ROSANA: - Amanhã eu volto e vejo esses papéis.
De repente, ela escuta passos no salão.
ROSANA: - Vitinho, é você? Eu deixei uns papéis aqui, mas eu só vou ver amanhã. Então você pega pra mim e leva lá na minha casa...
Rosana se surpreende ao ver Sílvia no atelier.
ROSANA: - Sílvia?!
SÍLVIA: - Surpresa em me ver?
ROSANA: - Como você entrou aqui? Ou melhor... O que você está fazendo aqui?
SÍLVIA: - Nós precisamos conversar, Rosana. E agora é pra valer.
CENA 01. ATELIER GF. INT. NOITE.
Continuação do capítulo anterior. Sílvia encontra no Rosana no atelier para uma conversa definitiva.
ROSANA: - O que você está fazendo aqui?
SÍLVIA: - Já falei. Nós precisamos ter uma conversa.
ROSANA: - Eu não tenho nada pra falar com você, Sílvia. Saia daqui antes que alguém entre e veja você aqui.
SÍLVIA: - E o que tem de mais em alguém me ver aqui? Somos amigas, não somos?
ROSANA: - Você sabe que não somos mais... Já que você está aqui, fala logo o que tem pra falar e vai embora. Eu também estou louca pra chegar em casa.
SÍLVIA: - Eu vou contar a verdade.
Rosana gela.
ROSANA: - Que verdade?
SÍLVIA: - A verdade, Rosana. Vou contar tudo para o Júlio, para a filha dele, para o Mauro. Já chega de mentiras.
ROSANA: - Você andou bebendo, Sílvia?! Só pode! Andou tomando o quê?
SÍLVIA: - Juízo, Rosana. Estou farta de ficar enganando as pessoas. Eu quero viver a minha vida em paz!
ROSANA; - E pra isso você vai destruir a minha? Meu Deus, se o Mauro sonha que os desenhos, que todos os trabalhos, as noções de costura são todas suas... Ele me esfola. Você não seria capaz.
SÍLVIA: - Se eu não fosse, não viria até aqui.
ROSANA: - Finalmente tomou coragem para alguma coisa na vida. Saiu da inércia pra atazanar a minha vida, é isso, Sílvia? Agora ficou louca também! Esqueceu que se você falar toda a verdade, vai se prejudicar também? O Mauro pode até mandar te prender, sabia? Que legal! Vamos nós duas pra cadeia por enganar um dos empresários mais conhecidos do Rio de Janeiro!
SILVIA: - Estou disposta a enfrentar o que vier. Estou cansada de ser covarde!
ROSANA: - Mas a coragem não combina com você, Sílvia. Combina comigo. Eu venci essa batalha da vida. Não há chances para você!
SÍLVIA: - É preciso muita coragem para abandonar uma criança. Um filho.
ROSANA: - Lá vem você de novo com essa história infernal... já faz tanto tempo. A pestinha já está acostumada com você sendo mãe dela...
SÍLVIA: - Me dói saber que ela não nasceu de mim.
ROSANA: - Me dói saber que eu pari alguém um dia... Mas como está a garota? Eu praticamente nunca vi nem a cara dela. Nem em fotos quando fui na sua casa.
SÍLVIA: - Ela está bem mais próxima do que você imagina.
ROSANA: - Como assim?
SÍLVIA: - A Melissa, Rosana... A Melissa é a sua filha.
Rosana fica surpresa com a revelação.
CENA 02. MANSÃO LINHARES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Marília é apresentada na mansão.
FERNANDO: - Bem, Marília... Esta daqui é minha irmã, Estér.
ESTÉR (simpática): - Prazer, Marília!... Talvez você não se lembre de mim, mas já nos cruzamos por esses eventos de moda por aí.
MARÍLIA: - Com certeza! Prazer.
FERNANDO: - Essa princesa aqui é minha filha, Marcinha.
MARÍLIA: - Como vai?
MARCINHA: - Tudo bem. Seja bem-vinda.
MARÍLIA: - Obrigada!
FERNANDO: - E estes aqui são meus pais, Orestes e Maria Helena.
MARÍLIA (cumprimentando Orestes): - Muito prazer!
ORESTES: - O prazer é todo meu, Marília. Como Marcinha falou, seja bem-vinda em nossa casa.
MARÍLIA (a Maria Helena): - Muito prazer, dona Maria Helena.
Maria Helena esboça um sorriso, com um olhar esnobe sobre Marília, que percebe.
MARIA HELENA (sentando-se): - Então você é empresária, Marília?
Todos se sentam.
MARÍLIA: - Sou sim. Sou dona de uma agência de modelos. Preferi continuar no ramo da minha profissão de modelo.
ESTÉR: - E sua agência é uma das mais famosas do país.
MARÍLIA: - Fruto de muito trabalho pode ter certeza.
ESTÉR: - Ah, eu tenho. Fidelizar uma marca no mercado hoje em dia não é tão fácil.
ORESTES: - Eu mesmo, já na minha época, trabalhei muito para que a Áurea Calçados chegasse ao nível onde está. E felizmente, o Fernando e a Estér estão mantendo e muito bem esse posto.
MARIA HELENA: - Mais o Fernando do que a Estér, diga-se de passagem.
MARCINHA: - Vovó... A tia Estér dá duro também na empresa.
ESTÉR: - Deixa, Marcinha... Sua avó adora me alfinetar. Acontece nas melhores famílias. (risos)
FERNANDO: - Aceita uma bebida, amor? Champanhe, suco, água?
MARÍLIA: - Uma água, por favor.
Fernando vai até o bar, no canto da sala, para servir a bebida.
ORESTES: - E desculpe o interrogatório, Marília, mas é só você da sua família que trabalha na agência?
