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Antologia Nosso Amor: 1x05 - Uma Joia Cupido num Tempo Difícil

Conto escrito por Cardoso
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Sinopse: Em meio a golpe militar, um jovem fotógrafo é apresentado a um transformista através da amiga. 


1x05 - Uma Joia Cupido num Tempo Difícil
de Cardoso


— Peraí, essa garçonete é homem?

— Ela é uma transexual, André. Esse é o termo correto – respondeu Rubi – E a propósito, o nome dela é Estrela.

— E a dona é sapatão. Certo?

— Qual é, Zé Caretão? – brincou a amiga ruiva – Não foi você mesmo que passou uma temporada em São Francisco?

— Mas lá é outro nível. Não tem nem comparação.

— Só porque as bichas de lá falam inglês?

— Sei lá, é diferente. Se você olha ali fora – apontando para a esquina em frente ao restaurante.

— Prostitutas? Sim e daí?

— Como assim e daí?

— Elas estão naquele lugar, pois existem pessoas preconceituosas que não as reconhecem com a dignidade que merecem.

Em um rápido aviso, a gerente do restaurante interrompe o jantar dos clientes:

— Peço desculpas pelo incômodo, mas precisamos fechar as portas. Não se preocupem. Estarão seguros aqui dentro.

— Mas o que tá acontecendo? – perguntou André.

Do lado de fora ouvia-se sirenes e muitos camburões passando em alta velocidade. Um dos carros para um pouco mais a frente do restaurante e André se arrisca ao olhar pela janela. Ele enxerga policiais arrastando pessoas para dentro das viaturas com extrema violência e palavras de ordens. Enquanto isso alguns comerciantes ao redor pareciam assistir a tudo aquilo com extremo orgulho.

— Gente, o que é isso?

— Recomendo que saía da janela. – disse Estrela.

— São ordens do delegado Riqué. Conhece? – responde a gerente.

— Sim, já ouvi falar.

— Eles têm feito rondas aqui pelo centro e prendem pretos, pobres, bichas. Como se fossem os lixeiros recolhendo a minoria que a sociedade descarta.

— E ninguém fala nada?

— Alguém tem voz na ditadura, moço? – dizia a gerente enquanto também acompanhava o arrastão — E outra, os policiais vem aqui porque esses meus nobres vizinhos comerciantes denunciam as travestis. Alegam ser um ato em prol a moralidade e contra a prática da viadagem.

André não teve mais apetite para continuar o jantar. Passou o restante da noite olhando para a garçonete do estabelecimento trabalhando. Ela intercalava sorrisos com um olhar de preocupação, como se a qualquer minuto os policiais voltassem e a levassem também.

— Tô me sentindo um mané que vive numa bolha.

— Relaxa. É normal sentir-se assim quando não há ninguém ao seu redor que possa estar vivendo esse lado da repressão – Rubi levava o cigarro até os lábios para acendê-lo com o isqueiro californiano que ganhou do amigo – Seu pai foi militar até a morte, sua mãe é uma puta beata. Vocês têm grana. Não tem bicha, nem artista ou sequer membro da esquerda na família.

— Acho que já podemos ir, não acha, Rubi?

— Vamos ficar mais um pouco? Prometi deixar a Estrela na casa dela.

Na manhã seguinte, Rubi ligou para o amigo antes das 11h00 daquele domingo:

— Sabe que horas são? – respondeu André ainda com a voz rouca de sono.

— Dormiu bem?

— Pra ser sincero não. Fiquei com aquela imagem na cabeça.

— Seja bem-vindo ao Brasil, meu amigo. Topa ir numa boate lá na Augusta hoje?

— Não sei não.

— Vamos vai ser divertido. Eu prometo!

Logo após aceitar o convite por telefone, sua mãe entrou no quarto:

— Meu filho, quando reconheci a voz da Rubi, desculpe, mas tive que ouvir do outro aparelho.

— Mamãe, a senhora sabe que não suporto este tipo de invasão.

— Eu sei. Mas você também sabe que seu pai nunca gostou dessa amizade – sentando na beirada da cama – E hoje eu entendo o motivo. Ela parece agir ainda como uma adolescente rebelde.

— Pelo contrário, mamãe. Ela é uma mulher muito a frente do seu tempo. Queria que a senhora tivesse a mente aberta igual a dela.

— É isso que você quer? Ou prefere que eu também fuja e me esconda em Buenos Aires assim com os pais dela?

