Sinopse: Uma chacina sem precedentes assolou as ruas da capital do país como nunca visto antes, quinze anos depois, uma família vive tranquilamente em sua mansão em Tocantins, quando a verdade desse passado assustador volta na forma de uma vingança terrível e implacável.
A Noite da Vingança
de Jairo Sylar
Em um casarão situado no meio de uma floresta no estado de Tocantins vive
uma família abastada. Hoje é noite de jantar em família, portanto, Ruhan, Susan
e sua filha Sofia terminam sua refeição na sala de jantar, como uma família
qualquer, no entanto, algo perturba Ruhan e isso Susan percebeu desde que ele
chegou do trabalho, por isso pede para que sua filha recolha os utensílios e os
deixe a sós, assim, ela poderá descobrir o que mantém o seu amado marido
pensativo. — Teve um dia ruim? — Ela pergunta cruzando os braços sobre a mesa.
Ruhan busca em seus olhos algum conforto, seja lá o que tanto o incomoda,
parece ser sério:
— Eu
preciso te confessar uma coisa, amor, não posso continuar guardando isso para
mim.
— O que
foi? Pode falar. Você não andou me traindo, não é? — Ela pergunta forçando uma
leve risada quase inaudível.
— Não,
não é isso, escuta. — Ele diz segurando suas duas mãos sobre a mesa. — Eu
preciso te contar isso, porque quero que saiba o que está acontecendo. Quinze
anos atrás eu namorei uma garota chamada Vivian, ela era uma garota simples e desequilibrada
e sempre foi motivo de piadas, achei que namorando ela a coitada poderia ter
algo de bom naquela vida. Eu prometi que nos casaríamos e nos mudaríamos para o
Canadá quando ela conhecesse meus pais, só que eu não planejava isso, só
deixava ela sonhar. Então um belo dia quando encontramos antigos colegas de
escola dela, eu resolvi contar a verdade para Vivian e ela voltou a ser motivo
de piada para seus colegas, depois desse dia eu nunca mais a vi.
— Meu
Deus, Ruhan. — Susan solta às mãos de seu marido com uma feição de repulsa
visível em seu rosto. — Como pôde fazer isso? Você foi um completo babaca com essa
garota... Mas por que resolveu me contar isso agora? O que está havendo?
Ruhan olha nos olhos de sua esposa e
procura por algum conforto, ele sabe que essa não é a pior parte:
— Não é
só isso... Quando eu a deixei naquele restaurante, eu soube depois que Vivian surtou
por não suportar ter sido enganada por mim e matou dezenas de pessoas, ela
começou uma chacina desenfreada e só parou quando a polícia a impediu de
cometer suicídio. Eu tô te contando essas coisas porque... Hoje um amigo meu da
polícia, o Vitor, deu a notícia que a Vivian escapou do reformatório faz duas
noites.
— E o que
tem isso? Você acha que ela virá atrás de você ou coisa parecida? Sério, você é
tão egocêntrico a ponto de achar que ela fugiria por sua causa?
— Ela
quer vingança! — Ele eleva a voz, mas recua para não assustar a filha. — Tenho
certeza de que ela virá atrás de mim, eu só queria que você soubesse a verdade.
— Susan solta às mãos de seu marido levantando-se de sua cadeira, ela parece
não ter gostado de conhecer esse lado do marido e não lidou bem com isso. —
Olha, esse é um lado seu que eu não conhecia... Preciso filtrar tudo isso
melhor, se importa de dormir na sala hoje? Porque eu preciso de um tempo a sós.
— Susan diz se retirando da sala de jantar deixando Ruhan a sós, a verdade é
que ele não se incomodou com o fato de sua esposa estar irritada com o que ele
confessou, sua preocupação ainda está no fato de Vivian estar livre por aí.
Já é tarde da noite e a família
Cavalcante já foi dormir, com exceção de Ruhan que permaneceu na sala bebendo
uísque e observando o gramado de seu quintal, pensando em onde Vivian poderia
estar. Ele não poderia dormir diante dessa ameaça, ainda mais com sua própria
família correndo grande perigo, por isso decidiu ficar acordado já que teria que
dormir na sala de qualquer jeito. Porém, algo chama sua atenção, os arbustos
que cercam sua casa se move de maneira estranha, como se houvesse algo no meio
deles. — Alfredo, ligue a luz do quintal para mim, por favor. — Ruhan pede ao
caseiro pelo comunicador e sem demora as luzes se acendem, apenas para que
aquela estranha movimentação pare, seria obra de sua imaginação ou talvez algum
animal? Ele não saberia dizer.