MARÍLIA: - Sim, só eu, seu Orestes. Minha mãe gosta de cuidar da casa. E como mudamos há pouco tempo, a casa é bem grande... Minha irmã nunca foi dessa área... Tem meu sobrinho, Pedro, que estuda publicidade. Acredito que futuramente, ele venha a integrar nossa equipe.
MARCINHA: - Nossa, você é tia do Pedro?
MARÍLIA: - Sou sim, conhece?
Fernando retorna com a água, entrega para Marília.
MARCINHA: - Claro, conheci ele há pouco tempo. Ele é muito legal!
FERNANDO: - Mundo pequeno esse não? (risos)
MARIA HELENA (a si mesma): - Até a Marcinha se envolvendo com essa gentinha.
ORESTES: - Disse alguma coisa, Maria Helena?
MARIA HELENA: - Nada não... Quem sabe vamos para a outra sala. Já vou mandar servir o jantar.
MARCINHA: - E o que temos para jantar, vovó?
MARIA HELENA: - Lagosta à moda holandesa. Não sei se a nossa convidada está acostumada a comer esse tipo de comida mais refinada, mas posso garantir que é uma delícia.
MARÍLIA: - Claro. Adoro lagosta. Não conheço esse molho, mas quando eu morei na Europa, comi muito.
ESTÉR: - Você morou na Europa?!
MARÍLIA: - Quase dez anos! Inclusive na Holanda, de onde vem esse molho mais refinado... (fita Maria Helena)
Todos seguem para a outra sala, Maria Helena à frente, expressão séria.
ORESTES: - ótimo! Já temos mais um assunto para o jantar. Quero saber as suas impressões sobre a moda na Europa e nos Estados Unidos. Eu vejo a Europa mais tradicional...
MARÍLIA: - De certa forma é, Seu Orestes...
FERNANDO: - É, mas já temos algumas mudanças também.
ESTÉR (a Marcinha): - Sua avó está tentando desestabilizar a moça...
MARCINHA: - Mas por quê?
ESTÉR: - Implicância gratuita.
CENA 03. APTO DUDA E GABY. INT. NOITE.
Duda conversa com Gaby no apto.
GABY: - Ela fez isso mesmo? A Melissa roubou tuas coisas?
DUDA: - Na cara dura, Gaby! E o pior, ela foi a escolhida na seleção da Gonzales Fashion!
GABY: - Mas que barbaridade! Que guria mau caráter!
DUDA: - Se fazendo de amiguinha, mas por trás, me apunhalando.
GABY: - Ah, Duda, não fica triste não amiga. Logo logo surgem novas oportunidades e aí tu consegue.
DUDA: - Não, mas eu não vou deixar barato, Gaby. A Melissa me paga!
GABY: - O que tu vai fazer, Duda? Pensa bem!
DUDA: - A Melissa é que deveria ter pensado bem antes de fazer o que fez comigo. Traidora.
CENA 04. CASA TEREZA. INT. NOITE.
Júlio e Tereza conversam na sala. Ela traz um café para ele, que está sentado no sofá. Tereza senta na poltrona, próxima.
TEREZA: - Não sabia que essa relação da Sílvia com a Rosana fosse dessa forma. Eu soube que eram amigas, mas que desde que a Rosana saiu daqui de Vila Isabel, as duas não se falaram mais.
JÚLIO: - Tudo mentira. Se falavam quase sempre. E a Sílvia ajudando aquela cobra.
TEREZA: - Por que você fala dessa forma quando se refere à Rosana?
JÚLIO: - Nada não... Coisa minha, que eu preciso resolver sozinho.
TEREZA: - Tudo bem. Se você não quer dizer, não vou insistir. Beba o café, ta quentinho.
Júlio toma uns goles. Tereza o observa, terna.
TEREZA: - E agora, como fica a situação da Sílvia na nossa parceria?
JÚLIO: - Eu estou muito decepcionado com ela... Mas não podemos negar que ela tem um talento incrível. A não ser que você queira que ela saia.
TEREZA: - Não, claro que não. Eu gosto muito do trabalho dela. Mas ela não vai poder se dividir entre a CarioLinda e a Gonzales Fashion. Ela vai precisar escolher. Vamos deixar com ela essa escolha.
JÚLIO (recosta no sofá): - Ah, estava dando certo, aí vem um tsunami e abala tudo.
TEREZA (senta-se ao lado de Júlio): - Calma, Júlio. As coisas vão melhorar. Eu mesma já dei uma geral aqui em casa, vamos utilizar o quintal pra produzir as primeiras peças. Janice se propôs a ajudar, tem as outras costureiras. A gente vai tocando.
(sobe trilha “Codinome Beija-Flor” – Luiz Melodia)
JÚLIO: - Engraçado... Agora é você que está me dando força.
TEREZA: - Apenas retribuindo a força que você me deu. Estamos juntos nessa, não estamos? (sorri, meiga)
Os dois trocam olhares. Aos poucos se aproximam e se beijam.
TEREZA: - Eu vou para o meu quarto. Qualquer coisa que precisar, só me chamar.
JÚLIO: - Tá certo. Muito obrigado. Por tudo.
Tereza se levanta, sorri, olhos brilhando. Sai da sala. Júlio fica pensativo, leva os dedos aos lábios.
(fade in “Codinome Beija-Flor” – Luiz Melodia)
CENA 05. ATELIER GF. INT. NOITE.
(fade out trilha “Codinome Beija-Flor” – Luiz Melodia) Rosana está chocada com a revelação de que Melissa é sua filha.
ROSANA: - Você só pode estar brincando comigo.
SÍLVIA: - Ela se inscreveu na seleção sem eu saber. Quando eu descobri que ela estava trabalhando com você, fiquei sem chão.
