SÍLVIA (apenas voz): - Briga com o Júlio, traição do Laerte. A Melissa junto com a Rosana. A minha vida de cabeça pra baixo...
Enquanto isso, em seu carro, Marília vai falando ao celular.
MARÍLIA (ao telefone): - Sim, Paula, eu já estou chegando aí na agência. Diz pro Fábio me esperar. Eu demorei porque peguei o carro na oficina...
Sílvia nem percebe o sinal fechado para pedestres e vai atravessando a rua. Marília vai se aproximando, dirigindo seu carro. Marília vê Sílvia atravessando a rua e buzina, tentando brecar o veículo.
CENA 01. AVENIDA. EXT. DIA.
Continuação do capítulo anterior. Marília vai se aproximando, dirigindo seu carro. Sílvia atravessa rua sem perceber o sinal fechado para pedestres. Marília vê Sílvia atravessando a rua e buzina, tentando brecar o veículo. Sílvia se assusta e cai. Marília para o carro e desce apressada, aflita.
MARÍLIA: - Meu Deus! Você está bem? (ajudando Sílvia)
Algumas param em volta, outros carros buzinam.
SÍLVIA (confusa): - Eu não sei, mas acho que sim...
MARÍLIA: - Precisa prestar mais atenção! O sinal estava fechado para você.
SÍLVIA: - É mesmo? Eu nem percebi... Nossa, tanta coisa acontecendo em minha volta.
MARÍLIA: - Vem, vou te levar para um hospital.
SÍLVIA: - Não, não precisa. Eu estou bem.
MARÍLIA: - Tem certeza?
SÍLVIA: - Tenho sim, não precisa se preocupar. E agora eu nem tenho tempo para ficar em hospital. Preciso resolver uns assuntos urgentes da grife para o Rio Moda.
MARÍLIA: - Grife?
SÍLVIA: - É... Eu sou estilista da CarioLinda.
MARÍLIA: - Nossa, que coincidência. Minha mãe era fã da marca... Pensei que a grife tivesse acabado.
SÍLVIA: - E acabou, por um tempo. Agora estamos retornando. Eu, Tereza e Júlio.
MARÍLIA: - Tereza Sampaio, grande ícone da moda carioca.
SÍLVIA: - Conhece Tereza?
MARÍLIA: - E quem não conhece?... Prazer, eu me chamo Marília Pereira.
SÍLVIA: - Sílvia Cardoso.
As duas se cumprimentam. O celular de Marília toca.
MARÍLIA (ao celular): - Alô! (pausa) Oi Paula... (pausa) Não, está tudo bem. Já já eu estou chegando. E olha só, vou levar visita. (pausa) Tá certo, beijo. (desliga) Vem, Sílvia, vem comigo.
SÍLVIA: - Mas pra onde?
MARÍLIA: - Lá para a minha agência! Você falou algo sobre o Rio Moda... Então, se a CarioLinda vai participar, tenho modelos ótimas para o desfile. Vem!
SÍLVIA: - Tudo bem, mas eu não posso demorar muito não...
MARÍLIA: - Não se preocupa... No caminho você vai me falando sobre esse retorno da CarioLinda para o cenário da moda carioca.
Sílvia entra no carro com Marília e as duas saem.
CENA 02. ESCOLA DE DANÇA CORPO E ALMA. INT. DIA.
(fade in “Talismã” – Paulinho da Viola) Raquel dá aula para André na escola de dança. Os dois dançam juntos ao som do samba.
Marcinha visita a escola de surpresa. Chega à sala de dança e fica a observar Raquel e André dançando. Marcinha sorri, acha legal.
A música termina (fade out trilha). André e Raquel um tanto cansados. Marcinha aplaude.
MARCINHA: - Gente, que lindos! Quem me dera saber dançar assim.
ANDRÉ: - Você tem uma professora particular, Marcinha, e não sabe dançar?
MARCINHA: - Já ouviu aquele ditado “em casa de ferreiro, espeto é de pau”? (risos) Minha mãe não me doou nem um pouquinho do talento para a dança.
RAQUEL: - Mas doei o melhor da minha beleza. (risos)
MARCINHA: - Convencida! (abraça Raquel)
RAQUEL: - Surpresa boa ver você aqui. Pensei que estaria na empresa. Não era hoje que ia acompanhar o trabalho da sua tia, Estér?
MARCINHA: - Sim, eu vou pra lá daqui a pouco. Só passei para te dar um beijo. Faz tempo que a gente não se vê.
ANDRÉ: - Falando em tempo, eu vou indo nessa. Raquel valeu pelas dicas!
RAQUEL: - De nada, André! Até a próxima!
André se despede de Marcinha e sai.
RAQUEL: - Ele é um ótimo dançarino. Pena os pais não incentivarem esse talento nele... Mas então, filha, como tem passado?
MARCINHA: - Tudo bem. Empolgada com essa possibilidade de ingressar na Áurea... Papai está contente também. Aliás, ele anda numa felicidade só.
RAQUEL: - É mesmo? Também pudera, a empresa da família e agora você também entrando.
MARCINHA: - Sim, mas ele não está feliz só por isso, mamãe. Ele está perdidamente apaixonado pela Marília.
Raquel muda expressão.
RAQUEL: - Ah, a Marília... Aquela ex-modelo, não é?
MARCINHA: - Sim. Ontem ela foi jantar lá em casa, apresentada para toda a família. E pra variar, a vovó não foi muito com a cara dela.
RAQUEL: - Seria um milagre se sua avó gostasse de alguém...
MARCINHA: - Mas a Marília é muito legal! Ela é tia do Pedro, meu amigo que chegou à turma agora. Ela contou cada história da época de modelo, morou na Europa por anos!
RAQUEL: - Você aprova o namoro dela com o seu pai?
MARCINHA: - Se ele está feliz e ela é uma pessoa bacana, eu aprovo sim. Por que não aprovaria?
RAQUEL: - Tem razão...
CENA 03. PRÉDIO. CORREDOR. INT. DIA.
Renato e Ivan estão aos beijos, quando Renato empurra Ivan e se afasta, rapidamente.
