Sinopse: E se você tivesse dias contados para amar?
Noah (Sean Faris) e Tyler (Sebastian Stan) vivem um intenso e verdadeiro amor. O casal decide morar juntos e o principal passo para esta etapa é contar aos pais sobre o relacionamento desconhecido por eles. Com incentivo de Noah, Tyler conversa com seus pais e abre o jogo sobre a sua orientação sexual, mas a atitude é reprovada. Ele fica revoltado e na estrada sofre um acidente.
No hospital, Tyler descobre que é portador de tumor cerebral e a partir daí, Noah e Tyler resolvem se unir para viver seus últimos momentos lado a lado.
Juntos na saúde e na doença, amando e vivendo cada dia como se fosse único.
Emocione-se com essa linda história de amor. Together, do mesmo criador da premiada série virtual New Stages, André Esteves.
Together
de André Esteves
FADE IN.
CENA 01. IMÓVEL. INT. DIA.
A imagem abre em um pequeno imóvel vazio. Um homem de terno segura uma
prancheta em direção a um jovem rapaz de aparentemente vinte e oito anos. Ele
encara a prancheta com um olhar de receio.
RAPAZ – (firma um olhar decidido) Acho que não preciso procurar mais.
Encontrei o lugar perfeito.
IMOBILIÁRIO – Fico feliz em ouvir isso, senhor Sullivan. É um imóvel pequeno, mas
um ótimo lugar para formar uma família.
RAPAZ – (com os olhos brilhando) Sim, eu tenho certeza de que seremos muito
felizes aqui.
IMOBILIÁRIO – Me desculpe a indiscrição, mas... (sorri) Seus olhos brilham quando
fala nela. Esta garota deve ser muito especial.
RAPAZ – Realmente... É uma pessoa muito especial. E eu mal posso
esperar para viver ao lado dela.
IMOBILIÁRIO – Bom, acredito então que não temos mais tempo a perder... Segure a
prancheta. Assine os papeis.
O imobiliário entrega a prancheta para o rapaz. Este, confiante, tira
uma caneta do bolso e assina o papel no devido lugar. Close em seu nome: Noah
Sullivan.
NOAH – (entrega a prancheta de volta) Aqui está.
IMOBILIÁRIO – (estende a mão) Muito prazer em fechar negócio com o senhor. Espero
que goste da casa e seja muito feliz aqui.
NOAH – (cumprimenta o imobiliário) Não duvide disso.
Noah e o imobiliário trocam sorrisos. O último deixa o local. Noah anda
pelo imóvel, com as mãos nos bolsos e um sorriso esperançoso estampado no
rosto.
NOAH – (diz para si mesmo) Nossa vida está só começando, Ty...
Close em Noah, entusiasmado. A imagem corta para:
CENA 02. NOVA YORK. AVENIDA QUALQUER. EXT. DIA.
O clima em Nova York é bastante frio. Noah anda apressado pelas ruas da
cidade. Ele segura um copo de café em uma das mãos e o celular encostado ao
ouvido com a outra.
NOAH – (animado) Você não vai acreditar de onde eu acabei de sair...
A tela se divide em duas partes. Em uma, fica Noah. Na outra, Tyler, que
dirige seu carro atenciosamente. Ele fala ao celular pelo modo viva-voz.
TYLER – Não sei, mas você deve estar atrasado para o trabalho...
NOAH – Tudo bem, foi por um motivo especial. (sorri) Nossa casa.
TYLER – (sem entender) Do que você está falando?
NOAH – Nossa casa. Sim, meu amor, eu acabei de assinar o contrato da nossa
casa.
TYLER – (ri) Você só pode estar de brincadeira.
NOAH – Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida. Eu sei que deveria ter
conversado com você primeiro, mas desde o dia em que você decidiu se assumir
para a sua família, eu não paro mais de pensar nisso... Estou procurando um
lugar legal para a gente há duas semanas.
TYLER – Bom, e eu estou tentando me assumir para a minha família há duas
semanas...
NOAH – Você está no carro. Hoje é seu dia de folga. Você está indo para a
casa ver a sua família. Eu tenho certeza que de hoje não passa. Você vai
conseguir abrir o jogo com eles.
TYLER – Não sei, a todo momento eu penso em dar marcha ré no carro e voltar
para o meu apartamento. Não sei se ainda estou preparado para isso, Noah...
NOAH – Claro que você está. E sabe por que você está? Porque eu sinto. Não é
à toa que acabei de comprar uma casa para a gente. Nós estamos preparados,
Tyler. Nós estamos preparados para viver juntos. É claro que esse lance da casa
era para ser uma surpresa, mas eu não estou conseguindo me conter...
TYLER – Quer dizer que você já tem tudo planejado para a gente?
NOAH – Se você quiser. Eu sei que comprar uma casa sem antes te consultar é
arriscado, mas eu só tomei a decisão de fazer isso, porque como eu te disse...
Eu sinto que nós estamos preparados. Eu sinto que a gente é capaz de fazer
isso.
TYLER – (tira o sorriso do rosto) Noah, eu vou ser sincero com você...
Close em Noah, aflito.
TYLER – Eu não poderia estar mais satisfeito. Quero dizer, você se
preocupando com o nosso futuro... Isso representa muito para mim.
NOAH – (respira aliviado) Então quer dizer que eu agi certo comprando a
casa?
TYLER – Sim, se você quer fazer isso, eu também quero. Vamos nos arriscar. Eu
estou indo para a casa agora, eu vou contar para a minha família e então
viveremos nossa vida sem segredos.
NOAH – Você não sabe como me deixa feliz.
TYLER – Eu estou chegando na casa dos meus pais... Tenho que desligar agora.
Nos falamos depois, certo?
NOAH – Certo, também tenho que desligar. Preciso acelerar os passos ou vou
acabar sendo demitido. (pausa) Escuta, Tyler, independente da reação dos seus
pais...
TYLER – (acena com a cabeça positivamente) Eu sei... Eu sei... Independente
da reação dos meus pais, eu vou ter você ao meu lado para me apoiar.
NOAH – Sim, que bom que não se esqueceu disso. Mas não vamos pensar na pior
das hipóteses... Talvez eles sejam compreensíveis. Eu vou estar torcendo por
você.
TYLER – Obrigado, meu amor. Eu te amo.
NOAH – Eu também.
Tyler sorri e desliga o celular. Noah ganha a tela. Ele toma o último
gole de café e descarta o copo em um lixo próximo. O rapaz continua a andar,
sorridente.
CENA 03. CASA DA FAMÍLIA COLLINS. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
A câmera explora a belíssima casa da família Collins. A campainha toca.
Uma senhora muito elegante corre atendê-la.
SENHORA – Pode deixar comigo, Sonia... Deve ser o meu filho chegando. Faço
questão de atender.
A senhora Collins se aproxima da porta e a abre, eufórica. Close em
Tyler com um buquê de flores em mãos.
SENHORA COLLINS – (ao ver o filho) Querido, que saudades que eu
estava de você...
A senhora Collins ameaça abraçar o filho, mas Tyler logo a interrompe.
TYLER – Calma, mamãe... Você não quer amassar as flores, não é mesmo?
SENHORA COLLINS – São para mim?
TYLER – Sim, são para a senhora.
SENHORA COLLINS – Rosas brancas, as minhas favoritas. Representam
união. E este é o maior desejo para a minha família, que todos vivam sempre
unidos e felizes...
Tyler entrega as rosas para a mãe.
TYLER – Eu também estava com muitas saudades da senhora.
SENHORA COLLINS – Quando soube que você viria passar o dia comigo
e com o seu pai, pedi logo para que a Sonia preparasse uma mesa farta de café
da manhã... Vamos, aposto que seu pai já leu o jornal do dia de cabo a rabo e
está infernizando a Sonia para que ela sirva seu café.
TYLER – Vamos. Não queremos deixar papai furioso...
Tyler abraça sua mãe e os dois saem contentes em direção à sala de
jantar.
CENA 04. CASA DA FAMÍLIA COLLINS. SALA DE JANTAR. INT. DIA.
Os senhores Collins e Tyler estão sentados à mesa. Eles desfrutam do
café da manhã.
SENHOR COLLINS – Tyler, você deveria visitar os seus pais mais vezes na semana...
Desde que você foi morar naquele péssimo apartamento, eu e a Diane sentimos
muito a sua falta. Ficamos preocupados com você.
TYLER – Seu Donald, não precisa se preocupar com isso... Eu estou bem, estou
seguro... Sem falar que meus dias naquele apartamento estão contados. (sorri)
DIANE – Não entendo por que você tinha que sair daqui...