— Pai!
Papai!
Sofia chama em seu quarto e a pior sensação do mundo infla no coração de
Ruhan que dá um salto do seu sofá e corre para o quarto da filha que fica no
andar superior. Ao chegar lá, ele é surpreendido pela criança que está
sorridente na porta, aparentemente bem. — Você me assustou, por que gritou
desse jeito. — Ruhan diz pegando sua filha que já não é mais tão pequena no
colo e a levando para a cama.
— Eu
queria que o senhor viesse logo pra ver ela. — Sofia responde.
— Ela?
Ela quem?
— A moça
bonita. Ela estava aqui e disse que queria muito te conhecer.
— Moça bonita?
— Ruhan varre o quarto de sua filha com seus olhos e não vê ninguém além dos
artistas mirins que Sofia tanto ama em pôsteres.
— Amor, o
que eu já falei sobre conversar com estranhos? — O pai pergunta deixando sua
filha de pé sobre a cama.
— Ela não
é estranha, pai. Ela disse que é sua amiga e que queria te ver, talvez tenha
sentido vergonha e se escondido.
As palavras de sua filha gelam a
espinha de Ruhan que já não estava calmo de maneira nenhuma, sua amiga? Só pode
ser Vivian, ela está aqui. — Vem, hoje você vai dormir com o papai na sala. —
Ruhan diz recolhendo sua filha da cama, com a pretensão de garantir sua
segurança mantendo ela ao seu lado, no entanto, as coisas não sairão dessa
forma. As luzes daquele casarão no meio da floresta se apagam deixando tudo no
mais completo escuro e tudo o que Ruhan sente, é o aperto do abraço de sua
filha que ficou com bastante medo da escuridão.
— Amor,
preciso que fique aqui. Papai irá falar com o seu Alfredo pra ver se
conseguimos trazer a luz de volta, okay? Seja corajosa e fique aqui.
— Tá bom, pai. A moça
bonita não vai deixar nada acontecer comigo.
— Sabe de
uma coisa? Vai pro quarto da mamãe, eu encontro vocês lá quando a luz voltar,
tá?
Ruhan sai do quarto de sua filha
sendo guiado pela luz da lanterna de seu celular. Ele desce as escadas com
cuidado, temendo pela própria vida a cada esquina, pois segundo o que ouviu dos
jornais, Vivian foi capaz de assassinatos bárbaros em seu surto e tudo por sua
culpa, ela deve ter planos horríveis para ele. Saindo do casarão e atravessando
o quintal até o casebre onde vive Alfredo, o caseiro que cuida da residência
quando a família Cavalcante está fora. — Alfredo? Estamos sem luz, não
percebeu? — O lugar parece deserto, está tudo quieto, porém a televisão está
ligada e a comida no prato ainda está quente, ele esteve ali, mas não está
mais. Ao vasculhar a pequena casa em busca do seu funcionário, Ruhan nota o
rastro de sangue no chão que o leva até a cozinha, onde o corpo de Alfredo já
sem vida com a cabeça partida por um machado que ainda está lá, ele foi
golpeado enquanto abria a geladeira. — Puta merda! — Ruhan grita ao ver isso e
se apavora ao pensar que sua família está sozinha, Vivian veio mesmo atrás dele
e sua esposa com certeza é a próxima vítima.
Ruhan corre as pressas de volta para
casa implorando para algum Deus para que salve sua família. Ao alcançar a casa
e subir as escadas às pressas, ele chega ao quarto de Susan e encontra apenas
ela lá, sentada na cama vendo fotos que são iluminadas pelo celular.
— Que bom
que está bem...
— Quer me
explicar o que é isso? — Susan pergunta jogando algumas das fotos aos seus pés.
As fotos mostram Ruhan aos amassos com sua assistente. Tais fotos foram tiradas
pela própria assistente sem ele saber, talvez para tentar chantageá-lo
futuramente.
— Susan,
eu posso explicar, mas agora não é hora pra isso, nós precisamos...
— Já
chega, Ruhan! Eu não sei mais quem é você, eu preciso de um tempo para pensar,
estou indo pra casa da minha mãe e a Sofia vem comigo.