IVAN: - Renato, eu (pausa)
RENATO (interrompe/nervoso): - Droga! Isso não era para ter acontecido, não era!
IVAN: - Calma, Renato. Foi só um beijo.
RENATO: - Só um beijo? Eu beijei outro homem na boca! Eu estou prestes a me casar com uma mulher!... Será que você não entende isso?
IVAN: - Eu sei que você deve estar confuso, mas procura se acalmar. Coloque a cabeça no lugar... Eu não quis forçar nada, ta? Mas não vou negar que eu gostei do seu beijo.
RENATO: - É difícil pra mim, mas eu também gostei do beijo.
Ivan se mostra surpreso, esboça um sorriso. Os dois ficam a se encarar.
RENATO: - E agora, o que a gente faz?
IVAN: - A gente se encontra mais tarde. Não dá pra ficar reprimindo esse sentimento... Tem meu telefone, não tem?
RENATO: - Acho que tenho sim.
IVAN: - Me liga, a gente marca... Hoje à noite, ok?
Ivan deixa as fotos no banco e sai. Renato fica a observá-lo ir embora. Depois, pega as fotos e volta para o escritório.
CENA 04. HOTEL LUXO. QUARTO. INT. DIA.
Diogo e Lígia conversam no quarto do hotel. Ele, jogado no sofá. Ela, penteando os cabelos em frente ao espelho.
DIOGO: - Então hoje não vai ter programa?
LÍGIA: - Vai sim, queridinho...
DIOGO: - É bom, porque eu pedi para sair mais cedo do serviço hoje.
LÍGIA: - Mas o programa não será agora não. Eu preciso de você hoje, mas não na minha cama.
DIOGO: - E pra quê então?
LÍGIA: - Eu tenho um evento do Grupo das Gérberas hoje à noite e quero que você me acompanhe.
DIOGO: - Grupo das Gérberas? Nunca ouvi falar.
LÍGIA: - É um grupo da alta sociedade do eixo Rio-São Paulo. Fazem eventos beneficentes, promoções. Vai ser bom pra você conhecer gente influente, pessoas que podem abrir muitas portas.
DIOGO: - E eu serei o único jovem nessa atividade pelo visto.
LÍGIA: - Claro que não! (risos) Sempre há alguns jovens, tanto moças quanto rapazes. (aproxima-se dele) Você não vai se sentir um peixe fora d’água, até porque, eu vou estar o tempo todo com você. (beija Diogo)
DIOGO: - Taí, gostei... Mas será que não vão estranhar em ver você comigo? Sei lá, as pessoas comentam.
LÍGIA: - E daí? Ninguém tem nada a ver com a minha vida, Diogo. Não se preocupe com os comentários. Todo mundo que está lá tem alguma coisa para esconder. Eu serei o contrário. Irei mostrar para todos que estamos juntos.
Lígia pega sua bolsa.
LÍGIA: - Então agora nós vamos ao shopping, comprar um vestido para mim e uma roupa bem bonita pra você usar.
DIOGO: - E onde vai ser esse evento?
LÍGIA: - Copacabana Palace. Já foi?
DIOGO: - Nunca!
LÍGIA: - Você vai gostar. É um local muito agradável. Vamos?
Diogo se levanta, oferece o braço para Lígia. Ela aceita e os dois saem do quarto.
CENA 05. AGÊNCIA CLASSIC MODELS. SALA MARÍLIA. INT. DIA.
Fábio e Paula conversam na sala de Marília.
PAULA: - E então, Fábio, já está adaptado à vida carioca?
FÁBIO: - Nada melhor do que voltar para sua terra, Paula... O Rio é um verdadeiro paraíso. Graças a Deus meu apê ta pronto, mobília nova, tudo como eu quis, na hora certa... Falando em hora, Marília hoje se passou hein? Desse jeito vamos fazer a seleção dos modelos à noite!
PAULA: - Pois é, que estranho. Eu liguei pra ela e ela disse que já estava vindo e que estava trazendo visita...
FÁBIO: - Quem será?
PAULA: - Ela não disse...
Nesse instante, Marília chega à sala com Sílvia.
FÁBIO: - Já ia acionar o BOPE pra ir atrás de você, Marília. Pediu pra sair é?
MARÍLIA: - Nunca, meu amigo! Missão dada é missão cumprida!... Gente, acontece que no meio do caminho aconteceu, digamos que um ótimo acidente.
PAULA: - Como assim um ótimo acidente?!
MARÍLIA: - Essa aqui é a Sílvia Cardoso, estilista da CarioLinda e que quase foi atropelada por mim! (risos)
SÍLVIA: - Mas está tudo bem. Não foi nada de grave... (risos)
FÁBIO: - Nossa! Por isso essa demora toda então!
MARÍLIA: - Sim, mas como eu falei, foi um ótimo acidente. A CarioLinda vai retornar com tudo no Rio Moda e a Sílvia aceitou fazer uma parceria com os nossos modelos para o desfile da grife.
FÁBIO: - Mas que ótima notícia! Saiba, Sílvia, que está firmando parceria com a melhor agência do eixo Rio-São Paulo, o que vai dar um up grade daqueles no desfile da CarioLinda.
SÍLVIA: - A Marília me falou sobre o trabalho de vocês. Eu fiquei encantada. E tudo o que a CarioLinda precisa agora é de parceiros fortes, de credibilidade.
PAULA (a Sílvia): - Você aceita uma água, um café?
SÍLVIA: - Uma água, por favor.
MARÍLIA: - Pra mim também, Paula.
Paula sai da sala.
FÁBIO: - A Paula já deixou o material dos modelos aqui na sua mesa para a gente fazer a seleção.
MARÍLIA: - Ótimo. Acho que a Sílvia pode opinar sobre quem ela quer que desfile pela marca.
SÍLVIA: - Eu?!
MARÍLIA: - Sim, você escolhe aqueles que melhor vão transmitir a imagem da marca.
FÁBIO: - Não precisa se apavorar, a gente te ajuda.
Paula retorna com a água, repassa para Marília e Sílvia.
PAULA: - Mais alguma coisa?
MARÍLIA: - Sua presença aqui na mesa com a gente. Vem!