TYLER – Mãe, eu já tenho 26 anos, eu preciso do meu próprio espaço... Não
posso continuar morando com os meus pais pelo resto da minha vida.
DONALD – Como anda o trabalho?
TYLER – Ótimo. Finalmente estou fazendo algo que finalmente gosto. Jornalismo
foi o que eu sempre almejei para mim.
DIANE – E as pretendentes? (sorri) Eu sei que é indiscrição minha perguntar
isso, mas ora... Eu sou a sua mãe. E você mesmo acabou de dizer que já tem 26
anos.
DONALD – Com esta idade, eu já estava casado com a sua mãe e quase perto de
ser pai.
TYLER – Pai, são tempos modernos agora... E foi por isso mesmo que eu vim até
aqui falar com vocês.
DIANE – (bate as mãos) Não acredito! Você finalmente encontrou a garota ideal
para você? (eufórica) Conte-nos sobre ela. Como ela é? Bonita? Deixa eu
adivinhar, loira? Talvez você tenha puxado ao seu pai. Quando eu o conheci, ele
era fascinado por loiras. Deu azar em se casar com uma morena.
TYLER – (engole seco) Não, mãe, o que eu quero dizer para vocês é muito
difícil... E eu venho há um longo tempo me preparando para isso. Eu não peço
que vocês entendam, eu peço que vocês respeitem.
DONALD – Querido, falando assim, até parece que você quer dizer que é...
TYLER – (complementa) Gay?
DONALD – Eu não iria usar este termo, mas... Claro que estou enganado. (sorri)
Não vá me dizer que engravidou uma garota... É isso que você está tentando
falar e que é tão difícil? Tudo bem, meu filho. Como você mesmo disse, são
tempos modernos. Os jovens de hoje em dia não seguem mais padrão nenhum...
TYLER – Não, pai... Eu não engravidei garota nenhuma, porque eu nunca cheguei
a me envolver com garotas... Você não está enganado, eu sou gay.
Close nos pais de Tyler, sem reação.
TYLER – Tudo bem, vocês não precisam dizer nada... Eu não estou pedindo que
vocês entendam, eu estou pedindo que vocês respeitem.
DIANE – Tyler, permita-me ver se eu entendi... Meu filho veio até a minha
casa para jogar na minha cara que se relaciona com outros garotos?
TYLER – (um pouco trêmulo) Com um garoto. Existe apenas um. O nome dele é
Noah e nós pretendemos morar juntos. Mãe, ele é um rapaz atencioso, é dedicado
e me faz muito feliz.
DONALD – Eu não acredito que estou perdendo o meu tempo ouvindo toda essa
bobagem...
TYLER – Pai, não é uma bobagem. Estamos falando da minha vida.
DONALD – Tyler, eu não criei um filho para isso.
TYLER – Não, pai, não diga isso...
DONALD – (batendo na mesa) Eu não criei um filho para isso. Eu te encaminhei
na vida para se tornar um bom rapaz, um homem trabalhador, se casar, ter
filhos...
TYLER – (interrompe) Pai... pai... Não começa com essa história. Como eu
acabei de dizer, são tempos modernos.
DONALD – Não me importa se são tempos modernos, os valores tradicionais
precisam continuar... Se continuar essa bagunça, aonde este mundo vai parar?
TYLER – (olha para Diane) Mãe, olha para mim... Diga que me aceita.
DIANE – (afasta seu prato) Eu perdi o apetite.
TYLER – (deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto) Por favor, pessoal, não
tornem isso mais difícil do que já está sendo para mim.
DIANE – E como você acha que está sendo para nós? Você acha que é fácil...
TYLER – (interrompe) Não, mãe! Em nenhum momento, eu disse que seria fácil.
Eu só estou pedindo que vocês respeitem.
DONALD – Eu não posso. Isso vai contra aos meus princípios. Tyler, eu não
posso.
TYLER – Pai, a minha orientação sexual é só um detalhe. Não muda a ótima
educação que o senhor me deu.
DIANE – Tyler, eu acho melhor você ir embora da nossa casa... Tudo isso ainda
está entalado em nossa garganta. Talvez demore a se digerir.
TYLER – (se levantando da mesa) Tudo bem. Talvez tenha sido um erro vir até
aqui. Foi perca de tempo passar dias da minha vida pensando em como contar isso
para vocês. Eu fui um tolo em achar que vocês gostariam de saber quem eu
realmente sou. Eu não deveria ter vindo até aqui. Eu só queria que vocês me
respeitassem. Será que é tão complicado assim? Eu estou feliz. Eu estou ao lado
de um cara que eu amo e nós vamos viver juntos. Satisfeitos? Eu estou feliz e
esse comportamento ridículo de vocês não vai mudar isso... Eu estou me
retirando dessa casa.
Tyler sai, apressado. Close nos pais do rapaz, imóveis.
CENA 05. CARRO DE TYLER. INT. DIA.
Tyler dirige o seu carro em alta velocidade. O rapaz deixa lágrimas
rolar sobre o seu rosto. Então, pega o seu celular que estava sobre o banco
passageiro. Ele aperta algum número na discagem rápida e leva o aparelho até o
ouvido.
TYLER – (chorando) Alô? Noah?
A tela se divide em duas partes. Em uma, fica Tyler. Em outra, Noah, que
está em frente à mesa do seu escritório.
NOAH – Olá, meu amor. Conversou com os seus pais?
TYLER – Foi um erro, Noah... Foi um erro.
NOAH – (preocupado) Tyler, que voz é essa? Por acaso você está chorando?
TYLER – Eles disseram que não me criaram para isso... Eu só queria que eles
respeitassem, Noah.
NOAH – Eu sei, meu amor, mas nem todos os pais levam isso numa boa... Você
já pensou em dar um tempo para eles se acostumarem melhor com a ideia?
TYLER – (batendo no volante) Não, eu não vou dar uma hora sequer para eles.
Tudo o que eu tinha que ouvir da boca dos meus pais, eu já ouvi. Eu não quero
mais pisar naquela casa. Eu não quero ver meus pais nunca mais. Eu não quero...
NOAH – (interrompe) Tyler, você está dirigindo? Me escuta, para o carro
agora... Você não está em condições de dirigir.
TYLER – (descontrolado) Se é tão difícil para eles ter um filho gay, então eu
vou simplesmente me afastar... Noah, você deveria ter me impedido. Você não
deveria ter me incentivado a ir até lá. Meus pais nunca entenderiam. Toda a
minha insegurança não era em vão. Queria me dizer algo.
NOAH – Tyler, eu estou tentando te impedir agora de fazer uma besteira...
Pare o carro agora!
TYLER – Malditos preconceituosos... Quem eles pensam que são para querer
privar a minha felicidade? Noah, você... Você é quem realmente importa pra mim.
Eu não ligo para a opinião dos meus pais... Eu ligo para você. Nós vamos ser
felizes juntos, entendeu? Com ou sem o consentimento dos meus pais...
NOAH – Então, Ty, eu preciso que você me escute... PARE... ESSE... CARRO...
E antes que Noah conclua o que irá dizer, Tyler acaba não percebendo o
automóvel que vem em sua direção. Na tentativa de desviar, ele acaba entrando
com o carro em um pequeno despenhadeiro. O veiculo capota uma vez no ar e se
choca contra o chão. Noah ganha a tela.
NOAH – (deixa o celular cair, imóvel) Tyler... Não!
A imagem escurece num baque.
CENA 06. HOSPITAL DE NOVA YORK. RECEPÇÃO. INT. DIA.
Noah anda de um lado para o outro, inquieto. Uma enfermeira passa por
ele. O rapaz a interrompe.
NOAH – Olá, será que você pode me dizer como o paciente Tyler Collins está?
ENFERMEIRA – Desculpa, senhor, eu não posso responder a sua pergunta...
E a enfermeira continua a andar.
NOAH – (gritando) Então quem pode? Me diga quem e eu vou até ele. (continua
a andar de um lado para o outro) Por favor, meu Deus, proteja o Tyler... Faça
com que nada de ruim aconteça com ele.
De repente, um médico vem em direção à Noah.
MÉDICO – Olá, você é o acompanhante do paciente Tyler Collins?
NOAH – (alvoroçado) Sim, senhor, sou eu... Como ele está? Ele está bem? Por
favor, doutor, diga que ele está bem...
MÉDICO – Você pode me dizer o seu grau de parentesco com o paciente?
NOAH – Eu sou... (mente) Eu sou o irmão dele.
MÉDICO – Pois bem, senhor Collins, onde estão os seus pais? Eu preciso
conversar com eles...
NOAH – Meus pais estão viajando, doutor. Mas eu já telefonei para eles,
expliquei o caso e eles virão imediatamente para cá. Por favor, doutor, eu sou
o irmão dele, me diga como ele está...