— Mamãe, se não fosse assim poderia ser algo pior.

— Eu sei, mas nós não temos nada com isso. Não quero que ande com essa gente, André.

— Mamãe, veja bem...

— Enquanto estiver debaixo do teto que seu pai nos deixou, vai fazer o que eu mandar.

— Deixe-me adivinhar. Se desta vez eu não cortar a amizade com a Rubi, vai me mandar para qual país?

***

Um pouco antes de morrer, General João, fez a esposa, Dona Iara, um último pedido: enviar o filho único para uma temporada nos Estados Unidos. Ele garantiu que o filho seria bem amparado no estrangeiro, graças as influências que o irmão de Dona Iara, supostamente deixou no país durante o tempo em que foi diplomata. Como justificativa Dona Iara disse que os cursos de fotografia na Califórnia eram os melhores e conseguiu convencer o filho. Mas a verdadeira intenção do general era livrar o filho das más influências, o que incluía a jovem atriz, Rubi.

***

— Rubi, ontem quando conversamos eu não lhe contei algo que descobri com os amigos do meu tio, lá em Nova Iorque.

André contou que teve acesso ao diário do tio, todo escrito em códigos, o mesmo que aprendeu com ele quando tinha 8 anos. Inclusive, depois disto, essa maneira particular de escrever passou a ser usada entre as cartas trocadas por eles ao longo dos anos.

O material continha pensamentos, barreiras na profissão, a preocupação com o golpe do Estado desde 64 e um romance com um jovem escritor espanhol. Os textos eram datados até julho de 1969, depois disso, apenas páginas em branco.

— Então quer dizer que seu tio era...

— Sim, Rubi. Eu sei o que isso significa.

— Nunca mais teve notícias dele?

— Nem esses amigos sabem onde ele foi parar. A família perdeu o contato.

— Que barra hein – disse ao amigo fotógrafo – Bom, é logo ali.

— Quanta gente! – André se surpreendeu com a quantidade de pessoas que aguardavam na fila.

— Bicho, aqui é super badalado. Acho que você vai gostar.

A boate, era uma espécie de casa de show apertada e abafada. Havia uma enorme cortina de veludo rouge enquanto fumaças de cigarro pareciam fazer o papel do efeito do gelo seco.

— Que emoção, André! A próxima artista é um verdadeiro espetáculo.

As luzes se apagam por alguns segundos e o som de Cyndi Lauper preenche o espaço enquanto as cortinas se abrem. Com os trejeitos, cores e roupas da cantora, André e sua amiga assistem ao número de Allegra. Quando toca a baladinha Time after the time a transformista desce do palco e entrega rosas para a audiência. Passa pela dupla de amigos e o encara, mas continua cantando. Vira-se e pega de volta uma rosa que deu a um outro rapaz e entrega para André, fazendo todos caírem na gargalhada, menos a artista e o próprio jovem.

Mesmo depois do fim da performance, André continuou olhando para a rosa enquanto Rubi foi ao banheiro. De repente sua mão é puxada, fazendo se levantar as pressas.

— Vem cá. Quero te apresentar uma pessoa – disse Rubi, arrastando o amigo.

— Calma. Para que essa pressa?

Foram para atrás do palco e entraram no camarim, lotados de homens se preparando para subirem no palco. Em uma cadeira estava a Cyndi Lauper secando o suor.

— Olá, boa noite – Allegra, cumprimentou o André.

— Boa noite.

— Gostou da rosa? – perguntou a artista.

— Sim, ele amou. Tá até agora hipnotizado pelo seu show – respondeu Rubi.

— Mas deve ter visto performances melhores lá na Califórnia. Não é?

— Não muito.

— Ela fala pouco, né menina? – irônica, disse Allegra, olhando para Rubi.

— Sim. Mas ele também é um artista. Precisa ver o portfólio dele.

— Ah, sim. É fotografo? Sua amiga me disse.

— Sim, sou.

— Vem cá – fazendo com a mão e pedindo que ficasse a sua altura, enquanto permanecia sentada – Quer ganhar um trocado? Estou precisando fazer fotos novas.

— Acho melhor...

— Aceita sim. Ele tá sem grana. Acabou de chegar de viagem e ainda não conseguiu um emprego – atropelando a fala do amigo, disse Rubi.

— Combinado. Me encontre neste endereço as 16h00 – entregando um pedaço de papel para André.

