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Passos da Paixão - Capítulo 04

Novela de Édy Dutra
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PASSOS DA PAIXÃO - CAPÍTULO 04

 
 
 
 
 
 
NO CAPÍTULO ANTERIOR:
 

SÍLVIA: - E quem você ama afinal? Quem? A Rosana?

JÚLIO (firme): - Isso mesmo! Eu amo a Rosana. É ela a mulher que eu amo.

Sílvia segura as lágrimas.

JÚLIO: - Mesmo ela pisando em mim, me maltratando, me humilhando... é por ela que meu coração bate mais forte. É com ela que eu sonho toda noite. É ela quem eu quero para ser minha mulher.

SÍLVIA: - Então você sofre do mesmo mal que eu. Gostar de quem não gosta da gente.

JÚLIO: - Fazer o quê, se a gente não pode mandar no coração...

SÍLVIA: - Mas um dia, Júlio, você vai se curar dessa dor. Do meu lado. Você vai ver. Você vai me amar, Júlio... Eu sei que vai.

(fade in trilha “Doce Castigo” – Nana Caymmi) Sílvia deixa o dinheiro no chão e vai embora. Júlio fica parado, olhando Sílvia sair.  Quando ela não está mais no beco, ele pega o dinheiro, olha o maço com pesar.

JÚLIO: - Desculpa, Silvinha... (guarda o dinheiro no bolso)

...

(sobe trilha “Infiltrado” – Bajofondo) O quarto de Sílvia está um pouco bagunçado. Rosana encontra uma pasta no guarda-roupas, escrito CROQUIS. (baixa trilha)

ROSANA: - Finalmente! Meu passaporte para o estrelato!

Enquanto isso, Sílvia chega em casa e estranha a sala desarrumada.

SÍLVIA: - Mas o que aconteceu aqui?... Rosana?

Sílvia vai para o quarto. Ao chegar ao local, Sílvia flagra Rosana colocando os croquis na bolsa.

SÍLVIA: - O que você está fazendo, Rosana?!

ROSANA (surpresa): - Silvinha!
 

SÍLVIA: - Essa bagunça na minha casa... Rosana, você está roubando os meus desenhos?!

 

 

 

CENA 01. CASA SÍLVIA. SALA. INT. NOITE.

Continuação do capítulo anterior. Sílvia flagra Rosana pegando seus desenhos. (sobe trilha “Infiltrado” – Bajofondo) 

SÍLVIA: - Essa bagunça na minha casa... Rosana, você está roubando os meus desenhos?! 

Rosana se mostra surpresa ao ver Sílvia. (baixa trilha)

ROSANA: - Eu... Eu...

SÍLVIA (pega os desenhos das mãos de Rosana): - O que você estava fazendo com os meus desenhos? Colocando na sua bolsa por quê?

ROSANA: - Olha Silvinha, eu não estava roubando, não é nada disso!

SÍLVIA: - Então me fala, Rosana! Por que você estava escondendo os meus desenhos na sua bolsa?

Rosana se afasta, vira-se de costas, como se fosse tomar coragem.

SÍLVIA (firme): - Estou esperando, Rosana.

ROSANA (vira-se): - Eu nunca tive um dom. Nunca tive um talento, algum destaque que eu pudesse usar ao meu favor... Todas as oportunidades que eu tive na vida, pouco valeram... Lembra da minha entrevista de emprego?

SÍLVIA: - Lembro, claro.

ROSANA: - Era para a GF.

SÍLVIA: - GF... (surpresa) A Gonzales Fashion?!

ROSANA: - Isso mesmo... Eu consegui falar com o Mauro, presidente da empresa. Ele está buscando um novo talento para criar as peças da grife. E eu me propus a ser esse talento.

SÍLVIA: - Você?! Mas Rosana, você não desenha... (cai em si) A não ser que você (percebe) Rosana! Você já tinha pego outros desenhos meus?!

ROSANA: - Sílvia, eu precisava!

SÍLVIA: - Mas isso não é certo, Rosana! Os croquis são meus! Tem até o meu nome em baixo de cada desenho!

ROSANA: - Eu apaguei, Silvinha. Apaguei seu nome, coloquei o meu e mostrei os desenhos para o Mauro. Ele ficou encantado com os meus desenhos.

SÍLVIA: - Meus desenhos! Meus!

ROSANA (grita): - Agora são meus!... (volta tom baixo) E eu não posso mais voltar atrás. Ele já deixou marcada uma reunião com toda diretoria. Se eles aprovarem, eu serei esse novo talento que a GF procura, Silvinha. Eu terei a minha grande chance de crescer, de ser alguém! É a minha oportunidade de mudar de vida!