Os quatro sentam-se à mesa e começam a analisar o material dos modelos para os desfiles. (sobe trilha “The Beat Goes on” – Bob Sinclair)
CENA 06. EMPRESA ÁUREA CALÇADOS. SALA FERNANDO. INT. DIA.
(fade out trilha “The Beat Goes on” – Bob Sinclair) Fernando está em sua sala trabalhando, quando o telefone em sua mesa toca.
FERNANDO (ao telefone): Sim? (pausa) Valquíria? (pausa) Claro, pode passar. (desliga)
Dá um tempo e Valquíria entra na sala. Fernando vai recebê-la.
FERNANDO: - Valquíria, que surpresa você aqui na Áurea... Veio falar com a Estér?
VALQUÍRIA: - Não, Fernando... Era com você mesmo. Na verdade, eu quero fazer uma nova exposição, estou buscando inspiração na indústria...
FERNANDO: - Que maravilha! E em que eu posso te ajudar?
VALQUÍRIA: - Depois eu quero fazer um passeio pela fábrica, pegar a parte de produção dos calçados, os empregados... Mas antes eu quero só uma conversa, pra distrair, me inspirar.
FERNANDO: - Ótimo! Café, água?
VALQUÍRIA; - Um cafezinho...
Fernando fala com a secretária por telefone, enquanto Valquíria liga o gravador.
FERNANDO: - Pronto.
VALQUÍRIA: - Você está mais bonito, Fernando, com todo respeito... É a nova namorada que está te deixando assim?
FERNANDO: - A Marília? Ela está me deixando cada vez mais feliz! (sorri)
VALQUÍRIA: - Estou vendo... Eu não via você assim desde... deixa eu lembrar... Da Heleninha, da faculdade, lembra?! (risos)
FERNANDO: - Nossa, você desencavou! (risos) Não, foi só uma aventura. A Heleninha era maluca demais.
VALQUÍRIA: - Contraste totalmente diferente da Raquel... Sabe que cheguei a jurar que ainda existisse amor entre vocês...
FERNANDO: - Amor não existe, só gratidão. Lógico, eu gosto muito da Raquel, é uma ótima mãe para a Marcinha. Mas aquele amor mesmo não tem nada não.
VALQUÍRIA: - Sei que ela foi uma grande companheira, até quando você estava solteiro. Raquel e o apartamento em Copacabana, os momentos de ficar sozinho...
FERNANDO: - É, foram épocas de dureza. O apartamento até me ajudou quando eu estava na pior, mas passou.
VALQUÍRIA: - E porque não continuou com o futebol? Era pelo menos um momento de alegria.
FERNANDO: - Muito compromisso... Aquela turma queria ser profissional e eu não estava interessado. Sabe como eu sou...
VALQUÍRIA: - Sei sim... Tudo no seu tempo, no seu modo.
FERNANDO: - Então. Futebol eu não quero mais, só brinco às vezes. Agora, raramente, eu pratico tênis. Me deixa leve.
A secretária (por volta dos 25 anos, trajando terno feminino preto e blusa branca, cabelos escuros, presos com um rabo de cavalo) entra na sala trazendo o café. Valquíria recusa, dando a desculpa de que precisa ir.
FERNANDO: - E a visita pela empresa?
VALQUÍRIA: - Ai, Fernando, sabe como eu sou louca, não é? Acabei ficando de conversa e esqueci que tinha uma consulta médica. (saindo) Eu passo aqui outra hora. Foi ótimo conversar com você!
Valquíria vai embora. Fernando sorri, pensativo.
CENA 07. CASA TEREZA. QUINTAL. EXT. DIA.
Sílvia chega com Marília na casa de Tereza. Júlio e Tereza estão reunidos com Janice outras costureiras (umas 4). Júlio vê Sílvia chegar.
JÚLIO (a Tereza): - A Sílvia chegou. Está acompanhada.
TEREZA: - Podemos retomar a reunião em outro momento.
JÚLIO (as demais): - Gente, mais tarde continuamos.
JANICE: - Tá certo... Meninas vamos voltar para as costuras. Temos muito o que fazer ainda para o desfile!
Janice e as costureiras se voltam para as máquinas de costura espalhadas pelo quintal da casa. Tereza e Júlio vão ao encontro de Sílvia e Marília.
TEREZA: - Como vai, Sílvia?
SÍLVIA: - Tudo bem, Tereza. Melhor, impossível!... E você, Júlio, como está?
JÚLIO: - Me recuperando aos poucos depois de tudo o que eu descobri...
MARÍLIA (surpresa): - Júlio?!
JÚLIO: - Sim?
TEREZA: - Vocês se conhecem?
MARÍLIA: - Meu Deus, não posso acreditar que o empresário que a Sílvia estava elogiando é você, assassino!
Sílvia e Tereza ficam surpresas com a reação de Marília.
JÚLIO: - Você é... (pausa)
MARÍLIA (interrompe): - Marília Pereira, a sobrevivente do acidente que você provocou há mais de vinte anos. Eu sou a viúva de Gustavo Caetano, o empresário que você matou por causa da sua irresponsabilidade!
SÍLVIA: - Calma, Marília!
JÚLIO: - Eu não tive culpa de nada! Eu paguei na cadeia por um crime que eu não cometi!
MARÍLIA: - Como não? Era você que estava no volante naquele acidente. Foi você que jogou o carro na nossa direção! (chora)
TEREZA (acalma Marília): - Calma Marília! Deve haver uma explicação!
MARÍLIA: - Não há explicação nenhuma. (a Sílvia) Desculpa, Sílvia, mas eu não posso continuar. (saindo)
JÚLIO: - Por que você trouxe essa mulher pra cá, Sílvia?
SÍLVIA: - Porque ela vai ser de suma importância para a nossa volta.
JÚLIO: - Como assim, nossa volta? Pensei que você estivesse ajudando a (pausa)
SÍLVIA (interrompe/firme): - Eu estou ajudando Tereza Sampaio, você e a grife CarioLinda. Só isso importa agora... E a Marília vai ser o apoio que a gente precisava. Eu juro que não sabia que era ela a moça do acidente, eu não lembrei... A gente não pode deixar ela sair assim!