O local era um prédio antigo, quase abandonado no centro da cidade e fotógrafo estava lá pontualmente, mas antes que pudesse tocar a campainha um homem passou na frente. De forma apressada e com 2 bolsas grandes ouviu um chamado antes mesmo que pudesse concluir o primeiro lance de escadas.

— Bom dia, me chamo André. conhece a Allegra? Tem um compromisso com ela.

— André?

— Sim. Ela marcou comigo aqui.

— Sou eu mesma. Quero dizer, eu sou o Luiz. Prazer.

André não poderia acreditar que aquele mulherão que conheceu ontem na boate era um homem super comum. Durante a apresentação parecia até mais alto.

— Sou eu mesma, homem de Deus – Venha suba, estamos atrasados.

Luiz abriu logo a primeira porta do final do corredor. Tratava-se de um estúdio improvisado.

— O que foi? – percebendo o olhar do fotógrafo, disparou Luiz – Foi o que consegui com os 2 últimos cachês.

— Não. Tá tudo bem. Vou preparar o equipamento.

— OK, honey. Me monto em 15 minutos – dizia enquanto abria o que parecia uma maleta de ferramentas repleta de maquiagens – Não podemos demorar, aluguei por apenas 1 hora e ainda preciso voltar para o escritório.

— Escritório?

— Sim. Trabalho com o mercado de importação.

— Então a Allegra é um passatempo?

— Não meu amor. O escritório é o meu passatempo.

— Você se importa se fotografasse essa transformação?

— Assim no cru? Como um caretão usando roupa social?

— Exato.

— Tá. Tudo bem, então.

— Mas vai me falando como foi morar em São Francisco. Sabe que é meu sonho conhecer aquele pedaço do paraíso.

André, entre um registro e outro, falou sobre sua experiência, saciando a inesgotável curiosidade de Luiz, que aos poucos dava vida a Allegra.

— Como assim? A cor da bandana sugere a preferência sexual das bichas de lá?

— Isso. Pelo menos foi o que entendi. Por exemplo, se você estivesse usando uma bandana azul escura significa que curtia sexo anal. Agora se fosse azul claro, era sexo oral.

— Chocado com os códigos de conduta das irmãs americanas.

— Curioso, não é mesmo?

— Qual você usava?

— Como assim?

— Bandanas. Qual a cor?

— Eu não curto. Eu nunca...

— Mentira? Como alguém acaba de me dizer que deu um pulinho no Stonewall em Manhattan, nunca teve uma experiência gay?

— Fui com um grupo de alunos. O local foi decido pelo professor do curso.

— Ok, ok. Calma. Não precisa se justificar.

— Seu Luiz? – ouviu-se uma voz do outro lado da porta.

— Tem alguém te chamando.

— Atenda para mim, por favor? Enquanto vou colocando o figurino.

— Pois não?

— Avise o Seu Luiz que já deu o tempo do aluguel.

— Nada disso – deu um grito de dentro do banheiro – Aluguei por uma hora.

— Acho que houve um equívoco. Fez a reserva para 30 minutos.

— Sim, Luiz. Ele está certo – gritou o jovem fotógrafo enquanto analisava o recibo.

As fotos com a transformista montada não aconteceram no estúdio, mas enquanto Luiz tentava fechar a porta, André perguntou o que teria nos andares de cima.

— Além de outros apartamentos, tem o terraço.

Então, sugeriu que aproveitassem a restinho de luz do dia para tirarem as fotos no topo do prédio.

— Conheça o poder da golden hour!

— Tem certeza que vão ficar boas essas fotos? – disse Luiz, enquanto subia as escadas segurando o vestido.

***

Os dias seguintes foram marcados por telefonemas e cervejas após o expediente de Luiz no escritório. Na terceira semana, quando enfim as fotos foram todas reveladas, André combinou com Rubi de entregarem o álbum para Luiz, que desta vez se apresentaria numa boate maior, superconcorrida, na Rua Augusta.

— Rubi, se não fossem essas cortesias eu não teria grana para entrar. Olhe para essas pessoas. Tudo da alta sociedade.

— Hoje deve ter até artista da televisão aí dentro – disse Rubi, toda empolgada.

Era uma data especial para Luiz, ou melhor, Allegra. Ela e uma amiga, Soraya Tutu, iriam estrear uma apresentação. No cartaz, do lado de fora, estava o nome das transformistas logo abaixo do “Especial Marylin Monroe”.