SÍLVIA: - Você vai mudar de vida usando o meu trabalho como se fosse seu, Rosana? Você acha isso certo? Até quando você pretende manter essa mentira?! E quando eles descobrirem a verdade?!

ROSANA: - Ninguém vai descobrir a verdade! A não ser que você conte, porque eu não vou revelar isso nunca! (aproxima-se de Sílvia, segura a mão dela) Por tudo o que a gente já viveu, amiga. Pela nossa amizade, Sílvia. Você sabe o quanto eu desejo mudar de vida, sair daqui... Meu lugar é na Zona Sul, você sabe disso!

SÍLVIA: - Rosana, eu...

ROSANA: - Sílvia, por favor! Deixa eu levar os desenhos... Me ajuda amiga? Por favor! Não destrói essa oportunidade que eu ganhei. Não acaba com o meu sonho...

Sílvia fica a encarar Rosana, sensibilizada.

CENA 02. CASA GILSON E SELMA. INT./EXT. NOITE.

Na festa de Selma e Gilson, Valquíria se surpreende ao ver Marcelo acompanhado de outra mulher.

VALQUÍRIA: - Canalha...

RAQUEL: - Calma, Val... Esquece esse cara!

VALQUÍRIA: - Esquecer como se ele me aparece aqui na festa com outra mulher? E o pior é que a biscate é bonita ainda...

RAQUEL: - Vem, Valquíria, vamos voltar pro jardim.

VALQUÍRIA (se afasta): - Eu vou falar com ele.

RAQUEL: - Val! Não...

Valquíria vai caminhando em direção a Marcelo. No caminho, pega uma taça de champanhe com o garçom que vai passando. Toma um gole. Olhos fixos em Marcelo, que conversa com sua acompanhante, uma linda moça, jovem, cabelos vermelhos, vestido nude.

VALQUÍRIA: - Oi Marcelo!

Marcelo se vira, se mostra surpreso ao ver Valquíria. Raquel se aproxima da amiga.

RAQUEL (a Marcelo): - Oi Marcelo... (cochicha para Valquíria) Vem, Val. Vamos deixar o Marcelo curtir a festa.

VALQUÍRIA: - Mas ninguém aqui está atrapalhando ele, não é, Marcelo? Aliás, vejo que está acompanhado... Não vai apresentar a sua amiga?

MARCELO: - Essa aqui é a Roberta.

ROBERTA (sorri, simpática): - Prazer.

VALQUÍRIA: - Prazer, Roberta. Essa aqui é minha amiga, Raquel e eu me chamo Valquíria, a namorada do Marcelo.

RAQUEL: - Val!

ROBERTA (confusa): - Namorada? Não estou entendo, Marcelo...

MARCELO (sem jeito): - Ela está brincando, Roberta. Eu e a Valquíria somos apenas amigos.

VALQUÍRIA: - Brincando? Não... Eu nunca brincaria com algo tão sério assim em toda minha vida, Marcelo. Você sabe que é verdade.

MARCELO (sério): - A verdade é que você está estragando a minha noite.

VALQUÍRIA (fala alto): - E você conseguiu estragar a minha vida!

As pessoas, em volta, começam a olhar a discussão.

RAQUEL (pega Valquíria pelo braço): - Vem, Valquíria. Vamos sair daqui. As pessoas estão olhando.

VALQUÍRIA (solta-se / se exalta): - Deixe que olhem! Não estou fazendo nada além do que defender o meu homem (pausa)

MARCELO: - Eu não sou o seu homem, Valquíria! Para de escândalo!

ROBERTA: - Marcelo, eu vou embora.

MARCELO: - Não, Roberta, fica...

VALQUÍRIA (cínica): - Fica Roberta! Fica pra ver como ele trata uma mulher que é apaixonada por ele. Uma mulher que fez de tudo pra ele ser feliz e sabe o que ele deu em troca pra ela? Um par de chifres!

As pessoas comentam. Fernando entra na sala.

FERNANDO: - O que está acontecendo aqui? Ouvi comentários lá fora...

RAQUEL: - Valquíria viu o Marcelo acompanhado e agora ta aqui dando show. E eu não consigo tirar ela daqui!

VALQUÍRIA: - Eu te amo, Marcelo! (grita) Eu te amo!

ROBERTA (saindo): - Eu não preciso ficar aqui.

VALQUÍRIA: - Roberta!

