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Antologia Lua Negra - 2x01: O Estranho

Conto de Felipe Duque
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Sinopse: Um conto metafórico de terror psicológico, que em um clima de triller, fala da perda da identidade em momentos de violência. Em O Estranho vemos um casal recém-casado, que se muda para uma granja onde pretendem ter uma vida mais tranquila, mas um estranho familiar pretende por tudo a perder.


O Estranho
de Felipe Duque

 

            Eric e Sheila voltavam de uma festa. Riam no carro a caminho de casa como um jovem, belo e recém-formado casal. Eric dirigia a caminhonete com desenvoltura pela estrada que serpenteava mansamente. Iam para casa comprada de pouco, uma simples e simpática granja. As luzes da cidade ficavam para trás, presas no retrovisor retangular do veículo. À frente apenas pequenos pontos de luz, que de forma fantasmagórica demarcavam outros sítios.

            Ao chegarem à propriedade, Eric desceu do carro para abrir a rustica porteira. Sheila que agora ocupava o assento do motorista atravessou a entrada trepidando sobre o mata-burro. Eric após fechar a porteira entrou novamente no carro e seguiram pelo curto caminho que os levavam infalivelmente para casa. Era uma hora da manhã. A casa não era muito grande, mas sua estrutura era sólida, coisa que demarcava sua feitura em um tempo onde as casas eram feitas para durar e sua construção demandava tempo. Os grilos cricrilavam incrivelmente naquelas primeiras noites de primavera. Corujas solitárias nas copas das árvores chirriavam na escuridão, de onde em relances se podia ver o brilho quase metálico de seus olhos.

            Estacionaram o carro bem em frente da entrada da casa. O farol alto do veículo iluminava bem a porta. Eric, como de costume, já ia sair para acender as luzes da casa e abrir a porta. Sheila, garota criada na cidade iluminada e vigiada dia e noite por luzes e pessoas artificiais, ainda não se acostumara com a solidão, o silêncio e a escuridão obsedante e completa da natureza. Mas naquela noite, não se sabe se por se sentir feliz um pouquinho a mais que o normal, ou por que tenha bebido um pouquinho a mais que o normal, decidiu que não seria necessário que Eric descesse do veículo para realizar seus procedimentos de praxe. Ela mesma acenderia as luzes e abriria a porta. Não importa se um pouquinho a mais, seja de felicidade ou álcool, ambos são capazes de nos fazes esquecer, ainda que momentaneamente, nosso total desamparo e insignificância diante do mundo e da natureza.

            Eric deu um beijo na boca da esposa antes que ela descesse e disse:

            “Nossa! Estou gostando de ver, está ficando sem medo mesmo.”

            Ela sorriu orgulhosa.

            “Meu bem, eu enfrento a selva de pedra recheada de psicopatas e tarados todos os dias, qual o perigo que esta escuridão tenebrosa, diga-se de passagem, e este isolamento quase completo pode representar para mim?”

            Riram. Sheila desceu do carro. Eric pulou para o assento do motorista. Ela foi até os acendedores na varanda, um clique surdo se fez ouvir e imediatamente a luz banhou toda a entrada da casa. Sheila riu como uma garota travessa e gritou:

            “Viu. Nem foi tão difícil.”

            Eric sorriu de dentro do carro e buzinou como se fosse uma salva de tiros em celebração. Sheila com as chaves na mão foi para abrir a porta, mas recuou assustada.

            “O que foi?” – perguntou Eric de dentro do carro.

            “A porta está aberta.”

            “O quê?”

            “A maldita porta está aberta.” – gritou Sheila retrocedendo.

            “Fique tranquila, meu bem. Devo ter deixado quando saímos. Foi uma correria só, você se lembra?”

            Sheila parou em meio a sua retirada. Eric saiu do carro.

            “Pode entrar, querida. Fico aqui, qualquer coisa você me grita.”

            Sheila olhou para o rosto tranquilo do marido e entrou. As luzes de dentro da casa foram se acendendo e o portão elétrico da garagem se abriu. Eric entrou novamente no veículo e o encaminhou para a garagem.

