CENA 01. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Continuação da última cena do capítulo anterior.
Música:
Instrumental Tensão.
Bianca com a arma em mãos, apontando para Milena e
Marcelo.
Marcelo
— Abaixa essa arma, Bianca. Por favor.
Bianca
— Como vocês souberam que eu tava aqui? Quem mais tá em
casa?
Bianca olha pras escadas.
Bianca
— (Para Milena) A sua irmã tá aqui, né?
Bianca começa a subir as escadas.
Milena
— (Segue-a) Volta aqui!
Bianca se volta para Milena e aponta a arma.
Bianca
— Não me segue.
Marcelo segura Milena.
Marcelo
— Deixa ela.
Bianca continua subindo as escadas.
Milena
— (Preocupada) A Yasmin tá lá. Ela/
Marcelo
— (Corta/Sutil) Ela não vai fazer nada. Fica calma.
Em Milena preocupada. [Instrumental off].
CENA 02. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Luísa acaba de desligar o telefone. Wagner por ali.
Wagner
— Falou com a polícia?
Luísa
— Sim. Mas já tinham emitido um mandado de prisão contra
a Bianca. A polícia já tá indo pra lá.
Wagner
— Por que motivo?
Luísa
— Não faço ideia, Wagner.
Wagner
— (Decidido) Eu vou pra lá.
Luísa
— (Surpresa) Você tá louco?!
Wagner
— Eu sei de tudo que aconteceu e preciso me certificar
que a Bianca não vai contar nenhuma mentira dessa vez.
Luísa
— Se você tivesse contado tudo antes, talvez nada disso
acontecesse.
Wagner
— Não esqueça que você também se calou.
Luísa
— Mas por medo!
Wagner
— Agora não é o momento pra gente discutir isso.
Wagner abre a porta da rua e dá de cara com Rogério, que
está com o celular na mão e um semblante preocupado.
Wagner
— (Para Rogério) Entra. A Luísa tá ali.
Wagner sai. Rogério entra e se aproxima de Luísa, que o
beija.
Luísa
— Que cara é essa?
Rogério
— Eu tava falando com a minha filha, mas a ligação caiu.
Ela tava nervosa... To preocupado.
Luísa
— A Bianca tá armada dentro da mansão.
Rogério
— (Surpreso) Que?! Como assim?
Luísa
— Calma, a Milena e o Marcelo já tão lá.
Rogério
— Eles não podem enfrentar a Bianca! Aquela mulher é
louca!
Luísa
— A policia também já ta indo, se acalma. Não vai
adiantar nada a gente ir pra lá.
Na tensão de Rogério.
CENA 03. casa de giancarlo. quarto de yasmin. Interior.
Dia.
Música:
Instrumental Tensão.
Yasmin com o celular em mãos, nervosa.
Yasmin
— Droga. Tinha que acabar a bateria logo agora.
Yasmin se assusta com algumas batidas fortes na porta.
Bianca
— (Off/Tom Suave) Filha! Abre a porta pra sua mãezinha!
Yasmin se afasta da porta, acuada.
Bianca
— (Off/Tom Suave) Responde! Eu sei que você tá aí! Abre!
Yasmin
— Vai embora! Você tá me assustando!
CENA 04. casa de giancarlo. corredor segundo andar.
Interior. Dia.
Instrumental continua.
Bianca, segurando a arma, diante da porta fechada do
quarto de Yasmin.
Bianca
— (Irritada) Abre logo essa porta, garota! Eu não to
brincado!
Yasmin
— (Off/Grita) Sai daqui!
Bianca
— (Grita) Eu mandei você abrir a droga dessa porta!
Bianca aponta a arma para fechadura da porta e aperta o
gatilho.
CENA 05. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Instrumental continua.
Milena e Marcelo ali, tenso. Escuta-se um tiro vindo do
andar superior. Milena dá um grito e corre em direção as
escadas. Marcelo vai atrás, mas eles são interceptados
por Bianca, que puxa Yasmin pelo braço.
Bianca
— (Aponta a arma para Milena) Eu mandei vocês ficarem
aqui.
Marcelo e Milena vão recuando. Wagner entra da rua.
Wagner
— Bianca, para com isso. A polícia já ta vindo pra cá
com um mandado de prisão.
Bianca
— Mas o que é isso? Uma reunião?
Marcelo
— (Para Wagner) O que você tá fazendo aqui?
Wagner
— Me certificando de que ela não vai enganar vocês mais
uma vez.
Milena
— (Para Bianca) A conversa é só entre nós. Deixa a minha
irmã sair daqui.
Tensão. Closes alternados entre todos, finalizando em
Bianca, pensativa. [Instrumental off].
CENA 06. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Rogério inquieto, andando de um lado para o outro. Luísa
o observa, também angustiada.
Luísa
— Vou pegar uma água pra ver se você se acalma.
Rogério
— Não, Luísa. Eu quero notícias, isso sim.
Bernardo entra da rua.
Bernardo
— Olá família. (Percebe) Que clima tenso é esse?
Rogério
— (Decidido) Eu não vou ficar aqui de braços cruzados
enquanto a louca da Bianca tá lá com uma arma ameaçando
todo mundo.
Bernardo
— Alguém pode me explicar o que tá acontecendo?
Luísa
— É melhor a gente ficar aqui, Rogério.
Rogério
— Não! É melhor a gente tá lá.
Luísa
— Tudo bem, então eu vou com você.
Bernardo
— (Insiste) O que tá acontecendo?
Luísa
— Vem com a gente que no caminho eu te explico.
Os três saem para a rua.
CENA 07. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Continuação da cena 05.
Música:
Instrumental Tensão.
Bianca larga Yasmin e a empurra para cima de Milena, que
abraça a irmã.
Bianca
— Tá. Vai. Pode ir.
Yasmin
— (Para Milena) Por que ela tá fazendo isso, Milena?
Milena
— Não sei. Mas eu vou descobrir isso. Agora vai.
Bianca
— Parem de conversinha e sai logo daqui!
Yasmin abraça Milena mais uma vez e sai.
Milena
— (Para Bianca) Agora você vai me contar tudo o que
aconteceu no dia em que o meu pai morreu.
CENA 08. casa de giancarlo. jardins. Exterior. Dia.
Instrumental continua.
Nogueira, diversos policiais e carros da polícia cercam
o local. Rogério, Luísa e Bernardo se aproximam de
Nogueira.
Rogério
— Delegado, vocês precisam invadir a casa.
Nogueira
— Não é tão simples. Pelo que falaram a suspeita tá
armada e com reféns.
Rogério
— A minha filha tá lá!
Luísa
— (Aponta) Ela tá saindo!
Yasmin corre até Rogério e o abraça.
Rogério
— (Preocupado) Como é que você tá?
Yasmin
— To bem. A mãe que tá louca com uma arma na mão.
Nogueira
— Quantas pessoas têm lá?
Yasmin
— Quatro. Ela tá armada com uma pistola.
Nogueira
— Nós precisamos pensar bem antes de agir. Não podemos
colocar a vida de ninguém em risco.
[Instrumental off].
CENA 09. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Continuação da cena 07.
Bianca encara Milena, Marcelo e Wagner.
Wagner
— Mentir pra abafar o escândalo não vai adiantar nada. A
polícia tá lá fora. Tudo o que você fez Bianca, foi em
vão.
Bianca
— Isso é uma questão de ponto de vista.
Bianca enxuga uma lágrima que escorre e sorri.
Bianca
— Mas tudo bem. Se é a verdade que vocês querem, é a
verdade que eu vou dar pra vocês.
Marcelo
— A mesma verdade que você contou antes?
Bianca
— Não. A verdade mesmo! O Wagner tá certo: não adianta
mais eu esconder isso.
Marcelo
— Então aquela história de que a minha mãe e o Coimbra
foram amantes era mentira?! Meu pai não fugiu comigo pra
se vingar da minha mãe?!
Bianca
— O Alcides sumiu pra se vingar da Ana Carolina sim. Só
que a história não aconteceu exatamente da forma que nós
contamos... Mas calma, eu vou contar direitinho, tudo o
que aconteceu nos dias que antecederam o sumiço do
Alcides e a morte do Coimbra.
Closes alternados em Wagner, Milena, Marcelo e Bianca.
____________ INÍCIO DA 1ª
PARTE DOS
FLASHBACKS ____________
CENA 10. sobrado de gregório. sala. Interior. Dia.
Mesmo sobrado de Gregório utilizado no capítulo 44, com
algumas modificações na decoração. Bianca (33 anos) e
Gregório (30 anos) se beijam. Tempo e ela o empurra.
Bianca
— Para, Gregório.
Gregório
— Que foi? Você não quer?
Bianca
— É claro que eu quero, mas a gente tem coisas
importantes pra conversar.
Gregório
— Tipo sobre o que, Bianca?
Bianca
— Sobre o Coimbra. Ele tá desconfiado!
Gregório
— Deixa de paranoia, o Coimbra nunca vai descobrir o
nosso caso.
Bianca
— Eu não to falando de nós. Eu to falando dos nossos
negócios.
Gregório
— O que aconteceu dessa vez?
Bianca
— O Coimbra andou questionando o fluxo de caixa. Ele tá
achando que alguma coisa não ta batendo.