Sílvia vai atrás de Marília.
TEREZA: - Júlio vai atrás delas!
Júlio vai também. Na parte da frente da casa, Marília vai entrando em seu carro, quando Sílvia se aproxima.
SÍLVIA: - Marília espera!
MARÍLIA: - Desculpa, Sílvia. Mas esse homem não me trouxe boas lembranças. Ele prejudicou o meu passado e tenho medo que possa prejudicar o meu presente e o meu futuro.
JÚLIO (aproxima-se): - Eu seria incapaz de querer prejudicar alguém que se propôs a ajudar nessa causa.
Marília fecha a cara.
JÚLIO: - Eu sei que você deve estar pensando que eu sou um assassino, um irresponsável. Mas eu paguei por uma coisa que não fiz. Deus sabe a injustiça que caiu sobre mim. Mas ele também sabe da força que eu tenho aqui dentro do meu peito. E essa força é que vai me fazer reconquistar a inocência e a dignidade que me foram roubadas.
SÍLVIA: - Marília nos dê uma chance. Dê uma chance ao Júlio. Nós aqui acreditamos nele. Eu não seria capaz de trair a sua confiança depois do que aconteceu hoje. Nada é por acaso. Se você está aqui agora, é porque estava no seu destino. No nosso destino. E acredito que isso será bom para todos nós.
MARÍLIA: - Pra mim é difícil...
JÚLIO: - Eu sinto muito por tudo o que aconteceu. Sei que você perdeu alguém importante na sua vida. Eu também perdi. Além da minha vida, a vida do meu filho, que eu nem sei se chegou a nascer ou não.
Sílvia se cala, disfarça.
JÚLIO: - Perdi a confiança numa mulher que só me fez mal... Mas eu estou recomeçando para dar um novo rumo na minha vida. Não vou pedir o seu perdão. Só vou pedir que acredite na sua verdade, no que o seu coração diz.
Sílvia olha para Marília, ansiosa.
MARÍLIA: - Desculpa por chamá-lo de assassino, Júlio... Vai ser complicado conviver com essa situação, mas, eu aceito manter a parceria para o desfile. Faço isso para também me dar uma chance de superar de vez o passado e também em nome da futura amizade entre eu e a Sílvia.
SÍLVIA: - Muito obrigada, Marília! Obrigada pela confiança! Pelo coração puro e verdadeiro!
As duas se abraçam. Júlio sorri, retorna para dentro da casa.
MARÍLIA: - Faço isso por você, ok?
SÍLVIA: - Você faz isso por você também, pode ter certeza.
As duas sorriem, emocionadas. (sobe trilha “Dura na Queda” – Elza Soares)
CENA 08. ATELIER GF. INT. DIA.
(fade out trilha “Dura na Queda” – Elza Soares) Rosana está organizando seu roteiro de viagem para Nova York, quando Mauro chega no atelier. Ele observa os manequins. Há poucas roupas expostas, mas as peças não são bonitas.
MAURO: - Rosana, você e a Melissa vão criar mais peças para o Rio Moda, não vão?
ROSANA (concentrada no roteiro): - Claro querido... Desfile do Pedro Lourenço, aquela fofurinha... Desfile da Prada... Dolce e Gabbana no Central Park?! Nossa!
MAURO: - Rosana, eu estou falando com você!
ROSANA (encara Mauro): - Desculpa, querido! Estava aqui olhando o roteiro da minha viagem. Praticamente junto com o Rio Moda.
MAURO: - Eu sei que você vai viajar, meu amor, mas a Gonzales Fashion precisa apresentar a sua coleção no Rio Moda!
ROSANA: - Mas a coleção está aí, Mauro! Nos manequins! Eu e a Melissa fizemos boa parte das peças, outras orientamos as costureiras. Muitas reclamaram e eu já coloquei na rua.
MAURO: - Você demitiu costureiras?!
ROSANA: - Claro! Estavam reclamando e me criticando! Dizendo que os cortes que eu queria não eram certos... Ora! Como se eu não soubesse daquilo que eu estava fazendo.
MAURO: - As coisas não podem ser assim, Rosana... E outra, a GF não pode apresentar só isso!... E nesse estado.
ROSANA: - Como assim, “só isso e nesse estado”?
MAURO: - As peças são poucas e... Não são nada atrativas.
ROSANA: - Ai, Mauro, não é atrativo para você que é homem. As mulheres quando virem essas roupas, vão se jogar na passarela, pode apostar. E não se preocupa, mais roupas estão para ficar prontas. (abraça Mauro) A GF vai fazer um desfile jamais visto na história do Rio Moda. Não confia em mim?
MAURO: - Confio, claro. (beija Rosana)
ROSANA: - Então, meu amor. Não precisa se preocupar com nada. Está tudo bem com a produção. Vamos arrasar.
MAURO: - Tá certo... Eu vou passar na minha sala e depois vou pra casa. Me acompanha?
ROSANA: - Eu só vou finalizar algumas coisas aqui no roteiro e já vou te encontrar amor.
Mauro sai. Rosana limpa a boca com o dorso da mão.
ROSANA: - Pé no saco, Mauro!... Querendo saber de GF... Eu quero saber é de Nova York! Grana, muita grana!... Ele vai me dar merrequinha pra gastar, mas eu preciso de mais...
Rosana vai até o computador em sua mesa, acessa o sistema da empresa.
ROSANA: - Pensa, Rosana, pensa...
CAM foca no cursor do mouse na tela do PC, que vai até o ícone FUNDO PRÓ-MODA. (sobe trilha “Infiltrado” – Bajofondo)
ROSANA (ri, maléfica): - Acho que o fundo vai ter a sua primeira beneficiada...
De repente, Mauro retorna, surpreendendo Rosana.
MAURO: - Querida, estou pronto.
ROSANA: - Mas já?! Que rápido, Mauro!
MAURO: - Isso se chama eficiência. Vamos?
ROSANA: - Vamos sim...
Mauro se afasta.
ROSANA: - Em casa eu faço esse empréstimo. (ri, maldosa)
Rosana sai. (fade in trilha “Infiltrado” – Bajofondo)
CENA 09. SHOPPING. INT. DIA.