MÉDICO – Por favor, senhor Collins, venha até a minha sala.
O médico sai. Noah o acompanha, apreensivo.
CENA 07. SALA DO MÉDICO. INT. DIA.
O médico senta-se à mesa. Noah puxa uma cadeira e também se senta.
NOAH – Diga, doutor... O estado do Tyler é grave?
MÉDICO – O estado do senhor Collins é sensível. Mas eu não me refiro ao
acidente. O jovem está fisicamente bem e sofreu apenas algumas lesões. O que
ele precisa agora é descansar...
NOAH – Então eu não vejo problema com ele...
MÉDICO – Durante os exames, percebemos algo irregular no Tyler...
NOAH – Como assim “algo irregular”?
MÉDICO – Demoramos para informar o estado do jovem, porque tivemos que nos
aprofundar nestes exames... Senhor Collins, o que eu vou dizer agora não é
fácil e eu preciso que o senhor mantenha a calma.
NOAH – Diga logo, doutor, você só está me deixando ainda mais apreensivo...
MÉDICO – O seu irmão foi diagnosticado com glioblastoma multiforme, ou como é
popularmente chamado, tumor cerebral.
NOAH – (deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto) Você só pode estar
brincando comigo...
MÉDICO – Infelizmente, nós não temos muito o que fazer em relação a isso. O
tumor não tem cura e já está avançado.
NOAH – Você está insinuando que o Tyler... (limpa sua lágrima) Ele vai
morrer?
MÉDICO – O tumor é fatal. O que podemos fazer agora é iniciar um tratamento
intensificado com o Tyler, o que possibilitará que ele tenha um tempo maior de
vida...
NOAH – Quer dizer que o Tyler... Ele... (close em suas mãos trêmulas) Ele
pode morrer a qualquer momento?
MÉDICO – Não se optarmos pelo tratamento. A quimioterapia prolongará bastante
o seu tempo de vida, mas eu não posso te assegurar que irá curá-lo. Vai
permitir que ele passe um tempo maior com vocês. A partir de agora, o Tyler vai
andar em uma corda bamba, senhor Collins. Vocês precisam estar ao lado dele a
todo momento. Vai ser um período delicado, decisivo, mas vocês não podem deixar
se abater.
NOAH – (começa a chorar) E você quer que eu reaja como? Você quer que eu
faça de conta que tudo está bem?
MÉDICO – Não, mas vocês não podem desanimar o Tyler, ele precisa mais do que
nunca de força. Vocês precisam ser fortes e transmitir isso para ele...
NOAH – Até que ele morra? E depois, fazemos o que com essa força? Enterramos
junto com o Tyler? (balança com a cabeça negativamente) O Tyler está morrendo
aos poucos. Você sugere um tratamento. E nós prosseguimos com esse sofrimento
até quando?
MÉDICO – Eu só estou querendo ajudar, senhor Collins. Eu tenho certeza de que
toda a sua família vai querer passar o maior tempo possível ao lado do Tyler.
NOAH – NÃO! Eu quero passar a minha vida inteira ao lado do Tyler,
não só uns dias, não só uns meses ou até quando o tratamento for capaz de
mantê-lo vivo... Eu não quero deitar a minha cabeça no travesseiro e ter a consciência
de que ao acordar no dia seguinte, o Tyler pode estar morto. Eu não quero viver
com essa insegurança, com esse medo... (chorando) Eu não quero.
MÉDICO – Vai ser complicado, mas é a única alternativa. (levantando-se) Eu
preciso ir agora. Logo, as visitas serão autorizadas e você poderá vê-lo.
O médico sai da sala. Noah apoia seus braços sobre a mesa e afoga a
cabeça entre eles. O rapaz chora feito uma criança.
CENA 08. HOSPITAL DE NOVA YORK. RECEPÇÃO. INT. DIA.
Noah sai da sala do médico. Ele avista os pais de Tyler sentados nas
poltronas da recepção.
DIANE – (se levantando) Então você é o rapaz que provocou tudo isso...
DONALD – (se levanta também) Eu não acredito que você teve a audácia de se
passar por alguém da família apenas para receber informações privilegiadas
sobre o meu filho.
NOAH – Senhor Collins, eu também sou a família do Tyler. Eu tenho tanto
direito quanto você de saber como ele está depois do acidente. (se vira para
Diane) E, senhora Collins, eu não tenho um pingo de responsabilidade nisso. Eu
não queria colocar a culpa em ninguém, mas já que estamos tentando encontrar um
culpado, eu não tenho o mínimo problema em dizer que se vocês tivessem dado
ouvidos ao seu filho, ele não teria parado numa cama de hospital.
DONALD – Você desgraçou a nossa família.
NOAH – Não, você desgraçou a vida do Tyler a partir do momento em que o
expulsou de casa e o condenou por sua orientação sexual. E talvez eu até
agradeça a vocês por terem feito o que fizeram, porque eu não queria dizer
isso, mas o acidente veio até a calhar... Talvez se isso não tivesse
acontecido, nós nunca saberíamos que...
DIANE – Que o quê? (exaltada) O que aconteceu com o meu filho? DIGA O QUE HÁ
DE ERRADO COM O MEU FILHO!
NOAH – O Tyler está morrendo, senhora Collins. E se eu fosse você, ao
invés de afastá-lo da sua vida, eu o reaproximaria, porque cada minuto agora ao
lado do seu filho será crucial...
Close em Diane, que cai aos prantos. Donald a consola.
DONALD – O que você está dizendo?
Noah dá de ombros para os senhores Collins e sai em direção à cafeteria.
CENA 09. HOSPITAL DE NOVA YORK. QUARTO DE TYLER. INT. DIA.
(música: This – Ed Sheeran)
Tyler está deitado na cama de hospital, acordado e com os olhos focados
em uma das paredes brancas do quarto. Noah entra.
NOAH – (batendo na porta) Toc... Toc... Posso entrar?
TYLER – Já entrou. (sorri) Você é muito bem-vindo aqui. Mas... Não era para
estar trabalhando?
NOAH – E você acha que eu seria capaz de voltar para o trabalho e deixar
você aqui sozinho?
TYLER – Bom, eu soube que meus pais estão aqui... Arrependidos, pelo o que me
parece.
NOAH – (aproximando-se da cama) Eu não quero te deixar sozinho por mais
nenhum segundo.
TYLER – Eu já estou sabendo de tudo, Noah... Eu sei que a minha vida está com
os dias contados. Parece que hoje em dia, os médicos não têm mais nenhum
problema em dizer que você irá morrer a qualquer momento.
Noah segura fortemente a mão de Tyler e começa a chorar.
NOAH – Tyler...
TYLER – Por favor, não chore... Ver você sofrer é pior do que a morte.
NOAH – Por que estão querendo tirar você de mim?
TYLER – Encare isso como uma oportunidade. Agora vamos aproveitar cada minuto
juntos como se fosse o último de nossas vidas...
NOAH – Você não está triste?
TYLER – Eu estou, Noah. Muito triste. Porque eu sei que uma hora eu vou
deixar esse mundo e infelizmente não vou poder ter você perto de mim. Mas eu
não posso me lamentar por isso até o dia da minha morte, não é mesmo? Eu tenho
que fazer valer a pena cada dia que a vida me der de agora em diante...
NOAH – Eu admiro muito a sua força. Eu não sei se vou conseguir lidar com
isso da mesma forma que você.
TYLER – Você está sendo muito mais forte do que eu, Noah. E eu quero agradecer
por você estar comigo. Quero dizer, não vai ser um período fácil o que vamos
enfrentar... Eu vou sofrer um bocado com o tratamento e vou acabar te levando
junto nisso...
NOAH – Tudo bem pra mim. Lembra quando eu disse pra você que sempre iria te
apoiar? Pois bem, eu vou cumprir com o que eu disse. Eu vou te acompanhar até o
fim, Tyler. Doa o que doer. Estaremos juntos. Certo?
TYLER – Saiba que nesse pouco tempo que vivi, não poderia ter acontecido
coisa melhor na minha vida do que te conhecer...
NOAH – (sorri) Você também foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
Eu... Eu... (limpa as lágrimas) Eu estou fazendo alguns telefonemas importantes
e quando você sair daqui, iremos direto para a nossa casa.
TYLER – Como assim? Você acabou de comprar...
NOAH – Sim, mas não podemos mais perder tempo, Tyler... Eu vou pegar o
dinheiro que meus pais me deixaram e comprar tudo o que precisamos para a nossa
casa.
TYLER – Por favor, Noah, eu não quero que você gaste o dinheiro dos seus pais
comigo...
