Me Traga de Volta
de Henrie S. Reis
A luz
entrando através da fresta entre o pedaço da cortina blackout e a janela de
vidro iluminava o rosto dele, eu o olhava de canto de olho e era inevitável não
sorrir; com certeza eu estava apaixonado por ele e não tinha problema em
admitir, bom, eu tinha medo. De não ser recíproco e de ser coisa da minha
cabeça só não tinha medo suficiente pra trancar a porta. Deveria, mas não sei
por que razão eu me esqueci, me lembro de ir até a cozinha durante a noite mas
simplesmente não me lembrei da porta. Encarei sorrindo o rosto dele me
aconcheguei em seu peito e ele sorriu, sem abrir os olhos e aquilo me atingiu
em cheio.
Me levantei bruscamente e acredito que o Raul também ao ouvir o abajur
se esborrachar no chão e a visão da
minha mãe com a mão cobrindo a boca ser a primeira coisa que vimos quando
finalmente abrimos os olhos; só aí me lembrei que a porta não estava trancada e
o pior, Raul e eu estávamos nús.
— Que passa Diego?
— Mama, eu posso explicar
— Carlos! Gritou
— Não, o Papá não vai reagir bem
— Porque fez isso mi hijo?
— Que passa Dolores…
Como eu temia ele partiu pra cima de
mim depois de encarar o Raul por um bom tempo, forçou as mãos ao redor do meu
pescoço. Não pensei que eles fossem vibrar mas também não esperava ser
agredido; minha mãe não falava nada e eu não poderia julgar sabia que pra ela
aquilo era o pior que poderia ter acontecido; minha aboelita era muito rígida e
jamais iria aceitar dois homens barbados juntos.
Raul acabava de se vestir do outro lado do quarto quando meu pai se voltou
pra ele apontando o dedo e gritando, me coloquei entre os dois e foi quando ele
acertou meu rosto em cheio com um tapa.
— Vai Raul! Disse apontando a janela
por onde ele havia entrado na noite anterior.
— Sinto muito. Ele sussurrou
Eu sabia que ele sentia, era real
aquele sentimento. Vi nos olhos dele enquanto ele partia feito um criminoso. Os
dias seguidos desse inferno foram horríveis, todos ficavam no meu pé vigiando
cada passo que eu dava, até a chave da minha moto pegaram pra me impedir de sair,
quando meu celular tocava e eu via o nome do Raul piscando na tela eu corria
pra atender no banheiro mas na maioria das vezes alguém me seguia, era
constante a humilhação e os xingamentos, tanto que um dia eu disse basta e
resolvi aceitar o convite dele e ir morar com ele, daria tudo certo se não
fosse ele sumir o dia todo, não atender o celular e nem atender a porta, eu já
não aguentava mais ficar sem saber o que estava acontecendo, chorei em silêncio
enquanto aqueles que deveriam me apoiar pareciam felizes em demonstrar o
contentamento em me ver mal. E foi aí que o inferno de verdade começou, uma
noite depois de voltar da casa do Raul em mais uma tentativa inútil de falar
com ele estava no sofá assistindo alguma coisa que nem prestava atenção de
verdade, duas batidas na porta e eu fui atender com a ilusão de ser meu amado,
mas não era.
Dois homens fardados me encaravam do lado de fora da porta
— Diego Montalba?
— Si
— Estamos aqui pelo desaparecimento
de Raul Gonzalez.
— Que?
Duas batidas na porta, duas batidas
em meu peito e mais nada. Não senti mais nada, aquelas palavras voavam e se
chocavam no meu rosto — Desaparecimento, Raul. E eu caindo mesmo estando
parado, envolto em um espaço negro, frio e sem fundo ainda com os olhos
abertos.
— Senhor Montalba?
— Si?
— Nos acompanhe por favor.
Voltei mais tarde da delegacia não só descobrindo que o Raul estava
desaparecido como também soube que eu era o principal suspeito, não bastasse o
inferno que eu estava vivendo ainda tinha que passar por mais essa; me tranquei
no quarto sentindo o ódio invadir todo meu corpo, eu preferia chamar de ódio
pra não admitir que estava com medo, encostado na parede sentado no chão eu
chorei, queria gritar, quebrar tudo, mas eu não tinha forças e o pior era não
ter ninguém com quem contar, eu realmente achei estranho que o Raul deixasse de
responder por quatro dias, tinha alguma coisa errada mas não esperava que
estivesse desaparecido.
