Quarto para 2
de Edgar Henrique
O vento frio da noite soprou, e por não estar tão
tarde, aquilo significava que o tempo viraria, ainda que não importasse mais.
– Chegamos. – Rick, o homem de vinte e dois anos, alta estatura, pele escura, cabelo preto cacheado e
olhos castanhos claros, anunciou parando de frente a porta de casa, retirando
as chaves do bolso. – Não repara na bagunça, Matheus. – Rick pediu concedendo
passagem para o outro. O convidado era apenas três anos mais novo, a estatura
era próxima, mas a pele do mais jovem era branca, o cabelo preto curto e os
olhos castanhos escuros.
Matheus entrou, logo parando, não sentindo-se convidado
o suficiente para continuar o caminho. Olhando em volta, ele viu a cozinha à
direita, sem nenhuma divisão entre a mesma e a sala, possuindo uma mesa redonda
no centro com quatro cadeiras. À esquerda, a sala possuía dois sofás que
ficavam de frente para uma televisão e um aparelho de som do tipo que aceitava
CDs. Alguns quadros enfeitavam as paredes com portas, cada um de tamanho de imagens ou frases
diferentes.
– Bagunça? Está tudo tão arrumado. – na verdade, parecia tudo
até perfeito na opinião de Matheus.
– É o meu estereotipo. – Rick tomou a dianteira, tornando
mais fácil e confortável para Matheus o seguir.
– Você quis dizer TOC.
– Não. – parando, olhando para Matheus, Rick negou. –
Gostemos ou não, todo gay tem um estereotipo ou vários. Sou bom com arrumação,
seria um designer de interiores
maravilhoso se eu não
fosse péssimo com
cores.
– Por que não tenta?
– Não é muito rentável. – indo em direção à cozinha, Rick
respondeu, e achando que ficar parado era uma opção, Matheus não foi atrás. As
chaves foram deixadas sobre a mesa e Rick abriu a geladeira. – Quer algo para
beber? Acho que só não tenho cerveja. – procurando, ele se inclinou e abriu a
gaveta, descobrindo duas latas escondidas sob um saco de legumes. – Tenho sim.
Bebe? – Matheus não respondeu, pensando, cogitando se deveria. – Não precisa se
não quiser.
– Vou experimentar. – com a resposta de Matheus, Rick fechou
a geladeira, andando até o garoto, o entregando a bebida. Olhando para a lata,
lendo o nome como se aquilo pudesse fazer alguma diferença, o que certamente
não fazia, Matheus decidiu abrir quando percebeu que Rick já havia aberto a
dele. Molhando apenas os lábios, era a primeira vez que bebia. – É boa. – ele
comentou, arriscando em seguida mais do que molhar os lábios.
– É uma noite para experimentar coisas novas?
– Pode-se dizer que sim. – Matheus respondeu, aparentemente
não entendendo a frase por completo ou teria percebido o outro sentido dela. –
Então, gosta de esportes? – puxar conversa deveria ser algo normal, contudo,
era mais uma das coisas que estavam na lista de inexperiência de Matheus.
– Já tentei gostar, mas não gera interesse em mim. – Rick
comentou. Ele tivera o que poderia chamar de infância normal, tendo jogado
futebol junto de outros garotos, porém, nunca fora a praia dele. – Você parece
atlético, pratica bastante?
– Fiz todo tipo de esporte durante o ensino médio. – Matheus
jogou futebol,
basquete, nadou, correu
e, por pouco tempo, até mesmo praticou uma luta, mas desistiu rápido.
– Legal. – Rick comentou, e apesar de que aquela era hora
para o continuar da conversa, a mesma pareceu começar a se perder. – Fala algo
sobre você. De onde veio, família, essas coisas.
– Meus pais são imigrantes, mas nasci no Rio de Janeiro
mesmo, nunca saí. – Matheus contou. – Meus pais são convencionais, um homem e
uma mulher, ambos da igreja, então eu cresci em um lar religioso.