Roberta se vira. Valquíria joga champanhe no rosto dela. Todos se surpreendem.

VALQUÍRIA: - Tudo isso começou por sua causa, vagabunda.

Fernando pega Valquíria pelo braço. Ela tenta se soltar. Roberta, em choque, é levada para outro lugar por Marcelo. Valquíria começa a chorar.

FERNANDO: - Melhor a gente levar ela embora.

RAQUEL: - Vamos sim...

Fernando e Raquel saem com Valquíria. Enquanto isso, do lado de fora, Tarso bebe um drinque, observando os convidados, quando uma moça, morena, cabelos escuros, vestido vermelho, sensual, lhe chama atenção. A moça troca olhares com ele. Nesse instante, Sandra se aproxima do marido, ele disfarça.

SANDRA: - Que horror! Essa amiga da Raquel, Valquíria, acabou de fazer o maior escândalo na sala.

TARSO: - Escândalo? Como assim?

SANDRA: - Parece que viu o ex-namorado com outra... Coisa de gente sem classe, querido. Ainda bem que o Fernando e a Raquel conseguiram levar ela embora. Imagina, estragar essa festa tão bonita...

TARSO: - É mesmo... (procura a moça com olhares)

SANDRA: - Procurando alguma coisa, Tarso? Ou alguém?

TARSO: - Eu? Por que está me perguntando isso? Estou só observando a festa.

SANDRA: - Perguntei por que te conheço, Tarso.

Os dois trocam olhares, acabam rindo.

Num outro ponto, Mauro se despede de Gilson e Selma.

SELMA: - Já vai, Mauro? Ficou tão pouco!

MAURO; - Eu tenho outro compromisso ainda hoje, Selma. Mas a festa está ótima. Parabéns pelo evento.

GILSON: - Amanhã cedo no escritório?

MAURO: - Amanhã! O grande dia!...

Leocádia se aproxima.

LEOCÁDIA: - Cuidado, meu filho. Olha esse trânsito louco aí e, por favor, não vai beber e dirigir.

MAURO: - Pode deixar, mãe, não se preocupa. (risos) Boa noite!

Mauro vai embora.

SELMA: - Preocupações de mãe, não é?

LEOCÁDIA: - Só quem é pra saber... (risos)

Enquanto isso, Maria Helena conversa com Orestes.

MARIA HELENA: - Ainda bem que eu não estava lá dentro na hora desse bafafá todo. A Valquíria nem parece que tem berço!

ORESTES: - Não sabia que ela era um tanto esquentada.

MARIA HELENA: - Não é boa companhia pra Raquel. Ela está grávida, não pode ficar convivendo com pessoas assim, destemperadas.

ORESTES: - Não é pra tanto, Maria Helena. Vai ver foi uma situação atípica.

MARIA HELENA: - Mesmo assim. Vou ter uma conversa séria com a Raquel sobre isso. Aliás, sobre muitas outras coisas, sobre o casamento, enfim.

ORESTES: - Vai querer controlar a vida da moça agora? Com quem ela anda, convive...

MARIA HELENA: - Pelo bem deste casamento, e acima de tudo, pelo meu neto que vai vir, sim, vou controlar tudo.

Maria Helena se mostra decidida.

CENA 03. BOATE GLAMOURIO. INT. NOITE.

(sobe trilha “World hold on” – Bob Sinclair) A boate está movimentada. Estér conversa numa mesa, em um espaço reservado, com Waleska. (fade out trilha)

WALESKA: - Fazia tempo que não via você aqui na boate!

ESTÉR: - Eu estava mesmo um pouco fugida. Fugida não, reclusa.

WALESKA: - A troco de quê?

ESTÉR: - Trabalho, família.

WALESKA: - Ah, desculpa! Esqueci que estou conversando com uma das mais promissoras designer de calçados do país! (risos) E quanto a família, creio que seja por causa de sua querida mamãe.

ESTÉR: - Por ela nem tanto. Estou nem aí pelo o que ela pensa, fala, enfim. Mais pelo meu pai, sabe? Sei que ele não gosta quando eu e minha mãe discutimos.

WALESKA: - Desculpa, Estér, mas a sua mãe é uma jararaca!... Depois do que ela me fez naquele dia, me botando pra fora da sua casa como se eu fosse um monstro, nossa...

ESTÉR: - Só porque você apareceu de salto alto e cílios postiços?

Os dois riem.

WALESKA: - Ela não aceita, não é?