Estávamos perto do Dia de Los
Muertos, sabia que logo minha aboelita chegaria do México, desde que saímos
de lá há dois anos ela sempre vem nessa data apesar de não gostar de São Paulo;
estava tão cansado que apaguei ali no chão mesmo, acordei umas três horas
depois com o corpo todo dolorido e com um aperto estranho no peito, me levantei
na ponta dos pés e fui tomar um banho, saí do banheiro revigorado como se parte
daquele peso tivesse partido mas esbarrar na minha mãe enquanto voltava pro
quarto trouxe todo aquele sentimento de volta.
— Diego, mi hijo porque fez isso com
a sua mãe?
— Fiz o que mãe? Amar uma pessoa? Eu
achei que você entenderia
— Entender como? O que a Mama vai
pensar quando chegar aqui amanhã? Sabe como ela preza pela família.
— Sinceramente mama, eu não ligo para
o que ela vai pensar.
— Diego por favor! Amanhã você vai
tirar essa cara e ajudar com o altar, você pode fazer suas besteiras depois que
isso passar mas vai respeitar nossos ancestrais e o Dia de Los Muertos!
— Eu respeito, e tenho inveja deles,
mortos não tem como vocês interferir nas vidas deles, eles é quem estão bem
estão livres de vocês!
E foi aí que ela me bateu pela
primeira vez em todos meus dezenove anos, um tapa estralado bem no meu rosto.
— Vá para o seu quarto e não ouse
sair de lá amanhã com essa atitude.
A noite passou tão rápido que me assustei quando a luz do dia clareou
todo o quarto; foi o primeiro dia que eu dormi desde toda a confusão com o
Raul. Fiquei parado olhando o teto sem saber o que o que pensar, só sentia
raiva. Não sei quanto tempo eu passei daquele jeito, com as mãos sobre o peito
olhando para o nada, quando ouvi duas batidas na porta achei que fosse minha
mãe então fingi não escutar, mas não era ela; descobri quando minha aboelita
entrou e me encarou alguns segundos antes de se sentar ao meu lado da cama.
— Sua mãe me contou o que está
acontecendo
— Sinto muito, não queria ser uma decepção,
mas eu amo o Raul. Não escolhi nada disso e acho que não tem nada demais e…
— Ei! Yo não te disse nada!
— Como?
— Diego, usted és mi hijo. Te amo,
ame quem quiser su madre não tem que gostar ou aprovar, tem que te apoiar é o
dever dela! Nunca gostei do Carlos mas tá aí não só se casaram como deixaram o
México, eu não queria isso, vocês precisam de diálogo.
— Então a senhora não tem vergonha de
mim?
— Claro que não! Não tem nada de
errado em amar alguém.
— A senhora sabe que o meu alguém é
outro homem né?
— Sei, e daí?
— Aboelita, não acha que sou uma
aberração?
— Que drama Diego! Não tem nada
demais nisso, sua mãe e seu pai são dois neandertais.
Foi impossível não soltar um riso
depois deste comentário, olhei pra ela e duas lágrimas escorreram, não pensei
que ela seria tão amável daquele jeito.
Depois da nossa conversa minha vó basicamente me obrigou a ir pra sala e
tomar café, eu não queria ir estava chateado com a minha mãe por ter me batido
e do meu pai pelo mesmo motivo; minha irmã Daniela não falava nada, só me
encarava como se visse minha alma e a julgasse; quando finalmente enchi uma
maldita caneca de café e me sentei a mesa a polícia apareceu me intimando mais
uma vez, olhei pra eles, meus pais, nenhuma reação, como se não se importassem.
— Eu vou com você querido, vai ficar
tudo bem.
Tremi durante todo o percurso até a
delegacia, minha vó segurou minha mão e por mais que aquilo me acalmasse ainda
estava desesperado, tinha um pressentimento ruim, e isso se confirmou quando o
delegado responsável veio falar comigo, primeiro pediu desculpas pela forma que
fui abordado
— Senhor Montalba, eu temo não ter
boas notícias.