(fade out trilha “Infiltrado” – Bajofondo) Aline e Vitinho fazem compras no shopping. Os dois caminham pelos corredores, carregando sacolas das lojas.
ALINE: - Eu nem acredito que vou embarcar para Nova York e ter livre acesso aos eventos mais badalados da cidade!
VITINHO: - Vai sim, minha linda! E do lado do seu bombom aqui... Tudo o que a gente sempre quis!
ALINE: - Eu ainda nem falei pra minha mãe. Vou deixar pra falar quando chegar mais perto, porque daí ela não fica me enchendo de recomendações.
VITINHO: - Falando em recomendações, eu já vou te dar algumas.
ALINE: - Ai não, bombom!
VITINHO: - Aline, pelo amor de Deus, procura não ficar bajulando a madame por muito tempo não. Ela não gosta. E outra, evite também retrucar qualquer coisa que ela faça. Ela detesta ser contrariada. Ou seja, se você quiser ir para a Broadway e ela preferir ficar no hotel jogando carteado, não há nada o que fazer.
ALINE: - Mas isso é uma coisa meio utópica. O último lugar onde a Rosana vai querer estar é no hotel.
VITINHO: - Apenas um exemplo, minha linda...
ALINE: - Ok, não se preocupe. Não vou desobedecer a sua diva... (olha vitrine) Amor, olha esse casaco! Eu quero! Ótimo pra meia-estação que vai estar em Nova York!
Aline puxa Vitinho para a loja. Enquanto isso, em outro corredor, Maria Helena caminha elegante, carregando uma sacola de compras. Ela observa uma vitrine de uma loja de artigos de luxo. Ao longe no corredor, Lígia e Diogo vão se aproximando, conversando, também trazendo sacolas de compras das lojas.
LÍGIA: - Aquela calça ficou ótima em você. Ressaltou o seu bumbum. (risos) Ai, as minhas amigas vão morrer de inveja!
DIOGO: - Vai ser a primeira vez que eu vou usar uma roupa tão chique.
LÍGIA: - Você deveria usar sempre. Ficou um verdadeiro homem.
De repente, Maria Helena se afasta da vitrine e encontra Lígia e Diogo. Maria Helena se mostra surpresa ao ver Diogo com Lígia. Diogo fica em choque.
MARIA HELENA: - Lígia?!
LÍGIA (surpresa): - Maria Helena! Quanto tempo?
MARIA HELENA: - Alguns anos, não é? Não sabia que estava de volta ao Brasil...
LÍGIA: - Cheguei faz pouco tempo.
MARIA HELENA: - Aproveitando para fazer umas comprinhas e (encara Diogo) cuidar da pele também? Está ótima!
LÍGIA: - Você sempre observando os detalhes... Quem não gosta de comprar e cuidar da pele, não é? (risos) Deixa eu te apresentar... Diogo, essa aqui é Maria Helena, uma amiga de muito tempo. Maria Helena, esse é o Diogo. Ele vai me acompanhar hoje no leilão das Gérberas no Copacabana Palace.
MARIA HELENA (encara Diogo/fingida): - Prazer em conhecê-lo.
Diogo esboça um sorriso, sem jeito.
MARIA HELENA (a Lígia): - Bela companhia para hoje à noite.
LÍGIA: - Você vai?
MARIA HELENA: - Claro! Não perco nenhuma atividade das Gérberas, você sabe.
LÍGIA: - Então nos veremos mais à noite. Vamos, Diogo?
DIOGO: - Vamos sim. (a Maria Helena) Prazer.
Maria Helena esboça um sorriso cínico. Lígia e Diogo seguem caminhando.
MARIA HELENA: - O Diogo acompanhante da Lígia?... Eu sempre soube que ela gostava de garotos de programa, mas o Diogo? Ah não ser que... Não... (riso sacana) O Diogo... Mas essa festa eu não perco por nada!
CENA 10. CAFETERIA. INT. DIA.
A cafeteria é um ambiente agradável, misto de café com livraria. Numa das mesas, Karina e Sandra tomam café.
SANDRA: - Seus pais são bem zelosos com você?
KARINA: - Muito! Às vezes esquecem que eu já sou praticamente adulta... Mas acho que é coisa de pai.
SANDRA: - Só quando você tiver seus filhos, vai saber o que é isso...
KARINA: - Você gosta muito dos seus filhos... Seu marido também é carinhoso assim com eles?
SANDRA: - O Tarso? Ele vive mais para os negócios do que para a família. Mas tenta ser um bom pai, na medida do possível... Ai, Karina, eu já fiz cada coisa para ter a minha família sempre unida, sabe? Meu casamento chegou a ficar por um fio.
KARINA: - É mesmo? Mas vocês dois parecem um casal tão feliz.
SANDRA: - O Tarso já me traiu diversas vezes.
Karina desvia o olhar.
SANDRA: - Mas eu sempre perdoei, contornei a situação. Sempre acreditei que um dia ele ia perceber que o que ele fazia era errado, sabe? E acho que finalmente eu consegui, depois de muitas brigas, discussões... Hoje eu posso dizer que o Tarso só tem olhos para mim.
KARINA: - Que bom, Sandra. Que bom... Eu torço muito pela felicidade de vocês, de verdade.
Sandra sorri. Karina corresponde, mas um tanto sem jeito.
CENA 11. ESCRITÓRIO ADÔNIS. INT. DIA.
O escritório já está praticamente vazio. Renato está em sua mesa, quieto, pensativo. Adônis se aproxima.
ADÔNIS: - Ei, Renato, vai ficar aqui no escritório até mais tarde?
RENATO: - Não, não, Adônis. Daqui a pouco eu estou saindo.
ADÔNIS: - Tá certo. Eu já vou indo pra casa porque não quero perder o campeonato europeu que está demais! Nos falamos! (saindo) Não esquece de fechar a porta!
Adônis sai. Renato fica pensativo.
FLASHBACK. CORREDOR. INT. DIA
Renato e Ivan conversam, após o beijo.
IVAN: - Eu sei que você deve estar confuso, mas procura se acalmar. Coloque a cabeça no lugar... Eu não quis forçar nada, ta? Mas não vou negar que eu gostei do seu beijo.