Gregório
— E quais são as chances dele acabar chegando na...
Bianca
— Altíssimas, Gregório. Assim que ele constatar que as
contas não estão batendo, mais cedo ou mais tarde ele
vai chegar no nosso esquema.
Gregório
— Você tem razão. A gente precisa tirar o Coimbra e o
Alcides do nosso caminho o quanto antes.
Bianca
— A Ana Carolina também, né? Porque não adianta nada
você se livrar do seu irmão sem se livrar dela.
Gregório
— E ainda tem o Marcelo.
Bianca
— Ah, Gregório! Vai se mixar por causa de uma criança? O
pivete é o de menos! Deixa os lambaris pra depois, agora
a gente tem é que focar nos peixes grandes.
Gregório
— Alguma ideia?
Bianca
— Talvez. Um pouco louca... Ousada.
Gregório
— Fala. To escutando.
Bianca
— O que eu vou sugerir agora tem chances de dar errado.
Mas se der certo, a gente vai se livrar do Coimbra, do
Alcides, da Ana Carolina e ninguém vai conseguir nos
envolver no que aconteceu.
Bianca continua falando em off.
CENA 11. cafeteria.
ambiente. Interior. Dia.
Ambiente moderno e requintado. Gregório e Coimbra (35
anos) sentados à mesa. Conversa já iniciada.
Coimbra
— (Revoltadíssimo) Eu não acredito que você me trouxe
até aqui pra falar um absurdo desses!
Gregório
— Pode parecer absurdo, mas é verdade! A Bianca tá te
traindo com o Alcides!
Coimbra
— O Alcides é meu amigo, meu sócio, ele nunca ia fazer
uma coisa dessas comigo.
Gregório
— Pelo jeito você tá enganado em relação a ele.
Coimbra
— A troco de que você tá falando isso? O Alcides é seu
irmão.
Gregório
— É meu irmão, mas isso que ele e a Bianca estão fazendo
é errado! Não é justo que você seja enganado dessa
forma.
Coimbra
— (Incrédulo) Você falou, falou, mas até agora não me
mostrou nenhuma prova. Só a sua palavra não me basta.
Gregório
— Você quer provas, eu vou te dar.
Gregório tira algumas fotos de uma pasta.
Gregório
— Essas fotos falam por si só.
Gregório entrega as fotos para Coimbra, que olha
atentamente.
Nas fotos aparecem Alcides com parte do corpo deitado
sobre o capô do carro de Bianca e ela por cima dele. O
rosto dos dois estão bem próximos, quase se beijando.
Coimbra olha todas as fotos com muita revolta.
Coimbra
— Isso não pode ser verdade!
A Bianca e o Alcides?
Coimbra pega um copo e atira no chão.
Coimbra
— (Raiva) Vagabunda!
Algumas pessoas que estão no local, olham para Coimbra.
Gregório
— Calma, Coimbra. Não adianta nada você quebrar tudo
aqui.
Coimbra
— E o que você sugere que eu faça depois que vi essas
fotos nojentas?! Que fique quieto?! Que vire corno
manso?! Eu não vou ficar quieto!
Gregório
— Nem eu to sugerindo isso!
Coimbra
— Eu fui traído da pior forma, Gregório! Pela minha
mulher e pelo meu amigo! Eu to com tanta raiva dele que
sou capaz de quebrar a cara do Alcides quando ver ele.
Gregório
— Ou você pode fazer melhor.
Coimbra
— (Não entende) Melhor como?
Gregório
— Você pode se vingar do Alcides na mesma moeda.
Coimbra
— Continuo sem entender. Você pode ser mais claro?
Gregório
— Seduza a Ana Carolina! Faça o Alcides sofrer da mesma
forma que você sofreu!
Coimbra
— (Reage/Surpreso) Que?! Você tá louco?! Eu não vou usar
a Lei de Talião! Olho por olho só serve pra deixar o
mundo caolho!
Gregório
— É pesado, eu sei. Mas o Alcides não merece a sua pena.
Coimbra
— Mas e a Ana? Ela é inocente nessa história toda.
Gregório
— Mas não merece o marido que tem.
Coimbra
— Acho isso errado./
Gregório
— Errado é o que o Alcides e a Bianca estão fazendo com
vocês!
Coimbra
— (Reticente) Não sei, Gregório...
Gregório
— O Alcides precisa aprender!
Coimbra
— É, pode ser. O Alcides precisa sofrer de alguma forma.
(Tom) E a Bianca?
Gregório
— Cada coisa à seu tempo. Mas então você vai seduzir a
Ana Carolina?
Coimbra
— Nem que seja a última coisa que eu faça na vida.
Coimbra sorri.
Gregório
— (Off/Pensa) Tenho certeza que vai.
Gregório sorri de volta.
CENA 12. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Dia.
Stock-shot da cidade na época. Offs de Bianca da
atualidade.
Bianca
— (Off) Gregório convenceu Coimbra em seduzir a Ana
Carolina.
CENA 13. clube. estacionamento. Exterior. Dia.
Cena já exibida: cena 8 do capítulo 40.
Coimbra pega no braço de Ana Carolina a puxa para perto
de si e a beija. Surpresa, Ana Carolina fica sem ação
por um tempo, até que empurra Coimbra.
Ana Carolina e Coimbra se encaram por um breve tempo,
até que ela dá as costas e vai embora sem falar nada.
Coimbra sorri, satisfeito.
A voz de Bianca dos dias atuais continua sobre a cena:
Bianca
— (Off) O Coimbra tinha charme, lábia. Não seria difícil
ele ludibriara ela... Mas as coisas não saíram
exatamente como a gente esperava. A Ana foi arredia, se
esquivava das investidas do Coimbra... Aqui a gente
poderia ter abortado com o plano, mas eu achei que era
tarde de mais... O Coimbra tinha que levar a Ana
Carolina pra cama. Por bem ou por mal.
CENA 14. bistrô. ambiente.
Interior. Dia.
Gregório e Coimbra bebem um drink. Conversa já iniciada.
Coimbra
— Ela não ta cedendo. To pensando seriamente em desistir
de tudo isso.
Gregório
— Não! Você não pode desistir! Ou você acha que o
Alcides não tem que pagar pelo que fez?
Coimbra
— Claro que tem! Mas a Ana Carolina não colabora!
Gregório
— Se ela não quer colaborar por bem, faça ela colaborar
por mal.
Coimbra
— (Reage) Espera aí! Eu não vou violentar ninguém!
Gregório
— Que violentar, Coimbra?! Eu não falei isso! O que eu
to querendo dizer é que o Alcides só precisa pensar que
vocês foram pra cama.
Coimbra
— Com que objetivo? Isso não tá fazendo sentido algum.
A fala de Gregório começa a entrar num tom cada vez mais
sombrio.
Gregório
— Porque você tá tendo uma visão pequena das coisas. Não
esqueça que o seu objetivo nisso tudo, nunca foi levar a
Ana Carolina pra cama e sim se vingar do Alcides. Com o
que eu vou te sugerir, você não precisa consumar o fato,
mas o Alcides vai pensar que vocês dois mantém um caso.
Coimbra
— E aí ele vai sentir na pele o que eu senti.
Gregório
— Isso. Você vai pagar na mesma moeda.
Coimbra
— E como eu vou levar a Ana Carolina pra um motel?
Gregório
— Dopando ela.
Fecha em Gregório com um ar nebuloso.
CENA 15. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Ana Carolina (35 anos), sozinha falando ao telefone.
Ana Carolina
— (Tel/Baixo) Quantas vezes eu vou ter que te pedir?!
Para de me ligar! Me esquece! A gente nunca vai ter
nada.
Coimbra
— (Off) Eu sei que eu to sendo inconveniente, mas eu só
te peço pra me encontrar no Clube. Eu te devo desculpas
e não pode ser por telefone.
Ana Carolina —
(Tel) Acho melhor não.
Coimbra
— (Off) Só essa vez. Depois eu juro que não te importuno
mais.
Ana Carolina pensa por alguns instantes.
Ana Carolina —
(Tel) Tudo bem. Final da tarde a gente se encontra lá.
Ana Carolina desliga o telefone e suspira.
CENA 16. ap de luísa. sala. Interior. Dia.
Ana Carolina e Luísa (30 anos). Conversa já iniciada.
Luísa
— Não vai nesse encontro, Ana! Pelo amor de Deus!
Ana Carolina
— Isso não é um encontro, Luísa.
Luísa passa a mão nos cabelos, confusa.
Luísa
— Ana, nós somos amigas há muitos anos. Fala a verdade
pra mim: você e o Coimbra não tão mesmo tendo um caso?
Ana Carolina
— (Ofendida) Eu não to acreditando que você esteja
fazendo uma pergunta dessas pra mim?! Você é a minha
melhor amiga!
Luísa
— Por isso eu acho que você pode se abrir comigo caso/
Ana Carolina
— (Corta) Para, Luísa! Para com isso porque se não a
gente vai brigar feio!
Luísa
— Eu mesma fiz muita besteira nessa vida e neguei até a
morte.
Ana Carolina
— (Irritada) Chega! Eu não vou ficar aqui ouvindo as
suas insinuações!
Ana Carolina pega a sua bolsa.
