica.
Pode ter sido a Pamela...
- Ou a Claudia. – Exclama Levi.
- O Fagner é um perseguidor, é a cara dele essas
brincadeiras sádicas. Jogar uma pessoa em um buraco de
três metros de profundidade?
- Ele é um psicopata.
- Capaz de destruir a vida de uma pessoa por qualquer
futilidade.
- O dinheiro corrompe as pessoas.
O olhar de Tony está fixado no do amigo.
- O Fagner nasceu corrompido, certamente a família nunca
percebeu.
- Ele teve uma família?
- Claro, o pai dele é milionário, mas o Fagner é apenas
um bastardo.
- Um filho fora do casamento?
- Sim. A mãe dele era secretária da empresa e a história
é como dessas clássicas, o velho golpe da barriga, digna
de números bem generosos na conta bancária dessa mulher
e colégios caros para o pequeno demônio.
Levi esboça um pequeno sorriso antes de se levantar e
pagar a conta, a esta altura Claudia deve ter retornado
para Arraial D’ Ajuda, acompanhada da matriarca e de
Tomaz Brayton. Ele não suporta respirar os vestígios de
mentira. Tony é o único em que pode confiar neste
momento e principalmente com esses diálogos, trata-se do
seu sócio e melhor amigo, havia dado diversas provas de
que sua amizade é sincera.
- Não posso cometer nenhuma loucura. – O empresário
disse para si mesmo, quando estava embaixo da banheira
para relaxar o corpo, o pequeno David havia acabado de
pegar em um sono profundo e Barbara Novak, permanece
acomodada na frente do computador, tentando escrever o
primeiro capítulo da sua nova história.
Quando todos da casa haviam se deitado, Levi resolveu se
elevar, não iria conseguir dormir, estava com uma ideia
na cabeça e precisa colocá-la em pratica. Ele desce as
longas escadarias e avança para a garagem e coloca uma
pá dentro do porta-malas da picape, posteriormente liga
o motor do veículo que segue lentamente em torno da
cidade, que agora parece uma maquete sem ninguém na rua,
se distancia cada vez mais do centro, seguindo para uma
ala rústica do distrito, estacionando em frente a um
grande portão de ferro, escrito Jardim da Paz. Ele salta
do veículo, está usando uma blusa de manga cumprida
devido ao frio da madrugada, nunca teve medo dos mortos,
mas os respeitavam, naquele momento precisa encarar
qualquer fraqueza.
O túmulo de Pamela Monteiro é um dos primeiros do
cemitério, cercado de flores brancas, certamente Amália
visitava frequentemente aquele local, onde está
enterrada a princesinha da família. É a hora de começar
o trabalho, a sepultura é aberta e o homem começa a
retirar toda aquela areia com a pá, depois de extremo
esforço a ferramenta formada de ferro entra em contato
com a madeira do féretro.
Ele escuta o ruído de um graveto sendo quebrado, observa
ao redor do ambiente que forma uma neblina, uma silhueta
surge em meio àquela escuridão, trata-se de uma mulher
usando calça jeans, camisa de moletom vermelha, com os
cabelos caídos sobre os ombros. Pela primeira vez Levi
conseguiu enxergar a verdade, pela primeira vez ele
conseguiu enxergar Pamela.
- No fundo, você sempre soube de tudo, mas nunca quis
encarar.
- Durante este tempo todo, fomos enganado? – Ele
questiona, com as vistas pranteadas.
- Por causa do Miguel Xavier, aquele desgraçado fez da
minha vida um verdadeiro inferno, em seguida, conheci a
nossa irmã, a Claudia, que aceitou fazer a troca de
identidade, mas se apaixonou pelo Jonathan.
- Uma vida pode compensar a outra?
Um barulho irritante surge na cabeça do empresário e faz
com que o mesmo se ajoelhe na areia, as mãos permanecem
sujas de terra e ele luta contra a náusea das memórias
que transparecem aos poucos. Levi estava se lembrando de
cada detalhe do passado, as brigas na adolescência com a
matriarca, a morte do patriarca, o começo do
empreendimento, a amizade com Tony Federline, os
momentos felizes ao lado de Barbara Novak cercada de
promessas, o retorno a cidade natal, as investigações,
chegando à explosão e aquela ilha misteriosa, quando se
recuperou daquelas dores, havia notado o monstro que
está adiante, a sua irmã mais nova, a caçula. Ela
destruiu a sua vida.
- Você ao menos se arrepende?
- Sim, jamais teria coragem de te matar.
- Por isso me levou para aquela ilha particular?
- Estaria tudo certo se o Fagner não descobrisse e os
capangas dele, jogassem o seu corpo no oceano. – Ela
retira o aparelho celular do bolso e entrega para o
irmão. – Ligue para a polícia, por favor.
- Não, você pode fugir.
- Ele irá me encontrar em qualquer lugar.
Alguns passos podem ser ouvidos, assustando os dois
indivíduos próximos a cova, Levi tira a arma da cintura
e aponta para uma pessoa usando roupa completamente
preta, uma luva nitrílica e sapatos de camurça, trata-se
do perseguidor de Pamela. Levi não pensa duas vezes e
atira, a bala acerta em cheio na barriga. |
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