            Sheila depois de acender as luzes e verificar que tudo estava na mais perfeita ordem, relaxou. Respirou fundo o doce ar carregado do cheiro das alfazemas, que plantara no jardim de inverno ao lado da sala. Arrancou os sapatos de salto e já completamente relaxada se pôs a cantarolar “La vie em rose”. Estava feliz. Uma felicidade confortável e morna comum aos recém-casados, que começam a desfrutar do companheirismo e independência que a formação do próprio lar permite. Cada coisinha ali tinha um pouco de si e do esposo. Era como ser adolescente e decorar o seu quarto da maneira que bem entendesse sem a supervisão crítica dos pais. A liberdade semi-erótica de poder andar nua por todos os cômodos, sentindo o bafejar do ar primaveril sobre o corpo. Resgatar ainda que precariamente a liberdade de uma sexualidade quase infantil, onde o corpo todo se apresenta como um objeto de obtenção de prazer. Na granja, afastados de quase todas as imposições sociais, sentiam-se como os novos Adão e Eva. No final das contas Eric tinha mesmo razão. Não existe vida melhor que a vida no campo. O tempo nesses lugares passa de forma diferente. Não diria que mais lentamente, mas sim mais gostoso e prazeroso. A orquestra de insetos e animais noturnos que impediam que o silêncio fosse completo, não atrapalhava o repouso, mas ao contrário disso, faziam do sono mais fácil e profundo. Como se aqueles barulhos fossem um mantra natural de relaxamento que levava ao paroxismo de um quase transe. A natureza dominada deixa de ser um perigo, para se tornar um deleite.

            Sheila foi até a cozinha e se serviu de um copo d’água que bebeu de um só gole. Nesse interim, ouviu a porta se abrir e em seguida o barulho da chave que a fechava. O barulho dos sapatos de Eric andando pelo corredor. Tudo tão familiar.

            “Guardou o carro, meu amor?” – ela gritou.

            Adorava a liberdade de poder gritar em plena madrugada. Totalmente diferente da vida enclausurada em apartamentos cercados por ouvidos de tísicos e ameaçadoras leis do silêncio. Gritava premeditadamente, só para poder sentir a alma cheia de liberdade, assim como a casa se enchia de sua voz.

            “Sim, meu bem.” – respondeu Eric afrouxando a grava que lhe garroteava o pescoço. – “Vai abrindo umas cervejas aí. Vou lá em cima dar uma mijada e já volto”.

            Estavam reformando o banheiro do térreo e neste período eram obrigados a usarem somente o da suíte. Eric trotou jovialmente nas escadas de madeira de lei. Entrou no quarto completamente escuro. Estava de fato apertadíssimo. Havia abandonado de pouco o uísque por problemas menores de saúde. Nada demais, apenas uma gordurinha no fígado, coisa que com uma dieta e evitando destilados contornaria facilmente. Ainda se adaptava ao consumo de cerveja e ao desejo incontrolável de urinar que ela proporciona. Entrou no banheiro e acendeu a luz. Deixou a porta aberta. Abriu a braguilha e pôs-se a se aliviar. Um arrepio de prazer percorreu todo o seu corpo levando-o a um estremecimento que fez com que pequenas gotas douradas de urina respingassem em sua calça e no vaso.

            “Droga!”

            Depois de quase um minuto de um jato longo e barulhento, restou-lhe apenas as últimas gotas resistentes que ele deixou cair lentamente enquanto balançava o pênis com suavidade. Pegou um pedaço de papel higiênico e se curvou para secar as gotas que haviam tragicamente caído na privada. Quando se ergueu quase caiu para trás. Um homem estava parado debaixo do umbral da porta. Só isso já faria qualquer pessoa, mesmo a mais corajosa, tremer como um cão com frio. Mas o que ele viu era ainda pior. O homem que estava debaixo do umbral era idêntico a ele. Não havia nada que pudesse diferencia-los nas feições, porte físico, cabelos ou roupas. Talvez somente o olhar. O outro tinha um olhar selvagem, atrevido, porque não dizer maldoso. Mas Eric não teve tempo para pensar nessas comparações acerca de olhares, pois o outro já caiu em cima dele com uma faca nas mãos e o acertou com um golpe no meio da garganta, logo abaixo do pomo de Adão. Eric gorgolejou e se sentiu sufocar pelo sangue que lhe enchia a boca e os pulmões. Seu corpo se enfraqueceu brutalmente. O estranho o arrastou para dentro do box de vidro fumê e o estirou no chão com enorme estrondo. Antes de perder a consciência ouviu a voz da mulher que gritava da cozinha:

            “Eric, que barulho foi esse? Está Tudo bem?”

            O estranho respondeu:

            “Está sim, meu bem. Deixei a garrafa de enxaguante bucal cair no chão.”

            Eric estremeceu. A voz dos dois era também idêntica. Segurando a garganta ensanguentada desfaleceu. O outro pegou então as toalhas ali penduradas e limpou o sangue que sujava o piso.