— Fala sem cerimônia por favor.
— O senhor Gonzalez foi dado como
morto essa manhã.
Fechei os olhos sentindo o impacto
daquela notícia, cada partícula do meu ser parecia ter sido perfurada por uma
espada afiada; minha vó segurou minhas mãos que tremiam embaixo da mesa
— O que aconteceu? Perguntei quando
tive forças
— Conseguimos permissão dos
familiares para fazer uma busca na casa da vítima, encontramos sinais de luta,
vestígios de sangue e prováveis restos mortais que podem ter sido queimados
para encobrir as pistas, lamento por sua perda. O senhor está livre de
suspeitas, uma testemunha viu um homem de aproximadamente 1,90m saindo do local
há exatamente cinco dias, quando você afirma tê-lo visto pela última vez.
— Vocês só têm isso? Ele ainda pode
estar vivo!
— Lamento, mas tudo indica que não.
Também encontramos o celular dele
— O que? Eu posso ficar com ele?
Talvez tenha alguma pista.
— Não, infelizmente é uma prova. Mas
encontramos um áudio que ele tentou enviar ao senhor.
— Eu preciso ouvir.
— Talvez não seja uma boa ideia
senhor.
— Eu disse que preciso ouvir.
— Tudo bem então.
Um outro guarda apareceu com um saco
transparente com algumas coisas dentro de onde tirou o celular e deu o play na
mensagem.
Diego, (…) eu acho que tem alguém me observando, eu não sei bem mas
parece que está me seguindo desde que sai da sua casa [ barulho de vidro
quebrando] mi amor eu sinto muito mas
(...) Tem alguém aqui e… o que você está
fazendo aqui, o que quer de mim? [ sons de luta ]...
— Já chega, por favor! Tira isso!
— Eu disse que não era uma boa ideia
— Eu quero ir embora, posso?
— Por enquanto, pedimos que fique a
disposição para qualquer novidade entrarmos em contato.
— Sabem onde moro
No caminho de volta pra casa eu nem conseguia pensar, eu sabia que minha
vó falava comigo mas eu só via a boca dela se mexendo, minha cabeça girava, meu
corpo parecia estar em choque, nada fazia sentido. Desde que esse inferno
começou eu desejo acordar e perceber que foi tudo um pesadelo, mas não era. Em
casa, nem consegui encarar minha família, eles não tinham um pingo de empatia,
fui direto pro quarto, vasculhei as gavetas da cômoda até encontrar o retrato
dele, o único que eu tinha. Ele parado em uma ponte com os braços abertos e com
um sorriso maior que ele; lindo, a saudade já estava me matando, abracei aquela
foto encostado na parede e chorei, vi minha porta ser aberta, mas não tinha
forças pra sair dali, fiquei aliviado quando vi que era minha vó, carregando um
monte de coisas; deixou sobre minha cama e trancou a porta, veio em minha direção
e estendeu a mão, segurei e me levantei.
— Eu sei que ainda não dá pra
acreditar e parece que essa dor vai te matar mas você precisa fazer um altar
pra ele.
— Eu não quero vó, isso seria o mesmo
que aceitar que ele está morto e se ele não estiver?
— Se ele não estiver não vai fazer
diferença, mas se estiver é o único jeito de tê-lo por perto de novo.
Com a ajuda dela construí o altar, bem simples, quatro velas, a foto
dele no meio e dois arranjos de flores simples em copos; me sentei diante dele
com o cobertor que levamos ao acampamento na nossa primeira noite juntos ao
redor do meu corpo, não sei bem quanto tempo eu fiquei ali encarando a foto,
meu corpo doía, meus olhos ardiam, adormeci. O quarto parecia mais frio que de
costume, fechei a janela e me joguei na cama ainda sonso pelo sono, uma rajada
de vento invadiu o quarto, o que era estranho já que eu tinha fechado a janela,
ignorei esse detalhe puxando o cobertor mais pra cima cobrindo todo o meu corpo
mas ainda estava muito frio, me levantei com o cobertor ao redor do corpo e
puxei a janela fechando de novo, virei pra voltar pra cama e ouvi o vidro
deslizando e me virei bruscamente para constatar a janela aberta novamente e o
quarto ainda mais frio, minha porta que estava aberta não só se fechou como o
trinco se moveu, comecei a ficar com medo, tentei correr pra cama mas como se
alguém tivesse puxado o cobertor ele foi arrancado de mim e eu caí, com os
olhos bem centrados no altar, foi quando as chamas das velas ficaram maiores.