ROSANA: - A Melissa... Meu Deus, como eu não percebi nada!... Claro, Melissa! Melissa! Bem que eu desconfiava já ter ouvido esse nome... Me soou tão familiar. Melissa! E tantas coincidências! Bem que ela falou que mãe era costureira... Ela é uma menina inteligente, e isso com certeza ela puxou a mim.
SÍLVIA: - A Melissa está fascinada com essa sua imagem de diva, de rainha... Mas mal sabe ela que a pessoa que ela idolatra, a desprezou profundamente.
ROSANA: - Não posso acreditar. Mas ela (pausa)
SÍLVIA: - Óbvio que ela não sabe, nem desconfia... Nem mesmo quando a gente brigou por causa desse maldito emprego na Gonzales Fashion... Eu amo a Melissa como se fosse minha filha. Não suportaria perdê-la. Nunca!
ROSANA: - Mas então você não vai contar pra ela a verdade?
SÍLVIA: - Eu não sei... Tenho medo da reação dela, do que possa acontecer... Mas ao mesmo tempo, eu quero sair dessa caixa escura que virou a minha vida! Chega de mentiras!
ROSANA: - Silvinha, Deus deu para cada pessoa um dom e a gente não pode fugir disso... O seu é a covardia. Sempre arredia, diminuída. Sua sina é essa. Não é simplesmente dizer que cansou e pronto, tudo muda. Não é assim. A não ser que você tenha a competência que eu tive para crescer. Aí sim, as coisas funcionam.
SÍLVIA: - Competência? Rosana, tudo o que você tem é graças a mim, ao meu trabalho!
ROSANA: - Não, queridinha! É graças ao meu faro para vencer na vida! De que adianta você ter essas porcarias de desenho e não saber o que fazer com elas? Eu sim, soube e muito bem, aonde isso poderia chegar. E eu, Sílvia, consegui!
SÍLVIA: - Conseguiu mesmo, Rosana? Será que você é tão vencedora assim? Não sabe nem pregar um botão! A sua vida é uma mentira!... Nada mais se surpreende em você, capaz de largar a própria filha para curtir livremente o seu dinheiro. Ou melhor, o dinheiro do Mauro, porque você não tem nada!
ROSANA: - Cala a boca!
SÍLVIA: - Cala a boca você! Farsante!... Eu só vim aqui pra dizer que a sua amiguinha boba, não existe mais. A partir de hoje, eu estou oficializando para todo mundo a parceria com o Júlio e com a Tereza Sampaio.
ROSANA: - Então você está mesmo fazendo parte daquela grife chinfrim! Júlio, Tereza... Aquela brega...
SÍLVIA: - A “brega” que está lançando uma CarioLinda nova, totalmente disposta a atingir grande parte do mercado de moda. E eu estarei presente, desenhando, costurando, dando a cara pra bater. E eu quero ver quem terá coragem de encostar um dedo no meu rosto.
ROSANA: - Se achando tão poderosa assim, Sílvia? Vai fazer isso com que dinheiro? Você não tem onde cair morta... O Laerte é um inválido. E você só faz essas costuras pra vizinha. Ou acha que a CarioLinda vai dar lucro? (ri, debochada) Só a Melissa que pensa pra frente naquela casa... Você só sobrevive por causa da mesada que eu te dou. Aliás, te dava. A partir de hoje, você não tem um tostão meu.
SÍLVIA: - Ótimo, assim ficamos livres uma da outra. Você também não terá ajuda nenhuma da minha parte. (aproxima-se de Rosana) Quero ver como a famosa estilista da Gonzales Fashion se vira. Porque nem você e muito menos a Melissa entende de alguma coisa... O Rio Moda está chegando. Quero ver quem vai vencer mesmo essa guerra.
Sílvia encara Rosana, confiante. Rosana, por sua vez, se mostra um tanto apreensiva e surpresa com a atitude de Sílvia, que vai saindo do ateliê. Rosana a provoca.
ROSANA: - Isso não vai durar muito tempo. Você precisa comer, Sílvia, pagar contas...
SÍLVIA (vira-se para Rosana): - E você precisa aprender a não subestimar as pessoas. Dinheiro acaba, Rosana. Mas quem tem visão e conhecimento, vai além. Muito além!
Sílvia sai. Rosana fica pensativa.
ROSANA: - Melissa... Minha filha... Se depender de mim, essa pirralha nunca vai saber disso. Não posso nem pensar nela me chamando de... mamãe! Eca! Me dá ânsia!...
CENA 06. CASA MARÍLIA. QUARTO AMÁLIA. INT. NOITE.
Amália deitada em sua cama, envolta pelo lençol. Bruno está se vestindo.
AMÁLIA: - A Marília vai ser uma mulher de sorte ficando com você.
BRUNO (sacana): - Gostou?
AMÁLIA: - A melhor transa da minha vida... Ainda bem que, sendo sua amante, vou poder usufruir disso sempre que quiser.
BRUNO: - Você é muito esperta, Amália.
AMÁLIA: - No mundo de hoje, meu querido, quem não for esperto, perde a vez...
BRUNO: - Bom, já vou indo nessa.
AMÁLIA: - Não esquece de falar com a sua loirinha sem sal sobre a gravação com o Fernando.
BRUNO: - Pode deixar que eu cuidarei de tudo. Nada vai dar errado.
AMÁLIA (aproxima-se de Bruno): - Ótimo. E quando o plano for concretizado, quero uma comemoração com tudo o que eu tenho direito.
Amália beija Bruno, calorosamente. Bruno vai embora. Amália deita-se na cama novamente, sorrindo, satisfeita.