NOAH – Eu estou gastando o dinheiro dos meus pais com a minha felicidade.
Tyler sorri. Noah aproxima seus lábios aos dele e lhe dá um beijo leve,
sensível e apaixonado. O silêncio no quarto predomina. Ouvimos apenas o
batimento cardíaco sendo emitido pelo eletrocardiograma.
CENA 10. CASA DE NOAH E TYLER. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
(Música cessa.)
Close na porta de entrada da casa. Noah a abre com uma das mãos e, com a
outra, tapa os olhos de Tyler. O rapaz acaba de receber alta no hospital. Ele
está bem e apresenta apenas algumas marcas no rosto devido ao acidente. Surge a
seguinte legenda:
NOAH – (bastante sorridente) Está preparado para conhecer a sua nova casa?
TYLER – Eu estaria se você me deixasse vê-la.
NOAH – Calma, apressadinho...
E Noah tira sua mão dos olhos de Tyler, permitindo que ele veja o
interior da casa.
TYLER – (entrando e olhando em volta) Meu amor... Isso é...
NOAH – (sorri) Gostou?
TYLER – Se eu gostei? (admira o lugar) Eu amei. Isso é... Isso é incrível.
NOAH – E essa é só a sala. Eu tenho muita coisa para te mostrar. Tem o
quarto, tem o banheiro... (entrando na sala) Veja, temos uma televisão. Temos
um sofá. Temos um porta-retrato, olha... (aponta para um porta-retrato em cima
de uma mesinha central) Com a nossa foto. Lembra dessa foto? Nós dois juntos na
graduação da minha irmã.
TYLER – Claro que eu me lembro. (se aproxima de Noah) Eu quero agradecer por
estar fazendo isso pela gente. Quero dizer, eu não poderia estar mais feliz.
NOAH – Ah, é? E como você pensa em me agradecer?
TYLER – (entrelaçando seus braços na cintura de Noah) O que você acha disso?
E Tyler o beija apaixonadamente. Noah corresponde.
TYLER – (interrompe o beijo) O que mais temos na casa?
NOAH – Bom... (ri) Nós também temos uma cama.
Tyler também ri. Noah o pega no colo e o leva em direção ao quarto. A
imagem corta rapidamente para:
CENA 11. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
(música: Your Song – Ellie Goulding)
Noah entra com o namorado no colo e o coloca no chão. Tyler sorri e
beija o rapaz. O beijo, que até então era apaixonado, começa a ganhar uma força
a mais, tornando-se intenso e caloroso. Os rapazes deslizam as mãos sobre o
corpo um do outro e, vagarosamente, puxam a camisa para cima. Eles pausam o
beijo para tirar suas camisetas. Voltam a se beijar. Noah vai empurrando Tyler
levemente para cima da cama. Após deitá-lo, sobe em cima do rapaz e começa a
percorrer com os lábios todo o corpo do rapaz, da cabeça até o fim da barriga.
Close em Tyler, que solta alguns gemidos abafados de prazer. Noah desabotoa a
calça de Tyler e a tira, deixando-o apenas de cueca.
Corte descontínuo.
Agora, os dois rapazes estão nus embaixo de um lençol: Noah de bruços na
cama e Tyler sobre ele. Os dois fazem sexo de forma intensa, mas muito
apaixonada. Seus corpos suam de tanto prazer. Tyler abraça o corpo do namorado
e pressiona ainda mais o seu sobre ele. Seus rostos se colam um ao outro. Tyler
o beija enquanto o penetra.
Corte descontínuo.
Noah e Tyler estão deitados na cama sem camisa. Tyler repousa a cabeça
sobre o peito de Noah. Eles conversam.
TYLER – Isso até parece um sonho...
NOAH – (passando a mão nos cabelos de Tyler) O que?
TYLER – Estar com você aqui, vivendo em nossa própria casa, deitados em nossa
própria cama... (ri antes de dizer) Inclusive, já estreamos ela com chave de
ouro. (volta a ficar sério) Seria tão bom se isso não acabasse...
NOAH – Se depender de mim, nunca vai acabar.
TYLER – Noah, uma hora ou outra, isso vai acabar. E não depende da
gente.
Close em Noah, preocupado.
TYLER – Você consegue imaginar o que está acontecendo dentro da minha cabeça?
NOAH – Como assim, você está se sentindo confuso?
TYLER – Não, eu quero dizer no sentido literal. O que a doença está fazendo
ali.
NOAH – Bom, pelo o que o médico me disse, é um tumor que vai afetando todo o
seu sistema nervoso.
TYLER – Até me matar.
NOAH – Não vamos pensar nisso.
TYLER – Eu pensei que você ocupasse tanto espaço na minha cabeça que não
haveria lugar para uma doença.
NOAH – (ri) Bobo.
TYLER – Você está com medo do que irá acontecer com a gente daqui pra frente?
NOAH – Eu não definiria como medo. Mas sim como uma ansiedade. E você?
TYLER – Não estou com medo, mas estou preocupado com você. Eu não queria te
ver passando por isso. De qualquer forma, essa doença também vai fazer parte de
você.
NOAH – Por favor, Tyler, não vamos começar com essa história de novo... Eu
já te disse que vou estar ao seu lado para o que der e o que vier.
TYLER – Mas se eu pudesse te poupar disso... Quero dizer, vai ser uma fase
muito complicada. E olha tudo o que você já fez pela gente. Você comprou esta
casa, você mandou decorar, eu aposto que você ficou sem dinheiro...
NOAH – Não vamos falar sobre dinheiro.
TYLER – Nós temos que falar sobre dinheiro. Ele vai ser fundamental para o
meu tratamento. Eu estava conversando com o médico e posso te garantir que esse
lance de quimioterapia não sai tão barato...
NOAH – Eu vou dar o meu jeito.
TYLER – Noah, eu não quero que você se sacrifique para me tratar de uma
doença que não tem cura... Você só vai jogar dinheiro e mais dinheiro no lixo.
NOAH – Não fale bobagem, Tyler. Acredite, cada tostão gastado nesse
tratamento vai ser recompensado com um dia a mais ao seu lado. Isso representa
muito para mim.
TYLER – Talvez eu pudesse continuar trabalhando na editora...
NOAH – Não! O que você precisa fazer agora é se focar no seu tratamento e
repousar.
TYLER – Eu não quero me tornar um ninguém, Noah...
NOAH – Você não vai se tornar um ninguém. Pode ter certeza de que os
próximos dias serão os melhores da sua vida.
TYLER – E os últimos.
NOAH – Não seja pessimista. E confie em mim. Eu vou cuidar de você. Nem que
eu tenha que fazer horas extras no trabalho, mas eu vou conseguir pagar este
tratamento. Você vai se dedicar a ele e ficaremos juntos por muito mais
tempo...
TYLER – Quantos dias ou meses de vida você acha que eu ainda tenho?
NOAH – Não sei, é muito arriscado dizer. Por isso temos que aproveitar cada
oportunidade que a vida nos der.
TYLER – Você sabe que o tratamento... Ele machuca muito as pessoas, né?
NOAH – Eu sei, mas a dor vai ser um dos elementos principais nesta batalha.
Juntos, vamos ter que superá-la. (segura forte a mão de Tyler) Eu vou cuidar de
você, está bem?
TYLER – Eu fico mais tranquilo com você me dizendo isso.
NOAH – Ótimo, agora vamos parar de falar nesse assunto, aproveitar o
silêncio e nos curtir. Você se dá conta do que acabou de acontecer nesta cama?
TYLER – (ri) Nós transamos?
NOAH – Também. Mas mais do que isso, nós nos conectamos. Enquanto a vida
permitir, eu quero repetir este momento muitas vezes com você.
Tyler sorri, levanta sua cabeça do peito de Noah e o beija
apaixonadamente.
CENA 12. EMPRESA PUBLICITÁRIA. ESCRITÓRIO DO GERENTE DE NOAH. INT. DIA.
(Música cessa.)
O gerente da ala de Noah na empresa está sentado em frente à sua mesa,
concentrado em alguns papeis. A porta do escritório está aberta. Noah bate nela
mesmo assim.
NOAH – Com licença, senhor?
GERENTE – (levanta a cabeça) Noah Sullivan, o meu melhor publicitário. Fiquei
sabendo que você queria falar comigo. Por acaso é sobre os seus atrasos?
Close em Noah, que engole seco.
GERENTE – Sim, eu os notei. Mas eu não vou te condenar por isso, você trabalha
comigo há muito tempo e sempre se mostrou um funcionário muito competente. Se
está se atrasando, é porque deve haver algum motivo nisso.