— Raul, é você? Perguntei com a voz
trêmula e embargada
Nada, eu provavelmente estava ficando
maluco.
Voltei pra cama e cobri meu corpo com
o mesmo cobertor de antes, senti o colchão ao meu lado afundar, segurei o
cobertor com mais força e fechei os olhos; o colchão continuou afundando até eu
sentir um peso sobre mim e uma respiração quente no meu ouvido.
— Me traga de volta
Foi sussurrado no meu ouvido me
causando um arrepio. Me levantei abruptamente e acendi a luz, não havia ninguém
ali, fazia muito frio mesmo a janela estando fechada e as velas permaneciam
intactas apesar do tamanho de suas chamas; me sentei em frente ao altar encarei
a foto do Raul, fechei os olhos enquanto me arrepiava inteiro sentindo o vento
que entrava de maneira inexplicável.
— Raul.. o que está acontecendo? Há
alguma coisa que queira me dizer antes de partir?
— Eu não quero partir, eu não posso
ir Diego, me traga de volta
Era a voz dele, não sei como mas era,
eu ouvia dentro da minha cabeça, estava distante.
— Como eu poderia fazer isso?
— Você sabe onde eu estou,
prometemos. Eu sempre daria um jeito de chegar.
— O que está acontecendo? Você está
aqui?
— Pensa Diego, nosso primeiro beijo;
como nosso reflexo te encheu de alegria, não tenho muito tempo você precisa se
apressar.
Algo se acendeu em mim como um flash, comecei a acreditar que ele
pudesse estar vivo, me preparei pra ir até a clareira perto do lago mas não
conseguiria dirigir, minhas mãos e pernas tremiam tanto que eu mal conseguia me
manter de pé, corri até o quarto da minha vó e a acordei.
— Diego, que passa? Estás loco?
— Aboelita, preciso que venha comigo
agora, por favor.
— Mi amor, o que está acontecendo?
Está me assustando
— Acho que sei onde o Raul está
— Como?
— Lo siento abuela, pero temos que ir
agora! Ele não tem muito tempo.
— Por Dios mi hijo! Do que está
falando?
— Ele falou comigo através do altar,
não sei explicar, sinto muito mas temos que ir agora! Não consigo dirigir.
Disse sentindo as lágrimas já
escorrendo.
— Vamos, mas se não estiver certo do
que está falando vamos procurar um psicólogo amanhã.
— Eu faço o que quiser
Partimos em disparada ignorando todos os sinais vermelhos até a entrada
do parque, me soltei do cinto e corri pela mata a dentro torcendo pra não estar
errado, comecei a entrar em desespero quando não o encontrava, ponderei me
jogar naquela água fria e por fim na minha angústia, me aproximei do lago e foi
quando eu vi aquele saco preto, me abaixei apesar do protesto da minha vó
enquanto corria pra me alcançar.
— Ele está aqui! É ele! Eu sei
Comecei a gritar enquanto puxava o
saco pra fora do lago.
— Diego! O que é isso?
— Acho que ele está aqui dentro.
Abri o zíper do saco revelando bem
devagar com medo de ele estar machucado demais ou morto, de não ser ele.
— Deixa que eu faço isso
Disse minha vó quando percebeu que eu
estava com medo
— Está morto?
Perguntei com os olhos fechados
sentindo a angústia me consumindo.
— Está. Não! Espera, o pulso tá fraco
mas ainda está vivo
Abri os olhos de uma vez e encarei
aquela pessoa com o coração quase saltando pra fora do peito, era ele. Meu
Raul, meu amor, os lábios azuis, o rosto inchado, mas era ele, fechei o zíper
pra preservar a nudez dele, constatando um ferimento provavelmente de faca no
processo.
