Interrogatório
de Cesar L. Theis
Brasil, cidade do Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1969.
Desde o início da Ditadura Militar, e especialmente após a
promulgação do Ato Institucional n.º 5, ou só AI-5, em 13 dezembro 1968, que possibilitou
a infraestrutura legal para perseguição e repressão da chamada esquerda
revolucionária, as detenções arbitrárias se tornaram frequentes, e o uso de tortura
nos interrogatórios era prática habitual; assim políticos, intelectuais, sindicalistas,
trabalhadores, professores e estudantes universitários acusados de subversão
passaram a ser presos e interrogados por agentes de segurança pública.
O quartel do 1º Batalhão de Polícia do Exército (BPE), na rua
Barão de Mesquita nº 425, no bairro da Tijuca, se tornou a sede do temido
Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna
(DOI-CODI), para onde costumeiramente eram levados para interrogatório os
indivíduos considerados subversivos do regime militar.
Aquele sábado havia amanhecido cinza, uma destas intempéries do
clima tropical, mas, o traquejado soldado Silva, que aniversariava dezenove
anos, e mantinha guarda no porão do DOI-CODI, pouco havia tomado consciência da
condição climática, visto que seu turno começará na noite anterior.
E com exceção do homem franzino com a barba por fazer trazido
durante a madrugada, despido e jogado na cela dezessete, nenhuma havia para ser
relatado, porém, quando o coronel Ustra acompanhado por dois homens surgiu no sovina
corredor ladeado por celas, imediatamente o Silva endireitou a postura e
encolheu a barriga.
E o coronel se aproximou e disparou a indagação.
___ Soldado onde está
o preso da madrugada?
___ Na geladeira
coronel!
O coronel virou e ordenou ao soldado a
sua esquerda.
___ Vai buscar e
prepara o comunista, pode pôr no pau de arara!
E então o coronel se voltou ao soldado
a sua direita que segurava uma maleta de couro preta do tipo que médicos
carregavam na época dos atendimentos domiciliares.
___ Doutor, me
acompanha em um café antes de começarmos.
___ Sim coronel!
E, pouco depois o soldado retornou trazendo
o descarnado com a barba por fazer suspenso pelo braço, os tremores acentuavam sua
magreza, dando-lhe para além do estado raquítico um incontestável aspecto
desvanecido, os ossos das costelas e o semblante encovado sobressaiam no feitio
daquele corpo.
E o soldado impassível conduziu o homem
a sala de interrogatório, deixando a porta entreaberta, e de repente um grito,
como uma ordem ecoou.
___ Silva... venha
aqui!
Neste instante o coração do soldado
Silva quase interrompeu seu pulsar pelo susto, visto que espreitava de canto de
olho, então quando conseguiu se recompor seguiu com passos rápidos para a sala.
Entrou e avistou o homem algemado e
desacordado, e antes que pudesse elaborar qualquer entendimento sobre a
situação ouviu bradar outra ordem.
___ Silva, pega o tubo
de ferro!
Ainda meio aturdido procurou um lugar para deixar o fuzil, escorou-o
ao lado da porta, pegou o varão e o entregou, imediatamente o soldado com
destreza fez o tubo cruzar por baixo da dobra dos joelhos e por cima dos braços
do homem.
E recebeu um olhar fulminante como que censurando-o por algo feito
errado. E em seguida outro brado!
___ Silva anda logo vamos
erguer este comunista!
E assim apoiaram cada extremidade do
tubo em um cavalete deixando no centro suspenso de cabeça para baixo o homem
com a barba por fazer, que principiou uma expressão de dor, mas, rapidamente a conteve.
E quando Silva intentou reaver a arma
ao lado da porta, foi interceptado pelo retorno do coronel e do doutor, que de
súbito entraram na sala, e neste o instante assumiu a habitual postura alinhada
e impassível, como se tentasse fazer-se invisível ao coronel, este se voltou ao
doutor e disse.