RENATO: - É difícil pra mim, mas eu também gostei do beijo.
Ivan se mostra surpreso, esboça um sorriso. Os dois ficam a se encarar.
RENATO: - E agora, o que a gente faz?
IVAN: - A gente se encontra mais tarde. Não dá pra ficar reprimindo esse sentimento...
VOLTA À CENA ATUAL.
Renato pega o telefone, disca.
RENATO (ao telefone): - Oi amor. (pausa) Sim, eu estou no escritório ainda e vou ter que ficar um pouco mais por aqui. (pausa) É, por isso que eu estou te ligando. Não precisa me esperar para jantar, ta? (pausa) Tá certo. Ah, Geórgia, só mais uma coisa... Eu amo você. (pausa) Beijo. (desliga o telefone)
Renato está um tanto apreensivo. Pega o telefone celular, disca.
RENATO (ao telefone): - Alô? Ivan? (pausa) Sou eu, Renato. Anota aí o endereço pra gente se encontrar daqui a pouco...
CENA 12. TRANSIÇÃO DO TEMPO. ANOITECER / CASA TEREZA. INT. NOITE.
Imagens do Rio ao anoitecer. (sobe trilha “Talismã” – Paulinho da Viola) Mostra o Cristo Redentor iluminado, a orla de Copacabana, a cidade iluminada. Corta para a casa de Tereza. Sílvia mostra as peças que fez (vestidos, blusas, saias e calças) para Tereza, Júlio e Marília. (fade out trilha)
TEREZA: - Meu Deus, Silvinha! São lindas! Tudo lindo! Quero todas pra mim!
MARÍLIA: - Eu já estou vendo as modelos usando essas roupas... Realmente são lindas.
JÚLIO: - O que me impressiona é saber de onde você tirou tanto tempo para fazer tudo isso, Silvinha.
SÍLVIA: - Confesso que tenho dormido pouco à noite. Fico ansiosa com esse desfile. Há dias que não durmo. Ao invés de ficar rolando na cama, eu fico na máquina de costura. E depois escondo tudo para o meu marido não ver. Quero dizer, para meu ex-marido...
TEREZA: - Como assim, ex-marido? Você e o (pausa)
SÍLVIA: - Eu e o Laerte terminamos. Estamos separados.
MARÍLIA: - Eu nem sei o que dizer...
SÍLVIA: - Não precisa dizer nada, Marília. Cedo ou tarde isso iria acontecer.
JÚLIO: - Espero que eu não tenha tido culpa nisso, Silvinha.
Sílvia e Júlio trocam olhares.
SÍLVIA: - Agora é pensar pra frente. Ainda preciso dizer isso para a Melissa. Ela não sabe. Foi tudo hoje pela manhã.
MARÍLIA: - Melissa é sua filha?
SÍLVIA: - É sim... Espero que ela entenda.
TEREZA: - Ela vai sim. É uma garota compreensiva.
SÍLVIA: - Bom, mas agora eu não quero falar disso não. Quero saber mais de vocês sobre essas peças. Lógico, ainda têm aquelas que as costureiras estão fazendo aqui no nosso atelier improvisado.
JÚLIO: - Eu gostei de todas, sinceramente. Acho que a CarioLinda voltou com tudo.
MARÍLIA: - E puxando a brasa para o meu assado, com as modelos da Classic Models, a CarioLinda tem tudo para arrasar no Rio Moda!
O grupo vibra, feliz.
CENA 13. RESTAURANTE PRATO CHEIO. INT. NOITE.
Gaby, Guilherme e Heloísa conversam no balcão.
GABY (empolgada): - Eu ainda não estou acreditando que vou participar do Rio Moda!
HELOÍSA: - Já deveria acreditar, Gaby. Você não para de falar nisso! Desde que chegou aqui no restaurante hoje.
GABY: - É que Heloísa, o Rio Moda é um dos maiores eventos de moda do país! E eu vou estar desfilando na passarela! Flashes, televisão, tudo!
GUILHERME: - Começando a carreira com força total, Gaby. Que dê tudo certo.
GABY: - Mas bah, claro que vai, Guilherme! Vai dar certo sim!
HELOÍSA: - Vai dar é baixa no seu salário se não for lá atender a mesa vinte. Vamos menina, deixa de papo...
Gaby sai.
HELOÍSA (arruma o decote): - Agora, nós dois aqui, podemos ter uma conversa mais sossegada, não acha?
GUILHERME: - Eu?
HELOÍSA: - É, Gui... Você, tesouro... Não quer me contar, como anda sua vida, quais são seus planos, seus desejos? Principalmente os desejos...
Neste instante, Celeste chega ao restaurante. Guilherme a vê.
GUILHERME: - Celeste!
HELOÍSA: - Como é?!
GUILHERME: - Já volto, Heloísa.
Guilherme se afasta. Heloísa faz cara de poucos amigos. Guilherme se aproxima de Celeste.
GUILHERME: - Surpresa boa você aqui. Pensei que você não quisesse mais me ver depois do beijo.
CELESTE: - Mas você está enganado. Foi por causa do seu beijo que eu vim.
Guilherme sorri.
CELESTE: - Eu quero também te pedir desculpas por ir embora daquele jeito no shopping, sem dar satisfação depois. É complicado pra mim. Acontece que (pausa)
GUILHERME: - Não fala nada não, Celeste. Está tudo bem. Eu te entendo...
CELESTE: - Obrigada.
GUILHERME: - Vem, tenho uma mesa pra gente.
CELESTE: - Pra gente? Mas você não vai trabalhar? Guilherme, não quero incomodar aqui.
GUILHERME: - Você não incomoda nada. Vem...
Guilherme leva Celeste pela mão até uma mesa. Os dois passam por outra mesa onde Estér, Walter e Fábio jantam.
FÁBIO: - Fico feliz por terem me convidado para esse jantar. Eu já estava sentindo falta de uma vida social ativa na noite carioca.
ESTÉR: - Que ótimo! Então depois a gente dá uma esticadinha na GlamouRio. Que tal?
WALTER: - Já deixo o camarote central para vocês.