Com direito a um pequeno atraso e um clima de tensão entre os produtores, Allegra, apresentou sozinha, o número de abertura em um deslumbrante vestido vermelho brilhante com uma enorme fenda, ao som de Two little girls from little rock. Era visível a plateia soltando comentários sobre a ausência da transformista morena. Mas ela segurou firme o personagem com um baita profissionalismo.

O auge foi quando ao invés de dublar, Allegra, cantou Diamonds are girl’s best friend. O público aplaudiu de pé.

— Você viu aquilo, Rubi? Tô arrepiado.

Já no meio da noite, André e Rubi conseguiram cumprimentar Allegra, que perguntou aos amigos se eles perceberam o quanto estava nervosa, principalmente no primeiro ato. Disse que sua parceira não apareceu e não deu notícias, o que a deixava angustiada.

Quando suspeitou que o pacote que André segurava nas mãos eram as fotos, mas do que depressa pediu para ver o resultado.

— Ficaram absurdamente lindas – disse a artista – Veja essas dos bastidores. Quanta sensibilidade, André.

No momento em foi agradecê-lo, Allegra deu um selinho, fazendo-o corar instantemente.

— Boa noite. Allegra? – disse um senhor.

— Olá, boa noite.

— Gostaria de parabeniza-la. Foi incrível.

O senhor chamava-se Pedro Real, dono da boate, que aproveitou para apresentar um outro amigo, um agente americano, que sem rodeios, lhe fez um convite para uma turnê em Boston.

— Boston fica a quanto tempo de São Francisco? – respondeu Allegra.

Juntos naquela noite, foram comemorar no apartamento do empresário, no bairro Santa Cecilia.

— Fiquei feliz que aceitaram vir com a gente – disse Luiz para André, que tomava champanhe na sacada num momento de solidão – Vocês viram que vão usar as suas fotos para me divulgarem nas boates de lá?

— Parabéns! Todo sucesso do mundo para você – brindando com Luiz — Sinto que é só o começo.

— Começo?

— Sim, da sua carreira.

— Ah, entendi.

— Quanto tempo ficará por lá?

— Quero ir sem ter prazo para voltar.

— Credo.

— É uma oportunidade única para alguém que veio de uma família humilde, entende? Mas você pode me visitar quando quiser.

Sem pensar muito, André fixou seu olhar com os de Luiz, apoiou a taça sob uma mesinha, envolveu o artista com seus braços e o beijou.

No dia seguinte, Luiz ligou aos prantos para o fotógrafo. Ele descobriu que seu amigo não compareceu na estreia porque havia sido preso, mas não sabia onde estava.

Em poucos minutos, Rubi apareceu com seu fusca verde e passaram a tarde tentando descobrir o paradeiro de Soraya. Que só foi aparecer 3 dias depois, machucada e muito assustada. Eles a encontraram no restaurante, o mesmo que Estrela, trabalhava. Foi o lugar público mais seguro que Soraya recorreu quando foi libertada.

Ela contou que estava atrasada para a apresentação e por isso se arrumou em casa. Quando já estava próximo à esquina da Augusta, militares a prenderam. Contou, em detalhes, sobre as torturas que sofreu.

— Tem que tomar cuidado amiga. Eu te avisei – disse Estrela com um copo de água com açúcar.

A garçonete revelou que ela e as amigas tinham uma técnica se um dia fossem pressas.

— A gente sempre carrega uma lâmina para nos cortar. Daí, como eles acham que todo o viado tem AIDS e morrem de medo de se contaminarem, imediatamente eles vão nos soltar.

— Está ouvindo isso? Esse é motivo que me fazer querer ir embora daqui — disse Luiz, em um tom de revolta, enquanto enxugava as lágrimas.

Apesar dos encontros durante a semana no apartamento de Luiz, André recusava a ideia que estava vivendo um affair. Sua mãe, por sua vez, demonstrava-se desconfiada e declarava cada vez mais ódio e pavor ao homossexualismo. Ela fazia questão de lembrar da pandemia da AIDS, que o deixava ainda mais confuso.

 

— Câncer dos gays? – indignada Rubi respondia ao ler a manchete de uma revista — Olha só para essa sociedade hipócrita. Nos anos 70, no auge da revolução sexual, todo mundo trepava. Não apenas as bichas. Mas agora, a culpa vírus é só delas. Que retrocesso do cacete – continuava, quando percebeu seu amigo distraído – Você não ouviu nada do que eu disse, não é?

— Sim, ouvi. Tô com a cabeça nas nuvens.