___ Doutor acho que
este aí vai “cantar” rapidinho!
E o doutor mantendo a expressão imperturbável
de superioridade respondeu.
___ É coronel nem comecei
e já desmaiou!
E o coronel evidenciou um entre sorriso
amarelado, e Silva procurava a oportunidade para discretamente reaver ao ombro
o fuzil extraviado ao lado da porta. E o coronel esfregou as mãos e completou.
___ Podemos começar!
Se aproximou do homem com a barba por
fazer e com a mão esquerda segurou seu cabelo puxando a cabeça para cima e causando
um rangido estridente quando o tubo de ferro girou, e com a mão direita aplicou
dois tapas, e disse.
___ Acorda vagabundo.
E o homem abriu brevemente os olhos e
soltou uma lacônica queixa, e retornou ao estado catatônico. O coronel virou
para Silva e bradou.
___ Me traz um balde
de água vamos acordar este comunista.
E impedido pela incumbência de reaver o
fuzil Silva seguiu até o depósito pegou um balde e na torneira que havia no
corredor o encheu, e retornou à sala de interrogatório.
Neste momento o coronel que cochichava alguma coisa com o
doutor no canto da sala, se reaproximou, e parou com o olhar fixo, a posição
erguida da cabeça e a expressão fechada indicou ao jovem soldado o que deveria
fazer.
E o jovem soldado Silva sentiu os músculos se enrijeceram cativos
de uma hesitação produzida por uma centelha de consciência, mas, acometido pelo
senso de dever patriótico apertou com força a alça do balde; e em um movimento
lançou a água sobre o homem com a barba por fazer... e antes que este pudesse recuperar
completamente os sentidos foi tomado pela urgência da asfixia, e se percebendo preso
de ponta-cabeça passou a se contorcer tentando se livrar da água que escorria
para o nariz, talvez acatando a um instinto primitivo de sobrevivência humano.
E enquanto o homem com a barba por fazer ainda recuperava um
vestígio de folego foi interpelado pelo coronel Ustra.
___ Onde está o
embaixador?
___ Eu não sei!
___ Quem forneceu as
armas para seus companheiros comunistas?
___ Eu não sei!
___ Estou perdendo a
paciência Jones, sabemos que você é do MR-8! Onde está o embaixador?
___ Eu já disse... não
sei de nada!
Nisso o coronel se afastou e desferiu
um chute que imediatamente fez surdir sangue do lábio superior, e bradando
novamente.
___ Onde está o
embaixador americano?!?
Neste momento um pudico sorriso aflorou
na face do homem com a barba por fazer... e ele replicou calmante.
___ Acho que o coronel
deveria procurar em casa embaixo da cama da sua mulher!
A dose de escárnio da resposta demorou
alguns instantes para ser compreendida, mas suscitou um silêncio na sala,
seguido de um entreolhar do coronel ao doutor.
___ Então você está
fazendo graça, vou te apresentar o “doutor”, sabe ele é especialista em extração
de informações... treinado por agentes da CIA na Escola das Américas...
E neste momento um som estridente ecoou
pela sala interrompendo o superior, era o que mais temia o soldado Silva, seu fuzil
estava estendido na entrada da sala de interrogatório, imediatamente o jovem
voltou o olhar para coronel, que percebendo a baralhada acontecida gritou.
___ Soldado Silva
recolha logo seu armamento e volte para sua guarda!
E enquanto Silva afobado tentava catar o
fuzil e sair o mais rápido possível da sala, era observado pelo coronel, quando
desapareceu pelo sovina corredor, Ustra encarrou o outro soldado, que
rapidamente alinhou a postura, e então se aproximou do doutor e cochichou.
___ Doutor, neste
comunista aí pode usar todas as técnicas do manual Kubark, quero a localização
do embaixador!
E então Ustra deixou a sala, neste
momento o doutor se abaixou recolhendo com a mão direita a valise, e então se
virou ao soldado que não estava a mais de três passos de distância e com uma
voz rouca determinou.