ESTÉR: - Adoro! To precisando mesmo relaxar. Serviço está cada vez maior, já que o lançamento da nova coleção de calçados está chegando...
FÁBIO: - Estamos trabalhando muito lá na agência também. Acredito que vamos abrir nova seleção para modelos. Além do lançamento da Áurea, teremos outros eventos grandes.
WALTER: - E o Ivan? Alguém tem notícias dele?
ESTÉR: - Falou que ia ficar em casa, revelando fotos. Eu não disse nada, mas achei estranho. Ivan não é de recusar convite nosso.
Numa outra mesa, Geórgia e Durval conversam. Fábio fica a observar a moça.
WALTER: - Perdido em outra mesa, Fábio?
FÁBIO: - Conhecem aquela moça?
ESTÉR: - Não conheço pessoalmente, mas já a vi aqui outras vezes. Parece que é irmã do Durval, dono e cheff do restaurante.
WALTER: - Ficou interessado? (risos)
FÁBIO: - Nada não... Apenas achei... Bonita.
Em outra mesa, Geórgia e Durval conversam.
GEÓRGIA: - Estou ficando louca com tanta coisa que é preciso fazer para um casamento. E o pior é que faço quase tudo sozinha porque o Renato pouco tem tempo. Hoje mesmo ele teve que ficar até mais tarde no escritório.
DURVAL: - Alguém precisa juntar o dinheiro para bancar essa festa toda minha irmã! (risos)
GEÓRGIA: - É, não posso reclamar. Renato está dando um duro daqueles. Ai Durval, meu futuro marido é o homem que eu pedi a Deus. Fiel, companheiro, romântico, batalhador. O que eu quero mais?
DURVAL: - Mais uma taça de vinho para acompanhar com o jantar, que tal?
GEÓRGIA: - Ótimo!
Os dois riem.
CENA 14. MOTEL. QUARTO. INT. NOITE.
(sobe trilha “Um Dia Frio” – Djavan) CAM abre plano no quarto de um motel. Cama redonda. No centro da cama, Renato e Ivan aos beijos.
CAM passeia sobre os corpos, um sobre o outro, nus, suados. Abraços intensos. Os dois param um instante. Ivan sobre Renato. Se encaram, respirações ofegantes. Um beijo caloroso os une novamente, agora a rolar sobre a cama.
(fade in “Um Dia Frio” – Djavan)
CENA 15. CASA SÍLVIA. INT. NOITE.
(fade out “Um Dia Frio” – Djavan) Sílvia chega a casa e encontra Melissa na sala, com um papel em mãos.
SÍLVIA: - Oi filha, já chegou?
MELISSA: - Já. E cheguei encontrando isso aqui (mostra o papel)
SÍLVIA: - O que é isso?
MELISSA: - Isso aqui é um bilhete do meu pai, dizendo que foi embora. Como assim, mãe? Você e ele brigaram, é isso?
SÍLVIA: - Eu estava esperando você chegar para a gente conversar sobre isso...
MELISSA: - Então vocês se separaram.
SÍLVIA: - Mas nós ainda somos amigos.
MELISSA (ri, debochada): - Mamãe, não precisa ficar me enganando... Nenhum casal que se separa continua amiguinho. Você ultimamente tem andado bem estranha. Com certeza meu pai não suportou mais e (pausa)
SÍLVIA (interrompe): - Ei, Melissa! Olha lá como fala comigo, garota! Eu sou sua mãe!... Eu e o seu pai discutimos sim, mas por atitudes que ele fez e não eu.
MELISSA: - Você implicou comigo porque estou na GF. Deve ter implicado com meu pai também por algum outro motivo besta que você inventa.
SÍLVIA: - Ai Melissa, você ainda não sabe nada da vida...
MELISSA: - E você se acha a dona da sabedoria mundial, né, mãe?
SÍLVIA: - Não, Melissa... Eu sou é diplomada nas adversidades da vida, minha filha. Coisas que você nem sabe e que eu rezo todos os dias para que não passe nem por um terço do que eu passei.
MELISSA: - Mas com certeza eu não passarei. E estou batalhando para isso. A começar pela minha viagem internacional.
SÍLVIA: - Como assim? Do que você está falando?
MELISSA: - Logo após o desfile da Gonzales Fashion no Rio Moda, eu e a Rosana estaremos embarcando para uma temporada em Nova York.
SÍLVIA (chocada): - O quê?! Você e a Rosana?
MELISSA: - Isso mesmo. E você não vai poder fazer nada para me impedir, ta legal?
SÍLVIA: - Vou sim! Melissa, você não vai a lugar nenhum!
MELISSA: - Se você tentar fazer alguma coisa, mãe, eu juro que nunca mais olho na sua cara, ta legal? Nunca mais!
Melissa vai para o seu quarto. Sílvia fica na sala, pensativa.
CENA 17. COPACABANA PALACE. EXT / INT. NOITE.
CAM mostra a fachada do Copacabana Palace. Carros de luxo vão chegando ao hotel, homens e mulheres trajando roupas de gala, imprensa registrando todos os momentos.
Corta para o interior do hotel. No salão nobre, clima de glamour da alta sociedade. Homens de Black tie, mulheres de vestidos longos, joias. Lígia entra com Diogo no salão. Ela está trajando um vestido dourado, com fenda e decote, realçando seu corpo e seu porte. Cabelos soltos, ondulados, louros vivos. Diogo de terno preto, gravata borboleta, bem penteado.
LÍGIA: - Bem-vindo, Diogo, ao reduto da alta sociedade.
DIOGO: - Nossa, quanto luxo!
LÍGIA: - Sabia que você iria gostar...
Uma mulher (por volta dos 60 anos, vestido azul roial, cabelos pretos, curtos) se aproxima deles.
LÍGIA: - Janeth!
JANETH: - Lígia, que bom rever você! Bem-vinda ao nosso leilão!
LÍGIA: - Obrigada!... Diogo, essa aqui é a Janeth, presidente do grupo das Gérberas.
DIOGO (cumprimenta Janeth): - Prazer. Belo evento.