CENA 07. MANSÃO LINHARES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
O grupo chega à sala de estar, vindo da sala de jantar.
MARÍLIA: - Gente, o jantar estava maravilhoso, mas eu preciso ir agora.
MARCINHA: - Ah, mesmo Marília? Estava adorando as suas histórias da época de modelo.
MARÍLIA: - Rendem boas risadas, não?
ESTÉR: - Muitas! Um verdadeiro livro de humor!
ORESTES: - Apareça mais vezes, Marília.
FERNANDO: - Pode deixar papai, porque agora que ela está comigo, vai vir aqui quase todos os dias. Senão todos os dias!
MARÍLIA: - Com maior prazer!
Os dois trocam um selinho carinhoso.
FERNANDO: - Eu levo você até em casa.
MARÍLIA: - Obrigada... Meu carro está na oficina.
FERNANDO: - Vamos então?
MARÍLIA: - Vamos sim. Boa noite pessoal. Muito obrigada pela recepção.
Marília e Fernando saem.
ORESTES: - Bela moça o Fernando foi arrumar. É uma mulher decidida, bem intencionada...
MARCINHA: - E linda!
ESTÉR: - E o Fernando está tão feliz!
ORESTES: - O que você achou da sua nova nora, Maria Helena?
MARIA HELENA: - Ela até que é engraçadinha, mas acho que o Fernando merecia coisa melhor.
MARCINHA: - Eu discordo de você, vovó. Acho que meu pai fez uma escolha muito certa.
MARIA HELENA:- Você ainda é nova, Marcinha. Conhece pouco das coisas da vida. Nem tudo o que se vê é o que parece.
ESTÉR: - Esquece, Marcinha. Está na cara que sua avó não gostou dela e nem vai gostar... Eu só espero, Maria Helena, que você não atrapalhe o relacionamento do Fernando como fez quando ele estava com a Raquel. Ele está muito feliz.
MARIA HELENA: - Eu nunca atrapalho nada na vida do seu irmão. Você adora me acusar, não é, Estér? Vive apontando o dedo pra mim.
ORESTES: - Vocês vão discutir de novo? Depois desse jantar animado, em família...
MARIA HELENA: - A sua filha que vive me infernizando, Orestes. Depois a bruxa sou eu, sendo que a aberração é ela!
ESTÉR: - Me respeite, Maria Helena!
MARCINHA: - Gente, não briguem!
MARIA HELENA: - Então se dê o respeito... Eu já suportei muita coisa, mas continuar convivendo com essa lésbica debaixo do mesmo teto já é demais! Já é demais!
Maria Helena sai da sala, apressada, subindo as escadas. Estér baixa o olhar, um tanto envergonhada.
ORESTES: - Minha filha, não fique triste.
ESTÉR: - Eu estou bem, pai. Eu sei que ela já não me suporta pelo fato de não ser filha dela... Agora o preconceito, esse é o mais duro de enfrentar.
MARCINHA: - A vovó não pensa no que fala.
ESTÉR: - Ela pensa sim, Marcinha. Infelizmente, tudo o que sai da boca da Maria Helena, é pensado e falado com objetivos bem diretos e concretos. Ferir os outros. Só isso... Mas ela um dia vai acabar provando do próprio veneno. A vida é assim. Quem planta o bem, colhe o bem. Agora quem planta o rancor, a discórdia...
CENA 08. TRANSIÇÃO DO TEMPO. AMANHECER / ATELIER GF. INT. DIA.
(fade in “Me Segura” – Eduardo Dussek) Imagens do Rio de Janeiro ao amanhecer. Mostra a orla da praia, a Lagoa Rodrigo de Freitas, a Marina da Glória.
Corta para o atelier da Gonzales Fashion. Melissa está na sala de Rosana, fazendo um croqui. (fade out “Me Segura” – Eduardo Dussek) Rosana entra na sala, mas Melissa não percebe. Rosana fica a observar Melissa, desenhando. Rosana lembra da discussão com Sílvia na noite anterior.
FLASHBACK.ATELIER GF. INT. NOITE.
ROSANA: - Lá vem você de novo com essa história infernal... já faz tanto tempo. A pestinha já está acostumada com você sendo mãe dela...
SÍLVIA: - Me dói saber que ela não nasceu de mim.
ROSANA: - Me dói saber que eu pari alguém um dia... Mas como está a garota? Eu praticamente nunca vi nem a cara dela. Nem em fotos quando fui na sua casa.
SÍLVIA: - Ela está bem mais próxima do que você imagina.
ROSANA: - Como assim?
SÍLVIA: - A Melissa, Rosana... A Melissa é a sua filha.
VOLTA À CENA ATUAL.
Melissa percebe Rosana.
MELISSA: - Rosana!
ROSANA: - Chegou cedo hein garota!
MELISSA: - Ficar em casa até tarde pra quê? Esqueceu que o Rio Moda está chegando?... Então eu preparei duas surpresas pra você.
ROSANA: - E onde estão?
MELISSA: - Primeiro, esse meu croqui! Acabei de desenhar!
Melissa mostra o croqui. O desenho é feio.
ROSANA: - Que horror, Melissa! Você está pior do que eu...
MELISSA: - Nossa, valeu pelo apoio... Mas ainda tem a segunda surpresa. Eu fui lá à máquina de costura e fiz um vestido!
Melissa mostra a peça, mal feita, sem formas.
MELISSA: - Se chama Moda em Expressão.
ROSANA: - A expressão é de espanto ao ver isso!... Meu Deus, que coisa horrível! Como é que vamos apresentar algo decente no Rio Moda?
MELISSA: - Eu estou fazendo o que eu posso, Rosana!
ROSANA: - Eu sei, mas não é o suficiente...