___ Pode levar o preso
para a sala roxa e prepara a cadeira do dragão!
Nisso o doutor deu de costas para o
impassível soldado Garcia, e saiu da sala. Jones que pouco conseguia suportar a
dor pela deplorável posição não ousou nenhuma patacoada. Garcia foi então até o
corredor e chamou Silva para ajudar a carregar o corpo do franzino homem com a
barba por fazer até a outra sala.
E como o soldado Garcia foi eficiente
em sua ação não percebeu o bufar do jovem soldado Silva no corredor, que
novamente acomodou a arma contra a parede de concreto cinza escuro, e tornou a
sala de interrogatório de onde carregaram sem muita dificuldade o preso, e
antes que terminassem de afivelar as cintas de couro que prendiam o braços o
doutor retornou e ordenou.
___ Soldado Silva vá
buscar água! Soldado Garcia assuma a manivela do dínamo!
Enquanto o jovem soldado Silva caminha
pelo corredor cruzou ao lado de sua arma, pegou o balde da sala de
interrogatório e enquanto esperava ele encher na torneira do corredor um
pensamento avulso lhe ocorreu, “havia se alistado disposto a morrer em glória
lutando pela pátria, mas, ao que parecia no exército brasileiro só seria vigia
em um porão escuro e carregador de baldes de água”, e então percebeu que a água
havia extravasado o balde e escorrido entre seus coturnos e estava quase
chegando ao outro lado do corredor.
Fechou rapidamente a torneira, pegou o
balde e seguiu para a sala roxa, e a cada passo o balanço do balde deixava para
trás um borrifo de água no piso do corredor, quando entrou na sala o doutor se
aproximou com uma esponja, a molhou e apertou sobre a cabeça do homem com a
barba por fazer, que com as poucas forças que possuía tentava sorver alguma
parte do líquido. E então a voz rouca indagou.
___ Onde está o
embaixador americano?
___ Eu não sei, juro
que não sei!
O doutor fez um breve aceno com a
cabeça, e o soldado Garcia girou a manivela do dínamo produzindo uma corrente
contínua que percorreu os fios até a ponta que estavam presas entre os dedos
dos pés de Jones, quando a eletricidade alcançou o corpo franzino produziu veementes
espasmos musculares.
Enquanto o corpo franzino do homem com
a barba por fazer convulsionava e desnudo na grande cadeira de metal pela
eletricidade, bem a sua frente, o jovem soldado Silva pela primeira vez se
questionou sobre a insanidade daquela situação, mas antes que sequer pudesse
expressar qualquer sentimento, o doutor fez outro movimento com a mão e Garcia
parou de girar a manivela, e logo a voz rouca retornou a indagar.
___ Onde está o
embaixador?
___ Eu não sei, já
disse que não sei, por favor chega!
Mas a suplica do homem com a barba por
fazer não conseguiu mudar um único traço na face do doutor, que nem mesmo por um
instante desviou o olhar, e novamente acenou com a cabeça, Garcia girou a
manivela e a eletricidade voltou a cruzar pelo corpo franzino que imediatamente
voltou a convulsionar.
E incapaz de suportar aquela barbárie o
jovem soldado Silva foi se afastando lentamente até alcançar o corredor, e voltou
até onde estava a arma, a pegou e apoiou no ombro e retornou silente a posição
de guarda.
Alguns minutos mais tarde o doutor
cruzou o corredor com passos apresados até a escada e quando entrou na sala do
coronel foi recebido com uma indagação direta.
___ E então doutor ele
“cantou” alguma coisa?
___ O preso teve uma
parada cardíaca e morreu coronel!
___ Mas contou alguma
coisa?
___ Ao que parece ele
não sabia nada sobre o sequestro do embaixador.
___ Certo, então diga
ao soldado Garcia que jogue o corpo na vala com os outros comunistas!
___ Certo, coronel!
Homenagem aos que com
coragem resistiram a seus algozes por seus ideais.
