Sinopse: Quando somos aprisionados em algo que nos faz acreditar que podemos ser superiores aos outros, não é para sempre que viveremos de glórias. Aloísio é um deputado que se acha superior a todos e em nenhum momento acredita na igualdade das pessoas. Através da política conquistou muitas coisas, mas nenhuma delas veio da honestidade.
Em um mundo onde o sobrenatural pode estar presente de alguma maneira, Aloísio enfrentará este problema de frente, tendo que encarar eventos que irão lhe fazer repensar suas atitudes ao longo da vida política.
Sobre Aqueles que não Mereciam Morrer
de Marcos Vinicius da Silva
O nosso estado é corrupto,
onde muitos inocentes morrem direta ou indiretamente devido as ações de
políticos que só pensam em si próprio.
A polícia mata o bandido. O
bandido mata a polícia. Muitos civis são vítimas dos bandidos. Muitos civis são
vítimas de policiais vendidos ou despreparados. Muitos são vítimas por estarem
na hora errada no lugar errado.
Somos atores facilmente
substituídos. Somos cordeiros à espera do lobo. Mas às vezes as coisas são
diferentes. Um ser de luz, ou talvez um fantasma ou apenas a vontade insana de
uma sociedade emanada, se transforma para o mundo físico, tomando forma e
vingando àqueles que perderam suas vidas devido à corrupção.
Aloísio Schereder é um
deputado federal de 44 anos. Um homem alto de corpo atlético e vaidoso. Usando
um roupão de veludo azul escuro, ele tomava um copo de whisky na sacada do seu
quarto com vista para o pátio e a piscina. Sua mulher, Carina, loira de olhos
azuis e corpo escultural, usando uma camisola sensual surgiu lhe abraçando e
chamando-o para a cama.
- Só mais alguns minutos e
já vou. - respondeu Aloísio dando-lhe um beijo.
Aloísio voltou seu olhar
para a lua cheia naquele céu escuro. Uma noite bonita para se apreciar depois
de um dia conturbado na câmara. Ali ele ficou por longos minutos quando um
vento fez ele se arrepiar. Ele olhou o movimento da água da piscina e o vulto
de uma criança passou rápido por detrás das árvores floridas mais ao fundo.
Aloísio arregalou os olhos e riu de seu próprio medo.
- Acho que é hora de dormir,
deputado. Amanhã é mais um dia longo. - falou baixinho para si.
No dia seguinte Aloísio, sua
esposa Carina e Robert, o filho adolescente de 16 anos, estavam na mesa tomando
o desjejum. A repórter na televisão ligada em um suporte na parede, dava a
notícia de que um menino de sete anos de idade havia tomado um tiro de fuzil
durante um protesto contra a desocupação de um prédio em uma área nobre da
cidade.
- Não é este o prédio que
você fez questão de pressionar na câmara para que o governo tomasse posse? -
perguntou Carina em tom preocupada.
- Construtora que financiou
a minha campanha e a do governador. Devíamos um favor a eles. - disse Aloísio
sem desgrudar os olhos do celular.
Minutos depois escutou-se
sons vindo da frente da residência. Aloísio espiou puxando o canto da cortina
florida da janela da sala e avistou um aglomerado de repórteres.
O deputado respirou fundo,
não deu a mínima para a preocupação da esposa e filho, pegou o celular e chamou
seus dois seguranças que estavam no andar debaixo. Aloísio pegou seus pertences
e se dirigiu à garagem com a soberba de quem está acima de todas as leis.
Quando o portão da garagem
abriu e o carro preto de vidros fumê blindados surgiu, os repórteres já se
alvoroçaram na esperança de arrancar algumas declarações do deputado.
- Acelera! - disse Aloísio
em tom frio para seu motorista.
O carro saiu da garagem
cantando pneu e obrigando alguns repórteres pularem para os lados para não
serem atropelados. Enquanto o veículo se dirigia para a câmara pelas ruas
movimentadas, Aloísio olhava pela janela as nuvens carregadas no céu prometendo
chuva para qualquer momento e pensava na morte do menino, mas não sentia culpa.
Ao chegar na câmara, Aloísio
estranhou o fraco movimento, mas logo lembrou que todos deviam estar às voltas
com os protestos. Subiu as escadas que levavam até sua sala no segundo andar e
se deparou com o corredor às escuras. Acendeu somente uma lâmpada para clarear
o caminho e foi até sua sala.
Na sua sala, um ursinho de
pelúcia todo sujo de sangue repousava em cima de sua cadeira. Enojado, o
deputado pegou com as pontas dos dedos e jogou-o no lixo. Respirou fundo
novamente olhando uma pilha de documentos sobre sua mesa e tratou de enfiar a
cara no trabalho.