ESTÉR: - Não... Mas eu vou vivendo minha vida assim mesmo, com ela gostando ou não. Lógico, seria muito melhor se ela me aceitasse como eu sou. Mas eu não posso deixar de viver só porque a dona Maria Helena Linhares acha errado isso ou aquilo.

WALESKA: - Se existe amor, não há erros. Minha opinião.

ESTÉR: - Explica isso pra ela. Ela me mata a tiros e depois retalha todo meu corpo se eu chegar de mãos dadas em casa com uma mulher.

WALESKA: - Você nunca levou ninguém pra sua casa?

ESTÉR: - Já sim... quando eles foram viajar pra Europa, ou vão pra Petrópolis, eu consigo levar alguma menina. Mas é ruim, sempre fazer as coisas escondida... Espero que isso algum dia mude.

(fade in trilha “World hold on” – Bob Sinclair)

CENA 04. CASA SÍLVIA. INT. NOITE.

(fade out trilha anterior / sobe trilha “Infiltrado” – Bajofondo) Sílvia e Rosana estão a se encarar. Rosana segurando as mãos de Sílvia, firme. Sílvia com olhar de pena para amiga.

ROSANA: - Então Silvinha, vai impedir que eu seja feliz? Que eu consiga melhorar a minha vida?

Sílvia se solta das mãos de Rosana, caminha pelo quarto. Rosana a observa ansiosa por uma resposta.

ROSANA: - Me fala, Silvinha!

SÍLVIA (vira-se): - Tudo bem. Eu deixo você levar os meus desenhos e apresentar como se fossem seus.

ROSANA (surpresa/feliz): - Eu não acredito! (abraça Sílvia) Muito obrigada, Silvinha! Você é praticamente uma fada madrinha, uma irmã, uma luz na minha vida!

SÍLVIA: - Mas com uma condição.

Rosana estranha, se afasta, mas sem deixar de sorrir.

SÍLVIA: - Quero que você convença o Júlio a ficar comigo.

ROSANA: - Como é que é?

SÍLVIA: - Isso mesmo. Eu deixo você levar os desenhos, mas em troca, quero que você convença o Júlio a ficar comigo. Quero que me prometa que ele vai ceder aos meus encantos.

ROSANA: - Calma aí, Silvinha... O Júlio? Isso mesmo? Eu vou ter que falar com ele?

SÍLVIA: - É a minha condição para que os desenhos sejam seus, Rosana. Não é tão difícil assim.

ROSANA: - Você sabe que eu não vou com a cara do Júlio.

SÍLVIA: - Você sabe que seria terrível perder uma oportunidade de ouro de trabalhar na GF.

(fim trilha “Infiltrado” – Bajofondo) Rosana encara Sílvia.

SÍLVIA: - Então, o que me diz?

ROSANA: - Tudo bem. Eu aceito o trato. Eu vou falar com o Júlio. Pode esperar que ele vai ficar caidinho por você.

Sílvia abre a pasta, retira mais alguns desenhos e entrega para Rosana.

SÍLVIA: - Toma, são seus. E eu nem coloquei o meu nome nesses daí. Pode levar.

Rosana sorri, com os croquis nas mãos.

CENA 05. CASA LAERTE. INT. NOITE.

Laerte está deitado no sofá de sua casa, assistindo TV. O local é pequeno, apenas cozinha e banheiro são separados. De repente, alguém bate à porta. Laerte vai atender. É Júlio.

LAERTE: - Júlio?

JÚLIO: - Laerte, eu posso entrar?

LAERTE: - Sei não cara (pausa)

JÚLIO: - Laerte, por favor. Eu não tenho mais onde ficar, estou com pouca grana. E os caras estão atrás de mim.

Laerte encara Júlio, receoso.

JÚLIO: - Por favor. Eu só preciso de um lugar pra ficar.

LAERTE: - Não vai me aprontar nada, cara! Olha lá!

JÚLIO: - Pode confiar, Laerte.

Laerte se afasta da porta para Júlio entrar. Laerte fecha a porta.

JÚLIO: - Eu só preciso me organizar, arrumar as ideias... Essa sede me consumindo...

LAERTE: - Tem água, café. Quer?

JÚLIO: - Não, não... Obrigado. Não falo dessa sede não. Falo daquela sede chamada vingança.

LAERTE: - Que história é essa, Júlio?!

JÚLIO: - Calma, ta tudo bem.

LAERTE: - Sei... Tá todo estranho.

JÚLIO: - Eu fui humilhado hoje, Laerte. Pela pessoa que eu mais amo nesse mundo.

LAERTE: - Pé na bunda é?