— Já sei. É amanhã a viagem do Luiz?

— Esses 3 meses passaram rápidos demais.

— Tão rápido que ainda não identifiquei o que vocês são. E aí?

— Também não sei – enquanto tirava o óculos ray-ban e pendurando na gola da camisa – O que sei é que não vou conseguir ficar sem ele.

— Já falou isso para ele?

— A gente meio que brigou esses dias. Ele não entende que não é tão simples para mim.

— Se não é fácil para você, imagine para ele que é praticamente uma moça dentro de uma sociedade que o discrimina diariamente por ter uma identidade discordante de uma maioria.

            Enquanto André olhava para o seu redor, Rubi continuou:

— Esse povo careta precisa acordar e dar conta que não é apenas o sexo que move as relações entre os gays. É muito mais além disso. E tem mais, esse papo de opção sexual não cola. Cara, você acha que, por exemplo, as travestis iriam escolher se prostituirem se pudessem realmente escolher?

— Já escolhi!

— Escolheu o que?

— Preciso de sua ajuda.

 

No dia seguinte, Rubi levou o amigo até o aeroporto e no banco de traz estava a bolsa que ele pediu.

— Luiz?

Com o passaporte nas mãos e uma mochila nas costas, Luiz reconheceu a voz, mas ao vira-se não conseguiu associar a voz com a figura em sua frente, ao lado de Rubi.

— Sou eu, meu amor.

— André?

— Sim, é ele mesmo – dizia Rubi – Em carne, osso, maquiagem, vestido, ombreiras e salto alto.

Eles se abraçaram por eternos minutos diante de outros passageiros e seguranças com seus walk talk, que denunciavam a cena.

— Quer namorar comigo?

— Vem me falar isso agora?

— Calma. Terá todo o tempo do mundo para me responder. Vou ficar aqui, sem esse salto, é claro, te esperando.

 

Luiz permaneceu nos Estados Unidos por 2 anos, em turnê por diversos estados americanos e durante todo esse período se correspondia por cartas com André, que passou a trabalhar em um jornal de grande circulação nacional, motivo que o fez ser preso por 3 vezes, mas preferiu nunca confessar esses episódios ao namorado. Isso fortaleceria argumentos para que ele também deixasse o país

André enviou, com muito orgulho, as fotos da cobertura do fim da ditadura, direto de Brasília. A data coincidiu com os últimos meses da turnê de Luiz.

O casal estava pronto para assumir a relação a todos os amigos e família.

— Mamãe atende a porta. O Luiz chegou.

— Olá, Dona Iara. Prazer, sou o Luiz.

— Como vai? Entre, por favor.

Era a primeira vez que os 2 se viam pessoalmente e um desconforto pousou na sala daquela casa até André aparecer.

— Mamãe, precisamos conversar.

— Meu filho, não há necessidade – com as mãos sob as pernas, alisando a barra da saia — Não precisam falar e eu prefiro não ouvir.

— Mas Dona Iara – tentou interferir, Luiz.

— Seja lá o que querem me falar ou seja lá o que vocês 2 são, quero que saibam que tenho muito orgulho de você, meu filho.

— Mamãe?

— E tenho certeza de que é um bom rapaz também, Luiz. Só peço que não se afastem. Juntos somos mais fortes contra pessoas que possam querer fazer mal a vocês – dizia ainda de cabeça baixa – Eu perdi totalmente o contato com seu meu irmão, tio Arnaldo, e não quero que isso se repita com você, meu filho.

— Sua mãe falou isso mesmo? – Rubi parecia não acreditar no que ouvia – Então, vejo que temos 2 ótimos motivos para comemorar aqui.

— Esperem, esperem – disse Luiz, enquanto pedia ao garçom cervejas.

— Ué, não vai beber, amiga? – perguntou André, quando percebeu que Rubi pediu um suco – Minha afilhada Cristina vai ganhar um irmãozinho?

— Imagina, meu amigo. A Cris tá bem sendo filha única, por enquanto. Amanhã cedinho começo a gravar um longa.

— Outro? – disse Estrela.

— Sendo assim, vamos comemorar o nosso amor, a aprovação da Estrela no curso de Psicologia e ao novo filme da Rubi!

 

Conto escrito por
Cardoso

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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Sinopse: Depois da entrega ao calor do desejo e da paixão, as personagens, no silêncio da satisfação, refrescam seus corpos e suas lembranças ao sentirem a chuva.


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