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Antologia Lua Negra | Capítulo 11: A Noite da Vingança

Conto escrito por Jairo Sylar
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Sinopse: Uma chacina sem precedentes assolou as ruas da capital do país como nunca visto antes, quinze anos depois, uma família vive tranquilamente em sua mansão em Tocantins, quando a verdade desse passado assustador volta na forma de uma vingança terrível e implacável.


A Noite da Vingança
de Jairo Sylar


Em um casarão situado no meio de uma floresta no estado de Tocantins vive uma família abastada. Hoje é noite de jantar em família, portanto, Ruhan, Susan e sua filha Sofia terminam sua refeição na sala de jantar, como uma família qualquer, no entanto, algo perturba Ruhan e isso Susan percebeu desde que ele chegou do trabalho, por isso pede para que sua filha recolha os utensílios e os deixe a sós, assim, ela poderá descobrir o que mantém o seu amado marido pensativo. — Teve um dia ruim? — Ela pergunta cruzando os braços sobre a mesa. Ruhan busca em seus olhos algum conforto, seja lá o que tanto o incomoda, parece ser sério:
— Eu preciso te confessar uma coisa, amor, não posso continuar guardando isso para mim.
— O que foi? Pode falar. Você não andou me traindo, não é? — Ela pergunta forçando uma leve risada quase inaudível.
— Não, não é isso, escuta. — Ele diz segurando suas duas mãos sobre a mesa. — Eu preciso te contar isso, porque quero que saiba o que está acontecendo. Quinze anos atrás eu namorei uma garota chamada Vivian, ela era uma garota simples e desequilibrada e sempre foi motivo de piadas, achei que namorando ela a coitada poderia ter algo de bom naquela vida. Eu prometi que nos casaríamos e nos mudaríamos para o Canadá quando ela conhecesse meus pais, só que eu não planejava isso, só deixava ela sonhar. Então um belo dia quando encontramos antigos colegas de escola dela, eu resolvi contar a verdade para Vivian e ela voltou a ser motivo de piada para seus colegas, depois desse dia eu nunca mais a vi.
— Meu Deus, Ruhan. — Susan solta às mãos de seu marido com uma feição de repulsa visível em seu rosto. — Como pôde fazer isso? Você foi um completo babaca com essa garota... Mas por que resolveu me contar isso agora? O que está havendo?
Ruhan olha nos olhos de sua esposa e procura por algum conforto, ele sabe que essa não é a pior parte:
— Não é só isso... Quando eu a deixei naquele restaurante, eu soube depois que Vivian surtou por não suportar ter sido enganada por mim e matou dezenas de pessoas, ela começou uma chacina desenfreada e só parou quando a polícia a impediu de cometer suicídio. Eu tô te contando essas coisas porque... Hoje um amigo meu da polícia, o Vitor, deu a notícia que a Vivian escapou do reformatório faz duas noites.
— E o que tem isso? Você acha que ela virá atrás de você ou coisa parecida? Sério, você é tão egocêntrico a ponto de achar que ela fugiria por sua causa?
— Ela quer vingança! — Ele eleva a voz, mas recua para não assustar a filha. — Tenho certeza de que ela virá atrás de mim, eu só queria que você soubesse a verdade. — Susan solta às mãos de seu marido levantando-se de sua cadeira, ela parece não ter gostado de conhecer esse lado do marido e não lidou bem com isso. — Olha, esse é um lado seu que eu não conhecia... Preciso filtrar tudo isso melhor, se importa de dormir na sala hoje? Porque eu preciso de um tempo a sós. — Susan diz se retirando da sala de jantar deixando Ruhan a sós, a verdade é que ele não se incomodou com o fato de sua esposa estar irritada com o que ele confessou, sua preocupação ainda está no fato de Vivian estar livre por aí.
Já é tarde da noite e a família Cavalcante já foi dormir, com exceção de Ruhan que permaneceu na sala bebendo uísque e observando o gramado de seu quintal, pensando em onde Vivian poderia estar. Ele não poderia dormir diante dessa ameaça, ainda mais com sua própria família correndo grande perigo, por isso decidiu ficar acordado já que teria que dormir na sala de qualquer jeito. Porém, algo chama sua atenção, os arbustos que cercam sua casa se move de maneira estranha, como se houvesse algo no meio deles. — Alfredo, ligue a luz do quintal para mim, por favor. — Ruhan pede ao caseiro pelo comunicador e sem demora as luzes se acendem, apenas para que aquela estranha movimentação pare, seria obra de sua imaginação ou talvez algum animal? Ele não saberia dizer.