JÚLIO: - Foi uma facada na alma, um tiro certeiro no coração. Eu deveria estar acostumado, porque ela sempre me tratou assim, como se eu fosse um ninguém. Mas sei lá, isso parece que me deixa ainda mais apaixonado.

LAERTE: - Homem que gosta de sofrer por mulher... Nunca vi... Olha só, você pode ficar aí no sofá. E relaxa, para de pensar besteira...

Laerte vai pro banheiro. Júlio senta-se no sofá.

JÚLIO: - Rosana... Rosana... Por que você faz isso comigo? A sua hora vai chegar.

CENA 06. CASA GILSON E SELMA. JARDIM. EXT./INT. NOITE.

Gilson chama os convidados para o centro do jardim.

GILSON: - Por favor, queridos convidados... Uns minutos da atenção de vocês. A minha amada e querida esposa, Selma, preparou algumas palavras para dizer a todos. Selma, por favor.

Sob aplausos, Selma se aproxima de Gilson.

SELMA: - Eu estou tão emocionada, que tenho até medo de errar no discurso... (risos) Mas o que eu gostaria de dizer basicamente é que eu estou muito feliz...

Enquanto Selma discute, Maria Helena, Orestes e Sandra assistem.

MARIA HELENA: - E Tarso, Sandra? Onde está?

SANDRA: - Mas estava aqui do meu lado agora mesmo!... Vou atrás dele, volto logo.

Sandra se afasta. Ela entra dentro de casa, quase não há movimento no lugar. Quando Sandra vai chegando próxima a um dos corredores da casa, escuta vozes, sussurros. Ela se aproxima devagar. Sandra observa Tarso aos beijos com a moça do vestido vermelho. Sandra assiste à cena totalmente magoada. Sandra se afasta sem ser vista.

Do lado de fora, Selma continua seu discurso.

SELMA: - E eu quero agradecer também a presença da imprensa, que está registrando todos os momentos. Gente, temos três revistas chiques aqui hoje!

Maria Helena e Orestes conversam.

MARIA HELENA: - E ela se deslumbra com a imprensa brasileira. Pra quem já teve um catálogo da Vogue América todo feito em sua casa, isso aqui não é nada.

ORESTES: - Ela está feliz, é isso que importa.

Maria Helena faz pouco caso. Sandra se aproxima, enxuga as lágrimas.

MARIA HELENA: - E então, encontrou seu marido?

SANDRA (disfarça): - Não... Acho que foi ao banheiro. E o discurso?

MARIA HELENA: - Um porre... (ri)

Tarso se aproxima de Sandra.

TARSO: - E então, como está o discurso?

SANDRA: - Pra todo mundo estar prestando atenção ainda, deve estar bom, claro, limpo. Ao contrário da sua boca.

Sandra encara Tarso.

SANDRA: - Poderia ao menos limpar a mancha de batom.

Sandra vira-se de costas para Tarso, que limpa o canto da boca, sem jeito.

SELMA: - Por fim, muito obrigada, amigos queridos! E espero que tenham adorado o meu jardim novo, como eu também adorei! Ah, e as piscina tem luz dentro d’água! Olha lá! Olha lá!

Os convidados aplaudem.

CENA 07. RESTAURANTE PRATO CHEIO. EXT / INT. NOITE.

Imagens da fachada do restaurante Prato Cheio. Todo espelhado, chama atenção pelo ambiente sofisticado (apesar do nome “popular”) numa rua movimentada no bairro do Leblon, Zona Sul. Corta para o interior do restaurante, cheio, convidados bem vestidos, imprensa. Garçons servem canapés e champanhe, enquanto uma banda (3 pessoas, sax, piano e baixo) tocam música ambiente (jazz).

Mauro entra no local e logo é recepcionado por um homem magro, cabelos ruivos, curtos.

MAURO: - Durval! Que sucesso hein!

DURVAL: - Meu amigo, nem eu imaginava tudo isso! Que bom ver você! Pensei que estivesse na Europa ainda!

MAURO: - Cheguei há poucos dias.

DURVAL: - E chegou bem na hora boa. Minha grande amiga, Tereza Sampaio, vai fazer um desfile com sua grife especialmente pra hoje. Sei que ela deve ser sua concorrente no mercado, mas é minha amiga, estou dando uma força pra ela.

MAURO: - Claro, entendo bem.

DURVAL: - Venha, venha...

Mauro e Durval caminham por entre os convidados. No centro do salão do restaurante, um espaço foi reservado para o desfile de moda. Durval leva Mauro até Tereza, negra, cabelos escuros, longos, magra, 30 anos.

