3x15 - Eu sei, Ele esteve ali
de Senhora Smith
Tinha
sido um ano difícil, passamos de classe media alta para sem teto, sem pai, sem
mãe.
Não
vou entrar em detalhes da separação, o que soube na época é que meu pai
apaixonou-se por outra pessoa largando trabalho e família. Minha mãe no inicio
tentou lutar, mas as contas chegavam e acumulavam, por fim acabamos despejados
de nossa casa.
Uma tia
veio em socorro e nos levou para morar na casa dela, aquilo para minha mãe foi
uma humilhação. Abandonada pelo marido e morando de favor em um quarto na casa
da irmã foi a gota d’água, logo ela tão soberba e orgulhosa.
O
clima estava insustentável e minha tia intimou meu pai a voltar para casa. Meu
pai sem saída alugou uma casa que nem de casa podia ser chamada, sem água, luz,
banheiro e uma tristeza que dava dó.
A vida
fluía, cinza, sem cor ou amor, meu pai chorava as escondidas a falta da mulher
amada e minha mãe vendo ele desta maneira sofria e não conseguia lhe perdoar.
Foi
então que meu pai sumiu, minha mãe foi atrás, brigou, fez escândalo, mas era
fato consumado. Sem esperança ferida em seu orgulho, não sabendo como agir,
enlouqueceu, tentou duas vezes o suicídio e para nós a vida ficou insuportável.
Passei
de criança a mãe, cuidando dos meus irmãos, tentando dar a eles uma vida
“normal” com escola, brincadeiras e uma história para contar. Meu pai às vezes
aparecia de madrugada, perguntava de nós, abraçava tentava justificar sua
partida, mas não demonstrava interesse de volta.
Minha
mãe não melhorava, vivia tomando remédios para dormir, quando nos poucos
momentos em que acordava, desvairada saia as ruas em busca de meu pai e isto
nos trazia muito medo.
Não
sei se por necessidade ou as obrigações do momento aprendermos a nos virar, eu
fazia pequenos serviços na vizinhança e em troca recebia alimentos, roupas e
material escolar. Muitas vezes panelas com refeições eram postas em nossas
portas e por elas ficávamos agradecidos.
Esta
situação se prolongou por mais de anos, foram dias muito difíceis, estivemos
cara a cara com o bem e o mal, conhecemos o valor do dinheiro em mãos de
pessoas sem caráter, desconhecemos aqueles que nos geraram e como o amor e o ódio
transforma pessoas. Como por encanto em um belo dia minha mãe resolveu voltar à
vida e confesso fiquei aliviada.
E
novamente os dias voltaram a ter cor, minha mãe trabalhava e eu cuidava da casa
e dos irmãos. No seu primeiro pagamento nos comprou doces e sapatos novos, na
casa iluminada pela luz de um lampião a felicidade se fez conhecer.
Era a
esperança sentada em nossa mesa, trazendo alegria na vida daquelas crianças.
Mas como poeira ao vento minha mãe desapareceu, no dia seguinte não foi ao
trabalho e não nos disse nada, surpresos e sem nada entender vimos tudo
novamente terminar.
Era
véspera de natal, sozinha, sem saber o que fazer peguei tudo que nos restava de
valor e fui até a venda da esquina e troquei por alimentos e querosene para o
lampião.
Coloquei meus irmãos no banho, penteei seus
cabelos preparando-os para ceia de natal, fiz canudinhos de papel colorido,
torrei farinha com açúcar e os servi. Sentados no chão em um casebre sem água,
sem luz e banheiro fizemos nossa ceia de natal, regada de muita tristeza e
amor.
Um dia
ela voltou e nos levou para morar com eles, afinal ela e o pai haviam voltado.
Eles nunca nos perguntaram como fora nosso natal, mas eu não precisava
responder, milagres acontecem e o nosso aconteceu naquela noite.
Não
peçam para explicar, mas Ele esteve lá e nosso pequeno casebre naquela noite
encheu-se de luz e crianças brincavam e nos ofereciam doces saborosos, até hoje
quando lembro, olho para o céu e sorrio afinal Jesus não nasceu em uma
estrebaria?
Dizem
que foi o oxigênio que nos faltou pelo querosene queimando em um lugar fechado
e que devemos ter desfalecido e sonhado.
Mas eu
sei, Ele esteve ali.
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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Sinopse: Um senhor de barba longa e branca que não tinha boa recordação do dia de Natal ia todos os anos na estação de trem esperar o expresso que lhe tirou sua alegria mas ao mesmo tempo ele tem um novo encontro de Natal nesse mesmo trem. Uma história comovente sobre um novo renascer nessa data mágica e especial, o Natal.
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