Ana Carolina
— Eu vim aqui porque pensei que pudesse contar com o
conselho de uma amiga. Mas pelo visto você tá mais
preocupada em me julgar e tirar as suas próprias
conclusões.
Ana Carolina vai abrir a porta, mas é impedida por
Luísa.
Luísa
— Não, Ana! Espera! Desculpa! Eu não quis te julgar. Se
você disse que nunca teve nada com o Coimbra eu acredito
em você.
Luísa abraça Ana Carolina.
Luísa
— Quando você combinou de se encontrar com o Coimbra?
Ana Carolina
— Daqui a pouco.
Luísa
— Se precisar de mim é só ligar.
Ana Carolina sorri e consente.
CENA 17. clube. bar/restaurante. Interior. Dia.
Coimbra na beira do balcão do bar com dois drinks. Ele
tira do bolso um frasco e despeja o liquido dentro de um
dos copos. Coimbra guarda o frasco no bolso. Ana
Carolina entra no local e vai até Coimbra.
Ana Carolina
— Pronto. To aqui.
Coimbra
— (Oferece o copo “batizado”) Pedi pra gente.
Ana Carolina pega o copo, mas não bebe.
Ana Carolina
— Fala logo o que você quer.
Coimbra
— Eu queria dizer que eu gosto muito de você.
Ana Carolina começa a beber o liquido do copo.
Ana Carolina
— Não começa, Coimbra. Se você me chamou aqui pra/
Coimbra
— (Corta) Não. Eu te chamei aqui pra pedir desculpas se
eu te causei algum tipo de constrangimento.
Ana Carolina
— (Bebe um pouco mais) Foi muito desagradável o que
aconteceu. Você é amigo do meu marido!
Coimbra
— E eu to profundamente arrependido.
Coimbra disfarça e olha para o copo de Ana Carolina, já
pela metade.
CENA 18. rua. ambiente.
Exterior. Dia.
Gregório e Bianca conversando.
Bianca
— O Coimbra tá lá dopando a vagabunda?
Gregório
— Tá sim. A Ana Carolina não vai desmaiar, mas vai ficar
completamente fora do ar.
Bianca
— Perfeito. A arma já tá no porta-luvas do seu carro?
Gregório
— Sim.
Bianca
— Então liga pro Alcides.
Gregório e Bianca caminham até um telefone público.
Gregório disca um número.
Gregório
— (Tel) Alcides.
Alcides
— (Off) Sim? Gregório por que você tá demorando tanto?
Gregório
— (Tel) Sabe aquela história de terno? Era mentira. Eu
segui a Ana Carolina.
Alcides
— (Off) Você tá louco?! Por que você fez isso?! Eu disse
que era paranoia minha!
Gregório
— (Tel) Talvez não seja. Sabe aquele Clube que tem na
Urca? Vem pra cá o mais rápido possível.
Gregório desliga o telefone.
Gregório
— (Para Bianca) Ele tá vindo.
Bianca
— Ótimo. Você sabe o que fazer depois, né?
Gregório
— Fica tranquila. Eu vou ser aquele diabinho que fica
atormentando até a pessoa fazer alguma besteira.
Bianca
— (Sorri) Eu confio no seu poder de persuasão.
Gregório
— Nós vamos nos livrar de todos ele, um por um.
Bianca e Gregório se beijam de forma intensa e
apaixonada.
CENA 19. clube. bar/restaurante. Interior. Dia.
Coimbra e Ana Carolina conversando. Ela visivelmente
tonta.
Coimbra
— Tudo bem com você?
Ana Carolina
— Não sei. To meio tonta.
Coimbra
— Quer uma ajuda?
Do outro lado do bar, Coimbra vê Alcides e Gregório na
porta. Imediatamente Coimbra beija Ana Carolina. Ainda
beijando-a, ele abre os olhos e vê que Alcides e
Gregório já não estão mais na porta. Ainda meio tonta,
Ana Carolina afasta Coimbra.
Ana Carolina
— (Desnorteada) Para. O que você tá fazendo?
Coimbra
— Desculpa, Ana. Foi mais forte que eu.
Ana Carolina
— Eu quero ir embora daqui.
Ana Carolina se levanta, mas quase cai. Coimbra a
ampara.
Ana Carolina
— Tá tudo rodando. Eu não sei o que tá acontecendo.
Coimbra
— Você não tá bem. Vamos sair daqui.
Ana Carolina
— Eu não quero a sua ajuda.
Coimbra
— Você não tá em condições de negar ela.
Ana Carolina sai apoiada em Coimbra, pela porta que dá
para a área externa do clube.
CENA 20. clube. saguão. Interior. Dia.
Alcides muito revoltado. Gregório atrás dele.
Gregório
— Eu te avisei, Alcides.
Alcides
— Eles tavam se beijando! A minha mulher e o meu melhor
amigo!
Gregório
— No fundo eu sempre soube que a Ana Carolina não
prestava.
Alcides
— Cala a boca, Gregório! Eu preciso pensar.
Alcides vai até a porta do bar/restaurante e não vê Ana
Carolina e Coimbra.
Alcides
— Eles sumiram.
Gregório
— Não tem nada que pensar. Vamos atrás deles, descobrir
pra onde eles vão.
Alcides olha para Gregório, tenso.
CENA 21. motel. frente. Exterior. Dia.
Música:
Instrumental Suspense.
Carro de Alcides parado em frente a um motel.
Corta para o interior do carro:
Alcides e Gregório. Alcides inconformado.
Alcides
— Eu não consigo acreditar no que os meus olhos veem.
Gregório
— Eu é que não acredito que a Ana e o Coimbra estejam
fazendo uma coisa dessas.
Alcides
— To completamente perdido...
Gregório tira escondido da cintura, um revólver.
Alcides
— Pra que isso?
Gregório
— (Estende a arma) Pra você.
Alcides
— (Hesita) Não, eu não posso.
Gregório
— O que não pode é a sua mulher te colocar chifre com o
seu amigo! O que não pode é você deixar que esses dois
riam da sua cara! Isso que não pode!
Gregório pega a mão de Alcides e coloca o revólver na
mão do irmão. Alcides olha para a arma, tenso.
Alcides
— Mas e o meu filho?
Gregório
— O Marcelo não merece uma mãe como ela. Enquanto você
tava dando duro, ela tava na cama com outro. Você
precisa dar um basta nisso.
Perturbado, Alcides encara Gregório. Alcides esconde a
arma e sai do carro. Gregório sorri, satisfeito.
CENA 22. motel. quarto. Interior. Dia.
Instrumental continua.
Ana Carolina na cama dormindo. Coimbra em pé. Batidas na
porta.
Coimbra
— (Sorri) Deve ser ele.
Coimbra tira a camisa e abre a porta. Alcides entra
apontando a arma.
Coimbra
— (Surpreso) Alcides?! O que você tá fazendo aqui?
Alcides
— (Revoltado) Não acha que era eu quem deveria fazer
essa pergunta?
Alcides vai até Ana Carolina e a sacode com violência.
Alcides
— (Grita) Acorda sua vagabunda!
Coimbra
— (Baixo/Preocupado) O que ele tá fazendo com essa arma?
(Alto) Eu vou chamar a polícia.
Alcides
— Aproveita e chama também o IML, porque eu vou meter
uma bala na cara de vocês dois.
Closes alternados: Ana Carolina acordando desnorteada,
Coimbra tenso e Alcides furioso.
CENA 23. motel. frente. Exterior. Dia.
Instrumental continua.
Gregório falando em um telefone público, perto do carro
de Alcides.
Gregório
— (Tel) Fica tranquila, Bianca. O Alcides entrou no
motel com uma arma na mão e sangue nos olhos. Se a gente
der sorte, o Alcides já sai daqui preso. (Ri) Pode
encomendar os caixões que hoje teremos velório duplo.
Gregório vê Alcides sair apressado do motel.
Gregório
— (Tel) Ele tá voltando, depois a gente se fala.
Gregório desliga o telefone e corre até Alcides.
Gregório
— (Ansioso) O que aconteceu?
Na tensão de Alcides. [Instrumental off].
CENA 24. sobrado de gregório. sala. Interior. Noite.
Furiosa, Bianca atira um vaso contra a parede e quase
atinge Gregório. Ritmo de discussão.
Gregório
— Para com isso! Você vai quebrar a casa toda!
Bianca
— Burro! A única coisa que você precisava fazer era
convencer o Alcides a dar dois tiros: uma na vagabunda
da Ana Carolina e outro no imbecil do meu marido! Mas
nem pra isso você serviu!
Gregório
— Só isso?! Eu tive que convencer todo mundo: o Coimbra,
o Alcides! Tudo por causa desse seu plano psicodélico
que tinha tudo pra dar errado!
Bianca
— Agora que deu errado, é fácil colocar a culpa em mim!
Gregório
— Era bem mais simples nós mesmos termos matado os três
do que ficar com planinho.
Bianca
— Mais fácil de executar e mais fácil da polícia nos
pegar. Ou você acha o que? Que a polícia não iria
investigar três homicídios de pessoas da alta sociedade
carioca? Fora os jornalistas que iam ficar fuçando na
notícia igual urubus.
Silêncio. Os dois se acalmam um pouco.
Gregório
— O que a gente vai fazer agora?
Bianca
— Não sei, eu to com a cabeça explodindo. Amanhã a gente
vê isso.