NOAH – Com licença. (puxa uma cadeira e se senta) E há, senhor. Eu resolvi
procurá-lo porque eu tenho um pedido muito importante a fazer. Acredite, eu não
estaria aqui se não estivesse realmente desesperado.
GERENTE – (com um ar de preocupação) Pois bem, me diga.
NOAH – Uma... Uma pessoa muito importante para mim está passando por uma
situação bastante difícil e eu mais do que nunca preciso ajudá-la.
GERENTE – Como assim?
NOAH – Ela foi diagnosticada com uma doença que é muito... Muito grave. É um
tumor no cérebro. Não tem cura, mas tem o tratamento que prolonga a vida do
paciente.
GERENTE – Meu Deus, eu estou horrorizado. Posso saber quem está passando por
isso?
NOAH – Como eu lhe disse, é uma pessoa com um grande significado na minha
vida. Eu e ela optamos por seguir com o tratamento, mas a quimioterapia é muito
cara e eu acredito que o meu salário sozinho não será capaz de pagar.
GERENTE – Mas essa pessoa... Ela não tem família?
NOAH – Sim, tem, mas ela está afastada dos pais e não quer envolvê-los
nisso. Por favor, será que o senhor não poderia fazer a enorme gentileza de
aumentar o meu salário? Eu não quero muita coisa, apenas o suficiente para...
GERENTE – (interrompe) Sullivan, eu compreendo que você esteja passando por um
momento bastante difícil e esta pessoa também, mas eu não posso. Quero dizer,
eu reconheço que você é um funcionário hábil e responsável, mas se eu aumentar
o seu salário, eu precisaria aumentar o de todos... E você sabe que nossa
empresa ainda está crescendo no mercado.
NOAH – Eu entendo, mas será que não podemos fazer isso em segredo?
GERENTE – Eu sei que é um pedido desesperado, mas eu estaria em uma grande
encrenca caso alguma posição superior a mim descobrisse que estou te dando
privilégios. Temos muitos publicitários nesta área e todos desempenham a mesma
tarefa que você. Eu não estaria sendo justo com os demais.
NOAH – Tudo bem, eu entendo. (levanta-se da cadeira)
GERENTE – Se eu puder fazer algo por você, eu juro que farei. No momento, eu só
posso dizer que eu estou torcendo muito por ela... Pelo brilho dos seus olhos,
percebi que é alguém muito importante para você.
NOAH – Sim, é... (saindo) E eu estou o perdendo.
Noah sai do escritório. Close no gerente, sensibilizado.
CENA 13. HOSPITAL DE NOVA YORK. ALA DA QUIMIOTERAPIA. INT. DIA.
(música: Angels – The XX)
A câmera explora o local mostrando inúmeros pacientes portadores de
câncer sentados em cadeiras, realizando o tratamento. Close na porta de
entrada. Noah e Tyler entram acompanhados de uma enfermeira. Surge a seguinte
legenda:
ENFERMEIRA – (parando em frente a uma cadeira) Este é o seu lugar, senhor Collins.
Tyler encara Noah apreensivo, que retribui um piscar de olhos
encorajador. Tyler senta-se na cadeira, enquanto a enfermeira – em frente a um
armário – prepara a primeira injeção que o rapaz irá receber. Noah segura
fortemente a mão de Tyler.
ENFERMEIRA – Por favor, senhor Collins, estenda o braço.
Tyler obedece ao pedido da enfermeira. Ela, por sua vez, passa com muito
cuidado um pequeno pedaço de algodão encharcado de álcool no braço do rapaz.
ENFERMEIRA – (joga o algodão em um cesto de lixo e segura a injeção) Isso vai doer
um pouco.
Com muita cautela, a enfermeira aplica a injeção em Tyler. Close no
garoto, que fecha os olhos, demonstrando sentir um pouco de dor. A enfermeira
retira a seringa e coloca um algodão no lugar.
ENFERMEIRA – Segure forte. (pausa) Bom, como vocês já devem ter sido informados, a
quimioterapia é um tratamento que traz efeitos colaterais nada agradáveis.
(para Tyler) Então é normal que você sinta enjoos, febre, fortes dores de
cabeça e até chegue a vomitar, certo?
Tyler acena positivamente com a cabeça.
ENFERMEIRA – O importante é você não desistir do tratamento.
A enfermeira sorri e sai.
NOAH – (agachando-se no chão, mas sem soltar a mão de Tyler) Você está se
sentindo bem?
TYLER – Por enquanto, sim.
NOAH – (puxa o cesto de lixo) Se por acaso você quiser vomitar... (sorri)
Nós estamos preparados.
TYLER – Obrigado por vir até aqui comigo.
NOAH – Eu não perderia isso por nada... Digo, não me entenda mal... Não que
isso seja emocionante, mas é muito importante para mim estar ao seu lado nesta
situação.
TYLER – Eu sei.
Close em Noah, que sorri.
CENA 14. CASA DE NOAH E TYLER. BANHEIRO. INT. DIA.
(Música cessa.)
Tyler está sentado no chão do banheiro. Ele aproxima sua cabeça ao vaso
sanitário e começa a vomitar. Assim que termina, leva a mão até a boca para
limpá-la. Ouvimos alguém batendo na porta.
NOAH – (em off) Ty, você está bem?
TYLER – Não consigo mais parar de vomitar. Mas a enfermeira disse que é
normal, então eu devo estar bem.
NOAH – Ty, se você quiser, eu posso te levar ao hospital.
TYLER – Eu já não disse para você ir trabalhar, Noah? Eu não quero que você
perca o seu emprego por minha causa.
Tyler se levanta bruscamente. Ele se sente um pouco tonto e cambaleia
por alguns instantes. Close no rosto bastante pálido do rapaz, demonstrando as
primeiras consequências da quimioterapia.
NOAH – Eu não vou conseguir me concentrar no trabalho até ter certeza de que
você está bem...
TYLER – (abrindo o armário e procurando por algo) Onde está a minha escova,
Noah? Eu não estou achando a minha escova.
Noah abre a porta do banheiro e entra para ajudá-lo. Ele puxa uma gaveta
e tira a escova de dente de Tyler de dentro dela.
NOAH – (entrega para Tyler) Aqui está.
TYLER – Eu posso saber por que a minha escova de dente estava na gaveta e não
no armário? Você sabe que eu sempre a deixo no armário...
NOAH – Eu achei que aqui na gaveta ficaria mais acessível, por estar perto
da pia de escovar os dentes...
TYLER – Não mude as minhas coisas de lugar, Noah! Eu não quero praticidade.
Eu quero as minhas coisas em seus devidos lugares. Você está mexendo no que é
meu. Eu não quero isso.
NOAH – Opa, parece que alguém está de mau humor... (tira a escova de dente
das mãos de Tyler e coloca um pouco de pasta nela) Deixa que eu faço isso por
você.
TYLER – Por que você tirou a escova da minha mão? Você acha que eu não sou
mais capaz de colocar pasta na minha própria escova?
NOAH – Você está pondo palavras na minha boca, Tyler. Eu não disse nada
disso. Eu só quero te ajudar. Eu estou aqui para isso. Você está pálido e
aparentemente não está bem...
TYLER – Eu estou muito bem. Eu posso não estar completamente bem, mas eu
estou suficientemente bem a ponto de ser capaz de colocar pasta na minha
própria escova. Noah, eu tenho uma doença, mas ela ainda não me aleijou.
NOAH – (balança com a cabeça negativamente) Tyler, eu só estou tentando te
ajudar...
TYLER – (começa a balançar as mãos) Eu pedi a sua ajuda? Eu apenas perguntei
onde a minha escova estava... Porque você a mudou de lugar. Eu não quero mais
que você invada o meu espaço, Noah. Você está passando de todos os limites.
NOAH – Tyler, eu...
TYLER – (interrompe gritando) NÃO! Não venha com esse papo de que você
está tentando me ajudar. Pelo contrário, você está me tratando como um bebê.
Veja, eu tenho mãos, eu tenho braços, pernas... Eu sou capaz de cuidar de mim
mesmo.
NOAH – Tyler, você está sendo grosseiro.
TYLER – E você está me fazendo perder a paciência com você. Eu não quero mais
que você mude as minhas coisas de lugar. Eu não quero mais que você me trate
feito um bebê. Se for pra receber tudo na boca, então eu prefiro estar no
hospital. E se você quer saber, eu vou voltar a trabalhar. Segunda-feira, eu
vou voltar a...
E antes que conclua o que irá dizer, Tyler começa a vomitar pelo chão do
banheiro. Close em Noah, inconformado.
NOAH – Você acha que está em condições de voltar a trabalhar, Tyler? Olha o
seu estado... Tudo o que eu estou fazendo é para o seu próprio bem. Se você é
tão ingrato a ponto de não perceber isso, então eu não tenho mais nada para
fazer aqui.