–
É da igreja? – levando a lata até a boca, Rick perguntou antes de dar mais um
gole.
–
Já fui mais. – Matheus respondeu sabendo que esfriou com o tempo, sabendo também o motivo, apesar de
negá-lo quase constantemente. – Eles me nomearam baseado nisso.
–
Qual o significado do seu nome?
–
Dom, presente e... Sempre esqueço o terceiro, mas é dom ou presente de Deus.
–
Poderia ter sido Moisés. – Rick comentou otimista.
–
Agradeço constantemente que não foi Moisés.
–
Meus pais quiseram me punir, então me deram um nome estranho.
–
Qual o problema com Rick?
–
Maverick Luigi. – a resposta surpreendeu a Matheus por quão diferente era o
nome. – Meu avô era italiano.
–
Fala italiano?
–
Non. – Rick respondeu.
–
O que quer dizer?
–
Não. – Rick riu, como Matheus. – Nunca tive interesse, mas aprendi essa única
palavra para quando alguém me perguntasse.
–
Qual o significado do seu nome? – curioso, Matheus perguntou, recebendo um
levantar de ombros como resposta.
–
Nunca procurei.
–
Gosto de idiomas, como as línguas funcionam por aí.
–
Como um amante de esportes pode ser nerd?
– com um sorriso brincalhão em lábios, Rick perguntou, e pela primeira vez Matheus
sentiu que poderia falar sobre aquilo sem ser julgado.
–
Não sou um estereotipo. – lembrando o que o dono da casa dissera antes, Matheus
respondeu.
–
Um brinde a isso? – Rick levantou a lata, e fazendo o mesmo, Matheus tocou a
dele.
–
E sua família? – Matheus perguntou curioso.
–
Minha mãe é da igreja, meu pai só é preocupado demais com a opinião dos outros,
então as coisas não ficaram tão boas após eu me assumir. – os tempos difíceis
deviam ser deixados para trás, e Rick bebeu para acreditar naquilo e ajudar o
passado a descer. – É como seus pais?
– Sabe a resposta para isso. – não, Matheus
temia não ser nada como os pais.
–
Não posso dizer o que você é ou deixa de ser. – Rick sabia como aquilo era ruim
e, no fundo, Matheus também entendia o que o dono da casa queria dizer. – Mas
não me referia a isso. Me refiro ao que você acredita.
–
Acredito que Deus exista, que ele cuida de nós e nos protege.
–
Tem um “mas”? – diante da pergunta de Rick, quem parecia ler bem a expressão de
Matheus, o convidado olhou para baixo.
–
Acho que seria mais fácil se não houvesse, porque assim não precisaria me
preocupar tanto com o meu destino. – Os olhos perdidos de Matheus eram comuns, algo já normal para
alguém que cresceu
cercado pela religiosidade. Matheus estava em um confronto, o que fora ensinado
e o que o mesmo sentia, e infelizmente a resposta era difícil de se obter e
precisava ser individual.
–
Eu acredito em um Deus que não manda pessoas boas para o Inferno só por quem ou
pelo jeito que elas amam. – Rick compartilhou a visão a qual chegou depois de tanto tempo.
Com uma pergunta em mente, não sabendo se deveria ou não
fazê-la, Matheus optou por ser ousado, ao menos um pouco mais do que já estava
sendo por estar ali àquela noite. Bebendo o resto da cerveja, ele se sentiu
pronto.
–
Tem namorado, Rick?
–
Direto. – Rick não esperava
que o garoto aparentemente tímido pudesse fazer aquele tipo de pergunta de
forma tão aberta, porém, não era como se ele se importasse. – Não, não se
preocupe.
–
Não por isso. – acabaram de se conhecer, Matheus não queria um relacionamento
ou similar, e concluiu
que se fora parar ali era porque o dono do lugar não possuía namorado. – Você
mora sozinho aqui?