— Pai! Papai!
Sofia chama em seu quarto e a pior sensação do mundo infla no coração de Ruhan que dá um salto do seu sofá e corre para o quarto da filha que fica no andar superior. Ao chegar lá, ele é surpreendido pela criança que está sorridente na porta, aparentemente bem. — Você me assustou, por que gritou desse jeito. — Ruhan diz pegando sua filha que já não é mais tão pequena no colo e a levando para a cama.
— Eu queria que o senhor viesse logo pra ver ela. — Sofia responde.
— Ela? Ela quem?
— A moça bonita. Ela estava aqui e disse que queria muito te conhecer.
— Moça bonita? — Ruhan varre o quarto de sua filha com seus olhos e não vê ninguém além dos artistas mirins que Sofia tanto ama em pôsteres.
— Amor, o que eu já falei sobre conversar com estranhos? — O pai pergunta deixando sua filha de pé sobre a cama.
— Ela não é estranha, pai. Ela disse que é sua amiga e que queria te ver, talvez tenha sentido vergonha e se escondido.
As palavras de sua filha gelam a espinha de Ruhan que já não estava calmo de maneira nenhuma, sua amiga? Só pode ser Vivian, ela está aqui. — Vem, hoje você vai dormir com o papai na sala. — Ruhan diz recolhendo sua filha da cama, com a pretensão de garantir sua segurança mantendo ela ao seu lado, no entanto, as coisas não sairão dessa forma. As luzes daquele casarão no meio da floresta se apagam deixando tudo no mais completo escuro e tudo o que Ruhan sente, é o aperto do abraço de sua filha que ficou com bastante medo da escuridão.
— Amor, preciso que fique aqui. Papai irá falar com o seu Alfredo pra ver se conseguimos trazer a luz de volta, okay? Seja corajosa e fique aqui.
— Tá bom, pai. A moça bonita não vai deixar nada acontecer comigo.
— Sabe de uma coisa? Vai pro quarto da mamãe, eu encontro vocês lá quando a luz voltar, tá?
Ruhan sai do quarto de sua filha sendo guiado pela luz da lanterna de seu celular. Ele desce as escadas com cuidado, temendo pela própria vida a cada esquina, pois segundo o que ouviu dos jornais, Vivian foi capaz de assassinatos bárbaros em seu surto e tudo por sua culpa, ela deve ter planos horríveis para ele. Saindo do casarão e atravessando o quintal até o casebre onde vive Alfredo, o caseiro que cuida da residência quando a família Cavalcante está fora. — Alfredo? Estamos sem luz, não percebeu? — O lugar parece deserto, está tudo quieto, porém a televisão está ligada e a comida no prato ainda está quente, ele esteve ali, mas não está mais. Ao vasculhar a pequena casa em busca do seu funcionário, Ruhan nota o rastro de sangue no chão que o leva até a cozinha, onde o corpo de Alfredo já sem vida com a cabeça partida por um machado que ainda está lá, ele foi golpeado enquanto abria a geladeira. — Puta merda! — Ruhan grita ao ver isso e se apavora ao pensar que sua família está sozinha, Vivian veio mesmo atrás dele e sua esposa com certeza é a próxima vítima.
Ruhan corre as pressas de volta para casa implorando para algum Deus para que salve sua família. Ao alcançar a casa e subir as escadas às pressas, ele chega ao quarto de Susan e encontra apenas ela lá, sentada na cama vendo fotos que são iluminadas pelo celular.
— Que bom que está bem...
— Quer me explicar o que é isso? — Susan pergunta jogando algumas das fotos aos seus pés. As fotos mostram Ruhan aos amassos com sua assistente. Tais fotos foram tiradas pela própria assistente sem ele saber, talvez para tentar chantageá-lo futuramente.
— Susan, eu posso explicar, mas agora não é hora pra isso, nós precisamos...
— Já chega, Ruhan! Eu não sei mais quem é você, eu preciso de um tempo para pensar, estou indo pra casa da minha mãe e a Sofia vem comigo.