Entra off de Bianca da atualidade.
Bianca
— (Off) Mas não teve amanhã. No dia seguinte o Alcides
sumiu com você, Marcelo, por aqueles motivos que vocês
sabem muito bem. A verdade é que as coisas já tinham
fugindo do nosso controle.
_____________ FIM DA 1ª
PARTE DOS
FLASHBACKS _____________
CENA 25. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Bianca falando. Milena e Marcelo escutam, perplexos.
Wagner ali ao lado deles.
Bianca
— O plano era complicado, mas se desse certo ia fazer
nós nos livrarmos dos três. O Alcides ia pegar o Coimbra
e a Ana Carolina no flagra e iria matar os dois. Depois
ia ser preso pelo duplo homicídio e dentro da cadeia a
gente daria um jeito de matar ele.
Marcelo
— (Perplexo) Vocês são completamente loucos.
Bianca
— O Gregório ainda tentou convencer o Alcides que você
não era filho dele e sim do Coimbra, mas não adiantou de
nada.
Milena
— Que horror!
Closes alternados entre Wagner, Bianca, Marcelo e
Milena.
CENA 26. casa de giancarlo. jardins. Exterior. Dia.
Várias viaturas da polícia no jardim. Luísa junto de
Yasmin. Rogério vai até Nogueira.
Rogério
— Você não acha que tá na hora de entrar?
Nogueira
— Sim, nós vamos entrar. Só precisamos acertar alguns
detalhes táticos.
CENA 27. casa de giancarlo. frente. Exterior. Dia.
De dentro do seu carro,
que está do outro lado da rua, Heloísa observa a polícia
dentro da mansão. Heloísa está com óculos escuros e uma
echarpe cobrindo a cabeça. Ela tira os óculos.
Heloísa
— Era só o que me faltava. A polícia aqui pra atrapalhar
os meus planos. (Tom) Mas tudo bem, eu vou dar um jeito.
Heloísa coloca os óculos e fica ali observando tudo.
CENA 28. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Marcelo, Milena, Bianca e Wagner.
Marcelo
– E aquela foto que o tio Gregório mostrou pro Coimbra?
Que tavam o meu pai e você juntos.
Bianca
– Me joguei em cima do Alcides, fiz uma cena e o
Gregório bateu a foto no momento certo. Uma imagem pode
ser interpretada de diversas formas.
Milena
— (Para Bianca) Por que você queria matar o meu pai? Por
que você queria matar os pais do Marcelo?
Bianca
— Bem: o Alcides e a Ana Carolina quem queria se livrar
mesmo era o Gregório. Questão de herança e ficar com a
Barão do Alambique só pra ele. Gregório matava eles e
depois dava um jeito de sumir com o Marcelo.
Marcelo
— Eu não consigo acreditar que o meu próprio tio tenha
participado de um plano tão sórdido.
Bianca
— Pois acredite. (Tom) Quanto a morte do seu pai,
Milena. Bom...
Wagner
— Continua, Bianca. A polícia tá lá fora mesmo. Conta
pra eles sobre a Yellow Submarine e como isso culminou
na morte do Coimbra.
Bianca
— E na sua promoção, né Wagner?
Wagner
— Também.
Milena
— (Para Wagner) O que aconteceu com o meu pai?
Wagner
— Eu desconfio, Milena. Mas quem pode confirmar tudo é a
sua mãe.
Milena
— (Para Bianca) Continua.
Bianca
— O plano de matar os três tinha dado errado. O Alcides
tinha sumido com o Marcelo e as coisas tinham fugido do
nosso controle.
____________ INÍCIO DA 2ª
PARTE DOS
FLASHBACKS ____________
CENA 29. giacomelli exportações. sala de bianca.
Interior. Dia.
Bianca e Wagner (35 anos), sentados conversando.
Bianca
— Você tá me chantageando, Wagner?
Wagner
— Não, Bianca. Não. Eu to propondo uma troca de favores.
Bianca
— E o que você vai acontecer se eu não fizer o que você
tá pedindo?
Wagner
— Para com isso, Bianca. O que é uma promoção perto dos
milhões que vocês estão ganhando? Você sabe que eu não
ganho nada denunciando vocês. Não quero fazer parte
disso, só quero um bônus pelo meu trabalho.
Bianca
— Você sabe o que eu posso fazer com você se começar a
me ameaçar?
Wagner
— Eu não to te ameaçando. E no fundo você sabe que eu
sempre mereci essa promoção. Digamos que eu só to
impulsionando as coisas.
Bianca
— Impulsionando, sei. (Tom) Mas você não me respondeu: o
que você vai fazer se eu não te der essa promoção?
Wagner
— Nada. Eu não sou louco que querer bater de frente com
você. Mas eu acredito no seu bom senso.
Bianca
— Tudo bem. Apesar de tudo você é um bom profissional.
Eu vou te dar essa promoção.
Wagner
— Sabia que você era inteligente.
Bianca
— E você esquece de tudo.
Wagner
— Fiquem tranquilos que da minha boca não sai nada.
Wagner se levanta e caminha rumo à porta.
Wagner
— Só toma cuidado pro Coimbra não descobrir o que vocês
estão fazendo. Ele sim vai querer fazer a caveira de
vocês.
Wagner sai. Na tensão de Bianca.
CENA 30. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Ana Carolina chora e Luísa a consola.
Ana Carolina —
O Alcides sumiu porque achou que eu tava tendo um caso
com o Coimbra. Mas era uma armação, Luísa.
Luísa
— Armação? Mas por que ele fez isso?
Ana Carolina
— Não faço ideia, Luísa. Sinceramente eu to mais
preocupada em encontrar o Alcides e o meu filho do que
tirar satisfações com aquele canalha. Eu nunca imaginei
que ele poderia fazer isso com a gente.
Luísa
— Nem eu poderia imaginar que o Coimbra fosse capaz de
fazer uma coisa dessas. (Desconfiada) Essa história tá
muito estranha.
Em Luísa reticente.
CENA 31. barão do alambique. frente. Exterior. Dia.
O carro de Coimbra para perto do prédio da Barão do
Alambique. Coimbra sai de seu carro e vê Gregório,
passando com o seu carro.
Coimbra
— (Grita) Gregório!
Gregório não escuta e segue o seu percurso com o carro.
Rapidamente, Coimbra entra em seu carro e começa a
seguir Gregório.
CENA 32. sobrado de gregório. frente. Exterior. Dia.
O carro de Gregório entra na garagem da casa. Tempo e o
carro de Coimbra se aproxima. Ele estaciona o carro
perto da casa e desce.
Coimbra
— Que lugar é esse?
Coimbra olha para outro carro e se aproxima dele.
Coimbra
— Esse carro... É o da Bianca. (Desconfiado) O que ela
tá fazendo aqui?
Coimbra lentamente vai se aproximando do sobrado.
CENA 33. sobrado de gregório. sala. Interior. Dia.
Coimbra perto de uma janela lateral, mas não é visto.
Bianca e Gregório conversando.
Gregório
— Agora as coisas definitivamente fugiram do nosso
controle.
Bianca
— (Revoltada) O seu irmão é um imbecil mesmo. O que deu
nele pra fazer isso? Sumir com o Marcelo?
Gregório
— Ele quis se vingar da Ana Carolina. Sabia que ela ia
sofrer com o sumiço do filho. (Tom) E o Coimbra?
Bianca
— Voltou muito agitado.
Gregório
— Ele virá atrás de mim.
Bianca
— Esquece o Coimbra por enquanto. A gente tem coisas
mais importantes pra fazer.
Gregório
— (Sorri) Também acho.
Gregório vai abraçar Bianca, mas ela o afasta.
Bianca
— Para, eu to falando sério. Um carregamento vai chegar
no porto hoje a noite.
Gregório
— É grande?
Bianca
— A maior dos últimos meses. Tá indo pro Leste Europeu.
Gregório
— Achei que esse carregamento fosse partir só no final
da semana.
Bianca
— É, mas ele foi antecipado. A gente precisa tá perto do
armazém 5 do porto, lá pela meia-noite.
Gregório
— A gente se encontra lá?
Bianca concorda e os dois se beijam. Vamos buscar a
reação surpresa de Coimbra da janela. Tempo nele
perplexo, até que ele se afasta da janela.
CENA 34. carro de coimbra.
ambiente. Interior. Dia.
Carro em movimento. Coimbra irritadíssimo.
Coimbra
— Era o Gregório o amante dela! Não acredito que eu cai
que nem um patinho na conversa dele! Mas eles vão me
pagar.
Coimbra dá uma freada brusca no semáforo.
Coimbra
— E que carregamento é aquele que eles tavam falando?
Meia-noite no porto, é? Hoje eu vou descobrir tudo o que
você tá me escondendo, Bianca.
Em Coimbra.
CENA 35. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Noite.
Música:
Instrumental Suspense.
Stock-shot do Rio de Janeiro à noite.
CENA 36. cais do porto.
ambiente. Exterior. Noite.
Instrumental continua.
Coimbra escondido entre os containers à beira do cais.
Ele observa de longe Bianca e Gregório conversarem com
outro homem (Em torno de 50 anos). Vemos que Coimbra
está com uma maquina fotográfica em mãos. Ele bate uma
foto sem flash.