–
Tinha dois quartos quando aluguei, então achei um colega para dividir. – apontando
com a mão que segurava a lata, Rick fez Matheus seguir a direção com o olhar, e
o convidado pôde perceber haver três portas na casa, os dois quartos e o
aparentemente banheiro. – Ele não está agora, foi passar uns dias com os pais. –
era bom deixar aquilo claro, daquela forma Rick não precisava se preocupar em
espantar Matheus e perder a chance de se divertirem. – Tenho medo de me
decepcionar, por isso não penso muito em namorar.
–
É bonito, vai achar alguém legal. – andando até a mesa, Matheus colocou a lata
sobre a mesma.
–
Me acha bonito? – indo até a mesa, aproximando-se de Matheus, Rick parou ao
lado do mesmo, perto o suficiente para que seus braços roçassem. Sem dizer
nada, Matheus se afastou, o que Rick certamente estranhou. Irem até ali tinha,
até então, um motivo, e apesar de que toda conversa estivesse boa, ele não
esperou que o outro
se afastasse daquela forma. – Está com medo? – percebendo que talvez fosse a
primeira vez do outro, Rick resolveu ir devagar.
–
Não. – desviando levemente o olhar, Matheus respondeu.
–
Tem medo de mim – Rick começou a andar –, das consequências de ser... da
possibilidade de ser gay – consertando-se, preferindo não escolher pelo outro,
Rick continuou – ou do que poderíamos fazer já que estamos sozinhos aqui? –
próximo de Matheus, quem surpreendentemente não se afastou, Rick terminou a
frase.
–
De tudo. – a resposta sincera pegou a Rick, quem por um instante não soube o
que dizer. Optando por um sorriso, ele se inclinou um pouco.
–
Não faço nada que outra pessoa não queira. – afastando-se ao virar, Rick perdeu
o momento em que Matheus se sentiu mais leve e menos tenso. – E até onde sei,
você poderia ser um assassino que veio para me matar, eu poderia ser um
assassino que te atraiu para te matar, mas a verdade é que nós dois resolvemos
arriscar e viemos parar aqui. – Matheus lembrava que até há pouco estava em uma
praça, sozinho, até o momento em que Rick entrou no campo de visão dele. Um tempo depois e
estavam se olhando, depois de se olharem por um tempo, de alguma forma, estavam
conversando e caminhando até ali. – Se importa se eu puser música?
A mudança, ainda que súbita, de assunto, acalma a Matheus.
–
Vai em frente. – Rick caminhou até o aparelho, ajoelhando-se, escolhendo um dos
CDs que tinha para tocar. – Gosta de ouvir música pelo CD?
–
É... diferente, não sei por quê. Se eu tivesse dinheiro comprava vinis. – Parecendo decidido, Rick
ligou o aparelho, colocando a música, e assim que a mesma começou Matheus não a
reconheceu.
Com o passar do tempo e as músicas servindo
como um tipo de trilha sonora que os ajudam a relaxar, ao menos Matheus se sentiu daquela forma, pois
provavelmente era o único nervoso dos dois, a conversa fluiu de maneira mais
natural, quase como se já se conhecessem a mais tempo do que realmente faziam. Matheus
sentou em um sofá,
mas Rick se colocou
em outro, ficando, depois de um tempo sentado, de bruços com os pés para o alto
enquanto as mãos apoiavam a cabeça.
–
Acredita que nunca assisti Harry Potter.
–
O que tem demais?
–
Magia é do demônio, portanto todos eles são maus. – diante da explicação, Rick
não pôde evitar a risada, sendo acompanhado de Matheus. – É engraçado, mas
deixei de ver muita coisa por essa lógica.
–
Imagina quando souberem que... – parando a frase, Rick optou por não se
precipitar.
–
Pode dizer, eu deixo. – Matheus autorizou, àquela altura não se importando.