Susan passa por Ruhan se afastando ao máximo para não tocá-lo, o marido tenta explicar de todas as maneiras e é em vão, Susan não quer dar ouvidos a ele. Agora ela entende porque ele veio com aquela história de ex namorada, a intenção dele era desviar seu foco sobre sua traição. Susan sem dar muitas explicações leva sua filha para a garagem da casa com Ruhan o tempo todo na cola, tentando se explicar e dizer que ela corre perigo:
— Amor, me escuta, você está correndo peri...
 O tapa em seu rosto interrompe sua fala e Susan parece mais séria do que nunca ao falar com ele. — Nunca mais me chame de amor, nós iremos conversar quando eu estiver mais calma, até lá, não me ligue. — Ruhan fica imóvel vendo sua esposa ou ex-esposa ir embora, talvez seja melhor assim, quanto mais longe dele nesse momento, mais segura ela estará, assim Ruhan poderá pensar em como lidar com Vivian que veio buscar vingança. O carro de Susan segue pela estrada em direção à saída da propriedade, levando para longe o que até poucas horas atrás era a feliz família Cavalcante. O que Susan não percebeu, foi o pequeno objeto com fios depositado no meio da estrada e quando o carro o alcança, a enorme explosão engole todo o veículo e tudo o que há dentro dele. — Não! — O grito de Ruhan ecoa ao longe e ele tenta correr na vã esperança de salvar sua família, até perceber que há algo além das chamas que crepitam no carro.
 Uma figura surge por trás do fogo, com silhueta feminina usando o que parece ser um vestido de noiva rasgado para ficar curto, botas pretas com meia arrastão e um casaco de couro fechado. Não dá para ver seu rosto, pois sua cabeça está enfaixada deixando apenas olhos e boca expostos e aqueles olhos, Ruhan conhece bem. — Vivia... — Ele diz pensando em enfrenta-la, isso até perceber que ela carrega algo perigoso. Uma metralhadora Browning M2 que Vivian se esforça muito para manter na altura de seu corpo e ao mirar contra Ruhan, o mesmo corre desesperado para dentro de sua casa fechando a porta atrás de si e se jogando atrás do sofá da sala. Os disparados destroem tudo a sua frente, produzindo enormes buracos na parede, destruindo o vidro de janelas, espelhos, retratos, televisão, tudo. Ruhan permanece deitado segurando a própria cabeça enquanto aquela chuva de balas ameaça sua vida e quando a tempestade para, ele se encoraja em tentar olha, restaram poucas coisas inteiras em sua sala e não há sinal de Vivian lá fora. Onde ela estaria? De repente, a porta da sala é derrubada por um chute e Vivian vem segurando um machado, pronta para mata-lo. Ruhan que está em sua mira corre em direção as escadas com Vivian em sua cola. Essa mulher é capaz de matar das formas mais cruéis possíveis, Ruhan precisa ficar o mais longe possível e pedir ajuda. Ele se tranca no quarto de sua filha Sofia e com seu celular, tenta ligar para seu amigo policial Vitor, que por alguma razão não atende as suas ligações. — Atende, filho da puta! — Enquanto isso, o machado de Vivian abre rombos cada vez maiores na porta forçando a sua entrada.
Segurando com firmeza seu machado, a algoz de Ruhan adentra o quarto procurando por ele sem encontra-lo de primeira, apenas para perceber que a janela do quarto está aberta, ele fugiu por lá. Ruhan cai no chão com uma queda mal planejada que não o impede, apesar da dor em seu pé esquerdo, ele corre em direção a seu carro, sua única chance de escapar. O seu Porsche Cayman estacionado acende os faróis prontos para fugir dali, e Ruhan é um excelente motorista, ele praticou automobilismo por anos por lazer e agora está na hora de mostrar o que aprendeu. O veículo sai da garagem acelerando cada vez mais, seguindo em direção à saída, sem poder evitar, Ruhan observa o carro em chamas onde estava sua família e por segundos, ele pôde ter um vislumbre do que sobrou de Susan e sua filha Sofia...
