3x03 - Esperando as Farfalinas
de Marcos Norabele
A pequena Sissa já
estava há alguns meses no hospital. Apenas a cada mês os pais podiam vir vê-la
porque seu tratamento seria demorado e eles moravam longe no interior. Sua
rotina era tomar remédios, fazer exames, ter aula com os outros alunos
internados. Ela podia brincar porque tinha um local no hospital para isso: era
a sala dos brinquedos. Os médicos e enfermeiros eram muito gentis e mesmo o
pessoal da faxina era simpático com ela. Muitas vezes até a Filó interrompia a
limpeza para lhe contar histórias.
Sissa fizera amigos
também: Luiz que vivia com medo... principalmente de injeção; Paulinha que
queria ser bailarina e dançava nos corredores; Fabinho que gostava de dar
sustos... era terrível. Mas Sissa tinha saudades de casa. Saudades dos pais,
dos irmãos, da nona velhinha e suas histórias, do cão Sabujo e do gato Elias.
Saudades de brincar no parque, saudades da comida cheirosa, dos outros amigos
da escola. A menina também tinha ficado chateada porque seus cabelos caíram por
causa do tratamento. Estava carequinha agora.
Um dia que estava bem
triste lembrou-se de uma história que a avó contava. Dizia ela que existiam
sete pequenas borboletas chamadas “Farfalinas”. Cada uma delas era de uma cor:
verde, amarela, branca, vermelha, azul, laranja e violeta. Sua avó dizia que elas não eram simples
borboletas, mas seres mágicos que ajudavam as crianças, principalmente quando
estavam em perigo ou tristes. Que elas visitavam as crianças quando se sentiam
sozinhas e as faziam sorrir. Antes de deixar a sua casa a nona de Sissa lhe
disse que não se preocupasse porque pediria para as Farfalinas irem ao hospital
quando ela precisasse.
Lembrando disso a
menina desejou muito que as borboletas mágicas aparecessem por ali e não
esquecia mais disso. Ia à aula, brincava com os amigos, mas sempre lhe vinha o
desejo que as Farfalinas viessem lhe visitar. Quando via uma borboleta no
jardim do hospital se enchia de esperança de que elas estariam chegando, mas
nunca aconteceu de umazinha sequer se aventurar por seu quarto. Toda noite sonhava
que estava brincando com elas. E sempre acordava mais feliz após sonhar com
elas.
Por onde andariam as
Farfalinas quando se precisava delas? - pensava a menina. Estava ela ali, há
meses no hospital e nada de Farfalina aparecer. Talvez a avó não tenha se
lembrado de falar com elas. Só podia ser isso. A avó estava cada vez mais
esquecida. Esquecia os remédios e recados, não se podia contar com a memória
dela. Sissa decidiu escrever uma carta para a avó. Pedia que a avó insistisse
com as Farfalinas para que elas viessem vê-la.
Alguns dias depois
chegou a resposta da avó. Dizia que havia sim falado com as Farfalinas e que a
neta esperasse por elas com confiança. A menina esperou e esperou. Pensou que
não estivesse triste o suficiente para que as Farfalinas lhe visitassem. Mas a
oportunidade de ficar ainda mais triste chegou. Fabinho veio se despedir, seus
pais vieram busca-lo. Na verdade Sissa ficou feliz porque o amigo estava
curado. Mas também sentiu um tiquinho de inveja e por fim ficou triste porque não
o veria e nem brincaria mais com ele.
Ao perceber que estava
muito, muito triste se convenceu que talvez agora as Farfalinas se decidissem a
vir vê-la. Mas nesse dia ficou desesperada com um sabiá que vivia zanzando nas
árvores do jardim. Estava ela em sua janela esperando as Farfalinas quando uma
linda borboleta azul surgiu voando toda faceira por estre as flores. Seria uma
delas? Seria uma Farfalina, enfim? Se era, Sissa não descobriu porque o sabiá
num rasante certeiro alcançou a borboleta azul e nhoc, nhoc, nhoc... Já era a
borboleta.
Sissa sentiu uma raiva
imensa do sabiá. Era ele que estava impedindo que as Farfalinas viessem até seu
quarto. Elas nunca viriam. Começou a chorar. Filó foi a primeira a perceber as
lágrimas. Sissa contou o caso das Farfalinas e do sabiá. Filó acalmou a menina
explicando que borboletas mágicas jamais se deixariam ser pegas por um sabiá de
jardim. Fez a menina rir explicando como a tal Farfalina deixaria o sabiá com a
língua para fora a perseguindo. Além
disso, por serem mágicas elas só apareceriam à noite quando os sabiás dormiam.
Sissa acreditou de
novo, por algum tempo. Mas os dias passavam e nada das Farfalinas aparecerem. A
menina escreveu outra carta para a avó. Dizia que a avó a enganara e que
Farfalinas não existiam, eram uma invenção e que ninguém nunca tinha visto uma
delas.
A avó respondeu dizendo
que as Farfalinas eram de verdade. E que elas estavam no hospital, mas não
sabia por que a menina ainda não as tinha visto e que ela deveria continuar
esperando. Nessas alturas Sissa já havia cansado de esperar. Elas podiam até
existir, mas se existissem não se importavam com ela. Pensava nisso quando
juntos vieram se despedir dela Luiz, o garoto que tinha medo e Paulinha, a
bailarina. Também tiveram alta.
Sissa viu seus amigos
irem embora e chorou de tristeza. Iria passar o Natal sem amigos e sem a
família. Naquela noite, após o jantar, ficou sozinha no quarto pensando em seus
amigos que partiram e na família longe. Foi quando viu sete borboletas entrando
ali. Elas simplesmente atravessaram as janelas fechadas. Ainda maravilhada
Sissa perguntou o que já sabia a resposta:
- Vocês são as
Farfalinas?
- Sim, todas as noites
nos viemos aqui para ti ver, mas você já estava dormindo. E não queríamos te
acordar.
A menina lembrando-se
do quanto havia esperado e com um pouco de ironia disse:
- E por que vocês não
vinham mais cedo quando eu estava acordada?
- Até tentamos, mas não
podíamos deixar o Luiz, ele tinha muito medo, e precisamos ficar com ele até
que dormisse. Mas isso demorava muito e quando ele enfim dormia, e nós aqui
vínhamos você já estava dormindo. Então nós íamos brincar com você nos seus
sonhos.
Depois que elas se foram, Sissa demorou para dormir, e ainda escreveu outra carta
para a avó, contando que era tudo verdade e que valeu a pena esperar as
Farfalinas. Elas lhe disseram que loguinho a menina sairia do hospital e isso a
deixara muito feliz.
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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Sinopse: Um encontro inusitado, uma perseguição e troca de olhares na semana do Natal acabam revelando a história dramática de Marcelo e o coração encantador de Bruna. Só que tudo tem início em meios às orações em visita a um cemitério e essa narrativa percorre um trajeto onde o amor e o espírito natalino contribuem para o nascimento de uma paixão inexplicável e o renascimento de uma vida.
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