DURVAL: - Creio que você conheça Mauro Gonzales!

TEREZA: - Claro que conheço! Famoso dono da grife GF! Prazer conhecê-lo pessoalmente.

MAURO: - prazer é meu, Tereza.

TEREZA: - Espero que goste do desfile. Me empenhei por muito tempo pra essa coleção especial.

Eles se sentam nas cadeiras reservadas. A banda cessa a música, outra música começa a tocar. Todos prestam atenção para o desfile. Começam a entrar as primeiras modelos.

As roupas do desfile não empolgam. As pessoas comentam, algumas até disfarçam risos. Durval fica sem jeito, Tereza percebe.

TEREZA: - Será que eles não estão gostando da minha coleção?

MAURO: - Acho que não... Quero dizer, não é isso... A coleção está... Boa...

TEREZA: - Ai que vergonha! Eu sei que eles não estão gostando. Tem gente até rindo escondido! Será que eu não vou mais ter o sucesso de antes? Já é o terceiro desfile que eu faço que o vexame é certo...

O desfile termina. Poucas palmas. Durval se adianta, vai até o centro do salão.

DURVAL: - Bem, depois desse belíssimo desfile da grife CarioLinda, da nossa querida estilista Tereza Sampaio, convido a todos para provar o nosso belo bufê de inauguração!

Os convidados aplaudem. Tereza está visivelmente chateada. Durval se aproxima.

DURVAL: - Obrigado, Tereza, de coração.

TEREZA: - Eu é que agradeço a você, por querer me dar esse sopro de vida!... Obrigada.

MAURO: - Não fique triste não, Tereza. Às vezes as coisas não saem conforme o planejado, mas a gente volta, arruma e dá certo.

TEREZA: - Assim espero...

DURVAL: - Que tal provar o bufê agora, pessoal? Tem pratos deliciosos! Frutos do mar, faisão, carneiro.

Os três vão indo para o bufê, que já está movimentado.

CENA 08. CASA MARÍLIA. EXT / INT. NOITE.

(sobe trilha “Pérola Negra” – Luiz Melodia) Gustavo namora Marília no portão da casa dela.

MARÍLIA: - Adorei sua visita aqui.

GUSTAVO: - Gostou mesmo amor?

MARÍLIA: - Amo quando você fica pertinho de mim... Amo os seus carinhos... Seus beijos!

Os dois se beijam. Na janela da casa, Amália aparece, olha o casal se beijando lá fora. Os encara, invejosa.

AMÁLIA: - Que seja eterno enquanto dure...

Gustavo e Marília estão abraçados, felizes.

MARÍLIA: - Deixa eu falar pra você, que o Ivan passou no teste. Vai trabalhar lá na agência de fotógrafo!

GUSTAVO: - Que maravilha! Era o que ele queria também, não era?

MARÍLIA: - Ele está tão feliz. E eu também. O Ivan é um amigão, merece tudo de bom!

GUSTAVO: - Assim como a gente, né, amor?

MARÍLIA: - Claro, amor...

Os dois se beijam, felizes. (fade out trilha)

CENA 09. APTO VALQUÍRIA. INT. NOITE.

Valquíria chora em sua cama. Ainda com a roupa da festa, maquiada. Ela se vira na cama, leva as mãos ao rosto. Senta-se. Olha para a cabeceira da cama, vê um porta-retrato com a foto de Marcelo. Valquíria pega o porta-retrato, se abraça a ele, deita na cama e volta a chorar.

CENA 10. MANSÃO LINHARES. INT. NOITE.

Fernando e Raquel chegam à mansão.

FERNANDO: - Eu nunca vi a Valquíria perder a cabeça desse jeito.

RAQUEL: - Ela já teve outras crises de ciúmes antes, mas nada assim, quase um escândalo.

Neste instante, Maria Helena e Orestes entram em casa.

MARIA HELENA: - Quase escândalo não, foi um escândalo! Essa moça é uma completa desequilibrada.

RAQUEL: - Ela está passando por um momento difícil, não está sabendo lidar direito com a separação.

MARIA HELENA: - Nada justifica esse comportamento baixo que ela teve, Raquel.

FERNANDO: - Não exagera mamãe.

MARIA HELENA: - Lavar outra moça com champanhe não é exagero? Desculpem então por não saber o que é bom comportamento. E olha que eu estou dizendo isso sem nem estar presente na cena. Soube apenas pelos comentários.

RAQUEL: - As pessoas aumentam muito as coisas.