Já eram nove horas da noite
quando retornou para sua casa. Encontrou um bilhete de sua esposa em cima da
mesa, que dizia assim: "Fomos passar uns dias na casa da fazenda do meu
pai, amanhã nos encontre lá. Vai ser bom espairecer um pouco". Aloísio
deixou o bilhete por ali mesmo, frouxou o nó da gravata, serviu-se de um bom
vinho e se sentou na poltrona em frente à televisão assistindo um jogo de rugby
no canal de esportes. Adormeceu pensando que seria uma boa ideia uns dias longe
da "muvuca" da câmara e de toda aquela confusão. "O povo tem memória
fraca", pensou ele. "Próximas eleições estou de novo na câmara ou
quem sabe até em um cargo maior".
Aloísio arregalou os olhos
assustado. Estranhou, pois estava na sua cama esparramado e não mais na
poltrona, e não lembrava de ter subido para o quarto. Sentiu uma presença com
ele dentro do cômodo, inclinou-se e acendeu o abajur, mas nada viu.
Sentou na cama e ficou
observando todo o quarto até que se deparou com o mesmo ursinho de pelúcia que
estava na sua sala na câmara. O bichinho estava sobre a cômoda, todo sujo de
sangue e com um sorriso amedrontador. Aquele sorriso assustou mais ainda
Aloísio do que a dúvida que pairava no ar, de como aquele ursinho foi parar
ali.
A porta do quarto rangeu e
Aloísio pôde ouvir o som triste de um violino. Levantou devagar, calçou os
chinelos e sabia que aquela música era coisa da sua cabeça. Quando se
aproximava da porta o vulto de uma criança passou correndo e o seu riso se
misturava ao som daquele instrumento. Aloísio deu um passo para trás assustado
e um outro sorriso lhe chamou atenção. Virou lentamente e se deparou com uma
estranha figura negra e encapuzada de onde só se via dois olhos azuis
brilhantes.
- Quem é você? - gritou o
deputado sem obter respostas.
Aquela estranha figura
apenas sorriu e ficou observando o pavor de Aloísio. De trás do ser encapuzado
saiu um garotinho de aproximadamente oito anos de idade, de cabeça baixa e
usando um uniforme de uma escola pública com a camiseta branca manchada de
sangue.
- Não pode ser! - cochichou
o deputado.
O garotinho caminhou até a
cômoda e agarrou o ursinho de pelúcia voltando em seguida para as costas
daquela figura encapuzada.
- Sabe quem ele é? -
perguntou o ser encapuzado de olhos azuis brilhantes.
- Não acredito que seja ele.
- respondeu o deputado.
- Vem aqui Fernando. - sorriu aquela figura chamando pelo garoto.
Desconfiado, o garotinho
colocou a cabeça para o lado e Aloísio pôde perceber duas coisas que lhe
embrulharam o estômago:
1) o pequeno buraco em sua
testa, provavelmente causado por um tiro de fuzil;
2) quando o menino se
agachou para pegar o ursinho que deixara cair, Aloísio viu o estrago que o
disparo fez. Havia um buraco na nuca do menino, por onde a bala saiu.
Desesperado, o deputado se
virou e correu. Abriu a porta e uma mulher grávida se parou na sua frente. Ela
estava nua e em estado avançado de decomposição. Aloísio a empurrou e ela caiu.
- Salve meu bebê! Salve meu
bebê! - dizia ela.
Aloísio estava em total
estado de choque e sua situação só piorou quando a mulher começou a fazer força
de pernas abertas na sua frente e um bebê cadavérico saiu por entre seus
membros. A mulher então o encarou e começou a gargalhar.
- Mais uma vítima das verbas
desviadas dos hospitais públicos... - falou a figura encapuzada.
O deputado se virou e viu
aquele ser de braços cruzados rindo da sua cara. O menino Fernando, assustado,
também observava.
- Você e seus comparsas só
pensaram nos seus interesses. A gravidez dela era de risco. Não conseguiu
atendimento a tempo.
- Eu não tenho culpa. -
respondeu o deputado quase chorando.
Aloísio se virou para o
corredor e a mulher grávida estava de pé na sua frente gargalhando cada vez
mais alto. A figura encapuzada fazia o mesmo e de todos os cantos da casa
começava a se ouvir gargalhadas. Aloísio
voltou seu olhar para o ser encapuzado. Uma enorme língua bifurcada saiu da
boca daquela figura e foi em direção à Aloísio, que desviou e correu para o
corredor empurrando novamente a mulher grávida à sua frente.
O deputado Aloísio desceu
correndo as escadas. De soslaio reparou em uma mulher alta e de vestido preto
parada na murada da escada. Ela sorriu para ele e pulou espatifando-se no chão
antes mesmo dele chegar ao andar debaixo. O som do corpo caindo parecia que ela
tinha quebrado todos os seus ossos, mesmo aquela altura não parecer o
suficiente para isso. Aloísio ficou sem reação observando aquela mulher se
contorcer, gemer e se levantar. Ele não acreditou quando ela se levantou e
subiu as escadas voltando até a murada e pulando novamente. Imóvel, de olhos
arregalados, Aloísio ficou escorado na parede ao lado da escada vendo a mulher
repetir aquela cena diversas vezes.