MELISSA: - Então me ajuda!...
ROSANA: - Não posso fazer muita coisa. Preciso providenciar minhas coisas para a minha viagem de Nova York.
MELISSA: - Claro! Eu já ia me esquecendo! A nossa viagem!
ROSANA; - Logo depois do Rio Moda.
MELISSA: - Já estou até me vendo, desfilando cheia compras pela Quinta Avenida!
ROSANA: - Só nas maisons, em todas as grifes!... Quer saber, vamos fazendo o que der pra fazer. Rio Moda é coisa pouca pra quem vai ir para Nova York com a possibilidade de ótimos negócios por lá!
MELISSA: - Tá certo. Vou fazer mais coisas lá na máquina.
ROSANA: - E, por favor, passe esse seu croqui e mais outros que você fizer para as costureiras do atelier. Ou melhor, junte com aqueles que você mostrou na seleção.
MELISSA: - Mas eles não são meus.
ROSANA: - E daí, meu amor? A moda não tem dono! A gente precisa é mostrar alguma coisa decente para o Mauro. Faz isso que eu estou falando...
Melissa sai da sala. Rosana senta-se em sua cadeira.
ROSANA: - Nova York... Nova York...
Vitinho entra na sala.
VITINHO: - Bom dia madame! Melissa acabou de passar por mim, animadíssima. Já estão trabalhando para o Rio Moda?
ROSANA: - Já sim. Ela tem talento pra coisa... Eu agora só consigo pensar em Nova York.
VITINHO: - É mesmo, madame! A nossa viagem! Já está chegando perto! Preciso organizar minhas coisas... Mas, madame, mudando um pouco de assunto... Que fim levou aquela história do incêndio?
ROSANA: - Por que está me perguntando isso?
VITINHO: - Curiosidade apenas.
ROSANA: - Ah, não deu em nada. Pelo menos para nós, porque eles perderam tudo. Graças a Deus! Ninguém vai me derrubar, Vitinho. Ninguém.
(fade in “Me Segura” – Eduardo Dussek)
CENA 09. CASA SÍLVIA. QUARTO. / SALA. INT. DIA.
(fade out “Me Segura” – Eduardo Dussek / (fade in “Dura na Queda” – Elza Soares) CAM foca na cama de Sílvia, cheia de roupas, vestidos espalhados sobre ela. Uma mão feminina pega um vestido.
Corta para Sílvia em frente ao espelho, usando o vestido. A peça decotada, a deixa com “ar” determinado. Sílvia se olha, se encara diante do espelho.
SÍLVIA (confiante): - Uma nova mulher. A partir de hoje, uma nova mulher.
Sílvia sai do quarto, chega à sala. Laerte está sentado à mesa, lendo jornal, quando se surpreende com Sílvia, bem produzida.
LAERTE: - Silvinha!
SÍLVIA: - O que foi, Laerte? Não gostou do vestido?
LAERTE: - Gostei... Eu gostei de tudo. Você está lindíssima!
SÍLVIA: - Obrigada!...
LAERTE: - Melissa já saiu. Cedo por sinal.
SÍLVIA: - É, eu vi. O quarto dela está uma bagunça. Ela acha que vai ficar assim agora, não vai não.
LAERTE: - Desculpa perguntar, meu amor, mas por que isso tudo?
SÍLVIA: - Isso tudo o quê?
LAERTE: - Essa roupa, o cabelo, a maquiagem... Por que essa mudança agora, de uma hora para outra?
SÍLVIA: - Porque eu renasci, Laerte. A partir de hoje, eu sou uma nova mulher. (pega sua bolsa) Estou indo encontrar o Júlio e a Tereza. Preciso ter uma conversa séria com eles.
LAERTE: - Vai deixar a CarioLinda?
SÍLVIA: - Por mais que esse seja o seu maior desejo, Laerte, infelizmente ele não vai se realizar. Aliás, eu estou muito decepcionada com você por conta disso. Você prometeu!
LAERTE: - Eu prometi te fazer feliz e essa sua aproximação com o Júlio não vai trazer felicidade nenhuma!
SÍLVIA: - Você não pode decidir as coisas por mim, Laerte! Eu sei cuidar da minha vida!... (saindo) Não quero discutir com você. Não hoje.
Sílvia sai. Laerte joga o jornal no chão, irritado. De repente, seu telefone anuncia um SMS. Laerte lê.
LAERTE (lendo SMS): - “E então, meu tigrão? Tudo em cima pra hoje à noite? Estou te esperando. Beijo! Karina”. Ah, Karina... Só você mesmo pra aliviar meu estresse...
Laerte deixa o telefone sobre a mesa e sai da sala. Em seguida, Sílvia retorna, entra em casa.
SÍLVIA: - Esqueci meu telefone.
Sílvia pega o telefone no sofá e quando vai saindo, o celular de Laerte, sobre a mesa, apita novamente. Sílvia vê o sinal de SMS.
SÍLVIA: - Aposto que deve ser a Melissa querendo cobertura do pai dela pra alguma coisa.
Sílvia abre o SMS e se surpreende.
SÍLVIA (lendo SMS): - “Hoje eu estou mais linda do que nunca, só pra você. Não esquece.”
Sílvia abre a outra mensagem e se choca. Em seguida, Laerte chega à sala.
LAERTE: - O que você está fazendo com o meu celular?
SÍLVIA: - Você está me traindo com a Karina, Laerte?
Os dois ficam a se encarar.
SÍLVIA: - Fala, seu cachorro!
CENA 10. CASA TEREZA. SALA. INT. DIA.
Tereza e Júlio conversam na sala.
TEREZA: - A Sílvia ficou de vir aqui em casa para a gente ter uma conversa definitiva.