ORESTES (serve-se de uísque): - Foi o que eu disse... A Valquíria é uma boa moça.

MARIA HELENA: - Sendo ela boa moça ou não, eu não acho ela uma companhia adequada para você, Raquel.

RAQUEL: - Como é que é?

FERNANDO: - O que você ta falando, mãe?

MARIA HELENA: - A Valquíria não vai mais frequentar a minha casa nem estar perto da Raquel. Essa moça é uma bomba relógio, já ficou mal falada na festa. Não quero que esses comentários se estendam à nossa família, só isso.

RAQUEL: - Uma coisa não tem nada a ver com a outra, dona Maria Helena. A Valquíria é minha amiga, madrinha do meu casamento e eu não vou deixar de falar com ela!

Raquel sobe as escadas para o quarto, seguida por Fernando. Maria Helena senta-se no sofá.

MARIA HELENA: - Diga-me com andas, que te direi quem és... Tá vendo? Foi só dizer uma coisa e a Raquel já ficou toda ouriçada, tal qual a amiga. Esse ditado é válido!

ORESTES: - Não é para todos... Vivemos com você, somos uma família, mas nem todos pensamos como você pensa.

Orestes também sobe as escadas. Maria Helena fica sozinha na sala. De repente, Estér entra no local, vinda da boate.

MARIA HELENA (cínica): - Minha filha querida! Como estava a sua festinha?

ESTÉR: - Ótima, mamãe...

MARIA HELENA: - Conheceu algum rapaz interessante?

ESTÉR: - Conheci sim. Um médico, lindo, loiro, olhos azuis... E que me apresentou uma morena, cor de jambo, a coisa mais linda mãe. E que saber?

MARIA HELENA: - Não quero saber de nada! Saia daqui.

ESTÉR: - Não quer saber, mas eu vou contar... Dei uns beijos nela.

MARIA HELENA (grita): - Sai daqui! Sai!

Estér vai para o seu quarto, dando gargalhadas de Maria Helena.

CENA 11. TRANSIÇÃO DO TEMPO. ANOITECER / CASA MAURO. INT. DIA.

Imagens do Rio ao amanhecer. Mostra a praia de Copacabana, o Cristo Redentor, o Maracanã. Corta para casa de Mauro. Leocádia abre a porta da casa. Uma moça, morena, de terninho com uma pasta, entra na casa.

LEOCÁDIA: - Você é da Assistência Social, é isso?

MOÇA: - Sim, me chamo Rejane, trabalho na assistência social e preciso falar com a dona Leocádia Gonzales.

LEOCÁDIA: - Sou eu mesma.

REJANE: - Desculpe vir aqui sem avisar, dona Leocádia, mas nós não conseguimos fazer contato pelo telefone...

LEOCÁDIA: - Ai, estamos mesmo com problemas na linha... Mas, o que você quer falar comigo?

REJANE (abre a pasta): - Eu lhe trouxe esses papéis aqui. É a ordem para que você compareça à Vara da Infância para assinar os papéis da adoção.

Leocádia se emociona.

LEOCÁDIA: - Adoção? Quer dizer que finalmente eu vou poder ter a minha menina comigo?

REJANE: - Vai sim. Parabéns.

Leocádia não consegue conter as lágrimas.

LEOCÁDIA: - Celeste... Minha linda Celeste...

CENA 12. ESCRITÓRIO GF. SALA DE REUNIÕES. INT. DIA.

Sala de reuniões da grife GF. Os croquis que Rosana levou passam pelas mãos dos diretores (uns 7). Mauro aguarda a decisão deles. Gilson analisa um dos croquis impressionado. Rosana se aproxima de Mauro.

MAURO: - Nervosa?

ROSANA: - Ansiosa, na verdade. Nem dormi direito desenhando essas peças.

MAURO (segura a mão de Rosana): - Pode ficar calma, tenho certeza que vai dar tudo certo.

Rosana sorri e disfarçadamente, solta-se de Mauro. Olha para ele carinhosa, se afasta.

ROSANA (pensando): - Esse cara ta na minha...

MAURO: - Pois bem pessoal, o que acharam?

GILSON: - Eu não tenho palavras. São peças bonitas e com jogo de cores muito bem feitos.

DIRETORA: - E de muito bom gosto.

GILSON: - A minha opinião é sim.

DIRETORA: - Eu também acho que ela deve ser contratada.

Os demais diretores também concordam.

MAURO: - Sendo assim, Rosana, considera-se a nova contratada da Gonzales Fashion.