Corta para Bianca, Gregório e o homem.
Bianca
— Tem certeza que tá tudo certo?
Homem
— Há quantos anos a gente faz isso? Quantas vezes eu
coloquei vocês em problema?
Bianca
— Não custa perguntar.
Gregório
— Fica tranquila, Bianca. A carga vai misturada com as
caixas da Barão. E a gente já subornou quem precisava.
Bianca
— Tudo bem. A carga já ta no navio?
Homem
— Sim. Quer ver?
Bianca concorda. Os três entram no navio cargueiro que
está atracado no cais. Coimbra se aproxima do local e
também entra no navio.
CENA 37. navio. convés. Exterior. Noite.
Instrumental continua.
Navio cargueiro atracado. Diversos containers e caixas
espalhadas pelo local. Coimbra caminha em torno das
caixas e abre uma. Coimbra enfia a mão dentro da caixa e
tira uma garrafa da cachaça Barão do Alambique de
dentro.
Coimbra
— (Confuso) Cachaças da Barão?
Coimbra mexe na garrafa e aparentemente um liquido se
move dentro dela. Coimbra abre a garrafa, olha o
conteúdo dentro e cheira.
Coimbra
— (Perplexo) Eles não podem tá fazendo o que eu to
pensando.
Tempo em Coimbra chocado, até que ele sai do navio com a
garrafa em mãos.
CENA 38. ap de luísa. sala. Interior. Noite.
Instrumental continua.
A campainha toca freneticamente. Wagner vem do quarto,
atravessa a sala e abre a porta. Coimbra, com a garrafa
em mãos, entra rapidamente.
Wagner
— Coimbra? O que você tá fazendo aqui?
Coimbra
— Desculpa a hora, Wagner. Mas eu to sem saber o que
fazer.
Wagner
— O que aconteceu?
Coimbra
— Aconteceu que eu descobri que a Bianca e o Gregório
Mascarenhas tavam tramando alguma coisa.
Wagner
— Como assim?
Coimbra
— Eu vi eles juntos e/ Enfim, isso não vem ao caso. O
que interessa é que eu segui os dois até o cais do porto
e encontrei eles despachando isso.
Coimbra mostra a garrafa da Barão do Alambique.
Wagner
— Uma garrafa da Barão. O que tem de mais isso? É a
Giacomelli a responsável pela distribuição e exportação
das cachaças da Barão.
Coimbra
— Não teria problema algum. Mas olha só o que tem dentro
das garrafas.
Coimbra larga a garrafa e ela se espatifa no chão. Por
cima dos cacos, vemos um pó branco.
Wagner
— Isso é...
Coimbra
— Cocaína. Eles tão usando a Exportadora e a Barão pra
fazer tráfico de drogas.
Wagner
— Você tem certeza disso?
Luísa vem do quarto.
Luísa
— Que barulho é esse?
Wagner
— Nada, Luísa, Volta pro quarto.
Luísa olha para a cocaína e os cacos de vidro no chão.
Luísa
— O que é isso?
Coimbra
— Eles tão sujando o nome da empresa por causa de mais
dinheiro! Como se não bastasse a fortuna que eles tem!
Wagner
— Mas por que você tá se preocupando com isso? Você não
é dono nem da Barão nem da Exportadora.
Coimbra
— E daí? Vai me dizer que você concorda com isso.
Luísa
— Alguém pode me explicar o que tá acontecendo?
Wagner
— Não é questão de concordar. Cada um com os seus
problemas.
Coimbra
— Mas é cocaína! Eles até fizeram uma garrafa falsa pra
parecer que tem mesmo um liquido dentro dela!
Luísa
— A Bianca tá traficando drogas é isso?
Coimbra
— Ela e o Gregório. E sinceramente, não sei se o Alcides
também não tava envolvido nesse esquema.
Luísa
— (Perplexa) To chocada.
Wagner
— Você vai denunciar eles pra polícia?
Coimbra
— Pode ter certeza que sim. (Tom) Desculpa por incomodar
vocês a essa hora. Eu não sabia pra onde ir. Com licença
Coimbra sai para a rua. [Instrumental off].
Luísa olha para a cocaína no chão e em seguida olha para
Wagner.
Luísa
— Você me pareceu muito tranquilo em relação à tudo
isso.
Wagner
— E como você queria que eu reagisse?
Luísa
— Você tem alguma coisa a ver com essa história, Wagner?
Wagner
— Que pergunta cretina é essa?
Luísa
— Não sei. De repente você me aparece com uma promoção
e/
Wagner
— (Corta) De repente não! Anos de trabalho. Olha só
Luísa/
Luísa
— (Corta) Olha só você. Se você tiver metido nessa
história, eu vou acabar descobrindo. (Tom) E limpa essa
sujeira.
Luísa entra no quarto. Wagner olha para o chão sujo e
bufa.
CENA 39. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Noite.
Stock-shot da cidade praticamente vazia. Ultimo take da
frente do prédio da Giacomelli Exportações.
CENA 40. giacomelli exportações. sala de coimbra.
Interior. Noite.
Coimbra derruba tudo que está sobre a sua mesa ao chão.
Coimbra
— Eles me enganaram direitinho. Tanto na história do
Alcides quanto aqui na empresa.
Bianca entra na sala.
Bianca
— O que você tá fazendo aqui?
Coimbra
— Eu é que te pergunto? Você não deveria ta em casa?
Bianca
— Tava resolvendo uns problemas.
Coimbra
— Qual deles? O com o seu amante ou o do carregamento?
Música:
Instrumental Suspense.
Bianca
— Que? Do que você ta falando?
Coimbra
— Não se faz de desentendida. Eu já sei de você e do
Gregório.
Coimbra parte pra cima de Bianca e aperta o pescoço
dela.
Coimbra
— Ele me fez acreditar que o irmão era o seu amante e
não ele.
Bianca
— (Sem ar) Você tá louco.
Coimbra
— E o contrabando? Há quanto tempo vocês fazem isso?
Bianca
— (Sem ar) Me solta.
Coimbra larga Bianca e a empurra. Ela passa a mão no
pescoço.
Bianca
— Vamos pra minha sala. Lá eu explico tudo.
Os dois se encaram.
CENA 41. giacomelli exportações. sala de bianca.
Interior. Noite.
Instrumental continua.
Bianca serve dois copos de whisky. Ela despeja um outro
liquido no copo de Coimbra. Ele não vê. Bianca vai até
Coimbra.
Bianca
— Toma. Você vai assimilar melhor tudo depois dessa
dose.
Coimbra pega o copo e entorna o liquido tudo de uma vez.
Coimbra atira o copo vazio na parede.
Coimbra
— (Irritado) Para de me enrolar e fala logo! Confessa
todas as suas armações! As suas e do Gregório
Mascarenhas.
Bianca
— A verdade por machucar.
Coimbra
— Mais do que eu já to? Continua.
Bianca se aproxima da janela e olha a vista.
Bianca
— Esse esquema do contrabando é feito há alguns anos. A
gente aproveita as exportações da Barão pra camuflar os
produtos na viagem.
Coimbra
— São só drogas?
Bianca
— Não. A gente já enviou armamento também. Esse é menos
complicado porque sai do Brasil. A cocaína é um pouco
mais complicado, já que ela vem da Colômbia e nós
repassamos aqui.
Coimbra
— E você usam as empresas pra lavar esse dinheiro, não
é?
Bianca
— Exatamente.
Coimbra
— Bem que eu desconfiei que tinha alguma coisa errada no
fluxo de caixa da Exportadora.
Bianca
— Sim, e foi por isso que a gente inventou aquela
história da traição.
Coimbra
— Por quê?
Bianca
— Pra você pegar ódio do Alcides e forjar uma situação
embaraçosa entre você e a Ana Carolina.
Coimbra
— Que história louca.
Bianca
— Louca, mas que teria dado certo se não fosse por um
detalhe...
Coimbra
— O Alcides não ter atirado nem em mim e nem na Ana.
Bianca
— Exatamente. Ele matava vocês dois, ia preso e na
cadeia a gente acabava com ele. Nos livrávamos de três
coelhos com uma cajadada só. (Sorri) Bom, não?
Coimbra parte pra cima de Bianca, que está perto da
janela. Ele vai enforca-la, mas fica tonto.
Bianca
— Gostou do meu drink feito especialmente pra você?
Coimbra
— O que você colocou aqui?
Bianca
— A mesma coisa que você colocou na bebida da Ana
Carolina. É pra te deixar mais soltinho.
Coimbra
— (Zonzo) Vagabunda.
Bianca
— (Debocha) Ah, você achou mesmo que depois de tudo
isso, eu ia deixar você ir correndo pra polícia nos
denunciar?
Coimbra
— Vocês dois vão ser descobertos e vão ter que pagar por
tudo que fizeram.
[Instrumental off].
Bianca acaricia Coimbra e sorri.
Bianca
— Talvez... Mas hoje não.
Com muita força, Bianca empurra Coimbra sobre a janela.
CENA 42. giacomelli exportações. frente. Exterior.
Noite.
A vidraça de uma das janelas se estilhaça e Coimbra cai
do alto do prédio. Seu corpo chega ao chão e uma poça de
sangue forma ao redor. Fecha no rosto de Coimbra, com os
olhos arregalados.