–
Quando souberem que você
sente atração por garotos. – Rick comentou sem o ar divertido de antes.
–
Já pensei demais nisso e não sei se consigo contar. – talvez, mais como “muito
provavelmente” para um “com certeza”, Rick estragara realmente o clima da noite,
ao menos era o que a expressão de tristeza de Matheus parecia dizer.
–
Não posso te prometer nada, mas acredito que um dia você vai acordar e perceber
que nada importa, só a sua felicidade, e nesse momento você será capaz de ser
feliz. – Rick, pelo menos, passou por aquilo, descobrindo que nada nem ninguém poderia ser
colocado acima da própria felicidade. – Só que vai ter que descobrir o que quer
primeiro.
–
Quero que me beije. – só pronunciar aquelas palavras já foram o suficiente para fazer
o coração de Matheus acelerar, mas nem por isso os olhos desviaram dos
castanhos claros que o olhavam com algo que Matheus não esperava encontrar ali aquela
noite: ternura.
–
Não precisamos...
–
Eu quero. – decidido, sentindo o coração como nunca ainda, Matheus falou.
Tomando a iniciativa, ele se colocou de pé, olhando para Rick, esperando para
ver se o garoto faria o mesmo, e quando o fez, quando Rick se levantou,
diminuindo a distância, Matheus engoliu em seco e não soube o que fazer.
Tendo
a mão segurada, ela foi levada até o rosto de Rick, permitindo a Matheus sentir
como era tocar outro homem de forma tão íntima. Os pensamentos deixaram a
cabeça de Matheus pouco a pouco, permitindo-o aproveitar o contato até os dedos
deslizarem e chegarem aos lábios de Rick. Olhando para a área, Matheus se
perguntou como seria beijar. Como a sensação de dois lábios se tocando parecia.
As
mãos de Rick se moveram, e parando de explorar o rosto do outro, deixou-se
apenas sentir como era ser tocado. Por algum motivo as mãos de Rick pareciam
quentes, tornando o toque confortável, gostoso, e desejando pelo beijo que pediu, logo Matheus o recebeu quando os lábios de
Rick cortaram a distância, tocando os de Matheus.
A
sensação começou um
pouco estranha para Matheus, não ruim, mas parada, como se ele esperasse por
algo diferente, algo que logo veio. O toque dos lábios saiu da fase
experimental e foi para o próximo nível, um de prazer o qual Matheus sonhou por bastante tempo,
enfim obtendo. Ele não podia falar por... Não, ele sabia que estava sendo
desejado por Rick, e era aqui que, no fundo, sempre quisera.
Matheus
jurava que não sabia o que ocorreria ou o que queria que ocorresse quando foi para
a casa de Rick, contudo, ele ficava feliz por, apesar do que quer que sentisse,
Rick fosse respeitoso a ponto de não forçá-lo a nada, mesmo que aparentemente
querendo aquilo tanto quanto Matheus.
O
beijo começou a diminuir, parando após dois selinhos isolados que Rick deu em Matheus.
–
Como foi?
–
Não sei se tive o suficiente para poder julgar justamente. – Rick abriu um
sorriso diante da resposta por causa do jeito ousado do outro. Matheus tomou a
iniciativa daquela vez, beijando-o.
O
beijo não foi além daquilo, de beijos, do toque gentil dos lábios, pois Rick
julgou que não havia porque. Matheus não precisava de uma transa naquele
momento, não precisava aprender que o mundo gay era limitado a levar estranhos
para casa, transar com os mesmos e nunca mais vê-los, como ele aprendeu. Talvez fosse
prepotente, porém, Rick realmente achava que Matheus precisava de um amigo,
assim como ele.