Vivian precisa ser detida e ela não irá parar até pegá-lo ou até morrer, mas como ele poderia enfrenta-la? É melhor chamar por ajuda, Ruhan pega seu celular ligando para emergência, no entanto a perseguição ainda não terminou, pois fortes faróis acendem atrás dele. Um caminhão militar vem vindo na direção de Ruhan, a resposta para quem estaria dirigindo aquilo ainda dentro de sua propriedade só pode ser uma. — Essa desgraçada não desiste, mas está louca se acha que pode me alcançar no meu carro. — Ruhan diz isso engatando a quinta marcha e acelerando como jamais o fez. Aos poucos o caminhão vai ficando para trás e Ruhan deixa sua propriedade arrancando os portões com a batida de seu carro. Os disparos que vem em sua direção vindos do caminhão mal chegam a acertá-lo, sua distância fica cada vez maior e sua esperança de fuga aumenta. — Vai se foder, sua vagabunda maluca. — Ruhan diz e um pouco cedo pra isso. Fortes explosões sequenciais bloqueiam a única estrada que leva a sua casa, Ruhan freia bruscamente após o susto e não crê no que ele vê, seu carro acaba caindo no buraco em chamas e ele não vê outra opção se não abandoná-lo. — Foda-se, preciso sair daqui. — O motorista fugitivo deixa o seu carro se arrastando do buraco, para se livrar das pequenas chamas ele rola no chão do outro lado do buraco, ao menos aquele caminhão também não passará por ali.
Ruhan está chamuscado devido às chamas que enfrentou, seu pé ainda dói pela queda e ele mal tem condições de continuar com essa noite que virou uma loucura sem fim, não sem sua família... Ele cai no chão sentindo o peso de seus erros sobre seus ombros, um peso que ele não consegue mais carregar e se esvai em lágrimas por sua perda, talvez a morte pelas mãos de Vivian seja o mais justo agora que ele perdeu Susan. Ao longe, um par de faróis o ilumina, seria Vivian finalmente chegando? Ruhan seca seus olhos encharcados e tenta ver quem é, porém aquelas luzes vermelhas giratórias entregam a identidade, a polícia enfim apareceu:
— Ruhan? O que houve? Só agora eu pude vir te ver, estava atendendo um chamado e não pude retornar, o que aconteceu com a estrada?
É seu amigo Vitor, o mesmo que o informou sobre a fuga de Vivian, ele veio ajudar, Ruhan está salvo e agora ele tem uma chance. O fugitivo corre para abraçar Vitor que percebe seu estado, afinal, o que diabos aconteceu? — Ela está aqui, Vitor, a desgraçada da Vivian veio atrás de mim... Susan e Sofia... Elas estão mortas... — Ruhan lamenta a própria perda e recebe o abraço de conforto de seu amigo:
— Puta merda... E foi ela quem fez isso?
— Sim... Estão todos mortos e agora ela me quer.
— Fica tranquilo, vai ficar tudo bem. Eu vou pedir apoio e nós vamos pegar essa vadia de uma vez por todas. Se você quiser, podemos deixar que vingue sua família... Cortesia de amigo. — O policial diz.
Ruhan o olha nos olhos de Vitor, ele não havia pensado nessa possibilidade, essa seria uma saída mais aceitável do que deixar que Vivian o mate, com isso ele poderia lidar, além disso, Marcia, sua assistente está solteira, ele poderia ter uma vida nova após o luto. — Certo... Vamos pegar essa... — A fala de Ruhan é interrompida pelo respingo de sangue que espirra em seu rosto, o disparo atingiu o olho esquerdo de Vitor em cheio e seu corpo morto desfalece nos braços de Ruhan que o larga sem pensar. Mais disparos são feitos, um destrói o para-brisa da viatura, outro explode a luz da sirene, um dos pneus é estourado e a orelha de Ruhan é atingida de raspão enquanto ele corre para se esconder atrás carro.
Vivian vem caminhando atravessando as chamas da estrada, ela joga seu fuzil de assalto no acostamento da estrada e retira uma faca que estava escondida em suas costas, hora de acabar com isso. Ela se aproxima cada vez mais da viatura sem dizer uma palavra, fazendo questão que seu coturno faça barulho ao pisar. Sua saia tremula esvoaçante com o vento gelado que sopra naquela estrada deserta e ao estar bem próxima do carro, Vivian tem uma surpresa. O disparo da escopeta atinge o peito de Vivian em cheio jogando seu corpo para trás, Ruhan segura a arma ainda trêmulo e feliz por não ter errado o tiro, ele nunca teve uma mira boa. Ele solta a arma no chão aliviado porque acabou, Vivian está morta depois desse tiro seu pesadelo chegou ao fim... Agora é hora de olhar nos olhos daquela que tirou inúmeras vidas por sua causa. O corpo de Vivian jaz imóvel naquele asfalto frio, seu peito ainda exala fumaça do disparo e ela ainda tem a faca em sua mão, mas por que seu rosto está enfaixado? Ruhan precisa ver aquele rosto uma ultima vez. Ele se aproxima do corpo de Vivian mancando, sua camisa está tingida de sangue devido ao ferimento em sua orelha e quando ele está próximo o bastante, tem sua perna rasgada pela faca de Vivian que ainda está viva:
— Filha da puta! — Ruhan grita antes de desabar no chão.