Susan passa por Ruhan se afastando
ao máximo para não tocá-lo, o marido tenta explicar de todas as maneiras e é em
vão, Susan não quer dar ouvidos a ele. Agora ela entende porque ele veio com
aquela história de ex namorada, a intenção dele era desviar seu foco sobre sua
traição. Susan sem dar muitas explicações leva sua filha para a garagem da casa
com Ruhan o tempo todo na cola, tentando se explicar e dizer que ela corre
perigo:
— Amor,
me escuta, você está correndo peri...
O tapa em seu rosto interrompe sua
fala e Susan parece mais séria do que nunca ao falar com ele. — Nunca mais me
chame de amor, nós iremos conversar quando eu estiver mais calma, até lá, não
me ligue. — Ruhan fica imóvel vendo sua esposa ou ex-esposa ir embora, talvez
seja melhor assim, quanto mais longe dele nesse momento, mais segura ela
estará, assim Ruhan poderá pensar em como lidar com Vivian que veio buscar
vingança. O carro de Susan segue pela estrada em direção à saída da
propriedade, levando para longe o que até poucas horas atrás era a feliz
família Cavalcante. O que Susan não percebeu, foi o pequeno objeto com fios
depositado no meio da estrada e quando o carro o alcança, a enorme explosão
engole todo o veículo e tudo o que há dentro dele. — Não! — O grito de Ruhan
ecoa ao longe e ele tenta correr na vã esperança de salvar sua família, até
perceber que há algo além das chamas que crepitam no carro.
Uma figura surge por trás do fogo,
com silhueta feminina usando o que parece ser um vestido de noiva rasgado para
ficar curto, botas pretas com meia arrastão e um casaco de couro fechado. Não
dá para ver seu rosto, pois sua cabeça está enfaixada deixando apenas olhos e
boca expostos e aqueles olhos, Ruhan conhece bem. — Vivia... — Ele diz pensando
em enfrenta-la, isso até perceber que ela carrega algo perigoso. Uma
metralhadora Browning M2 que Vivian se esforça muito para manter na altura de
seu corpo e ao mirar contra Ruhan, o mesmo corre desesperado para dentro de sua
casa fechando a porta atrás de si e se jogando atrás do sofá da sala. Os
disparados destroem tudo a sua frente, produzindo enormes buracos na parede,
destruindo o vidro de janelas, espelhos, retratos, televisão, tudo. Ruhan
permanece deitado segurando a própria cabeça enquanto aquela chuva de balas
ameaça sua vida e quando a tempestade para, ele se encoraja em tentar olha,
restaram poucas coisas inteiras em sua sala e não há sinal de Vivian lá fora.
Onde ela estaria? De repente, a porta da sala é derrubada por um chute e Vivian
vem segurando um machado, pronta para mata-lo. Ruhan que está em sua mira corre
em direção as escadas com Vivian em sua cola. Essa mulher é capaz de matar das
formas mais cruéis possíveis, Ruhan precisa ficar o mais longe possível e pedir
ajuda. Ele se tranca no quarto de sua filha Sofia e com seu celular, tenta
ligar para seu amigo policial Vitor, que por alguma razão não atende as suas
ligações. — Atende, filho da puta! — Enquanto isso, o machado de Vivian abre
rombos cada vez maiores na porta forçando a sua entrada.
Segurando com firmeza seu machado, a
algoz de Ruhan adentra o quarto procurando por ele sem encontra-lo de primeira,
apenas para perceber que a janela do quarto está aberta, ele fugiu por lá.
Ruhan cai no chão com uma queda mal planejada que não o impede, apesar da dor
em seu pé esquerdo, ele corre em direção a seu carro, sua única chance de
escapar. O seu Porsche Cayman estacionado acende os faróis prontos para fugir
dali, e Ruhan é um excelente motorista, ele praticou automobilismo por anos por
lazer e agora está na hora de mostrar o que aprendeu. O veículo sai da garagem
acelerando cada vez mais, seguindo em direção à saída, sem poder evitar, Ruhan
observa o carro em chamas onde estava sua família e por segundos, ele pôde ter
um vislumbre do que sobrou de Susan e sua filha Sofia...