JÚLIO: - Você encontrou ela agora de manhã?
TEREZA: - Ela me ligou mais cedo. Estava tão decidida.
JÚLIO: - Bom, vamos aguardar então... Tereza, sobre ontem, eu (pausa)
TEREZA: - Não precisa dizer nada não, Júlio. Eu sei que você está balançado e eu não quero forçar nada. Embora o que eu sinta por você seja puro, forte e verdadeiro.
JÚLIO: - Obrigado, mais uma vez, agora pela sua compreensão. Não quero estragar a relação que a gente tem.
TEREZA: - Você precisa ser justo com o seu coração, Júlio. Sempre.
Os dois sorriem, um para o outro.
JÚLIO: - Vamos lá ao quintal, dar um jeito nas máquinas de costura?
TEREZA: - Vamos! Já quero começar a tirar algumas peças do papel.
Os dois saem, contentes.
CENA 11. CASA SÍLVIA. SALA. INT. DIA.
Sílvia e Laerte discutem.
LAERTE: - Você nunca falou assim comigo, Silvinha.
SÍLVIA: - Responde o que eu te perguntei, Laerte. Você está mesmo tendo um caso com a Karina?
Laerte pega o celular das mãos de Sílvia.
LAERTE: - Você não tem o direito de mexer nas minhas coisas.
SÍLVIA: - Eu não posso acreditar que você tenha feito isso comigo...
LAERTE: - Eu não te traí com a Karina... A gente nunca foi pra cama. Só (pausa)
SÍLVIA: - Só...?
LAERTE: - Só uns beijos, uns pegas, mas coisa sem importância, Sílvia. Vai implicar com isso agora?
SÍLVIA: - Você está ficando louco? Só uns pegas, coisa sem importância... Você é um canalha, Laerte! Não me interessa se não foi pra cama com ela, mas você a beijou, desejou aquela garota! E pelo visto, continua desejando, porque essas mensagens aqui dizem tudo!
LAERTE: - Olha só, Sílvia, esquece essas mensagens. Foi só um errinho meu, nada mais. Eu suportei o fato de você amar outro homem durante todos esses anos e você vai surtar por causa dessas mensagens?
SÍLVIA: - Eu me nego a acreditar que você esteja me dizendo isso? Eu nunca traí você!
LAERTE: - Mas também nunca me amou! Eu sim. Eu sempre te amei Sílvia.
SÍLVIA: - Ah, claro! Sempre me amou. Me traindo com a filha da nossa amiga! Que jeito mais puro de amar, hein, Laerte?
LAERTE: - Está debochando de mim?
SÍLVIA: - Estou debochando dessa nossa vida! Desses mais de vinte anos em que a gente esteve junto e... E olha só aonde a gente chegou! Eu cansei, Laerte. Eu cansei.
LAERTE: - O que você quer dizer com isso?
SÍLVIA: - Eu quero me separar de você.
Laerte se surpreende com Sílvia.
LAERTE: - Como é que é?
SÍLVIA: - A gente não pode mais ficar como está. Eu quero a separação, Laerte. É o fim.
LAERTE: - Silvinha, por favor, pensa bem! Vai acabar com mais de vinte anos de união por causa dessa bobagem?
SÍLVIA: - Essa bobagem foi a gota d’água, Laerte. E você sabe disso... Muita coisa aconteceu. A gente está tendo visões diferentes da nossa relação. Visões essas que não vamos conseguir mudar um no outro. O melhor que a gente tem a fazer agora é se separar...
Laerte se senta no sofá, cabisbaixo. Sílvia contém as lágrimas.
SÍLVIA: - Eu vou sair e volto mais tarde... Gostaria que, se possível, você já não estivesse mais aqui.
LAERTE: - Sílvia, eu (pausa)
SÍLVIA: - Por favor, Laerte. Só faça o que eu estou te pedindo.
LAERTE: - E a Melissa?
SÍLVIA: - Eu converso com ela quando ela voltar... Adeus.
Sílvia sai de casa. Laerte contém as lágrimas, entristecido.
CENA 12. APTO VALQUÍRIA. INT. DIA.
(sobe trilha “À Francesa” – Marina Lima) Valquíria pinta umas telas em sua sala de pintura. O pequeno atelier já tem outras telas pelas paredes e algumas em cavaletes. Todas as telas têm predomínio de cores fortes (vermelho, laranja, amarelo). Figuras humanas e corações fazem parte das composições dos quadros. (fade out trilha “À Francesa” – Marina Lima)
Valquíria está concentrada, pintando, quando Bruno entra no local.
BRUNO: - Como vai a minha artista preferida?
VALQUÍRIA (surpresa/feliz): - Bruno!
BRUNO: - Por que a surpresa?
VALQUÍRIA: - Você nunca entra aqui. E agora chega cheio de carinhos...
BRUNO (abraçando Valquíria pro trás): - É que hoje eu acordei com saudade de você, sabia?
VALQUÍRIA: - É mesmo, meu amor? (vira-se de frente para Bruno) Verdade?
BRUNO: - E eu alguma vez menti para você, Valquíria? Eu amo você, minha linda.
Bruno beija Valquíria, que se deixa levar.
VALQUIRIA: - Você não sabe o quão maravilhoso é ouvir isso, da sua boca...
BRUNO: - E esses quadros, que lindos!
VALQUÍRIA: - Você gostou? São para a exposição.
BRUNO: - Pois então, tenho ótimas notícias. Aquela galeria que você me mostrou outro dia lembra? Entrei em contato com eles e é só reservar a data.
VALQUÍRIA: - Não acredito! É fantástico amor!
BRUNO: - Sabia que você iria gostar... Mas assim, eu preciso que você também me ajude numa coisa.