_____________ FIM DA 2ª
PARTE DOS
FLASHBACKS _____________
CENA 43. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Milena, Marcelo e Wagner escutando Bianca falar.
Bianca
— Eu não podia deixar que o seu pai me denunciasse,
Milena. Você me entende?
Milena
— Você mata o meu pai por um motivo tão banal e ainda
pergunta se eu te entendo? Você só pode tá tirando com a
minha cara.
Marcelo
— E por que o Wagner não teve o mesmo fim do Coimbra?
Wagner
— Porque o meu objetivo nunca foi entregar eles pra
polícia. Temos depois, quando a Luísa descobriu tudo,
ela quis fazer isso. Mas eu consegui convencê-la de que
era burrice... Foi aí que o nosso casamento começou a
desmoronar.
Marcelo
— Então foi isso que ela quis dizer pra gente, quando
começamos a investigar tudo isso.
Insert da cena 40 do capítulo 12: (Clinica de
Repouso/Quarto de Luísa):
Luísa
— Eu só vou dar um conselho pros dois: Esqueçam essa
história, vocês tão entrando num caminho obscuro demais.
Milena
— Então a senhora sabe de alguma coisa?
Luísa
— Esqueçam isso... Ou então são vocês que podem acabar
caindo de uma janela.
Volta à cena.
Wagner
— Provavelmente foi.
Silêncio. Bianca ali, com a arma na mão, sendo encarada
por todos.
Bianca
— (Abaixa a arma) Pronto, taí a verdade que vocês tanto
queriam. Felizes?
Milena se aproxima de Bianca e dá um tapa no rosto da
mãe.
Milena
— Feliz eu só vou estar quando você estiver atrás das
grades.
As duas se encaram.
CENA 44. casa de giancarlo. jardins. Exterior. Dia.
Polícia no local. Luísa, Rogério, Bernardo e Yasmin ali.
Giancarlo se aproxima deles.
Giancarlo
— Assim que eu soube, vim correndo. O que tá
acontecendo?
Yasmin
— A mãe tava fora de controle. Eu nunca vi ela assim.
Rogério
— A polícia vai entrar na casa. Parece que encontraram
evidências de que ela também foi a responsável pela
morte do Gregório.
Giancarlo
— Mas ele não tinha se suicidado?
Luísa
— Parece que não. Tudo foi uma encenação forjada pela
Bianca.
Giancarlo olha para a casa, perplexo. Nogueira e mais
alguns policiais vão se aproximando da casa.
CENA 45. casa de giancarlo. frente. Exterior. Dia.
Heloísa observa a movimentação na mansão.
Heloísa
— É só esperar a polícia sair que vai ser a minha vez de
brilhar.
E sorri.
CENA 46. casa de giancarlo.
sala. Interior. Dia.
Marcelo puxa Milena para perto dele.
Marcelo
— Para com isso, Milena. Ela ta armada.
Bianca
— (Milena) Não precisa se preocupar porque eu não vou
atirar em você.
Nogueira
— (Off) Coloque a arma no chão!
Nogueira e mais alguns policiais, entram pela porta da
cozinha. Bianca suspira e lentamente coloca a arma no
chão.
Nogueira
— Coloque as mãos onde nós possamos ver.
Bianca ergue as mãos e Nogueira a algema.
Nogueira
— Bianca Giacomelli, a senhora está presa por tráfico de
drogas, pelos assassinatos de Gregório e Leandro
Mascarenhas e também pelos assassinatos de Eduardo
Coimbra e Nicola Cardoso.
Milena
— (Surpresa) O Leandro e o juiz... Não foi acidente
também. Foi você.
Bianca
— Eu fiz tudo isso pra evitar um escândalo. Para poupar
o nome da nossa família.
Milena
— Para de hipocrisia. Você queria era poupar a si. (Tom)
Preferiria mil vezes ver o nome da nossa família na
lama, do que ter perdido o meu pai por causa da loucura
de vocês.
Bianca
— Filha, eu posso não ter sido uma boa mãe, mas eu
sempre amei vocês duas. Espero que um dia você me
entenda e me perdoe.
Milena
— (Enxuga uma lágrima) Quem sabe...
Nogueira e os policiais conduzem Bianca até a saída.
Marcelo abraça Milena.
CENA 47. casa de giancarlo. jardins. Exterior. Dia.
Bianca sai da casa algemada e sendo conduzida por
Nogueira. Só Luísa e Bernardo estão no local. Bianca
olha para os dois e entra no carro da polícia.
CENA 48. casa de giancarlo. frente. Exterior. Dia.
Os carros da polícia saem da casa. Corta para o
interior do carro de Heloísa:
Heloísa
— Finalmente saíram... Agora sim eu posso começar a
última cena do ato final.
CENA 49. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Marcelo e Milena abraçados, Wagner ali perto. Luísa e
Bernardo entram da rua.
Luísa
— Tá tudo bem com vocês?
Milena
— Agora tá.
Luísa
— Ela contou tudo pra vocês? O esquema das drogas e/
Marcelo
— (Corta/Sutil) Sim. Contou.
Luísa
— Vocês entenderam por que eu nunca falei nada? Eu tinha
muito receio.
Marcelo
— Não precisa se explicar. A gente entende muito bem o
seu lado.
Milena
— Tudo isso me deixou muito mal.
Marcelo
— Mas agora acabou.
Milena
— É, acabou. (Tom) Eu vou na cozinha pegar um copo de
água.
Marcelo
— Quer que eu pegue pra você?
Milena
— Não. Eu preciso arejar um pouco a minha cabeça.
Marcelo concorda e os dois se beijam. Milena caminha até
a cozinha.
CENA 50. casa de giancarlo. cozinha. Interior. Dia.
Milena entra, pega um copo, abre a geladeira e o serve
de água. Ela bebe e coloca o copo na pia. Ao se virar,
Milena dá de cara com Heloísa, segurando uma pistola com
um silenciador. Milena se assusta e faz menção de
gritar.
Heloísa
— Nem pense em gritar ou eu atiro.
Milena
— Se você atirar, todo mundo vai escutar.
Heloísa
— Não vai não.
Heloísa mostra o silenciador no cano da pistola.
Heloísa
— Não conhece? Silenciador: Milena. Milena: Silenciador.
Pronto! Agora que foram devidamente apresentados: anda!
E quietinha.
Milena
— (Nervosa) Pra onde você vai me levar?
Heloísa
— Para de fazer perguntas.
Milena
— A polícia tá lá fora. Eles vão nos ver.
Heloísa
— Não tá, eles já saíram. (Ri) E a essa altura do
campeonato você já deveria saber que eu tô cagando pra
polícia.
Milena olha para a arma, com medo.
Heloísa
— Vai. Garanto que você vai adorar o nosso passeio.
Milena caminha para a porta dos fundos, sob a mira de
Heloísa.
CENA 51. carro de heloísa.
ambiente. Interior. Dia.
Carro em movimento. Milena dirige, enquanto Heloísa
aponta a arma para ela.
Milena
— Pra onde a gente tá indo?
Heloísa
— Fica quietinha e continua dirigindo que eu vou dando
as coordenadas.
Milena
— O Marcelo vai perceber que eu sumi.
Heloísa
— (Revira os olhos) Ai que mulher chata!
Na tensão de Milena.
CENA 52.
casa de giancarlo. sala. Interior.
Dia.
Marcelo, Luísa, Bernardo e Wagner.
Marcelo
— A Milena tá demorando.
Marcelo vai até a cozinha. Tempo e Marcelo volta.
Marcelo
— Ela não tá na cozinha.
Luísa
— Por aqui ela não passou.
Bernardo
— Você olhou no jardim ou na piscina? Ela deve ter saído
pra tomar um ar.
Marcelo
— Não vi. Vou procurar ela lá.
Marcelo volta para a cozinha.
CENA 53. carro de heloísa.
ambiente. Interior. Dia.
Carro em movimento. O celular de Milena toca e Heloísa
tira o celular do bolso dela.
Heloísa
— (Ri) Olha só quem tá te procurando?
Na tela do celular, aparece o nome de Marcelo.
Milena
— Eu avisei que ele ia notar a minha falta.
Heloísa
— Que romântico.
Heloísa abre a janela do carro e joga o celular na rua.
Heloísa
— Pronto. Agora não tem ninguém pra nos incomodar.
CENA 54. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Luísa, Bernardo e Wagner por ali. Marcelo entra vindo da
cozinha.
Marcelo
— Não tá em lugar algum. Também liguei pro celular dela
e ninguém atende. Eu to ficando preocupado.
Em Marcelo preocupado.
CENA 55. iate clube. píer. Exterior. Dia.
Heloísa discretamente aponta a arma para Milena e a
conduz até o iate de Ana Carolina.
Heloísa
— Entra.
Milena
— Aonde a gente vai?
Heloísa
— Dar um passeio.
Heloísa dá um empurrão em Milena e ela entra no iate. Em
seguida Heloísa também entra e bate com a pistola na
cabeça de Milena, que desmaia. Heloísa tira o
silenciador da arma e atira no mar. Heloísa vai até o
interior do iate e liga o motor.
CENA 56. casa de giancarlo. sala.
Interior. Dia.
Marcelo entra da rua e vai até Luísa, Bernardo e Wagner.