Brasil, cidade do Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1969.
Desde o início da Ditadura Militar, e especialmente após a
promulgação do Ato Institucional n.º 5, ou só AI-5, em 13 dezembro 1968, que possibilitou
a infraestrutura legal para perseguição e repressão da chamada esquerda
revolucionária, as detenções arbitrárias se tornaram frequentes, e o uso de tortura
nos interrogatórios era prática habitual; assim políticos, intelectuais, sindicalistas,
trabalhadores, professores e estudantes universitários acusados de subversão
passaram a ser presos e interrogados por agentes de segurança pública.
O quartel do 1º Batalhão de Polícia do Exército (BPE), na rua
Barão de Mesquita nº 425, no bairro da Tijuca, se tornou a sede do temido
Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna
(DOI-CODI), para onde costumeiramente eram levados para interrogatório os
indivíduos considerados subversivos do regime militar.
Aquele sábado havia amanhecido cinza, uma destas intempéries do
clima tropical, mas, o traquejado soldado Silva, que aniversariava dezenove
anos, e mantinha guarda no porão do DOI-CODI, pouco havia tomado consciência da
condição climática, visto que seu turno começará na noite anterior.
E com exceção do homem franzino com a barba por fazer trazido
durante a madrugada, despido e jogado na cela dezessete, nenhuma havia para ser
relatado, porém, quando o coronel Ustra acompanhado por dois homens surgiu no sovina
corredor ladeado por celas, imediatamente o Silva endireitou a postura e
encolheu a barriga.
E o coronel se aproximou e disparou a indagação.
___ Soldado onde está
o preso da madrugada?
___ Na geladeira
coronel!
O coronel virou e ordenou ao soldado a
sua esquerda.
___ Vai buscar e
prepara o comunista, pode pôr no pau de arara!
E então o coronel se voltou ao soldado
a sua direita que segurava uma maleta de couro preta do tipo que médicos
carregavam na época dos atendimentos domiciliares.
___ Doutor, me
acompanha em um café antes de começarmos.
___ Sim coronel!
E, pouco depois o soldado retornou trazendo
o descarnado com a barba por fazer suspenso pelo braço, os tremores acentuavam sua
magreza, dando-lhe para além do estado raquítico um incontestável aspecto
desvanecido, os ossos das costelas e o semblante encovado sobressaiam no feitio
daquele corpo.
E o soldado impassível conduziu o homem
a sala de interrogatório, deixando a porta entreaberta, e de repente um grito,
como uma ordem ecoou.
___ Silva... venha
aqui!
Neste instante o coração do soldado
Silva quase interrompeu seu pulsar pelo susto, visto que espreitava de canto de
olho, então quando conseguiu se recompor seguiu com passos rápidos para a sala.
Entrou e avistou o homem algemado e
desacordado, e antes que pudesse elaborar qualquer entendimento sobre a
situação ouviu bradar outra ordem.
___ Silva, pega o tubo
de ferro!
Ainda meio aturdido procurou um lugar para deixar o fuzil, escorou-o
ao lado da porta, pegou o varão e o entregou, imediatamente o soldado com
destreza fez o tubo cruzar por baixo da dobra dos joelhos e por cima dos braços
do homem.
E recebeu um olhar fulminante como que censurando-o por algo feito
errado. E em seguida outro brado!
___ Silva anda logo vamos
erguer este comunista!
E assim apoiaram cada extremidade do
tubo em um cavalete deixando no centro suspenso de cabeça para baixo o homem
com a barba por fazer, que principiou uma expressão de dor, mas, rapidamente a conteve.
E quando Silva intentou reaver a arma
ao lado da porta, foi interceptado pelo retorno do coronel e do doutor, que de
súbito entraram na sala, e neste o instante assumiu a habitual postura alinhada
e impassível, como se tentasse fazer-se invisível ao coronel, este se voltou ao
doutor e disse.
___ Doutor acho que
este aí vai “cantar” rapidinho!