VALQUÍRIA: - Que coisa? Fala! Faço tudo por você, meu amor!
BRUNO: - Eu preciso que você faça uma gravação de uma conversa sua com o Fernando.
VALQUÍRIA (confusa): - Pra quê?
BRUNO: - Um lance de marketing. Na verdade, é uma surpresa para ele, e sendo assim, ele não pode saber. Estou reunido com um grupo de empresários e estamos disputando uma pasta de publicidade para a Áurea. Queremos fazer uma campanha sensacional para a empresa.
VALQUÍRIA: - Não sabia desse seu gosto pela publicidade.
BRUNO: - Eu sempre gostei. Você é que nunca reparou... Mas então, eu preciso dessa gravação, onde a conversa deve ser bem descontraída, sobre qualquer coisa, mas principalmente, sobre a vida pessoal dele, vida amorosa...
VALQUÍRIA: - Ai Bruno, que ideia mais maluca essa! Vocês não têm outra forma de fazer essa campanha não? Um plano B?
BRUNO: - Valquíria, por favor, meu amor... Você é amiga dele e é a minha única chance... Você sabe que eu estou batalhando muito para crescer. Não quero viver a vida toda sendo sustentado por você. Quero crescer junto com você, lado a lado.
VALQUÍRIA: - Quer mesmo, amor, crescer comigo? Juntinhos, pra sempre?
BRUNO: - Juntinhos para sempre!... Então, vai me ajudar?
VALQUÍRIA: - Pra quando você precisa dessa gravação?
BRUNO: - O quanto antes, minha linda!
VALQUÍRIA: - Pode deixar comigo que eu consigo essa gravação para você.
BRUNO: - É por isso que eu amo você!
Bruno beija Valquíria novamente. Em seguida, eles se abraçam. Valquíria feliz, enquanto Bruno com expressão fria.
CENA 13. ATELIER GF. EXT. DIA.
Melissa vai saindo do atelier da GF quando é abordada por Duda.
DUDA: - Há essa hora já encerrou o expediente, Melissa?
MELISSA (surpresa): - Duda? Você aqui de novo?... Eu já falei pra você que não tenho nada mais para (pausa)
Duda não deixa Melissa concluir e acerta um tapa no rosto da garota.
MELISSA: - Sua louca!
DUDA: - Se você acha que vai se dar bem nessa história, está muito enganada, Melissa.
MELISSA: - Me deixa em paz, garota!
DUDA: - Só vou deixar você em paz depois que estapear bem essa sua cara! Sua ladra, falsa!
Duda acerta outro tapa em Melissa. Em seguida, as duas estão agarradas, uma no cabelo da outra, entre tapas e empurrões, caindo na calçada.
Vitinho e Gilson chegam para separar às duas. Vitinho segura Melissa, enquanto Gilson afasta Duda.
VITINHO: - O que está acontecendo aqui? MMA em plena calçada?!
MELISSA: - Essa louca aí me atacou!
VITINHO: - Você de novo, garota?
DUDA: - Essa daí roubou o meu lugar! Ela é uma falsa!
GILSON: - Do que você está falando, menina?
MELISSA: - Não dá bola pra ela, Gilson! Ela está atrás de mim há dias, desde que perdeu a vaga na seleção para mim. Isso é coisa de recalcada.
DUDA: - Recalcada é você!
Duda consegue escapar de Gilson e acerta outro tapa em Melissa. Gilson segura Duda a afasta.
GILSON: - Chega de briga! Vá pra casa, menina! Onde já se viu, ficar se estapeando desse jeito!
DUDA: - A gente ainda vai se encontrar, Melissa. Você vai ver!
Duda se afasta, vai embora.
VITINHO: - Gente, essa garota estava possuída, cega de ódio!
MELISSA (fingindo): - E eu nunca fiz nada para ela! Que culpa eu tenho de ter sido melhor do que ela? (chora)
GILSON (abraça Melissa): - Não fica assim, Melissa... Você já está indo embora? Quer uma carona?
MELISSA: - Não Gilson, obrigada... Eu posso ir sozinha.
VITINHO: - Não é perigoso? Vai que essa louca esteja por aí, esperando você ficar sozinha novamente?
GILSON: - O Vitinho tem razão. Eu levo você.
MELISSA: - Obrigada...
GILSON: - Espera aqui enquanto eu pego o carro. (sai)
VITINHO: - Enquanto isso, eu vou dar uma passada no shopping. Preciso comprar uma mala nova para a viagem... Nova York aí vou eu!... Preciso comprar uma para a Aline também. Fui!
Vitinho sai. Melissa aguarda Gilson, com um sorriso cínico.
MELISSA: - Vai pro inferno, Duda...
CENA 14. RESTAURANTE PRATO CHEIO. INT. DIA.
O restaurante está com bom movimento. Durval recepciona os clientes na porta do local. Sílvia se aproxima.
DURVAL: - Olá! Seja bem-vinda ao Prato Cheio!
SÍLVIA: - Obrigada... Por favor, a Karina se encontra?
DURVAL: - Karina? Claro...
Durval faz sinal para Heloísa, que se aproxima.
HELOÍSA: - O que foi Durvalzinho?
DURVAL: - Essa moça quer falar com a Karina.
HELOÍSA: - Ela tá lá dentro. Vem comigo.
SÍLVIA: - Com licença.
DURVAL: - Fique à vontade.
Heloísa leva Sílvia até Karina, numa área reservada a fumantes. Karina organizava as mesas no local.
HELOÍSA: - Karina, essa senhora quer falar com você.
KARINA: - Sílvia!
SÍLVIA: - Será que a gente pode conversar?
KARINA: - Claro... Obrigada, Heloísa!