Marcelo
— Ela simplesmente evaporou.
Luísa
— Será que/
O celular de Marcelo sinaliza o recebimento de uma
mensagem. Marcelo olha para o celular e reage surpreso.
Marcelo
— Era só o que me faltava: Mensagem da Heloísa! O que
essa louca quer agora?
Marcelo mexe no celular.
Marcelo
— (Perplexo) Não é possível isso.
Luísa
— O que ela fez dessa vez?
Marcelo mostra o celular com uma foto de Milena
desacordada no convés do iate.
Marcelo
— Ela tá com a Milena! (Tom) E olha só o que ela
escreveu na mensagem. (Lê) Sim. A história vai se
repetir igualzinho como foi com a Clara.
Bernardo
— Essa foto foi tirada no iate da tia Ana Carolina.
Marcelo
— Eu vou atrás delas. Eu não vou deixar que ela faça
isso de novo! Não vou!
Luísa
— Calma, Marcelo. É melhor esperar a polícia.
Marcelo
— Pode chamar a polícia, mas eu não vou esperar ninguém!
Bernardo
— Eu vou com você.
Marcelo e Bernardo saem.
Wagner
— Liga pra polícia e vamos pra lá também.
Luísa pega o telefone.
Luísa
— A polícia precisa colocar um limite na Heloísa, já que
a gente não conseguiu.
CENA 57. iate. convés. Exterior. Dia.
Música:
Instrumental Suspense.
Iate em alto mar. Milena vai acordando e olha para
Heloísa, que está com a pistola em mãos.
Heloísa
— (Sorri) Acordou a bela adormecida!
Milena
— Onde a gente tá?
Heloísa
— No mar, porque como já diria o poeta: Navegar é
preciso, viver não é preciso.
Milena
— (Se levanta) Por que você me trouxe aqui?
Heloísa
— Porque hoje a gente vai fazer uma brincadeira muito
divertia chamada Roleta-Russa. Conhece?
Milena
— Você enlouqueceu! Eu não vou fazer isso!
Heloísa
— Pelo visto conhece, então ótimo! Não vou precisar
explicar as regras.
Heloísa coloca a pistola na cintura e pega um revólver.
Ela abre o tambor do revólver e deixa apenas uma bala.
Heloísa
— (Gira o tambor) Aliás, vou ter que explicar sim,
porque a minha versão desse jogo é um pouco diferente.
Vai funcionar assim: Uma vez você aponta pra sua própria
cabeça e aperta o gatilho... (Sorri) E na outra também!
Milena
— Não vai querer brincar comigo, por quê?
Heloísa
— Acho esse jogo chato, prefiro Banco Imobiliário. Dessa
vez eu vou ficar só olhando.
Heloísa entrega o revólver para Milena.
Milena
— Não.
Heloísa
— (Grita) Pega logo essa merda! Você não tem escolha!
Heloísa se aproxima ainda mais de Milena.
Heloísa
— (Ameaçadora) Entende uma coisa, Milena. Pra você, essa
é uma viagem sem volta... Maktub, ninguém foge do seu
destino.
Milena
— Você não é Deus pra decidir o destino das pessoas.
Heloísa
— Mas o seu destino, foi eu quem decidiu. E não adianta
relutar contra ele. Você não tem saída. Agora pega esse
revólver duma vez!
Tremendo, Milena pega o revólver. Heloísa pega a
pistola.
Heloísa
— Como eu sou boazinha, eu vou te avisar uma coisa: não
tenta dar uma de esperta e apontar esse revólver pra
mim. Primeiro que ele pode tá descarregado e segundo, se
você fizer isso, eu vou pegar essa pistola totalmente
carregada e encher a sua cara de bala. (Tom) Agora
vai... Que comecem os jogos.
Heloísa sorri, diabólica. Com as mãos tremulas, Milena
coloca o revólver em sua cabeça.
Heloísa
— (Grita) Atira!
Na tensão de Milena.
CENA 58. iate clube. píer. Exterior. Dia.
Instrumental continua.
Marcelo e Bernardo correm até o local que estava
estacionado o iate de Ana Carolina.
Marcelo
— O iate não tá aqui.
Bernardo
— Ele tem radar. Um funcionário me passou o local que
elas estão.
Marcelo
— Então me dá que eu vou atrás delas.
Bernardo
— Não é melhor esperar a polícia?
Marcelo
— Até a polícia chegar, pode ser tarde de mais. Me dá.
Bernardo
— Tá, mas como é que você vai? A nado? Elas estão em
alto mar.
Marcelo
— Vou com uma daquelas motinhos. Como é mesmo o nome?
Bernardo
— Jet-ski? Você sabe pilotar?
Marcelo
— Não, mas não deve ser muito diferente de montar um
cavalo. Eu vi uns do próprio clube. Vou pegar e ir
atrás delas.
Marcelo corre em direção aos jet-skis. Bernardo vai
atrás.
CENA 59. iate. convés. Exterior. Dia.
Instrumental continua.
Milena apontando o revólver para a sua cabeça. Tempo na
tensão, até que ela aperta o gatilho e nada acontece.
Milena respira aliviada e começa a chorar. Heloísa dá
uma gargalhada.
Heloísa
— Aaaaah! Quase!
Milena
— (Chora) Eu não vou fazer isso de novo.
Heloísa
— Vai sim, para de ser desobediente. Quem manda nesse
jogo sou eu! Vai, coloca de novo o revólver nessa
cabecinha e aperta o gatilho.
Milena
— Por que você não me mata logo?
Heloísa
— Porque é mais divertido ver você sofrer.
Milena
— Você também fez esse terror psicológico com a Clara?
Heloísa
— Não. Com ela eu tava meio sem paciência. Fui logo
descendo o cacete mesmo. (Sorri) Olha só como eu to
sendo boazinha com você! Nem sangue do meu sangue você é
e eu to te deixando você ter uma morte menos dolorosa.
(Tom) Ou você quer ser espancada até a morte igual a
Clara?
Milena
— Eu quero sair daqui! Por favor, me deixa ir embora!
Heloísa
— Essa não é uma opção, meu bem. Esse iate é o fim da
linha pra você... Agora chega de conversa e atira.
Milena tenta segurar o choro, aponta o revólver para a
sua cabeça, aperta o gatilho e nada acontece. Milena
respira aliviada.
Heloísa
— É, acho que hoje é o seu dia de sorte. Mas veremos até
quando isso vai durar.
CENA 60. mar. ambiente.
Exterior. Dia.
Instrumental continua.
Marcelo pilotando o jet-ski, muito apreensivo.
CENA 61. iate. convés. Exterior. Dia.
Instrumental continua.
Milena chorando, apontando o revólver para a sua própria
cabeça. Heloísa apontando a pistola para Milena.
Milena
— (Chora) Por favor...
Heloísa
— Sem roubar. O que eu posso fazer se é a sua vez de
atirar?
Milena
— Você é um demônio, Heloísa.
Heloísa
— Imagina, querida. Sou apenas uma aprendiz. (Tom) Mas
não pense que me fazendo esses elogios, você vai se
livrar do nosso jogo. Atira.
Milena fecha os olhos e aperta o gatilho. Mais uma vez
não acontece nada.
Heloísa
— Já foram quantas? Três? Nesse revólver cabem seis
balas. É... Acho que as suas vidas estão acabando.
Milena
— Eu te imploro. Deixa eu ir.
Heloísa
— Nem adianta pedir. Você já sabe qual vai ser a minha
resposta.
Ao longe, vemos Marcelo se aproximar do iate com o
jet-ski. Ele para um pouco afastado do iate, salta e
começa a nadar.
Heloísa
— Agora restam poucas chances. Você quer fazer um último
pedido?
Milena
— Eu quero que você vá à merda.
Heloísa
— Ah que feio. Eu to sendo tão legal, dando a chance de
você viver um pouco mais e é assim que você me trata?
[Instrumental off].
Marcelo
— (Off) Heloísa, deixa ela.
Heloísa olha para Marcelo, que está todo molhado no
convés. Milena aproveita a distração de Heloísa e corre
até Marcelo. Os dois se abraçam.
Milena
— (Chora) Que bom que você veio.
Marcelo
— Calma. Vai ficar tudo bem.
Heloísa
— Não mente pra ela, Marcelo. Não vai ficar tudo bem.
(Tom) Joga esse revólver pra cá.
Marcelo
— (Para Milena) Faz o que ela ta mandando.
Milena coloca o revólver no chão e o empurra com os pés
em direção à Heloísa, que chuta a arma para trás.
Marcelo
— O que você quer Heloísa? Por que você não deixa a
gente em paz?
Heloísa
— Eu quero entregar a alma dessa vagabundinha pro diabo.
Só assim você vai ser meu de novo.
Marcelo
— Para com isso. Não é assim que as coisas funcionam.
Heloísa
— É sim! Eu que decido as coisas aqui!
Marcelo
— Você precisa de tratamento psiquiátrico.
Música:
Dark Paradise – Lana Del Rey.
Heloísa
— Não! Eu preciso do seu amor!
Marcelo se afasta um pouco de Milena e começa a se
aproximar de Heloísa.
Marcelo
— Escuta: você não vai pra cadeia, qualquer médico vai
constatar que você precisa de tratamento psiquiátrico.