Vivian precisa ser detida e ela não
irá parar até pegá-lo ou até morrer, mas como ele poderia enfrenta-la? É melhor
chamar por ajuda, Ruhan pega seu celular ligando para emergência, no entanto a
perseguição ainda não terminou, pois fortes faróis acendem atrás dele. Um
caminhão militar vem vindo na direção de Ruhan, a resposta para quem estaria
dirigindo aquilo ainda dentro de sua propriedade só pode ser uma. — Essa
desgraçada não desiste, mas está louca se acha que pode me alcançar no meu
carro. — Ruhan diz isso engatando a quinta marcha e acelerando como jamais o
fez. Aos poucos o caminhão vai ficando para trás e Ruhan deixa sua propriedade
arrancando os portões com a batida de seu carro. Os disparos que vem em sua
direção vindos do caminhão mal chegam a acertá-lo, sua distância fica cada vez
maior e sua esperança de fuga aumenta. — Vai se foder, sua vagabunda maluca. —
Ruhan diz e um pouco cedo pra isso. Fortes explosões sequenciais bloqueiam a
única estrada que leva a sua casa, Ruhan freia bruscamente após o susto e não
crê no que ele vê, seu carro acaba caindo no buraco em chamas e ele não vê
outra opção se não abandoná-lo. — Foda-se, preciso sair daqui. — O motorista
fugitivo deixa o seu carro se arrastando do buraco, para se livrar das pequenas
chamas ele rola no chão do outro lado do buraco, ao menos aquele caminhão
também não passará por ali.
Ruhan está chamuscado devido às
chamas que enfrentou, seu pé ainda dói pela queda e ele mal tem condições de
continuar com essa noite que virou uma loucura sem fim, não sem sua família...
Ele cai no chão sentindo o peso de seus erros sobre seus ombros, um peso que
ele não consegue mais carregar e se esvai em lágrimas por sua perda, talvez a
morte pelas mãos de Vivian seja o mais justo agora que ele perdeu Susan. Ao
longe, um par de faróis o ilumina, seria Vivian finalmente chegando? Ruhan seca
seus olhos encharcados e tenta ver quem é, porém aquelas luzes vermelhas
giratórias entregam a identidade, a polícia enfim apareceu:
— Ruhan?
O que houve? Só agora eu pude vir te ver, estava atendendo um chamado e não
pude retornar, o que aconteceu com a estrada?
É seu amigo Vitor, o mesmo que o informou
sobre a fuga de Vivian, ele veio ajudar, Ruhan está salvo e agora ele tem uma
chance. O fugitivo corre para abraçar Vitor que percebe seu estado, afinal, o
que diabos aconteceu? — Ela está aqui, Vitor, a desgraçada da Vivian veio atrás
de mim... Susan e Sofia... Elas estão mortas... — Ruhan lamenta a própria perda
e recebe o abraço de conforto de seu amigo:
— Puta
merda... E foi ela quem fez isso?
— Sim...
Estão todos mortos e agora ela me quer.
— Fica
tranquilo, vai ficar tudo bem. Eu vou pedir apoio e nós vamos pegar essa vadia
de uma vez por todas. Se você quiser, podemos deixar que vingue sua família...
Cortesia de amigo. — O policial diz.
Ruhan o olha nos olhos de Vitor, ele
não havia pensado nessa possibilidade, essa seria uma saída mais aceitável do
que deixar que Vivian o mate, com isso ele poderia lidar, além disso, Marcia,
sua assistente está solteira, ele poderia ter uma vida nova após o luto. —
Certo... Vamos pegar essa... — A fala de Ruhan é interrompida pelo respingo de
sangue que espirra em seu rosto, o disparo atingiu o olho esquerdo de Vitor em
cheio e seu corpo morto desfalece nos braços de Ruhan que o larga sem pensar.
Mais disparos são feitos, um destrói o para-brisa da viatura, outro explode a
luz da sirene, um dos pneus é estourado e a orelha de Ruhan é atingida de
raspão enquanto ele corre para se esconder atrás carro.
Vivian vem caminhando atravessando
as chamas da estrada, ela joga seu fuzil de assalto no acostamento da estrada e
retira uma faca que estava escondida em suas costas, hora de acabar com isso.
Ela se aproxima cada vez mais da viatura sem dizer uma palavra, fazendo questão
que seu coturno faça barulho ao pisar. Sua saia tremula esvoaçante com o vento
gelado que sopra naquela estrada deserta e ao estar bem próxima do carro,
Vivian tem uma surpresa. O disparo da escopeta atinge o peito de Vivian em
cheio jogando seu corpo para trás, Ruhan segura a arma ainda trêmulo e feliz
por não ter errado o tiro, ele nunca teve uma mira boa. Ele solta a arma no
chão aliviado porque acabou, Vivian está morta depois desse tiro seu pesadelo
chegou ao fim... Agora é hora de olhar nos olhos daquela que tirou inúmeras
vidas por sua causa. O corpo de Vivian jaz imóvel naquele asfalto frio, seu
peito ainda exala fumaça do disparo e ela ainda tem a faca em sua mão, mas por
que seu rosto está enfaixado? Ruhan precisa ver aquele rosto uma ultima vez.