E o doutor mantendo a expressão imperturbável
de superioridade respondeu.
___ É coronel nem comecei
e já desmaiou!
E o coronel evidenciou um entre sorriso
amarelado, e Silva procurava a oportunidade para discretamente reaver ao ombro
o fuzil extraviado ao lado da porta. E o coronel esfregou as mãos e completou.
___ Podemos começar!
Se aproximou do homem com a barba por
fazer e com a mão esquerda segurou seu cabelo puxando a cabeça para cima e causando
um rangido estridente quando o tubo de ferro girou, e com a mão direita aplicou
dois tapas, e disse.
___ Acorda vagabundo.
E o homem abriu brevemente os olhos e
soltou uma lacônica queixa, e retornou ao estado catatônico. O coronel virou
para Silva e bradou.
___ Me traz um balde
de água vamos acordar este comunista.
E impedido pela incumbência de reaver o
fuzil Silva seguiu até o depósito pegou um balde e na torneira que havia no
corredor o encheu, e retornou à sala de interrogatório.
Neste momento o coronel que cochichava alguma coisa com o
doutor no canto da sala, se reaproximou, e parou com o olhar fixo, a posição
erguida da cabeça e a expressão fechada indicou ao jovem soldado o que deveria
fazer.
E o jovem soldado Silva sentiu os músculos se enrijeceram cativos
de uma hesitação produzida por uma centelha de consciência, mas, acometido pelo
senso de dever patriótico apertou com força a alça do balde; e em um movimento
lançou a água sobre o homem com a barba por fazer... e antes que este pudesse recuperar
completamente os sentidos foi tomado pela urgência da asfixia, e se percebendo preso
de ponta-cabeça passou a se contorcer tentando se livrar da água que escorria
para o nariz, talvez acatando a um instinto primitivo de sobrevivência humano.
E enquanto o homem com a barba por fazer ainda recuperava um
vestígio de folego foi interpelado pelo coronel Ustra.
___ Onde está o
embaixador?
___ Eu não sei!
___ Quem forneceu as
armas para seus companheiros comunistas?
___ Eu não sei!
___ Estou perdendo a
paciência Jones, sabemos que você é do MR-8! Onde está o embaixador?
___ Eu já disse... não
sei de nada!
Nisso o coronel se afastou e desferiu
um chute que imediatamente fez surdir sangue do lábio superior, e bradando
novamente.
___ Onde está o
embaixador americano?!?
Neste momento um pudico sorriso aflorou
na face do homem com a barba por fazer... e ele replicou calmante.
___ Acho que o coronel
deveria procurar em casa embaixo da cama da sua mulher!
A dose de escárnio da resposta demorou
alguns instantes para ser compreendida, mas suscitou um silêncio na sala,
seguido de um entreolhar do coronel ao doutor.
___ Então você está
fazendo graça, vou te apresentar o “doutor”, sabe ele é especialista em extração
de informações... treinado por agentes da CIA na Escola das Américas...
E neste momento um som estridente ecoou
pela sala interrompendo o superior, era o que mais temia o soldado Silva, seu fuzil
estava estendido na entrada da sala de interrogatório, imediatamente o jovem
voltou o olhar para coronel, que percebendo a baralhada acontecida gritou.
___ Soldado Silva
recolha logo seu armamento e volte para sua guarda!
E enquanto Silva afobado tentava catar o
fuzil e sair o mais rápido possível da sala, era observado pelo coronel, quando
desapareceu pelo sovina corredor, Ustra encarrou o outro soldado, que
rapidamente alinhou a postura, e então se aproximou do doutor e cochichou.
___ Doutor, neste
comunista aí pode usar todas as técnicas do manual Kubark, quero a localização
do embaixador!
E então Ustra deixou a sala, neste
momento o doutor se abaixou recolhendo com a mão direita a valise, e então se
virou ao soldado que não estava a mais de três passos de distância e com uma
voz rouca determinou.