A figura encapuzada surgiu
no topo da escada e ficou rindo da cara do deputado.
- Esta é mais uma vítima
sua. Seu marido morreu atropelado por um jovem bêbado, que adivinha? Escapou de
ser preso por ser filho de um vereador. Ela não aguentou tanta injustiça e
pulou do último andar do prédio em que morava.
Aloísio escutou batidas
fortes na porta de entrada.
- Polícia Militar. Abra a
porta. - disse uma voz grossa do lado de fora.
Aloísio respirou aliviado e,
afoito, correu abrir a porta, mas se arrependeu na mesma hora. Do lado de fora
estava um policial fardado com apenas metade do seu rosto. Ele deu uma
coronhada na face do deputado, que caiu com o nariz sangrando.
O deputado tentou fechar a
porta e rastejar para dentro, mas foi impedido pelo policial que começou a lhe
chutar. Enquanto recebia diversos pisões e chutes, outros fantasmas começaram a
aparecer e fazer o mesmo. Aloísio choramingava e se contorcia de dor.
Aos poucos os fantasmas
foram passando pela porta principal e desaparecendo. Aloísio rastejava e gemia
de dor. A figura encapuzada se aproximou, estendeu a mão calejada e ajudou o
deputado se levantar. A figura bateu a porta com força fechando-a.
- Só há um jeito de você se
livrar de tudo isso. A solução está em cima da sua cama, debaixo do seu
travesseiro. Se não concordar, vai sofrer com a gente por toda a eternidade. -
disse aquele ser.
A figura encapuzada puxou a
cortina florida da janela grande.
- Olha pra fora!
Aloísio olhou e viu dezenas
de fantasmas com olhares furiosos, loucos para esmagar sua carne.
- Eu faço o que for preciso!
- suplicou o deputado.
- Dor se paga com dor. Eles
querem sangue, não menos que isso. Lhes dê o que querem e você estará livre. -
respondeu a figura encapuzada.
Aloísio entendeu o recado e
então a sala ficou em total escuridão por alguns instantes. Quando a fraca
claridade voltou o deputado estava sozinho novamente e tudo parecia estar
dentro da normalidade. Ele subiu as escadas correndo.
Quando o deputado chegou no
quarto, tudo estava normal. Ele se aproximou da sua cama, ergueu o travesseiro
e ali havia um revólver 38. Aloísio pegou, conferiu se estava carregado e ficou
segurando a arma pensativo.
O dia amanheceu triste e com
o deputado sentado em uma cadeira de balanço em frente à janela grande do seu
quarto, com a arma e o seu celular sobre seu colo. Ele pegou o celular e
discou.
- Bom dia. Convoque uma
reunião para hoje às 13 horas aqui em casa. Chame os dez deputados aliados
nossos, por favor. - disse Aloísio para um de seus assessores só telefone.
Ele desligou o celular e
permaneceu ali na sua cadeira, imóvel, estranho.
Horas mais tarde.
Os deputados estavam
inquietos com a demora do colega para descer. Quando finalmente apareceu no
topo da escada, Aloísio estava estranho. Tinha hematomas no rosto e parecia
assustado.
- Boa tarde companheiros. -
disse Aloísio.
- O que houve com você? -
perguntou o deputado Valdir. Um homem alto, de corpo atlético e olhar
penetrante.
O deputado Aloísio desceu as
escadas calmamente sem falar nada. Ficou na frente do colega Valdir. Sacou seu
revólver 38, causando espanto de todos, e atirou contra a testa do deputado. O
sangue jorrou sujando tudo ao redor e aquele homem se espatifou no chão da
sala.
Houve um alvoroço infernal.
Todos tentaram correr assustados. Mas Aloísio, com muita calma e serenidade,
disparava contra todos. Os corpos iam caindo um a um. Alguns morriam na hora
enquanto outros agonizavam tentando entender o que se passava. Estes, o
deputado, com uma faca que estava na sua cintura, se aproximava e cravava a
arma branca até ver o fim dos companheiros.
O último deputado vivo suplicou
pela sua vida.
- Por favor Aloísio, não
faça isso.
De nada adiantou. Aloísio
pisou sobre a perna sangrando do companheiro arrancando gritos de dor, se
agachou e cravou a faca na sua têmpora. Antes de ver o seu fim, aquele deputado
viu claramente um garoto sorrindo ao lado do deputado Aloísio.
- Pronto. Acabou. Me deixem
em paz! - gritou Aloísio no meio dos corpos dos seus aliados.
Conto escrito por
Marcos Vinicius da Silva
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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Sinopse: Sobrevivente de uma guerra histórica, D. Sebastião é mandado para o Brasil para se recuperar, conhecendo os costumes de uma tribo indígena como a aguardada Lua Negra.
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