Vivian se levanta devagar para que seu peito não a machuque muito, já de pé ela se esforça para soltar o zíper do que restou de seu casaco de couro, revelando o colete à prova de balas que ela usava, o que a protegeu do disparo. — Vadia desgraçada... Merda... — Ruhan diz caído no chão e incapacitado de fugir, sua única chance de sobreviver foi em vão, parece que Vivian pensou em tudo. Aos poucos Vivian caminha com dificuldade para respirar, ela anda devagar até Ruhan libertando seu rosto das ataduras que o cobriam. Ela não parece ter envelhecido um dia sequer, seu rosto continua o mesmo que Ruhan se lembra daquela noite no jantar:
— Enfim nos encontramos, meu amor. — Ela finalmente fala.
— Acaba logo com isso, você já tirou tudo de mim e eu tirei tudo de você. Termina logo o que você veio fazer aqui.
— Você não tem ideia do que fez comigo. Por quinze anos eu planejei essa noite, cada detalhe dela, a fuga, o roubo do caminhão com as armas, os explosivos na estrada, tudo, quer saber como consegui tantas informações?
Vivian se aproxima de Ruhan se abaixando ao seu lado, ela não teme que ele revide, Vivian esperou muito por esse momento:
— Por bom comportamento eu tive acesso à internet, claro, sem redes sociais, mas isso não me fez falta, você faz ideia do que dá pra aprender na internet. Você por ser uma pessoa conhecida socialmente, não foi difícil descobrir detalhes sobre onde morava, quem trabalha pra você e claro, seu caso com sua assistente.
— Sua maldita, a Susan não tinha nada a ver com isso!
— Não tinha mesmo e eu não ligo. Eu destruí o meu rosto nos primeiros anos, chorava gritando seu nome arranhando minha pele até sobrar apenas carne. Com a cirurgia de restauração, eu me acostumei a ficar com as ataduras e por bom comportamento, ganhei uma plástica e voltei a ser jovem, mesmo sendo quinze anos mais velha desde aquela época, enfim, não quero enrolá-lo, sei que está ansioso pelo fim, eu também estou.
Vivian se levanta respirando fundo, com seu peito ainda doendo, ela fecha os olhos e olha para o céu abrindo os braços. A brisa fria daquela noite abraça seu corpo e ela se sente livre, depois de quinze anos, Vivian sente-se livre do seu fardo que está prestes a chegar ao fim. — Acabou, doutor Fernandes. — Vivian ergue os braços para cima segurando sua faca com as duas mãos e a desce de uma vez, perfurando o peito de Ruhan que cospe sangue para cima, mas não é o bastante. Vivian perfura seu peito várias e várias vezes, descarregando quinze anos de frustração e vida arruinada, sua liberdade chegou e ela não pode acreditar nisso, depois de tudo o que Vivian passou, ela poderá enfim descansar de verdade, sem mais nada assombrando seus pesadelos e tirando seu sono.
Com sua vingança concluída, Vivian se levanta soltando sua faca no chão e olhando para o céu onde não há uma única nuvem, “seria uma boa se chovesse agora”, Vivian pensa consigo, mas não é o que acontece. Ela caminha sem rumo pela estrada deixando tudo para trás, suas armas, veículos, seu colete e jaqueta destruída e usando apenas seu vestido de noiva rasgado nas pernas, ela caminha em direção a um futuro que nem mesmo ela conhece, seja o que for, será melhor do que o que passou. Depois de se tornar uma assassina notória, perder família e amigos e viver por quinze anos trancafiada por culpa de um homem, Vivian pensou em tirar a própria vida várias vezes quando tudo acabasse, só que agora que o derradeiro momento está aqui, tudo o que ela quer fazer é caminhar sem rumo e ver o que o destino reserva a ela.

  


Conto escrito por
Jairo Sylar

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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Sinopse: Sob o testemunho do luar, mais uma necropsia se inicia, sem que a jovem Suzy imagine tudo que irá experimentar nessa noite de agonia e tortura regida pelo sinistro médico patologista Carlos.


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