Noah sai do banheiro. Close em Tyler, que continua a vomitar.
CENA 15. PARQUE URBANO DE NOVA YORK. EXT. DIA.
(música: Hometown Glory – Adele)
Noah está sentado embaixo de uma árvore jogando pedras em um riacho. Ele
desconta toda a sua fúria nisso. Algumas lágrimas rolam sobre o seu rosto. De
repente, vemos uma garota loura passando correndo pelo local, com fones de
ouvido e a malha atlética bastante suada. Ela diminui a velocidade ao
reconhecer Noah.
GAROTA – (se aproximando do rapaz) Noah, o que você está fazendo aqui?
NOAH – (reconhece a voz e olha para a garota) Harmony.
HARMONY – Sim, eu estava fazendo a minha corrida matinal e vi você sentado
aqui.
NOAH – (limpando suas lágrimas) Você sabe que este é o meu lugar favorito em
Nova York.
HARMONY – (sentando-se ao lado de Noah) É o nosso lugar favorito desde quando
éramos crianças. Lembra quando vínhamos aqui com a mamãe e ela morria de medo
que caíssemos no lago?
NOAH – Sim. (sorri) Eu sinto falta daqueles tempos. Eu sinto falta da mamãe.
HARMONY – Mas aposto que não é pela mamãe que você estava chorando. Aconteceu
alguma coisa?
NOAH – Sim. O Tyler... Ele está cada vez pior.
HARMONY – Você quer dizer... Morrendo?
NOAH – Não, ele está bem. O tratamento parece estar dando resultados
satisfatórios. Acontece que a quimioterapia está acabando com ele e tem afetado
até o seu humor... A gente acabou de brigar. E foi uma briga feia. A gente
nunca brigou assim antes.
HARMONY – Noah, você tem que ser paciente com o Tyler. As pessoas que passam
por esse tratamento acabam ficando muito sensíveis. Agora o humor do Tyler vai
estar em constante oscilação.
NOAH – Eu sei, mas ele parece estar sendo tão egoísta, entende, Harmony?
Tudo o que eu estou fazendo é em benefício a ele. E eu não quero jogar isso na
cara dele, como se eu estivesse fazendo alguma obrigação. Não, eu faço isso
porque eu quero e porque me preocupo com o Tyler. Mas ele parece não se
importar... Eu tenho a impressão de que ele está querendo se afastar de mim.
HARMONY – Será que talvez essa não seja realmente a intenção dele?
NOAH – O que você quer dizer com isso?
HARMONY – As pessoas que convivem com um paciente portador de câncer sofrem
tanto quanto ele. Talvez o Tyler esteja cansado de te ver sofrer. Ele está
arranjando alternativas para te afastar de todo esse sofrimento e não te
envolver na dor dele... Ou talvez ele não queira que você se apegue tanto a ele
no momento, sabendo que a qualquer momento ele irá te deixar...
NOAH – Quer dizer que... Você quer dizer que ele está fazendo isso por que
se preocupa comigo?
HARMONY – Noah, eu conheço vocês dois melhor do que ninguém. Eu vi este namoro
crescer e vejo agora a sua dedicação em prol do Tyler, então tenho certeza do
que estou dizendo... O Tyler está morrendo e ver você gastando todo o seu tempo
para deixá-lo confortável só aumenta ainda mais a sua dor.
NOAH – Mas ele deveria estar feliz. Eu estou ao lado dele, como ninguém
nunca esteve. Ele deveria ser grato a isso, não?
HARMONY – Ele é grato, Noah. Entenda uma coisa... O Tyler está te afastando
simplesmente porque ele te ama. Ele percebeu que você já se preocupou demais
com ele e, agora, se deu conta de que precisa se preocupar com você.
NOAH – (começa a chorar) Harmony, eu não sei o que vai ser da minha vida
quando ele... Você sabe.
HARMONY – (deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto e abraça o irmão) Vá para
a casa, meu irmão. Deixe que a vida se encarregue do que venha a acontecer.
A câmera se afasta, enquanto os dois irmãos continuam abraçados em
frente ao lago.
CENA 16. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.
(Música cessa.)
Tyler está deitado em sua cama tentando encontrar alguma posição
confortável para dormir, porém, não consegue, pois a dor que sente o faz se
contorcer. De repente, ele ouve alguns passos firmes vindo em direção ao quarto.
Sua mãe entra, afobada.
DIANE – (se aproximando da cama) Filho, meu filho, que bom que te
encontrei... Que lugar miserável é esse onde aquele desgraçado te colocou?
Escuta a mamãe, escuta a mamãe...
TYLER – Mãe, o que você está fazendo aqui?
DIANE – Eu vim te buscar. Nós vamos embora para a casa, meu filho. (senta-se
na cama e começa a alisar os cabelos do rapaz) Lá sim é o seu lugar. Eu não
posso permitir que você continue morando na casa sob a guarda de um cara que
não pode bancar o seu tratamento.
TYLER – Mãe, o Noah está dando o seu melhor para pagar a quimioterapia. Ele
arranjou uns bicos durante a noite e...
DIANE – (interrompe) Ele está pagando o seu tratamento com bicos, é isso
mesmo o que eu ouvi? Meu filho, ouça... Eu trouxe uma cadeira de rodas. Eu vou
te colocar nela e nós vamos para a casa. Seu pai providenciou os melhores
enfermeiros e médicos da cidade e você estará sendo vigiado por eles durante o
dia inteiro, no seu próprio quarto. Não é uma beleza?
TYLER – Espera, mãe. Você acabou de dizer “cadeira de rodas”?
DIANE – Sim, meu filho... Você está tão branquinho, aposto que anda sentindo
fome.
TYLER – Não, mãe, eu estou pálido porque esse é um dos efeitos da
quimioterapia.
DIANE – E você acha que eu confio em tratamento de hospital público? Você vai
morrer, Tyler, e eles vão agradecer por terem se livrado de você.
TYLER – (grita) MÃE, SAI DA MINHA CASA AGORA!
De repente, ouvimos Noah chegando ao local. Ao ouvir os gritos, ele para
na porta e fica ouvindo a conversa entre mãe e filho.
DIANE – Eu não saio daqui até você for comigo. Eu não posso permitir que o
meu filho morra longe de mim...
TYLER – (fecha os olhos, inconformado) SAI DAQUI! Eu não quero mais ouvir uma
única palavra da sua boca. Me deixa em paz. Deixa o Noah em paz. O que ele está
fazendo por mim é maravilhoso. Você pensa que me levando para a sua casa e me
dando o melhor atendimento médico, vai estar me salvando dessa doença... Mas,
adivinhe, mãe. Eu vou morrer de qualquer forma. Não me importa se estou sendo
tratado em um hospital público. Pelo menos aqui, nesta casa, eu tenho apoio e
eu tenho o amor. E eu prefiro morrer rodeado de sentimentos como esses do que
pela sua luxúria e preconceito. Sai daqui agora.
Close em Diane, que deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto. Ela
ameaça abrir a boca para dizer algo, mas Tyler logo a interrompe.
TYLER – Sai daqui agora!
Diane deixa o quarto, aos prantos. Noah entra, emocionado.
TYLER – Você estava aí... durante esse tempo todo?
NOAH – (se aproximando da cama) Eu peguei boa parte da conversa. Escuta, Ty,
eu sei que você está tentando encontrar razões para ficar bravo comigo e me
afastar da sua vida... (se senta nela) Mas eu te proíbo de continuar fazendo
isso. Eu não me importo de sofrer por sua causa ao longo do tratamento.
Acredite, dói muito mais ficar longe de você. Então não me afaste, não me
afaste, nós vamos passar por isso juntos.
TYLER – (começa a chorar) Eu sei, nós vamos passar por isso juntos. Me
desculpa por ter gritado com você, você não sabe como eu estou arrependido...
Eu...
NOAH – (abraça Tyler) Não diga mais nada. E pare de chorar. Isso só vai
piorar a sua dor. Eu vou ficar aqui com você, certo? Abraçadinho até você
dormir. O que você acha disso?
TYLER – Eu te amo, Noah.
NOAH – Eu te amo, Tyler.
E os dois jovens se abraçam ainda mais forte.
CENA 17. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
(música: Shelter – Birdy)
Tyler está sentado em frente a um espelho. Ele está com uma expressão
bastante fria. De repente, o garoto leva uma das mãos até o seu cabelo e
desliza seus dedos sobre ele, fechando-os logo em seguida. Tyler abaixa a mão e
a abre. Close no tufo de cabelo sobre a sua palma. Uma lágrima rola sobre o seu
rosto. Surge a seguinte legenda:
Noah entra no quarto. Ele se aproxima de Tyler. Vemos o reflexo dos dois
rapazes no espelho.