Em
vez de levar aquilo para o nível planejado na ida para casa, Rick instruiu Matheus
a colocar uma almofada no chão, e apesar de confuso, não entendendo o propósito
daquilo, Matheus obedeceu, deitando sobre o tapete assim como o dono da casa
demonstrou. Olhando
para o teto, Matheus viu estrelas coladas no mesmo, indo até o limite que
separava sala e cozinha, perguntando-se como deixara aquilo escapar, sabendo
ser culpa do nervosismo.
Quando
entraram, tudo que Matheus pode
sentir foi
excitação e medo do desconhecido, ambos ao mesmo tempo, então não era de se
surpreender que não repara
naquele enfeite mesmo tendo nos demais.
As
luzes se apagaram, e olhando para Rick, ainda deitado, viu o garoto voltar,
deitando-se ao lado
na própria almofada. Mirando o teto juntos, Matheus ficou admirado com o fato
das estrelas brilharem, causando um efeito visual digno de amolecer corações e
criar o clima romântico perfeito.
–
Esse é o tipo de coisa que normalmente se coloca no quarto, mas eu quis colocar
essas estrelas aqui para serem meu próprio céu estrelado quando eu precisasse
de um pouco de luz. – a revelação de Rick o surpreendeu pelo quão íntimo
parecia.
–
Não via muitas estrelas de onde veio? – curioso pelo passado de Rick, Matheus
perguntou.
–
Via. O céu estrelado mais lindo que você pode imaginar. – Matheus reparou que
os olhos de Rick pareciam brilhar. – Se estiver se perguntando por que me
mudei, pense no estereótipo de cidade pequena e vai chegar à conclusão óbvia
que não tinha espaço pra mim.
–
Gosta de estereótipos, não é? – com um sorriso, Matheus perguntou.
–
Só quando não estão sendo esfregados na minha cara. – Rick não riu, sinal de
que provavelmente não era uma história boa. A vontade de perguntar foi grande, afinal estavam
em um momento ali o qual provavelmente tinham intimidade para saberem sobre a
vida um do outro, contudo, Matheus achou melhor não.
–
São realmente lindas. – voltando a encarar o teto, Matheus comentou não vendo o
sorriso que Rick deu.
Olhando
para o convidado, talvez esperando uma reação como a de outros amigos, quem riu primeiro, mesmo que não
de maldade, Rick não recebeu aquele. Admirando como o garoto olhava as
estrelas, talvez procurando alguma constelação em específico, Rick sorriu.
–
É tão inocente. – ele comentou, recebendo o olhar do outro.
–
Não, não sou. – Matheus desviou os olhos, mirando o teto. Era o único ali que sabia
de todas as coisas que fizera, tudo pelo que já passou, e certamente não se
considera inocente.
–
Sim, você é. – olhando novamente para Rick, Matheus notou que só podia haver
algo de errado, um errado bom, com os olhos do garoto, pois ele não sentia que
aqueles olhos o julgavam, e sim o acolhiam e convidavam. – Não sei pelo que já
passou – os dedos de Rick percorreram o rosto de Matheus, limpando as lágrimas –,
mas você é lindo e inocente, não
perca isso.
–
Posso ficar aqui hoje? – havia uma paz ali que Matheus não sentia em casa já
fazia um tempo. – Se não for incomodar.
–
Vai ser um teste de resistência, mas sim, você pode. – com um sorriso gentil,
Rick respondeu.
–
E, se não for pedir demais, podemos dormir abraçados? – era um pedido mais
ousado se Matheus considerasse que acabava de receber o primeiro beijo da vida dele há
pouco. – Não precisa ser agora, quero olhar mais as estrelas e conversar com
você.
–
Claro.
Àquela
noite, Matheus passa
pelas primeiras experiências de vida dele, chegando a dormir abraçado com um
garoto o qual não foi
além de beijar, aceitando-se mais graças a conversa que tiveram, enquanto Rick
percebeu o que não
esperava: ele não
nasceu para ser um
caso de uma noite, mas para ser amado por dias.
Bruno Olsen
Cristina Ravela
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