___ Pode levar o preso
para a sala roxa e prepara a cadeira do dragão!
Nisso o doutor deu de costas para o
impassível soldado Garcia, e saiu da sala. Jones que pouco conseguia suportar a
dor pela deplorável posição não ousou nenhuma patacoada. Garcia foi então até o
corredor e chamou Silva para ajudar a carregar o corpo do franzino homem com a
barba por fazer até a outra sala.
E como o soldado Garcia foi eficiente
em sua ação não percebeu o bufar do jovem soldado Silva no corredor, que
novamente acomodou a arma contra a parede de concreto cinza escuro, e tornou a
sala de interrogatório de onde carregaram sem muita dificuldade o preso, e
antes que terminassem de afivelar as cintas de couro que prendiam o braços o
doutor retornou e ordenou.
___ Soldado Silva vá
buscar água! Soldado Garcia assuma a manivela do dínamo!
Enquanto o jovem soldado Silva caminha
pelo corredor cruzou ao lado de sua arma, pegou o balde da sala de
interrogatório e enquanto esperava ele encher na torneira do corredor um
pensamento avulso lhe ocorreu, “havia se alistado disposto a morrer em glória
lutando pela pátria, mas, ao que parecia no exército brasileiro só seria vigia
em um porão escuro e carregador de baldes de água”, e então percebeu que a água
havia extravasado o balde e escorrido entre seus coturnos e estava quase
chegando ao outro lado do corredor.
Fechou rapidamente a torneira, pegou o
balde e seguiu para a sala roxa, e a cada passo o balanço do balde deixava para
trás um borrifo de água no piso do corredor, quando entrou na sala o doutor se
aproximou com uma esponja, a molhou e apertou sobre a cabeça do homem com a
barba por fazer, que com as poucas forças que possuía tentava sorver alguma
parte do líquido. E então a voz rouca indagou.
___ Onde está o
embaixador americano?
___ Eu não sei, juro
que não sei!
O doutor fez um breve aceno com a
cabeça, e o soldado Garcia girou a manivela do dínamo produzindo uma corrente
contínua que percorreu os fios até a ponta que estavam presas entre os dedos
dos pés de Jones, quando a eletricidade alcançou o corpo franzino produziu veementes
espasmos musculares.
Enquanto o corpo franzino do homem com
a barba por fazer convulsionava e desnudo na grande cadeira de metal pela
eletricidade, bem a sua frente, o jovem soldado Silva pela primeira vez se
questionou sobre a insanidade daquela situação, mas antes que sequer pudesse
expressar qualquer sentimento, o doutor fez outro movimento com a mão e Garcia
parou de girar a manivela, e logo a voz rouca retornou a indagar.
___ Onde está o
embaixador?
___ Eu não sei, já
disse que não sei, por favor chega!
Mas a suplica do homem com a barba por
fazer não conseguiu mudar um único traço na face do doutor, que nem mesmo por um
instante desviou o olhar, e novamente acenou com a cabeça, Garcia girou a
manivela e a eletricidade voltou a cruzar pelo corpo franzino que imediatamente
voltou a convulsionar.
E incapaz de suportar aquela barbárie o
jovem soldado Silva foi se afastando lentamente até alcançar o corredor, e voltou
até onde estava a arma, a pegou e apoiou no ombro e retornou silente a posição
de guarda.
Alguns minutos mais tarde o doutor
cruzou o corredor com passos apresados até a escada e quando entrou na sala do
coronel foi recebido com uma indagação direta.
___ E então doutor ele
“cantou” alguma coisa?
___ O preso teve uma
parada cardíaca e morreu coronel!
___ Mas contou alguma
coisa?
___ Ao que parece ele
não sabia nada sobre o sequestro do embaixador.
___ Certo, então diga
ao soldado Garcia que jogue o corpo na vala com os outros comunistas!
___ Certo, coronel!
Homenagem aos que com
coragem resistiram a seus algozes por seus ideais.
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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