NOAH – O que está acontecendo, Tyler?
TYLER – (mostra sua mão para Noah) Os meus cabelos começaram a cair, Noah.
NOAH – (coloca as mãos nos ombros de Tyler) Bom, meu amor, nós sabíamos que
isso viria a acontecer. A queda de cabelo é uma das consequências do
tratamento.
TYLER – Eu sabia que iria acontecer, mas não esperava que fosse tão difícil.
Essa doença está destruindo o que eu sou, Noah. Está me deformando.
NOAH – Tyler, você continua lindo.
TYLER – (se levanta e se vira para Noah) Olha para mim. Veja como eu estou
horrível.
NOAH – Não, meu amor, você está lindo.
TYLER – Você só está falando isso porque quer ser gentil comigo.
NOAH – Ty, chegou a hora de rasparmos a sua cabeça.
TYLER – Não, eu não vou fazer isso. Essa doença quer me transformar num
monstro, Noah. Eu não vou deixar. Depois que eu ficar careca, você vai querer
me abandonar... Eu vou ficar feio e você não vai mais querer ficar comigo.
NOAH – Pare de falar bobagem, Ty. Eu aposto que você vai ser o cara careca
mais lindo deste mundo. (sorri) E nós temos que raspar o seu cabelo. Deixar que
ele caia sozinho é muito pior.
TYLER – Você promete que não vai me deixar?
NOAH – Prometo, fica tranquilo.
Tyler sorri e volta a se sentar no banquinho. Noah abre uma das gavetas
do armário e retira de dentro dela um barbeador para cabelo. Então, se aproxima
do namorado, liga o aparelho e começa a raspar sua cabeça. Enquanto os cabelos
de Tyler caem, lágrimas rolam sobre o seu rosto. A imagem corta rapidamente
para:
CENA 18. CASA DE NOAH E TYLER. COZINHA. INT. NOITE.
(A música tocada na cena anterior continua a ser executada nesta.)
A casa está totalmente escura, dando a entender que já são altas horas
da madrugada. Porém, Noah está acordado, sentado sobre uma mesa e folheando
alguns papeis. Por estar com uma calculadora em mãos, subentendemos que se
tratam de contas. Tyler, com a cabeça careca, espia o namorado. Noah passa as
mãos sobre a cabeça, mostrando um certo ar de desespero. Surge a seguinte
legenda:
TYLER – (entrando) Chega, Noah!
NOAH – (olhando para Tyler) Ty, o que você está fazendo acordado a essa hora
da madrugada?
TYLER – Eu te pergunto o mesmo, Noah. Você deveria estar dormindo. Você
precisa acordar cedo para o trabalho amanhã.
NOAH – Não se preocupe comigo.
TYLER – Não peça para eu não me preocupar com você. Eu deixei você se
preocupar comigo, acredito que eu possa ter o mesmo direito que você. Eu não
quero mais que você se afunde em dívidas por minha causa.
NOAH – E vamos fazer o que, adiar o tratamento?
TYLER – Não, eu vou pedir a ajuda dos meus pais.
NOAH – Tyler, quando decidimos seguir em frente com este tratamento, você
deixou bem claro que não queria que seus pais fizessem parte disso. Eu não
quero que você vá contra ao seu princípio só por causa de algumas contas...
TYLER – Não são apenas algumas contas, Noah. E eles são meus pais. Aquela
noite em que veio aqui, minha mãe demonstrou interesse em me ajudar. Por favor,
não peça para eu não fazer isso.
NOAH – Tudo bem. Eles podem ajudar com o tratamento.
TYLER – Ótimo, eu vou pedir para que eles venham até aqui amanhã.
Noah se levanta da cadeira e se aproxima de Tyler, colocando uma das
mãos sobre suas costas.
NOAH – Vamos dormir, está tarde...
Os dois jovens saem em direção ao quarto. Close nas contas espalhadas
sobre a mesa.
CENA 19. CASA DE NOAH E TYLER. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
(Música cessa.)
Donald e Diane estão sentados no sofá mantendo uma postura séria. Noah e
Tyler estão de pé em frente a eles.
TYLER – Bom, eu pedi para que vocês viessem até aqui porque tenho um
comunicado importante a fazer. Eu não tinha o mínimo interesse em voltar a olhar
para a cara de vocês, eu só estou fazendo isso porque o Noah insiste para que
eu continue este tratamento. Então agradeçam a ele. Ele está ao lado de vocês.
Close nos pais de Tyler, que encaram Noah, surpresos.
TYLER – Eu decidi aceitar a ajuda de vocês no meu tratamento. Quero dizer, eu
não estou trabalhando mais e o salário que o Noah ganha como publicitário mal
dá para pagar as contas, quem dirá meses de tratamento. Eu não sei quanto tempo
de vida ainda me resta, mas eu estou disposto a prosseguir com a quimioterapia
e ficar o máximo de tempo que eu puder ao lado do Noah.
DIANE – Isso é ótimo, meu filho. (sorridente) Você não sabe como me deixa
aliviada em saber que agora você estará sendo tratado nas mãos de ótimos
médicos.
DONALD – Faço das palavras da sua mãe as minhas.
TYLER – Mas existe uma condição. Se vocês quiserem pagar este tratamento,
vocês terão que deixar eu e o Noah em paz. Eu não quero que vocês se intrometam
mais em nossas vidas e digam que é errado. Vocês são bem-vindos em nossa casa,
mas para me visitar, não para levantar críticas a respeito do nosso “namoro
fora dos padrões tradicionais”.
DIANE – Nós aceitamos a condição, Tyler.
DONALD – Prometemos fazer um esforço.
TYLER – Ótimo, até porque meus dias estão contados. Não temos mais tempo para
indiferenças.
Diane se levanta e, aos prantos, corre abraçar o filho. Donald faz o
mesmo. Close em Noah, que assiste à cena, emocionado.
CENA 20. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DE TYLER. INT. NOITE.
Tyler desperta após o seu repouso vespertino. Surge a seguinte legenda:
Ao se levantar da cama, ele percebe que um terno preto está pendurado em
um cabide em frente ao guarda-roupas. Dentro do bolso, há um bilhete saindo
para fora. Tyler se aproxima do traje e retira o bilhete de dentro do bolso.
Close no pequeno pedaço de papel:
ESPERO QUE TENHA CONSEGUIDO DESCANSAR.
ESTOU FAZENDO UMA SURPRESA PARA VOCÊ NA SALA DE ESTAR.
VISTA O SEU TERNO E VENHA AO MEU ENCONTRO.
ESTOU FAZENDO UMA SURPRESA PARA VOCÊ NA SALA DE ESTAR.
VISTA O SEU TERNO E VENHA AO MEU ENCONTRO.
COM AMOR,
NOAH
Close em Tyler, que sorri e alisa o terno com uma das mãos. A imagem
corta rapidamente para:
CENA 21. CASA DE NOAH E TYLER. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Tyler entra na sala de jantar vestindo o traje de gala. Ele está muito
elegante. Noah, que também veste um terno, está virado para o rádio e não
percebe a chegada do namorado. Ele dá play em uma música e se vira rapidamente,
surpreendendo-se com a presença de Tyler.
(música: Incancellabile – Laura Pausini)
NOAH – (com os olhos brilhando) Você... Você está maravilhoso.
TYLER – Eu digo o mesmo. (ouvindo a música) Hey, você se lembrou...
NOAH – Me lembrei do quê?
TYLER – Da primeira música que dançamos juntos. No dia da graduação da sua
irmã. Eu lembro que comentei que não entendia a letra, por ser italiana, mas
que parecia ser linda e perfeita para o momento.
NOAH – Sim, eu pesquisei a tradução da música e adivinha? Realmente descreve
nós dois. (se aproxima de Tyler) Você sabe que aquele dia foi muito importante
para nós, não é mesmo?
TYLER – Sim, foi o dia em que nos conhecemos. O dia em que nos vimos pela
primeira vez. (ri) Engraçado, um colega meu me apresentou para a sua irmã e eu
disse a ela que preferiria muito mais o seu irmão. (pausa) Então ela me olhou
assustada e disse: “Ele é gay”. E nos apresentou. Foi uma situação realmente
embaraçosa... Eu tinha bebido mais do que devia aquela noite.
NOAH – Mas valeu a pena, não valeu?
Noah pega duas taças de vidro que estavam sobre um balcão e entrega uma
delas a Tyler.
TYLER – Noah, não sei se você se lembra, mas eu não posso beber, eu estou no
meio de um tratamento...