 

            Sheila havia aberto duas long neck’s e esperava Eric sentada na mesa da cozinha. Estava com o vestido longo de festa suspenso até o meio das coxas brancas e carnudas. Bebia vagarosamente, meio que distante e com uma sensualidade invulgar. Deixava os lábios vermelhos e carnudos envolverem de forma lubrica e macia o gargalo da garrafa. Ele desceu as escadas de madeira de maneira dura e definitiva, como se fosse uma máquina. Observou Sheila por um tempo antes de entrar na cozinha.

            “Que porra é essa? – perguntou rudemente. – “Vai ficar pagando boquete pra garrafa agora?”

            Sheila sorriu.

            “Na falta de seu portentoso membro é onde eu treino.”

            Ele se sentou. Olhava para ela como se nunca a tivesse visto. Seu olhar como uma máquina de escâner esquadrinhava todo o seu corpo. Ficou por um tempo em silêncio.

            “O que foi meu bem? Você está sentindo alguma coisa?” – perguntou Sheila preocupada.

            “Não estou sentindo nada. Por um acaso, estou com a aparência de estar sentindo algo?”

            De fato ele não parecia sentir nada. Nem um musculo de seu rosto se movia. Estava mais para uma estátua de cera do que para um ser humano que mesmo no sono é invadido por sentimentos e expressões.

            “Não. É que você está diferente.”

            Ele bebeu um gole da garrafa que estava aberta à sua frente. Escondeu o rosto nas mãos de unhas bem cortadas.

            “Estou enojado...” – gemeu. – “Você me dá nojo Sheila.”

            “O que é isso Eric? Que estupidez é essa? O que aconteceu pra você me falar uma coisa dessas?”

            Ele retirou as mãos do rosto e a fitou por um tempo. Depois pegou a garrafa como se fosse dar mais uma golada, mas antes que chegasse à sua boca ele a arremessou na direção de Sheila. Ela se abaixou em um movimento feliz de reflexo e a garrafa foi explodir na parede. Os cacos voaram como pirilampos na noite escura por todos os lados. O cheiro de cerveja se espalhou por toda a cozinha sufocando grosseiramente o perfume de alfazemas que as plantas em seu irrefreável instinto de vida produziam sem mais nem por que.

            “Que isso Eric! Ficou doido?” – gritou Sheila enquanto se levantava da cadeira.

            Ele indiferente a qualquer reação da mulher se levantou também e começou a revirar os armários e a geladeira, quebrando e jogando tudo no chão.

            “Onde está meu uísque?” – gritava feito um louco. – “Onde você o escondeu, sua vadia filha de uma puta?”

            Sheila se encolheu em um canto da cozinha. Chorando e implorando gritava:

            “Para com isso, Eric! Você está me assustando! Foi você mesmo que se desfez das garrafas quando nos mudamos pra cá.”

            “Chega de mentir sua cadela dos infernos!”

            Após revirar toda a cozinha, ele saltou sobre Sheila e a ergueu do chão, onde ela estava abaixada, pelos braços e a pressionou contra a parede.

            “Me larga! Você está me machucando! Me larga pelo amor de Deus!”

            Ele apenas a olhava com o semblante frio de um morto. Na sua voz havia expressão de ódio e raiva, seu corpo se movia rápida e bruscamente, mas seus olhos e seu semblante não demonstravam sentimento algum. Eram vazios e sem vida. Sheila via que o rosto era do seu marido, mas não o via ali dentro. Não havia nada que fizesse lembrar o homem por quem se apaixonou. O corpo sim, era dele, a voz também. Mas algo que emanava dele como uma onda de energia ou de calor lhe dizia não poder ser ele.  Mas contra fatos não há argumentos. Era ele. Só podia ser ele.

            “Socorro! Socorro! Socorro!” – gritava Sheila inutilmente.

            Como um animal, ele começou a fareja-la passeando seu nariz infamemente pelo seu pescoço e lentamente descendo aos seus seios e pressionando ostensivamente seu corpo contra o dela encurralado contra a parede.

            “Que cheiro de vagabunda de merda você tem.” – disse entre os dentes como um animal que rosna raivoso.

            Sheila banhada em lágrimas tentava se desvencilhar.

            “Me larga, por favor! Eu te imploro!”

            Insensível aos seus rogos, começou a deslizar suas mãos pelo corpo dela de forma nojenta e invasiva, por fim rasgou partes do vestido.

            “Sabe do que estou com vontade?” – perguntou sádico.

            Sheila gemia de pavor.

            “Sabe, sua desgraçada, do que estou com vontade?” – ele gritou.

            “Não.” – gaguejou ela entre soluços.