— Quem fez isso com você?
Perguntava enquanto chorava
— Chama a emergência vó!
— Você não podia ficar quieto não é
mesmo?
— Que?
— Esse viadinho ia destruir nossa
família, nosso legado, manchar o nome do seu avô.
— Aboelita, o que está acontecendo? O
que está querendo dizer?
— Seus pais são fracos, já que não
conseguem agir sozinhos eu precisei intervir.
— Quê? A senhora machucou o Raul?
— Não era pra você descobrir, mas
quem diria que esse lixo iria perambular pelo véu? Já ouvi histórias sobre
espíritos se comunicando através do altar, mas pensei que fossem só histórias!
Seu pai é mesmo inútil, nem pra dar uma facada bem dada. Mas isso é fácil de
resolver, deixa esse corpo aí ele não vai durar muito mais tempo.
Fechei os olhos sentindo todo impacto daquelas palavras, apertei a
discagem rápida no telefone ainda no bolso e comecei a me afastar lentamente,
logo eu estava correndo. Estava muito frio, parecia que o vento cortava minha
pele, meu coração batia tão rápido que o peito doía, meus olhos ardiam e as
lágrimas desciam. Eu não sabia exatamente em qual direção estava correndo, só
queria ir pra longe, estava olhando pra trás pra me certificar que não estava
sendo seguido que não percebi alguém se aproximar, só quando me choquei
diretamente. Levantei do chão um pouco zonzo enquanto a imagem do meu pai se
formava diante de mim.
— O senhor está nessa com minha avó?
— Você poderia ter facilitado as
coisas Diego, poderia ter aceitado a morte dele e pronto mas não, tinha que
fuçar.
Me levantei ainda desajeitado e
aproveitei um momento de distração do meu pai pra continuar minha fuga; ouvimos
um barulho vindo da mata como se alguém pisasse em um galho, e quando meu pai
se virou bruscamente pra conferir eu corri, corri como um louco, atravessei a
mata e logo estava na entrada do parque; perdi um pouco o equilíbrio ao ter
minha visão ofuscada pelas luzes das duas viaturas diante de mim, vi o mesmo
policial que me falou que o Raul estava morto se aproximar, a boca dele se
mexia mas eu não entendia nada.
Todos os policiais começaram a entrar na mata enquanto alguém me levava
até uma ambulância que eu nem me lembrava de ter visto. Uma mulher de porte
pequeno, cabelos loiros na altura dos ombros me encarava com uma luz bem na
minha cara.
— Eu estou bem!
Foi a última coisa que eu disse antes
de apagar, só acordei no hospital com minha mãe ao meu lado segurando minha mão
e chorando.
— Sinto muito mi hijo, eu não sabia
que eles chegariam tão longe.
— Está tudo bem mama, no tienes
culpa. Cadê eles, queria falar com eles antes de ir
— Lamento, mas isso não será possível
— Como assim? O que houve?
— Eles trocaram tiros com os
policiais enquanto fugiam mata a dentro.
— Foram feridos?
— Não, foram mortos.
Fechei os olhos e senti uma culpa,
uma dor, um pesar
— Sinto muito mãe, não queria causar
isso.
— Você não tem culpa de nada, depois
falaremos sobre isso, agora tem alguém querendo te ver.
Nesse momento ela deu espaço saindo
do meu campo de visão o suficiente pra eu ver uma enfermeira trazendo o Raul
numa cadeira de rodas. Quando me viu abriu um sorriso e automaticamente eu
sorri em retribuição.
Saímos do hospital na manhã seguinte, passamos parte da noite
conversando sobre o que havia acontecido, Raul contou com detalhes como minha
aboelita havia oferecido dinheiro pra ele me deixar, como ela ficou furiosa
quando ele se negou e o pior e mais assustador, quando meu pai invadiu a casa
dele e o golpeou. Nem tudo está perfeito ainda, os pesadelos dele ainda nos
tiram o sono, mas estamos felizes morando em um apartamento minúsculo na região
central de Minas Gerais, longe de todo mundo. Eu sou tudo que ele tem e ele é
tudo que eu preciso.
Bruno Olsen
Cristina Ravela
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