JANETH: - Obrigada! Fiquem à vontade. Agda e Elizabeth estão naquela mesa. (aponta)
LÍGIA: - Ah, certo. Vou lá trocar uma palavrinha com elas.
Janeth se afasta.
LÍGIA: - Eu é que não vou chegar perto da Agda.
DIOGO (risos): - Mas por quê?
LÍGIA: - Agda Magalhães, a socialite mais arrogante de São Paulo!... A família é dona da Amaro, uma das maiores mineradoras e produtoras de joias do país. A filha dela, a Beth, até que é mais simpática. Agora a mãe...
Lígia pega Diogo pela mão, senta-se em uma mesa com ele. Neste instante, Maria Helena se aproxima.
MARIA HELENA: - Boa noite!
LÍGIA: - Maria Helena! Boa noite! Senta com a gente ou já tem mesa?
MARIA HELENA: - Se não for incomodar, eu aceito o seu convite.
LÍGIA: - Não incomoda em nada. Sente-se.
Maria Helena senta ao lado de Lígia, mas não tira os olhos de Diogo, que procura disfarçar o incômodo.
LÍGIA: - E Orestes, não veio?
MARIA HELENA: - Preferiu ficar em casa. Orestes já era pra ter saído da empresa faz tempo, mas ele insiste... Chegou lá em casa cansado. Paciência, eu tive que vir para a festa sozinha.
Lígia avista uma pessoa.
LÍGIA: - Gente, se vocês me dão licença, eu vou cumprimentar uma amiga, é rapidinho.
Lígia sai da mesa. Maria Helena e Diogo a sós.
MARIA HELENA: - Confesso que fiquei surpresa quando vi você com a Lígia.
DIOGO: - É mesmo?
MARIA HELENA: - É mesmo... Ela adora os garotões. Mas a minha surpresa foi você ser a nova brincadeirinha dela.
DIOGO: - A Lígia não está brincando comigo.
MARIA HELENA (cínica): - Desculpa, me expressei mal. Você é o novo michezinho dela... Seu pai deve estar muito contente com essa sua nova profissão.
DIOGO: - Meu pai não sabe de nada. E você não vai falar nada também, ta legal?
MARIA HELENA: - Calma, Diogo. Não precisa ficar nervoso... Não vou falar nada não, não se preocupe. Mas, para que eu não diga nada, você vai precisar aceitar a minha condição.
DIOGO: - Do que você está falando?
MARIA HELENA: - Uma troca de favores, que pode ser muito proveitosa para você.
DIOGO: - Fala logo, o que é?
MARIA HELENA: - Você deixa de servir a Lígia e começa a ser meu amante. O meu michê. Eu te pago bem, até muito mais do que ela está te oferecendo. Caso você aceite, seu pai nunca vai saber dessa sua vida dupla. E então, o que acha?
DIOGO: - Isso é chantagem!
MARIA HELENA: - Oh, você parece tão homem falando assim... Mas deixa eu te dizer uma coisa. Não é chantagem não. É uma oportunidade única... (alisa a mão de Diogo) Você escolhe, meu querido... Garanto que não vai se arrepender.
Maria Helena afasta a mão. Diogo se mostra um tanto apreensivo. Lígia retorna.
LÍGIA: - Encontrei Virgínia Walker, linda como sempre!
MARIA HELENA: - Que bacana! Ela mora ainda em Praia Real?
LÍGIA: - Sim! Aquela clínica de estética que ela tem é uma maravilha... E vocês, conversando sobre o quê? Vi que o papo rolava solto aqui.
DIOGO: - Sobre a festa...
MARIA HELENA: - Diogo estava me contando que é a primeira vez dele num evento assim. Você sempre caridosa com os mais novos, Lígia. (risos)
O evento continua, pessoas chegando, garçons servindo bebidas e entradas. Lígia troca um selinho com Diogo. Maria Helena o encara, Diogo desvia o olhar.
CENA 18. CASA MAURO. ESCRITÓRIO. INT. NOITE.
Rosana entra no escritório da casa, tranca a porta. Vai até o computador, entra no sistema da empresa. CAM foca a tela do PC, mostrando que Rosana está acessando o Fundo Pró-Moda.
ROSANA (se espanta): - Tudo isso de dinheiro! Meu Deus é muita grana! Nem vão dar falta do que eu vou tirar daqui.
CAM mostra tela do PC, onde o sistema revela o processo de transação de valores do fundo para uma conta bancária.
ROSANA: - Processo concluído. Agora é só trocar no câmbio e torrar em Nova York!
Rosana sorri, sarcástica.
CENA 19. PASSAGEM DO TEMPO. DIAS DEPOIS / RIOCENTRO. EXT. DIA.
(sobe trilha “The Beat Goes On” – Bob Sinclair) Imagens gerais da cidade do Rio de Janeiro, alternadas entre dia e noite. Mostra o calçadão de Copacabana, vista aérea do Jockey Club, do Maracanã, Lagoa Rodrigo de Freitas, aeroporto Santos Dumont, pessoas na beira da praia, o trânsito da cidade. Abre plano para um dia de sol, mostra o Cristo Redentor.
Legenda na tela: DIAS DEPOIS...
Corta para os pavilhões do RioCentro. Muita movimentação de pessoas, carros, modelos e outros profissionais da moda. Um grande banner está montado na entrada do pavilhão central: RIO MODA.
Pelas dependências do Rio Centro, a movimentação é constante. Sílvia caminha apressada pelo local, desviando de pessoas. Ela carrega uma bolsa e uma sacola grande, com roupas, enquanto fala ao celular. (fade out “The Beat Goes On”
SÍLVIA (ao telefone): - Júlio, eu já estou aqui no Riocentro, calma! (pausa) Sim, estou levando as roupas do desfile. (pausa) Estou indo o mais rápido que eu posso, mas é muita gente aqui!
De repente, Sílvia esbarra em outra pessoa, deixando cair à sacola com as roupas no chão.
SÍLVIA: - Desculpa, moça! Eu não vi que você estava vindo e (pausa) Rosana!
Rosana encara Sílvia.
ROSANA: - Finalmente, hein, Silvinha... Bem-vinda ao Rio Moda. Seu primeiro e último, com certeza.
As duas ficam a se encarar.
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