(sobe trilha “Me Segura” – Eduardo Dussek) Rosana sorri, feliz, sob os aplausos dos diretores. Mauro a cumprimenta, em seguida, eles se abraçam.

MAURO: - Parabéns, você mereceu. Tenho certeza que nossa parceria será duradoura.

ROSANA: - Eu não duvido de nada, Mauro. A gente vai se dar muito bem...

Os dois se afastam, trocam olhares. (fade out trilha)

CENA 13. MANSÃO LINHARES. QUARTO FERNANDO. INT. DIA.

Raquel está no quarto, em frente à penteadeira, arrumando os cabelos, quando Maria Helena entra no local e fecha a porta. Raquel se vira para ela.

MARIA HELENA: - Não foi legal a forma como você falou comigo ontem à noite, só porque eu disse umas verdades sobre a sua amiguinha.

RAQUEL: - Desculpa, Maria Helena, acontece que (pausa)

MARIA HELENA: - Acontece que enquanto você estiver debaixo do meu teto, vai dançar conforme a minha música, entendeu?

Maria Helena encara Raquel.

CENA 14. CASA ROSANA. EXT. DIA.

Júlio se aproxima da casa de Rosana, fica escondido próximo do muro da casa, esperando ela chegar. De repente, um carro importado para em frente à casa. Mauro desde do carro e abre a porta do carona para Rosana, que desce, segurando um buquê de rosas vermelhas.

ROSANA: - Não precisava ter me trazido em casa, Mauro. Já não bastaram essas rosas...

MAURO: - Você merece, Rosana. Eu... Nem sei como explicar. Mas, desde que a gente se conheceu, eu sinto que algo diferente aconteceu comigo.
Rosana coloca o dedo, delicadamente, sobre a boca de Mauro. Ele se cala. Rosana sorri, carinhosa, aproxima-se dele e o beija, sob os olhares fulminantes de Júlio.


 

 



autor:
Édy Dutra

elenco:
Malu Galli como Sílvia
Eduardo Lago como Júlio
Bruna Lombardi como Rosana
Domingos Montagner como Mauro
Marcello Antony como Fernando
Isabel Fillardis como Marília
Maria Fernanda Cândido como Raquel
Nill Marcondes como Bruno
Maria Luísa Mendonça como Valquíria
Adriana Garambone como Estér
Ana Lúcia Torre como Leocádia
Rafaela Mandelli como Celeste
Jonathan Haagensen como Vitinho
Maria Padilha como Sandra
Eduardo Galvão como Tarso
Erika Mader como Aline
Rafael Almeida como Talles
Paulo Figueiredo como Gilson
Denise Del Vecchio como Sophia
Iran Malfitano como André
Gabriela Durlo como Paula
Mário Gomes como Durval
Paulo Nigro como Guilherme
Luiza Tomé como Heloísa
Marcello Airoldi como Adônis
Gustavo Leão como Diogo
Lázaro Ramos como Ivan
Leonardo Vieira como Renato
Francisca Queiroz como Geórgia
Paulo Gorgulho como Laerte
Maria Ceiça como Tereza
Amanda Ritcher como Melissa
Bianca Comparato como Duda
Letícia Colin como Gaby
Luma Costa como Marcinha
Léa Garcia como Ilza
Valquíria Ribeiro como Amália
Antonio Pitanga como Cristóvão
Rocco Pitanga como Gustavo
Joana Foom como Janice
Roberto Bonfim como Alceu
Amandha Lee como Karina
Marcello Melo Jr. como Pedro
Gabriel Braga Nunes como Walter/Waleska
Guilherme Winter como Fábio
Lavínia Vlasak como Bia
Eva Wilma como Maria Helena
Othon Bastos como Orestes

participações especiais - 1ª fase
Maria Flor como Sílvia
Caio Blat como Júlio
Regiane Alves como Rosana
Rafael Cardoso como Laerte
Cauã Reymond como Fernando

Ana Sophia Folch como Raquel
Sophia Abrahão como Valquíria
Tainá Müller como Estér
Vergniaud Mendes como Adônis

Alex Gomes como Bruno
Caio Castro como Fábio
Élida Muniz como Marília
Quelynah como Amália
Darlan Cunha como Ivan
Armando Babaioff como Mauro

trilha sonora:
This Love - Marron Five (abertura)
Infiltrado – Bajofondo
World hold on – Bob Sinclair
Pérola Negra – Luiz Melodia
Me Segura – Eduardo Dussek

produção:
Bruno Olsen
Diogo de Castro
Joey Anderson



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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