Ele se aproxima do corpo de Vivian mancando, sua camisa está tingida de sangue
devido ao ferimento em sua orelha e quando ele está próximo o bastante, tem sua
perna rasgada pela faca de Vivian que ainda está viva:
— Filha
da puta! — Ruhan grita antes de desabar no chão.
Vivian se levanta devagar para que
seu peito não a machuque muito, já de pé ela se esforça para soltar o zíper do
que restou de seu casaco de couro, revelando o colete à prova de balas que ela
usava, o que a protegeu do disparo. — Vadia desgraçada... Merda... — Ruhan diz
caído no chão e incapacitado de fugir, sua única chance de sobreviver foi em
vão, parece que Vivian pensou em tudo. Aos poucos Vivian caminha com
dificuldade para respirar, ela anda devagar até Ruhan libertando seu rosto das
ataduras que o cobriam. Ela não parece ter envelhecido um dia sequer, seu rosto
continua o mesmo que Ruhan se lembra daquela noite no jantar:
— Enfim
nos encontramos, meu amor. — Ela finalmente fala.
— Acaba
logo com isso, você já tirou tudo de mim e eu tirei tudo de você. Termina logo
o que você veio fazer aqui.
— Você
não tem ideia do que fez comigo. Por quinze anos eu planejei essa noite, cada
detalhe dela, a fuga, o roubo do caminhão com as armas, os explosivos na
estrada, tudo, quer saber como consegui tantas informações?
Vivian se aproxima de Ruhan se
abaixando ao seu lado, ela não teme que ele revide, Vivian esperou muito por
esse momento:
— Por bom
comportamento eu tive acesso à internet, claro, sem redes sociais, mas isso não
me fez falta, você faz ideia do que dá pra aprender na internet. Você por ser
uma pessoa conhecida socialmente, não foi difícil descobrir detalhes sobre onde
morava, quem trabalha pra você e claro, seu caso com sua assistente.
— Sua
maldita, a Susan não tinha nada a ver com isso!
— Não
tinha mesmo e eu não ligo. Eu destruí o meu rosto nos primeiros anos, chorava
gritando seu nome arranhando minha pele até sobrar apenas carne. Com a cirurgia
de restauração, eu me acostumei a ficar com as ataduras e por bom
comportamento, ganhei uma plástica e voltei a ser jovem, mesmo sendo quinze
anos mais velha desde aquela época, enfim, não quero enrolá-lo, sei que está
ansioso pelo fim, eu também estou.
Vivian se levanta respirando fundo,
com seu peito ainda doendo, ela fecha os olhos e olha para o céu abrindo os
braços. A brisa fria daquela noite abraça seu corpo e ela se sente livre,
depois de quinze anos, Vivian sente-se livre do seu fardo que está prestes a
chegar ao fim. — Acabou, doutor Fernandes. — Vivian ergue os braços para cima
segurando sua faca com as duas mãos e a desce de uma vez, perfurando o peito de
Ruhan que cospe sangue para cima, mas não é o bastante. Vivian perfura seu
peito várias e várias vezes, descarregando quinze anos de frustração e vida
arruinada, sua liberdade chegou e ela não pode acreditar nisso, depois de tudo
o que Vivian passou, ela poderá enfim descansar de verdade, sem mais nada
assombrando seus pesadelos e tirando seu sono.
Com sua vingança concluída, Vivian
se levanta soltando sua faca no chão e olhando para o céu onde não há uma única
nuvem, “seria uma boa se chovesse agora”, Vivian pensa consigo, mas não é o que
acontece. Ela caminha sem rumo pela estrada deixando tudo para trás, suas
armas, veículos, seu colete e jaqueta destruída e usando apenas seu vestido de
noiva rasgado nas pernas, ela caminha em direção a um futuro que nem mesmo ela
conhece, seja o que for, será melhor do que o que passou. Depois de se tornar
uma assassina notória, perder família e amigos e viver por quinze anos
trancafiada por culpa de um homem, Vivian pensou em tirar a própria vida várias
vezes quando tudo acabasse, só que agora que o derradeiro momento está aqui, tudo
o que ela quer fazer é caminhar sem rumo e ver o que o destino reserva a ela.
Conto escrito por
Jairo Sylar
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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