            “De te foder aqui mesmo, de pé, e quando estiver gozando enfiar uma faca na sua garganta e te ver morrer engasgada no seu próprio sangue.”

            Sheila gritou. Em um golpe de sorte acertou-lhe uma joelhada no saco. Ele grunhiu como um bicho ferido e a soltou quando se curvava pelos caprichos da dor. Sheila escapou do canto onde estava encarcerada, segurando o vestido rasgado e completamente desorientada subiu correndo as escadas em direção à suíte. Trancou-se no banheiro completamente desesperada.

 

            Eric havia voltado a si. Mas estava muito fraco para se mover, tinha perdido muito sangue. O furo na garganta o impedia de falar. Mas seus olhos extremamente abertos e atentos de pavor puderam ver Sheila entrar no banheiro em estado lastimável. Queria mover-se, falar, chamar de alguma forma a atenção da esposa para poder lhe mostrar que não era ele quem estava fazendo aquela barbaridade. Tentar ajuda-la de alguma maneira. Mas estava agonizante em seu mar particular de sangue.

            A porta tremeu com um estrondo. Eric reconheceu sua própria voz que gritava do lado de fora do banheiro.

            “Desculpe gatinha, me desequilibrei. Estou arrependido. Prometo que nunca mais vou repetir uma coisa dessas. Me perdoe, por favor.”

            Eric queria gritar e dizer para Sheila não abrir, que aquele homem lá fora não era ele. Mas da sua boca saía apenas um gorgolejar que não podia ser ouvido por Sheila devido ao desespero e a excitação do momento.

            “Sai daqui!” – ela implorou aos gritos.

            “Que isso, meu bem? Está é nossa casa. Onde iremos passar o resto de nossos dias felizes. Todo mundo erra uma vez. Quem neste mundo esquizofrênico nunca se descontrolou? Vai, só me perdoa e me deixa entrar.”

            “Me deixa, por favor. Vá embora!”

            “Então essa é sua decisão? Você não vai mesmo abrir?” – o outro falou em tom de ameaça.

            Silêncio.

            Sheila segurou com todas as forças os soluços para poder ouvir alguma coisa. Mas o que pode ouvir foram somente o gorgolejar de Eric por trás do box. Quando ia verificar o que se escondia ali, ouviu o grito do outro:

            “Então, eu mesmo arrombo.”

            Logo depois um novo estrondo. A porta tremeu como se fosse se desprender dos seus umbrais. Sheila então correu para a porta e tentou escora-la com o seu próprio corpo.

            “Não! Por favor Eric, me deixa em paz!”

            Eric de dentro do box sentiu-se submergir em tristeza e angustia, ao pensar que Sheila acreditava de fato que aquele estranho era ele. A impossibilidade de poder lhe falar e pelo menos lhe demonstrar que ele jamais faria algo parecido o enregelava. Vivenciava de certa maneira uma segunda morte. A primeira a morte de seu corpo era quase que inconteste, a segunda fruto do que adviria deste momento, poderia mata-lo na memória não só de Sheila, mas de todos que com eles conviveram. Esforçou-se mais uma vez para se levantar e quem sabe ajuda-la. Mas seus membros enfraquecidos já não o respondiam.

            Outras pancadas vieram. Cada uma mais forte que a anterior. Os gritos de Sheila enchiam o banheiro e o retumbar das pancadas na porta era o compasso. Por fim a porta cedeu. Sheila se encolheu no fundo do banheiro. Derrotada, abatida e desesperada. Mas tudo isso ficou ainda pior depois que ela viu na mão do homem o brilho de uma faca. Já não fazia súplicas. Palavra alguma é eficaz contra o terror.

            “Você achou que podia mesmo escapar de mim?”

            E lá estava outra vez o estranho debaixo do umbral. Sheila apenas lhe estendia as mãos como se este ato de defesa inútil pudesse impedir o homem. Ele também não disse mais nenhuma palavra e saltou sobre ela derrubando-a no chão. Cortou-lhe a garganta com rapidez e profundidade. Os olhos de Sheila molhados e borrados de maquiagem em poucos instantes perderam o brilho e a vida. Eric por detrás do box de vidro fumê apagou assim que o estranho dominou Sheila.

 

            O estranho ergueu-se. Olhou-se no espelho. A camisa, o rosto e as mãos estavam manchados de sangue. No chão, Sheila morta olhava para o box, para o lado oposto de onde o assassino se encontrava, como se sua intenção fosse desviar os olhos de seu executor. Ele abriu com calma o box. Lá não havia ninguém.



Conto escrito por
Felipe Duque

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Alex Xela Lima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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