Heloísa olha Sílvia dos pés a cabeça e sai. Sílvia se aproxima de Karina.
KARINA: - Surpresa ver você aqui no restaurante.
SÍLVIA: - É, eu precisava falar com você.
KARINA: - Claro, sobre o que seria?
SÍLVIA: - Antes de eu dizer sobre o que é, eu preciso te dar uma coisa.
Sílvia acerta um tapa no rosto de Karina. Surpresa, Karina leva a mão no rosto, encara Sílvia.
SÍLVIA: - Você deveria era ter respeito pela amizade que eu tenho com os seus pais. Respeito pelo carinho como eu sempre te tratei até então.
KARINA: - Sílvia, eu não estou entendo (pausa)
SÍLVIA (interrompe/firme): - Cala a boca. Eu estou falando agora.
Karina se cala.
SÍLVIA: - Eu vi a mensagem que você mandou para o Laerte hoje. Quanta vulgaridade... Quanta falta de amor próprio, se envolvendo com homem casado.
KARINA: - Foi ele quem começou essa história toda. Eu nunca quis nada com ele.
SÍLVIA: - Não pareceu, pela mensagem que eu li... Mas olha só, Karina, eu só vim para dizer pra você tomar um jeito na vida. Seja uma mulher de verdade... Você é tão nova, tão jovem ainda... Não merece se sujeitar a tudo isso.
KARINA: - Por favor, Silvia, não conta para os meus pais!
SÍLVIA: - Isso seria uma dor terrível para eles. Não se preocupe, eu não vou contar. Mesmo que você mereça todas as broncas e descrenças que merece... Bem, já falei o que tinha pra falar. A partir de agora, só dirija a palavra a mim quando necessário. E por favor, se possível, se afasta da Melissa tá? Não quero esse exemplo para minha filha.
Sílvia vai embora. Karina fica pensativa. Uma lágrima cai de seu rosto, ela enxuga rápido. Volta a arrumar as mesas. De repente, alguém chega à área reservada.
KARINA: - Olha só, se você voltou para (para, olha) Sandra?
SANDRA: - Karina, o que aconteceu?! (se aproxima) Está com uma carinha tão triste!
KARINA: - Andei enfrentando alguns problemas...
SANDRA: - Não fique assim, menina... (senta-se com Karina em uma das mesas) O que foi que te deixou desse jeito?
KARINA: - Esses falsos caminhos por onde a gente passa, sabe? A gente acha que tá certa e acaba fazendo coisa errada.
SANDRA: - Sei bem como é... Mas não fica assim. Se a gente erra pensando em fazer o bem, a gente conserta fácil fácil...
Karina esboça um sorriso.
SANDRA: - Agora é a minha vez de te consolar. Você fez isso comigo outro dia aqui no restaurante.
KARINA: - É verdade...
SANDRA: - Que horas você sai para o intervalo?
KARINA: - Eu já vou pra casa daqui a pouco.
SANDRA: - Aceita um café comigo, pra gente conversar?
KARINA: - Claro.
As duas sorriem.
CENA 15. ESCRITÓRIO ADÔNIS. INT. DIA.
Renato está trabalhando em sua mesa quando avista Ivan entrar no escritório.
RENATO: - Essa não...
Ivan fala com a recepcionista quando Renato se aproxima.
IVAN: - Renato! Era com você mesmo que eu queria falar. Entrei em contato com a Geórgia, mas ela disse que estava cheia de serviço na empresa. Então ela pediu para vir até aqui.
RENATO: - Para?
IVAN: - Trazer as fotos do book da Lagoa. Ela pediu para você escolher.
RENATO: - A Geórgia só pode estar louca. Agora é meu horário de trabalho.
IVAN: - É rapidinho, Renato. Vamos...
RENATO: - Tá certo. Vamos até o corredor ali fora.
Corta para o corredor do prédio, que dá para o escritório. Numa parte, onde há um banco, estão sentados apenas Renato e Ivan. O local está praticamente vazio. Renato olha algumas fotos.
IVAN: - E então, o que achou?
RENATO: - As fotos estão lindas! É difícil mesmo escolher...
IVAN: - Eu gostei dessa daqui.
Ivan mostra uma foto onde Geórgia olha para o céu, enquanto Renato encara a câmera com um sorriso.
IVAN: - Sua expressão de felicidade está nítida nessa foto. Você encarando a lente, sem medo.
RENATO: - Encarar a lente sem medo é um verdadeiro desafio.
IVAN: - Você é um dos poucos que conseguem... Encarar a lente, o que vier.
RENATO: - Eu estou tentando encarar muitas coisas agora... Coisas que eu não tenho controle. Coisas que brotam do meu peito, ou da minha cabeça, da minha imaginação.
IVAN: - Do sentimento... Quem sabe não está na hora de encarar mesmo, de frente, tudo isso?
Renato e Ivan ficam a se olhar, frente a frente. De repente, se aproximam e se beijam.
CENA 16. AVENIDA. EXT. / CARRO. INT. DIA.
Sílvia caminha distraída, pensativa, em direção à avenida para atravessar a rua.
SÍLVIA (apenas voz): - Briga com o Júlio, traição do Laerte. A Melissa junto com a Rosana. A minha vida de cabeça pra baixo...
Enquanto isso, em seu carro, Marília vai falando ao celular.
MARÍLIA (ao telefone): - Sim, Paula, eu já estou chegando aí na agência. Diz pro Fábio me esperar. Eu demorei porque peguei o carro na oficina...
Sílvia nem percebe o sinal fechado para pedestres e vai atravessando a rua. Marília vai se aproximando, dirigindo seu carro. Marília vê Sílvia atravessando a rua e buzina, tentando brecar o veículo.
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