Heloísa
— Eu já disse que eu não preciso de nada. Só de você.
Marcelo
— A mim você não vai ter, Heloísa. Eu não te amo.
Heloísa
— (Lágrima nos olhos) Mas vai ter que amar! Eu fiz tudo
por você e o que eu recebo de volta? O seu desprezo? A
sua traição?!
Marcelo
— (Estende a mão) Me dá essa arma. Vamos acabar com tudo
isso.
Heloísa
— Sim, nós vamos acabar com tudo isso. Mas do jeito que
eu quero. Se eu não vou te ter... Ela também não vai te
ter.
Heloísa desvia a mira da pistola e aponta para Milena.
Marcelo
— (Grita) Heloísa! Não!
Em slow: Heloísa aperta o gatilho. O projétil sai da
pistola. Marcelo se joga na frente de Milena.
Volta à velocidade normal: A bala atinge em cheio o
peito de Marcelo, que cai sagrando nos braços de Milena.
Milena
— (Apavorada) Marcelo!
Heloísa
— Não! Essa bala não era pra você! (Grita/ Para Milena)
Olha só o que você fez!
Milena
— Eu fiz?! Foi você quem atirou nele!
Milena sacode Marcelo, mas ele não reage.
Milena
— Abre os olhos, meu amor. Não me deixa sozinha.
Heloísa olha a cena, muito desnorteada.
Milena
— (Olha para Heloísa) Ele tá morrendo!!!
Heloísa
— Não, ele não tá. Não era pra isso ter acontecido. A
culpa é sua.
Milena
— (Grita) Não!!! A culpa é sua!!! Ele vai morrer por sua
culpa!!!
Milena abraça Marcelo ensanguentando e chora. Heloísa se
afasta dos dois e vai caminhando para trás, perto da
borda do iate.
Heloísa
— O final era pra ser nós dois juntinhos. Não era pra
ser assim.
Heloísa olha para a pistola que está em sua mão.
Heloísa
— (Olha fixo para Marcelo) Eu vou te encontrar na
eternidade, meu amor.
Lentamente Heloísa levanta a pistola e aponta para o seu
coração. Milena olha para Heloísa.
Milena
— Não faz isso, Heloísa.
Heloísa
— (Baixo/Sorri) Te vejo lá.
Heloísa aperta o gatilho e a arma dispara. Milena dá um
grito. O corpo de Heloísa cai no mar.
CENA 62. fundo do mar.
ambiente. Exterior. Dia.
Música:
Dark Paradise – Lana Del Rey [Continua].
O corpo de Heloísa mergulha no mar. Heloísa abre os
olhos e começa a flutuar no fundo do mar.
Vemos uma mulher nadando em sua direção, mas uma intensa
luz impede de ver de quem é o rosto. A mulher estende a
mão para Heloísa.
Heloísa segura a mão da mulher e se aproxima ainda mais
dela. Vemos que é Clara.
As duas se olham por alguns instantes. Clara passa a mão
no rosto de Heloísa, que fecha os olhos e amolece o
corpo.
Clara segura Heloísa e começa a nadar com ela, rumo ao
fundo do mar. [Música off].
Subimos até a superfície.
CENA 63. iate. convés. exterior. Dia.
Milena na beira do iate, olhando para o mar.
Milena
— Cadê ela.
Marcelo
— (Sem forças) Milena.
Milena corre até Marcelo.
Milena
— Calma, meu amor. Tenta não fazer esforço que o socorro
já tá vindo.
Milena coloca Marcelo em seus braços.
Sobe para uma visão aérea do iate em alto mar.
CENA 64. rio de janeiro.
ambiente. Exterior. Dia/noite.
Stock-shot de ruas, avenidas, praias e diversos pontos
turísticos da cidade. Alternando diversas vezes entre o
dia e a noite.
Legenda:
Dois anos depois...
CENA 65. casa de giancarlo. quarto de yasmin. Interior.
Dia.
Yasmin pega o tablet e começa a mexer nele.
Yasmin
— (Sorri) Mensagem da Milena.
E Yasmin começa a ler.
Música:
That I Would Be Good - Alanis Morissette.
CENA 66. fazenda. frente. Exterior. Dia.
Música continua.
Linda fazenda com muito verde, árvores e alguns cavalos,
vacas e outros animais ao redor. Ao fundo vemos uma
grande e bonito casarão.
Um menino de menos de 2 anos, corre até Milena. Ela o
pega no colo e o beija. Milena vai até Marcelo, que está
montado no cavalo e entrega o menino para ele. Marcelo
segura o menino e lentamente começa a andar com o
cavalo. Milena sorri e abana para os dois. Sobre a cena:
Milena
— (Off) Desculpa não ter mandado sinal de vida nos
últimos meses, mas é que as coisas estão corridas por
aqui. Como está tudo aí? Aqui tá tudo maravilhoso. O
Rafael mal aprendeu a andar e já quer montar no cavalo.
Vê se pode uma coisa dessas?! É claro que eu só deixo
quando o Marcelo tá junto.
CENA 67. ap de jardel. sala. Interior. Dia.
Música continua.
Giovanna por ali. Jardel chega da rua e mostra um livro.
Detalhe para o livro escrito: O Filho Perdido - A
História de Marcelo Mascarenhas.
Giovanna sorri e abraça Jardel.
Milena
— (Off) Final do mês a gente tá indo pro lançamento do
livro sobre a vida do Marcelo. Parece que finalmente ele
vai sair.
CENA 68. barão do alambique. antessala. Interior. Dia.
Música continua.
Tarsila sai de sua sala com vários papéis em mãos e vai
até Adelaide. Do elevador, sai Seu Coisinha e vai até
ela. Tarsila e Seu Coisinha se beijam, falam alguma
coisa e vão juntos para a sala dela.
Milena
— (Off) Você sabe que são poucas as coisas que nos fazem
voltar praí. Ainda mais agora que o Marcelo tá
conseguindo resolver todos os problemas da Barão de
forma remota. E também a Tarsila tá se virando muito bem
à frente dos negócios. Logo ela, que nunca se interessou
por isso.
CENA 69. penitenciaria. capela. Interior. Dia.
Música continua.
Abre em Bianca, com uniforme de presidiária e com uma
Bíblia em mãos, em cima de um palanque falando de forma
fervorosa para outras detentas. Bianca coloca uma
cestinha na mão de uma mulher e ela coloca um maço de
cigarros dentro da cesta. A mulher passa a cesta para a
pessoa do lado, que também coloca um maço de cigarros.
Em Bianca séria.
Milena
— (Off) Isso me faz pensar como é engraçada as voltas
que a vida dá. (Pausa) Quando eu iria imaginar que eu
seria feliz no meio do mato?
CENA 70. universidade. corredor. Interior. Dia.
Música continua.
Bernardo e Juliana caminham pelo corredor, conversam.
Bernardo encosta Juliana contra a parede, os dois se
olham, sorriem e se beijam.
Milena
— (Off) Mas uma coisa que eu descobri com a vida é que o
lugar que a gente tá é o menos importante.
CENA 71. casa de gregório. sala. Interior. Dia.
Música continua.
Karina e Samuel, sentados a mesa, rodeados de livros,
estudando. Os dois de mãos dadas.
Milena
— (Off) Quando se ama, é tudo tão maravilhoso.
CENA 72. gafieira. ambiente.
Interior. Dia.
Música continua.
Rudá rodopia Daiane pelo salão vazio, felizes.
Milena
— (Off) É tudo tão mágico que você esquece de todo o
resto.
CENA 73. jardim botânico.
ambiente. Exterior. Dia.
Música continua.
Luísa e Rogério passeando de mãos dadas, admirado a
paisagem.
Milena
— (Off) É como se o universo fosse só você e a pessoa
amada.
CENA 74. casa de giancarlo. quarto de yasmin. Interior.
Dia.
Música continua.
Yasmin em pé, como lendo no tablet, com lágrima nos
olhos.
Milena
— (Off) Clarisse Lispector que tava certa: “Quando se
ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois
tudo passa a acontecer dentro de nós.”
CENA 75. fazenda. frente. Exterior. Dia.
Música continua.
Milena pega Rafael do cavalo. Logo em seguida Marcelo
também desce. Milena larga o filho e Marcelo a beija.
Marcelo, Milena e Rafael começam a correr e brincar um
com o outro. Milena e Marcelo derrubam Rafael e o
colocam entre eles. Marcelo, Rafael e Milena deitam no
chão e olham para o céu. Close nos três sorrindo.
Milena
— (Off) O que eu quero dizer é que a felicidade uma hora
vai bater à sua porta. A gente pode até encontrar alguns
obstáculos no caminho...
CENA 76. casa de ana carolina. sala. Interior. Dia.
Música continua.
Abre num porta-retratos com a última imagem da cena
anterior, sobre uma mesinha. Lentamente vamos nos
afastando do retrato.
Milena
— (Off) Mas no final, ela vai tá lá, de braços abertos,
esperando pela gente.
Até que vemos um quadro, pendurado na parede, acima da
foto.
O plano enquadra: Acima: o quadro de Alcides, Marcelo
criança e Ana Carolina. E abaixo: o porta-retratos com a
foto de Marcelo, Rafael e Milena.
Fade Out. |
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