Sinopse: Uma garotinha avisa a mãe que está com medo de ficar em seu quarto, porque o bicho papão a está atormentando. A mãe conforta a menina dizendo que bicho papão não existe, que é somente fruto da imaginação da criança. No final, o monstro revela-se real e surpreende os leitores com sua aparência.
O Bicho Papão
de Leandro Sousa
Como toda noite, chega a hora da pequena Rebeca ir dormir. A mãe não
entende o medo da garotinha de cinco anos, que insiste para que a genitora
fique com ela até adormecer. A criança cochicha: “é para o bicho papão não
aparecer mamãezinha”. A mãe sorri folgadamente e conforta: “bicho papão não
existe mocinha, não precisa ter medo”. A pequena tenta disfarçar com um sorriso
amarelo, mas parece realmente assombrada e chega a ficar trêmula. Isso preocupa
a mãe, que acalenta a menina e canta suavemente uma canção de ninar até o sono
chegar e acalmar a aflição da filha, que, agora, dorme feito um anjinho.
A mãe sai do quarto apreensiva. Estranha o comportamento de Rebeca, pois
já havia percebido, há alguns dias, certas mudanças no jeito da menina. A
garotinha andava calada, assustava-se facilmente com qualquer barulho, logo
ela, antes tão brincalhona, sorridente e agitada. Transbordava uma felicidade
facilmente percebida no brilho que emanava de seus olhos infantis e cheios de
vida. E agora, naquela noite, queixava-se de um suposto bicho papão e
demonstrava um pavor tão grande que nem parecia a menina brincalhona que sempre
foi. E para piorar, a situação se repetiu nas noites seguintes. “Eu lhe conto
mamãe, se a senhora prometer não falar para ninguém. Ninguém mesmo”. Dessa vez
puxou a mãe para si e cochichou bem próximo ao seu ouvido, como se fosse
revelar algum grande segredo que não devesse.
A mãe, impressionada com a atitude e a aflição da menina, prometeu como
o pedido e ficou atenta à confissão de sua criança: “Mamãezinha, quase sempre,
acordo a noite com ele dentro do meu quarto, às vezes desperto com o ranger da
porta abrindo, acho que é a porta do armário ali”. E o dedinho trêmulo aponta
para o móvel meio escondido pelas sombras, localizado no quarto onde o brilho
do abajur não alcançava. Dessa vez, a mãe, sentindo um frio na espinha, disse
decidida que naquela noite dormiria lá com a garotinha, para mostrar que não
existia bicho papão nenhum. A pequena, satisfeita, sorriu e deu um abraço bem
apertado em sua heroína.
Mas, no meio da noite, a mãe, que dormia agarradinha com a filha,
acordou ao ouvir passos no quarto que vinham em sua direção e quase gritou de
susto, assustando também a figura muito familiar que se encontrava na sua
frente. Era seu esposo e pai de Rebeca que havia chegado um pouco mais tarde do
trabalho e, não encontrando a esposa no quarto do casal, foi verificar no
quarto da filha, admirando-se com a cena que via, pois a menina nunca teve
problemas em dormir cedo e sozinha.
Então, perguntou se a esposa estava muito cansada e se por isso
adormecera. Ela, aliviada com a chegada do marido, com quem podia desabafar,
contou o que estava acontecendo. Ele, por sua vez, agitou-se com a história que
ouviu, mas, logo em seguida, considerou que tudo devia ser só imaginação de
criança, que era melhor observarem o que a menina andava assistindo na
televisão ou na internet. Os dois concordaram em ficar atentos a partir do dia
seguinte e concordaram também em dormirem separados àquela noite, para que a
mãe pudesse cumprir o prometido para a filha, mostrando que tudo não passava de
coisas de sua cabecinha de criança.
Incrivelmente, depois daquela noite, Rebeca não reclamou mais de nada
para a mãe e voltou a se comportar como antes, brincalhona e sorridente.
Indagada pela mãe, a garotinha revelou que não havia mais bicho papão e que a
mamãezinha era a sua heroína.
E assim, o tempo passou, e a pequena Rebeca crescia feliz. Agora com
nove anos de idade, nem lembrava mais das noites em que precisou do auxílio da
mãe para se livrar dos sustos causados pelo suposto bicho papão. Mas, o que a
garota não esperava, era que depois de tanto tempo, se encontraria em uma
situação que faria vir à tona todas as suas lembranças das noites de sustos. A
diferença era que, mais crescida, ela agora entendia, sabia que era real.
Aquele ranger da porta, barulho familiar, causou-lhe arrepios. Percebeu que o
rangido não era da porta do armário, mas da do quarto, que só fazia esse
barulho, quando era aberta bem devagar. Ela ficou imóvel, tremendo, sabia que
era ele voltando ... sentia.
Com grande esforço, quis comprovar que estavam certas suas suspeitas e
virou-se para o bicho papão, encarando-o. E com os olhos esbugalhados de pavor,
viu que estava certa. Quando o bicho aparecia-lhe aos cinco anos, sua mente de
criança confundia-se toda e não entendia, tinha suspeitas, mas não conseguia
conciliar as ideias e isso se refletia em seu comportamento, levando-a a ficar
reservada e tristonha. Mas, agora? Agora era diferente! Agora compreendia tudo!
Os pesadelos voltaram! E, com os olhos esbugalhados de pavor, viu que estava
certa e que aquele monstro, que invadia seu quarto e perturbava seu sono e seus
sonhos de criança, à noite, chamava-se bicho papão, mas, quando amanhecia,
chamava-se pai.
Conto escrito por
Leandro Sousa
ProduçãoBruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
Copyright © 2020 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução
Comentários:
0 comentários: