Sinopse: William fez algo horrível e quis esconder do mundo, mas alguém soube de tudo o que aconteceu.
Obeso Tormento
de Apagador Vocalista
Muito bonito o que você faz, William. Pena
que só eu sei o que você fez realmente. Fique tranquilo, não vou contar a
ninguém, mas preciso que você mesmo saiba. Eu sei que você já sabe, mas escutar
tudo vindo de alguém como eu pode te ajudar. Ou ajudar te abrindo os olhos, ou
te ajudar te punindo.
Os pedintes da Sé te veneram. Você é o
próprio Messias saído da catedral da famosa praça. O marco zero da capital
paulista é só um troço sem importância. Eles não se importam com a distância
das coisas em relação àquilo, como aprendemos na escola. Você é o marco daquela
mendigada toda. Louvável seja William, mas para sempre será louvado? E se eu
contar a eles que você vai lá não pela missa, mas pela confissão? Será que vão
suspeitar de algo? Seu heroísmo cairá como todo grande império já caiu uma vez
na História?
Amigo, não adianta me evitar. Qualquer
táxi que você pegar para seja-lá-qual-for-o-destino eu estarei na sua cola.
Eu sei, você quer justificar seus atos.
A Natália era uma menina dócil, mas também era o clímax da ingenuidade. O
namorado a trocou pela Roberta, mais “experiente”, mais ousada, mais,
digamos... “salgada”. O ombro amigo que lhe deste tinha segundas intenções,
sim, não adianta negar. Seus argumentos foram friamente calculados para que ela
se apaixonasse por você. Confesso que nem um vampiro o faria tão bem como
fizeste. Tudo isso pelo “fruto” da moça. Não, não foi apenas consequência, foi
o seu plano desde o início. Felizmente, ela não gostou da experiência, foi
dolorido para ela, e o Thiago faz aquilo melhor que você. Mas você e eu sabemos
que ele não é nenhum azarado em ter engravidado a coitada logo no primeiro mês
de namoro. Ele é estéril. Você, uma Afrodite masculina.
Amigo, não
adianta me xingar. Eu não me ofendo fácil, e ser o
guardião dos seus segredos, querendo ou não, é meu melhor escudo para seus
truques.
Calma, não vou relevar a verdade. As
pessoas vão estranhar por si só. William, mesquinho, morador da Zona Norte da
capital, de repente para de frequentar a pequena Paróquia São José do Mandaqui,
onde todo mundo se conhece, para assistir cultos no perigoso e distante centro
da cidade? Você sabe que o Thiago te considera como um irmão, né? Nossa, é
verdade! Ele não sabe do seu envolvimento com a Natália! De repente, me senti
até mais pesado aqui.
Amigo, não adianta se matar. Se o que o
padre falou sobre julgamento final for verdade, vai passar os melhores e os
piores momentos de sua vida num telão para todo mundo ver. Por enquanto, essa
vergonha só eu e você sabemos.
Adianta mesmo comprar comida para os
moradores de rua do centrão? Isso te alivia de alguma forma? Apesar da recente
alimentação saudável eu ainda me sinto gordo. Sente-se melhor mesmo? Mas nem
para o confessor você contou tudo... William, não é questão de ser ou não ser, é
questão do que já foi feito.
Amigo sim! Esse mea culpa pode me
ajudar a te ajudar, mas você tem culhões para isso? Pois é, o preço é alto. Mas
a parcela é única. Será que vale?
Eu sei, do lixo da sua família, a única
que se salva é sua avó Wilma. Não que você seja santo, o que fizeste te
condena. E seu egoísmo também. Sua família a deixou naquele cafofo perto da
praça Agostinho Gianotti. Coitada, justo ela... senhorinha fofa demais, que se
recusa a ir de carro até a paróquia para caminhar contigo, enfrentando a íngreme
subida até a avenida Santa Inês ou a da Voluntários da Pátria, para variar o
caminho, com seus 80 anos nas costas. Tens noção da falta que você lhe faz? Agora,
só missa pela TV. Ela pergunta todos os dias sobre você, e como ninguém sabe o
que fazes, contam mentiras pouco variadas a ela. “Deve estar trabalhando muito.
O William sempre foi responsável”, “deve ser alguma namoradinha. Essa idade é
fogo!”, e por aí vai. Ela vivia para você, esperava a semana inteira por sua
visita. E se ela morrer? Meu deus, vou virar uma bola de guindaste!
Não, eu não tenho preço, não posso ser
comprado. Eu só sirvo para chantagear. Tenho prazer nisso. Como ousa tirar isso
de mim? Podemos conviver, caso você aceite o que fez.
Por quanto tempo você me aguentará,
William? És forte o bastante? Perto do metrô Santana tem uma clínica que faz
hipnose, regressão, TVP, essas coisas que sempre estarão na moda para quem
gosta de esoterismo. Será que essas práticas são uma borracha capaz de me
apagar? Ao menos sabe se o que escrevi foi à lápis? Isso vai lhe custar uma
grana... você pode contar para algum amigo, mas todos estão no local
sacrossanto de onde você mesmo se exilou. Já sei! Lembra quando você era
pequeno e era viciado em brincar com seus bonequinhos? Você tinha um amigo imaginário
chamado Marcel. Pode invocá-lo novamente, mesmo depois de velho. Mas sou eu
quem vou bani-lo de sua mente, pois já tomei conta daqui faz tempo. Para seu
azar, fiz um cerco com minha fortaleza, e só uma bala de revólver pode furar.
Se achar que vale a pena, lembre-se do cinema celestial transmitindo “O pior de
William” para os telespectadores.
Enquanto você pensa em alguma solução
para se livrar de mim, vou chantagear a Roberta, a Natália, o Thiago e até a
sua avó. Todos têm seus segredos.
Conto escrito por
Apagador Vocalista
ProduçãoBruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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