NOAH – É claro que eu não me esqueci. Pode beber sem preocupações. É soda.
Eu coloquei em uma taça só pra dar a entender que fosse champanhe. Eu estou
tentando fazer um encontro de gala aqui. (sorri)
TYLER – (bebe um pouco da soda) Respondendo a sua pergunta... Sim, valeu
muito a pena.
NOAH – (bebe um gole da soda e coloca a taça no balcão) Você me concede a
honra de uma dança? Não podemos desperdiçar a nossa música...
Tyler também coloca a taça no balcão e oferece uma de suas mãos para
Noah, que logo o conduz em uma dança lenta e romântica. Eles encostam seus
corpos um ao outro. Tyler deita a sua cabeça no ombro de Noah, enquanto é
guiado por ele.
TYLER – Noah, eu preciso te dizer uma coisa...
NOAH – Diga.
TYLER – Esta é a minha última noite.
NOAH – O que você está dizendo?
TYLER – As pessoas sentem quando irão morrer.
NOAH – Você está estragando a nossa música.
TYLER – Não, eu só quero aproveitar os meus últimos minutos ao seu lado.
Close em Noah, que deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto. A câmera
se afasta, enquanto os dois rapazes continuam dançando na mais perfeita
sintonia.
CENA 22. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.
(Música cessa.)
Noah e Tyler estão deitados em sua cama cobertos por um lençol. Noah
dorme, Tyler, porém, está acordado. O rapaz se levanta apenas de cueca e veste
uma camiseta e uma calça. Ele deixa o quarto. A câmera mostra a janela. As
cortinas estão abertas, permitindo que a luz lunar invada o local e ilumine o
rosto de Noah.
A imagem corta rapidamente para:
CENA 23. CASA DE NOAH E TYLER. COZINHA. INT. NOITE.
Tyler está sentado em frente à mesa da cozinha, com uma folha de papel
sobre ela e uma caneta em mãos. As cortinas também estão abertas,
possibilitando que a luz lunar atravesse o vidro da janela e ilumine o local.
Close no papel. Tyler começa a escrever...
MEU GRANDE AMOR NOAH...
A imagem corta rapidamente para:
CENA 24. CASA DE NOAH E TYLER. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
O dia já amanheceu. Percebemos isso pelos raios solares que invadem o
local. Noah desperta com a luz. Lentamente, ele se levanta da cama e percebe
Tyler ainda dormindo, de costas para ele. Noah decide chamá-lo.
NOAH – Tyler... O que você acha de fazermos um passeio no Central Park?
Sem resposta.
NOAH – Tyler, vamos... Eu sei que você me ouve. Você só está fingindo dormir
para que eu não te incomode em plenas seis horas da manhã. Mas veja lá fora,
está um dia lindo.
Novamente, sem resposta. Close em Noah, preocupado.
NOAH – Tyler?
Noah se aproxima da cama e se senta sobre ela. Com muito receio, o rapaz
leva sua mão até o pescoço de Tyler, tentando sentir a sua pulsação.
NOAH – (deixando uma lágrima rolar sobre o seu rosto) Tyler...
A imagem escurece num baque.
CENA 25. CASA DE NOAH E TYLER. COZINHA. INT. DIA.
(música: Never Let Me Go – Florence + The Machine)
(música: Never Let Me Go – Florence + The Machine)
Ainda de pijama, Noah se senta em frente à mesa. Sua expressão é fria,
ele não demonstra nenhum sentimento em relação à morte de Tyler. Então começa a
ler a carta que o namorado lhe deixara em voz alta:
MEU GRANDE AMOR NOAH...
EU SEI QUE ESTA NÃO ERA A MELHOR FORMA PARA EU ME DESPEDIR DE VOCÊ. EU
NÃO QUERIA ME DESPEDIR DE VOCÊ. MAS EU TINHA QUE FAZER ISSO. EU ESTAVA ME
LEMBRANDO DE QUANDO EU ERA MAIS NOVO, TINHA EM TORNO DE 11 ANOS E ME
PERGUNTARAM COMO EU IMAGINAVA A MINHA VIDA DAQUI A 15 ANOS. EU RESPONDI QUE
QUERIA ESTAR TRABALHANDO EM ALGUMA ÁREA QUE ME FIZESSE BEM E AO LADO DE ALGUÉM
QUE ME FIZESSE BEM. QUINZE ANOS SE PASSARAM E ESTAS DUAS COISAS REALMENTE
ACONTECERAM. EU TRABALHEI COM O JORNALISMO, ALGO QUE DESEJEI EM TODA A MINHA
VIDA E ENCONTREI UM CARA MUITO ESPECIAL. EU PODERIA TER ESCRITO NESTE PAPEL
TUDO O QUE VOCÊ REPRESENTOU PARA MIM AO LONGO DESSES DOIS ANOS EM QUE NOS
CONHECEMOS, MAS AINDA NÃO SERIA SUFICIENTE. ENTÃO EU DECIDI SOMENTE AGRADECER
TUDO O QUE VOCÊ FEZ PARA MIM E POR MIM, SIM, PORQUE VOCÊ SACRIFICOU MUITAS
COISAS PARA ME VER COM UM SORRISO NO ROSTO, PRINCIPALMENTE NESTES ÚLTIMOS CINCO
MESES. NOAH, QUERO DIZER QUE ESTES ÚLTIMOS CINCO MESES FORAM OS MAIS
IMPORTANTES DE TODA A MINHA VIDA. EU APRENDI MUITAS COISAS COM ELES. APRENDI
QUE NEM TUDO É PARA SEMPRE. TUDO QUE TEM UM COMEÇO TAMBÉM TEM UM FIM. A MORTE
FOI O NOSSO. ENTÃO DEVEMOS SEMPRE APROVEITAR CADA DIA QUE A VIDA NOS OFERECE E
APROVEITÁ-LO DA FORMA MAIS INTENSA POSSÍVEL AO LADO DE QUEM AMAMOS. EU QUERO
HONESTAMENTE AGRADECER PELO ÓTIMO COMPANHEIRO QUE VOCÊ FOI NESSES ÚLTIMOS
TEMPOS. VOCÊ ME AMOU, ACREDITOU NA MINHA FORÇA, MESMO QUANDO EU ME SENTIA O
CARA MAIS FRACO DE TODA A TERRA. OBRIGADO POR DIVIDIR A SUA FORÇA COMIGO. EU
SEI QUE VOCÊ ESTAVA TÃO FRACO QUANTO EU E NÃO QUIS DEMONSTRAR. NÃO CULPE A
DOENÇA NEM NINGUÉM POR ME TIRAR DE VOCÊ. ESTE ERA O DESTINO TRAÇADO PARA NÓS.
DUROU POUCO, MAS FOI MUITO IMPORTANTE E VAI PERMANECER CONOSCO PARA SEMPRE. EU
NUNCA VOU ME ESQUECER DE VOCÊ, NOAH, E EU ESPERO QUE VOCÊ TAMBÉM NUNCA SE
ESQUEÇA DE MIM. AH, UMA ÚLTIMA COISA, DIGA À HARMONY QUE EU SOU ETERNAMENTE
GRATO A ELA POR TER TE APRESENTADO A MIM.
COM AMOR,
TYLER
Noah engole todas as palavras que acabara de ler sem saber como
digeri-las. Então deixa uma lágrima rolar sobre o seu rosto. A última lágrima
em prol do seu grande e único amor. Close no papel: a lágrima cai sobre ele,
borrando o nome de Tyler.
A IMAGEM ESCURECE.
CRIADO E ROTEIRIZADO POR
André Esteves
ELENCO
Sean Faris como Noah Sullivan
Sebastian Stan como Tyler Collins
Sigourney Weaver como Diana Collins
Liam Neeson como Donald Collins
Emily Vancamp como Harmony Sullivan
TRILHA SONORA
This – Ed Sheeran
Your Song – Ellie Goulding
Angels – The XX
Hometown Glory – Adele
Shelter – Birdy
Incancellabile – Laura Pausini
Never Let Me Go – Florence + The Machine
PRODUÇÃO
Bruno Olsen
Diogo de Castro
André Esteves
ELENCO
Sean Faris como Noah Sullivan
Sebastian Stan como Tyler Collins
Sigourney Weaver como Diana Collins
Liam Neeson como Donald Collins
Emily Vancamp como Harmony Sullivan
TRILHA SONORA
This – Ed Sheeran
Your Song – Ellie Goulding
Angels – The XX
Hometown Glory – Adele
Shelter – Birdy
Incancellabile – Laura Pausini
Never Let Me Go – Florence + The Machine
PRODUÇÃO
Bruno Olsen
Diogo de Castro
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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